quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A ESPERANÇA DA SUA VOCAÇÃO


Postamos o texto do estudo desta quinta feira dia 31/12, estudaremos o versículo 18 de Efésios capítulo 1. Que o Senhor fale aos nossos corações.


CAPÍTULO 31

"A ESPERANÇA DA SUA VOCAÇÃO"


"Tendo iluminado os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação." – Ef 1:18



v As particularidades na petição de Paulo:

Havendo Considerado o que descrevemos como a petição geral e totalmente inclusiva que o apóstolo faz pelos efésios, passemos agora às particularidades. Este é, invariavelmente, o método do apóstolo: primeiro a exposição do todo, depois se passa às partes.
Vemos que ele está interessado em que eles entendam três coisas em parti­cular. Cada uma delas é introduzida pela palavra "qual" ("quais"). Ele ora rogando que eles venham a conhecer:

· "qual seja a esperança da sua vocação";
· "quais as riquezas da glória da sua herança nos santos";
· e "qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos".


Ü Tendo iluminados os olhos do vosso entendimento (Ef 1:18):

Mas o apóstolo não pode começar a tratar destas particularida­des sem de novo fazer-nos lembrar um princípio vital. Ele ora (Ef 1:18):

"Tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais" essas três coisas.

À primeira vista, podemos achar que ele já disse tudo isso quando disse que necessitamos do:

"Espírito de sabedoria e de revelação" (Ef 1:17).

Contudo, este não é um caso de tautologia; o após­tolo não está se repetindo. Ele lhes está dizendo, efetivamente:

· eu lhes disse que o que é supremo, central, é conhecer a Deus;
· mas eu quero que vocês conheçam estas verdades subsidiárias também, estas particularidades;
· e, no entanto, devo dizer-lhes de novo e lembrar­-lhes que vocês só poderão recebê-las na medida em que o seu entendimento seja iluminado pelo Espírito Santo.

A Versão Autori­zada (como ARC) emprega a palavra “entendimento” neste ponto, porém algumas outras versões (como ARA) dizem: "iluminados os olhos do vosso coração". A variação depende de quais manuscritos originais o tradutor adota como sendo os melhores. Mas, de qual­quer forma, não há contradição:

· Na Bíblia, muitas vezes o "entendi­mento" e o "coração" são considerados idênticos.

De acordo com o uso bíblico:

· o termo coração não significa somente emoções; signi­fica também o centro da personalidade, a fonte do nosso ser e da nossa atividade.

Portanto:

· O apóstolo está orando para que, num sentido total - não meramente de maneira intelectual, ou acadêmi­ca, ou teórica - venhamos a conhecer estas coisas;
· Ele está orando no sentido de que, com a totalidade do nosso ser, venhamos a conhecer estas verdades e reagir bem a elas.

A melhor maneira de entender esta oração é compreender mais uma vez que o apóstolo está contrastando a condição do homem natural com a do homem espiritual. Mais adiante, no capítulo 4, ele mostrará o que todos nós somos por natureza, e demonstrará a necessidade de termos iluminados os olhos do nosso entendimento. Diz ele:

"E digo isto, e testifico no Senhor, para que não andeis mais como andam também os outros gentios, na vaidade do seu sentido. Entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração; os quais, havendo perdido todo o sentimento, se entregaram à dissolução, para com avidez cometerem toda a impureza." (Ef 4:17-19)

· A frase operativa aqui é, "Entenebrecidos no entendimento", sendo a conseqüência que eles estão "separados da vida de Deus", na "ignorância" e "andam... na vaidade do seu sentido" (VA: "... da sua mente").

Significa que:

· O de que todos nós necessitamos não é de uma nova faculdade, pois todos nós temos a faculdade da mente e do entendimento, no sentido natural;
· O que há de trágico quanto ao homem não é tanto que ele tenha perdido uma faculdade, mas que, em conseqüência do pecado e da Queda, ele não pode usar e exer­citar apropriadamente as suas faculdades;
· Falando sobre os pagãos, sobre os gentios incrédulos, Paulo afirma que o entendimento deles está "entenebrecido". Eles têm entendimento, porém está obscure­cido.

Vejamos uma ilustração simples. Há certas pessoas que ficaram cegas, que não conseguem ver nem a luz. Seu problema não é que perderam os olhos; ainda os têm. O problema pode ser que há algo errado com o cristalino dos seus olhos. Mas isso não significa que o cristalino desapareceu, e sim, que cresceu uma película sobre ele, uma opacidade que leva o nome de catarata. O cristalino está lá como quando essas pessoas enxergavam normalmente, mas, por­que se desenvolveu essa opacidade, elas não conseguem ver. Os olhos se tornaram "entenebrecidos", obscurecidos; um véu os cobriu, e assim já não podem receber a luz que vem de fora. O estado da mente do homem como ele é por natureza e "em pecado", é comparável a olhos defeituosos. A pessoa cega não precisa de novos olhos; precisa é que a opacidade, o véu, a névoa que se desenvolveu em seu cristalino seja removida. No momento em que ocorrer isso, ela será capaz de apreciar a luz e de ver as coisas como antes. Ora, essa é a condição do homem em pecado; ele tem um entendimento natural, ele tem a faculdade, a capacidade, mas não pode usá-la em questões espirituais. Está cega, obscurecida, este véu veio sobre ela, vedou-se a lente; e embora a gloriosa luz da revelação de Deus esteja ali brilhando diante dele nas Escrituras, e de fato mesmo na natureza, ele não consegue enxergar. Portanto, é necessário que estes "olhos do entendimento" sejam iluminados, que a opacidade, o véu, seja tirado para que os olhos espirituais funcionem como funcionavam na criação original do homem.
A minha ilustração ajuda dentro dos seus limites. Todavia devemos acrescentar outra verdade ensinada nas Escrituras, a saber:

· Que o problema do homem não é só que o seu entendimento ficou entenebrecido, mas também, por causa disso, ele carece de poder.

É como se os olhos, por não estarem sendo utilizados, se atrofiassem; o próprio nervo ótico, por assim dizer, perdeu o seu poder. Assim o homem necessita de uma operação dual:

· Necessita da remoção da opacidade, e também da restauração da energia e da força do seu nervo ótico espiritual;
· O Espírito Santo atende a ambas estas necessidades, e somente Ele o faz.

Vimos que grandes homens do mundo, quando confron­tados pela verdade espiritual, não podem ver nada. Não há propósi­to nem sentido em levar um cego para ver um belo cenário; ele simplesmente não o pode ver. E ali está!

· "Os olhos do nosso enten­dimento" precisam ser iluminados para podermos apreciar verda­des espirituais.

Também devemos ter o cuidado de lembrar que esta é uma oração que Paulo faz em favor de cristãos. Ele está orando aqui por aqueles que já estão em "Cristo Jesus", que são co-herdeiros com os santos, e que já foram selados com o Espírito Santo. Deste fato deduzimos os seguintes princípios:

1) Enquanto estiver­mos nesta vida e neste mundo, sempre teremos necessidade da obra iluminadora do Espírito Santo:

Nunca estaremos numa situação em que não teremos mais essa necessidade. Enquanto estivermos aqui, e cercados de fraquezas, e num mundo pecaminoso, tendo na ver­dade um princípio do pecado que ainda resta em nós, necessitare­mos desta operação iluminadora do Espírito Santo. Certamente todos nós sabemos disso por experiência. Por mais que tenhamos aprendido, por maior que seja o nosso entendimento das Escrituras, se começarmos a desviar-nos em nosso viver diário, veremos que a Palavra não nos fala como falava. Esta é uma lei invariável. Jamais poderemos ter feriado espiritual. Nunca poderemos viver de uma reserva que tenhamos acumulado. Como foi com o maná no deser­to, assim o entendimento espiritual tem que ser coletado novamente cada dia:

· Se não nos dermos conta da nossa dependência do Espíri­to Santo, a Palavra não nos falará;
· Se lermos a Palavra de Deus sem orar pedindo iluminação, provavelmente colheremos bem pouco dela;
· Jamais devemos apartar-nos da consciência desta dependên­cia do poder e da iluminação do Espírito;
· A "unção do Santo", de que fala o apóstolo João, é necessária sempre e crescentemente (1 Jo 2:20,27).

2) O segundo princípio que deduzimos é, obviamente, que esse conhecimento espiritual é progressivo:

Paulo agradece a Deus que os efésios já conheciam muito; e, contudo, ele deseja que eles cres­çam no conhecimento; de fato ele fica repetindo as suas petições. Na grande oração registrada no capítulo 3 desta Epístola ele ora praticamente pela mesma coisa. Somos apenas pequenas crianças chapinhando na praia do grande e poderoso oceano da verdade; e não há nada que seja tão trágico quanto o tipo de cristão que dá a impressão de que "já chegou". Isso geralmente resulta de se pensar na vida cristã unicamente em termos da experiência do perdão, da santificação, etc. Isso faz a pessoa pensar que já "chegou", que terminou, que já tem tudo! Mas essa idéia é inteiramente contrária ao ensino do Novo Testamento, onde a descrição é mais a de um crescimento e desenvolvimento progressivo, e de um entendimento sempre crescente.
Dizem-nos as Escrituras que começamos como crianças em Cristo. Depois começamos a crescer e a armazenar conhecimento; e isto prossegue e continua crescendo. Às vezes podemos pensar tolamente que conhecemos tudo, e então, subitamente, algo inteira­mente novo se abre diante da contemplação extasiada. Continua­mos a aprender; vamos "de glória em glória" (2 Co 3:18), "esquecendo-nos das coisas que atrás ficam" (Fp 3:13), prosseguimos avante como fez Paulo, sempre desejosos de aprender mais e conhecer mais. Tal é a vida cristã normal.
Portanto, isso constitui o que me parece uma boa prova de toda a nossa posição cristã. O nosso conhecimento espiritual seria maior hoje do que há um ano? Olhando para, digamos, os passados dez anos de vida cristã, você pode dizer que o seu conhecimento espi­ritual é maior do que era? Não estou perguntando se você tem maior conhecimento da letra das Escrituras, como você pode ter crescente conhecimento de Shakespeare; não estou perguntando se você memorizou um grande número de versículos bíblicos. Estou perguntando se o seu conhecimento e entendimento espiritual cres­ceram. A sua compreensão da verdade é mais profunda? Você realmente sente que está sempre sendo levado para a frente, como que de aposento em aposento numa grande mansão, e descobrindo novos tesouros de sabedoria e conhecimento? Essa é a prova. Paulo orou no sentido de que os efésios tivessem cada vez maior conheci­mento e entendimento da verdade.

3) O terceiro princípio que deduzimos é que devemos estar oran­do por esta iluminação dos olhos do nosso entendimento:

Isso também pode ser exposto na forma de pergunta. Porventura oramos dia após dia a Deus, ao Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, rogando que ilumine os olhos do nosso entendimento? Essa deve ser a nossa oração constante e diária. Sempre devemos prefa­ciar a nossa leitura da Palavra, orando pela nossa iluminação. O constante desejo das nossas vidas deve ser que "cresçamos na gra­ça e no conhecimento do Senhor" (2 Pe 3:18). O problema com muitos de nós é que nunca nos despertamos para esta compreensão. Parece que pensamos que já "chegamos", que já "sabemos". Sabemos mais do que os teólogos liberais, do que os modernistas, do que os não cristãos; assim, parece que pensamos que abarcamos todo o conhe­cimento cristão. O fato é que não passamos de principiantes, de crianças, estamos meramente no começo. Devemos empenhar-nos em ir adiante rumo à perfeição. Estaríamos interessados na doutrina cristã? Vemos realmente a sua importância, ou a achamos coisa aborrecível e insípida? Estaríamos sempre em busca de algo que nos agite e nos entretenha? Nós nos damos conta de que, tendo sido salvos, chamados e colocados em Cristo, o que Deus deseja é que cresçamos em nosso entendimento da verdade e da doutrina, que devemos ocupar-nos mais disso do que de qualquer outra coisa, que os "olhos do nosso entendimento", a nossa compreensão, sejam iluminados com esse fim?
Tendo isso em mente - e quão vitalmente importante é isso! ­passamos à primeira das três coisas que o apóstolo queria que estes efésios soubessem, a saber, "qual seja a esperança da sua vocação" (Ef 1:18).

Ü A esperança da Sua vocação (Ef 1:18):


◘ “Esperança”:

Tem havido considerável disputa quanto ao sentido da palavra "esperança" nesta declaração. Alguns dizem que significa as coisas pelas quais esperamos. Mas não pode estar certo, pois é dessas coisas que Paulo trata na segunda petição, concernente ao conheci­mento das "riqueza da glória da sua herança nos santos". Às vezes "esperança" significa isso nas Escrituras, mas aqui não. Certamente o apóstolo está se referindo:

· À nossa esperança propriamente dita;
· À nossa percepção de que fomos chamados para estas coisas e por estas coisas;
· Noutras palavras, mais uma vez a referên­cia é à certeza da salvação.

◘ “Vocação”:

A próxima palavra que se nos depara é "vocação" – "para que saibais qual seja a esperança da sua vocação". Esta palavra nos apre­senta de imediato uma grande questão teológica, um grande princí­pio teológico, uma importante matéria de doutrina. Submetamo-nos a uma prova, mais uma vez. Tenho acentuado que não há nada mais importante do que os olhos do nosso entendimento ficarem ilumi­nados. Os seus "olhos" foram tão iluminados que, como cristão, digamos, já há um bom número de anos, você entende este termo "vocação"? A intenção é que o entendamos. Mas, que é esta "voca­ção" a que o apóstolo se refere? Provavelmente você já leu esta Epístola aos Efésios muitas vezes, mas você sabe o significado deste termo? Temos ai um grande termo do Novo Testamento, um termo que infelizmente ouvimos muito poucas vezes nos tempos atuais, porém um termo que antes era considerado importante, especialmente entre os evangélicos.
Nossos pais costumavam ensinar, acertadamente, que há dois chamados ou duas "vocações" nas Escrituras. Há um chamado geral, e um particular. Lemos, por exemplo, no capítulo 17 do livro de Atos, que o apóstolo, pregando aos atenienses disse:

"Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo lugar, que se arrependam".

· Aí o chamado é geral.

O evangelho de Jesus Cristo lança um chamamento geral a toda a humanidade, para que todos se arrependam e creiam no evan­gelho. O evangelho deve ser pregado a todas as criaturas em todos os lugares, no mundo inteiro; e elas devem ser "chamadas" para se arrependerem e crerem. Obviamente, o apóstolo não pode estar se referindo a esse uso neste ponto, porque esta não é uma carta geral dirigida ao mundo, e sim uma carta especial escrita para cristãos. Ele está elevando esta oração especial em favor daqueles que já criam no Senhor Jesus Cristo. Portanto, esta é uma referência a outro tipo de chamado que se acha nas Escrituras.
Há um chamado especial, ou, para usar o termo que de fato os nossos pais usavam:

· Há uma "vocação" ou "chamada eficaz".

O cha­mado geral de Deus nem sempre é eficaz. Muitos que ouviram o chamado geral finalmente se verão no inferno. Há os que estão vivendo em pecado e se gabam disso, e que podem dizer-lhes exatamente o que significa o evangelho. Eles têm um conhecimento intelectual e geral dele. Ouviram o chamado geral, mas não lhe res­ponderam como deviam; não foi "eficaz" no caso deles. Contudo, há um tipo de chamado ou vocação que é eficaz. É o que o apóstolo expõe com tanta clareza no capítulo 8 da Epístola aos Romanos, com estas palavras:

"Sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto" (ou "segundo o seu propósito", VA e ARA).

· Os "chamados" neste caso não podem relacionar-se com o chamado geral, porque os que ouviram e não o atenderam não "amam a Deus" e portanto não foram "chamados segundo o seu propósi­to".

Os "chamados" aos quais o apóstolo se refere nessa passagem e aos quais unicamente se aplica a grande promessa, ele define mais adiante quando prossegue, dizendo:

"Porque os que dantes conhe­ceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho; a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorifi­cou." (Rm 8:28-31)

· Isso se refere a uma vocação eficaz;
· As pessoas chamadas neste sentido foram justificadas e, além disso, foram glorificadas; mas isso não se aplica ao homem do mundo que recebeu o chamado geral para arrepender-se e crer;
· Portanto, o que temos em Efésios 1:18 não é um chamado geral, é o chamado eficaz ou especial.

Podemos expor o ponto da seguinte maneira:

· Deus, mediante o evangelho e pelo Espírito Santo, envia este chamado geral ao mundo todo, mas chama algu­mas pessoas em particular, e nenhum homem é cristão, a menos que tenha sido chamado neste sentido especial;
· Os "chamados" são os cristão; os cristãos são os "chamados". São aqueles em quem a Pala­vra foi tornada eficaz; ela chegou a eles com poder, e veio como uma ordem que lhes foi irresistível, e prontamente responderam a ela com todo o seu ser.

A petição do apóstolo é que eles conheçam a esperança desta vocação. "Fostes chamados", diz ele noutro lugar, "com uma vocação celeste". Noutro lugar ele diz que os cris­tãos foram chamados com "uma santa vocação" (cf. 2 Tm 1:9 e Hb 3:1). O que ele deseja que conheçamos é a esperança desta vocação, a segurança, a certeza dela. Você tem certeza da sua salvação? Para empregar as palavras de Pedro, você tem feito "cada vez mais firme a sua vocação e eleição" (2 Pe 1:10)? Esse é o segredo de uma vida cristã feliz. O inimigo está aí, o diabo ataca sugerindo dúvidas e incertezas; o pecado nos perturba e nos faz pensar que talvez nunca tenhamos sido cristãos. Você está seguro da esperança da sua vocação?
Isso é da própria essência da posição protestante e evangélica. Os católicos romanos não gostam da doutrina da certeza da salva­ção e a denunciam. Eles não querem que tenhamos certeza pessoal; a nossa certeza deve estar na igreja com a qual nos compromete­mos. Não só isso, mas temos que passar pelo purgatório, dizem eles, antes de chegarmos ao repouso prometido. Tudo é incerto; e tudo depende da igreja, e das orações da igreja, de acender velas, do pagamento de dinheiro pelas indulgências, e da obra de supererrogação dos santos. Toda a posição romana é incerta e pre­cária. Todavia a essência do protestantismo, como Martinho Lutero descobriu para sua grande e eterna alegria, é que:

· O cristão individu­al pode conhecer a sua salvação como certa e segura;
· Ele pode desafiar todos os demônios, o inferno e o próprio satanás;
· O cristão conhece o Cristo em quem ele crê; sua esperança é segura; sua vocação e eleição são seguras;
· Segurança e certeza devem ser a possessão de todos os cris­tãos.

A negação disso não se limita aos católicos romanos. Certas escolas modernas também o rejeitam. A escola bartiana de pen­samento que, em sua rejeição do velho liberalismo, parece asse­melhar-se à posição evangélica, é, não obstante, radicalmente diferente, e particularmente por esta razão: ela não gosta de segu­rança. Ela ensina que o cristão nunca pode ter certeza. Mas, con­forme a oração do apóstolo:

· O cristão deve conhecer a esperança da sua vocação, deve estar absolutamente seguro dela;
· E o primeiro passo para chegarmos a esta segurança, é que os olhos do nosso entendimento sejam iluminados.

Também vimos que uma parte da resposta acha-se na doutrina completa da selagem do Espírito, cujo propósito, como vimos quando estudamos o versículo 13, é levar-nos a esta segurança. Entretanto, isso não é tudo. De outro modo o apóstolo não estaria orando desta maneira pelos cren­tes efésios. Ele simplesmente diria: graças a Deus que vocês têm segurança; vocês foram selados com o Espírito, e não precisam de mais nada. Mas o que ele diz é, com efeito:

· Eu sei que vocês foram selados com o Espírito, porém ainda oro para que os olhos do seu entendimento sejam iluminados, e para que conheçam qual é a esperança da sua vocação – a vocação pela qual Deus os chama.

A distinção parece que é como segue: a selagem com o Espíri­to, como vimos, é mormente subjetiva, é algo que sucede na esfera da experiência e que, em certo sentido, não pode ser exposto com palavras; que é o Espírito dando testemunho com o meu espírito diretamente, que eu sou o filho de Deus. Mas, graças a Deus, esta não é a única base da segurança, pois, se formos depender da nossa consciência, poderemos ver-nos um dia num estado de grande dúvida. Você pode ter tido a selagem com o Espírito e, todavia, em conseqüência de alguma queda em pecado, ou em razão das cir­cunstâncias, doença ou alguma fraqueza da carne, o diabo pode bombardeá-lo tanto, a ponto de abalar a sua confiança. Ele é como um leão a rugir, como nos lembra o apóstolo Pedro, e ele pode vir atacar-nos com tal poder que todo o seu universo fica abalado, e você pode ser tentado a dizer: "O que eu tive deve ter sido uma experiência falsa, e eu devo estar me iludindo". Se você confiar só no subjetivo, poderá ver-se em condições miseráveis. Por isso o apóstolo está grandemente interessado em que conheçamos outras bases da segurança e tenhamos outra base mais para toda a nossa posição:

· Ele está se referindo agora a algo objetivo, e os olhos do nosso entendimento precisam ser iluminados para o recebermos.

É algo que vem pela mente e depois age em todo o nosso ser. Não é teórico, mas começa pela mente; é essencialmente uma questão de entendimento. Nosso entendimento já não está obscurecido, tornamo-nos despertos para a verdade espiritual; e a nossa seguran­ça e certeza baseiam-se nesse entendimento.

Ü Fatores essenciais da nossa esperança (ou da nossa segurança):

1) O primeiro ingrediente, o primeiro fator essencial dessa segu­rança, dessa esperança é que cheguemos a um maior e mais profundo conhecimento do Deus que nos chamou:

Notem que o apóstolo tem todo o cuidado de dizer:

"Para que saibais qual seja a esperança da sua vocação." (Ef 1:18)

Para termos uma segura esperança, para termos uma profunda certeza, precisamos buscar o conhecimento mais profundo do Deus que nos chamou. Nada pode dar-me maior esperança e segurança do que o meu conhecimento do caráter de Deus. "Não ouso confiar na mais suave disposição", como nos lembra o hino, porque as disposições são mutáveis, mas em Deus eu posso confiar sempre:

· Deus é eterno, Deus é imutável, Deus é sempiterno;
· Deus nunca muda o Seu propósito.

Não há maior conforto ou consolo do que este:

· Deus nunca inicia uma obra sem terminá-la.

Sobre mim e você pesa a culpa de fazermos isso constantemente. Ficamos cheios de emoção, entusiasmo e animação com certos projetos, e os outros, vendo-nos, ficam espantados com o nosso entusiasmo, com a nossa energia e com os nossos esforços, e acabam se sentindo como não tendo feito nada. No entanto, com muita freqüência, no prazo de seis meses o quadro é inteiramente outro. Perdemos o entusiasmo e o interesse, e voltamos a ser cris­tãos frouxos e formais. Mas com Deus nunca acontece isso. Deus é eternamente o mesmo, é:

"o Pai das luzes, em quem não há mudan­ça nem sombra de variação" (Tg 1:17).

Não há maior conforto ou base de segurança. Pois bem, foi este Deus eterno e imutável que me chamou; e com outro hino nos lembra:

Coisas futuras e coisas de agora,
Nada que há embaixo, nada que há em cima, Podem levá-lO a evadir Seu propósito
Ou minha alma cortar do Seu amor.

2) Depois também devemos compreender que toda a nossa posi­ção repousa na aliança de Deus:

Os olhos do nosso entendimento terão que ser iluminados para podermos conhecer algo da aliança de Deus. Deus fez uma aliança - aliança da redenção, aliança da salvação - com Seu Filho antes da fundação do mundo. E visto que é Sua aliança, é uma aliança eterna. Deus é Jeová, o Deus que cumpre a aliança; Aquele que diz:

"Eu sou o que sou" (Ex 3:14).

Deus deu a Seu Filho um povo que Ele deve redimir. O Filho entrou na aliança prometendo fazê-lo. O Senhor Jesus Cristo é a Cabeça de uma nova humanidade, é o nosso representante, Ele é o nosso Chefe Federal, e somos representados por Ele. A aliança entre o Pai e o Filho é uma aliança eterna. Esta aliança foi revelada aos homens e foi repetida. Esta promessa de redenção foi feita a Adão, a Abraão, foi repetida também a Moisés, depois a Davi, e ensinada constantemente nos escritos dos profetas que Deus levantou e enviou aos filhos de Israel. Quanto mais entendermos a verdade sobre a aliança divina da redenção, maior será a nossa segurança. Temos ainda a grande verdade ensinada no capítulo 6 da Epístola aos Hebreus, nos versículos 13-20. Deus fez até juramento para ajudar-nos. Não precisava fazê-lo, mas o fez para Abraão. "Confirmou" a sua promessa com um juramento. Ele "jurou por si mesmo". Não havia ninguém maior por quem jurar, e assim Deus "jurou por si mesmo" que o Seu prOpósito não mudaria. Ele a subscreveu, garantiu-a, fê-la absoluta­mente segura e inviolável. O juramento de Deus! Você estudou isso na Palavra? Passou tempo meditando nisso? O autor da Epístola aos Hebreus sugere que os cristãos hebreus que tenham sido muito diligentes"servindo aos santos" em outras questões práticas, tinham sido negligentes neste aspecto, pelo que ele os exorta a mostrare:

"O mesmo cuidado até o fim, para a completa certeza da esperança" (Hb 6:11).

· Retornem à aliança, estudem o juramento de Deus, procurem compreender a sua relevância para vocês e sejam ilumi­nados acerca dessa matéria;
· Esta é a matéria de tornar segura a sua esperança.


3) A seguir, pensem no poder de Deus:

Apenas menciono isso no momento porque o apóstolo vai tratar disso em particular em sua terceira petição na passagem em foco. Mas podemos estar certos de que nada poderá impedir o propósito de Deus, nada poderá frustrar o plano de Deus. É absolutamente certo porque o poder do Deus Todo-poderoso está por trás dele.


4) Devemos compreender também que o "chamado" de Deus faz parte do Seu plano:

Embora contendo muitas partes, Deus vê esse plano como um todo, e, portanto, se estamos nesse plano, o fim conclusivo é absolutamente certo para nós. A lógica dessa afirma­ção é demonstrada por Paulo no capítulo 8 de Romanos, versículos 29-31:

"Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem do seu Filho; a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou."

E em seguida ele pergun­ta:

"Que diremos pois a estas coisas?" (Rm 8:31)

E responde:

"Se Deus é por nós, quem será contra nós?" (Rm 8:31)

A lógica é inexorável; é a base da nossa certeza concernente a esta bendita esperança. Noutras pala­vras, se eu fui chamado eficazmente, estou certo de que chegarei ao fim glorioso. Se na mente de Deus eu sou chamado, já estou "glori­ficado", É tão certo assim! Quando Deus começa uma obra sempre a termina.

"Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo." (Fp 1:6)

Nada pode detê-la. A aliança é somente uma, o plano é somente um; se um elo estiver presente, todos os outros elos terão que seguir-se.

"Ninguém as arrebatará da minha mão", diz o nosso Senhor (Jo 10:28).

Isso está claro para você? Você vai freqüentemente ao capítulo 8 da Epís­tola aos Romanos, e o lê e ora e diz: "Acaso isso é verdadeiro a meu respeito; eu fui chamado logo estou justificado, logo já fui glorifica­do em Cristo"? Quando o diabo o ataca, você lhe responde citando estas Escrituras? Foi o que o nosso Senhor fez quando foi tentado pelo diabo. Ele tinha este entendimento, e respondeu ao diabo citando as Escrituras. Isso constitui uma parte do que significa termos os olhos do nosso entendimento iluminados.


5) Finalmente, precisamos entender a doutrina subjacente ao que já nos aconteceu:

Uma das maiores e mais práticas bases da segu­rança é a doutrina do novo nascimento ou da regeneração. Se nasci de Deus, do Espírito, não posso cair; é impossível. Isso de "cair da graça" não existe. É completamente inconcebível e impossível que o Deus eterno implante em nós a semente da vida eterna e depois permita que alguma coisa a destrua. A idéia de que um dia poder­mos nascer de novo, depois pecar e perder a nossa vida eterna, e depois nascer de novo, e assim oscilar entre as duas posições, baseia-se numa completa ignorância da doutrina da regeneração. Os que a subscrevem precisam ter iluminados os olhos do seu entendimento. Segundo o ensino bíblico, se simplesmente sou cris­tão, estou "em Cristo", estou unido a Cristo, estou ligado a Cristo. Eu estava "em Adão", e agora estou "em Cristo". Estou ligado a Ele por elos indissolúveis. No momento em que estendermos esta dou­trina, a nossa esperança será certa e segura. Você não pode estar em Cristo e fora de Cristo; você não pode estar "em Cristo" um dia, e fora de Cristo no dia seguinte; se você está "em Cristo" nunca mais poderá estar fora de Cristo outra vez. Ou você está em por toda a eternidade, ou fora por toda a eternidade. Devemos captar e conhe­cer esta doutrina da nossa bendita união, da nossa união mística com Cristo. Ele é a Cabeça, como Paulo vai desenvolver o ponto no fim deste capítulo, e nós somos o corpo; nós estamos "nele" e per­tencemos a Ele e estamos ligados a Ele.
Torno a perguntar: estas coisas significam tudo para você? Essa é a prova da nossa espiritualidade, a prova do nosso crescimento na graça.
Permitam-me aplicar a minha prova indagando se podemos di­zer com sinceridade e com confiança -

Minha esperança é construída em nada menos
Que o sangue de Jesus e Sua justiça;
Não ouso confiar na mais suave disposição
Mas de todo me apóio no nome de Jesus:
Em Cristo. a firme Rocha, é que me firmo,
Qualquer outro terreno é arreia movediça.

E pergunto se você pode continuar a recitar esse hino, mesmo quando as nuvens são negras e tudo parece ir contra você, e dizer -

Quando as trevas encobrem Sua amável face,
Eu repouso em Sua imutável graça;
Em todo o tempestuoso escarcel
Minha âncora se fixa dentro do véu.

Mas, acima de tudo, você pode juntar-se ao escritor do hino em sua estrofe final? –

Seu juramento, Sua aliança, e Seu sangue
Me firmam na torrente avassaladora:
Quando tudo o que me cerca desaparece,
Ele é então toda a minha esperança e o meu esteio.
Em Cristo, a firme Rocha, é que me firmo,
Qualquer outro terreno é areia movediça.

Você conhece "a esperança da sua vocação"? Você tornou "mais firme a sua vocação e eleição"? Você está repousando em "Seu juramento, Sua aliança, e Seu sangue", em Sua imutabilidade, quer você O veja quer não, quer você O sinta quer não? Você pode descansar na verdade concernente a Ele, a qual, em Sua graça, Ele nos revelou em Sua Palavra por meio do Espírito Santo, e que Ele nos capacita a captar e apreender pela iluminação dos olhos do nosso entendimento? Busque-a! Você foi destinado a regozijar-se, a ter uma firme esperança que nada pode abalar. Você pode tê-la dessa maneira.

Fonte: O supremo propósito de Deus - Exposição sobre Efésios (1: 1-23)

Por: D.M Lloyd Jones

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