terça-feira, 22 de março de 2011

AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 98

Por: Ir. Luiz Fontes

19ª Estação, Queelata – parte 8

TEXTOS: Nm 16; 1 Tm 6:3-6

Vamos ler um texto que está em 1 Timóteo 6:3-7, onde Paulo diz:

“3 Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino segundo a piedade, 4 é enfatuado, nada entende, mas tem mania por questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas, 5 altercações sem fim, por homens cuja mente é pervertida e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro. 6 De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. 7 Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele.”

Nós estamos estudando a 19ª estação da peregrinação do povo de Israel aqui em Queelata (Números 16), aquela contradição, revolta, rebelião de Datã, Coré e Abirão. Já temos compartilhado algumas palavras que revelam para nós a natureza daquele comportamento – que hoje podemos ver dentro do nosso próprio contexto espiritual.
Aqui Paulo diz “Se alguém ensina outra doutrina...”. Ele usa uma palavra no grego que é “heterodidaskaleo”: desviando-se da verdade. “Se alguém ensina a doutrina desviando-se da verdade”. Essa é a palavra que Paulo usa.
Ele diz que essa pessoa “... não concorda...”. Prestando atenção no original grego como foram escritas essas palavras, “não concorda” é “proserchomai”: aquilo que não está próximo, que não é intimo. Essa palavra “proserchomai” vem de dois vocábulos: “pros” – em benefício, perto, em direção a; e “erchomai” – aqui nós temos o verbo primário na língua grega que tem um significado muito interessante: influência, aquilo que é estabelecido. Então, quando Paulo diz aqui sobre “proserchomai”, significa aquilo que não está de acordo, que não exerce fundamento, não exerce influência. Isto é, todo o ensino que não está de acordo com a verdade, tudo aquilo que é diferente da doutrina, tudo aquilo que desvia da verdade, não tem nenhum benefício para nós. Tudo aquilo que não está de acordo com o Evangelho de Cristo Jesus. Quando ele usa a palavra “... não concorda...”, significa não tem fundamento, não pode influenciar nossa vida, não pode nos conduzir às sãs palavras. Devemos tomar nota disso.
Depois ele diz: “... com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo...”. A doutrina tem que estar fundamentada nas palavras do nosso Senhor Jesus Cristo e o “... ensino segundo a piedade...”. Essa palavra “piedade”, na língua grega, é a palavra “eusebeia”: reverência à fidelidade de Deus; aquilo que significa o caráter prático daquilo que é a vida cristã. Se quisermos entender o que significa “eusebeia” veremos que é aquilo que está de acordo com o caráter de Deus; tem relação com a nossa devoção Cristã, com a nossa piedade cristã, com a nossa conduta cristã.
Então Paulo é muito claro. Ele diz que este tipo de pessoa é “enfatuado”. Esse vocábulo no grego é “tuphoo”: pessoa que se torna arrogante, enche-se de orgulho, insolente. Significa que por causa do orgulho perdeu a visão espiritual, tornou-se tolo, estúpido. Por isso é muito bom examinar como essas palavras foram escritas no original.
No versículo 4 de 1 Tm 6 temos mais um vocábulo – “... nada entende...”. Essa palavra “entende” tem aqui uma negativa antes que é “epistamai”: por atênção em, fixar os pensamentos em. Isto é, uma pessoa que está “enfatuada”, com acabamos de ver, uma pessoa arrogante, insolente, que foi cega pelo orgulho, não entende. O que isso significa? Ela não tem como fixar os pensamentos, ela não pode familiarizar-se com a doutrina, com as palavra do Senhor Jesus. Podemos ver a clareza da Palavra de Deus?
E ele ainda diz: “... mas tem mania...”. No grego, “mania” é “noseo”: uma indisposição. É como uma pessoa que está doente, que perdeu o interesse, completamente obcecada, que tem obsessão por coisas vazias, isto é, uma inclinação mórbida para tudo aquilo que não edifica. Olhe o que o apóstolo diz: “... mas tem mania por questões e contendas de palavras...”. Preste atenção na palavra “questões”. No grego é “zetesis”: pessoas que vivem por debates, questionando as coisas, que tem mania de controvérsia. É isso mesmo. Uma pessoa que não tem o fundamento da Palavra vive de quê? Vive de controvérsias, de debates. Não é aquela pessoa que tem o “coração bereano” (At 17:11), que investiga a Palavra com o propósito de encontrar a verdade, mas aquela pessoa que nunca tem uma mente fixa na verdade, que sempre está questionando a verdade.
E Paulo diz: “... contendas de palavras...”. Temos aqui um outro vocábulo grego. Na língua portuguesa temos uma frase, “contendas de palavras”, mas, no grego, uma palavra só – “logomachia”: pessoas que vivem em contendas acerca de assuntos vazios, superficiais. Essas pessoas não têm com que questionar a verdade, porque suas vidas são superficiais; suas mentes estão focadas em coisas superficiais. Ele diz: “... de que nasce inveja...”. Essa superficialidade gera inveja, gera provocação, contenda, discussão, difamações, calúnia, suspeitas, desconfiança. Diz também: “... suspeitas malignas...”. É interessante observar que essa palavra “malignas” é, no grego, a palavra “poneros”: uma coisa má, de natureza ou condição má.
Então o apóstolo Paulo segue (v. 5) – “... altercações sem fim...”. No grego temos uma outra palavra. No português é uma frase, mas no grego apenas uma palavra – “paradiatribe”: ocupação inútil, negócio vazio. Essa palavra vem de dois vocábulos: “para” – de, em, por, ao lado, perto; e “diatribo” – desgastar, consumir, passar o tempo. “Paradiatribe” significa, então, uma ocupação inútil, uma vida vazia.
E ele continua: “... altercações sem fim por homens cuja vida é pervertida...”: uma pessoa corrompida pela conduta, por causa da mente vazia; uma pessoa arruinada.
Ele diz mais: “... privados da verdade...”. A palavra “privados” no grego é “apostereo”: defraudar, roubar, despojar. Significa uma pessoa que tem furtado a verdade.
“... Supondo que a piedade é fonte de lucro...”. Interessante que essa palavra “lucro” no grego é “porismos” – ganho, aquisição, fonte de riqueza. E ele diz: “... de fato, grande fonte de lucro é a piedade, mas com o contentamento...”. No grego a palavra “contentamento” é “autarkeia” – uma condição de vida ideal. Essa palavra no grego significa uma pessoa que está suprida em todas as suas necessidades; uma pessoa que está contente com a sua porção. Na verdade, você não faz um meio de lucrar, um meio de levar vantagem. Isso é muito sério, porque o apóstolo Paulo está exortando Timóteo acerca dos falsos mestres, daqueles que estavam cobrando taxas por seus ensinos. Aqui ele está mostrando como muitos hereges estavam tendo lucro por seus ensinos cheios de maldade, de perversidade. Quantas pessoas temos visto hoje que têm procurado ter lucro na vida da igreja! Mas nós temos que entender que o lucro da igreja é a piedade com o contentamento, com a suficiência em Cristo. Isto é resultante de uma satisfação íntima com Deus, em Deus.
Você se lembra do profeta Balaão? Vemos que Balaão tem sido duramente criticado por muitos estudantes da palavra de Deus. Muitos têm criticado Balaão como mercenário, porque ele cobrava por suas “profetadas”. Será que ele tem sido diferente de muitos de nós? Muitos que em nossos dias fazem campanha barganhando, negociando com os membros, com os irmãos, com a igreja do Senhor Jesus. Aqueles que vivem enchendo sacos e mais sacos de dinheiro retirado dos bolsos dos cristãos nos cultos, onde se vê as trocas das bênçãos de Deus. Quantas vezes escutamos as pessoas dizerem “Oferta em dez, cinquenta, mil..., que em troca você receberá quatro vezes mais”. Já vimos isso? Quantas pessoas dizem: “Olha, nós falamos e Deus garante: você será rico, terá casa, carro, telefone, será uma pessoa muito rica”; “Se você não for dizimista fiel e ofertante, será excomungado, retirado do rol de membros”. Quantas vezes temos negociado o céu, a salvação; temos enganado, ludibriado, vilipendiado a fé do povo de Deus. E depois queremos condenar Balaão.
Precisamos voltar e olhar que a prática de Datã, Coré e Abirão, a rebelião deles, que não era contra Moisés e Arão, era contra Deus. A natureza da rebelião deles consistia num único fato: eles não estavam compreendendo os caminhos de Deus; não compreendiam o propósito de Deus. Queriam fabricar uma religião no meio do povo de Deus para si. Aquela revolta deles contra Moisés e Arão, que revela a revolta que tinham contra o próprio Deus, mostra que eles buscavam um tipo de religião na qual simplesmente se elevariam com um único propósito: o de sobrepujar as pessoas, de estar acima delas, de poder conduzi-las a seu modo.
Precisamos entender que ninguém se desvia do dia para a noite. Lembram de Ló? Em Gênesis 13:12 diz:

“(...) e Ló, nas cidades da campina e ia Armando as suas tendas até Sodoma.”

Fazendo um estudo gramatical da composição de toda essa frase, no original hebraico, veremos que Ló não foi direto para Sodoma. Ele foi armando suas tendas até lá, isto é, foi pouco a pouco. Isso vem revelar para nós a condição do nosso próprio coração. Podemos imaginar quantas coisas erradas existem hoje no meio do povo de Deus? Quantas coisas que não pertencem ao caráter de Deus, à obra de Deus, à vontade de Deus, ao plano de Deus, ao propósito de Deus? Quanto temos visto em termos de louvor, de músicas, de adoração, de pregação de cruzadas, de campanhas e de tantas coisas que não procedem da palavra de Deus, que não estão de acordo com o caráter de Deus!
Apocalipse 2:14 diz:

“Tenho, todavia, contra ti algumas coisas, pois que tens aí os que sustentam a doutrina de Balaão, o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem coisas sacrificadas aos ídolos e praticarem a prostituição.”

Sabemos que esta é uma mensagem, uma carta, à igreja de Pérgamo. Precisamos atentar aqui para duas palavras: “armar” e “ciladas”. Façamos uma análise delas.
Primeiro temos “armar” – no grego, “ballo”: lançar ou jogar uma coisa sem cuidar aonde ela cai; espalhar. Significa que em natureza é entregar aos cuidados de alguém sem saber o resultado.
Em seguida, “ciladas” – no grego, “skandalon”: a vara móvel ou gancho de uma armadilha, onde qualquer pessoa poderá cair de surpresa. Vemos, então, um evangelho inconsequente, atitudes, comportamentos inconsequentes.
Quando olhamos para Coré, Datã e Abirão, o que vemos? Uma teologia inconsequente, pessoas que estão querendo viver a vida cristã sem imaginar o resultado disso tudo. Datã, Coré e Abirão não imaginavam onde dariam sua teologia, suas ideias, suas motivações. Quando achavam que estavam enfrentando Moisés e Arão para o bem do povo, não percebiam que estavam cavando debaixo de si a própria sepultura, onde foram tragados vivos – eles e mais duzentas e cinquenta pessoas. Lendo a sequência do texto em Números 16 veremos que depois quatorze mil pessoas ainda morreram em consequência de tudo isso.
Podemos imaginar a seriedade, a gravidade de pregar a palavra hoje? De pregar o Evangelho do Reino hoje? Será que as pessoas têm noção da responsabilidade que têm diante de Deus? Será que hoje as pessoas se dão conta do que Deus exige, apesar de exigir muito mais de nós que ensinamos a palavra, do que dos nossos próprios irmãos que a ouvem? Tiago, no capítulo 3, a partir do versículo 1, diz:

“1 Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo”.

Isso é muito sério! Precisamos olhar para esse texto e estremecer dentro de nós. Saber que o Senhor nos chama, dando-nos o grande e sublime privilégio de pregar o Seu evangelho, mas que isso consiste de que Ele vai exigir muito mais de nós que pregamos do que daqueles que ouviram de nós. Por isso precisamos estar com o nosso coração completamente submisso à vontade de Deus. Precisamos depender a cada dia do Espírito Santo, para que não venhamos incorrer na contradição de Coré, para que, como Balaão, não venhamos fazer da obra de Deus um negócio para nós mesmos. Precisamos ser cuidadosos, não temos o direito de ser levianos com o Evangelho.
Que essa palavra toque na sua vida, na minha vida, e nos leve ao arrependimento, se, por algum momento, temos pregado o Evangelho de Cristo sem olhar para Cristo. Não podemos pregar o Evangelho de Cristo olhando unicamente para as pessoas, como se elas fossem clientes de nossa mensagem. Temos que pregar tendo os nossos olhos em Cristo Jesus, porque quem faz a obra é Ele, quem abençoa é Ele, quem vai nos julgar é Ele. A Palavra é Ele, e a Palavra é dEle, e a Palavra é para a glória dEle. Não é para a nossa glória, não é para a nossa satisfação, não é para o nosso sucesso. É para a glória dEle.
Que Deus nos inquiete; que Deus inquiete a minha vida e a sua vida. E que Ele prossiga nos falando poderosamente, para que venhamos ser constrangidos pela Sua voz a reconhecer o quanto somos necessitados e carentes da misericórdia de Deus em cada momento e em cada oportunidade; para que não venhamos cometer os mesmos erros de Coré, Datã e Abirão. Essa é a 19ª estação que estamos estudando – Queelata (Números 33:22 e Números 16). Que tudo isso venha tocar-nos profundamente, levar-nos a fazer uma profunda reflexão sobre como temos nos envolvido, nos entregado e nos consagrado a este Evangelho. Que Deus tenha misericórdia de nós, que Ele nos ajude e que Ele não desista de nós, mas que prossiga fazendo uma obra dentro de nós, com o propósito de nos levar a viver uma vida cristã equilibrada no que concerne ao ministério da palavra.
Que Deus ricamente venha lhe abençoar, que Ele venha com as Suas mãos nos conduzir na Sua vontade.

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