quarta-feira, 30 de junho de 2010

ESTUDO DO LIVRO DE EFÉSIOS

CAPÍTULO 13
FEITURA DE DEUS

"Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas."
- Efésios 2:10

1) INTRODUÇÃO
Temos visto de relance esta grande afirmação quando a tomamos em seu contexto, com relação aos dois versículos anteriores, os versículos 8 e 9. Estes três versículos juntos, como vimos, são uma declaração composta, pelo que, antes de chegarmos a este versículo especifica¬mente, foi certo examiná-lo como parte do argumento que o apóstolo colocou diante de nós nos três versículos juntos. O argumento é que a nossa salvação é inteiramente de graça; ela resulta da graça de Deus. Não há jactância; é excluída completamente. Também não devemos gloriar¬-nos da nossa fé, não devemos tomar a nossa fé em "obras". "Somos salvos pela graça, por meio da fé." A fé é o instrumento, o canal, não a causa determinante. Pois esse é o grande argumento, vocês recordam, que é tudo pela graça e de graça. O apóstolo o expressa de maneira negativa e positiva. E no versículo dez ele expõe o que, de muitas maneiras, é o seu argumento final. Ele afirma que é inteiramente de graça; não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie, "porque somos feitura sua" – qualquer outro conceito é impossível, é totalmente inadequado e ridículo. E de fato, diz ele, isto se pode fixar definitivamente pelo fato de que as boas obras que devemos realizar como cristãos são obras que já antes foram ordenadas para que andemos nelas. Mesmo as boas obras que praticamos como cristãos foram de antemão preparadas para que andássemos nelas. Até aqui, pois, examinamos esta declaração de maneira geral e, mormente, negativa.
Contudo, é uma declaração tão profunda e gloriosa que seria um grande erro deixá-la aqui. Ela faz parte de um argumento, mas também é uma declaração em si mesma, uma declaração positiva, e uma das mais importantes e vitais que já pudemos ver. Aqui nos é dada uma das definições que Paulo faz do que significa ser cristão. E não existe, suponho, nenhuma declaração mais elevada a respeito deste assunto do que justamente esta, que somos feitura de Deus. Essa é a verdade acerca de nós todos como cristãos, e essa é a verdade acerca da Igreja Cristã.
Cabe a nós aprender a pensar em nós mesmos desse modo; e somente quando o fizermos é que funcionaremos verdadeiramente como cris¬tãos.
Cada vez mais me parece que todas as nossas dificuldades provêm realmente da nossa incapacidade de compreender a verdade a nosso respeito e a nossa situação como cristãos. A nossa dificuldade central¬ – e é uma coisa espantosa de se ver – é a nossa incapacidade inicial de obter o conceito verdadeiro destas questões. Somos em demasia criaturas presas à tradição. Começamos com ideias erradas – o homem sempre começa com uma concepção errada do cristianismo. Persistimos em pensar nele em termos de bondade, de prática do bem ou algo seme¬lhante; é extremamente difícil desfazer-nos dessa ideia. No entanto, isso é algo que fica desesperadamente aquém do grande conceito neotestamentário. Estes cristãos do Novo Testamento estão sendo constantemente exortados a aperceber-se do privilégio da sua posição. Embora não passando de um punhado de gente numa grande sociedade pagã, sempre lhes é dito que se regozijem, que considerem o seu destino maravilhoso; sempre se lhes faz lembrar o que eles são, e lhes é dito que levantem a cabeça e avancem triunfantemente. Tudo isso é feito, é claro, à luz do que o Novo Testamento expõe como sendo a verdadeira doutrina concernente ao cristão.
Essa matéria pode ser colocada na forma de perguntas. Somos dominados por um senso de privilégio e por um sentimento de alegria? Qual é o nosso entendimento do que seja um cristão? Qual é o nosso conceito da Igreja? Não é verdade que, geralmente falando, sempre nos inclinamos a pensar nela meramente em termos humanos? Temos a tendência de pensar na Igreja de Deus como uma instituição e sociedade humana, pensamos nela em termos das atividades dos homens e do que os homens estão fazendo e não estão fazendo, e de comissões e reuniões e organizações e coisas parecidas. Indubitavelmente, todas estas coisas fazem parte dela, e são essenciais, mas não constituem a Igreja. Não é isso que faz da Igreja a Igreja. E também é exatamente a mesma coisa quanto ao cristão individual. Estamos confiantes, temos segurança, quando pensamos em nós mesmos e consideramos a vida cristã completa e tudo o que pertence a essa vida? Pensamos nela unicamente em termos de nós mesmos e do que fazemos e pretendemos fazer, ou nos vemos como parte de um grande processo? Compreendemos que temos o privilégio de ser introduzidos num grande projeto, num grande plano? Ora, essa é a ideia e a perspectiva que o apóstolo está colocando diante de nós nesta passagem, de maneira positiva. Passemos imediatamente, pois, à consideração dos termos que ele emprega.
2) SOMOS FEITURA DE DEUS
A primeira proposição de Paulo é esta: somos feitura de Deus. Essa é a primeira coisa que temos de compreender acerca de nós mesmos como cristãos. Negativamente, como já vimos, isso não significa que nós nos fazemos cristãos por nós mesmos. Não somos o que somos como resultado de algo que nós tenhamos feito. Absolutamente nada! – a jactância é excluída. "Não de obras." "Não de vós." Mas não paramos na negativa, temos que ir adiante e examinar tudo isso positi¬vamente, como estamos fazendo. Somos feitura de Deus. Esse é o significado da expressão. Somos, por assim dizer, uma coisa da Sua fabricação. Para mim este é um pensamento sumamente notável e emocionante, que somos algo que está sendo feito e modelado por Deus. Podemos pensar nisto individualmente a nosso respeito como cristãos; e devemos pensar nisto como uma verdade relativa à Igreja toda. Permitam-me colocar mais uma vez a questão em forma de perguntas. Pensamos habitualmente em nós desse modo? É pena, porém não seria verdade que muitos de nós persistimos de algum modo em pensar em Deus como sendo Ele inteiramente passivo? A nossa ideia de Deus é que Ele está no céu, inteiramente passivo e esperando que nos aproximemos dEle. Pensamos: naturalmente, se eu buscar a Deus, Ele me ouvirá, me responderá, me abençoará. Mas, dessa maneira, sempre pensamos na atividade real como sendo da nossa parte. Deus tem uma grande casa do tesouro, um grande armazém; Ele tem grandiosos presentes para dar, sim, mas não faz nada a respeito, apenas espera até que nós façamos algo, e então, quando entramos em ação, Deus responde.
Examinemo-nos de novo à luz disso. Porventura não temos a tendência de pensar dessa maneira? Eu me decido por Cristo e, portanto, estou justificado. Posso ficar nisso anos e anos. Então eu decido que quero ser santificado, e assim solicito isso também, e Deus me atende. Mas Deus é passivo o tempo todo; é a minha atividade que importa, o que eu decido, o que eu faço. Tudo isso, naturalmente, é completamente contrário ao ensino do apóstolo, que nos lembra, e dá tremenda ênfase ao fato, que o cristianismo é totalmente resultante da atividade de Deus. "Somos feitura sua."
3) DEUS É O ARTÍFICE
Deus é o artífice. Deus é que age. É assombroso que alguém possa ter caído no erro específico que acabei de esboçar, porque a Bíblia não é senão o registro da atividade de Deus. Como é possível que alguém possa ler a Bíblia, começando com as palavras, "No princípio... Deus", possa depois pensar que a coisa toda é atividade do homem? Em toda parte é Deus quem age. Ele fez o homem, Ele fez o mundo. O homem pecou – Deus foi em busca dele. Foi Deus quem chamou Abraão; foi Deus quem criou os reis; foi Deus quem chamou os profetas; foi Deus quem deu a lei; foi Deus quem deu as instruções para a construção do tabernáculo e do templo; e foi Deus quem, na plenitude dos tempos, enviou Seu Filho. É feitura de Deus, atividade de Deus, do princípio ao fim. E, contudo, até nós, que somos cristãos, somos propensos a esquecer isso e muitas vezes somos propensos a pensar em nossa vida cristã, e no fato de sermos cristãos, em termos de algo que nós fizemos, ou de algo que nós alcançamos. Mesmo tendo começado da maneira certa, inclinamo-nos a deixar que, com o tempo, a outra ideia se insinue. Insistimos em pensar que Deus é mais ou menos passivo e simplesmente está pronto a reagir favoravelmente ao que fazemos e ao que desejamos. Mas o próprio termo que o apóstolo utiliza aqui deveria impossibilitar esses pensamentos. Deus é o artífice. Deus é Quem está modelando a obra. É um maravilhoso quadro que representa Deus como uma espécie de Artesão, uma espécie de Artífice. O quadro nos convida a pensar em Deus como numa grande oficina, e nos impulsiona a observá-lO dando forma, modelando e trazendo à existência alguma coisa.
Pois bem, este é o ensino bíblico característico com relação a Deus. Vejam a descrição que as Escrituras nos dão de Deus como Oleiro. Vocês as veem no Velho Testamento, vocês as veem no Novo Testa¬mento. Este mesmo apóstolo, escrevendo aos romanos, emprega essa metáfora. Aí está um pouco de barro; o artífice, o oleiro, vem e apanha essa massa de barro informe, e se põe a trabalhar nele. Ele o faz girar e vai tirando as arestas e as pontas; ele tem certos tornos de modelagem, e o coloca num deles. Ele vai modelando, vai fazendo algum tipo de vaso; essa é a descrição que nos é dada – o oleiro e o barro –, e essa é precisamente a ideia do apóstolo aqui, que Deus é o Oleiro, e nós somos o barro que está sendo formado e modelado. A obra é Sua, não nossa. Ele é o Oleiro, o Artesão, que está produzindo uma peça de arte.
Na verdade o apóstolo usa outro termo que é ainda mais explícito. "Somos feitura sua, criados em Cristo Jesus." Naturalmente isso nos leva direto de volta à ideia original da criação. "No princípio criou Deus os céus e a terra." Que é criação? A ideia mesma, a ideia essencial da criação, é que algo é feito do nada; não existia, mas foi trazido à existência. É precisamente esse o modo como o apostolo pensa no cristão. Portanto, devemos dar adeus para sempre a todas as ideias de melhoramento, e especialmente de automelhoramento. O fato mais importante acerca do cristão é que ele é uma nova criação, uma nova criatura. Deus, o Criador, Deus o Oleiro, Deus o grande Artífice, Deus o Autor de grandes realizações, Deus o Artesão, trouxe à existência algo em minha vida, algo que não estava lá antes – é isso que faz de mim um cristão. Eu não seria cristão sem isso. Assim é que, naturalmente, falar em nações cristãs e dizer que alguém é cristão porque pertence a uma nação cristã é simplesmente uma gritante negação de todo o ensino bíblico. É ação de Deus, ação específica, uma nova criação. O Deus que no princípio (como Paulo o expressa em 2 Coríntios 4:6) "disse que das trevas resplandecesse a luz", esse mesmo Deus, de igual modo, “resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo". É isso que significa ser cristão. Nada menos que isso! Como se pode expressar essa verdade mais claramente? O que me interessa não é simplesmente que tenhamos a ideia certa, porém que todos nós venhamos a ver que não existe maior falsificação do cristianismo do que a ideia de que somos cristãos por causa de alguma coisa que nós somos, ou de alguma coisa que nós fazemos. Temos que dar-nos conta de que somos feitura do grande Artífice, do grande Artesão. Não existe nada mais maravilhoso do que isto, que eu, assim como sou, sou algo que foi trazido à existência, algo que foi modelado por Deus, que sou como barro nas mãos do oleiro. Quando penso em minha vida cristã neste mundo, devo parar de pensar nela simplesmente em termos do que faço e do que estou fazendo, mas, antes, devo pensar nela em termos do que Ele está fazendo comigo, que estou nas mãos do Autor de grandes realizações, do grande Criador, e que Ele está trabalhando em mim e sobre mim. Essa é a concepção e esse é o ensino do apostolo nesta passagem.
4) COMO DEUS REALIZA ESTA OBRA?
4.1) Ele o faz no Senhor Jesus Cristo e por meio dEle
Consideremos agora a questão um pouco mais em detalhe, porque, quanto mais entendermos esta verdade em detalhe, mais admiração e emoção nos causará. Como Deus realiza esta obra? A primeira coisa que devemos ressaltar é que Ele o faz no Senhor Jesus Cristo e por meio dEle: “criados em Cristo Jesus”! É sempre assim. Já o vimos nos versículos 4 a 7, onde nos foi dito que fomos vivificados com Ele, ressuscitados juntamente com Ele, que Deus nos fez assentar com Ele nos lugares celestiais. Noutras palavras, Deus nos faz cristãos aplicando a nós, passando para nós, aquilo que Ele fez por nós em Cristo. Portanto, é tudo em Cristo. É nEle, em Sua Pessoa. É "da sua plenitude que recebemos, e graça por graça" (cf. João 1:16). Recebemos os benefícios da Sua morte, recebemos os benefícios da Sua vida; recebemos a Sua própria vida. Todo bem nos vem de Cristo. É assim que Deus o faz. Ele enviou Seu Filho, e então Ele nos leva ao Seu Filho. Ou, para usar outra expressão, Ele forma o Senhor Jesus Cristo em nós. É isso que Ele está fazendo: Ele está formando Cristo em nós. "Meus filhinhos", diz Paulo aos gálatas (4:19), "por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós." Essa é a ideia neotestamentária do que é ser cristão. É uma grande concepção mística, uma concepção vital. Neste ponto nós estamos totalmente fora do domínio das nossas pequenas obras e decências e moralidades. Cristo está sendo formado em mim!
5) OS MEIOS QUE DEUS EMPREGA PARA FORMAR CRISTO EM NÓS
Como será que Deus faz isso? Vejam por um momento os meios que Deus emprega para formar Cristo em nós. Tomem a minha ilustração da oficina ou da fábrica. Vocês podem ir a uma loja e ver ali um artigo já pronto para a venda, uma bela taça, um belo vaso, ou lá o que seja. Como esse artigo veio a existir? Talvez vocês tenham tido a feliz ocasião de ser levados a visitar a fábrica. Vocês já foram a uma fábrica de vidro ou a um lugar semelhante? Lembro-me de haver visitado uma em Veneza, e lá vimos os homens fazendo realmente as coisas maravilhosas que tínhamos visto prontas. Ficamos admirados quando vimos o comecinho. Bem, é algo parecido que temos que pensar agora. Como Deus produz este artigo concluído, o cristão? Vão à oficina, e lá vocês verão exatamente como é feito. É isto que esta Epístola nos diz.
5.1) A obra do Espírito Santo
A primeira coisa da qual nos tornamos cônscios é a obra do Espírito Santo. Vocês certamente observaram a notável ordem que se vê nas Escrituras – Deus o Pai, Deus o Filho, Deus o Espírito Santo. O Pai planeja a salvação; Ele envia o Filho para efetuá-la; e então Ele e o Filho enviam o Espírito para que a aplique. Deus age em nós e Deus faz de nós cristãos, e nos modela segundo a imagem de Cristo, ou forma Cristo em nós, primariamente pela obra do Espírito Santo. "Não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo?", diz o apóstolo escrevendo aos coríntios (1 Coríntios 6:19). O Espírito Santo está em nós se somos cristãos; não podemos ser cristãos sem termos o Espírito Santo em nós. E Ele age em nós. Mais adiante consideraremos como exatamente Ele o faz. No momento apenas estou lhes apresentando os meios que Deus emprega. Há esta constante atividade do Espírito Santo nos cristãos individuais, em grupos de cristãos, na Igreja. O Espírito Santo está na Igreja, e Ele está agindo e Ele está realizando a obra de Deus; Deus está agindo por meio dEle.
5.2) A Palavra
Depois, o meio subsequente que devemos mencionar é a Palavra, as Escrituras. Vocês recordam a grande oração sacerdotal do nosso Senhor, na qual Ele diz: "Santifica-os na tua verdade, a tua palavra é a verdade" (VA). Como nascemos de novo? Segundo a Epístola de Tiago, somos gerados "pela palavra da verdade" (1:18). Pedro diz: "Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas de incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sem¬pre" (1 Pedro 1:23). Deus se utiliza da Palavra para dar-nos vida. A Palavra é pregada e a Palavra se torna vida para nós. Há nela uma semente de vida, e Deus introduz a vida em nós mediante a introdução da Palavra em nós. Tem-se a mesma ideia no capítulo cinco desta Epístola aos Efésios, onde o apóstolo nos fala sobre "a lavagem da água, pela palavra". Quando pensamos neste processo que Deus está levando a efeito em nós, temos que pensar nesta Palavra. É aí que entra a importância da leitura das Escrituras. Elas são o meio que o próprio Deus utiliza. Deus poderia realizar esta obra sem utilizar-se de meios, mas escolheu esta maneira de agir. Por isso Ele deu o Espírito Santo a estes escritores, para dar-lhes entendimento, para abrir-lhes as mentes para a verdade, e para habilitá-los a transmitir a verdade. E o Espírito os dirigiu e os guiou. Tudo visando a este grande fim – Deus, como o Artífice, produzir cristãos e aperfeiçoar cristãos! Quão tremendamente impor¬tante é a Palavra!
5.3) A pregação da Palavra
Não somente isso, porém; também a pregação da Palavra. Vocês verão no capítulo quatro desta Epístola aos Efésios que Paulo faz esta colocação: "E deu dons aos homens. E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres". Para quê? – para o "aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo". Vocês entendem isso? Vocês veem o que está acontecendo na fábrica onde estão sendo feitos os cristãos? Olhem os bancos, olhem os tornos. O que é que vocês veem ali? Apóstolos, profetas, pastores, mestres, pregado¬res – todos colocados ali por Deus, e Ele está realizando a Sua grande obra com eles e por meio deles. Ele está usando todos estes homens para modelar cristãos. Esta é a ideia neotestamentária do cristianismo! – não alguém hesitando em seu leito domingo de manhã sobre se vai ou não a um local de culto; ou se vai ler a Bíblia, ou se vai orar. A obra não é nossa; "não vem de vós". Deus está fazendo isto, e é desta maneira que Ele o faz. É Deus quem chama homens para pregarem o evangelho. A pregação não é uma profissão – que lástima, muitas vezes é como se fosse, mas então não tem valor. É Deus quem chama homens e quem os coloca em seus diferentes ofícios. Ele planejou tudo. O projeto é Seu, o desenho é Seu, e tudo está sendo posto em execução. A pregação e o ensino, os dons que Deus dá aos homens, e os dons que Deus dá à Igreja, constituem todos eles parte do processo. Nenhum deles é dado em atenção aos que os recebem; são dados simplesmente para que Deus faça uso deles a fim de levar avante o Seu grande propósito.
5.4) Circunstâncias e disciplina
Que mais? Vemos outro elemento posto diante de nós no capítulo doze da Epístola aos Hebreus. Circunstâncias e disciplina. Qual será o ensino do capítulo doze de Hebreus? Estes cristãos hebreus estavam tendendo a murmurar e queixar-se porque estavam passando por prova¬ções, dificuldades e tribulações; e o argumento que lhes é apresentado é que tudo isso está acontecendo com eles porque eles são filhos. “O Senhor corrige a quem ama"! (ARA). O autor faz uso de uma ilustração. Vejam os nossos pais terrenos, diz ele. Eles nos corrigem; porém, por que nos corrigem? Porque estão preocupados com o nosso bem-estar, porque estão preocupados com o nosso desenvolvimento. O bom pai castiga o filho, não simplesmente para aliviar as suas emoções contidas, mas porque isso é do mais alto interesse do filho, porque ele ama o filho; porque ele está pensando no futuro do filho. E o argumento do autor é que Deus, como nosso Pai, faz exatamente a mesma coisa conosco. Não significa que toda vez que algo vai mal conosco necessariamente estamos sendo castigados por Deus. Estamos vivendo num mundo de pecado, estamos vivendo num mundo no qual as causas secundárias operam, e com muita frequência as nossas doenças, enfermidades e provações nos acontecem meramente como resultado de causas secun¬dárias; entretanto há nas Escrituras ensino muito claro e explícito, segundo o qual Deus castiga os Seus filhos. Ele o faz com a finalidade de aperfeiçoá-los. Noutras palavras, se não dermos ouvidos ao ensino das Escrituras, se não o aceitarmos positivamente, se Deus começou a operar em nós e a formar-nos e a modelar-nos, Ele produzirá o resultado final mediante este outro método. Este pode incluir correção, castigo – ¬o uso que o oleiro faz do torno sugere isto, certos ângulos têm que ser removidos, e é preciso eliminar certas arestas. Deus nos coloca no torno, por assim dizer. Ou, para usar a mesma ilustração deste capítulo doze de Hebreus, Ele nos coloca num ginásio, Ele faz que passemos por ditos exercícios para podermos ser perfeitos. Sua intenção é que nos desen¬volvamos. Na verdade, eu gostaria de remetê-los ao capítulo onze da Primeira Epístola aos Coríntios, com referência à Ceia do Senhor, onde o apóstolo nos ensina muito explicitamente que alguns membros da igreja de Corinto estavam doentes e fracos simplesmente por causa do pecado deles e da sua recusa a julgar-se, examinar-se e corrigir-se a si mesmos. Deus estava lidando com eles por mero das doenças. E o apóstolo acrescenta: "e (há) muitos que dormem". Grande mistério, esse, mas é evidente que o ensino é que alguns podem até morrer, porque isso faz parte do método de Deus tratar com eles. Não entendemos isso plenamente, porém aí está o ensino. E tudo o que me interessa neste momento é que vejamos que isso faz parte do processo que se segue na grande fábrica. Se houver resistência desta massa de barro, se houver alguma dureza, se houver alguma dificuldade, Deus tem o Seu método, Ele tem a Sua maquinaria, Ele tem a Sua maneira de agir. Ele está produzindo um artigo perfeito e usa todos estes diversos meios e métodos. Somos feitura Sua!
6) QUAL É A OBRA PROPRIAMENTE DITA?
6.1) Convicção do pecado
Se são esses os meios que Deus usa, qual é a obra propriamente dita? O que é que, concretamente, Ele faz conosco? O que é que Ele faz em nós? De novo simplesmente destaco certas coisas que são da maior importância. Uma das primeiras coisas das quais o homem toma consciência quando Deus começa a agir nele é que ele fica inquieto, torna-se convicto do seu pecado. Olhe para o passado, para a sua experiência pessoal, e estou certo de que você verá que essa é a verdade. Você estava levando a sua vida de certa maneira e seguindo certo rumo. Milhares de outras pessoas estavam fazendo a mesma coisa. Subita¬mente (ou gradativamente, não importa), você tomou consciência de certa inquietação. De um modo ou de outro, deixou de ser feliz como era. Questões começaram a surgir em sua mente. Note que não digo que você se sentou e disse de si para si: "Agora estou começando a pensar". Nada disso – surgiram perguntas em sua mente. Não foi assim? Donde elas vieram? Vieram de Deus. Isso é obra do Espírito Santo – a convicção de pecado. O homem é detido. Sente que tem de parar, fica inquieto; não entende o que se passa, fica aborrecido; de fato procura safar-se disso. Talvez se entregue à bebida, ou mergulhe no trabalho, em qualquer coisa, para livrar-se dessa inquietação. Mas aí está, algo está aconte¬cendo com ele. Deus está em perseguição do homem. Como diz o poeta:
Do Senhor eu fugia
nas veredas das noites,
nas veredas dos dias;
Do Senhor eu fugia
pelos portais dos anos;
Do Senhor eu fugia
nos secretos labirintos
da minha mente.
Mas do glorioso Caçador Celestial não há como fugir.
Vocês sabem do que eu estou falando? Feitura Sua! Convicção de pecado! Inquietações! Estas curiosas interferências e interrupções, este senso de que estamos sendo tratados mediante estas coisas. Ninguém pode ser cristão sem ter algum conhecimento disso tudo. Se, de alguma forma e em alguma medida, você não entende o sentimento do salmista no Salmo 139, quando ele brada: "Para onde fugirei da tua presença?", você simplesmente não é cristão. O próprio sentimento de resistência a Deus é uma prova de que Deus está tratando com você e fazendo algo com você. Essa é sempre a primeira coisa – inquietação, convicção de pecado, ser detido, ser contido, ser levado a pensar, perguntas, inquiri¬ções. Todas estas coisas constituem obra de Deus por meio do Espírito Santo. É como Ele começa quando de início pega essa amorfa massa de barro. Ele pega o barro; esse é o primeiro passo. Antes de levá-lo ao torno, antes de aparar quaisquer porções, antes de começar a alisá-lo e poli-lo, o primeiro passo é tão-somente pegá-lo. Deus pegou você? Ou você continua a cargo de si mesmo? Se você continua a cargo de si mesmo, manipulando a si próprio e tentando fazer de si próprio alguma coisa, você não é cristão. A primeira verdade acerca do cristão é que ele está ciente de que Deus o agarrou. O Oleiro pegou o barro.
6.2) Iluminação da mente para ver a verdade
O passo seguinte é uma iluminação da mente para ver a verdade. Que processo maravilhoso! Um homem para quem estas expressões não significavam nada, embora as tenha ouvido a vida toda, de repente começa a ver algo nelas. Às vezes ele lia a Bíblia, e ficava aborrecido com ela; agora ele vê que ela é uma Palavra viva, e a deseja ler. Isso é Deus; Deus no Espírito agindo no homem e abrindo cada vez mais a sua mente para a percepção e o entendimento da verdade. É Ele que está fazendo isso – introduzindo o pensamento; a luz e o poder do Espírito, Deus abrindo as coisas, a Palavra se abrindo diante de nós; os nossos olhos, o nosso entendimento, sendo iluminados. E então, por sua vez, isso leva a um desejo da verdade, e à sede da verdade. "Desejai", diz Pedro, "como crianças recém-nascidas, o genuíno leite da palavra... " (VA). Como você pode desejá-lo, se não nasceu? – se não tem vida espiritual? Mas se você tem vida o desejará, como a criança deseja leite. E, ainda mais importante, alegrar-se na verdade, regozijar-se na verdade, ter prazer na verdade. Isto é obra de Deus, é como Deus faz todas estas coisas.
6.3) Ficamos cientes da nossa nova natureza
E, por sua vez, essa verdade leva a isto, que ficamos cientes da nossa nova natureza, que Deus implantou em nós, o novo princípio de vida. Apesar de nós mesmos, vemos que temos uma nova perspectiva. Digo de novo que podemos não gostar disso, porém é um fato. Vejo que não sou mais o que era. Posso dizer a mim mesmo: quisera Deus eu nunca tivesse ouvido isso, para que eu pudesse sair com os meus companheiros como antes! Todavia, não consigo. Eu posso forçar-me a ir, mas não me sinto feliz com eles, vejo que sou diferente. Tenho nova perspectiva, nova maneira de ver; tenho novos desejos; e tenho novas capacidades. Somos feitura Sua! Ele é o Oleiro, e nós somos o barro. É o que o apóstolo nos ensina aqui.
7) UMA PALAVRA SOBRE O PROPÓSITO
Permitam-me dizer uma palavra sobre o propósito. Há, natural¬mente, um propósito definido. "Criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus de antemão ordenou (ou preparou) para que andássemos nelas" (V A; cf. ARA). Ora, é coisa extraordinária esta, que há um propósito para o cristão, e Deus planejou e projetou tudo a respeito. Qual será? É que nos moldemos à vida do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Devemos viver neste mundo e nesta existência como Ele viveu. Como eu já disse, cabe-nos viver o Sermão do Monte. Temos que pôr em ação a instrução ética destas Epístolas do Novo Testamento – "amar uns aos outros", não ter "torpezas" ou "conver¬sação torpe" em nossas bocas e evitar "parvoíces e chocarrices" ou "conversas tolas" e "pilhérias" – a grande moda atual! "Sede pois imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor, como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave. Mas a prostituição, e toda a impureza e avareza, nem ainda se nomeie entre vós, como convém a santos; nem torpezas, nem parvoíces, nem chocarrices, que não convêm, mas antes ações de graças." Essa classe de vida! Fomos formados para isso. Para isso é que somos modelados. Esse é o projeto, essa é a fôrma, esse é o molde, essa é a imagem. Deus nos está fazendo para isso.
8) TRATA-SE DE UM PROCESSO
E tudo isso está nesta vida. Vocês gostariam de saber qual é o propósito culminante? Isto é um processo. Vocês não se tornam perfeitos num instante. A santificação é um processo, e Deus nos leva através desse processo pelos meios que já indiquei. Vocês querem saber o resultado disso tudo? Bem, este é o fim pinacular, que valerá para nós na glória, na eternidade, quando a obra realmente estará terminada. O Senhor deu os apóstolos e os outros ministérios para "o aperfeiçoa¬mento dos santos, para a obra do ministério... até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo". Esse vai ser o fim. Eu e vocês, tão certo como somos cristãos neste momento, estamos avançando com o fim de chegar "à medida da estatura da plenitude de Cristo" (VA, ARA). Ouçam a afirmação de Paulo, no capítulo cinco, acerca da Igreja em geral: "Para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para apresentar a si mesmo como igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível". Povo cristão, estamos nesse processo tão certamente como somos cristãos. Deus nos pegou, Ele nos está modelando, e vai continuar a operar em nós e conosco até que cheguemos a isto – "sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante". Não restará defeito, todo vestígio do mal terá desaparecido, e seremos inteiramente perfeitos. Esse é o propósito, esse é o modelo.
9) CHEGAREMOS À PERFEIÇÃO
A única outra coisa que eu diria é que, à luz desta doutrina, é absolutamente certo que chegaremos à perfeição. "Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo" (Filipenses 1:6). Nada que seja de fora de nós poderá impedi-lo jamais; nada que seja de dentro de nós poderá impedi-lo jamais. Deus nunca inicia uma obra para entregá-la meio-completa. Isso é totalmente incompatível com a Sua majestade e a Sua glória. Quando Deus começa, continua. Se Deus pegou você e começou a modelá-lo conforme a imagem de Cristo, amigo cristão, tão certo como o sol está brilhando nos céus, Ele dará prossegui¬mento a essa obra até você atingir "a medida da estatura da plenitude de Cristo". Ele dará continuidade a ela até que não haja "mácula, nem ruga, nem coisa semelhante", nenhum defeito, e você possa estar diante dEle perfeito e completo, exultante de alegria. Que doutrina gloriosa! Sim, mas em certos aspectos, que doutrina terrificante! Se você é cristão e de alguma forma resiste à vontade de Deus quanto a você, esteja preparado para o que lhe virá. Esteja preparado para a correção, para o castigo. Esteja preparado, talvez, para um tratamento duro e severo – porque Ele vai aperfeiçoar você. Ele firmou o Seu amor em você, e você está nas mãos dEle. Em Sua fábrica não há refugos. A obra de Deus é sempre perfeita, e é sempre completa. Que bendita base de segurança! – a despeito da minha desobediência, da minha pecaminosidade e da minha imperfeição. A minha única esperança é que estou em Suas mãos, que Ele é o Oleiro e eu sou o barro, e que eu sei que Ele fará que se cumpra a Sua perfeita vontade. Se dependesse de mim, ou de qualquer de nós, de há muito que a coisa toda seria um completo fracasso. Contudo, somos feitura Sua!
Concluo deixando com vocês três ou quatro perguntas como testes. Isso está acontecendo com vocês? Vocês podem dizer que são feitura de Deus? Vocês têm aquele sentimento subjetivo de que Deus está tratando com vocês? Vocês têm consciência da Presença e das mãos? Têm consciência de que estão sendo amoldados e modelados? Vocês concordam com esta doutrina, ou estão em conflito com ela? Esse é um teste muito bom. Vocês estão desejando o genuíno leite da Palavra como crianças recém-nascidas? Não obstante, o melhor teste é: vocês estão desejando a santidade? "Criados em Cristo Jesus para as boas obras, que Deus de antemão ordenou para que andássemos nelas." Isto faz parte do Seu plano. Se vocês não desejam ser santos, não vejo que tenham direito de pensar que são cristãos. Faz parte do propósito de Deus que sejamos preparados para as boas obras. Se vocês pensam que, do plano de salvação, podem apropriar-se somente do perdão, vocês entenderam completamente maI o plano. Quando Deus olhou para vocês e os amou e começou a agir em vocês para fazer de cada um de vocês um cristão, Ele já tinha preparado as obras que vocês deveriam viver e realizar. Isso de justificação sem santificação não existe. Se não há nenhum princípio de santificação em vocês, vocês não estão justifica¬dos. Não se iludam, não se deixem conduzir mal. Não há isso de fé sem obras. "A fé sem as obras é morta." A prova da fé são as obras. Não há valor nenhum numa profissão de fé cristã, se não for acompanhada pelo desejo de ser semelhante a Cristo, pelo desejo de livrar-se do pecado, pelo desejo de obter santidade positiva. Segundo este versículo, isto é essencial. "Somos feitura sua, criados (por Ele) em Cristo Jesus para boas obras." Ele nos está fazendo para isso. Deus opera em nós para conseguir este resultado. Portanto, o teste final quanto a se Deus está atuando em nós é ver se desejamos ser cada vez mais como Cristo, santo e puro, separado do mundo e do pecado, famintos e sedentos de justiça, para que agrademos a Deus que assim começou a agir em nós.

Por: D.M. Lloyd Jones

sábado, 26 de junho de 2010

AS 42 JORNADAS NO DESERTO

Estudo das 42 Jornadas do povo de Israel no deserto. Irmãos cada estudo tem falado ao nosso coração profundamente. Que a Palavra do Senhor nos transforme a cada dia de glória em glória a semelhança do nosso Senhor Jesus Cristo.

CAPÍTULO 65

13ª Estação – Quibrote-Hataavá (parte 1)

TEXTOS: Números 33:16/ Números 10:11-34

Números 33:16:
“partiram do deserto do Sinai e acamparam-se em Quibrote-Hataavá”
Vamos estudar a 13ª estação onde os filhos de Israel estiveram e creio que o Senhor tem algo muito especial para nós aqui. Essa estação fica perto do deserto de Parã, no lado oriental da Península do Sinai. Quando estudamos essas estações, vemos que há muitas estações que ocorreram nesse deserto – nós iremos estuda-las depois.
A estação de Quibrote-Hataavá está explicada de uma forma muito clara em Números 10:11-34. Essa palavra Quibrote-Hataavá no original hebraico significa “túmulos de cobiça”. Um detalhe com o qual vamos nos deparar com essa Jornada é que ela trata da “marcha do povo de Deus”. Vamos ler Números 10:11,12 e 22 e também Números 11:34.
Nm 10:11-12:

“11 Aconteceu, no ano segundo, no segundo mês, aos vinte do mês, que a nuvem se ergueu de sobre o tabernáculo da congregação. 12 Os filhos de Israel puseram-se em marcha do deserto do Sinai, jornada após jornada; e a nuvem repousou no deserto de Parã.”

Primeiro vemos que Deus fala ao povo sobre a ordem de marcha, isto é, que eles deveriam peregrinar de acordo com a Palavra de Deus. Era a Palavra de Deus que estabelecia a ordem da caminhada. Em Efésios 4:1 Paulo diz:
“Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados.”
Sabemos que lá no Egito esse povo vivia uma vida escrava; não viviam uma vida ordenada. Então, quando o Senhor leva-os a peregrinar pelo deserto, o Senhor coloca a ordem da caminhada. Isso porque Deus estava atraindo esse povo para Ele mesmo. E, para ir a Deus e estar em comunhão com Ele, não podemos viver de forma desordenada. Por isso o Senhor lhes deu os Dez Mandamentos. Toda a tipologia do Tabernáculo era para ensinar isso. Então, primeiro Deus dá os Dez Mandamentos; depois Deus ordena que eles construam o Tabernáculo segundo o modelo que Deus deu a Moisés. Tudo o que o Senhor havia revelado no Sinai era para conduzir esse povo a Deus pelo deserto. Se queremos caminhar com Deus, temos que marchar segundo a ordem de Deus, na hora de Deus, à maneira de Deus, como as pessoas de Deus, no turno designado por Deus para nós, de acordo com a sua provisão, sem murmuração, sem desordem, como soldados – porque estamos numa guerra espiritual.
Ainda precisamos ler alguns textos para podermos entender de fato o que aconteceu nesta estação.
Números 11:4-10:
“4 E o populacho que estava no meio deles veio a ter grande desejo das comidas dos egípcios; pelo que os filhos de Israel tornaram a chorar e também disseram: Quem nos dará carne a comer? 5 Lembramo-nos dos peixes que, no Egito, comíamos de graça; dos pepinos, dos melões, dos alhos silvestres, das cebolas e dos alhos. 6 Agora, porém, seca-se a nossa alma, e nenhuma coisa vemos senão este maná. 7 Era o maná como semente de coentro, e a sua aparência, semelhante à de bdélio. 8 Espalhava-se o povo, e o colhia, e em moinhos o moía ou num gral o pisava, e em panelas o cozia, e dele fazia bolos; o seu sabor era como o de bolos amassados com azeite. 9 Quando, de noite, descia o orvalho sobre o arraial, sobre este também caía o maná. 10 Então, Moisés ouviu chorar o povo por famílias, cada um à porta de sua tenda; e a ira do SENHOR grandemente se acendeu, e pareceu mal aos olhos de Moisés.”

Números 11:34:
“Pelo que o nome daquele lugar se chamou Quibrote-Hataavá, porquanto ali enterraram o povo que teve o desejo das comidas dos egípcios.”
Amados irmãos e irmãs, em Tiago podemos ver algo muito interessante, quando diz como é que funciona esse processo. Vejamos que Tiago 1:13-15 diz assim:
“13 Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta. 14 Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. 15 Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte.”

Amados irmãos e irmãs, a cobiça é uma motivação excessiva que usa a face das coisas, de posses materiais. A cobiça é uma determinação exagerada de se possuir mais e mais e mais coisas. É sempre um desejo exacerbado, descontrolado. Nunca nos satisfazemos com as mobílias que temos, com o carro que temos, com nada que possuímos, com a casa, com o emprego, com nada! A cobiça é um desejo excessivo de ser conhecido, aplaudido, venerado, de ter um preeminente nome. As pessoas ficam tão determinadas a serem estrelas, a estarem sob holofotes, no palco, que nada as detêm na ânsia de serem mencionadas ou de serem vistas nos círculos das celebridades. O que vemos, desejamos e cobiçamos; então nos esforçamos para conseguir para nós. Isso é cobiça. O homem é basicamente ambicioso e egoísta por natureza. Satanás busca levá-lo às tentações através da concupiscência dos olhos.
Amados irmãos e irmãs, existe sempre dentro de nós um desejo de pedir e buscar coisas fora da ordem da provisão de Deus. Se preferimos andar dessa maneira, menosprezamos a Deus, menosprezamos os Seus caminhos, Sua vontade para conosco e, assim, demonstramos nossa falta de confiança em Deus. O que aprendemos nessa estação de Quibrote-Hataavá é que temos que nos manter dentro do limite ensinado e desejado por Deus para a nossa vida. Antes, quando não estávamos em Cristo, estávamos mortos nos nossos delitos e pecados, numa vida iníqua, sem Deus, vivíamos para nós. Mas agora, em Cristo, desde que somos salvos, estamos salvos nEle, vivemos para agradá-lO. Vejam o que Paulo diz em 2 Co 5:15:
“E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.”
Este é um princípio que aprendemos aqui em Quibrote-Hataavá: não podemos ser governados pela cobiça que tenta nos seduzir e nos governar. Então, esse é um princípio, é isso que impede a marcha do Povo de Deus, é isso que provoca um atraso na realização da obra de Deus, no caminhar, na peregrinação cristã. Por que muitos estão entrelaçados pelas cobiças das coisas deste mundo. Precisam verdadeiramente descansar em Deus, viver de acordo com o padrão do caráter de Deus, ter uma vida e acordo com a vontade de Deus. Caso contrário, seremos escravizados pela cobiça. Quantas pessoas estão escravizadas pela cobiça? Quantas pessoas vivem escravizadas pela cobiça?
Agora, amados irmãos e irmãs, vamos entender o que significa a expressão “marcha”. Uma coisa que precisamos notar aqui é que o Senhor diz para o povo de Israel “marchar”.
Números 10:12-13 diz assim:
“12 Os filhos de Israel puseram-se em marcha do deserto do Sinai, jornada após jornada; e a nuvem repousou no deserto de Parã. 13 Assim, pela primeira vez, se puseram em marcha, segundo o mandado do SENHOR, por Moisés.”

Notem bem esta frase: “Assim, pela primeira vez, se puseram em marcha, segundo o mandado do SENHOR, por Moisés”

Agora Números 10:28:

“Nesta ordem, puseram-se em marcha os filhos de Israel, segundo os seus exércitos.”

Meus amados, no hebraico, o termo aqui para “marcha” é “naca”, que significa “pôr-se a caminho, ir em frente, mover-se bruscamente”. Esse é o significado da palavra “marcha”.

Na vida cristã, essa vida na qual fomos chamados a viver em Cristo, precisamos compreender que esse termo “marcha” faz referência à guerra espiritual que travamos dia após dia. Em um certo sentido, na vida cristã, nós somos soldados porque estamos numa guerra espiritual. E de fato nós somos soldados sim, estamos numa guerra. Soldados não caminham, marcham!.
Temos que lembrar que esse povo de Israel, que estava nessa peregrinação, um dia foi escravo no Egito. Eles viviam uma vida desordenada. Agora, o Senhor está estabelecendo ordem. Vamos atentar para uma série de textos no livro de Números para compreendermos melhor esse assunto.
Números 9:17:
“Quando a nuvem se erguia de sobre a tenda, os filhos de Israel se punham em marcha (...)”
Números 9:21b:
“quando, pela manhã, a nuvem se erguia, punham-se em marcha; quer de dia, quer de noite, erguendo-se a nuvem, partiam.”
Números 9:23:
“Segundo o mandado do SENHOR, se acampavam e, segundo o mandado do SENHOR, se punham em marcha; cumpriam o seu dever para com o SENHOR, segundo a ordem do SENHOR por intermédio de Moisés.”
Número 10:12:
“Os filhos de Israel puseram-se em marcha do deserto do Sinai, jornada após jornada; e a nuvem repousou no deserto de Parã.”
Números 10:28:
“Nesta ordem, puseram-se em marcha os filhos de Israel, segundo os seus exércitos.”
Marchar é andar em um só passo com aqueles que estão conosco; é andar segundo o desejo de Deus. Esse é o sentido espiritual. É não andar segundo os nossos desejos. Devemos ajustar os nossos passos de acordo com a hora de Deus, com o seu tempo. Precisamos marchar com aqueles que Deus escolheu para nós andarmos juntos. Se quisermos andar com Deus, precisamos marchar de acordo com a ordem dEle, de acordo com a maneira dEle, com as pessoas que Ele nos deu para prosseguirmos na Sua vontade. Quando vivíamos escravizados pelo pecado, pelo mundo e pela carne, nós andávamos seguindo os impulsos desordenados do nosso coração. Mas, amados irmãos e irmãs, agora não é assim, temos uma ordem e essa ordem veio de Deus. Olhem Números 10:13:
“Assim, pela primeira vez, se puseram em marcha, segundo o mandado do SENHOR, por Moisés.”

Meus amados, temos que saber que a nação de Israel era uma nação escolhida por Deus e eles não se ofereceram voluntariamente para marcharem – foi Deus quem os convocou. Se estudarmos os versículos 14 a 28 de Números 10, veremos uma sequência de textos que mostram alguns aspectos distintos; como Deus começa a revelar os assuntos avançados da sua edificação. Ele estabelece homens como dádivas para serem vanguardas no meio do seu povo. A palavra “vanguarda” é uma palavra que os militares usam para descrever uma tropa para combate, como também a posição que encabeça uma sequência. Isso é muito sério, porque aqui vamos compreender a maneira como o Senhor está nos conduzindo; a maneira como ele está nos levando nessa batalha espiritual, neste andar espiritual; a maneira como nós precisamos corresponder a Ele. Você pode imaginar isso? Essa é a maneira de Deus, esse é o caminhar de Deus; é assim que Ele está fazendo, é assim que Ele está trabalhando.
Que Deus nos ajude a entender tudo isso. Que venhamos compreender aquilo que o Senhor está nos revelando na sua Palavra. Precisamos ter um andar de acordo com o caráter de Deus. Hoje, como Igreja, nós não andamos de acordo com os nossos impulsos, não andamos de acordo com o modismo que está surgindo aí – a nova onda. Nós não andamos de acordo com os padrões do mundo; nós temos que marchar de acordo com a Palavra de Deus, de acordo com a trombeta de Deus, de acordo com a voz de Deus. Que você possa estar entendendo o que Deus está falando ao seu coração. Daremos continuidade a este assunto nos próximos estudos, na certeza de que o Senhor deseja falar ainda ao nosso coração e nos abençoar através da Sua Palavra.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

ESTUDO SOBRE O LIVRO DE EFÉSIOS

Por: D.M. Lloyd Jones

PELA GRAÇA POR MEIO DA FÉ

"Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie; porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas".
- Efésios 2:8-10

I) Ninguém pode viver esta vida cristã se primeiro não tiver um verdadeiro entendimento do que é que afinal nos faz cristãos
Nestes três versículos o apóstolo resume a grande argumentação que ele nos transmite nos sete primeiros versículos deste capítulo. Ele a traz toda a um centro focal. Imagino que, em certos aspectos, podemos dizer que em parte alguma desta Epístola se vê declaração mais importante que esta. Naturalmente, tudo vem prenhe de doutrina, como temos visto; mas, certamente, do nosso ponto de vista, e para que se tenha verdadeiro e claro entendimento do que é que nos faz cristãos, não há nada que seja mais importante do que essa declaração particular. E, portanto, é óbvio que é igualmente importante no sentido prático.
Aqui está, seguramente, uma declaração que precisa ser aceita como determinante em toda obra de evangelização. De igual modo, ela deve determinar toda a nossa prática da vida cristã, porque a crença e a prática são inseparáveis. Não se pode separar terminantemente o conceito que a pessoa tem destas coisas, do seu relacionamento integral com elas. Por isso digo que nesta passagem estamos face a face com uma das declarações mais cruciais de todas as Escrituras, e obviamente é por isso que o apóstolo a expõe desta forma especial. Por essa mesma razão também, ele já tinha orado, no capítulo primeiro, para que os olhos do nosso entendimento fossem iluminados. Jamais poderemos repetir isso em demasia. Esta grande Epístola, talvez a maior de todas em alguns sentidos, impregnada de profunda teologia e de afirmações doutrinárias, foi, não obstante, escrita primordialmente com o objetivo de ajudar as pessoas de maneira prática e pastoral. Noutras palavras, não devemos pensar que ela é, primeiramente e acima de tudo, uma tentativa da parte do apóstolo, de escrever um tratado teológico. O apóstolo não era um teólogo profissional – pergunto se deveria existir tal coisa. O apóstolo era pregador e evangelista. Tal homem, é evidente, tem que ser teólogo – se não o for, não poderá ser um verdadeiro evangelista – no entanto não se tratava de uma questão profissional. A abordagem do apóstolo não é acadêmica, não é teórica; ele estava interessado em ajudar aqueles crentes a viverem a vida cristã. Foi por isso que lhes escreveu. Mas ele sabia que ninguém pode viver esta vida cristã se primeiro não tiver um verdadeiro entendimento do que é que afinal nos faz cristãos. Portanto, quando Paulo lhes escreve, ele parte desta grande doutrina, e depois passa à sua aplicação.
É o que ele faz aqui, em sua oração por eles, no sentido de que os olhos do seu entendimento sejam iluminados, para que eles possam conhecer a esperança da vocação de Deus, as riquezas da glória da Sua herança nos santos e, talvez mais importante que tudo mais, a imensurável grandeza do Seu poder para conosco, os que cremos. Essa era a dificuldade daqueles crentes; não se davam conta desse poder. E é esta a nossa dificuldade – a nossa incapacidade de perceber a imensurável grandeza do poder de Deus em nós, os que cremos. Assim ele procurou revelá-la, expô-la e colocá-la claramente diante deles. Ele a tinha exposto em detalhe: a descrição negativa nos versículos 1 a 3; a positiva nos versículos 4 a 7. Feito isso ele diz: agora, então, tudo vem a dar nisto... Vocês podem notar que ele começa com a palavra "Porque". "Porque pela graça sois salvos." É uma continuação; ele retrocede ao que estivera dizendo, e depois o coloca mais uma vez de um modo que não nos deixará esquecê-lo nunca mais.
É uma descrição do que significa realmente ser cristão. Cada vez me convenço mais de que a maior parte dos nossos problemas na vida cristã surge nesse ponto. Pois, se não estivermos certos no começo, estaremos errados em toda parte. E, visto que muitos ainda estão confusos nesse primeiro passo, estão sempre cheios de problemas, dificuldades e perguntas, e não podem entender isto, e não conseguem ver aquilo. É porque nunca entenderam bem o alicerce.
Bem, aí está para nós – e, como eu disse, não há declaração mais clara sobre isso em parte alguma das Escrituras.
Então, por que a confusão? Muitas vezes a confusão aparece porque as pessoas transformam estas grandes declarações do apóstolo em matéria de controvérsia. E o fazem porque insistem em introduzir a sua filosofia, com o que me refiro às suas ideias pessoais. Em vez de tomarem as claras afirmações do apóstolo, elas dizem: mas eu não consigo ver isto. Se é assim, então não entendo como Deus pode ser um Deus de amor. Noutras palavras, essas pessoas começam a filosofar e, naturalmente, no momento em que vocês começarem a fazer isso, estarão fadados a ter dificuldades. Ou aceitamos as Escrituras como nosso único fundamento, ou não. Muitos dizem que as aceitam, mas logo vêm com a sua incapacidade de entender. No momento em que vocês fizerem isso, terão abandonado as Escrituras e estarão introduzindo a sua capacidade pessoal, o seu entendimento, e as suas teorias e ideias pessoais. Esse tem sido constantemente o problema, especialmente com estes três versículos que estamos considerando. O que me proponho a fazer, portanto, é simplesmente colocar estas afirmações diante de vocês, e pedir-lhes que as considerem e que meditem sobre elas. Aqui está o fundamento completo da nossa posição como cristãos. É aqui que se nos diz com exatidão como foi que nos tornamos cristãos.
II) Somos cristãos inteiramente como resultado da graça de Deus
Que é que o apóstolo diz? Diz ele que somos cristãos inteiramente como resultado da graça de Deus. Ora, certamente ninguém pode contestar isso. "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus." Notem o método do apóstolo aqui. A declaração toda está em três versículos e, em certo sentido, podemos tomar os três versículos como nossas divisões e subtítulos. Primeiro ele faz uma declaração positiva no versículo 8. Coloca a seguir uma negativa, no versículo 9; e o propósito da negativa é reforçar a positiva. Está apenas dizendo a mesma coisa negativamente. E depois, no versículo 10, ele parece combinar as duas, a positiva e a negativa.
1) Examinemos primeiro a declaração positiva:
Sua asserção feita positivamente é que nós somos cristãos inteira e unicamente como resultado da graça de Deus. Lembremo-nos mais uma vez de que "graça" significa favor imerecido. É uma ação que brota inteiramente do caráter misericordioso de Deus. Assim, a proposição fundamental é que a salvação é algo inteiramente procedente da parte de Deus. O que é mais importante ainda é que ela não somente vem da parte de Deus, porém nos vem apesar de nós mesmos – favor "imerecido". Noutras palavras, não é a resposta de Deus a alguma coisa que haja em nós. Há muitos, no entanto, que parecem pensar que é – que a salvação é a resposta de Deus a algo existente em nós. Mas a palavra "graça" exclui isso. É apesar de nós. Como vimos, o apóstolo mostra-se muito ansioso para dizer isso. Observem o modo interessante como ele, por assim dizer, introduziu-o sutilmente no versículo cinco. Ele se interrompeu, que¬brou a simetria da sua exposição, e se fez culpado de grave defeito, do ponto de vista do estilo literário. Contudo, ele não estava preocupado com isso. Ouçam-no: "Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo", e então, em vez de dar o passo seguinte – parênteses "(pela graça sois salvos)". Aqui ele o expressa um pouco mais explicitamente. A salvação não é, em nenhum sentido, a resposta de Deus a algo existente em nós. Não é algo de que nalgum sentido tenhamos merecimento ou mérito. Toda a essência do ensino neste ponto, e em toda parte do Novo Testamento, é que não temos nenhum tipo ou nenhuma espécie de direito à salvação, e que toda a glória da salvação é que, apesar de nada merecermos, senão a punição, o inferno e o banimento da presença de Deus por toda a eternidade, não obstante Deus, por Seu amor, Sua graça e Sua maravilhosa misericórdia, concedeu-nos esta salvação. Pois bem, esse é todo o ensino do termo "graça".
Não precisamos demorar-nos aqui, porque já estivemos tratando disso nos sete versículos anteriores. Qual é o objetivo desses versículos? Não será apenas mostrar-nos essa mesma verdade negativa e positiva¬mente? Qual é o objetivo dessa horrível descrição do homem como ele é por natureza em consequência do pecado nos três primeiros versículos, senão justamente mostrar que o homem, como ele é, não merece nada, exceto a retribuição aos seus pecados? Ele é por natureza filho da ira, e não somente por natureza, mas também por conduta, por seu compor¬tamento, por sua atitude em geral para com Deus – vivendo segundo o curso deste mundo, governado pelo príncipe das potestades do ar. Esse é o tipo de criatura que ele é; morto em ofensas e pecados, criatura cheia de cobiças, cobiças da carne, "fazendo a vontade da carne e dos pensamentos". Não existe descrição mais horrorosa do que essa. Não se pode imaginar um estado pior do que esse. Uma criatura como essa merece alguma coisa? Tem algum direito diante de Deus? Poderá ir à frente com alguma causa ou demanda para defender? Todo o ponto visado pelo apóstolo é que tal criatura não merece nada das mãos de Deus, senão a retribuição aos seus pecados. E depois ele desenvolve o seu argumento com o seu grande contraste – "mas Deus" – que já consideramos em detalhe. E o propósito disso, seguramente, é exaltar a graça e a misericórdia de Deus, e mostrar que, onde o homem não merece absolutamente nada, Deus não somente lhe dá, e lhe dá liberalmente, mas faz chover sobre ele "as imensuráveis riquezas da sua graça".
Esse é, pois, o primeiro princípio: que somos cristãos única, total e exclusivamente por causa da graça de Deus. Referi-me ao versículo cinco porque é extremamente importante nesta argumentação. Notem como o apóstolo o inseriu ali, fê-lo escorregar para dentro, por assim dizer, insinuou-o. Por quê? Observem o contexto. Diz ele que foi exatamente "quando estávamos mortos em pecados" que Deus nos vivificou. E então, imediatamente – "(pela graça sois salvos)". Se você não enxergar o princípio nesse ponto, não o enxergará em lugar nenhum. O que ele estava dizendo é que estávamos mortos, isto é, absolutamente sem vida; portanto, sem nenhuma capacidade. E a primeira coisa que nos era necessária, era que nos fosse dada vida, que fôssemos vivificados. E diz ele que foi exatamente isso que Deus fez conosco. Pelo que diz ele: vocês não conseguem ver isso? É pela graça que vocês são salvos. Portanto, ele o coloca nesse ponto em particular obviamente por essa razão. É a única conclusão que se pode deduzir. Criaturas que estavam espiritualmente mortas, agora estão vivas – como aconteceu? Pode um morto voltar a viver por si mesmo? Impossível. Há uma única resposta: "Pela graça sois salvos". Chegamos, pois, a esta inevitável conclusão: somos cristãos neste momento única e inteiramente pela graça de Deus.
O apóstolo nunca se cansava de dizer isso. Que mais poderia ele dizer? Quando ele olhava para trás, para o blasfemo Saulo de Tarso, que odiava a Cristo e a Igreja Cristã e fazia o máximo que podia para exterminar o cristianismo, respirando ameaças e morte; quando olhava para trás e via isso, e depois olhava para si mesmo como ele agora era, que poderia ele dizer, senão isto: "Sou o que sou pela graça de Deus"? E devo confessar que ultrapassa a minha capacidade de entender como algum cristão ou alguma cristã, ao olhar para si, possa dizer coisa diferente. Se quando você dobra os joelhos diante de Deus não se der conta de que é "devedor à misericórdia, única e exclusivamente", confesso que não entendo você. Há alguma coisa tragicamente defeitu¬osa, ou no seu sentimento de pecado, ou na sua capacidade de percepção da grandeza do amor de Deus. Este é o tema sempre presente no Novo Testamento, a razão pela qual os santos dos séculos sempre louvaram o Senhor Jesus Cristo. Eles veem que quando estavam em total desesperança, verdadeiramente mortos, e eram vis e repugnantes, "odiosos, odiando-nos uns aos outros", como diz Paulo escrevendo a Tito (3:3). Deus olhou para eles. Foi "quando éramos ainda pecadores", mais, foi "quando éramos inimigos" que fomos reconciliados com Deus pela morte do Seu Filho – inimigos; alienados em nossas mentes, completamente opostos. Não seria certo que temos que ver que é pela graça, e somente pela graça, que somos cristãos? É totalmente imere¬cido, é somente como resultado da bondade de Deus.
2) A segunda declaração, uma proposição colocada em forma negativa
A segunda proposição, como indiquei, é colocada em forma nega¬tiva pelo apóstolo. Diz ele que o fato de que somos cristãos não nos dá base nenhuma para jactância. Essa é a forma negativa da primeira proposição. A primeira é que somos cristãos única e inteiramente como resultado da graça de Deus. Portanto, em segundo lugar, temos que dizer que o fato de sermos cristãos não nos dá nenhuma base para gabar-nos. O apóstolo faz a colocação disso com duas declarações. A primeira é: "Isto não vem de vós"; não satisfeito com isso, o apóstolo se expressa mais explicitamente com estas palavras: "para que ninguém se glorie". Aí temos duas declarações vitalmente importantes. Certamente nada poderia ser mais forte: "Não vem de vós"; "para que ninguém se glorie". Este sempre deve ser o teste decisivo do nosso conceito da salvação e do que nos faz cristãos. Examinemo-nos por um momento. Qual a ideia que você faz de si mesmo como cristão? Como foi que você se tornou cristão? De que depende? Que é que está no fundo? Qual a razão? Essa é a questão decisiva e, segundo o apóstolo, o teste vital. A sua ideia de como você se tornou cristão lhe dá alguma base para orgulhar-se de si mesmo, para gabar-se? Essa sua ideia reflete de alguma forma algum mérito a seu favor? Se reflete, segundo esta declaração apostólica não hesito em dizê-lo: você não é cristão. "Não vem de vós; para que ninguém se glorie". No capítulo três da Epístola aos Romanos o apóstolo se expressa com mais clareza ainda, com uma pergunta. Aí está, diz ele, o plano divino de salvação, e depois, no versículo 27, pergunta: "Onde está logo a jactância?" Ele responde, dizendo: "É excluída", é posta para fora, e a porta é fechada sobre ela; não há lugar para ela aqui.
Não admira que o apóstolo Paulo tenha tanto gosto em colocar a questão dessa maneira em especial, porque, antes da sua conversão, antes de se tornar cristão, ele bem sabia o que era jactar-se. Nunca houve uma pessoa tão satisfeita consigo ou mais segura de si do que Saulo de Tarso. Tinha orgulho próprio em todos os aspectos – orgulhava-se de sua nacionalidade, da tribo em que nascera em Israel, de haver sido criado como fariseu e de haver sentado aos pés de Gamaliel, orgulhava¬-se de sua religião, da sua moralidade, do seu conhecimento. Ele nos fala disso tudo no capítulo três da Epístola aos Filipenses. Ele costumava jactar-se. Levantava-se e dizia coisas semelhantes a estas: quem pode contestar isto? Aqui estou, um bom homem, de boa moral, religioso. Observem-me nos meus deveres religiosos, observem o meu viver, observem-me em todos os aspectos; tenho-me dedicado a esta vida piedosa e santa, e estou satisfazendo a Deus. Essa era a sua atitude. Gabava-se. Achava que era um homem de tanto valor e que tinha vivido de tal maneira que podia orgulhar-se disso. Essa era uma das suas grandes palavras. Mas chegou a ver que uma das maiores diferenças resultantes do fato de haver-se tornado cristão foi que tudo isso foi jogado fora e passou a ser irrelevante. Por isso acostumou-se a usar linguagem forte. Olhando para trás, para tudo aquilo de que tanto se jactara, ele diz: "É escória e perda!" Não se contenta em dizer que tudo aquilo era mal; é vil, é sujo, é nojento. Jactância? Foi excluída! Entretanto o apóstolo conhece tão bem o perigo neste ponto que não se contenta com uma declaração geral; ele indica particularmente dois aspectos nos quais somos propensos à jactância.
3) Dois aspectos nos quais somos propensos à jactância:
3.1) O primeiro é esta questão de obras:
"Pela graça sois salvos, e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie". É sempre com relação às obras que somos mais propensos a jactar-nos. É nesse ponto que o diabo nos tenta de maneira a mais sutil. Obras! Essa era a razão pela qual os fariseus eram os maiores inimigos de Jesus Cristo; não porque fossem meros faladores, mas porque realmente faziam coisas. Quando aquele fariseu disse (Lucas 18:12) – "Jejuo duas vezes na semana", estava falando a verdade; quando ele disse: "dou os dízimos de tudo quanto possuo", estava sendo rigoro¬samente exato. Os fariseus não falavam apenas, faziam realmente estas coisas. E é por isso que eles ficaram tão aborrecidos com a pregação do Filho de Deus e foram grandemente responsáveis pela Sua crucifixão. Seria ir longe demais dizer que é sempre mais difícil converter uma pessoa boa do que uma pessoa má? Penso que a história da Igreja prova isso. Os maiores opositores da religião evangélica sempre têm sido gente boa e religiosa. Alguns dos mais cruéis perseguidores de que fala a história da Igreja pertenciam a essa classe. Os santos sempre sofreram mais profundamente nas mãos de gente boa, de bom nível moral, religiosa. Por quê? Por causa das boas obras. O evangelho bíblico sempre denuncia a confiança nas boas obras, o orgulho pelas boas obras e a jactância acerca das boas obras, e aquelas pessoas não aguentam isso. Toda a sua posição foi edificada sobre isso – o que elas são, o que elas fizeram e o que elas estão sempre fazendo. Isso constitui toda a posição delas e, se vocês lhes tirarem isso, elas ficarão sem nada. Por isso elas odeiam a pregação realmente bíblica, e a combaterão até não poderem mais. O evangelho faz de nós mendigos. Ele nos condena, a todos e a cada um de nós. Não há diferença, Paulo afirma em toda parte, não há diferença entre o gentio, que está fora da comunidade, e o judeu religioso, aos olhos de Deus – "Não há um justo, nem um sequer". Assim, é preciso que as obras desapareçam, que não nos gabemos delas. Mas nós temos a tendência de gabar-nos delas – o nosso viver virtuoso, as nossas boas ações, as nossas observâncias religiosas, a nossa frequên¬cia aos cultos (e particularmente quando vimos de manhã bem cedo), assim por diante. São estas coisas, as nossas atividades religiosas, que nos fazem cristãos. É esse o argumento.
No entanto o apóstolo desmascara e denuncia tudo isso, e o faz com muita simplicidade, da seguinte maneira: diz ele que falar sobre as obras é voltar ao jugo da lei. Se você pensa, diz ele, que é a sua vida virtuosa que faz de você um cristão, está tornando a ficar debaixo da lei. Mas é inútil fazê-lo, diz ele, por esta razão. Se você tornar a colocar-se debaixo da lei, estará condenando a si próprio, pois "nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado". Se você quiser tentar justificar-se por sua vida e por suas obras, você estará indo direto para a condenação, porque as melhores obras do homem não são suficientemente boas aos olhos de Deus. Todos fomos condenados pela lei – "Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus". "Não há um justo, nem um sequer". Portanto, não sejam tolos, diz Paulo; não se apartem da graça, pois fazê-lo é ir para a condenação. As obras de homem nenhum serão suficientes para justificá-lo aos olhos de Deus. Que tolice, então, tornar a ficar debaixo das obras!
Mas não somente isso, no versículo dez ele explica que fazer isso é fazer o contrário do que se deve. Tais pessoas pensam que pelas suas boas obras elas se fazem cristãs, ao passo que, diz Paulo, é exatamente o contrário. "Somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas." A tragédia é que as pessoas pensam que, se tão-somente fizerem certas coisas e evitarem outras, e tiverem uma vida virtuosa, e saírem para ajudar outras pessoas, dessa maneira se tornarão cristãs. Que cegueira!, diz Paulo. Esta é a maneira de ver as boas obras: Deus nos faz cristãos para que pratiquemos boas obras. Não é uma questão de as boas obras levarem ao cristianismo, e sim de o cristianismo levar às boas obras. É exata¬mente o oposto daquilo em que as pessoas tendem a crer. Portanto, não há nada que seja tão completa contradição da verdadeira posição cristã como essa tendência que temos de jactar-nos e de pensar que, porque somos o que somos e fazemos o que fazemos, tornamo-nos cristãos. Não; Deus faz cristãos, e depois eles vão praticar as suas boas obras. A jactância é excluída. "Onde está logo a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não; mas pela lei da fé." Vemos que as obras são excluídas na questão de alguém se tornar cristão. Não devemos jactar¬-nos das nossas obras. Se de alguma forma mostrarmos que achamos que temos bondade, ou se estivermos confiantes em alguma coisa que fizemos, estaremos negando a graça de Deus. Isto é o oposto do cristianismo.
3.2) O segundo aspecto é a questão da fé:
Contudo, a lástima é que não são somente as obras e as ações que tendem a insinuar-se. Existe algo mais – a fé! A fé tende a introduzir¬-se e a fazer com que nos jactemos. Há uma grande controvérsia acerca deste versículo – "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus". A grande questão é, a que se refere a palavra "isto"? E há duas escolas de opinião. "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto (a fé) não vem de vós, é dom de Deus", diz uma escola. Mas, de acordo com a outra escola, a palavra isto não se refere à "fé", e sim à "graça", mencionada no início da frase: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto (esta posição na graça) não vem de vós, é dom de Deus". Seria possível resolver a disputa? Não. Não é questão de gramática, não e questão de língua. Vocês verão que, como usualmente acontece, as grandes autoridades estão divididas entre as duas escolas, e é muito interessante, quase divertido, notar os lados aos quais elas pertencem. Por exemplo, se eu perguntasse qual era a opinião de Calvino sobre isso, estou certo de que vocês logo responderiam que Calvino dizia que "isto" se refere à fé, e não à graça. Mas a verdade é que Calvino disse exatamente o oposto, que "isto" se refere à "graça" e não à "fé". É uma questão que não se pode resolver. E há um sentido em que realmente isso não tem a mínima importância, porque no fim dá no mesmo. Noutras palavras, o Importante é não recair nas "obras".
Mas há muitos que fazem isso. Transformam a sua fé numa espécie de obras. Na verdade, existe muito ensino evangelístico popular atual¬mente que afirma que a diferença que o Novo Testamento faz pode ser expressa desta maneira: no Velho Testamento Deus olhava para o povo e dizia: aqui está a Minha lei, aqui estão os Dez Mandamentos; guardem¬-nos, e Eu os perdoarei e vocês serão salvos. Mas, esse ensino continua e diz: não é assim agora. Deus pôs tudo isso de lado, não existe mais lei, Deus simplesmente nos diz: "Creiam no Senhor Jesus Cristo", e vocês serão salvos. Noutras palavras, o que dizem os que tal coisa ensinam é que, crendo no Senhor Jesus Cristo, a pessoa se salva. Todavia isso é transformar a fé em obras, porque isso equivale a dizer que a nossa ação é que nos salva. Mas o apóstolo diz: "Não vem de vós". Se "isto" se refere à fé ou à graça, não Importa; "sois salvos", diz Paulo, "pela graça, e isto não vem de vós". Se é a minha fé que me salva, eu mesmo me salvei; porém Paulo afirma que isso não vem de você. De modo que jamais devo falar da minha fé de molde a fazê-la vir de mim mesmo. E não é só isso. Se me tornei cristão dessa maneira, certamente isso também me dá base para jactar-me, para gloriar-me; mas Paulo diz: "Não de obras, para que ninguém se glorie". A minha jactância tem que ser excluída totalmente.
Portanto, quando pensamos na fé, temos que ter o cuidado de examiná-la à luz do que foi dito. A fé não é a causa da salvação. Cristo é a causa da salvação. A graça de Deus no Senhor Jesus Cristo é a causa da salvação, e jamais devo falar de um modo que apresente a fé como a causa da salvação. Então, o que é a fé? A fé é apenas o instrumento pelo qual a salvação chega a muno "Pela graça sois salvos, por meio da fé." A fé é o canal, e o instrumento através do qual esta salvação, que é da graça de Deus, vem a mim. Sou salvo pela graça, "por meio da fé". A fé é simplesmente o meio através do qual a graça de Deus, que traz salvação, entra em minha vida. Portanto, devemos ser sempre extrema¬mente cautelosos, jamais dizendo que é a nossa fé que nos salva. A fé não salva, crença não salva, Cristo salva – Cristo e a Sua obra acabada. Não a minha crença, não a minha fé, não o meu entendimento, nada que eu faça – "não vem de vós", "a jactância é excluída", "pela graça, por meio da fé".
Certamente o que a passagem que inclui os três primeiros versículos deste capítulo tem por objetivo é mostrar que nenhuma outra posição é possível. Como pode alguém que está "morto" em ofensas e pecados salvar-se? Como pode alguém que é "estranho e inimigo no entendi¬mento", cujo coração está "em inimizade contra Deus" (pois é o que as Escrituras nos falam acerca do homem natural), como pode tal pessoa fazer alguma coisa que seja meritória? É impossível. A primeira coisa que acontece conosco, diz-nos o apóstolo nos versículos 4 a 7, é que fomos "vivificados". Nova vida foi introduzida em nós. Por quê? porque sem vida não podemos fazer coisa alguma. A primeira coisa que o pecador necessita é vida. Ele não pode pedir vida, pois está morto. Deus lhe dá vida, e o pecador prova que a tem crendo no evangelho. A vivificação é o primeiro passo. É a primeira coisa que acontece. Eu não peço para ser vivificado. Se eu pedisse para ser vivificado, não precisaria ser vivificado, já teria vida. No entanto, estou morto, e estou em inimizade contra Deus e a Ele me oponho, não tenho entendimento, tenho ódio. Mas Deus me dá vida. Ele me vivificou juntamente com Cristo. Portanto, a jactância é inteiramente excluída. Gloriar-me das obras, gloriar-me até da fé, isso tem que ser excluído. A salvação é inteiramente de Deus.
4) O fato de sermos cristãos é totalmente resultante da obra de Deus
Isso nos leva ao último princípio, que resumo da seguinte maneira: o fato de sermos cristãos é totalmente resultante da obra de Deus. O real problema de muitos de nós é que a nossa concepção do que é que nos faz cristãos é demasiado fraca, demasiado pobre; é a nossa incapa¬cidade de perceber a grandeza do que significa ser cristão. Paulo diz: "Somos feitura Sua"! É Deus que fez algo, é Deus que está operando; somos Sua feitura. Não trabalho nosso, mas Seu trabalho. Portanto, digo de novo, não é a nossa vida virtuosa, não são os nossos esforços todos e a esperança de por fim sermos cristãos, que nos torna cristãos. Mas permitam-me ir mais longe. Não é a nossa decisão, o nosso "decidir-nos por Cristo", que nos faz cristãos; isso é obra nossa. A decisão entra nisso, porém não é a nossa decisão que nos faz cristãos. Paulo afirma que somos feitura Sua. E assim vocês veem quão gravemente o nosso pensamento leviano e nosso falar leviano representam mal o cristianismo! Lembro¬-me de um homem muito bom – sim, um bom cristão – cujo modo de dar testemunho era sempre este: "Eu me decidi por Cristo há trinta anos, e nunca me arrependi". Era a sua maneira de expressá-lo. Não é esse o modo como Paulo descreve o tornar-se cristão. "Somos feitura Sua"! Essa é a ênfase. Não algo em que tomei parte ativa, não algo que decidi, mas algo que Deus fez por mim. Aquele homem faria melhor se se expressasse assim: há trinta anos eu estava morto em ofensas e pecados, porém Deus começou a fazer algo em mim; tomei consciência de que Deus estava lidando comigo; senti que Deus me esmagava; senti as mãos de Deus me refazendo. É assim que Paulo expressa o fato; não, eu me decidi, não, eu tive parte ativa na entrada no cristianismo, não, eu decidi seguir a Cristo, não, absolutamente. Isto tem seu papel, mas depois.
Somos feitura Sua. O cristão é alguém em quem Deus operou. E vocês podem observar que tipo de trabalho é, segundo Paulo. Não é nada menos que uma criação. "Criados em Cristo Jesus para as boas obras." O apóstolo gostava muito de dizer isso. Ouçam-no dizê-lo aos filipenses: "Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até o dia de Jesus Cristo" (1:6). DEUS! Ele começou uma boa obra em você! É obra de Deus! Ele veio quando você estava morto e o vivificou, pôs vida em você. É isso que faz de um homem um cristão. Não as suas boas obras, não a sua decisão, mas a determinação de Deus concernente a você posta em prática.
5) O cristão é uma nova criação
É aqui que vemos como as nossas ideias, em relação ao que o cristão é, estão desesperadamente aquém do ensino bíblico. O cristão é uma nova criação. Não é apenas um bom homem, ou um homem que melhorou um pouco; é um novo homem, "criado em Cristo Jesus". Ele foi introduzido em Cristo, e a vida de Cristo penetrou nele. Somos "participantes da natureza divina" (2 Pedro 1:4). "Participantes da natureza divina"! Que é um cristão? Um bom homem, um homem de boa moral, um homem que crê em certas coisas? Sim, mas infinitamente mais! Ele é um novo homem, a vida de Deus entrou em sua alma ¬"criado em Cristo", "feitura de Deus"! Você já tinha compreendido que é isso que faz de você um cristão? Não é frequentar um local de culto. Não é cumprir certos deveres. Todas estas coisas são excelentes, porém nunca nos tornam cristãos (podem tornar-nos fariseus!). Quem faz cristãos é Deus, e Ele o faz da seguinte maneira: Ele criou todas as coisas do nada no princípio, e Ele vem ao homem e o faz de novo e lhe dá nova natureza e faz dele um novo homem. O cristão é "uma nova criação", nada menos que isso.
Se você está interessado em obras, diz Paulo, vou dizer-lhe qual é o tipo de obras nas quais Deus está interessado. Não são aquelas miseráveis obras que você pode fazer como uma criatura por natureza em pecado. É uma nova classe de obras – "criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas" – as boas obras de Deus! Que quer dizer ele? Ele quer dizer que o nosso problema é não somente que a nossa ideia do cristianismo é inadequada, a nossa ideia de boas obras é ainda mais inadequada. Ponham no papel as boas obras que as pessoas pensam que são bastante boas para fazê-las cristãs. Juntem-nas e ponham no papel todas aquelas coisas em que elas estão confiando. Ponham-nas no papel, e depois levem-nas a Deus e digam: é isso que tenho feito. Que coisa ridícula! – é monstruosa. Vejam o que elas estão fazendo. Essas não são as obras em que Deus está interessado. Em que consistem as boas obras de Deus? Bem, o Sermão do Monte e a vida de Jesus Cristo dão a resposta. Não se trata apenas de um pouco de bondade e moralidade negativas, talvez fazer ocasional¬mente alguma benevolência e valorizar muito isso. Não, amor desinte¬ressado! "De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas se fez sem nenhuma reputação e tomou sobre si a forma de servo e se fez semelhante aos homens; e, achado na forma de homem humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até a morte e morte de cruz" – dando-Se por outros sem pensar no preço. Essas são as boas obras de Deus. "Amar a Deus de todo coração e alma e mente e forças, e ao nosso próximo como a nós mesmos"! Não apenas lhe fazendo uma ocasional boa ação, mas amando-o como a si mesmo! Esquecer-se a si próprio em seu interesse por ele! São essas as boas obras de Deus e foi para essas boas obras que Ele nos criou.
Segundo esta definição, cristão é aquele que foi feito de novo conforme a imagem e modelo do Filho de Deus. É o que o apóstolo diz no capítulo quatro desta Epístola, no versículo 24, nestes termos: "E vos revistais do novo homem que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade". Não um pouco de bondade, mas santidade verda¬deira, "a santidade da verdade", e total e absoluta justiça! E já no capítulo primeiro Paulo o tinha dito no versículo quatro: "Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor". Escrevendo aos roma¬nos, ele diz: "Os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho"! Que é um cristão? Simples¬mente um bom homem? Alguém que é só um pouco melhor do que qualquer outra pessoa? Absolutamente não! Ele é como Cristo! Con¬forme à imagem do Filho de Deus! Como pode um homem que está morto em ofensas e pecados ressurgir e chegar a isso? E impossível. "Pela graça sois salvos"; "não vem de vós"; "para que ninguém se glorie". Ninguém pode alcançar isto, ninguém pode elevar-se a isto. É obra de Deus, e só de Deus. O cristão é alguém que se espera seja semelhante a Cristo. Ele tem dentro de si a vida de Cristo. "Vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim." Que é cristianismo? É "Cristo em vós, a esperança da glória"; "Feitos segundo a imagem do Filho de Deus". Graças a Deus é de graça! Se não fosse de graça, não teríamos esperança, estaríamos todos arruinados, estaríamos condenados. Toda¬via, desde que é de graça, desde que é obra de Deus, desde que eu sou feitura de Deus, eu sei que, apesar de mim mesmo, apesar do pecado que ainda resta em mim, serei aperfeiçoado e me tornarei perfeito. Se isso fosse deixado conosco, não haveria nenhuma esperança para nós. Quem somos nós para enfrentar o mundo, a carne e o diabo? Mas, graças a Deus é "pela graça". Somos feitura Sua. Estamos em Suas mãos – e se Ele começou boa obra em nós, continuará com essa obra até completá-la. Se você não se render pronta e voluntariamente, Ele o castigará, tirará as suas arestas, com o cinzel as aparará para esculpi-lo. Se você está no plano de Deus, Ele o fará segundo a imagem de Cristo. Ele continuará a Sua boa obra até remover toda "mácula e ruga e coisa semelhante", e você estará na presença de Deus, "santo e irrepreensível" e "com grande alegria".
Graças a Deus não são as obras; graças a Deus não é a minha fé; graças a Deus não é nada de que eu possa me gloriar. "Longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo" (Gálatas 6:14). "Pela graça, por meio da fé"!

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Sutil Armadilha

A Graça e a Paz do nosso Senhor Jesus Cristo!
Confesso a vocês que me impressiona o poder que o futebol exerce na vida das pessoas, e em particular, na vida de muitos cristãos. Há um poder espiritual maligno por trás deste esporte e que não temos visto ou não queremos ver. Não falo do esporte em si, mas refiro-me a um poder sobrenatural que emana dele e que tem mantido em cativeiro muitos filhos de Deus. O futebol tornou-se um ídolo na vida de milhões de pessoas. Parece ser parte intrínseca da grande maioria das famílias. O futebol é um deus gerador de muitos deuses. A influência que ele exerce em todo o mundo vai além de nossa imaginação.
Leiamos Atos 17.16:

?Enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito se revoltava em face da idolatria dominante na cidade.?

Este texto nos revela que enquanto esperava Silas e Timóteo, o apóstolo Paulo se
indignava com a idolatria em Atenas. Atenas era a principal sede de ensino e civilização durante o período de ouro da história da Grécia. Era um famoso centro e berço de cultura.
Paulo se entristece muito e se revolta ao ver a infinidade de ídolos, de falsos deuses que eram adorados pelo povo daquela cidade.
Amados e queridos irmãos, vocês vêem alguma semelhança entre Atenas e o Futebol? Que
semelhança poderia existir entre uma cidade e um esporte? Certamente, olhando deste
ângulo, nenhuma. Mas, há algo que é próprio tanto de Atenas quanto do Futebol: a produção de ídolos. Assim como Atenas era idolatrada por sua cultura e imponência, o futebol em si tem se comportado como um grande ídolo que produz inúmeros outros ídolos ou deuses se preferir. Os ídolos são falsos deuses que vindicam adoração. Os demônios representados pelos falsos deuses exigem que aqueles que o adoram voltem a sua mente os seus olhos para eles com toda a atenção. Naturalmente, no cotidiano do mundo, o futebol já mostra toda a sua essência idólatra. Porque a idolatria carrega em si engano, escravidão e todo tipo de violência. Observem o futebol com mais cuidado. Vocês já perceberam engano, escravidão e violência como características inerentes ao futebol? Acredito que vocês já testemunharam em algum noticiário, a violência entre torcidas. Jovens e adultos se enfrentam como animais irracionais e demonstram toda a sua insanidade, um comportamento próprio de reféns da idolatria. Várias pessoas já foram assassinadas em brigas relacionadas com o futebol. Vocês acham isso normal? Acham que isto é uma questão de segurança pública? Ou uma questão de cultura ou educação? Vocês já ouviram falar nos Hooligans? Este termo é usado para descrever grupos de torcedores europeus, ou mais comumente da Inglaterra, que
praticam a violência entre torcidas e o vandalismo por onde passam. A cultura e a
educação tanto na Inglaterra quanto em toda a Europa são bastante valorizadas. O índice e analfabetismo no continente europeu é mínimo. Portanto, não é uma questão de educação.
Com certeza, esse tipo de comportamento é uma das manifestações da natureza pecaminosa que herdamos de Adão. E essa natureza está sempre propensa a servir o mal. No entanto, não quero aqui expor unicamente a violência física. Porque acredito que há uma violência muito mais brutal, embora sutil, do que a que temos visto nos jornais. Na verdade este tipo de violência é uma consequência e não uma causa. Já observaram como os próprios pais ou responsáveis incutem o fanatismo pelo futebol na mente dos seus filhos desde muito pequenos? É impressionante como algumas crianças já crescem torcedores fanáticos. Para muitos pais, e eles acabam passando isso para os seus filhos, o clube que idolatram torna-se a sua vida. E as crianças crescem batendo no peito e cantando os hinos que exaltam os seus times a ponto de se tornarem o centro de sua existência. Isto não é normal. Isto faz parte do propósito maligno de Satanás. O futebol tem submetido milhões e milhões de pessoas ao seu julgo de escravidão. Este caráter sombrio do futebol fica ainda mais evidente em ano de Copa do Mundo. Irmãos, o próprio nome deste torneio é esclarecedor. É do mundo. Todos buscam para si uma taça (ou cálice) do mundo. No artigo intitulado ?Idolatria no Patriotismo e no Futebol? postado no site Celebrando Deus, o irmão Bruno Estêvão diz que esta taça é um ídolo. Neste artigo, ele também nos fala do espírito do patriotismo, de toda a corrupção e manipulação existentes, e do plano maligno
que está por trás de tudo isto. Agora pensemos: O que a Igreja tem a ver com o mundo? O que a luz tem a ver com as trevas? É muito triste ver irmãos escravos dessa sutil armadilha satânica. Aparentemente não há nada de mais em torcer por um time de futebol, mas a realidade envolvida nisso é que o diabo tem conquistado o seu objetivo na vida de muitos de nós; ofender a Deus, nos privando de Sua comunhão e nos afastando do Seu eterno propósito.
Vocês já observaram como o clima entre as pessoas muda nesta época de Copa? Já viram como os semblantes das pessoas são transformados? Todavia, o que mais me assusta e me entristece é ver cristãos e mais cristãos extremamente envolvidos com esta competição mundana. Não há diferença entre a Igreja e o mundo quando se trata de futebol. Veste-se a mesma camisa. Está-se debaixo da mesma autoridade. A empolgação é a mesma. A insanidade é a mesma. Só falta a Igreja abrir exceção em dia de jogo do Brasil para a embriaguês. O mundo pára. A Igreja também. O mundo deixa de trabalhar. A Igreja deixa de cultuar a Deus. Vale tudo nesta época. Se vocês acham que estou sendo radical, estou sendo mesmo.
Amados, esse é um torneio do mundo, é a ?Copa do Mundo?, assim como todas as outras
competições que não levam este nome, mas também o são. Torno a repetir: não há nada de errado com o esporte em si, mas as forças das trevas se utilizam dos esportes para escravizarem inúmeros filhos de Deus. Quantos cristãos deixam de ir às reuniões da Igreja, deixam de cultuar ao único Deus Verdadeiro por causa do futebol? Quantos irmãos até vão para as reuniões, mas o seu coração está nos seus ídolos? Quantos irmãos, membros do Corpo de Cristo, se agridem verbalmente e até fisicamente? Quantos de nós temos amado esses deuses!?
Veja o que Oséias 9.10 diz:

?Achei a Israel como uvas no deserto, vi a vossos pais como as primícias da figueira
nova; mas eles foram para Baal-Peor, e se consagraram à vergonhosa idolatria, e se
tornaram abomináveis como aquilo que amaram.?

O Senhor Jesus nos libertou deste século mau, nos tirou da sequidão de morte espiritual em que nos encontrávamos, nos deu vida e nos elevou às regiões celestes, nos introduziu n?Ele mesmo, nos acrescentou ao Seu próprio Corpo, e o que nós estamos fazendo? Estamos nos consagrando às nossas idolatrias? Estamos amando os nossos ídolos? Estaríamos nós nos tornando abomináveis diante do nosso Deus? Se algo é abominável ao Senhor, deve ser abominável a nós também. Afinal, nós temos hoje a Sua natureza, ou não temos? A Palavra do Senhor nos revela em Tiago 4.4 que ?a amizade do mundo é inimiga de Deus?. Porque ainda insistimos em manter este relacionamento? 1João 2.15 diz: ?Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele?

Não podemos amar o mundo e nem as coisas que há no mundo. Precisamos crer
incondicionalmente na Palavra do Senhor, ou estaremos perdidos. Nós nos tornamos naquilo que amamos. É isto que o Senhor nos fala em Oséias. Vocês já perceberam que as pessoas que tem o futebol como um ídolo acabam marcados por isto? Esta passa a ser uma marca em sua vida. Os outros olham para esta pessoa e logo vêem a figura de um torcedor. Eles a identificam por isto. Irmãos, nós temos que ser identificados por refletirmos o caráter de Cristo somente, e mais nada. Se estivermos sendo identificados por qualquer outra coisa, precisamos nos arrepender e nos colocar diante do nosso Senhor para que Ele possa imprimir o Seu caráter em nós. Este é um assunto muito sério. Não podemos negligenciá-lo.
Esta é uma sutil armadilha de Satanás para nos enganar e fazer com que nós o sirvamos e pensemos que estamos servindo a Deus. Observe que três aspectos importantíssimos estão intimamente relacionados ao futebol moderno: o comércio, a política e a religião.
Queridos e amados irmãos, estes aspectos são partes fundamentais da estrutura que está sendo construída para sustentar a plataforma do governo do anticristo. O comércio talvez seja o mais visível destes, e isto ninguém pode negar. Porque este é o fator principal que movimenta o futebol mundial. As negociações realizadas nesta área são exorbitantes.
Tudo isso o é para fortalecer ainda mais esta parte desse pilar de sustentação. Como não podia ser diferente, a política nunca ficaria de fora desta empreitada. Política e comércio são duas áreas indissociáveis. Elas andam juntas; uma apoiando a outra, uma patrocinando a outra, uma sustentando a outra. Vocês já perceberam quanta diplomacia existe no futebol? Nações que vivem em conflito esquecem as suas diferenças naquele momento. O ódio dá lugar a uma falsa paz. É aqui que podemos observar o caráter ecumênico implícito no comportamento diplomático das equipes e de todas as delegações que participam dessa competição. É certo que a religião tem que estar presente! No tenso e interesseiro relacionamento entre a política e o comércio tem que haver algo que venha trazer certa paz: a religião é claro! Satanás não irá desistir enquanto não unificar as religiões. Já perceberam que durante esse torneio há um espírito de concessão que paira em todos os seus aspectos? Tudo pode entre os seus pobres escravos! Todos os tipos de seitas e religiões estão juntos buscando um único propósito: colaborar para a vinda do anticristo no disfarce do engano da conquista de uma falsa vitória. Esta é apenas uma das faces da nova ordem mundial na corrida pela falsa paz promovida principalmente pela unificação das religiões com o expresso objetivo de controlar toda a humanidade. Assim como muitas tecnologias que já foram e que estão sendo criadas, o futebol é um dos meios para se alcançar esse objetivo. Que o Senhor nos livre de tudo isso!
Quero concluir dizendo que há alguns anos, quando o Senhor Jesus me concedeu o privilégio de compreender com mais clareza a Sua Palavra, em um curso de liderança na denominação da qual fazia parte, ouvi do irmão Luiz Fontes que havia ainda muito paganismo na Igreja.
Confesso que não entendi direito naquele momento, mas aquilo de certa forma me chocou.
Hoje posso entender melhor o que ele disse. Comecei então a observar em minha própria vida quantos templos pagãos ainda estavam erguidos e que ainda não tinham sido
derrubados. Dentre outros, eu era um amante do futebol assim como o fui do álcool antes de ser resgatado pelo Senhor. Mas Deus que é riquíssimo em misericórdia libertou-me tanto de um quanto do outro, e continua e libertar-me de tudo o que se opõe a Ele em minha vida. Oro para que os meus irmãos que mesmo sem saber ou sem querer admitir, sejam completamente libertos de tudo o que tem servido de barreira entre eles e Deus. O apóstolo Paulo nos diz em 1 Coríntios 10.14:

?Portanto, meus amados, fugi da idolatria.?

Que a Igreja do Senhor Jesus possa fugir desta idolatria! Que os olhos da Igreja se
voltem unicamente para o Senhor, pois a Sua vinda está mais próxima do que imaginamos. Se realmente imaginamos. Porque às vezes tenho a sensação de que não queremos que o Senhor Jesus volte. Senhor, obrigado por Sua misericórdia! Que o Senhor abra os olhos de Sua Igreja. Que a Sua Palavra seja o nosso único alimento! Que o Senhor Jesus nos ganhe
completamente!

Por: George S. M. Falcão

terça-feira, 22 de junho de 2010

ESTUDO DAS 42 JORNADAS NO DESERTO

CAPÍTULO 64
UMA VISÃO GERAL DE RAMSÉS ATÉ SINAI
Por: Ir. Luiz Fontes

“Possamos compreender por que o Senhor nos conduz de estação em estação; de experiência em experiência”.

Amados irmãos e irmãs, nós estudamos até aqui nessas estações, de Ramsés até o Sinai. A primeira estação foi Ramsés, a segunda Sucote, a terceira foi Etã; a quarta estação foi Pí-Hairote, a quinta foi Mara, sexta foi Elin, a sétima foi Mar-Vermelho, a oitava foi o deserto de Sim, nona Dofca, a décima foi Alus, décima primeira Refidim, a décima segunda monte Sinai. Então nós vemos a peregrinação que os filhos de Israel realizaram até aqui. Precisamos continuar estudando. Vemos que eles marcharam desde o Egito até a terra de Canaã. Ali Deus os levou para uma escola importante, para lhes poder ensinar as verdades do seu coração. Ramsés foi o início da marcha. O caminho direto de Ramisés para Canaã teria sido pela terra dos filisteus; ao norte dos lagos, e ao logo da orla setentrional. Mas amados, preste atenção, Deus não permitiu que eles fossem por esse caminho, essa direção lhes foi proibida (Êxodo 13, 17-18), Deus impediu que eles fossem por esse caminho. Teria sido uma viagem mais rápida de aproximadamente uns 30 dias, mas Deus não permitiu. Mas depois de um certo tempo eles tomaram o rumo oriental, prosseguindo para o sul; aqui nós vemos que faraó os perseguiu e nós vemos que eles acamparam primeiro em Sucote, ali eles passaram a noite. Que não deveria ter sido uma viagem muito longa porque de Sucote a Ramsés é muito perto. Pela segunda tarde chegaram à orla do deserto em Etã. Provavelmente agora deveriam ter seguido para o oriente, mas foi-lhes ordenado lá em Etã que retrocedessem e que acampassem defronte de Pi-Hairote entre Migdol e o mar, diante de Baal-sefon; isto está em Êxodo 14:12; era um estreito desfiladeiro, perto da costa ocidental do golfo, entre os montes que guarnecem o mar e uma pequena baia ao sul; irmãos e irmãs, ficaram deste modo desorientados, eles não estavam entendendo porque Deus os mandou retroceder; porque olhando naturalmente este tipo de movimento atraiu faraó para junto deles; e agora eles estavam sem saída porque aos lados estavam as montanhas, à frente o mar-vermelho e atrás vinha o exército de faraó; esse movimento foi muito interessante. O desígnio de alterar desta forma a linha da marcha Deus havia revelado a Moisés (Êxodo 14:17). Os egípcios aproximaram-se dos filhos de Israel quando eles estavam ali acampados diante do braço ocidental do mar-vermelho; nós sabemos que o Senhor operou ali uma notável mudança no decorrer desses últimos 300 anos. Em virtude de uma grande acumulação de areia; por essa razão impossível determinar por onde os filhos de Israel atravessaram, eles passaram pelo mar em seco para o lado oriental perto do sítio chamado “aiunmuzá” poços de Moisés; principiando aqui o deserto de Sur (Êxodo 15:22) ou mesmo desde Etã (Num 33:8); o deserto de Sur e o deserto de Etã fala do mesmo deserto e aplica-se a parte superior do deserto, este deserto estende-se desde o Egito até a praia oriental do Mar-Vemelho e alarga-se para o norte até a palestina. O caminho que os filhos de Israel tomaram é uma larga vereda pedregosa entre as montanhas e a costa, na qual corre no inverno vários ribeiros que nascem nos montes, nesta ocasião tudo deveria estar seco. O lugar onde, provavelmente, eles tiveram que estacionar foi Mara e ali eles experimentaram aquelas águas amargas onde foi operado o milagre de se tornar aquela água doce (êxodo 15:23-25). Aquela estação onde isto aconteceu é onde hoje é chamado “Ain Ralvara”; perto de um riacho chamado de “uadin amará”; que tem o mesmo significado de Mara; a seguinte estação foi Elim, onde havia doze fontes de água e setenta palmeiras; um lugar muito lindo – um oásis no deserto. Este vale contem agora tamareiras e há caças de diferentes espécies. Obtém-se nesse lugar hoje água em abundância cavando poços e há também uma copiosa nascente com um pequeno regato. Depois de Elim os filhos de Israel foram para o deserto de Sim, entre Elin e Sinai (Ex 16.1). No sopé da escarpada cumeeira de “et-ti-e”, um nome que significa divagação. É um grande deserto, quase que totalmente desprovido de vegetação. Sabemos que logo depois de ter entrado neste deserto os israelitas obtiveram aquela milagrosa provisão de codornizes e também do maná. Os grandes eruditos da palavra de Deus supõem que eles tomaram em seguida a direção sul-este, marchando para a cordilheira do Sinai. Neste caso a sua passagem teria sido pelo extenso vale que os árabes chamam de “uaid feirã”. Passaram depois por Dofca, Alus; o vale feirã é o sitio mais perto de toda aquela região. E aqui que devemos encontrar Refidim, onde pela primeira vez foram atacados (Ex. 17:8-13). Depois temo Getro, sogro de Moisés que lhe visitou em Refidim e trouxe conselho sábio para que fossem nomeados juízes para cooperar com Moisés em toda ação judicial. (Ex. 18); e aqui entre elevados picos estava a rocha que por mandado de Deus foi ferida por Moisés, saindo dela depois abundância de água. Em seguida fizeram em seu acampamento no ermo do Sinai onde Deus revelou à multidão a sua vontade por meio de Moisés; foram dados os dez mandamentos ao homem, foi estabelecido o pacto; lá em (Êxodo 20:1-17; 24:7-8); neste deserto também se deu o caso do culto prestado ao bezerro de ouro e a enumeração do povo e a construção do tabernáculo; além disso Arão e seus filhos foram consagrados; celebrou-se a páscoa; também aqui tivemos, infelizmente, morte de Nadabe e Abiu porque eles ofereceram fogo estranho diante do Senhor, porque isso não é aprovado pela palavra de Deus. O monte Sinai, onde a lei foi dada, chama-se Orebe em Deuteronômio e Sinai nos outros livros do Pentateuco; provavelmente o primeiro nome designa todo o território e o outro simplesmente a montanha onde foi revelada a Lei. Permaneceram os filhos de Israel no Sinai por um período de aproximadamente onze meses, e aqui eles ficaram. Vemos que a nuvem do Senhor ficava ali manifestando a sua presença cobrindo todo o tabernáculo. Aqui Deus trouxe a visão do tabernáculo. Tabernáculo é uma figura da doutrina do entremesclar. Primeiro nós vemos a doutrina da pessoa de Cristo - Cristo o Cabeça; mas também vemos a doutrina do corpo de Cristo. Em Primeira instância tudo no tabernáculo revela Cristo, mas é incrível: se você olhar para Cristo, você vai ver não somente o Cabeça, Ele, o Senhor Jesus, mas também o seu corpo. Há verdades extraordinárias, preciosas, doutrinárias que nós encontramos o fundamento no novo testamento, reveladas no Tabernáculo. Então, assim, nós temos uma visão parcial e gloriosa daquilo que é o Tabernáculo; que Deus nos ajude a entender. Porque agora nós vamos para a décima terceira estação que é Quibrote-Hataavá. Eu sei que Deus tem algo glorioso para falar ao seu coração; que você, juntamente comigo venha estudar esta verdade, venha entender porque o Senhor está nos conduzindo assim, venha entender porque que ele nos conduz assim, de estação em estação; de experiência em experiência. Amados irmãos e irmãs, todas estas estações por onde o povo de Israel passou, revelam para nós verdades maravilhosas; revelam para nós a nossa peregrinação, como nós somos conduzidos pelo Senhor, como somos levados pelo Senhor de experiência em experiência. Que você possa compreender isso, que você possa entender isso. Que o Senhor venha ganhar o teu coração e te abençoar rica e poderosamente.

terça-feira, 15 de junho de 2010

AS 42 JORNADAS NO DESERTO


CAPÍTULO 63

Por; Ir. Luiz Fontes

TEXTOS: Levítico 25:1 a 26:46/ Levítico 27:34/ Números 3:1 – da 9ª à 11ª subida


Hoje vamos estudar da 9ª subida de Moisés ao Monte Sinai até a 11ª, que é a última vez que Moisés sobe ao Monte Sinai, e tenho certeza que Deus tem algo para poder falar a nós. Temos estudado todas essas subidas onde o Senhor tem falado a cada um de nós que temos recebido esta Palavra – entender o revelar de Deus por meio do Seu falar.


9ª subida – Levítico 25:1 a Levítico 26:46

Nessa subida vemos que até aqui Deus já havia revelado a questão do amor do povo para com Ele; o amor que Seu povo deveria ter por Ele; como também o amor ao próximo. Até aqui Deus revelou o mistério de Cristo e a maneira de viver na comunhão do corpo de Cristo e a renovação do pacto – a nova aliança. Agora Deus começa a ensinar o povo acerca da vida prática no Reino. Nesta nona subida vemos a questão do ano sabático, o jubileu da terra, a remissão, a questão das dívidas, ou seja, a vida cristã revelada debaixo dos parâmetros da revelação divina. Toda a nossa vida deve ser norteada pela palavra de Deus. Todo o nosso viver tem que ser conduzido pela palavra de Deus. Esses princípios são revelados em Levítico 25 a Levítico 26:46.
Em tudo isso podemos ver algo acerca do caráter cristão, do fundamento da vida e da pessoa de Cristo Jesus. Meus irmãos e irmãs, nossa vida não é uma vida qualquer. Como Cristão, isto é, como alguém em Cristo, toda a nossa vida deve ser conduzida pelo caráter de Cristo. Todo o nosso viver tem que corresponder à pessoa e à obra de Cristo em nós; aquilo que Ele é em nós, aquilo que Ele tem feito em nós; aquilo que Ele deseja realizar em nós; aquilo que se requer de nós como Cristãos.


10ª subida – Levítico 27:34

Nessa subida Deus revela as coisas consagradas. Estude essa décima subida e você vai ver Deus conduzindo o povo a estabelecer o reino de Deus na terra. O reino de Deus na terra não é como muitas pessoas têm pregado hoje – a questão das posições que os cristãos precisam ter nos assuntos deste mundo. Alguns têm compreendido de uma forma maligna. Vejo até mesmo uma semente satânica do ensino concernente ao reino de Deus na terra. O reino de Deus na terra só pode ser visto e manifestado pela Sua igreja. O reino de Deus é Sua autoridade expressa. Não é os cristãos ocupando funções e cargos políticos seculares neste mundo. Cargos estratégicos, posições estratégicas, nada disso! O reino de Deus só pode ser visto na coletividade e na expressão viva da Sua igreja nessa terra.
Primeiro Deus ensina o que devemos fazer em tratar com a terra. Como vendê-la, fazer o jubileu, fazer o resgate, fazer a remissão. Nessa décima subida Deus fala das coisas consagradas a Ele: se alguém quer consagrar a Deus sua terra, se alguém quer consagrar a Deus sua casa. Deus vai tomando o reino na expressão de tudo aquilo que somos e de tudo aquilo que fazemos como membros do corpo de Cristo. Tudo o que fazemos devemos fazer como ao Senhor. Seja na sua casa, seja no seu trabalho, tudo isso deve refletir na sua vida o caráter do reino de Deus. Então veja, Deus começa desde o Monte Sinai e vai descendo até chegar a tomar a nossa casa, nossa terra, nossos bens... Tudo em nós deve bendizer o Senhor. O nosso emprego, a nossa casa, nosso casamento, os nossos filhos, os nossos bens, tudo em nós deve bendizer o Senhor. Porque tudo em nós é para a glória do Senhor. Isso tem algo a ver com o reino de Deus na nossa vida, com o reino de Deus na terra. É isso que aprendemos nessa décima subida.


11ª subida – Números 3:1

Na décima primeira subida, temos os deveres dos levitas. É isso que aprendemos aqui.
Essa décima primeira subida de Moisés está em Números 3:1. Aqui Moisés está no Monte Sinai. Deus mostra a Moisés os deveres dos levitas, isto é, quando o acampamento tivesse que mudar, dali em diante, a base essencial para o reino já lhes havia sido revelada. O núcleo essencial para o Antigo Pacto e a tipologia para o Novo, tudo isso já havia sido dado por Deus. Agora Deus tem que avançar. Agora Deus revela quais são os deveres dos levitas. As responsabilidades daqueles que estão pela obra de Deus. E esses levitas deveriam ser os gersonitas, os coatitas, os meraritas, ou seja, pertencentes às famílias de três filhos de Levi: Gerson, Coate e Merari. E aqui Deus mostra os distintos serviços dos que querem cooperar com a causa de Deus, daqueles que foram vocacionados para a obra de Deus. Isso não é um assunto comum, porque o ministério tem sido tratado como algo secular.
Mas sabemos qual é a função do ministério cristão, que foi determinado pelo Senhor Jesus lá em Efésios 4:11, quando Paulo diz:

“E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres (...)”.

Esses ministérios foram determinados pelo Senhor com o propósito de levar todos os membros do corpo de Cristo a varões perfeitos, à medida da estatura completa de Cristo. Podemos ver que o ministério é o meio pelo qual se obtém esse fim – que sejamos todos levados à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus; e não a divisões, e não a separações. Não são essas coisas funções ou implicações do ensino do ministério na obra de Deus.
Paulo diz assim:

“para que não mais sejamos como meninos (...)”. (Ef 4:14)

Paulo nos diz essa grande verdade. Ele diz que o ministério tem como função nos levar à maturidade. Não podemos viver a vida cristã de uma forma tão superficial.
A função daqueles que servem na obra de Deus é algo muito sério, porque o sinônimo de ministério, de acordo com a palavra de Deus, é servir. Não é uma posição onde alguns ministram e os outros ficam sentados simplesmente recebendo como inúteis. Todos os membros do corpo de Cristo têm uma função específica e distinta; pelo Espírito Santo de Deus são capacitados para poderem servir.
Naturalmente, os ministérios expressam homens como dádivas de Deus. Não são homens que têm uma posição elevada, mas são homens que têm uma responsabilidade. Essa responsabilidade é que é elevada. Mas essa responsabilidade não nos eleva como pessoas. Ao contrário, essa responsabilidade é um encargo divino e distinto que Deus coloca sobre aqueles os quais Ele escolheu para que, por meio desses, Cristo mesmo possa fluir em cada ministério – ou como apóstolo, ou como profeta, ou como evangelista, ou como pastor, ou como mestre. É isso, essa é a grande verdade! Esse é o ponto essencial! É isso que precisamos entender.
Por não entender isso, temos visto muitos fazerem do ministério um cabide de emprego; outros têm feito do ministério algo particular, algo seu. Satanás tem se utilizado disso para poder denegrir, para poder manchar, macular a dignidade do ministério de acordo com a palavra de Deus. Hoje temos perdido essa afeição pelo ministério porque muitos não têm compreendido o verdadeiro significado do ministério de acordo com a palavra de Deus. O que temos visto é que a igreja moderna transformou-se num negócio, numa empresa. Muitas vezes a função do ministério é de um cargo executivo, alguém que luta para manter-se no mercado. Esta é, talvez, uma das mudanças mais significativas e sérias que estamos atravessando na questão do ministério.
Se você volta para essa décima primeira subida de Moisés ao Monte Sinai, você vê que Deus trata a questão dos levitas, daqueles que estariam servindo na Sua casa, daqueles que estariam cuidando dos assuntos da Sua casa. Em certo sentido, amados irmãos, isso nos leva para o Novo Testamento, e nós vemos a questão do ministério à luz do Novo Testamento. Não somos executivos eclesiásticos, circulando com agendas eletrônicas, telefones celulares, secretárias, auxiliares e assistentes para atender a um volume cada vez maior de reuniões, entrevistas, conferências, aconselhamentos. Hoje, ser ocupado tornou-se um símbolo de status e sucesso, tanto no mundo secular como também no mundo eclesiástico. Ter uma agenda repleta de compromissos é sinal de importância e de competência. Ora, não somos assim; nós que temos o encargo do ministério da palavra não somos assim. Hoje, no mundo secular, para ser competente é preciso estar com a agenda dos próximos meses completamente cheia. Este é um grande sinal, um estigma de um bom profissional no mundo secular.
Infelizmente, nessa busca pelo sucesso, pelo status, não temos tido mais tempo para construirmos amizades verdadeiras e profundas, nem tempo para caminharmos com nossos amigos no discipulado. Não temos tido tempo para poder ouvir a voz de Deus porque estamos tão ocupados com nós mesmos. Vivemos hoje um processo de profissionalização do ministério, o qual vem deixando de ser uma vocação para se tornar uma profissão. Creio que precisamos ser tocados por isso; creio que aqui Deus deseja falar profundamente para nós. Essa motivação que muitos têm tido em relação ao ministério no aspecto secular é uma motivação maligna. Não podemos permitir isso, porque o profissionalismo no ministério nos induz a avaliar o ministério por resultados mensuráveis. Buscamos sempre isso porque traz para nós, através das estatísticas, uma autoafirmação quanto ao sucesso, quanto ao poder. Não podemos permitir isso. Líderes profissionais se encontram constantemente diante do perigo de criarem pequenos reinos para si mesmos. Por que o profissional no ministério necessita de reconhecimento, ser aclamado, ser admirado, ser aceito. Isso não é algo pertinente àqueles que foram chamados por Cristo, àqueles que são cheios do Espírito de Cristo em Suas vidas, para a vocação do santo ministério. Não podemos nos tornar cativos e dependentes deste consumo religioso. Um líder profissional, geralmente, procura estar cercado de admiradores e não de pessoas que desejam receber mais de Cristo em suas vidas. Procura mais pessoas que estejam dependentes emocionalmente dele, porque o poder impede que as amizades, que a comunhão, sejam estabelecidas. E quando um líder cai na armadilha do profissionalismo, ele acaba tornando-se um antiministro da comunhão, da reconciliação, da verdadeira amizade; ele cai no isolamento. E o terrível perigo de tudo isso, desse ministério profissional, é a pessoa não perceber o orgulho do seu próprio coração. Ao invés de reconhecer que é parte de uma comunidade de pessoas que servem, ele fica revestido de uma fantasia de “messias intocável”, sempre correto e justo.
Amados irmãos, a natureza da vocação é essencialmente relacional. Somos chamados para promover a comunhão, pra poder sustentar a comunhão no Espírito, para poder proclamar, para poder expressar o ministério da reconciliação, da amizade, do afeto. Esse chamado envolve mais do que a capacidade de execução de projetos de natureza eclesiástica, ou conversas de vinte minutos em gabinetes. Envolve a arte de penetrar nos lugares secretos da alma humana e trazer para dentro delas a presença divina; conduzir as pessoas a experimentar na oração encontros com Deus. Isso exige tempo.
Essa profissionalização do ministério torna-se algo desumano na nossa vocação, nos faz pessoas desumanas. Somos os mais hipócritas dos homens quando revestimos o ministério de um caráter profissional, porque deixamos de olhar para as pessoas como membros do corpo de Cristo, como a noiva de Cristo, e passamos a vê-las como produtos do nosso comércio particular. Que Deus nos liberte disso, que nessa décima primeira jornada o Senhor venha nos confrontar; o Senhor venha tocar profundamente a nossa vida.
Lembram quando o Senhor Jesus, depois da ressurreição, toma a Pedro e, caminhando com Pedro, diz: “Pedro, tu me amas?” Pedro diz: “Senhor, tu sabes que eu te amo”. Pela segunda vez o Senhor pergunta: “Pedro, tu me amas?” E Pedro diz: “Senhor, tu sabes que eu te amo”. Pela terceira vez o Senhor pergunta para Pedro: “Pedro, tu me amas?” E Pedro responde: “Senhor, tu sabes de todas as coisas”. Aqui podemos ver que:

 O Senhor Jesus pergunta para Pedro por três vezes se Ele o amava porque, por três vezes, Pedro o havia negado. E Pedro havia negado o Senhor por três vezes porque Pedro ainda não havia negado a si mesmo.

 Outra coisa que vemos aqui é que o Senhor Jesus pergunta para Pedro “Pedro, tu me amas?” porque eram os afetos de Pedro que Cristo queria. Eram os afetos de Pedro por Ele.

Amados irmãos, é isso que tem que tocar o nosso coração. Você que tem o encargo do ministério da palavra precisa olhar para isso. Você precisa ver essa verdade. É isso que Deus está requerendo de você; é isso que Cristo está requerendo de você. É isso que Ele está falando ao seu coração. Não permita que o ministério se torne uma coisa profissional e secular na sua vida. Olhe para Cristo. Ele é o modelo de pastor, de apóstolo, de profeta, de evangelista e mestre. Ele, somente Ele, é o verdadeiro apóstolo. Somente Ele é o verdadeiro profeta; o verdadeiro evangelista, pastor e mestre. E somente Ele poderá expressar-se como apóstolo, profeta, evangelista, pastor e mestre na vida daqueles que Ele chama e vocaciona.
Que Ele prossiga te abençoando e falando à sua vida, mostrando para você o verdadeiro caminho por onde Ele deseja se mover na sua vida para poder, Ele mesmo, alimentar aqueles que estão famintos, aqueles que estão necessitados, aqueles que estão doentes, aqueles que estão desanimados. Somente Cristo, por meio daqueles, os que Ele escolheu, é capaz de realizar essa tão grande obra do ministério. E que ele encontre lugar na minha vida e na sua vida para Ele poder se expressar.

Que Deus lhe abençoe ricamente através desta poderosa palavra.