terça-feira, 19 de maio de 2015

Experimentando as Profundezas de Jesus Cristo Através da Oração




Por:
Madame Guyon


CAPÍTULO 10: Portas Adentro

No último capítulo concluímos por dizer que o cristão que está em pleno amor com o Senhor nem mesmo desejará as coisas que possam ofender o objeto de sua afeição. Vou adiante, afirmando que somente com o pleno abandono é possível alcançar total vitória em submeter os sen­tidos e os desejos.
Por que é assim? De fato, a razão é muito óbvia. Primei­ramente e antes de tudo, você precisa entender as operações de suas partes mais íntimas. De onde os seus cinco sentidos retiram sua vida e energia? Da sua alma. É a sua alma que dá vida e energia aos cinco sentidos, e, quando seus sentidos se despertam, eles, em troca, estimulam seus desejos.
Como podemos falar de uma vitória completa sobre os cin­co sentidos e sobre as paixões que se estimulam através deles?
Se o seu corpo estivesse morto, você não estaria capaci­tado a sentir, e, certamente, você não teria qualquer desejo. Por quê? Por que o corpo não teria qualquer desejo? Porque estaria desligado da alma. Deste modo, deixe-me repetir: seus sentimentos e sentidos retiram seu poder da alma.
Os cristãos têm procurado muitos meios para superar seus desejos. Talvez o mais comum seja a disciplina e a autonegação. Mas não importa quão severa seja a sua autonegação, pois ela nunca conquista completamente os seus sentidos. Não, a autonegação não é a resposta! Mesmo quando parece que funcionou, o que ela fez foi apenas mudar a expressão exterior daqueles desejos.
Quando você trata com as exterioridades, o que realmente você está fazendo é dirigir sua alma para mais longe, ao ex­terior de seu espírito. Quanto mais sua alma é focalizada nas coisas exteriores, mais é afastada do seu centro e do seu lugar de repouso! O resultado deste tipo de autonegação é o opos­to daquilo que você busca. Infelizmente, isto é o que sempre acontece a um crente cuja vida é vivida na superfície.
Se você mora nos desejos de sua natureza exterior - dan­do-lhes atenção - eles, em troca, tornam-se mais ativos. Ao invés de serem submetidos, ganham mais e mais poder. Pode­mos concluir de tudo isso que embora autonegação possa, de fato, enfraquecer o corpo, nunca pode diminuir a força dos seus sentidos.
Então, qual é a sua esperança? Há somente um meio de conquistar seus cinco sentidos: é pelo recolhimento interior. Ou, para colocar de outro modo, o único caminho para con­quistar seus cinco sentidos é voltar sua alma completamente para dentro, para seu espírito, para aí ter um Deus presente. Sua alma deve voltar toda a sua atenção e energia para dentro, não para fora! Para dentro, para Cristo! Não para fora, para os sentidos! Quando sua alma se volta para dentro, ela realmente se separa de seus sentidos externos; e, uma vez que seus cinco sentidos se separem de sua alma, não recebem mais atenção. Seu suprimento de vida é cortado! Ficam sem poder.
Vamos agora percorrer o caminho da alma. Sua alma, neste ponto, já aprendeu a voltar-se para dentro e a retirar-se para perto da presença de Deus. A alma se torna mais e mais separada do eu dominante. Você pode ter a experiência de ser podero­samente atraído para o seu interior - para procurar Deus em seu espírito - e descobrir que o homem exterior se torna muito fraco (alguns podem mesmo ficar propensos a desmaios).
Sua principal preocupação, portanto, é com a presença de Jesus Cristo. Sua principal preocupação é morar continu­amente com Deus, que está dentro de você, e não em pensar especialmente em autonegação ou em se "despojar das obras da carne". Deus fará com que você experimente uma natural submissão da carne! Você pode estar certo disto: o cristão que fielmente abandonou-se ao Senhor breve descobrirá que também se apegou a um Deus que não descansará até que Ele tenha submetido a Si tudo desse cristão! Seu Senhor porá à morte tudo que, em sua vida, precisa morrer.
Que será de você, então? Tudo o que você precisa fazer é permanecer firme em dar sua maior atenção a Deus. Ele fará todas as coisas perfeitamente. A verdade é que nem todos são capazes de uma severa autonegação exterior, mas todo: são capazes de se voltarem para dentro e de se abandonarem inteiramente a Deus.
É verdade que aquilo que você vê e ouve está continua­mente suprindo sua imaginação com novos objetos de atenção. Eles levam seus pensamentos a pularem de um assunto para ou­tro. Há, então, um lugar para a disciplina, quanto ao que você vê e ouve. Mas esteja em paz: Deus lhe ensinará sobre tudo isso. Tudo o que você precisa fazer é seguir o Seu Espírito.
Duas grandes vantagens lhe advirão se proceder do modo indicado neste capítulo. Primeiramente, e antes de tudo, reti­rando-se de objetos exteriores, você chegará mais e mais per­to de Deus. Quanto mais perto Dele, mais receberá de Sua natureza. Quanto mais receber de Sua natureza, mais você se apegará ao Seu poder sustentador.
A segunda coisa é: quanto mais perto você chegar de seu Senhor, mais longe ficará do pecado. Veja, então: simplesmente por voltar-se para o interior, para o seu espírito, você começa a adquirir o hábito de estar perto do Senhor e longe de tudo o mais.

terça-feira, 12 de maio de 2015

CAPÍTULO 9: O Abandono e a Vida Santa



Experimentando as Profundezas de Jesus Cristo
Através da Oração

Madame Guyon


CAPÍTULO 9: O Abandono e a Vida Santa

Qual é o resultado de andar continuamente diante de Deus, em um estado de abandono? O resultado final é piedade. Uma vez que você tiver feito que esta revela­ção com Deus seja parte integrante de sua vida, a vida piedosa estará facilmente ao seu alcance.
Que queremos dizer com "piedade"? Piedade é algo que vem de Deus. Se você é fiel para aprender este modo simples de ter experiência com seu Senhor, você tomará "posse" de Deus. E à medida que O possui, herdará todos os Seus traços. Isto é pieda­de: quanto mais possui a Deus, mais é feito à Sua semelhança[1].
Mas deve ser uma piedade que brota do seu interior. Se não é do profundo do seu interior, é apenas uma máscara. A mera aparência exterior de piedade é tão-somente mutável como uma veste. Mas quando a piedade é produzida em você pela vida que está profundamente dentro de você, então essa piedade é real, duradoura e genuína essência do Senhor. "Toda formosura é a filha do Rei no interior do palácio" (Sl 45:13).
Como, então, se obtém a piedade? O cristão que aprendeu a abandonar-se a Jesus Cristo e anda numa vida de abandono a Ele pratica a piedade em um alto grau. Mas você nunca ouvira tal pessoa declarar que possui qualquer espiritualidade especial. Por quê? Porque esse cristão tornou-se completamente unido com Deus. É o Senhor mesmo que está liderando esse crente, nesta que é realmente integral prática da piedade.
O Senhor tem muito "ciúme" de qualquer que se aban­dona completamente a Ele. Não permite que tal crente tenha quaisquer prazeres fora Dele. É o abandono a única coisa ne­cessária para conduzir-nos à piedade? Não. Mas se você se torna fiel em seguir o que foi dito até aqui, a piedade virá. Mas não se esqueça de que sofrimento está incluído na experiência do abandono. É o fogo do sofrimento que produzirá o ouro da piedade.
Não seja temeroso de que você não desejará andar por este caminho. No nível de experiência da qual agora falo, há fome de sofrimento. Tais cristãos queimam de amor pelo Senhor. De fato, se lhes fosse permitido seguir seus próprios desejos, colocar-se-iam sob um enorme peso de disciplina, e até mesmo de excessiva autonegação.
Quando tal amor queima dentro do coração de um crente, ele não pensa em mais nada senão em como agradar seu amado Senhor. Começa por negar a si mesmo - não, muito mais ainda - em amor com o Senhor, esquece mesmo, completamente, de si próprio. À medida que cresce o seu amor pelo Senhor, cresce também sua aversão à vida do seu eu. Que você possa aprender este caminho.
Oh! Se este modo simples de orar, esta simples experiência de Cristo Jesus fosse adquirida por todos os filhos do Senhor, toda a Igreja de Deus seria facilmente restaurada.
Este modo de orar, esta simples relação com o Senhor, é conveniente e própria para todos; é adequada ao insensível e ignorante, tanto como ao bem instruído e refinado. Esta oração, esta experiência, que começa tão simplesmente, tem como seu acabamento um amor completamente rendido ao Senhor.
Somente uma coisa é exigida: amor.
Santo Agostinho disse: ''Ame e então faça o que quiser". É quando você nem mesmo desejará aquelas coisas que possam ofender Aquele a quem você ama.


[1] transformação

ESTUDO SOBE ORAÇÃO



Através da Oração

Madame Guyon


CAPÍTULO 6: Abandono

 

Neste ponto, devemos começar a Abandonar e a Entregar toda a nossa existência a Deus, com a forte e positiva convicção, que as ocorrências momentâneas resultam de sua vontade imediata e permissão, e são exatamente o que o nosso estado necessita. Tal convicção nos fará sentir felizes com todas as coisas; nos fará considerar tudo o que acontece, não do ponto de vista da criatura, mas do ponto de vista de Deus.
Mas, queridos e amados, quem quer que queira se entregar sinceramente a Deus, eu vos imploro a não se retirarem após terem feito a doação; lembrem-se: um presente dado não mais está à disposição de quem o deu.
O abandono é uma questão de grande importância para o progresso; é a chave para a corte interior, de modo que aquele que sabe verdadeiramente se abandonar, rapidamente atinge a perfeição. Devemos, portanto, continuar firmes e imóveis, sem dar ouvidos à razão natural. Uma grande fé produz grande abandono; devemos confiar em Deus, "esperando contra toda esperança" (Rm 4,18).
Abandono é perder os cuidados egoístas, para que possamos estar todos ao dispor divino. Todos os cristãos são exortados ao abandono, pois é dito: "De fato, são os gentios que estão à procura de tudo isso: o vosso Pai celeste sabe que tendes necessidade de todas essas coisas." (Mt 6,32). "em todos os teus caminhos, reconhece-o, e ele endireitará as tuas veredas" (Pr 3,6). "Recomenda a Iahweh tuas obras, e teus projetos irão se realizar" (Pr 16,3). "Entrega teu caminho a Iahweh, confia nele, e ele agirá" (SI 37,5).
Portanto, o abandono deve ser tanto ao que diz respeito as coisas internas como externas; abandonar absolutamente todas as preocupações nas mãos de Deus, esquecendo de nós e lembrando somente Dele, por quem o coração permanecerá sempre desimpedido, livre e em paz.O abandono é praticado com o contínuo abandonar da vontade própria na vontade de Deus; renunciando toda inclinação particular, tão logo surja e por melhor que possa parecer, a fim de permanecermos indiferentes com relação a nós mesmos, desejando apenas aquilo que Deus tem desejado desde toda eternidade; nos resignando em todas as coisas, tanto do corpo como da alma, temporária ou eternamente; esquecendo o passado, deixando o futuro para a Providência e devotando o presente a Deus; estejamos satisfeitos com o momento presente, que traz consigo a ordem eterna de Deus; trata-se de uma infalível declaração da Sua vontade, na medida em que é inevitável e comum a todos; que nada do que nos aconteça seja atribuído à criatura, mas a Deus; vejam todas as coisas, exceto os nossos pecados, como infalivelmente procedentes de Deus.
Entreguem-se, então, à orientação e a disposição de Deus, tanto no que se refere ao estado exterior, como interior.


Experimentando as Profundezas de Jesus Cristo
Através da Oração

Madame Guyon


CAPÍTULO 7: Abandono e Sofrimento

 

Sejam pacientes diante de todo sofrimento; se o amor por Deus é puro, não irão procurá-Lo menos no calvário do que no Tabor; certamente Ele deve ser mais amado nos momentos difíceis do que em outros, já que foi no Calvário que deu a maior demonstração de amor.
Não sejam como aqueles que se doam em um momento e se retiram em outro. Estes se doam apenas para serem acariciados e se arrancam quando são crucificados, ou buscam o consolo das criaturas.
Não, queridas almas, não há consolo em nada senão no amor da cruz e no total abandono;quem não experimenta a cruz, não experimenta as coisas de Deus (veja Mt 16,23). É impossível amar a Deus sem amar a cruz; um coração que experimenta a cruz, considera as coisas mais amargas uma doçura: "Garganta saciada despreza o favo de mel, garganta faminta acha doce todo amargo'" (Pr 27,7); pois, ela tem fome de Deus, na proporção de sua fome pela cruz. Deus nos dá a cruz e a cruz nos dá Deus.
É preciso ter a convicção de que há um avanço interno, quando há um progresso no caminho da cruz; o abandono e a cruz andam de mãos dadas.
Tão logo lhe seja apresentado algo na forma de sofrimento, provocando uma certa repugnância, resigne-se a Deus imediatamente, oferecendo-se a Ele em sacrifício: você irá descobrir então que quando a cruz chegar, não será tão difícil de carregar, pois você a desejou. Isso não nos impede de sentir o seu peso, como alguns acreditam; pois quando não sentimos a cruz, não sofremos. A sensibilidade de sofrer é uma das principais partes do sofrimento em si. Jesus Cristo escolheu enfrentar seu maior rigor. Normalmente suportamos a cruz na fraqueza, às vezes na força; tudo deve ser semelhante para nós na vontade de Deus.










Experimentando as Profundezas de Jesus Cristo
Através da Oração

Madame Guyon



CAPÍTULO 8: Abandono e Revelação

 


O objetivo deste método é o de eliminar a existência de mistérios gravados na mente; mas, caso isso ocorra, que seja um meio peculiar de compartilhá-los com a alma. Jesus Cristo, a quem nos abandonamos e a quem seguimos como sendo o Caminho, a quem ouvimos como sendo a Verdade e sendo aquele que nos anima como a Vida (Jo  14,6), ao se impregnar na alma, imprimi ali as características destes diferentes estados. Carregar todos os estados de Jesus Cristo, é algo muito maior do que simplesmente meditar sobre eles. São Paulo carregou em seu corpo os estados de Jesus Cristo, "Doravante ninguém mais me moleste; Pois eu trago em meu corpo as marcas de Jesus" (Gl 6,17), mas ele não diz imaginar tais estados.
Neste estado de abandono, Jesus Cristo freqüentemente comunica algumas visões peculiares ou revelações de seus estados, o que se deve aceitar agradecidamente; é preciso se colocar à disposição daquilo que parece ser a Sua vontade; receber igualmente qualquer forma que Ele possa usar e não ter outra escolha senão a de buscá-Lo ardentemente, de habitar sempre com Ele e de mergulhar no nada diante Dele; aceitar indiscriminadamente todas as suas dádivas, sejam elas obscuridades ou iluminação; fecundidade ou infertilidade; fraqueza ou força; doçura ou amargor; tentações, distrações, dores, exaustão ou incerteza, e que nada disso retarde o nosso curso, nem por um minuto.
Deus compromete alguns, por vários anos, na contemplação e na experimentação de um único mistério; sua simples visão ou contemplação recolhe a alma; que sejam fiéis a este momento; mas, tão logo Deus queira retirar esta visão da alma, aceitem livremente a privação. Algumas privações são penosas diante da dificuldade de meditar sobre certos mistérios; mas não há motivos para tal dificuldade, já que um apego amoroso a Deus inclui todo tipo de devoção e aquele que se encontra tranqüilamente unido a Deus, está, de fato, perfeita e efetivamente aplicado a cada mistério divino. Quem ama a Deus, ama a tudo o que lhe pertence.