segunda-feira, 28 de março de 2011

AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 99

Por: Luiz Fontes

19ª Estação, Queelata – parte 9

TEXTOS: Judas 3-19; 2Pe 2:1-21

Temos estudado em várias oportunidades a 19ª estação, Queelata, onde a Palavra de Deus tem nos ensinado alguns princípios tão importantes com relação à autoridade delegada de Deus. Creio que isso para nós é uma grande advertência. A experiência de Datã, Coré e Abirão é uma escola de advertência para nós. Precisamos ser cuidadosos com relação ao ministério, com relação a nossa vocação, como relação ao nosso encargo em servir aos santos; jamais deve haver em nosso coração pretensões, motivações, que não sejam governadas pela Palavra de Deus. Temos que permitir que o Espírito Santo governe os nossos corações pela Palavra, para que não venhamos cair na contradição de Coré, Datã e Abirão.
Estamos na parte final desse estudo, e hoje eu quero apenas ler algumas passagens na Epístola de Judas e também na Epístola de Pedro. Creio que será muito importante para a nossa vida lermos esses textos conjuntamente. Em Judas, a partir do versículo 3, vamos ver uma sequência. Alguns textos aqui estão em ordem e outros estão alternados, mas vamos seguir a leitura tendo a certeza de que Deus tem algo a nos falar:

“3 Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos. 4 Pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo.”

Judas queria tratar de alguns pontos elementares concernentes à salvação, mas foi levado a mudar de assunto, por causa de alguns indivíduos que se haviam introduzido no meio do povo de Deus, como diz ele aqui no versículo 4, “dissimuladamente” (a palavra no grego aqui é “pareisduno” e significa entrar secretamente, intrometer-se secretamente, entrar furtivamente). Por causa desses indivíduos, ele não pode tratar dos aspectos comuns da salvação, e foi encorajado pelo Espírito Santo a tratar deste outro assunto, desses que entraram secretamente no meio do povo de Deus.
O versículo 4 diz:

“(...) os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios (...)”

A palavra “ímpios”, no grego, é “asebes”: destituídos de reverência e temor a Deus.
E diz mais:

“(...) que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus (...)”

A palavra libertinagem, no grego, é “aselgeia”: luxúria desenfreada; uma prosperidade desenfreada, descontrolada. Eles “transformaram em libertinagem a graça de Deus”. Olhe bem, eles transformaram a graça de Deus em um assunto de luxúria, de prosperidade desenfreada.
Na sequência Judas diz:

“(...) e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo.”

Eles transformaram o caráter do Evangelho da graça num evangelho de luxúria, de uma prosperidade descontrolada. E, por causa disso, negam o nosso único soberano, nosso Senhor Jesus Cristo. Então, Judas está sendo muito enfático aqui, pois diz que esses elementos que se introduziram secretamente no meio do povo de Deus baratearam a mensagem da graça, colocaram outra mensagem, a mensagem da luxúria desenfreada.
No versículo 5 ele diz:

“5 Quero, pois, lembrar-vos, embora já estejais cientes de tudo uma vez por todas, que o Senhor, tendo libertado um povo, tirando-o da terra do Egito, destruiu, depois, os que não creram;”

Essa é uma referência ao capítulo 16 de Números que estamos estudando, onde fala da contradição de Coré, Datã e Abirão. Diz o texto: “tirando-os”, isto é, “tirando o povo do Egito, destruiu, depois, os que não creram”.
No versículo 8 diz:

“8 Ora, estes, da mesma sorte, quais sonhadores alucinados, não só contaminam a carne, como também rejeitam governo e difamam autoridades superiores.”

Esses homens ímpios que baratearam a graça de Deus, que entraram secretamente no meio do povo de Deus, são chamados aqui por Judas de “sonhadores alucinados”. A palavra “alucinado” no grego é “enupniazomai” e significa pessoas que sofrem perturbações nas suas mentes; que possuem visões ímpias; ensandecidas, loucas; pessoas que perderam uma razão, um equilíbrio moral, por causa dos desejos descontrolados das suas mentes.
Ele diz ainda no versículo 8:

“(...) não só contaminam (...)”

Isto é, não só estão poluindo, porque a palavra “contaminam” é “miaino”: manchar, poluir, sujar, contaminar, ficar sujo.

“(...) não só contaminam a carne, como também rejeitam governo”.

A palavra aqui é “atheteo” que significa desprezar, negligenciar, recusar, fazer pouco caso do governo. E diz mais:

“(...) difamam (...)”

Isto é, injuriam, caluniam autoridades.

Versículo 10:

“10 Estes, porém, quanto a tudo o que não entendem, difamam; e, quanto a tudo o que compreendem por instinto natural, como brutos (...)”

Observem bem essa palavra – “brutos”.

“(...) sem razão, até nessas coisas se corrompem. 11 Ai deles! Porque prosseguiram pelo caminho de Caim, e, movidos de ganância, se precipitaram no erro de Balaão, e pereceram na revolta de Corá (...)”

Revolta aqui é a “contradição de Coré”.

“12 Estes homens são como rochas submersas (...)”

O que significam essas rochas submersas? Essa frase fala das rochas do mar que estão escondidas, mas que causam grande dano às embarcações. Aqui nós temos uma metáfora que se refere às pessoas que, pela sua conduta, causam uma grande ruína moral e espiritual no meio do povo de Deus – “essas rochas submersas”, como ele diz.

“(...) em vossas festas de fraternidade (...)”

A palavra aqui é “ágape” – a reunião de amor que a igreja primitiva tanto praticava.

“(...) banqueteando-se juntos sem qualquer recato, pastores que a si mesmos se apascentam (...)”;

Temos aqui uma frase muito forte. Creio que para entender melhor essa frase, para compreender o que o Espírito Santo está dizendo aqui, é importante ler Ezequiel 34.

“(...) pastores que a si mesmos se apascentam; nuvens sem água impelidas pelos ventos (...)”

Há uma versão alternativa que diz assim “são como nuvens levadas pelo vento e não trazem nenhuma chuva”. Quero destacar aqui essa frase “nuvens levadas pelo vento”, que aparece também em Efésios 4:14:

“para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro (...)”

Agora, olhem bem:

“(...) e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro”.

Isso é sério! Você se dá conta da seriedade de tudo isso? Você se dá conta do que o Espírito Santo claramente está nos falando aqui acerca desse assunto? Ele diz mais ainda no versículo 12 de Judas:

“(...) árvores em plena estação dos frutos, destes desprovidas, duplamente mortas, desarraigadas;”

Versículo 13:

“13 ondas bravias do mar, que espumam as suas próprias sujidades (...)”

A palavra “sujidades” é “aischune”, que significa ignomínia, vergonha, desonra.

“(...) estrelas errantes, para as quais tem sido guardada a negridão das trevas, para sempre.”

Versículos 16 a 19:

“16 Os tais são murmuradores, são descontentes, andando segundo as suas paixões. A sua boca vive propalando grandes arrogâncias; são aduladores dos outros, por motivos interesseiros. 17 Vós, porém, amados, lembrai-vos das palavras anteriormente proferidas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo (...)”

Aqui Judas está fazendo uma clara referência a Pedro. Vamos ler, então, o que Pedro diz acerca deste mesmo assunto lá na sua Segunda Epístola, capítulo 2, a partir do versículo 1. Vamos fazer o mesmo tipo de leitura, vendo alguns textos numa sequência, depois intercalando dentro do mesmo capítulo. Ao ler você vai ver que Pedro usa palavras que Judas depois usou. Então, 2Pe 2, a partir do versículo 1, diz assim:

“1 Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão (...)”

A palavra “introduzirão” aqui no grego é “pareisago”: introduzir com astúcia, secretamente. Lá em Judas nós vimos aqueles que secretamente se envolveram no meio do povo de Deus; e aqui nós vemos: trazer algo secretamente para o povo de Deus.
Pedro continua:

“(...) introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição.”

Você lembra que lá no versículo 4 de Judas ele diz que esses homens ímpios entraram secretamente no meio do povo de Deus, transformaram em libertinagem, em luxúria desenfreada, a graça de nosso Deus, e que esses negam o único e soberano Senhor Jesus Cristo? Aqui Pedro está falando justamente disso, ele fala claramente disso. Essas pessoas entraram dissimuladamente, secretamente, no meio do povo de Deus, com heresias destruidoras a ponto de renegar o soberano Senhor que os resgatou.
2Pe 2:2:

“2 E muitos seguirão as suas práticas libertinas (...)”

Lembra das palavras que Judas usa para falar dessas “práticas libertinas”? Judas diz que eles “transformam em libertinagem a graça”. Aqui Pedro chama de “práticas libertinas”, isto é, transformaram a graça, baratearam a graça, rebaixaram a graça de Deus com o evangelho de luxúria desenfreada.
Pedro diz:

“(...) e, por causa deles, será infamado o caminho da verdade”.

Por quê? Porque eles estão barateando o caminho da verdade. Judas diz que esse tipo de pessoas são escarnecedores, vivendo segundo as suas ímpias paixões; pessoas que promovem divisões e sensualidades, pessoas que não têm o Espírito; são aduladores. Judas 16 diz que esses são murmuradores, são descontentes, que andam segundo as suas paixões; pessoas que vivem propalando grande arrogância; são aduladores dos outros por motivos interesseiros. Pedro, abertamente, fala da mesma coisa.
2Pe 2:3:

“(...) também, movidos por avareza (...)”

Isto é, por amor ao dinheiro.

“(...) farão comércio de vós, com palavras fictícias (...)”.

Essa palavra, “fictícia” é: formar, moldar. As pessoas vão sendo moldadas, vão sendo modeladas como alguém que pega um barro para fazer um vaso ou um objeto de cera com a própria cera. Pessoas estão sendo moldadas sem perceberem que estão entrando em um comércio libertino, de práticas que nada têm a ver com o Evangelho de Cristo. As pessoas estão infamando o Caminho da verdade com muito daquilo que tem pregado e nós temos que ter muito cuidado com isso.
2Pe 2:10 diz:

“especialmente aqueles que, seguindo a carne, andam em imundas paixões e menosprezam qualquer governo (...)”.

Não é o que Judas diz lá no versículo 8? “Não só contaminam a carne como também rejeitam qualquer governo e difamam autoridades”. Aqui nós vemos Pedro dizer a mesma coisa: “menosprezam qualquer governo” (v. 10). Você pode colocar esses textos juntos.
2Pe 2:12 diz:

“Esses, todavia, como brutos irracionais (...)”.

A palavra “brutos”, no grego, é “alogos”: pessoas destituídas da razão. Você lembra que Judas diz isso no versículo 10? “10 Estes, porém, quanto a tudo o que não entendem, difamam; e, quanto a tudo o que compreendem por instinto natural, como brutos sem razão (...)”. E Pedro diz:

“(...) como brutos irracionais, naturalmente feitos para presa e destruição, falando mal daquilo em que são ignorantes, na sua destruição também hão de ser destruídos”

Versículo 3:

“recebendo injustiça por salário da injustiça que praticam. Considerando como prazer a sua luxúria carnal em pleno dia, quais nódoas e deformidades, eles se regalam nas suas próprias mistificações, enquanto banqueteiam junto convosco”.

Lembra que Judas havia falado disso? Que esses homens ímpios, esses que entraram sutilmente no meio do povo de Deus, estavam participando daquelas festas de comunhão do povo de Deus, daquelas reuniões de comunhão da Igreja do Senhor Jesus (J 12). Ele diz: “Esses homens são como rochas submersas em vossas festas de fraternidade, banqueteando-se juntos sem qualquer recato”. Judas havia falado disso, e veja que Pedro fala da mesma coisa, da mesa situação. Ao escrever essas verdades para nós, o Espírito Santo repetiu as palavras de Pedro e Judas porque Ele tem como foco as nossas vidas. É algo muito sério e nós precisamos considerar tudo isso.
2Pe 2:14:

“tendo os olhos cheios de adultério e insaciáveis no pecado, engodando almas inconstantes (...)”.

Essa palavra “engodando” aqui no grego é “deleazu”: capturar como uma isca, fascinar, seduzir, iludir.

“(...) engodando almas inconstantes (...)”.

Capturando, seduzindo, iludindo almas “inconstantes”, aquelas pessoas que não são firmes, pois a palavra aqui no grego é “asteriktos”: fala de pessoas que não têm firmeza, pessoas cuja vida espiritual é superficial, pessoas instáveis na fé.
2Pe 2:18:

“porquanto, proferindo palavras jactanciosas (...)”.

Isto é, “extravagantes”: pessoas que dão ênfases bombásticas, mas que na verdade não passam de coisas superficiais.

“(...) proferindo palavras jactanciosas de vaidade, engodam com paixões carnais, por suas libertinagens (...)”.

Novamente a mesma palavra que Judas usa: luxúria desenfreada, licenciosidade, caráter ultrajante.

“(...) aqueles que estavam prestes a fugir dos que andam no erro”.

2Pe 2:19:

“prometendo-lhes liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção, pois aquele que é vencido fica escravo do vencedor”.

Essa palavra “liberdade” aqui no grego é “eleutheria”: liberdade imaginária, liberdade para fazer o que se quer. Nós temos que saber que a verdadeira liberdade consiste em viver como devemos e não em viver como queremos. E muitas pessoas estão sendo enganadas pela falsa liberdade.
2Pe 2:20-21:

“20 Portanto, se, depois de terem escapado das contaminações do mundo mediante o conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos, tornou-se o seu último estado pior que o primeiro. 21 Pois melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da justiça do que, após conhecê-lo, volverem para trás, apartando-se do santo mandamento que lhes fora dado.”

Veja o quanto tudo isso é sério! “Pois melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da justiça do que, após conhecê-lo, volverem para trás, apartando-se do santo mandamento que lhes fora dado”.
Podemos encerrar aqui essa série de estudos na esperança de que Deus tenha falado poderosamente, a todos nós, advertências tão sérias para a nossa vida. Como precisamos ser cuidadosos, diligentes com o ministério, com a vocação e com o encargo de servir aos santos pela vontade de Deus.
Que o Senhor nos guarde de tudo isso que vimos. Essas palavras de Judas e de Pedro são as palavras de Deus. Que o Espírito Santo possa tocar-nos profundamente. Vamos nos sentir guardados de santo temor por causa dessas palavras ministradas a nós, porque qualquer um de nós pode incorrer no erro de Coré, Datã e Abirão. Basta que saiamos alguns milímetros da centralidade de Cristo, a vontade de Deus.
Que o Senhor guarde sua vida, que o Senhor guarde cada um de nós, que o Senhor guarde-nos debaixo da sua Palavra. Que Ele lhe abençoe ricamente e poderosamente, em nome de Jesus.

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