terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

CONFERÊNCIA EM ITABERABA


Irmãos em Cristo, a partir de hoje dia 22 de fevereiro, o irmão Luiz Fontes estará trazendo para os irmãos aqui em Itaberba uma palavra da parte do Senhor, pois cremos que o Senhor fala por meio dos seus servos. Fica aqui o convite, as reuniões ocorrerão sempre as 19:30 horas na área do fundo da escola Nova Dimensão.
Desde já que cada irmão esteja orando, para que os nossos corações estejam preparados para receber o maná, o alimento que vem do céu.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

SACERDÓCIO DE TODOS OS SANTOS

Por: Clístenes Nery

O Sacerdócio de todos os Santos
1 Pe 2:4,5; 2:9,10; Ap 1:5,6; 5:9,10



− Todos esses textos vêm revelar para nós o Propósito Eterno de Deus em Cristo – ter uma nação de sacerdotes.

− O Senhor nos convida a fazer parte deste Sacerdócio Universal de todos os Santos.

− Precisamos entender a vocação cristã. A vocação cristã é o Sacerdócio de todos os Santos.

− Por causa da nossa ignorância concernente às verdades espirituais, muitas vezes, o inimigo tem levado vantagem.

− Porque muitos de nós achamos que não temos nada para fazer no Corpo de Cristo.

− Muitos de nós nos julgamos pessoas incapazes, ineficazes, inúteis.

− Desde que a obra da cruz operou na nossa vida nós fomos inseridos, fazemos parte deste sacerdócio real.

− Que significa este propósito de Deus? Será que nós sabemos para quê o Senhor tem nos chamado?

− Três vezes no Novo Testamento, o mesmo chamamento que os filhos de Israel receberam no monte Sinai é dado aos participantes da nova aliança.

− “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa” (1 Pe 2.9).

− “Àquele que nos ama, e pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados, e nos fez reino, sacerdotes para Deus, seu Pai” (Ap 1.5,6).

− “E com o teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, e língua, e povo e nação; e para o nosso Deus os fizeste reino e sacerdotes” (Ap 5.9,10).

− No que diz respeito a este sacerdócio não existe nenhuma classe mediadora. Todos nós fomos inseridos neste Sacerdócio para ministrar tanto a Deus, como também, ministrar de Deus.




− O que é um sacerdote? Um sacerdote é uma pessoa que ocupa uma posição diante de Deus. É alguém que goza uma comunhão muito íntima com Deus.

− Um sacerdote é também uma pessoa que ministra ao povo a favor de Deus. Ele leva a presença de Deus ao povo. E leva o povo à presença de Deus.

− Será que nos damos conta da responsabilidade que temos como Igreja diante deste sacerdócio?

− Voltando para 1 Pe 2:4,5, podemos encontrar três realidades espirituais destinadas a nós como Igreja. Quais são?

• Casa Espiritual.
• Sacerdócio Santo.
• Oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus.

− Aqui nós temos uma seqüência lógica e gloriosa daquilo que Deus requer de nós, daquilo que ele está fazendo em nós.

− Esta é a nossa vocação, esta é a nossa posição como Igreja.

− É um chamamento a todos os cristãos. Onde estão os sacerdotes do Senhor? Quem entrará na sua presença, para ministrar diante dele como sacerdote? Quem ouvirá e entenderá a sua voz chamando?

− O salmista diz assim: Sl 42:2 - A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus?

− Até hoje Deus está procurando seus adoradores, aqueles que entrarão no seu santuário para manter comunhão íntima com ele, e ministrar diante dele.

− Então o apóstolo Pedro nos diz aqui no vers. 4 do cap. 1: “Chegando-vos para ele, a pedra que vive... sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo”.

− Veja o que ele diz: “Chegando-vos”. Significa: aproximar-se; chegar perto; tornar-se conhecido.

− Tiago diz no capítulo 4 da sua epístola: "Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós" (versículo 8).

− Cristo veio e fez tudo que era necessário fazer "para levar-nos a Deus".

− Paulo escrevendo aos efésios 2:18, diz assim:

“porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito”.

− Ainda em efésios 3:12, Paulo diz assim:

“pelo qual temos ousadia e acesso com confiança, mediante a fé nele”.

− "Nós", afirma Paulo – "Nós", todos juntos, "temos esta ousadia e acesso com confiança".

− O que estou dizendo não se aplica somente aos apóstolos, ou a certas pessoas. Aplica-se a todos nós os cristãos.

O Propósito de Deus

− Deus revelou este propósito de maneira mais clara à nação de Israel. Depois de tirar um povo da escravidão do Egito, ele manifestou o que ele desejava realizar no meio dele. No monte Sinai, vemos Deus abrir seu coração a Israel, quando ele diz: “E vós me sereis um reino de sacerdotes, e um povo santo” (Êx 19.6).

− É verdade que Israel como nação nunca entrou no cumprimento deste plano divino. Deus queria que o povo de Israel (como um todo) chegasse à sua presença, e se tornasse um reino de sacerdotes. Correram de Deus, da sua presença e dos seus propósitos.

− Chamados como nação para ser sacerdotes e reis diante de Deus, chegaram ao ponto de pedir a Deus um rei (1 Sm 8.5).

− Mas o plano de Deus não era este. Como seu coração sofria por causa de um povo que nunca entendeu seu desejo de fazer deles um reino de sacerdotes!

− Em Êx 32, por causa da idolatria com o bezerro de ouro, DEUS instituiu a tribo de Levi. O sacerdócio pertencia exclusivamente a Levi. (ler Nm 3:5-7).




− Arão e seus filhos e a tribo de Levi foram chamados para oficiarem como sacerdotes neste tabernáculo.

− Temos que entender que o sacerdócio araônico não era a intenção original de Deus. A intenção perfeita de Deus era o Sacerdócio de todos os Santos.

• Deus criou o homem para governar (Gn 1.26).
• Então 2000 anos depois Deus chama Abraão.
• Deus tira o povo do Egito.
• É instituída a Tribo de Levi.
• Depois Jeremias vem revelar a causa do cativeiro da Babilônia – rejeitaram o Propósito de Deus.

− No entanto, Deus não se esqueceu do seu plano. Quando o Senhor Jesus apareceu, cumpriu o plano original de Deus.

− Cristo Jesus é o padrão. Ele veio cumprir o propósito. Cristo veio estabelecer o seu reino na terra. O reino de Cristo é estabelecido através do sacerdócio.

− Não através do sacerdócio levítico (de Arão), imperfeito e limitado, incapaz de formar o reino de sacerdotes que Deus procurava.

− Como o povo de Deus tem perdido o verdadeiro chamamento divino? Nós ficamos envolvidos com a expectativa e a glória de sermos reis. Mas o chamamento é para sermos sacerdotes. Nunca seremos reis, se em primeiro lugar não entrarmos no sacerdócio.

− Vamos ver os caps 9 e 10 de Hebreus, para podemos entender a glória de tudo isso que temos compartilhado até aqui.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

ESTUDO DA EPÍSTOLA DE PAULO AOS EFÉSIOS


CAPÍTULO 7

Por: D.M Lloyd Jones

OUSADIA, ACESSO, CONFIANÇA


"No qual temos ousadia e acesso com confiança, pela nossa fé nele." – Efésios 3:12

Obviamente esta afirmação liga-se à anterior. "No qual" é uma referência Àquele de quem ele fala no versículo 11, onde Paulo diz: "Segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor". Ao examinarmos este versículo devemos lembrar-nos de que o grande objetivo que o apóstolo tem em mente quando escreve tudo que encontramos neste capítulo é que estes cristãos efésios não desfaleçam face às tribulações e provações que o próprio apóstolo estava sendo chamado para suportar. Uma das primeiras coisas que sempre nos inclinamos a perguntar em tempos de dificuldade é: por que acontece isto? Tendo-se em conta o fato de que somos o que somos, por que haveria de acontecer-nos isto? Por que deveria ser permitido? Esta é uma tentação que o diabo está sempre pronto a insinuar nas mentes do povo de Deus, e aqui o apóstolo trata disto com vistas a estes efésios.
Nesta declaração particular Paulo leva esta parte da sua mensagem a uma espécie de grande clímax e conclusão. Num sentido podemos dizer que tudo que o apóstolo estivera dizendo não teria sido de nenhum valor para os efésios, se não os levasse inevitavelmente a esta conclu¬são particular. Noutras palavras, o propósito principal de toda a doutrina cristã, do ensino cristão, na verdade a finalidade da própria salvação cristã, é levar-nos àquilo que nos é dito neste versículo. Precisamos lembrar-nos disso porque vivemos dias em que muitos pensam na salvação cristã e nos seus benefícios noutros termos, como alguma bênção particular que desejamos ou alguma necessidade que desejamos ver suprida. Graças a Deus todas estas coisas são verdadei¬ras, e jamais poderemos exagerar nossa gratidão a Deus por elas. Mas além e acima de todas elas, e na verdade antes de todas elas, o grande objetivo para o qual tudo é determinado, é levar-nos à presença de Deus, e habilitar-nos para a adoração e para a oração.
O apóstolo está dizendo aos efésios que eles não precisam desfale¬cer ou ficar angustiados ou sentir-se infelizes por causa dele. Paulo diz que ele próprio não está desfalecendo e que não precisa de compaixão.
Ele está perfeitamente feliz porque está em contato com o Deus eterno, e desfruta acesso à Sua presença. E o seu desejo é que os seus amigos efésios compreendam que a mesma experiência é acessível a eles e lhes é possível. Daí, se forem agredidos, e forem levados a ficar tristes e perplexos, não precisarão gastar nenhum tempo dando atenção a estes acontecimentos, mas deverão ir direto à presença de Deus. Quando agirem assim, todos os seus problemas assumirão novo aspecto; verão propósito mesmo nas tribulações, nos problemas e nas provações, e acabarão louvando a Deus e glorificando o Seu santo nome. Pelas mesmas razões também devemos considerar este versículo particular.
Há aqui um princípio que ignoramos ou esquecemos para nosso prejuízo. Toda a doutrina cristã visa levar, e foi destinada a levar a um bom resultado prático. Não há como exagerar a ênfase sobre isto. A verdade não é apenas algo para a mente e para o intelecto. Naturalmente é primeiro para a mente e para o intelecto, e é absorvido pela mente e pelo intelecto. Todavia será fatal pensar que a verdade ou a doutrina ou a teologia – chame-lhe como quiser – deve ser considerada como um fim em si mesma, como uma coisa da qual alguém tem consciência e da qual pode apropriar-se com a mente, sobre a qual pode discutir e argumentar, e nada mais. Se a doutrina parar nesse ponto, não hesito em asseverar que ela pode ser até uma maldição. A doutrina visa levar-nos a Deus, e a isso foi destinada. Seu propósito é ser prática.
Temos uma perfeita ilustração desta verdade na própria porção que estamos examinando. Ali o apóstolo, como vimos, apresenta-nos algumas das doutrinas mais profundas; porém deixa claro que o faz para levar-nos a uma experiência que nos capacite a dizer: "No qual temos ousadia e acesso com confiança, pela nossa fé nele". Nada é mais notável, com relação ao apóstolo Paulo, nada é mais comovente do que isto – que, embora ele possa voar para os céus, os seus pés estão sempre fixos firmemente na terra. Como a Cotovia, de Wordsworth, ele sempre permanece "fiel aos pontos afins do céu e do lar". Ele nunca é um mero teólogo teórico; nunca um intelectual que gosta de debater termos. Ele foi o maior teólogo, mas o seu objetivo, a sua intenção, o seu propósito é sempre este fim e resultado prático. Noutras palavras, se o seu conhecimento da doutrina não faz de você um grande homem ou mulher de oração, é melhor você examinar-se de novo. Quanto mais conhecimento tiver, mais esse conhecimento deve mostrar-se em sua vida de oração, em seu santo viver, em todos os demais aspectos. É por isso que você nunca vai encontrar doutrina ou teologia isolada, nas Escrituras. Geralmente nós a vemos no início de cada Epístola. Contu¬do, os apóstolos não se detêm aí. "Portanto", dizem eles – sempre a aplicam, levam-nos a ver como toda doutrina deve refletir-se em nossa vida. Demo-nos conta, pois, de que os onze primeiros versículos do capítulo três da Epístola aos Efésios têm a intenção de levar-nos ao versículo 12, com a sua importantíssima declaração.
Devemos, por certo, dar igual ênfase ao outro lado, para termos equilíbrio. A doutrina, repito, visa a ser prática e a levar a grandes riquezas na vida cristã. No entanto, é igualmente importante dizer que as nossas vidas cristãs nunca serão ricas, se não conhecermos e não apreendermos a doutrina. Estas coisas não devem ser separadas uma da outra; são uma só coisa, e indivisível. Uma das principais causas de dificuldade na Igreja está em que temos a tendência de nos dividirmos em segmentos. Alguns só se interessam pelas doutrinas e se consomem nesse interesse. Raramente os vemos orando, nem nos impressionam a santidade e a pureza das suas vidas. Entretanto as suas mentes estão repletas de doutrina. Para um segundo grupo a doutrina não tem nenhum valor. Aqueles outros, dizem estes, só falam e discutem teologia; nós somos gente prática, nada queremos com doutrina. Mas falar assim é estar tão errado como aqueles que vocês estão criticando. Estas duas coisas devem andar juntas; a doutrina não deve ficar separada do elemento prático, nem o elemento prático da doutrina. Devemos aprender a preservar o equilíbrio das Escrituras, e devemos lutar para preservá-lo, "manejando bem a palavra da verdade" (2 Timóteo 2:15). Devemos tomar as coisas como vêm nas Escrituras. Você, meu amigo, não tem direito de dizer: "Sou um homem prático; portanto, não leio os capítulos 1, 2, 3 e parte do capítulo 4 da Epístola aos Efésios; começo a ler no meio do capítulo 4". Se for assim você estará fazendo violência à Palavra de Deus. Contudo, se por outro lado você se detiver no meio do capítulo 4 e não for até o fim da epístola será igualmente culpado.
Pois bem, o real propósito de tudo que o apóstolo estivera lembran¬do a estes efésios – que eles tinham sido gentios, separados e estranhos aos concertos da promessa, sem esperança e sem Deus no mundo agora, por este glorioso evangelho que ele lhes havia pregado, foram feitos co-herdeiros com os santos, conservos dos judeus como mem¬bros do corpo, e co-participantes das grandes promessas – o real propósito, digo, era que se regozijassem nisso, porque esse fora o meio pelo qual eles vieram a ter "ousadia e acesso com confiança" à presença de Deus. Aquilo com que Paulo desejava que se regozijassem era que agora eles, que outrora estavam longe de Deus, foram aproximados, podem chegar à presença de Deus, e podem orar como os judeus sempre oraram.
Eis aí algo de que nós também precisamos lembrar-nos, pois de muitas maneiras constitui o mais alto pináculo da salvação. De todas as bênçãos da salvação cristã, nenhuma é maior do que esta – que temos acesso a Deus pela oração. Antes de entrarmos em detalhes, notemos a palavra "nós" (implícita na Versão de Almeida) – "No qual nós temos ousadia e acesso". Outrossim, diz o apóstolo, o que vou dizer não se aplica somente aos apóstolos, ou a certas pessoas que se dedicam inteiramente ao cultivo da vida cristã. Aplica-se a todos os cristãos. Esta é a glória disso tudo. Eliminemos do nosso pensamento, uma vez por todas, aquela dicotomia artificial e antibíblica, na verdade pecami¬nosa, que se vê em todas as formas do ensino católico-romano, ensino que divide o povo em dois grupos, os "religiosos" e os "leigos". Não existe essa distinção nas Escrituras. "Nós", afirma Paulo – eu o apóstolo, vocês que anteriormente eram gentios – "Nós", todos juntos, "temos esta ousadia e acesso com confiança".

Portanto, examinando isto em termos práticos, consideramos a maneira pela qual nos aproximamos de Deus em oração. Podemos muito bem introduzir isto com a seguinte pergunta: como você ora? Qual é o caráter da sua vida de oração? Como se sente quando se põe de joelhos em oração a Deus? Que acontece? Você gosta? É livre? É certa? É segura? Que espécie de oração é a que você faz? Segundo o apóstolo, a nossa aproximação deve ser caracterizada por "ousadia". "Acesso com confiança" é uma verdadeira oração cristã. Os termos merecem consideração à parte.
Ousadia significa destemor, isenção de toda apreensão, e de toda duvida quanto a podermos ser rejeitados. Significa liberdade de todos os aspectos do mal que tendam a impossibilitar a oração verdadeira. Ousadia obviamente significa ausência de inibição ou medo, em toda e qualquer forma. Quando pensamos num homem ousado, pensamos em alguém que segue diretamente para frente, que não tem medo de nada. Embora enfrentando um poderoso inimigo, o ousado avança de peito estufado, com confiança e com segurança. Não sofre inibições, não é hesitante, nem duvidoso, nem inseguro. A ousadia é o exato oposto de tudo quanto indica fraqueza.
O segundo termo é acesso. Pode-se traduzir por "entrada", "ingres¬so". Um homem afirma que conseguiu ingresso para um clube exclu¬sivo; muitos não têm permissão para entrar ali, mas ele achou um meio de penetrar, de entrar. Isto implica o privilégio do ingresso, da admis¬são. O uso que Paulo faz do termo significa, então, que há uma relação entre nós e Deus pela qual sabemos que somos aceitáveis a Ele e temos a segurança de que Ele tem disposição favorável a nós. Esta é a essência do termo "acesso". Sabemos que Deus está pronto a olhar-nos favora¬velmente e que Ele está à nossa espera para receber-nos. Por isso não hesitamos na soleira da porta, por assim dizer; temos direito de entrada, temos acesso, temos ingresso. Este é um termo bastante forte, já empregado pelo apóstolo no versículo 18 do capítulo dois.
Depois o apóstolo acrescenta outra palavra – confiança. Ele mostra-se tão interessado em firmar este ponto que diz a mesma coisa de três maneiras diferentes, por assim dizer. Alguns pedantes chama¬riam a isso verbosidade ou tautologia; o apóstolo o faz para ênfase. E naturalmente o faz porque sabe como somos lentos para aprender estas coisas. Conhece os nossos insucessos na oração, pelo que continua dando ênfase a isso e continua a repeti-lo uma e outra vez. A confiança está sempre no fim de um processo. Quando alguém tem confiança, significa que esteve praticando alguma coisa tão diligentemente que agora está seguro quanto àquilo.
Pense, por exemplo, em como aprender a andar de bicicleta. No primeiro momento em que a mão daquele que o está ensinando o largou, você ficou hesitante, inseguro e apavorado. Mas logo você chega ao ponto em que, tendo andado sozinho bom número de vezes, conseguiu ter confiança, e está pronto para ir sozinho pelas ruas e pelas praças, e para subir e descer morros. Você desenvolveu confiança. É sempre resultado de um processo. O orador pode ficar nervoso quando começa a falar, porém depois de proferir algumas frases, perde o nervosismo e ganha confiança. Esse é o termo empregado pelo após¬tolo, e significa que podemos ir à presença de Deus com confiança, graças a um processo pelo qual passamos; é resultado de alguma coisa que aconteceu.
Em todo o Novo Testamento aprendemos que a confiança é um elemento essencial da oração verdadeira: ousadia, acesso, confiança! Um notável exemplo deste ensino encontra-se no capítulo 10 da Epístola aos Hebreus: "Tendo pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário ... cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé ..." (versículos 19-22).

Agora devemos dirigir a atenção ao segundo princípio e considerar o que é que possibilita este meio de entrada à presença de Deus. Como poderei ter esta ousadia e este acesso com confiança? Só se pode dar uma resposta e, em vista da sua importância, Paulo no-la diz duas vezes neste versículo: "No qual temos ousadia e acesso com confiança, pela nossa fé nele". No qual! Ele! Fé nEle significa fé da qual Ele é o objeto. Poder-se-ia declarar deste modo: "No qual temos ousadia e acesso com confiança por meio da nossa fé nEle (no Senhor Jesus Cristo)". Evidentemente esta verdade é básica, é fundamental. E, contudo, quão evidente é que pessoas que falam sobre a oração muitas vezes a omitem completamente! Uma das mensagens centrais do Novo Testamento é que não há a mínima possibilidade de oração, ou de entrada à presença de Deus, exceto em nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, por Ele e mediante Ele. Ele mesmo disse: "Eu sou o caminho, e a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, senão por mim" (João 14:6). Escrevendo a Timóteo, Paulo diz: "Há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem" (1 Timóteo 2:5). Cristo é o único caminho; não há outro. E nós, será que sempre vamos a Deus em Cristo, pela fé nEle e por meio dEle? Há sempre muito interesse pela oração quando o mundo está com problemas. Quando se esgotam os expedi¬entes, as pessoas recorrem à oração e a Deus. Entretanto, de acordo com as Escrituras – e eu não conto com outro conhecimento que não este – não há entrada à presença de Deus, a não ser no Senhor Jesus Cristo e por meio dEle. Se houvesse outros meios pelos quais entrar, Ele nunca precisaria vir a este mundo. Ele veio e fez tudo que era necessário fazer "para levar-nos a Deus".
Exponhamos isto de maneira prática. Se compreendemos quem e o que Deus é, como poderemos sequer pensar em ir a Ele por algum outro meio? Pensem nas descrições que Ele fez de Si próprio como, por exemplo, aos filhos de Israel na antiguidade, descrições da Sua santi¬dade, da Sua eternidade, da Sua majestade, do Seu poder. Quando estava neste mundo, o Filho de Deus dirigiu-Se a Ele em oração dizendo-Lhe, "Pai santo" (João 17:11). "Deus é luz, e não há nele trevas nenhumas", diz o apóstolo João (1 João 1:5). "O nosso Deus é um fogo consumidor", diz a Epístola aos Hebreus (12:29). Receio que muitas vezes não paramos para pensar em Deus antes de nos dirigirmos a Ele em oração. Na verdade às vezes somos incentivados por certos tipos de ensino a pensar que uma indulgente familiaridade com Deus é por excelência a marca da espiritualidade. Contudo, não se vê isso nas Escrituras.
Examinem todas as instruções que Deus deu aos filhos de Israel no Velho Testamento sobre como Ele deve ser cultuado. Por que tiveram que construir um tabernáculo, e depois um templo? Por que essas estruturas eram divididas em vários compartimentos e seções? Por que o compartimento interior mais adentrado era chamado "O Santo dos Santos", no qual ninguém tinha permissão para entrar, exceto o sumo sacerdote, e só uma vez por ano? Por que Deus instituiu todo o cerimonial, incluindo numerosos sacrifícios – ofertas queimadas, ofertas pelo pecado, ofertas pela transgressão, e outras? Qual o signi¬ficado disso tudo? Quem deu as instruções foi Deus, não os homens. Não foram imaginadas pelas mentes dos homens. Deus chamou Moisés e o fez subir a uma montanha, e lhe ensinou como Ele devia ser cultuado, dizendo: "Olha, faze tudo conforme o modelo que no monte se te mostrou" (Hebreus 8:5). Há apenas uma explicação disso tudo: Deus estava ensinando o Seu povo sobre a Sua santidade, a Sua eternidade e a Sua majestade, e Ele lhes ensinou que esse era o único modo pelo qual eles poderiam chegar à Sua presença. Só poderiam fazê-lo quando Lhe trouxessem os sacrifícios e as ofertas; e ainda há aqueles que ensinam que podemos lançar-nos descuidosos à presença de Deus, e nunca se menciona o nome de Cristo! E tudo muito simples, dizem eles; não há necessidade de preocupar-nos com teologia, eles falam; orar é muito simples, é tão simples como respirar.
Esse ensino é uma negação de todo o Velho Testamento. E é uma negação do Novo Testamento, com o seu ensino sobre a absoluta necessidade que temos do Senhor Jesus Cristo e da Sua obra expiatória. Certamente tal ensino não é nada senão psicologia, uma forma de auto¬-hipnotismo que persuade as pessoas de que estão falando com Deus. O fato de que isto as faz sentir-se melhor ou satisfeitas não é resposta. Com frequência a psicologia faz a pessoa sentir-se melhor. Uma pessoa pode persuadir-se de muitas coisas. As seitas prosperam com base nesse fato. A única autoridade que temos sobre esta questão são as próprias Escrituras. Como posso aproximar-me de Deus? "Quem dentre nós habitará com o fogo consumidor?", é a pergunta feita por um dos profetas do Velho Testamento (Isaías 33:14). Toda vez que algum deles recebia uma visão de Deus, embora pálida, vemo-lo cair a tremer, rosto em terra, por causa da santidade e da majestade de Deus.
Então, de novo, que direi à minha consciência? Quando vou à presença de Deus, minha consciência me lembra os meus pecados, a minha indignidade, o mal que tenho praticado e no qual tenho pensado? Como posso apresentar-me a Deus com a consciência transparente e com a certeza de que Deus me perdoará? Depois, além e acima dessa consideração, como terei possibilidade de manter comunhão e companheirismo com Deus? Sei o que é ficar nervoso na presença de grandes homens e mulheres; sei o que é sentir-me verme, e menos que verme, quando na presença de um santo. À luz disso, como posso manter conversação com Deus? Sinto-me vil, sórdido e indigno; como posso fazê-lo? Eis as perguntas: como posso ter certeza que Deus tem boa disposição para comigo? Como posso ir ali com ousadia? Como posso estar seguro de que tenho ingresso, acesso, de que serei aceito? Como posso ter confiança? Há só uma resposta – "pela fé nele".
O único modo de ir à presença de Deus com segurança é saber que o Filho de Deus levou os meus pecados, a culpa e a punição destes em Seu próprio corpo no madeiro. Somente quando sei que Deus levou embora o meu pecado e a minha culpa, que Ele me revestiu da justiça do Seu Filho e que quando me ponho diante dEle, Ele não vê os meus trapos sujos, e sim a perfeita roupagem da justiça produzida por Jesus Cristo para mim – somente então poderei ir a Deus com ousadia. Quem preparou essa roupagem foi o Filho de Deus, e me foi dada por Ele; assim eu sei que sou aceito. Não há outro caminho. Como diz o capítulo 10 de Hebreus: "É impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados" (versículo 4). Cobria o pecado pelo período aprazado, mas não podia limpar realmente a consciência. E, contudo, há os que ensinam que você não tem necessidade de fazer nenhuma oferta – nem do sangue de touros e bodes, nem das cinzas de uma novilha, nem do Filho de Deus e do Seu sangue derramado ¬simplesmente você vai a Deus como você é!
Sem Cristo não podemos orar verdadeiramente. Como de novo diz o autor da Epístola aos Hebreus: "Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos firmemente a nossa confissão. Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. Cheguemos, pois, com confiança (ousadia: AV) ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno" (4:14-16).
Sabemos o que aconteceria com o tipo de gente que pensa que pode entrar no Palácio de Buckingham e aparecer diante da rainha na hora que quiser; seria logo abordado e posto para fora, e talvez lançado na prisão, como merecia. E ainda há pessoas que imaginam que justamen¬te como estão, sem nenhuma meditação ou mediação, podem compa¬recer na presença de Deus! Há só Um que pode introduzir você, há só Um que pode rubricar o seu cartão de visita. É o Filho de Deus, e Ele escreveu Seu nome com o Seu próprio sangue. Graças a Deus, não importa quem ou o que você é, nem as profundezas do pecado em que se afundou, nem em que lamaçal tenha passado a sua vida, andando e rastejando no pecado. Se você tem esse cartão com a assinatura feita com sangue, as portas do céu estão abertas para você, e pode entrar com "ousadia", você tem "acesso com confiança" pela fé nEle!

Para sermos mais práticos ainda, consideremos outra questão. Se esta é a única maneira pela qual eu posso ter esta ousadia e acesso com confiança, que devo fazer para tornar isto uma realidade para mim mesmo e na minha experiência pessoal? O ensino que estivemos considerando terá que ser aplicado; ele não se aplica sozinho. É possível aos cristãos crerem em tudo que eu estou dizendo e, todavia, jamais saberem realmente o que é orar com "ousadia" e "ter acesso com confiança". Isto é porque nunca aplicaram o que sabem. Realmente nunca tomaram posse pela fé da verdade vital, e nunca a utilizaram da maneira certa; pois há certas coisas que precisamos fazer se queremos ter esta ousadia e acesso com confiança.
A primeira é que precisamos compreender que não devemos apoiar¬-nos em nossos sentimentos, caprichos ou disposições de ânimo. Isto é básico. Quando você se ajoelha para orar, porventura não acha que às vezes fica subitamente insensível e sua mente fica vagando por longes plagas? Não lhe parece estar orando, você está cheio de duvidas e incertezas, os seus pecados retornam a você, e você acha quase impossível orar? Se der ouvidos a esses caprichos e pensamentos, nunca orará. A primeira coisa que temos que fazer é dar o devido tratamento a estes caprichos, sentimentos, disposições de ânimo e condições internas. Temos que dar-nos conta de que eles não provêm só do corpo, mas também do diabo, cujo supremo objetivo é impedir¬-nos esta comunhão com Deus. Devemos considerá-los todos como enviados por ele. São os "dardos inflamados" que o diabo lança em você, e principalmente quando está de joelhos, em oração. Reconheça a fonte e origens deles, reconheça que são do diabo e, tomando pé com firmeza, rejeite-os. Você tem que fazer isso. A oração é trabalho duro, e tarefa. Você não deve "relaxar", como ensinam as seitas, mas, antes, deve revigorar-se e disciplinar-se. Deve aprender a agonizar em oração.
Depois, tendo tratado assim os seus sentimentos, caprichos e disposições de ânimo, deve começar a pregar para si mesmo. Mais que nunca estou convencido de que o problema com muitos cristãos é que eles não pregam para si mesmos. Todo dia devemos passar algum tempo pregando para nós mesmos, mormente quando estivermos de joelhos, em oração. Como pregar a si mesmo quero dizer que, quando você estiver de joelhos, e todos estes pensamentos, dúvidas e incertezas se acumularem sobre você, os seus pecados se levantarem contra você e você achar que não tem direito de orar e que é quase um canalha quando o faz – digo eu –, você primeiro deve compreender de onde eles vêm, e depois começar a lembrar-se das verdades centrais da fé cristã. Você deve lembrar-se da grande doutrina que estivemos considerando juntos. Você dirá: "Naturalmente sou um pecador; quando o diabo me disse que eu era pecador, tinha toda a razão, Ele disse isso para me desanimar; mas vou usar isto para me ajudar. Naturalmente que sou pecador! Deus é santo e eu sou vil, e nem chego a compreender como sou Vil. Muito bem; então, como poderei orar? Como poderei ir à presença de Deus? A resposta é que Deus mesmo abriu o caminho para mim; Ele o providenciou, Ele enviou Seu Filho unigênito a este mundo para levar sobre Si os meus pecados, para morrer por mim. Cristo cumpriu a lei por mim e me vestiu com a Sua roupagem de perfeita justiça. Vestido com ela, posso ir à presença de Deus". Havendo-se convencido disso, você obtém confiança e começa a orar.
Desse modo você terá que, solene e especificamente, lembrar-se do que é e do que tem feito, como também de que o Deus a quem está se dirigindo é o Deus que Se revelou. Terá que ver a absoluta necessidade que temos de Cristo, e de saber que Ele realmente lhe dá cobertura em todos os aspectos. Assim, vestido com a justiça de Cristo, e tendo Cristo com você, você vai à presença de Deus. João, em sua primeira Epístola, afirma isso da seguinte maneira: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo, para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça". Isso ele diz no contexto de "o sangue de Jesus Cristo que nos purifica de todo o pecado" (1:7-9). Ele prossegue, dizendo: "Se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo. E ele é a propiciação pelos nossos pecados" (2:1-2). É isso que você dirá a si próprio. Não espere até melhorar o seu estado de ânimo; e não vá simplesmente falando a despeito da sua disposição ou do seu estado de ânimo. Você terá que dizer a si próprio: "Apesar de eu ser um pecador, e apesar de eu não sentir nada, creio no Senhor Jesus Cristo. Sei que nunca me farei apto para ir à presença de Deus; mas creio neste registro feito nas Escrituras. Portanto, o que quer que eu sinta ou deixe de sentir, eu creio que Cristo, o Filho de Deus, morreu por mim e pelos meus pecados; e que, portanto, tenho tanto direito de ir à presença de Deus como o tem o maior santo".
E depois, imediatamente você dará graças a Deus por tudo isso ¬"pela oração e súplicas, com ação de graças", diz este apóstolo, quando ensinava os filipenses a orar (4:6). Esqueça por ora todas as suas necessidades e desejos, até mesmo aquela coisa particular que o levou a orar. Antes disso, apenas agradeça a Deus o Seu amor, agradeça-Lhe a Sua misericórdia e compaixão, dê-Lhe graças por enviar o Seu Filho a um mundo como este; dê-Lhe graças por ir à cruz e morrer por você; dê-Lhe graças por enviar o Espírito Santo. Derrame o seu coração em louvor e ação de graças. Logo você achará liberdade; seu coração se comoverá e, pela primeira vez em sua vida, você saberá o que é "ousadia e acesso com confiança". Então ore, rogando a Deus que derrame o Seu Santo Espírito amplamente em seu coração, de modo que venha a experimentar a autenticação de todas estas coisas. Preci¬samos ir à presença de Deus empregando as palavras que o conde Zinzendorf escreveu, e que João Wesley traduziu:

Jesus Cristo, o Teu sangue e a Tua justiça
minha elegância são, gloriosas vestes;
entre os mundos em chamas, com tal traje
alçarei a cabeça, jubiloso.

Ousado me erguerei no grande dia;
pois quem irá fazer pesar meu fardo?
Mediante as vestes já fui absolvido
do pecado e temor, da culpa e opróbrio.

Se fizermos o que estou tentando dizer, e depois formos com ousadia à presença de Deus, sabe o que vai acontecer? (Não é surpre¬endente que o apóstolo tenha trazido estes efésios a este ponto prático.) O que acontecerá é o que o apóstolo Tiago diz no capítulo quatro da sua epístola: "Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós" (versículo 8). Essa é a maior coisa que se pode ouvir nesta vida. Vá à presença de Deus com ousadia e acesso com confiança, pela fé em Jesus Cristo, e você se encontrará com Deus. Você se dará conta da Sua presença; terá suporte não só de uma percepção da Sua glória e da Sua consolação, da Sua força e do Seu poder, mas também de uma percepção do Seu amor, da Sua bondade e da Sua compaixão. Você saberá que é filho dEle e que Ele é seu Pai. Você saberá, e será capaz de dizer que "todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus". Você ficará persuadido de que "nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor!" Você poderá dizê-lo nos termos deste outro hino:

No amor celestial permanecendo,
não temerei mudança;
firme, segura e certa é tal confiança,
pois nada aqui vai mudar:
Pode a tormenta ao meu redor rugir,
meu coração desmoronar;
porém, ao meu redor está meu Deus,
poderei fraquejar?

"Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós."

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

ESTUDO DAS 42 JORNADAS NO DESERTO


Continuação da 19ª Estação – Queelata (parte 05)

Por: Luiz Fontes

CAPÍTULO 95

TEXTO: Números 16:8-11

Temos considerado até aqui alguns pontos fundamentais acerca dos assuntos que envolvem essa 19ª estação – Queelata. Já estudamos que este nome em hebraico significa “assembleia”. E quando estudamos a etimologia, do hebraico para o grego, chegamos à palavra “eclesia”, de onde advém a palavra “Igreja”. É daí que temos essa realidade estudada nesses dias, uma eclesia em crise, uma assembleia em crise; uma crise espiritual no meio da assembleia do povo de Deus. E aqui no contexto dessa estação, em Números 16, temos visto quando Coré, da tribo de Levi, Data e Abirão, da tribo de Ruben, homens preeminentes, homens que tinham o encargo da obra no serviço do Tabernáculo, chegam até Moisés com suas reivindicações. Vemos, nesse contexto, um espírito de ambição, uma compulsão excessiva pelo poder – o que é muito perigoso na obra de Deus.
Considerando ainda esse capítulo 16 do livro de Números, versículo 10, Moisés diz para aqueles homens:

“(...) procurais o sacerdócio”.

Na verdade, o sacerdócio era algo pertinente à tribo de Levi, mas essencialmente à casa de Arão. Somente da casa de Arão podiam sair os sacerdotes, os levitas, aqueles que se ocupariam com o serviço do Tabernáculo. Esses jamais podiam servir no sacerdócio, mas da casa de Arão sim. Aqueles homens não estavam compreendendo nada.
Nós precisamos ir a fundo nesse assunto, para podermos entender o quanto isso se aplica a nossa vida cristã hoje, à edificação da Igreja. Quantas crises e confusões têm ocorrido no meio do povo de Deus por falta de se atentar para os princípios espirituais. Ambição é uma coisa muito séria. É como a morte, nunca se farta. Ambição é a miséria enfeitada, é o veneno secreto, é a praga oculta executora de engano. Ambição é a mãe da hipocrisia, é a progenitora da inveja. O primeiro dos defeitos, a ambição, ofende a santidade, cega os corações, transforma medicamentos em doenças e remédios em males. Ainda quero dizer que a ambição nada mais é do que a avareza sobre as pernas de pau. Precisamos ser cuidadosos quanto a isso.
A ambição é o que vamos ver no coração de Coré, Datã e Abirão. Vejam que as palavras que Moisés fala aqui para Coré,

“(...) procurais o sacerdócio”,

revelam a natureza do problema. Sabemos que a intenção perfeita de Deus era que todo o Seu povo fosse um sacerdócio; Ele queria uma nação de sacerdotes. Olhem para Êxodo 19:6, quando Ele diz:

“Vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa”.

São essas palavras que o Senhor diz para o Seu povo. Mas em Êxodo 32 temos aquele episódio do bezerro de ouro, onde toda a nação de Israel cometeu um grave pecado. Quando Moisés demorou no monte Sinai, Arão fez um bezerro de ouro e o povo o adorou – com exceção da tribo de Levi. A tribo de Levi foi separada para ministrar diante de Deus – é aqui que Deus institui essas classes, tanto de levitas, quanto de sacerdotes. Então a tribo de Levi foi separada para ministrar diante de Deus e ser responsável por esses assuntos referentes ao Tabernáculo. Mas um detalhe é que só poderia haver sacerdotes da casa de Arão, e o sumo sacerdote, Coré, e seus aliados ambicionavam essa posição. A ambição deles ali era simplesmente por essa posição. Vejam as palavras de Moisés para eles em Números 16:9-10:

“9 Acaso, é para vós outros coisa de somenos que o Deus de Israel vos separou da congregação de Israel, para vos fazer chegar a si, a fim de cumprirdes o serviço do tabernáculo do SENHOR e estardes perante a congregação para ministrar-lhe; 10 e te fez chegar, Corá, e todos os teus irmãos, os filhos de Levi, contigo? Ainda também procurais o sacerdócio?”

O irmão Richard Baxter, um teórico puritano do passado, servo de Deus, expressou esse tipo de comportamento, esse tipo de ambição, da seguinte forma:

“Vigiai para que, movidos pela pretensa diligência ao vosso chamado, não vos torneis carnais e excessivamente cuidadosos de vossas ambições do sucesso mundano”.

Essas são as palavras de um irmão piedoso, e é com grande apreensão que eu abordo esse assunto. Não há como discorrer sobre ambição no ministério sem dar a impressão de estar julgando os outros. E quando falo isso, meus amados, coloco essa carapuça na minha própria cabeça, porque, afinal, quem sou eu para conhecer os pensamentos e intenções que moram no coração das outras pessoas. As motivações internas que nos dirigem formam uma confusa teia em que entram tanto a sinceridade, quanto a preocupação egoísta; a nobreza de caráter, como também o narcisismo. E todos nós podemos incorrer nesses erros. Estamos, portanto, em uma luta de foice no escuro, onde a qualquer momento podemos ser alvejados por pensamentos perigosos, motivações perigosas. Por mais que tenha o disfarce da simploriedade, todos nós estamos vivendo um momento crítico das nossas vidas com relação ao ministério e à obra, porque passamos por muitas experiências e precisamos ser vigilantes, diligentes, cuidadosos, para que não venhamos incorrer nos mesmos erros de Coré, Datã e Abirão.
Vejam que Arão não estava no sacerdócio porque quisera, foi Deus que instituiu o Sacerdócio Araônico. Esse assunto é sério. Lembram em 2Cr 26:17-21, quando o rei Uzias ofereceu sacrifícios sacerdotais? O sacerdote Azarias e oitenta sacerdotes vieram até o rei Uzias por causa desse ato. Eles vieram resistir ao rei Uzias por oferecer sacrifício. Acender o incenso não é uma prática dos reis, e sim dos sacerdotes. Vemos, então, que Azarias repreende Uzias dizendo que não competia a ele queimar incenso ao Senhor, mas aos sacerdotes, filhos de Arão, por terem sido consagrados para esse ministério. Então ele diz:

“Você transgrediu o santuário do Senhor”.

O rei não estava honrando a Deus com seu ato. E sabemos da consequência: Uzias foi ferido de lepra e morreu leproso.
Podemos ainda retornar a Levítico 10:1-2, onde vemos os filhos de Arão, Nadabi e Abiu, levarem fogo estranho ante a face do Senhor. E o que lhes ocorreu? Saiu fogo de diante do Senhor e os consumiu e eles morreram ali, perante o Senhor.
Amados, servir na obra de Deus é algo muito sério. Em Hebreus 5:4, diz:

“Ninguém, pois, toma esta honra para si mesmo, senão quando chamado por Deus, como aconteceu com Arão”.

Podemos nos dar conta da seriedade de tudo isso? Vejam quanto esse assunto é delicado: não podemos ir além de onde Deus nos colocou.
Voltando para Números 16, no versículo 11, Moisés, falando a eles, diz:

“Pelo que tu e todo o teu grupo juntos estais contra o Senhor”.

Observem esta palavra: “juntos”. Na versão brasileira de João Ferreira de Almeida esse texto está assim:

“Portanto tu e toda a tua companhia sois os que vos sublevastes contra Jeová”.

A palavra “sublevastes” significa “rebelião em massa, ou mesmo individual”. Eles não sabiam, mas era contra Deus que estavam se rebelando. Vejam a atitude hostil daqueles homens quando Moisés mandou chamá-los; vejam a que ponto eles chegaram. Em Números 16:12 o texto diz:

“Mandou Moisés chamar Datã e Abirão, filhos de Eliabe, porém eles disseram: ‘não subiremos’”.

Olhem ainda o versículo 13:

“Será que não basta você ter nos tirado de uma terra boa e rica a fim de nos fazer morrer neste deserto? E, além disso, ainda quer mandar em nós?”.

Amados, toda a revolta deles consistia no fato de Deus ter feito com que voltassem. Se estudarmos essas jornadas como temos feito até aqui, perceberemos, na 15ª estação, que eles desobedeceram ao Senhor quando não quiseram entrar na terra de Canaã. Quando os espias foram enviados e voltaram, dez deles retornaram com uma mensagem completamente negativa. O povo insistiu em não ir, e por causa dessa atitude Deus rejeitou aquela geração. Então nós sabemos que agora, em Queelata, a primeira estação da volta, eles vão peregrinar trinta e oito anos. É assim que temos que ler a história, é assim temos que entender. Agora, revoltados por causa disso, eles estão voltando ali pelo golfo de Ácaba. Eles não iriam mais entrar na terra de Canaã, não entendiam o caráter justo de Deus, não aceitaram a disciplina de Deus. Por isso, a maneira de expressarem a revolta era tocando na autoridade de Deus, na vida daqueles a quem Deus havia delegado autoridade. Não podiam tocar diretamente na autoridade de Deus, mas tocaram na autoridade delegada de Deus. Nós precisamos entender alguns exemplos da disciplina de Deus, porque que Deus nos disciplina.
Meus amados, as correções ministradas por Deus são nossas instruções; as correções de Deus, seus açoites, são nossas lições; suas chicotadas são os nossos mestres. Precisamos entender. Deus não nos levaria a passar pela disciplina de maneira tão forte se não fosse para eliminar as imundícies e as manchas que tendem a permanecer dentro de nós. Quando Deus ama, Ele trata conosco. Mas Ele nos aflige em amor, e sempre que o faz, cedo ou tarde o propósito DEle é nos ensinar lições que serão proveitosas por toda a eternidade. Houve um irmão chamado François Fileno. Ele disse assim:

“Deus nunca fere, a não ser por amor. E nunca tira nada, a não ser para dar”.

Quando Deus trata com a nossa vida, quando Ele vem com um propósito, até mesmo quando às vezes vem destruir o nosso conforto, Ele o faz com o único objetivo: destruir as corrupções que residem em nosso coração. Quando Ele nos leva às privações, e muitas vezes permite que passemos por elas, Ele tem o objetivo de fazer morrer a devassidão que se encontra dentro de nós. Então Ele faz isso, muitas vezes nos leva a muitas situações com o propósito de destruir o orgulho que tende a nos dominar. Alguém disse uma certa feita que o cálice mais amargo com Cristo é melhor do que o cálice mais doce sem Ele. A disciplina divina separa de nós aquilo que nos separa de Deus. E o maior castigo de Deus é Ele não nos disciplinar, permitir que venhamos seguir os nossos próprios caminhos. Será que todos nós podemos entender por que Deus faz coisas com as quais aparentemente não concordamos, mas que precisamos confiar? Isso é inevitável, nós precisamos confiar em suas mãos, nessas mãos furadas. Mesmo que o vento não esteja a favor, mesmo que tudo esteja contrário a nós, precisamos confiar nessas mãos que nos disciplinam, porque Ele deseja nos fazer participantes da Sua santidade.
Por não entenderem o propósito da disciplina, aqueles homens perderam a objetividade, deixaram-se levar por sentimentos malignos. Vejam o quanto isso é perigoso! Vejam o que eles disseram:

“Não basta você ter nos tirado de uma terra boa e rica, a fim de nos fazer morrer nesse deserto?”.

Essa “terra boa e rica” era o Egito. O Egito agora era uma terra boa e rica. Eles disseram que Moisés e Arão é que os havia tirado do Egito. Quanta cegueira! Será que podemos notar isso? Meus irmãos, olho para isso e vejo como nós também somos assim. Nós não compreendemos a profundidade do nosso pecado, de onde foi que Deus nos tirou; não damos conta da grandeza da redenção. Será que podemos listar as bênçãos divinas desde quando eles saíram do Egito? Será que você pode ver isso? Será que olhando da perspectiva da Palavra de Deus não ficamos um tanto quanto assombrados pela cegueira daquele povo?
Vocês se lembram de Êxodo 12:29, quando Deus livrou todos os primogênitos da casa de Israel da morte, quando o anjo passou à meia noite, matou todos os primogênitos do Egito e todos os primogênitos dos filhos de Israel foram guardados? Em Êxodo 13:21 Deus dá a eles a nuvem e a coluna de fogo. O Senhor ia diante deles numa coluna de nuvem para guiá-los pelo caminho, e durante a noite numa coluna de fogo para alumiá-los, a fim de que eles caminhassem de dia e de noite. Imaginem que milagre. Será que perderam a noção disso tudo? Lá em Êxodo 14:16 nós temos a passagem do Mar Vermelho. Eles estavam encurralados ali, havia os montes dos lados, o exército de Faraó atrás, o mar na frente, e Deus abriu o Mar Vermelho. Quando Moisés tocou com o seu cajado nas águas, aqueles dois paredões se formaram para que o povo de Israel passasse. Em Êxodo 15:25, quando eles atravessaram o Mar Vermelho, chegaram em Mara. Ali encontraram águas amargas. A Bíblia diz que Moisés colocou um lenho na água e assim ela se tornou potável, água doce para beberem e saciarem a sede. Em Números 16, quando estavam com desejo de comer carne, Deus dá para eles as codornizes, como também o Maná. Tudo isso Deus fez para alimentá-los. Imaginem como eles esqueceram tão depressa das provisões e dos cuidados de Deus. Isso é lamentável, mas muitas vezes nós também podemos ser assim; muitas vezes nós temos sido assim para com Deus. Como não temos dado valor ao que Deus é para nós. Que Deus nos ajude a entender tudo isso, e que Ele nos guarde de termos um coração que ambicione coisas, que ambicione posições, ambicione as coisas do mundo, seja lá o que for.
Amados irmãos e irmãs, que o Espírito Santo venha constranger o nosso coração a desejar uma única coisa: Cristo Jesus. Que Ele seja o foco da nossa vida, que Ele seja o alvo da nossa vida, porque eu sei que somente isso poderá nos guardar, somente isso poderá nos proteger, poderá guardar o nosso coração. Coré, Datã e Abirão estavam vivendo uma realidade da qual eles não tinham noção das consequências. Que Deus fale ao seu coração sobre tudo isso; que Ele ministre uma palavra de vida sobre este assunto para abençoar você, para lhe guardar, para que o seu coração esteja sempre focado, guardado para Cristo Jesus.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

CONTINUAÇÃO DO ESTUDO DA EPÍSTOLA AOS EFÉSIOS


CAPÍTULO 6 - O ESTRANHO PROPÓSITO DE DEUS

Por. D. M. Lloid Jones



"Para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus." – Efésios 3:10


Estas palavras vêm como parte da declaração que começa no versículo 9 e termina no versículo 11. É parte da explicação dada pelo apóstolo do propósito geral da sua vocação e do seu ministério. Vimos o que isto significa em função do plano de Deus para o mundo, do propósito de Deus para o mundo, plano que Ele está executando seguramente. Mas aqui, em conexão com essa segunda declaração, o apóstolo interpõe esta observação concernente aos principados e potestades. Mediante a mensagem do evangelho, diz ele, e como resultado da sua pregação, a saber, a colheita da Igreja da qual os cristãos efésios são parte integrante, a estonteante e estupenda verdade é que mesmo os principados e potestades nos lugares celestiais estão sendo cientificados. Alguma coisa está acontecendo por meio de todos quantos são membros da Igreja que até aumenta o entendimento destes augustos e poderosos seres. Esta é a matéria que devemos examinar agora.
Devemos dar-nos conta de que quando o apóstolo escreve sobre os principados e potestades nos lugares celestiais, ou nos céus, está se referindo aos anjos, incluindo-se os mais brilhantes e gloriosos deles. Alguns acham que a referência é, antes, aos anjos caídos, isto é, aos demônios. Contudo, me parece que, se aceitarmos esta interpretação, perderemos de vista o real objetivo que o apóstolo tem em mente aqui, e certamente perderemos a emoção e a glória daquilo que ele está dizendo. Sem dúvida, os anjos decaídos, os demônios, são levados a compreender e a ver a sua loucura total, em parte mediante a Igreja; porém o que vemos aqui é uma coisa mais estonteante ainda. Se tomarem esta expressão como se encontra nas Escrituras, verão que invariavelmente se refere aos anjos que sempre estão na presença de Deus; e o apóstolo está afirmando que o que está acontecendo na Igreja é tão estupendo, tão glorioso, que os fulgurantes seres angélicos que passaram toda a sua existência na presença de Deus, mesmo eles, ficam estonteados e maravilhados com o que vêem na Igreja e através dela. Estes anjos, criados por Deus, sempre estão na presença imediata de Deus; mas, de acordo com o apóstolo, o que acontece na Igreja é algo que eles nunca pensaram nem imaginaram. Sobrepuja o conhecimento e a compreensão deles, e até mesmo a sua imaginação. O que nos interessa é que esta informação concernente ao eterno propósito de Deus deveria chegar até eles; e a declaração é que é "pela igreja", por meio de nós. Noutras palavras, é-nos dado aqui um retrato da Igreja em sua dignidade, grandeza e glória que, em certo sentido, realmente parece sobrepujar toda e qualquer coisa que o apóstolo tenha dito a respeito dela. Certamente nada pode ser mais elevado que isto; examinemo-lo, pois, na forma de alguns princípios que demonstrarão esta glória.

A primeira proposição é que o cristianismo, e a salvação em Cristo e por meio de Cristo, é a suprema, a mais elevada e a maior manifes¬tação da sabedoria de Deus. Podemos definir a sabedoria de Deus dizendo que é o atributo pelo qual Ele dispõe os Seus propósitos e os Seus planos, e dispõe os meios que produzem os resultados que Ele determinou. É também sabedoria ao nível humano. Sabedoria é aquela rara faculdade e qualidade que capacita o homem a ver a situação de maneira tal, que ele pode decidir o que fazer e como obter o resultado mais desejável. Há uma enorme diferença entre conhecimento e sabedoria. Muitos têm conhecimento, todavia não têm sabedoria. A sabedoria, num dos seus aspectos, é a capacidade e poder de fazer uso do conhecimento. Um homem pode ser muito instruído, mas, se lhe faltar sabedoria, será de pouco valor na sociedade. Isto se aplica a todas as profissões e, na verdade, a todas as carreiras da vida. Além e acima de um conhecimento dos fatos, o que diferencia o supremo artista, o grande cientista, o grande homem em qualquer profissão, é que ele tem esta qualidade adicional de poder usar e acionar tudo que sabe com o fim de levar ao resultado desejado. Assim a Bíblia nos diz que a sabedoria é um dos atributos do caráter de Deus e do Seu ser. E o que o apóstolo diz aqui é que na Igreja e por meio dela este atributo de Deus está sendo revelado aos principados e potestades nos lugares celestiais de maneira mais grandiosa do que nunca antes.
Obviamente, os principados e potestades nos lugares celestiais já sabiam muita coisa a respeito da sabedoria de Deus. Permanecendo sempre na presença de Deus, estão na esplêndida condição de poderem observar o que Deus faz e dispõe. Assim eles sempre estiveram cientes da sabedoria de Deus. Eles a tinham visto, por exemplo, na natureza e na criação. Para quem tem olhos para ver, a sabedoria de Deus pode ser vista de maneira maravilhosa nas coisas que são feitas. Apanhem qualquer flor e dissequem-na, e verão que ela foi estruturada e construída segundo um plano e desenho bem definido. De muitas maneiras, a maior característica de todas as obras das mãos de Deus na natureza é a simplicidade essencial do padrão pelo qual Ele sempre opera. Algumas flores parecem altamente complexas, mas se vocês as disse¬carem, verão sempre um padrão muito simples, e verão que o que parece complexo é apenas uma coleção de vários modelos muito simples. Este princípio percorre a natureza toda. A sabedoria essencial é exposta neste modelo simples. Esta é, na verdade, a característica dominante de todo gênio, da maior competência em qualquer departa¬mento. O grande artista sempre dá a impressão de que o que ele está fazendo é muito simples. O homem que em seu trabalho é presunçoso e dá a impressão, de que o que ele está fazendo é realmente difícil, mostra que não é competente.
Isto é verdadeiro em qualquer profissão, em qualquer vocação. O verdadeiro experto, o gênio, sempre reduz a complexidade à simplici¬dade. Pense na diferença entre um grande mestre e um aluno, ou entre um grande profissional e um amador em algum esporte ou na música. Isto se vê de modo supremo, naturalmente, na pregação do nosso bendito Senhor e Salvador. Embora tratasse de verdadeiras profundidades, o Seu padrão essencial foi sempre muito simples. Quantas vezes isso tem sido esquecido na vida, e na própria Igreja Cristã! Muitos parecem ter a insensata ideia de que o que realmente é grande e profundo é o complexo e complicado, aquilo que eles não podem entender. No entanto, a verdade é exatamente o oposto disso. Se a mente não estiver clara e não puder expressar-se com clareza, será sinal de confusão e de falta de capacidade, como se vê à perfeição em todos os domínios da natureza. Os anjos tinham estado observando isto; tinham estado observando a obra das mãos de Deus de acordo com o planejamento que Ele fizera da criação, e a ordenada sequência ano após ano de primavera, verão, outono e inverno. A mesma coisa todo ano! Que simplicidade em tudo isso! Vejam como a flor começa num botão; cresce e se desenvolve, depois começa a florescer e a florir, chegando à maturidade; depois murcha, seca e morre. Sempre o mesmo processo! Vemos aí algo da gloriosa sabedoria de Deus.
Os anjos também tinham visto esta sabedoria na história. Estiveram observando as atividades humanas através de toda a história registrada no Velho Testamento, e tinham visto como Deus estivera manobrando as nações. Observaram como Ele pacientemente permitiu a ascensão de algum grande tirano, que "montasse no mundo como um colosso", e fizesse as nações tremerem, aterrorizar-se e alarmar-se. Talvez os anjos tenham começado a indagar o que estaria acontecendo; e depois viram que, num dado momento, Deus Se levantava e dispersava os Seus inimigos, e os fazia desaparecerem como se nunca tivessem existido. Em procedimentos como estes, muitas vezes eles tinham visto a sabedoria de Deus na história. Assim, numa época como esta, é-nos proveitoso que a leiamos, naturalmente com olhos cristãos. Se vocês não lerem a história com olhos cristãos e bíblicos, chegarão à conclusão a que Hegel chegou, de que "A história nos ensina que a história não nos ensina nada". Todavia se vocês examinarem a história com mente bíblica, com olhos cristãos, verão que ela está repleta de instruções porque, por trás de tudo verão a sabedoria de Deus deixando, permitin¬do isto e aquilo, mas sempre mantendo o domínio. O Senhor Deus reina; e sempre está presente como "Eu sou", e em Seu tempo faz várias coisas.
Os anjos estiveram observando isso tudo, admirando-o, e enquanto faziam isso, adoravam a Deus. E muito particularmente eles haviam observado e contemplado a história geral dos judeus. Um dia viram Deus olhando para um homem chamado Abrão. Este vivia num país pagão, no seio de um povo pagão, e não podiam compreender o interesse de Deus por aquele homem. Mas observavam, e O viram chamar Abrão do seu país e levá-lo para uma terra estranha. Abrão não sabia para onde ia, porém foi; e os anjos começaram a ver que Deus estava formando uma nação para Si, criando um povo para Si. Eles observaram o chamamento de Abraão, sua vinda para Canaã, e o nascimento de Ismael e Isaque. Para seu espanto, viram o propósito de Deus sendo levado adiante por meio de Isaque, e não de Ismael, e depois por meio de Jacó, e não de Esaú; e em cada um desses eventos eles viam a sabedoria de Deus. Bem podem ter pensado, a princípio, que Esaú deveria ser o homem escolhido, mas não, o escolhido foi Jacó. Esaú era um homem muito melhor, era caçador e generoso, robusto e saudável, completamente diferente do bajulador Jacó, que passava o tempo em casa, sempre na barra da saia da mãe, um tipo intrigante de homem. Não obstante, foi Jacó que Deus escolheu. Os anjos não podiam entender isso; mas começaram a ver desdobrar-se o propósito de Deus, e que Deus estava dando uma ilustração do fato de que o Seu método consiste em chamar, não os justos, e sim os pecadores ao arrependimento, em tomar os piores e fazer deles os melhores. Desse modo eles tinham visto Deus revelando a Sua grande sabedoria.
Além disso, os anjos tinham visto os filhos de Israel descerem para o Egito e, finalmente, tornarem-se escravos em grande desamparo. Depois, subitamente, viram como Deus feriu Faraó e os seus exércitos no Mar Vermelho e levou de volta os filhos de Israel para Canaã, e observaram toda a história subsequente, incluindo-se o cativeiro na Babilônia. Em tudo isso eles tinham visto uma tremenda manifestação da sabedoria de Deus.
No entanto, diz o apóstolo, não foi por meio disso tudo que os anjos viram realmente a sabedoria de Deus. Antes, foi pelos resultados da mensagem confiada a Paulo, a mensagem do evangelho de Cristo, e principalmente a mensagem acerca da Igreja, que estes principados e potestades nos lugares celestiais puderam ver a multiforme sabedoria de Deus. É aí que as múltiplas facetas, o caráter variegado, a grande variedade de cores da sabedoria de Deus aparecem. Já conheciam a essência dela; mas aí está a plena florescência em sua glória. Noutras palavras, o argumento do apóstolo é que os anjos, estes principados e potestades, foram levados a ver, mediante a Igreja, que a sabedoria de Deus é maior do que imaginavam; que é mais variada, mais variegada; que nela há cores e matizes dos quais nunca tinham tido ciência. Havia nela glórias ocultas das quais eles nada sabiam, apesar de terem vivido sempre na presença de Deus. Empregando a palavra multiforme, o apóstolo nos transmite a ideia de que a luz, o brilho da luz da sabedoria de Deus, subitamente, por assim dizer, irrompera nestas diversas cores do espectro e a exibira em suas partes componentes. Os anjos tinham visto apenas o brancor; agora estão vendo todas as nuanças, todas as variedades da cor - a variegada sabedoria de Deus.
O segundo princípio é que a Igreja é o meio pelo qual a sabedoria se toma manifesta. A Igreja é uma espécie de prisma posto no caminho da luz para repartir o resplendor nas cores do espectro. Que concepção da Igreja Cristã! Sem esta os anjos podiam ver a luz, podiam ver a sabedoria em geral, mas não a admirável variedade. É através da Igreja, como um meio, que os anjos têm recebido esta nova concepção da transcendente glória da sabedoria de Deus. O que, pois, temos que captar e compreender é que a Igreja Cristã, à qual eu e você pertence¬mos é o fenômeno mais espantoso que o mundo já viu. A Igreja Cristã é mais maravilhosa do que qualquer coisa visível na natureza. Todos estamos interessados nas maravilhas da natureza; estamos dispostos a viajar quilômetros e quilômetros para vê-las. Vamos à Suíça para ver as grandes montanhas; viajamos para a América para ver o "Grand Canyon", Maravilhoso! Magnífico! Emocionante! - dizemos. A afirmação do apóstolo é que todas estas coisas empalidecem e se reduzem a uma insignificância, quando postas ao lado da Igreja Cristã, quando postas lado a lado com aqueles de nós que somos cristãos, que nos juntamos em congregações. Como membros do corpo de Cristo somos o mais maravilhoso fenômeno do universo, a coisa mais admirável que Deus fez.
Vocês não podem explicar as grandes montanhas nem os grandes fenômenos sem Deus. Não podem explicar a mais singela flor sem Ele. Lembro-me de ter ouvido a história de um homem que morava aqui em Londres e foi passar um feriado no campo, no início de setembro. Sucedeu que pôde ver uma grande lavoura de trigo maduro, pronto para a colheita. Lá estava, em todo o seu dourado esplendor, com uma brisa amena a andejar sobre ela. Quando a estava contemplando, disse a única coisa que qualquer pessoa deveria dizer ao ter visão semelhante: "Oh Deus, como foi bem feita"! Ele viu a sabedoria e a maravilha da obra das mãos de Deus. Todavia, é a Igreja, este corpo ao qual pertencemos, este corpo do qual somos partes, que é a suprema e mais alta manifes¬tação das obras das mãos de Deus.
Devemos tirar duas importantes conclusões deste ponto. Que terrí¬vel erro dos que a si mesmos chamam dispensacionalistas, dizerem que a Igreja Cristã foi apenas um dêutero-pensamento na mente de Deus, que realmente Ele nunca tivera essa intenção na eternidade, que o Senhor Jesus Cristo veio à terra para pregar o evangelho do reino aos judeus, e que foi porque eles não O receberam que Deus introduziu a Igreja como uma ideia ulterior. A maior coisa do universo, a maior manifestação da sabedoria de Deus, uma ideia ulterior! Assim é que negamos as Escrituras com as nossas teorias. Longe de ser um dêutero¬-pensamento, uma ideia ulterior, a Igreja é o brilho mais esplendente da sabedoria de Deus. É igualmente errôneo dizer que a Igreja é apenas temporária, e que virá o tempo em que ela será retirada e o evangelho do reino voltará a ser pregado aos judeus! Não existe nada acima da Igreja. Ela é a manifestação mais elevada e suprema da sabedoria de Deus; e olhar adiante, à espera de alguma coisa além da Igreja, é negar não somente este versículo, mas também é negar muitos outros versículos das Escrituras. A Igreja é a expressão final da sabedoria de Deus, a realidade que, acima de todas as demais, capacita até os anjos a compreenderem a sabedoria de Deus.

Para explicar o terceiro princípio devo expor como Deus mostra e manifesta a Sua variegada sabedoria na Igreja, por meio da Igreja e na salvação. Procuremos meditar nisto, pois este será o tema dos nossos louvores por toda a eternidade. Sobre isso diz o apóstolo Pedro, no capítulo primeiro da sua primeira Epístola: "para as quais coisas os anjos desejam bem atentar" (versículo 12). Refere-se à salvação e à Igreja Cristã. Diz uma melhor tradução que os anjos de Deus "se abaixam para vê-las por dentro". Este é o sentido real da palavra empregada por Pedro. Na glória os anjos estão olhando do céu para baixo, estão se abaixando para olhar para mim e para vocês, para olhar para a Igreja Cristã - esta manifestação da multicolorida sabedoria de Deus. Eles nunca viram nada parecido, embora tenham passado a sua eternidade na presença de Deus. Nós devemos estar olhando para ela agora com todo o nosso ser, pois daqui por diante estaremos olhando para ela por toda a eternidade, e nunca cessaremos de estar surpresos e maravilhados diante dela.
Que vemos? Pensem por um momento na maneira maravilhosa pela qual Deus resolveu o problema criado pelo pecado. Aqui é que vemos a sabedoria de Deus. O que o apóstolo está dizendo aqui refere-se, em certo sentido - e o digo com reverência - ao maior problema que Deus enfrentou. Por isso a salvação é a maior manifestação da sabedo¬ria de Deus. Para Deus não foi difícil criar a luz e o Sol; tudo que Ele disse foi: "Haja luz" e "houve luz". Vejam as grandes montanhas; não são nada para Deus! As nações são como "a gota dum balde" e como "o pó miúdo das balanças" (Isaías 40:15). Mandar uma peste, ocasionar um terremoto, não é nada para Deus. Tais coisas não são nenhum problema para Ele. Aqui está o problema - o homem em pecado! Digo com reverência, aí estava o maior problema que Deus já enfrentou e enfrentará; não há nada que o sobrepuje! Portanto, requer-se a maior sabedoria para solucionar este problema. Quem quer que pense que a salvação do homem foi uma questão simples para Deus, está simples¬mente proclamando que não conhece nem o Velho Testamento nem o Novo. Se você, amigo, imagina que o perdão é coisa simples para Deus, e que uma vez que Deus é amor Ele só tem que dizer, "Muito bem, eu o perdoo", bem que você poderia queimar a sua Bíblia. O perdão dos pecados, atrevo-me a dizer, pesou até na sabedoria de Deus. De qualquer forma, creio que estou certo quando digo que os anjos não conseguiram ver nenhuma solução para este problema. Por isso fica¬ram surpresos quando viram o que Deus fez acerca disto. Eles sabiam que alguns dos seus companheiros tinham cometido pecado, tinham sido expulsos do céu e reservados por Deus em cadeias no inferno, como Pedro nos diz no capítulo dois da sua segunda epístola. Depois assistiram também à queda de Adão e Eva. Mas não podiam imaginar o que Deus poderia fazer quanto a isso. Não viam como solucionar o problema. O problema da salvação da alma, da salvação de uma alma individual, o perdão dos pecados, é o problema mais profundo que já surgiu e poderá surgir em todo o universo, e isto para o próprio Deus.
A essência do problema está no fato de que Deus não é somente amor, e sim também justo, reto e santo. Deus é o "Pai das luzes, em quem não hã mudança nem sombra de variação" (Tiago 1:17), e não pode negar-Se a Si mesmo. Eternamente Ele é sempre o mesmo; em Sua perfeição jamais há alguma sombra de contradição. Daí o problema levantado pelo pecado. Se Deus deve perdoar o pecado, deve fazê-lo de modo que não somente manifeste o Seu amor, como igualmente manifeste a Sua justiça, a Sua retidão, a Sua santidade, a Sua verdade, a Sua glória eterna e a Sua imutabilidade. Será possível? O amor de Deus não terá que, inevitavelmente, entrar em conflito com a Sua justiça? Poderá a Sua misericórdia ser levada a compatibilizar-se com a Sua retidão? Esse é o problema; e a glória central do evangelho é que ele é a revelação do modo como a sabedoria eterna de Deus resolveu este problema.
No capítulo três da Epístola aos Romanos vemos tudo isto exposto perfeitamente e da maneira mais gloriosa por este mesmo apóstolo. O problema é: como Deus pode ser "justo e justificador daquele que tem fé em Jesus"? Como Deus pode justificar o perdão dos pecados dos filhos de Israel sob o Velho Testamento? Deus outorgou a lei; ao exercer o perdão, não estaria pondo de lado a lei? Não, afirma Paulo; Ele está estabelecendo a lei! No método de salvação que Deus planejou, Ele não a está anulando; está estabelecendo a lei. Como poderia Deus, a um só tempo, cumprir a lei e perdoar o pecador? Deus encontrou o caminho: conciliou o Seu amor, a Sua justiça, a Sua misericórdia e a Sua compaixão. Estes formam uma unidade e devem ser vistos reful¬gindo juntos. O salmista que escreveu o Salmo 85 (versículo 10) teve uma antevisão disto. Não podia compreendê-lo, mas disse: "A miseri¬córdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram".

Ó Deus, quão amável Tua sabedoria
Quando pecado e opróbrio só havia,
veio um segundo Adão para o combate
e para o mais completo resgate.

Vocês são capazes de ver que nada, senão a eterna sabedoria de Deus poderia habilitá-lO a fazer isto e continuar sendo Deus, inalterado e fulgindo em todas as direções com a mesma glória e a mesma perfeição? Não conheço nada que seja mais comovente do que meditar nesse mistério. Privaremos a Deus de Sua glória se imaginarmos que o perdão e a salvação são simples e fáceis. Eles constituíam um problema na mente do Eterno. Eles frustraram os anjos. Só Deus podia resolver o problema.
Esse era o problema visto de modo geral, mas agora vamos examiná¬-lo pormenorizadamente. A fim de solucionar o problema, Deus enviou o Seu próprio Filho ao mundo. Como redimir a humanidade decaída? Disse Deus: "Enviarei meu Filho ao mundo de pecado e vergonha. Ele assumirá a humanidade e a elevará." Quem poderia ter pensado em tal coisa? Os anjos nunca imaginaram que a segunda pessoa da Trindade bendita e santa, que é substância da substância eterna, o Filho unigênito, gerado do coração do Pai, iria humilhar-Se e nascer como um bebê em Belém e viver como um homem. E quando viram isto, ficaram maravilhados. Viram aí a sabedoria de Deus a manifestar-se em facetas e ângulos que nunca tinham penetrado suas mentes. Depois ficaram observando o Filho vivendo como homem entre os homens, "nascido sob a lei", e dando perfeita obediência a ela. Podemos imaginar os seus pensamentos e os seus sentimentos quando O viam - a Ele, o esplendor e refulgência da glória do Pai - trabalhando como carpin¬teiro na oficina do seu pai em Nazaré?
Vejam ainda outro aspecto desta admirável sabedoria de Deus. O Pai não enviou Seu Filho para nascer num palácio, e sim numa manjedoura. Ah, a sabedoria de Deus! Quem jamais poderia ter esperado tal coisa? Mas podemos ver o propósito brilhando através disso tudo. Se Ele não Se submetesse à pobreza, à necessidade e a condições inferiores, não poderia soerguer os de condição mais baixa. Nós, com a nossa sabedoria, teríamos agido de maneira a mais espetacular, não teríamos? Contudo, Deus age desta maneira essenci¬almente simples, por meio de um bebê e de tudo quanto se Lhe seguiu.
Ainda mais, quando os anjos O viram na cruz devem ter ficado perplexos com o que estava acontecendo. Parecia a hora da vitória do inferno, do diabo e do mundo, no que este tem de pior. Não foi assim, porém. O que estava acontecendo ali, Paulo o diz em sua Epístola aos Colossenses, capítulo 2, era que, na cruz, e por Sua morte ali, o Senhor estava expondo todos os poderes contrários a Ele "à vergonha pública, e deles triunfando em si mesmo". Deus os estivera usando, na inteligên¬cia deles, para fazer cumprirem-se os Seus grandes e gloriosos propó¬sitos; pois na cruz Deus estava fazendo de Seu Filho Aquele que leva o nosso pecado. Estava pondo os nossos pecados sobre Ele, dando-lhes o tratamento devido. Deus os estava punindo; portanto, Deus continua sendo justo e reto porque o pecado é punido e a lei é cumprida. O nosso Senhor cumpriu perfeitamente a lei, e no madeiro sofreu por nós a penalidade por ela imposta. A lei foi honrada em todas as suas peculiaridades, e Cristo a estava estabelecendo. Mas ao mesmo tempo Deus estava abrindo um caminho para o perdão dos nossos pecados. Essa é a sabedoria de Deus.
Assim podemos prosseguir, desenvolvendo o ponto em todas as minúcias e, ao fazê-lo, compreenderemos cada vez mais o que o apóstolo tinha em mente quando, escrevendo a sua Primeira Epistola a Timóteo, disse: "E sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Aquele que se manifestou em carne, foi justificado em espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, e recebido acima na glória" (3:16). Estivemos expondo o significado da frase "visto dos anjos". Eles estavam observando isso tudo, e se maravilhavam. Entretanto deram-se conta de que esta é a sabedoria de Deus, que eles julgavam conhecer.

O resultado de tudo isso é que temos o direito de dizer que a Igreja remida é a suprema e final manifestação da sabedoria de Deus. Vimos como Ele conciliou os Seus atributos; porém, ao mesmo tempo e de maneira extraordinária, Ele efetuou o que particularmente está na mente do apóstolo nesta altura, a saber, Ele reuniu o judeu e o gentio. Isto é espantoso! O judeu e o gentio pareciam desesperadamente irreconciliáveis. Eram inteiramente diferentes, e inimigos tradicionais, com todas as suas tradições em antagonismo. Os anjos tinham visto o mundo dividido em judeus e gentios, e tinham meditado no problema aparentemente insolúvel. Eles observaram as fúteis tentativas feitas pelos maiores filósofos de resolvê-lo quando escreviam, e ainda escrevem, sobre as suas utopias. Parecia não haver solução. Mas agora eles vêem a solução concretizando-se na Igreja. O judeu e o gentio são reunidos na Igreja, não em tréguas temporárias, não mediante a colocação de uma espécie de tropa entre eles para impedi-los de aproximar-se e matar-se uns aos outros; não pelo uso de alguma ação policial. Não; eles foram feitos um, foram feitos co-membros de um só corpo.
No entanto, vemos a sabedoria de Deus mais claramente ainda na maneira pela qual Ele o fez. Ele não apenas tomou os dois como eram e os juntou de algum modo. Primeiro Ele tomou o judeu e o humilhou ate o pó. Depois tomou o gentio e fez a mesma coisa com ele. Fez ver a ambos que eles são pecadores, que não há "nenhum justo, nem um sequer". O judeu, vendo-se como ele é aos olhos de Deus, não tem nada do que se orgulhar; nem o gentio. Vemos ambas as partes lambendo o pó e vendo o seu inenarrável desespero e desamparo, e ao mesmo tempo vendo que são idênticas, que não há diferença nenhuma entre elas. Depois, tendo-os abatido a ambos, Deus os levanta, mas não simplesmente como eram; faz de um e do outro novos homens. O judeu já não é um judeu como tal, e o gentio não é mais gentio; cada qual é um novo homem em Cristo Jesus. Segundo a carne ainda são judeu e gentio, porém isso é esquecido em Cristo. Como novos homens, novas criaturas, eles são idênticos, são ambos membros do mesmo corpo, entrelaçados como juntas de um mesmo corpo. Esta é a sabedoria de Deus!
Tornem a pensar na variedade de maneiras pelas quais Deus faz todas estas coisas, maneiras pelas quais Ele nos trata a todos individu¬almente. Um Saulo de Tarso tem que ser lançado ao solo na estrada de Damasco, e o Senhor ressurreto lhe aparece. O coração de Lídia é aberto serenamente. Um terremoto é utilizado para salvar o carcereiro de Filipos. Não têm fim as variações nas experiências pessoais, e cada uma delas oferece mais um vislumbre da sabedoria de Deus, que apresenta tantas facetas. Ele conhece a cada um de nós individualmen¬te, e sabe qual o tratamento exato de que necessitamos.
Depois considerem o acerto do tempo, o modo como Deus marca o tempo para todas estas coisas. Vejam o Velho Testamento. Ali vemos o povo de Deus clamando e perguntando: "Até quando, Senhor? Por que não vens, por que não envias o Messias?" Mas Deus O enviou na "plenitude dos tempos". Foi depois de ter dado aos filhos de Israel tempo suficiente para verem que a lei, a mera posse da lei, não podia salvá-los. Eles acreditavam que ela podia fazê-lo; assim, Ele lhes deu tempo suficiente para se convencerem completamente de que não podia. Ao mesmo tempo Deus deu aos filósofos gregos tempo sufici¬ente para verem que a filosofia deles também não podia salvar o mundo. Se Deus enviasse Cristo antes de acontecerem estas duas coisas, muitos poderiam continuar pensando que se a filosofia simplesmente tivesse tido mais demorada oportunidade, teria tido sucesso. Assim Deus permitiu que Sócrates, Platão, Aristóteles e todos os demais viessem, ensinassem, estabelecessem as suas escolas e conquistassem os seus seguidores - tudo para não chegarem a coisa nenhuma. Então, havendo provado fora de toda dúvida que nada poderia solucionar o problema do homem em pecado, Ele o fez a Seu modo. Dessa maneira fulge a Sua gloriosa sabedoria.
E quando acompanhamos a subsequente história da Igreja, encon¬tramos evidências da mesma sabedoria eterna. Quantas vezes os homens pensaram que a Igreja tinha declinado e chegado ao fim! Quantas vezes riram dela, ridicularizaram-na e quase a sepultaram! Mas quando estavam prestes a colocá-la no túmulo e a fazer as orações funerais, eis repentina ressurreição, repentino avivamento! E assim Deus confunde os Seus inimigos e põe à mostra a Sua sabedoria. Assim podemos dizer a Deus com o salmista que "a cólera do homem redundará em teu louvor" (Salmo 76:10). Vocês percebem que pela presente manifestação da ira do homem no século vinte Deus está manifestando a Sua sabedoria? O fim de toda esta confusão moderna, como o de todos os acontecimentos similares do passado, virá a ser que "a cólera do homem redundará em louvor de Deus". "Os seus propó¬sitos depressa amadurecerão." O homem jamais os pode deter ou frustrar. O que Deus planejou, é mais que certo que realizará.
Eis a pergunta que nos vem: estamos nós manifestando esta sabe¬doria de Deus? É por meio da Igreja que Deus a mostra. Ela está sendo vista em nós? Somos refletores, em nossa pequenez, deste esplendente brilho da sabedoria eterna? Vocês estão nalgum lugar do espectro? A luz está sendo refletida por meio de vocês? Deus nos perdoe, se estamos falhando. A maneira do cristão brilhar consiste em meditar nestas coisas, contemplá-las, compreender a verdade sobre si mesmo como parte da Igreja. Depois, continue meditando nisso, e dedique-se ao Senhor diariamente. Aí a luz brilhará por meio dele numa das suas variegadas cores, e os anjos ficarão maravilhados com o que irão ver nele. Foi o nosso bendito Senhor que disse que "há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende" (Lucas 15:10).

É tudo mistério! O imortal morre!
Quem pode sondar Seu estranho desígnio?
Em vão o primeiro serafim tenta
ir às profundezas do amor divino!
Tudo é misericórdia, a terra O adore;
e as mentes dos anjos não mais inquiram.

(Charles Wesley)

(Charles Wesley)

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

CONTINUAÇÃO DO ESTUDO DAS JORNADAS, CAPÍTULO 94

AS 42 JORNADAS NO DESERTO

Por: Luiz Fontes

CAPÍTULO 94

TEXTO: Números 16:8-11 – 19ª estação – Queelata

Em Números capítulo 16, versículos de 8 a 16, diz assim:

8 Disse mais Moisés a Corá: Ouvi agora, filhos de Levi: 9 acaso, é para vós outros coisa de somenos que o Deus de Israel vos separou da congregação de Israel, para vos fazer chegar a si, a fim de cumprirdes o serviço do tabernáculo do SENHOR e estardes perante a congregação para ministrar-lhe; 10 e te fez chegar, Corá, e todos os teus irmãos, os filhos de Levi, contigo? Ainda também procurais o sacerdócio? 11 Pelo que tu e todo o teu grupo juntos estais contra o SENHOR; e Arão, que é ele para que murmureis contra ele?

Vamos continuar estudando sobre esse assunto. Aqui nós vemos pessoas aspirando poder. Aqui nós vemos nesta estação de Queelata pessoas buscando ter preeminência, sobrepujar aos outros, que não se contentam com o lugar aonde foram colocados por Deus, sempre querem mais. Creio que o oposto disso nós podemos encontrar na Palavra de Deus, em que eu creio ser o caminho de Deus ao qual Ele está nos conduzindo. É compreender o verdadeiro significado da obscuridade e da fragilidade por onde Deus tem se movido.
Há um texto onde nós vamos ler no N.T., em Apocalipse, capítulo 2:13, um texto referente à Igreja de Pérgamo. Quando estudamos os capítulos 2 e 3 de Apocalipse veremos que ali estão sete cartas ás igrejas da Ásia. E a terceira igreja é a Igreja de Pérgamo. Em Apocalipse 2:13, referente a essa carta diz assim:

“Conheço o lugar em que habitas, onde está o trono de Satanás, (autoridade e governo) e que conservas o meu nome e não negaste a minha fé...”

O Senhor está falando à Igreja de Pérgamo. Espiritualmente falando Pérgamo significa o mundo, o mundanismo. Ai o Senhor diz:

“... ainda nos dias de Antipas, minha testemunha, meu fiel, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita.”

Gostaria de falar um pouco sobre isso. Aqui o Senhor vai nos mostrar alguns aspectos espirituais desse obscuro servo de Deus. Porque enquanto vemos Datã, Coré e Abirão tentarem promoção, usurpar uma posição a qual Deus não lhes havia confiado. Enquanto muitas pessoas são assim. Pessoas que vivem em busca de poder, em função de serem reconhecidas, notadas, sempre alimentadas pelo sucesso, que nunca se contentam com a posição que tem no Corpo de Cristo, sempre almejam mais. Nós vemos aqui um exemplo tão maravilhoso de um homem chamado Antipas. Eu queria falar um pouco sobre ele. Veja que aqui na Igreja de Pérgamo, o Senhor reconhece a dificuldade da situação espiritual desta igreja. Aqui o Senhor diz que esta igreja habita no mesmo lugar onde está o trono, o governo de Satanás. Por isso a e Igreja de Pérgamo teve dificuldade em manter o testemunho do Senhor. Mas aqui em Pérgamo, como vimos na leitura, há uma pessoa que é muito especial, é Antipas. O Senhor diz que este Antipas é uma testemunha fiel. Amados, não encontramos o nome de Antipas na história da Igreja. Portanto, desde que isso é uma profecia nós precisamos descobrir o significado do nome de Antipas. Porque esse nome traz um significado profético em si. E isso tem que ser extremamente importante para nós. Porque o nome Antipas vem de dois vocábulos: Anti que significa contra e Pás que significa tudo. Então Antipas esse homem fiel, é contra tudo que se opõe ao testemunho de Deus. Isto não quer dizer que ele intencionalmente criava problemas em Pérgamo, que não se importava com a situação, mas que ele era alguém que se posicionava ao lado de Deus para opor-se a todas as coisas que feria o caráter do testemunho da Obra de Deus. Embora não encontramos o nome Antipas nos relatos da história da Igreja, mas Deus conhece o nome de Antipas. Vejo que isso de um modo estritamente espiritual nos fala do ministério da obscuridade. Antipas nos fala daqueles que se opõem ao mundanismo na Igreja, mas também por outro lado nos mostra o verdadeiro sentido da obscuridade no serviço a Deus. Aquilo que glorifica a Deus e não os homens. Outros homens de Deus aparecem na Bíblia sem ao menos nós sabermos sua procedência, sua formação. Esses não são apenas os escolhidos de Deus, são os escondidos de Deus. Há homens e mulheres que surgiram na história do povo de Deus que não tivera a autenticidade da aprovação do homem. Pessoas que permitiram ser usadas por Deus com um único propósito – que Deus tivesse completa primazia e glória. Essa é a glória do viver do ministério da obscuridade, isto é, que deus tenha preeminência e glória.
Core, Datã e Abirão estavam preocupados com a posição deles diante das pessoas. Eles queriam posição, não queria a função, a unção, eles queriam posição. É interessante notar que esses personagens que a Bíblia não menciona, seus nomes aparece na história do povo de Deus. Nós podemos ver alguns, como por exemplo, em 1 Samuel 2:27-33, quando a Bíblia diz um homem de Deus e não menciona o seu nome. Ele veio a Eli e proferiu uma palavra dura, uma profecia contra Eli, contra sua casa. Porque Eli havia se tronado um sacerdote complacente com os pecados dos seus filhos. Um homem que estava realizando relaxadamente a Obra de Deus. Mas veio um profeta de Deus, um homem de Deus. Lá em 1 Samuel 2:27-33, a Bíblia não menciona o seu nome.
Depois podemos ver também em 1 Reis 13:1-9, outro homem de Deus que foi até Jeroboão. Porque Jeroboão estava cheio de motivações erradas, e foi daí que surgiu o paganismo entre os reis em Israel. Foi ai que nós vemos a perversidade idólatra tendo suas raízes. Mas veio um homem de Deus a Jeroboão e profetiza duramente contra ele, sua casa e a sua descendência. Qual o nome deste profeta? Também a Bíblia não menciona.
Em 2 Reis 5:2,3, quando as tropas da Assíria invadiram as tropas de Israel e levaram vários cativos, e entre esses cativos havia uma menina. E essa menina ficou ao serviço da mulher de Naamã. E um dia ela vendo aquele homem leproso, ele dissera: “tomara meu senhor estivesse diante do profeta de Deus que está em Samariaer, ele o restauraria da sua lepra?”. Aquela menina, qual o nome dela? Também não sabemos.
No Novo Testamento, em 2 Co 8:18, diz assim:

“E, com ele, enviamos o irmão cujo louvor no evangelho está espalhado por todas as igrejas”.

Havia um irmão que tinha um testemunho espalhado por todas as igrejas. Mas qual o nome dele? Nós não sabemos. Retornando para Rm 16:23, nas saudações finais de Paulo aos irmãos de Roma ele diz:

“Saúda-vos Gaio, meu hospedeiro e de toda a igreja. Saúda-vos Erasto, tesoureiro da cidade, e o irmão Quarto”.

Alguns grandes eruditos eles dizem que este irmãos Quarto talvez fosse um escravo e ele não tivesse nome. Então aqui nós podemos ver algo muito extraordinário. Amados é isso o que significa esse extraordinário ministério da obscuridade. Antipas é alguém que não está preocupado com popularidade, está preocupado com o testemunho de Deus, é alguém que está na linha da edificação de Deus, alguém que está preocupado e inquietado com a situação da Igreja do Senhor Jesus em relação ao mundo e o mundanismo. Assim também devemos ser nós. Nós não vivemos para nós, vivemos para a glória de Deus. Nós vivemos para que o testemunho de Deus seja visto. É isso que eu chamo ministério da obscuridade.
Nós podemos ver outro exemplo ainda em Jr 35:2-18, nós temos a história dos recabitas. Os recabitas eram um povo nômade, habitavam em tendas. O trabalho deles era com metais fabricavam carroças e outros armamentos de guerra. Uma particularidade dos recabitas é que eles formavam um grupo pequeno e voltado para si. A vida deles era caracterizada pelo ascetismo e pela disciplina. A vida dos recabitas era um protesto contra a decadência da civilização em relação a religião, a moralidade, e a fertilidade das comunidades agrícolas daquele tempo. É isso que veremos sobre os recabitas. A história dos recabitas retrocedia do tempo de Jeremias a 200 anos atrás. Iniciando com Jonadabe filho de Recabe nos dias do rei Jeú. E eles eram reconhecidos pela vida disciplinada e pala firme obediência ao mandamento dados pelos seus ancestrais. Vamos ler Jr 35:8-10, quando diz assim:

8 - Obedecemos, pois, à voz de Jonadabe, filho de Recabe, nosso pai, em tudo quanto nos ordenou; de maneira que não bebemos vinho em todos os nossos dias, nem nós, nem nossas mulheres, nem nossos filhos, nem nossas filhas; 9 - nem edificamos casas para nossa habitação; não temos vinha, nem campo, nem semente. 10 - Mas habitamos em tendas, e, assim, obedecemos, e tudo fizemos segundo nos ordenou Jonadabe, nosso pai.

Interessante isso. Aqui nós temos que aprender duas lições: primeiro a crise espiritual que Jerusalém estava vivendo. Havia entre eles um povo que não vivia de acordo com os padrões das massas. Então a primeira lição que aprendemos aqui é que os recabitas tinham uma singular identidade, eram uma prova incontestável de que era possível viver uma vida persistentemente fora dos padrões das massas, não sendo levado pelos modismos da sociedade. Nessa primeira lição nós podemos aprender que é possível sustentar o testemunho de Cristo a despeito daquilo que as massas do indiferentismo religioso possa nos fazer. Eles não viviam baseado nas experiências dos outros, eles viviam sustentados pelas tradições dos seus ancestrais.
A segunda lição que nós podemos aprender aqui é que o viver dos recabitas não foi forjado por instáveis condições históricas, mas por séculos de devoção. Os recabitas não permitiram que a voz da multidão os transformasse em meros espectadores e consumidores religiosos. Eles eram uma comunidade voltada uns para os outros. isso é muito importante para nós.
Quando estudamos a história de homens e mulheres de Deus que viviam na obscuridade do serviço a Deus, podemos ver claramente que a resposta de Deus para o poder diabólico que governa o mundo e destrói as pessoas é o ministério da obscuridade, é a fragilidade humana. Pessoas que são despojadas das suas forças naturais, pessoas completamente carentes e dependentes de Deus. Vejamos o exemplo do Senhor Jesus Cristo. Nele vemos que o nosso Pai celeste escolheu fazer parte da nossa história pelo caminho da fragilidade humana. Aqui está a centralidade da nossa espiritualidade e fé. Deus em Cristo se fez homem para desmascarar o poder e a ilusão de uma religião morta, fria que perdurava naquele tempo. Todas aquelas máscaras que eles usavam dizendo sustentar o testemunho de Deus foram colocadas por terra à medida que o Senhor Jesus estava pregando o Evangelho do reino. Por incrível que pareça temos sido engolfados por um orgulho espiritual que nos condiciona a buscar o poder. Como o fizera Datã, Coré e Abirão. É como muitos têm feito.
Amados temos que lembrar que o poder mais insidioso e ofensivo que existiu e existe na história da humanidade – é o poder usado em nome de Deus. O Senhor Jesus quando se fez carne manifestou em fraqueza humana a essência desse poder divino encarnado. Veja lá em Jo 14:8 e 9, que diz:

8 - Replicou-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta. 9 - Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?

Na humanidade de Cristo estava plena e absolutamente a mais sublime manifestação da divindade de Deus. Paulo escrevendo aos irmãos em Colossenses 2:9 da sua Epístola ele disse assim:

“porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade”.

A grande lição que temos que aprender com estes dois textos é que a Bíblia em primeira instância nos convida a crer em Cristo antes de crer para a salvação. A principal mensagem da Bíblia é com o encontro da Pessoa bendita do Senhor Jesus. A fragilidade da vida humana do Senhor Jesus nos abre o caminho para o coração de Deus. Nosso mundo é governado pelos perversos poderes diabólicos que visam nos dividir, nos destruir. Mas através desse ministério da obscuridade, aquilo que Paulo chama em 1 Tm 3:16 de “o mistério da piedade”. O Senhor Jesus em sua fragilidade humana confrontou e derrotou todos os poderes do inferno. Hoje nós somos confrontados com esse mistério da piedade. Como podemos sustentar o testemunho da vida da Igreja e do Senhor Jesus saturados dessa fragilidade? Como nós podemos vencer os poderes das trevas em nossa própria fragilidade? Porque hoje esse tipo de evangelho da prosperidade tem ensinado para as pessoas algo completamente contrário ao caráter do Evangelho que Jesus e os Apóstolos viveram e pregaram. Nós precisamos extrair algumas lições, pois só assim poderemos ter resposta para essas questões. Primeiro temos que olhar para a fragilidade, não como fragilidade mundana que permite que sejamos dominados pelo sistema que opera no mundo. Esse sistema que nos manipula. Mas completamente dependente de Deus. O reino dos céus prometido pelo Senhor Jesus em Mt 5, é para os humildes de espírito.
A segunda lição é que essa teologia da fragilidade nos revela a indignação de Deus quando olha para o homem e vê que o homem busca o poder para poder sobrepujar os outros. a grande indignação de Deus é que o homem procura sempre sobressair. A busca pelo poder tem sido a mais extrema característica da ansiedade do homem. Por isso Deus despoja o homem da sua arrogância e do seu poder. Não foi isso que Ele fez com Saulo de Tarso? Estava montado no seu poder, na sua força, munido de cartas das autoridades religiosas para perseguir a Igreja do Senhor. Deus o despojou e mostrou para ele qual o verdadeiro caminho do poder.
A terceira lição que nós precisamos aprender a teologia da fragilidade nos revela como Deus desmascara a obseção pelo poder na Sua igreja e no mundo, quando Ele na Pessoa do seu Bendito Filho e completa debilidade e fragilidade humana, como o bebê que nasceu numa manjedoura, desfazendo das suas insígnias celestes, se revelou em amor e graça. Por isso somente o amor e a graça são os instrumentos de Deus para despedaçar toda a cobiça e toda obseção pelo poder.
Quarta lição - a teologia da fragilidade nos capacita a desfrutar o poder divino. Esse é o único poder capaz de destronizar a cobiça, o orgulho e a obseção e manifestar o reino de Deus.
A quinta lição - o Evangelho de Cristo nos apresenta uma Pessoa que nos convida a sair dos domínios do poder tirânico das forças humanas e viver sobre o controle e o poder que advêm da nossa própria fraqueza. Quando nós permitimos ser levados ao fim de nós mesmos para poder experimentar o verdadeiro poder de Deus. Somente esse poder é capaz de nos fazer simples como a pomba e prudentes como a serpente. Em 2 Co 12:9, Deus diz a Paulo:

“Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza...”

A essa estupenda verdade Paulo escreveu:

“... De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo”.

E assim ele prossegue no versículo 10:

“Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte.”

Esse é o cristianismo o qual nós fomos chamados a viver. Este é o Evangelho que destroniza a teologia de Datã, Coré e Abirão. Que Deus através desta Palavra fale ao nosso coração.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

"A MULTIFORME SABEDORIA DE DEUS"

ESTUDO DA EPÍSTOLA AOS EFÉSIOS - EFÉSIOS 3

Por: M. D. Lloyd Jones

"E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou; para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus, segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor." Efésios 3:9-11

Com estas palavras, como a palavra “E” indica, o apóstolo dá conti¬nuidade ao tema sobre a tarefa do ministério cristão, de tornar conhe¬cida a mensagem do evangelho. Até aqui ele esteve tratando dos benefícios pessoais particulares, individuais, que todos nós podemos auferir se cremos no Senhor Jesus Cristo e em Seu evangelho. Mas a mensagem não pára nesse ponto. Paulo continua: "E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou". Noutras palavras, a mensagem cristã e a salvação cristã não são unicamente pessoais. O evangelho é pessoal, e sempre começa com o pessoal; porém vai além do pessoal e do individual, abrangendo algo maior e mais amplo. Este amplo propósito é alcançado, como veremos, por meio do pessoal; todavia é importante para nós que compreendamos que o evangelho de Jesus Cristo, além e acima do que nos dá a título de salvação pessoal, tem também um âmbito maior, um escopo mais amplo. Para isto o apóstolo chama a atenção dos efésios nestes três versículos.
O evangelho sempre tem que ser pregado num mundo de problemas e sofrimentos, de guerras e derramamento de sangue, mundo em que as pessoas vivem perplexas e levantando questões. A questão mais comum que o mundo apresenta à Igreja é: que é que o cristianismo tem para dizer sobre a situação mundial? Que é que o cristianismo tem para dizer acerca de todos os problemas que confrontam a humanidade de maneira tão aguda na época atual? O cristianismo oferece alguma esperança? Tem ele alguma luz para dar-nos na situação, na angustiosa situação em que nos encontramos? Estas questões são perfeitamente legítimas e justas; na verdade, devemos incentivar as pessoas a fazê-las mais e mais, pois nestes três versículos temos a inspirada resposta do apóstolo precisamente a estas questões. Nada é mais relevante para a situação da hora presente do que a declaração que temos diante de nós. De fato não há questão que possa ocorrer a qualquer homem, que não seja respondida de maneira completa e final nalgum lugar das Escritu¬ras Sagradas. Assim, que é que o cristianismo tem para dizer a respeito do mundo? Há alguma esperança de paz duradoura? Poderá esta mensagem, de um modo ou de outro, estabelecer a concórdia e a amizade entre as nações e entre os homens, que os homens do mundo inteiro dizem esperar e desejar? Em resposta só temos que mostrar e expor o que o apóstolo diz nestes três versículos. Ao fazê-lo, lembremo¬-nos de que isto não é uma opinião do apóstolo Paulo, mas lhe foi "dado", foi-lhe "revelado". Não é sua filosofia pessoal, no entanto é o que o Senhor Jesus Cristo lhe comunicou. Noutras palavras, vamos considerar a resposta de Deus às questões e problemas que afligem a humanidade no presente.

A primeira coisa que o apóstolo diz é que há muita obscuridade com respeito a todo este assunto. Diz ele: "E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério". A palavra ver (que aparece na Versão Autorizada), devo assinalar, não traduz adequadamente a palavra que o apóstolo empregou e que significa "iluminar", "infundir luz", "der¬ramar luz sobre" (Almeida: "demonstrar"). Uma parte da sua vocação, diz ele, é iluminar as mentes dos homens com relação a este problema - sendo a implicação, como já disse, que há grande escuridão nas mentes dos homens quanto a isso tudo.
Se os homens e as mulheres fossem sinceros, estariam prontos a confessar a sua ignorância. Para vocês estaria claro o que está aconte¬cendo no mundo? A situação atual enquadra-se em sua filosofia e em suas idéias quanto à vida, à história e ao homem? Quando leio periódicos, livros e jornais parece-me haver densas trevas e terrível confusão. Naturalmente há muitas teorias que ainda estão sendo propostas, como sempre o foram, teorias que tentam explicar o curso da história e o que está acontecendo no mundo. Há alguns que dizem - e talvez esta seja a teoria mais popular no momento, porque por trás está o nome do professor Arnold Toynbee - que todo o processo da história é, num sentido, mera questão de ciclos. Um grande poder se levanta, mas o próprio fato de que se levanta significa que ele estimula aqueles que ele tende a manter por baixo e a oprimir, a se levantarem contra ele. Não só isso, mas, visto que chegou a uma posição de supremacia, ele tende a afrouxar os seus esforços, de modo que há uma espécie de semente de decadência em sua grandeza e em sua glória. Assim, como a sua tendência é decair, outros poderes, estimulados pelo declínio daquele, tendem a elevar-se; e vem o tempo em que aquele grande poder é sobrepujado por estes outros poderes. Aquele cai, estes se levantam; porém estes, por sua vez, ao levantar-se, acabam provo¬cando outros a levantar-se contra eles, e assim se repete todo o processo. Essa, diz Toynbee, é a explicação da história - levantamen¬to e queda; não há nenhum progresso real; os homens simplesmente ficam girando e girando em círculos. Se olharmos para a história superficialmente, parecerá haver muita coisa em favor dessa idéia. Muitos grandes impérios, nações e reinos se levantaram, cresceram, tornaram-se poderosos, e depois se enfraqueceram; e o mundo ainda parece ser muito parecido com o que já foi.
Outro grande historiador, o finado sr. H. A. L. Fisher, dizia com toda a honestidade e franqueza que, depois de passar a vida toda estudando a história, chegara à conclusão solene e simples de que não se encontra nenhum propósito na história. Nela, diz ele, parece que não há finali¬dade ou propósito, não há nela objetivo de nenhuma espécie. Muitos concordam de todo o coração com o seu profundo pessimismo quanto à vida e à história. As coisas simplesmente acontecem, e ninguém sabe por que ou por qual razão.
Outro grupo, não tão propalado como outrora, consiste dos otimis¬tas e humanistas, assim chamados. Eram pessoas que falavam aos brados e vociferavam no fim da era vitoriana e no período de Eduardo VII. Um dos sinais mais seguros do entendimento cristão é o que vemos através da loucura total do vitorianismo e do eduardianismo, com o seu otimismo completamente falso. Eles criam que o mundo ia adiantar-se, desenvolver-se e progredir inevitavelmente. Com Tennyson eles ento¬avam cânticos sobre a vinda do "Parlamento do homem" e da "Fede¬ração do mundo". Esperava-se que o século vinte seria maravilhoso, como resultado do conhecimento secular, especialmente do conheci¬mento cientifico, da educação e da cultura. Quanto à Bíblia, eles se apegavam ao ensino ético, moral do Senhor Jesus no Sermão do Monte. Mas, naturalmente, eles eram inteligentes demais, eram demasiado científicos, para acreditarem em milagres e no sobrenatural. Se ensi¬nássemos a todos a "ética de Jesus", todos os homens se abraçariam e seriam amigos uns dos outros, e nunca mais haveria guerra. Não ouvimos falar muito disso agora, e certamente não é de admirar. Havendo nós experimentado os horrores das duas guerras mundiais, e à luz do que está acontecendo no mundo nos dias atuais, há pouca evidência que sugira termos chegado à idade de ouro em que os homens, tendo conseguido a sanidade pela educação, transformam as suas espadas em arados. As evidências apontam para uma conclusão quase oposta. O louco e insulso otimismo dos períodos vitoriano e eduardiano, que se prolongaram até 1914, e que alguns tentaram fazer reviver mesmo depois de 1918, apresentam um aspecto deveras patético hoje.
O fato é, digo eu, que a humanidade está realmente às escuras sobre a situação mundial em geral. A despeito de todo o pensar dos maiores pensadores, e de todas as tentativas de elaboração de um plano ou esquema quanto à história, e de oferecer uma esperança quanto ao futuro, não há nada senão trevas. Na verdade, intelectualmente falando, a presente situação é precisamente aquela que foi descrita repetidamen¬te pelo escritor do livro de Eclesiastes: "Vaidade de vaidades! é tudo vaidade". Ou, como Paulo descreve a situação dos gentios, no capítulo 2 de Efésios: "Sem esperança". Esta é a situação do mundo na hora presente. Densas trevas!
As grandes novas do evangelho, diz Paulo, consistem em que, apesar das trevas, a luz está disponível, porém unicamente no evange¬lho. Ele foi chamado, não somente para pregar "as insondáveis riquezas de Cristo" num sentido pessoal, e sim para fazer que todos os homens pudessem ver. Sua missão era esclarecer, iluminar, lançar luz sobre a situação mundial. Há luz! Esta é a reivindicação da Bíblia em geral e do evangelho em particular. Diz-nos o apóstolo que lhe fora dado este grande e elevado privilégio de manter esta luz perante os gentios, perante todos os homens, para propiciar-lhes entendimento e discernimento do que estava acontecendo e do que ia acontecer no mundo deles. Esta era a reivindicação do próprio Senhor Jesus Cristo. Disse Ele: "Eu sou a luz do mundo", e proferiu as palavras de tal maneira que significam, "Eu, e somente eu, sou a luz do mundo". Vocês jamais obterão esta luz dos seus estadistas, nem dos seus filósofos, nem dos seus sociólogos, nem dos seus humanistas,nem dos seus hedonistas. Não há luz em parte alguma, exceto aqui, no Senhor Jesus Cristo. Ai está por que a Igreja Cristã ocupa nesta hora uma posição tão importan¬te e singular. Ela e a única corporação que tem uma mensagem capaz de oferecer luz às pessoas; ela é chamada para iluminar.
Eis a luz que o apóstolo recebera para dar a todos os homens: "Fazer que todos os homens vejam qual é a comunhão do mistério" (AV). "Comunhão" é uma tradução infeliz; realmente significa "plano" do mistério, ou "administração" do mistério, ou "mordomia" (ou "dispensaçâo", Almeida) do mistério, ou "concretização" do mistério. Este é o plano de Deus para as eras. Paulo repete a afirmação no versículo 11: "Segundo o eterno propósito", o propósito das eras, "que fez em Cristo" - o qual já começara a pôr em execução - "em Cristo Jesus nosso Senhor".
Como uma parte da fé cristã, isto é absolutamente fundamental. Deus tem um plano, um propósito, um grande esquema para a totalida¬de da vida neste mundo, e para o homem. A Bíblia é a grande revelação desse plano e propósito. Há tolos e ignorantes que afirmam que a Bíblia é abstrata, e que eles querem algo prático. Assim, vão em busca do seu jornal ou de algum outro meio de informação. Voltam-se para os historiadores e filósofos. Acaso encontram o que procuram? Se querem algo prático, devem ir à Bíblia. O tema geral deste Livro, a sua grande e única mensagem, é dar aos homens entendimento da vida neste mundo - o que há quanto a ela e o que vai ser dela. Portanto, isto vem a ser um teste muito bom, para ver se somos cristãos de verdade. Porventura conhecemos o plano de Deus para este mundo? Isso faz parte do conhecimento cristão. Os cristãos devem ter uma compreen¬são única da situação do mundo neste momento; se não a têm, são muito pobres, e são cristãos muito ignorantes. Demoramos demais nas bênçãos pessoais, e passamos nosso tempo tomando nosso pulso espiritual e nos mimando espiritualmente. Contudo, se queremos ajudar outros, devemos ir além. Precisamos ter uma compreensão do plano de Deus para o cosmos em geral, se é que desejamos tirar estas densas trevas das mentes das pessoas na hora presente.

A segunda coisa que o apóstolo diz é que este plano estava na mente de Deus antes do início do tempo. Ele escreve: "E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos"- ou "desde o princípio das eras" - "esteve oculto em Deus". Deus o manteve oculto até quando Cristo veio e começou a revelá-lo; até então, através dos séculos e das eras, esteve oculto na mente de Deus. Entretanto estava lá! Esta é a grande verdade que precisamos captar. Graças a Deus por isso! A história não saiu das mãos de Deus. A primeira coisa necessária a ser compreendida é que Deus não depende do fluxo do tempo. Ele não está sujeito às mudanças da política das nações, às mentiras e à desonestidade. Está inteiramente acima disso tudo. Ele habita na eternidade. Ele olha sobranceiramente o tempo e o mundo, mas não lhes está sujeito. Seguramente, o fato mais consolador que se pode descobrir num tempo como este é que o plano de Deus foi projetado perfeito e completo antes de criar-se o mundo, antes de iniciar-se o processo do tempo. Ele subsiste independentemente de tudo quanto acontece; e é indubitavelmente certo. Nada é contingente no que se refere ao plano de Deus. Deus nunca teve que improvisá-lo ou que modificá-lo por causa de algo que alguém mais tenha feito. É plano existente desde antes do início das eras, desde antes de haver sido criado o próprio tempo. É um propósito eterno. Se, à luz dessa verdade, vocês não se sentem firmados na "Rocha dos Séculos", duvido que sejam cristãos. Trata -se da nova mais gloriosa que se pode receber num mundo como este.

Quando desaba tudo ao meu redor,
Ele é minha esperança e meu esteio.
Em Cristo, a Rocha sólida, me firmo;
todo outro solo é areia movediça.

Depois diz o apóstolo que esta verdade esteve oculta. Chama-lhe mistério, e vimos que um mistério é uma coisa que existe, porém ainda não foi revelado plenamente, e que a mente humana jamais o pode alcançar por seu próprio esforço. Todavia Deus o revelou, diz o apóstolo. Há uma diferença entre a situação no passado e o que se dá agora. Tinha estado oculto através dos séculos, mas "... agora", diz ele, "pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus será conhecida dos principados e potestades nos céus". É-nos dada a idéia de que aqueles fulgentes espíritos angelicais foram levados a perquirir; sabiam que Deus estava para realizar alguma coisa, no entanto não sabiam o quê. Precisavam ser iluminados pela Igreja, diz Paulo, pelo que acontece comigo e com vocês. Contudo, mesmo sem ter sido revelado ainda, o plano e propósito de Deus lá estava, e estava sendo executado por Deus paulatinamente e com segurança. Vê-se isto em toda a história do Velho Testamento, através do qual ele passa como um fio de ouro, bastando que vocês tenham olhos para vê-lo. Muitas vezes parece que as coisas vão mal, porém o propósito de Deus continua a avançar persistentemente; embora oculto, continua existindo. Através dos séculos sempre existiu um propósito eterno de Deus, seguro e certo.
Isso nos leva à indagação crucial: qual é este plano que Deus determinou antes da fundação do mundo, que Ele manteve oculto dos homens e dos anjos, que, não obstante, continua existindo e em processo de execução? A resposta é dada na frase final do versículo 9: "E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou". Por que é que Paulo, ao falar do nome de Deus, acrescenta, "que tudo criou"? Aí eu encontro a chave para a resposta a esta pergunta. O apóstolo nos relembra o fato de que, afinal de contas, este mundo é de Deus. Não é do homem; é dAquele "que tudo criou". Se já houve tempo em que o homem necessitava ouvir a verdade sobre a criação, é agora. Temos nos tomando tão inteligentes... Dividimos o átomo! Como somos prodigi¬osos, como somos maravilhosos! Acreditamos que fizemos tudo e que somos responsáveis por todas as coisas. Não passamos de guias cegos em nossa ignorância! Este mundo é de Deus - "Ele criou todas as coisas". Se vocês desejam tentar compreender o que está acontecendo no mundo hoje, este é o ponto donde deve partir. Este mundo não foi trazido à existência pelo homem, e sim por Deus. Ele o fez, e o fez perfeito. Nunca foi projetado para ser o que é agora; o que vemos é apenas uma caricatura dele. Este mundo não é como Deus o fez. Fundamentalmente é, mas o pecado e o mal trouxeram o mundo para a sua presente condição. O pecado introduziu nele os conflitos, o derramamento de sangue, o despeito, a malícia, a inveja, o ódio e todas as demais coisas vis e abomináveis. O que vem descrito com tanta perfeição nos primeiros capítulos de Gênesis é a causa do nosso problema. Deus fez o mundo, olhou para ele e viu "que era muito bom" (Gênesis 1:31). Era perfeito, era um paraíso.
Uma parte da mensagem do evangelho visa levar os homens a terem isto em mente com clareza. Este mundo é de Deus, a Ele pertence. O homem fez dele o que ele é porque, em sua loucura, deu ouvidos à ten¬tação de Satanás. No entanto - o e aí está a glória da mensagem - o plano de Deus é redimi-lo e restabelecer-lhe a perfeição. O apóstolo já dissera isso tudo no versículo dez do capítulo primeiro desta Epístola: Deus propusera "tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra”. Tudo será reunido em Cristo. Essa é a mensagem do evangelho para este nosso mundo dominado pela guerra, dilacerado, em conflito e perplexo. E o plano divino de reunir tudo, diz-nos Paulo, é para ser levado a efeito no Senhor Jesus Cristo e por meio dEle: "segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor".
Permitam-me asseverá-lo muito dogmaticamente: fora do Senhor Jesus Cristo não há nenhuma esperança para este mundo; Vocês encontraram alguma? Tomo a dizer: examinem os seus jornais, os seus livros de história, filosofia, poesia, ciência; façam o giro completo; onde existe algum vestígio de esperança? Não há nenhum. Mas Deus determinou restaurar todas as coisas em Cristo Jesus, nosso Senhor. Ele é o único caminho.
Ao passarmos a tecer considerações sobre como Deus realiza os Seus propósitos em Cristo Jesus, é essencial começar com certas negativas em vista da popularidade de falsos conceitos. Começamos dizendo que não se faz a obra simplesmente pregando o ensino ético de Jesus Cristo. De todos os ensinamentos fátuos e estultos de hoje, nenhum é mais errôneo do que aquele que afirma que tudo que precisamos fazer é tomar o ensino cristão e aplicá-lo à situação moderna. Alguns dizem que simplesmente temos que ensinar a ética de Cristo às pessoas, e elas a aplicarão. Dizem eles que os homens poderão ter paz no presente neste mundo se tão-somente aceitarem o ensino de Cristo e seguirem o Seu exemplo. Deliberada e solenemente afirmo que essa pretensão envolve uma das mais completas negações imagináveis da mensagem cristã. Como solução do problema do mundo, é comple¬tamente impossível. E por ser impossível é que Cristo veio e morreu na cruz. O Senhor Jesus Cristo veio a este mundo porque todos os homens e todo o seu planejamento falharam por completo.
Se o único requisito fosse que os homens fossem conclamados e estimulados a seguir o ensino e o exemplo de Cristo, então a lei que Deus tinha dado aos filhos de Israel por meio de Moisés teria resolvido o problema e acertado tudo. Se os homens praticassem os Dez Manda¬mentos e a lei moral, todos os problemas seriam solucionados. Jamais haveria outra guerra, jamais outra dificuldade. Contudo, os filhos de Israel fracassaram e não os cumpriram. Nem um só individuo cumpriu plenamente a lei. Escrevendo aos romanos, o próprio apóstolo acentua isso: "o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne... (8:3). A lei é perfeita, porém o homem tem que cumpri-la; e aí está a dificuldade. O homem não deseja cumprir a lei e não tem poder para cumpri-la. Portanto, pergunto, se o homem não pode guardar os Dez Mandamentos, como poderá guardar o Sermão do Monte? Se o homem não consegue nivelar-se aos seus próprios padrões, como poderá seguir o padrão do Senhor Jesus Cristo? Afirmar outra coisa é puro absurdo; é negar o evangelho. Quem pregar a fé cristã como se fosse apenas essa espécie de comportamento, estará negando a Cristo. Não poderia haver maior negação do evangelho. E pura heresia.

Então, como Deus realiza o Seu propósito em Cristo Jesus, nosso Senhor? A resposta já do dada no capítulo dois desta Epístola. Não é apenas que Cristo nos diz o que devemos fazer. O grande propósito de Deus é realizado por meio do que Cristo fez por nós. A salvação é atividade de Deus, não é nossa - nem sua nem minha. "Somos feitura sua, criados em Cristo Jesus." É o que Deus fez e faz em Cristo que ainda leva a efeito o grande propósito divino.
A primeira coisa de que todos nós necessitamos é sermos reconcilia¬dos com Deus. Não poderemos ser abençoados por Deus enquanto for¬mos Seus inimigos. Deus não nos abençoará, se não estivermos em cor¬re ta relação com Ele, se não estivermos reconciliados com Ele. Como o homem pode ser reconciliado com Deus? Há somente uma resposta: é mediante Jesus Cristo, e Este crucificado. "Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados." "Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus" (2 Coríntios 5:19-21). Esse é o primeiro fato. A inimizade terá que ser retirada de nós; temos que ser reconciliados com Deus, e Deus realiza isso em Cristo. Ele pôs os nossos pecados sobre Cristo, castigou-os nEle e, portanto, Ele olha para nós e nos perdoa. Ele faz de nós Seus filhos, Ele nos adota em Sua família.
Isso nos leva à estupenda declaração feita pelo apóstolo precisa¬mente neste versículo: "Para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus". Quer dizer que Deus finalmente restabelecerá a paz, a unidade e a concórdia no mundo mediante Cristo e por intermédio da Igreja. Deus, que no princípio criou o mundo e o fez perfeito, que segundo a Sua inescrutável vontade tolerou e permitiu que o pecado e o mal entrassem por meio do diabo, determinou restabelecer à perfeição o universo inteiro - porque é Seu mundo. Planejou fazê-lo por meio de uma nova criação. Uma parte dessa nova criação é a Igreja. Isso constitui uma parte vital da mensagem bíblica. A situação do homem em pecado é tal, que nada menos do que uma nova criação poderá resolvê-la. A humanidade jamais poderá ser levado de volta à perfeição mediante as diversas aplicações externas. É necessário haver um novo princípio, uma nova criação. E o que Deus está fazendo em Cristo é trazer à existência esta nova criação, esta nova humanidade, este novo corpo, este "homem novo" em Cristo, que inclui o judeu e o gentio; noutras palavras, a Igreja. Todas as divisões são abolidas, uma nova realidade é trazida à existência. Não é que os judeus e os gentios são fixados frouxamente uns nos outros, porém ambos são criados de novo e, com isso, são amoldados num só corpo, do qual todos eles se tornam membros.
Esta é a parte principal da grande mensagem do cristianismo. Desde quando o Senhor Jesus Cristo esteve neste mundo, esta nova humani¬dade está sendo formada. Guerras e períodos de paz têm-se alternado; tem havido tempos de derramamento de sangue e tempos de concórdia. Nada senão isto encontramos nos livros da história secular. Entretanto, vemos mais do que a simples exibição externa - vemos Deus, em cada geração, atraindo do mundo um povo para Si, criando pessoas de novo em Cristo Jesus, acrescentando-as à Igreja. Vemos um novo corpo, uma nova humanidade, congregando-se, propagando-se, aumentando, progredindo e desenvolvendo-se - algo absolutamente novo! Vemos uma nova raça de seres humanos, Cristo o primogênito, e todos nós nascidos dEle. Vemos Deus juntando-os, preparando-os e a nós para o dia da manifestação. É um processo progressivo. Vocês o vêem agora? Está em avanço neste momento. E o grande propósito de Deus, e será cumprido, até completar-se o Seu plano. E quando este se completar, Ele enviará de novo o Seu Filho a este mundo, cavalgando as nuvens do céu, como "Rei dos reis e Senhor dos senhores". Voltará para juízo e destruíra todos os Seus inimigos - Satanás e todas as suas hostes, e todos os que o seguiram, rejeitando a Cristo; na verdade, todo o mal, todas as iniqüidades e todo o pecado, em todos os seus tipos e formas, serão lançados no lago de fogo e de perdição. O universo será lavado e purificado.
Vem o dia, descrito pelo próprio Senhor como a hora da "regenera¬ção, quando o Filho do homem se assentará no trono da sua glória" (Mateus 19:28). Ocorrerá uma regeneração de todo o cosmos; até o mundo físico será perfeito. Haverá "novos céus e nova terra, em que habita a justiça" (2 Pedro 3: 13). "E o lobo morará com o cordeiro... o leão comerá palha como o boi" e "um menino pequeno os guiará" (Isaías 11 :6-7). Perfeição absoluta! Ela vem! É o fim definitivo do propósito de Deus. Há um mundo novo à nossa espera.

Um só Deus, uma lei, um elemento,
e um divinal evento, alto e remoto,
rumo ao qual a criação está em movimento.

É isso que foi revelado a Paulo; é o que ele anseia que todos os homens vejam; essa é a luz que brilha nas trevas hoje.
Devido isso ser plano de Deus, tem cumprimento absolutamente certo e seguro, pois Ele ainda é o Criador e este ainda é o Seu mundo. Ele ainda é o Deus que disse, "Haja luz" e "houve luz". Faça o homem o que quiser, faça o máximo que puder para frustrar este plano, nada o poderá impedir. Deus é Aquele que criou todas as coisas pela palavra do Seu poder e, apesar do inferno, Ele levará avante o Seu propósito. No Velho Testamento vemos como, a despeito de tudo que aconteceu contrariamente, Deus continuou com o Seu plano. Cristo veio; o rei Herodes tentou matá-la, os Seus inimigos tentaram estorvá-la e impedi-la; contudo, o plano prosseguiu. Crucificaram-na; mas Ele ressuscitou. Faça o mundo o que puder, solte-se o inferno - o propósito de Deus jamais poderá ser frustrado, porque Ele é o criador.
Deixem-me, porém, acrescentar isto: esta revelação do plano de Deus dá-nos apenas uns poucos pormenores de incidentes e aconteci¬mentos particulares. Muitos daqueles que o mundo considera grandes e de vital importância não são nem sequer mencionados - os cáiseres, os Hitler, os Stalin, e muitos outros. Ela não nos dá esses pormenores. É a importância que o homem se arroga que o leva a buscar essas coisas. Tudo quanto nos é dito repousa sobre o grande e eterno propósito. A Bíblia não trata de trivialidades, com meros incidentes do tempo. As nações podem levantar-se e cair, todavia o plano de Deus prossegue, firme e sem interrupção.
Além disso, o plano não pode ser modificado para adaptar-se aos caprichos e fantasias, aos gostos e aversões de qualquer indivíduo ou nação. Na verdade devemos estar preparados para algumas estranhas surpresas quanto a este plano. Às vezes poderemos pensar que tudo vai mal. As igrejas poderão estar vazias, e as pessoas perguntarão: onde está esse seu propalado plano de Deus? A resposta é que as igrejas estiveram vazias muitas vezes antes; porém na plenitude do Seu tempo, Deus envia um avivamento, e se for da Sua vontade, enviará outro.
No entanto, acima de tudo, afirmo e repito que o plano de Deus é sempre em termos do Senhor Jesus Cristo. Cristo é tanto o centro como a circunferência, Ele é tudo, tudo se cumpre nEle. Também se cumpre por meio da Igreja. Não há benefícios para ninguém, exceto para os que estão na Igreja. Se vocês não são cristãos, não têm direito de buscar a Deus para receber benefícios e bênçãos. Todas as Suas bênçãos vêm por meio de Cristo e por meio da Igreja aos que pertencem ao corpo. Tudo mais é incidental. Esta mensagem não oferece nenhuma esperan¬ça de paz na terra e entre as nações, enquanto Cristo não voltar para a Sua vitória final. Isso é uma parte essencial do evangelho. Na Bíblia não há vestígio de esperança de paz entre os homens e as nações neste mundo, enquanto Cristo não voltar e finalmente destruir o pecado e o mal. Enquanto houver pecado, luxúria e paixão no coração humano, haverá conflito e guerra. Não há nenhuma promessa que contrarie isso. Mas Cristo voltará, apesar de tudo; Ele derrotará os Seus inimigos, Ele extinguirá o pecado do universo. Então, e somente então, deixará de haver guerra, e a tristeza e o pranto desaparecerão. Depois a paz reinará universalmente e para todo o sempre.

Meu amigo, você se sente tentado a dizer que está decepcionado com esta mensagem, que a acha muito depressiva, que pensava que poderia ouvir falar de alguma esperança imediata para o mundo, e que perdeu o interesse pelo cristianismo? Se é assim, tenho duas coisas para dizer-lhe. A primeira é que, patentemente, você não é cristão, pois nenhum cristão fala dessa maneira. O cristão não está apenas interes¬sado em bem-estar e consolo pessoal. O cristão é alguém interessado na glória de Deus e na grandeza do Seu santo nome. Esse bem-estar que você procura é oferecido pelas seitas e pelas várias falsificações da mensagem cristã. Em segundo lugar, digo a quem quer que pensa que esta pregação é irrelevante e não ajuda os homens nas situações presentes, que esta é a única mensagem que lhes diz a verdade sobre a situação presente. É a única que explica por que o mundo é como é. Você acha que isto é irrelevante para você? Se acha, e se continuar com essa forma de pensar e com essa opinião até ir para o seu túmulo, virá o dia em que, de repente, descobrirá que não existia nenhuma outra coisa que fosse mais relevante. Você faz parte do propósito e plano de Deus. Deus "julgará o mundo com justiça", e como cidadão deste mundo você será julgado com justiça. Este é o propósito eterno que Deus estabeleceu antes da fundação do mundo. Ele certamente está sendo levado a efeito, e será levado a cabo. Todos os que pertencem ao diabo e às suas hostes, todos os que rejeitam este evangelho por não oferecer um pouco de bem-estar ou consolação temporária, todos os que rejeitam o Senhor ver-se-ão rejeitados naquele grande dia, e não ficarão na companhia dos que estarão se aquecendo ao fulgor da glória de Deus, e que estarão reinando com Cristo como "reis e sacerdotes de Deus" por toda a eternidade. Graças a Deus pela luz do evangelho nesta hora tenebrosa, luz que mostra que, a despeito de tudo que vemos no mundo, Deus ainda está no trono. Seu propósito certa e seguramente está sendo realizado; e está sendo realizado também em nós e por meio de nós, que somos verdadeiramente membros da Igreja, verdadeira¬mente membros do corpo de Cristo.