O FILHO DE DEUS NA TRINDADE – Gino Ianfrancesco
«Quem subiu ao céu, e desceu? Quem encerrou os ventos em seus punhos? Quem atou as águas em um pano? Quem firmou todos os termos da terra? Qual é o seu nome, e o nome de seu filho, se sabes?» (Prov. 30.4).
Estas são perguntas que o Espírito do Senhor conduz aos homens para fazê-las, olhando o que Deus tem feito, porque como está escrito em Romanos 1:20, «as coisas invisíveis dele, o seu eterno poder e divindade, fazem-se claramente visíveis... por meio das coisas criadas».
E essa pergunta, «Quem...?», é a mesma que, de um redemoinho, Deus também faz a Jó. A evidência das coisas criadas nos leva a perguntar não só: E como...? Mas o Quem inicial. Quem começou, e quem deu sentido às coisas.
Mas o que chama mais a atenção aqui é que o Espírito Santo fez compreender a este homem do Antigo Testamento que, este Quem, que planejou e fez todas as coisas, tem um nome e também tem um Filho, e esse Filho também tem um nome. E ele pergunta pelo nome deste Quem, mas não bastou por perguntar pelo Quem, mas também pelo Filho. Confessou, no Antigo Testamento, ao Filho, e o confessou em um contexto da criação das coisas.
Porque as vezes seria mais fácil confessar o Filho em relação ao Messias, em sua passagem pela terra. E nós hoje, os cristãos, confessamos o Filho na encarnação. Mas aqui o Espírito conduziu a Agur a perguntar pelo nome de Deus, por esse necessário Criador de todas as coisas, que tem um nome, mas que também tem um Filho.
Hoje em dia, a nós, na era do Novo Testamento e da igreja, depois da vinda do Senhor Jesus, é mais fácil perguntar pelo Filho. Perguntar pelo Filho no Antigo Testamento era muito mais complicado. A revelação do único Deus no Antigo Testamento incluía o Filho de Deus.
As palavras de Jesus
Notem naquelas palavras de Jesus no evangelho de João: «E esta é a vida eterna: que te conheçam a ti...». E poderíamos pôr um ponto final aí, mas como Agur filho de Jaque não pôs, Jesus também não pôs. «...que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e...». Nesse «e...», há muita revelação. Alguém diria: «...o único Deus verdadeiro».‘É mais que suficiente. Que mais queremos?’. Mas não. Diz: «...o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste».
«Qual é seu nome –pergunta Agur–, e o nome do seu filho?». Irmãos, no fato de que Deus tenha um Filho Unigênito, eterno com ele, revela-se a essência e a natureza de Deus de uma maneira mais clara do que de nenhuma outra maneira. E dessa revelação espiritual para a igreja, do único Deus e de seu Filho, no Espírito, a igreja aprende a ser igreja.
O Senhor Jesus Cristo disse uma frase muito importante: «...como tu, Oh Pai, em mim, e eu em ti, que também eles sejam um em nós» (João 17:21). Essa é uma frase muito rica e profunda. Caso não fosse assim, se o próprio Deus não tivesse proposto nos incluir no seio de algo tão glorioso, nós ficaríamos nas trevas exteriores.
E por isso é que nos atrai com esta, sua luz, a luz do maior espetáculo que as criaturas podem e poderão conhecer. Nunca haverá nada igual, nada tão digno de nossa completa atenção, tão digno de nossa contemplação, como a relação do Pai, do Filho e do Espírito Santo no único Deus trino, na Trindade de Deus.
«...como tu, Oh Pai, em mim, e eu em ti...». Esse é o modelo para a igreja. «...como...». Aí é onde o Espírito Santo tem um grande trabalho conosco hoje: fazer-nos entender espiritualmente esse: «…como tu, Oh Pai, em mim, e eu em ti...». É o modelo estabelecido por Cristo. «...que também eles –a igreja– sejam um...». E em seguida diz, não apenas o modelo, mas onde já está a possibilidade, a realidade necessária para que isto aconteça. Então diz: «...em nós». O que queria sublinhar neste dia é esse nós da Trindade.
A mentira de Satanás
Satanás disse: «...sereis semelhante ao Altíssimo ... junto às estrelas de Deus, levantarei o meu trono» (Isaías 14:13-14). Tinha sido criado um grande querubim, um selo de perfeição; mas quis levantar-se mais. E, para poder tomar o lugar de Deus e conquistar a muitas criaturas com o seu engano, ele começou propondo em suas contratações das que nos fala Ezequiel –que Deus conhecia e se calava– de que, ao final das contas, tudo o que foi criado era a divindade.
Ele não tirou o nome de Deus. Ele deixou o nome de Deus, porque queria atribuir a si mesmo. Só que começou a lhe aplicar esse nome, como uma maneira de cativar e enganar os outros, a toda criatura, a substância, a totalidade, o tudo; isso é Deus. E em seguida, desse panteísmo, que é um ateísmo disfarçado, porque aplica o nome de Deus à criatura, deixa Deus sem lugar algum, daí não há senão um passo para o dualismo e o politeísmo.
O dualismo, de que o bem e o mal são coexistentes e são duas forças eternas, as duas iguais, que se necessitam e se complementam mutuamente. E assim, foi levando pouco a pouco o mal à categoria do bem.
Adora-se a plenitude de tudo. Se todas as coisas são parte de Deus, alguns irão adorar o milho, outros irão adorar as vacas, outros irão adorar o sol, porque tudo é parte dessa substância divina do que está feita a totalidade do universo. Essa é a mentira da serpente, querendo roubar a glória de Deus, conduzindo as coisas ao panteísmo, para conduzi-las ao politeísmo, ao dualismo e ao satanismo. Essas são as suas artimanhas, as suas contratações, os seus enganos.
Até então, o Senhor se calava, e os anjos eram provados. E dois terços foram aprovados. Mas um terço, inclusive não apenas o querubim, mas também altos principados e potestades e muitas hostes o seguiram. Começou o mal no universo. E Deus permitiu que isso acontecesse assim. Ele, como Deus Criador, não ia entrar em luta com a sua criatura, porque seria como um homem grande lutando com uma garotinha. Deus, melhor, decidiu fazer outra criatura, porque esta primeira pretendeu fazer-se semelhante a Deus. Então, Deus decidiu fazer o homem a Sua imagem e semelhança.
O destino do homem não está no que ele possa fazer por si mesmo, mas no que ele chegue a ser em união com Deus. Aparte dessa união com Deus, esse destino supremo e superior não faria que o homem fosse superior. Diz que, em poder, era menor que os anjos. E em seguida, o Filho, fez-se como um de nós e, como homem, e na carne, foi provado de verdade, assim como você e eu somos provados.
Porque Deus não ia lutar com uma criatura que ele mesmo fez; bastava-lhe um sopro, e desapareceria. Mas isso traria glória a Deus? Isso revelaria realmente a excelência de Deus? Ele, AP invés disso, quis dar a conhecer o Filho. «Ninguém conhece o filho, senão o Pai, ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar» (Mat. 11:27).
O Pai e o Filho nos revelam
Não há coisa mais preciosa que possa nos ser compartilhada, que o próprio coração de Deus. Pelo Espírito, o Filho nos mostrando o Pai e o Pai nos mostrando o Filho, e não só o mostrando de longe, mas de dentro de nós, para que o conheçamos e o desfrutemos, de maneira que o Pai, o Filho e o Espírito possam viver a nossa vida, e nós a vida divina – como «participantes da natureza divina».
Então, Deus quis mostrar o Filho. Ninguém conhecia quem era o Filho, senão o Pai. Mas depois que aquele querubim se rebelou, e a terça parte dos anjos e o homem caíram, agora o Filho se fez como um de nós. Assumiu a natureza humana, fez-se como inferior aos anjos; ainda que ele seja superior, mas se despojou, e em seu despojamento, ele veio honrar a seu Pai.
Deus o Pai já sabia tudo isto do seu Filho, da eternidade; ele não precisava provar a seu Filho, porque sempre, desde a eternidade, estiveram juntos, e se conhecem profundamente. Mas o presente que o Pai ia dar ao Filho era todas as coisas, e entre essas coisas ia haver pessoas – pessoas do âmbito celestial, anciões celestiais, serafins, querubins, principados, potestades, arcanjos e anjos, grandes e pequenos, maiores e menores, e depois uma quantidade inumerável de seres humanos. E o Pai ia dar a seu Filho todas as coisas.
Mas essas pessoas do universo visível e invisível não conheciam o Filho da mesma maneira que o Pai, nem saberiam por que o Filho lhe daria todas as coisas e por que o Filho seria o herdeiro de tudo. Mediante a encarnação e por meio das provações do Filho, Deus começou a nos mostrar o Filho e a ressaltar o significado que o Filho tem para o Pai, sobre o pano de fundo da rebelião de Satanás.
Satanás, não sendo, pretendeu fazer-se. «Serei...». E o Filho, sendo, humilhou-se. Que contraste! Ele, sendo em forma de Deus, igual a Deus, não estimou ser igual a Deus como coisa a que aferrar-se, mas despojou-se a si mesmo. E o outro, sendo uma criatura, disse: «Serei semelhante...». E aquele que era a semelhança da glória divina, despojou-se e se fez um homem, como se fosse inferior aos anjos, e se submeteu às provações humanas, provações de verdade, como homem e como criatura.
Deus, como Deus, não lutaria com Satanás. Mas permitiria que um homem fosse tentado em tudo conforme a nossa semelhança. Por todos os flancos, Satanás começou a tentá-lo já desde menino, porque ele cresceu em estatura. Como Deus, não teria que crescer; mas como homem, tinha que crescer e aprender. Como Deus, não tem que aprender; mas ele se despojou e se fez semelhante a nós. E foi provado de verdade. «E aprendeu a obediência por aquilo que sofreu».
E Deus começou a mostrar por que ele ama a seu Filho, por que ele é o herdeiro de todas as coisas, por que seu Filho está no centro do seu coração, por que Deus faz tudo com o Filho, no Filho, pelo Filho e para o Filho. A criação não sabia por quê. Mas, a partir de todas as coisas que Deus permitiu que acontecessem, sem obrigar a nenhuma criatura, algumas delas, com sua liberdade, permaneceram fiéis e outras se rebelaram.
Então, o Filho tinha que ser provado de verdade, para que ele fosse conhecido, e também para que o próprio Deus Pai fosse conhecido, porque o que conhece o Filho conhece o Pai, porque o Filho é como o Pai, igual ao Pai. Não conheceríamos a Deus, se ele não se revelasse pelo Filho.
No mistério de Deus, revelado em Cristo, estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência de Deus. Dessa relação íntima de Deus o Pai com o seu Filho no Espírito, brotam toda a existência do universo visível e do invisível; daí brota o destino das criaturas; daí brota a função e missão delegada a cada criatura.
Inclusive, umas plantinhas, podem produzir certos remédios. Deus poderia nos curar sem remédios; mas ele quer que existam as criaturas, e lhes delega uma função. Deus poderia cuidar de nós sem necessidade dos anjos; mas ele quer que os seus anjos representem o Seu cuidado por nós, e eles têm que cuidar de nós, representando o cuidado de Deus.
Revelando-se a Israel
Israel, como vínhamos dizendo, teve que crescer e formar-se no tempo quando Satanás já tinha escurecido essa revelação primitiva, que a humanidade em seus princípios tinha tido, e tinha afastado a noção do Pai supremo do coração dos homens. E os homens tinham chegado a confundir a natureza com Deus, dando honra e glória às criaturas e negando o Criador, como denúncia Paulo em Romanos 1, e aí começou a perversão e a destruição de tudo. Aí entrou, como dizíamos, o panteísmo, o dualismo, o politeísmo, a idolatria e todas as conseqüências de degeneração que isso traz.
Então, quando Deus começou a revelar-se a Israel, a primeira coisa que tinha que lhe revelar era a respeito de sua própria unidade, e Deus enfatizou para com Israel a unidade. «Deus é um». É o coração da confissão monoteísta. Enquanto outros povos eram politeístas, tinham sido enganados, e os demônios, anjos caídos, tinham pretendido fazerem-se os deuses das nações, e exigiam sacrifícios, e os aterrorizavam, Israel conheceu o único Deus.
E em Deuteronômio 6:4 está essa confissão que é o coração da fé de Israel, o monoteísmo: «Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus, o Senhor é um». No entanto, no próprio coração da confissão do monoteísmo, o único Deus, de repente, fala no plural. Ainda que confesse claramente que é um só Deus, não tem nenhuma dificuldade em dizer : «nós». Por isso diz: «Façamos o homem a nossa imagem, conforme a nossa semelhança». O Deus único começa a falar no plural, e até o próprio nome genérico da divindade, Deus Elohim, está no plural.
Se você fosse dizer deuses, com minúscula, teria que dizer elohim, porque assim se diz Deus e assim se diz deuses. Elohim é Deus; elohim, também significa deuses. E como saber se é Deus ou é deuses, se depender do contexto? Há um versículo onde diz: «Elohim está na reunião dos elohim». Ou seja, o Deus verdadeiro, com maiúscula; só que em hebreu não há maiúsculas nem minúsculas.
Na tradução, cabe-nos saber, pelo contexto, quando é com maiúscula e quando é com minúscula. Quando é o Deus verdadeiro, temos que dizer Elohim com maiúscula, se nos referimos ao único Deus; mas quando se refere aos falsos deuses ou aos que se chamam deuses sem sê-lo, temos que pô-lo com minúscula, mas na linguagem hebraica se diz da mesma maneira – elohim.
Então, Deus inspirou que a palavra esteja escrita como está escrita, e assim nos cabe recebê-la; e o que está escrito não é para confusão, mas para revelação. Então, por que Deus está usando para si um nome genérico de divindade, de Deus, no plural? Porque se ele houvesse dito simplesmente El, haveria dito Deus – como em alguns versículos diz El, com E maiúsculo. Mas a maneira mais comum de referir-se a Deus em hebreu, a palavra genérica de divindade, é elohim, que é no plural; a terminação him corresponde ao plural masculino.
E por que o único Deus utiliza o plural, como se dissesse deuses? Mas não diz: «Disseram os deuses». Não. «Disse Deus: Façamos...». Já disse Elohim, no plural, e agora diz: «Façamos o homem à nossa imagem...». Outra vez diz «nossa». Por que o único Deus, usa as vezes o seu nome no plural e fala no plural?
E quando diz «nossa imagem», diz «nossa» que é plural, mas diz «imagem», que é singular. Por que não diz «nossas imagens» e «nossas semelhanças»? Diz «nossa», mas diz «imagem»; diz «nossa», mas diz «semelhança». O que quer dizer isso? Que na Trindade de Deus só o Filho é a imagem.
E isso se revela no resto da Escritura, que o Filho, é a imagem do Deus invisível. O Deus invisível se refere ao Pai; mas a imagem do Deus invisível, em que o Deus invisível se reconhece a si mesmo e se revela, é o Filho. E por isso ele diz «nossa imagem». Ou seja, que o Pai se sente fielmente representado no Filho. Oh, quanto a igreja tem que aprender, vamos dizer, a antropologia eclesiástica, porque fala do homem-igreja. Porque é a igreja que vai cumprir a missão do homem.
O Pai e o Filho
Deus disse: «Façamos o homem...». Mas só a igreja chegará a ser esse homem. Porque, apenas haviam começado e já os primeiros pais foram se entortando, e todos os que nasceram depois, nasceram todos tortos, e esse homem se tornou um velho homem, torcido.
E teve que vir o Senhor Jesus, e fazer-se homem, como um segundo homem, vestir-se de nós, e nos desenredar, levar a nossa humanidade à máxima potencia, ao máximo das possibilidades da natureza humana, para estar em união com o seu Pai, porque, como recordamos no princípio, o homem não foi criado para bastar-se a si mesmo. Desde o começo, foi criado em função de Deus, para viver com Deus, para dar lugar a Deus, para expressar e para representar a Deus coletivamente.
Porque, quando disse: «Façamos...», aí está a Trindade. Aí está envolvido o Pai. O Pai faz sua parte, mas ele não quer fazer nada sozinho, e essa é outra coisa da qual temos que aprender. Quantas coisas fazemos sozinhos!
Mas o Pai, que é Deus, que é todo-poderoso, não faz nada sozinho. Ele diz: «Façamos...». E antes de fazer, planeja com o Filho. Aqui, quando você lê em Provérbios capítulo 8, a respeito da sabedoria divina, sobre o Filho de Deus, o Verbo de Deus, em castelhano não aparece a tradução tão clara como aparece no português. Por exemplo, uma versão em português, em Provérbios 8, diz que o Filho era o arquiteto que estava com o Pai. O arquiteto é o que planeja com outro.
Se um arquiteto for fazer uma casa para uma família, ele tem que notar o que diz o pai de família. E se o pai é um pai sério, não fará a casa sozinho, tudo à partir do seu ponto de vista; também vai incluir o ponto de vista da mãe, e também irá procurar se colocar no lugar dos filhos. Porque assim é Deus. Deus é soberano, mas não é arbitrário.
Deus não fez nada sozinho! «Sem ele, nada do que foi feito, se fez». Isso nos mostra como Deus não faz nada sozinho. Não planejou nada sozinho, não criou nada sozinho. Inclusive quando teve que redimir, redimiu usando o Filho. «Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo» (2ª Cor. 5:19). O Pai faz tudo com o Filho.
O Filho e o Pai
E o Filho é a mesma coisa. O Filho diz: «...nada faço por mim mesmo, mas conforme me ensinou o Pai, assim falo» (Jo. 8:28). E o Pai, porque ama o Filho, lhe mostra tudo o que o Filho faz. Ele não quer nos ter somente na qualidade de servos que não sabemos o que ele faz. Diz: «Já não vos chamarei servos... mas vos chamei amigos, porque todas as coisas que ouvi de meu Pai, vos tenho dado a conhecer». «Tudo o que o Pai me conta (e lhe conta tudo) eu vos tenho revelado. Por isso são meus amigos, não apenas servos».
O Senhor faz, dos servos, amigos. De onde ele aprendeu isso? De seu Pai, porque ele é a imagem de seu Pai, ele é igual o seu Pai. Ele representa ao Pai sem distorcê-lo, ele é a testemunha fiel e verdadeira de Deus. Nós conhecemos a Deus pelo Filho. Ninguém conhece o Pai, senão pelo Filho.
Assim é Deus. O único Deus é uma Trindade. E, portanto, a igreja é um corpo, e o homem é uma família, e a obra é em equipe. Tudo se deve a Deus. Daí é onde brota tudo. Podem notar? E deixar a ele nos guiar e nos ensinar, é o que nos conduz à verdadeira saúde. Para isso fomos criados, não para ficarmos no caminho, mas para nos levantar de novo, limpos, perdoados, regenerados, renovados, transformados, para viver como um só corpo para o nosso único Deus trino.
«...como tu em mim...». Ai, como será isso! Como é que o Pai é no Filho? Isso o Filho tem que nos ensinar. «...e eu em ti...». Isso também o Filho tem que nos ensinar. Mas o Filho disse: «Naquele dia conhecereis...». Aleluia! Há possibilidade de conhecer este mistério. Esse é o trabalho do Espírito Santo. «Naquele dia conhecereis que eu estou em meu Pai, e meu Pai está em mim, e eu estou dentro de vós com o Pai. O Pai e eu viremos, e faremos morada com eles».
O Espírito do Pai
A igreja é a morada do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Por isso, o Espírito Santo também é chamado, na Bíblia, o Espírito do Pai, e também o Espírito do Filho. Isto é importante. Vamos ver o Espírito do Pai. Mateus 10:19-20.
«Mas quando vos entregarem... não vos preocupeis por como o que falareis; porque naquela hora vos será dado o que haveis que falar». «...vos será dado», porque não se trata de falar por nós mesmos, mas que ele fale com todos. «Porque não sois vós que falareis, mas o Espírito do vosso Pai é que fala em vós». Vê? A Bíblia diz «...o Espírito do vosso Pai», e Jesus disse que o Espírito procede do Pai. Mas também disse que procede dele, porque ele o envia, e quando o Espírito Santo vem, ele vem. «Não vos deixarei órfãos; virei a vós» (Jo. 14:18). «...rogarei ao Pai, e vos dará outro Consolador» (Jo. 14:16).
«...o Espírito do vosso Pai». Ou seja, que o Espírito Santo nunca está sozinho nem solto; ele não fala por sua própria conta. O Espírito Santo fala o que ouve do Filho e do Pai. Podem notar? Assim é o próprio Deus trino. Ele mesmo disse que um cordão de três dobras não se pode romper, e assim é a Trindade. Como nós não vamos ser também assim? Que Ele nos ajude, não é verdade, irmãos? Conduza-nos, trabalhe em nós, para poder encaixar uns com os outros em Deus, para sermos um na Trindade.
«...como tu, Oh Pai, em mim, e eu em ti, que também eles sejam um em nós...». Vamos nos deter nesse como e nesse nós do único Deus. Então, passemos a Romanos 8:11. E aqui diz: «E se o Espírito daquele que levantou dos mortos a Jesus...». Quem levantou Jesus dos mortos? Claro, nosso Pai. «E se o Espírito daquele que levantou a Jesus dos mortos habita em vós, aquele que levantou a Cristo Jesus dos mortos –o Pai– vivificará também os vossos corpos mortais por seu Espírito que em vós habita». Não sozinho, mas por seu Espírito.
Aqui lhe chama «o Espírito daquele que levantou a Jesus dos mortos», ou seja, o Espírito do Pai. Mas Gálatas 4:6 nos fala do Espírito do Filho. «E porque sois filhos, Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Abba, Pai!». Mas, ao mesmo tempo, a Bíblia diz que o Espírito é um só. Um só Espírito no sentido de divindade, de pessoa. Em um lugar fala dos sete espíritos, mas se virmos os nomes dos sete espíritos, iremos notar que é o mesmo.
Mas aqui diz «o Espírito de seu Filho». O Espírito é do Filho; está relacionado de tal maneira com o Filho, que diz que nada fala por si mesmo, mas sim «...tomará do que é meu». O Espírito toma o que é do Filho, e tudo o que é do Pai é do Filho; então é também do Pai e do Filho. Ou seja, que o Espírito Santo é o Espírito que provém do Pai e do Filho.
Esse Espírito contém o Pai e o Filho. O Pai ama o Filho e o Filho também ama o Pai; então, o Pai faz tudo para o Filho. Diz que agradou ao Pai que no Filho habitasse toda plenitude. Então, há uma plenitude divina que flui do Pai para o Filho e do Filho para o Pai, uma plenitude divina que provém do amor do Pai e do Filho, é o amor comum entre o Pai e o Filho.
Esse é o Espírito que provém do Pai e do Filho. O Pai é o amante, o Filho é o amado, e o Espírito Santo é o amor compartilhado. O Pai ama o Filho, dá tudo ao Filho; o Filho devolve tudo ao Pai, de maneira que o Pai tenha a plenitude, mas essa plenitude passa ao Filho, e o Filho a recebe e a devolve ao Pai.
O Espírito Santo na igreja
Então, diz: «...o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rom. 5:5). Ou seja, o que é que Deus fez para que a igreja possa ser uma? Deu-nos o Espírito, que é o do Pai e o do Filho. O Espírito do Pai e do Filho é o Espírito Santo na igreja. Por isso diz. «como tu em mim, e eu em ti...». Isso ninguém sabe a não ser o Espírito. Quem conhece as coisas profundas de Deus, a não ser o Espírito que está em Deus?
Se de nós dizia lá em Provérbios 20:27 que o espírito do homem é a lâmpada que esquadrinha o profundo do homem, então, quanto mais o Espírito de Deus é o que esquadrinha as profundezas de Deus (1a Cor. 2:10). Ninguém sabe como é Deus, mas o Espírito foi dado, para que conheçamos a Deus, participemos da natureza divina, sejamos introduzidos no seio de Deus, tenhamos acesso por um mesmo Espírito ao Pai (Ef. 2:18).
Que a igreja esteja no Pai. Se a igreja estiver no Filho, o Filho a introduz ao Pai. Então, o Pai está no Filho, e o Pai e o Filho, pelo Espírito, estão na igreja. E agora a igreja, quando está no Espírito, está no Filho, e quando está no Filho, está no Pai. Ele está em nós e nós estamos nele, se andarmos no Espírito.
Um em nós
Então, «...como tu, Oh Pai, em mim, e eu em ti, que também eles sejam um em nós». Irmãos, para lá é que Deus está nos conduzindo. Ficamos maravilhados do que Deus tem em seu coração. E nós olhamos para nós mesmos, e dizemos: ‘Senhor, mas, como pode ser tão valente de tomar a mim? Vou estragar toda a festa no céu’. Não é verdade, irmãos? Mas ele disse: ‘Não vou deixar que a estrague. Vou te limpar, vou te endireitar’, assim como essas tábuas de acácia do tabernáculo, que ele as endireitou e as encaixou uma com a outra, para conter a glória de Deus em um só tabernáculo.
Nada é grande demais para Deus. Graças a Deus! Ele é capaz de fazer isto, se tu quiseres; e essa é a coisa mais séria, que ele não vai fazer se você não quiser. Porque, quando ele disse que ia fazer o tabernáculo, só seria com os que voluntariamente se oferecessem de todo coração, espontaneamente. Como é Deus, ele não tem apuro.
Sem apuro
Deus não tem apuro. Ele disse: «Façamos...». Que coisa Deus se propôs a fazer! Fazer um homem coletivo. «Façamos o homem...». Não disse somente: ‘vamos fazer o primeiro, e se falhar...’. Deus diria algo parecido? Será que o diabo estragou os propósitos de Deus? Acaso Deus não sabia que tinha o diabo? Claro que sabia! E quando o Senhor Jesus veio como homem, aonde o Espírito o conduziu? Não diz que ao deserto, para ser tentado? E não diz que ele conduziu também a Israel para ser provado, e que ainda deixou o diabo provar à igreja em Esmirna?
Deus quer que tudo seja feito voluntariamente e seja provado. Que Deus tão grande temos! Ele não quer aparência nenhuma, não quer nada falso, nada que seja puro teatro. Nada disso! Bem fundamentado. Cada um, começando por seu Filho. Ainda que o Pai não precisasse provar o Filho, todos nós precisávamos conhecer o Filho, e por isso o Pai o deixou vir como homem, e ser provado como homem.
E ele disse: «Vós sois os que haveis permanecido em minhas provações. Eu, pois, vos designo um reino» (Luc. 22:28). Ou seja, que temos que acompanhar o Senhor em suas provações, ver como ele foi provado. E quando somos provados um pouquinho, que não é nada comparado com o que ele foi provado, o exploramos, ou estamos por explorar. Mas o Senhor, não. O Senhor venceu na provação. Graças a Deus que ele também morreu por nós, para nos limpar e começar de novo. Glória a Deus!
Ele foi provado, e nós também somos provados. Mas ele morreu, para que nós sejamos perdoados, e nos dá outra oportunidade para que nos levantemos para honrar o Filho. Porque ele disse: «Façamos isto», e ele é capaz de fazê-lo. E ele não se equivocou quando escolheu às pessoas. Deus não se equivoca quando escolhe às pessoas.
Deus sabia todo o futuro desde o começo, mas mesmo assim nos escolheu; porque ele sabia que no final chegaríamos. «...aos que antes conheceu, também os predestinou ... E aos que predestinou, a estes também chamou». Ou seja que, se foi chamado, não teria sido se não fosse predestinado.
Todo predestinado é chamado, todo predestinado é conhecido de antemão. «...aos que antes conheceu, também os predestinou para que fossem feitos conforme à imagem de seu Filho, para que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou». Limpou com o seu sangue, pagou a sua dívida com a sua morte.
«...e aos que justificou, a estes também glorificou». E diz no passado. A decisão e a realização, em Cristo, estão realizadas. Porque Cristo se vestiu da nossa humanidade, ele já passou pela morte, mas também pela ressurreição e também pela glorificação. A nossa humanidade, da que ele se vestiu, já foi glorificada nele.
Agora, o Espírito Santo toma o que é dele e vai passando ao nosso espírito para regenerá-lo, e ao longo de nossa vida vai passando à nossa alma para nos renovar, e pela renovação, nos transformar, e pela transformação, nos conformar individualmente e coletivamente à imagem do Filho.
E enquanto isso vivifica os nossos corpos mortais, adiantando os poderes do século vindouro, até que, quando ele vier em glória e majestade, nós também sejamos manifestados com ele em glória, e sejamos transformados. E como ele disse que tiraria de nossa carne o coração de pedra e nos daria um coração de carne, também tirará o corpo da nossa humilhação, que nos humilha, e nos dará um corpo semelhante ao da glória dele.
Esse é o nosso destino. Não vamos nos distrair pelo caminho; vamos olhar adiante, vamos confiar no poder do sangue, no poder do Espírito e na decisão de Deus.
Deus disse: «Façamos isto», e o está fazendo. Se ele disse: «Façamos...», aí está o Pai, aí está o Filho, aí está o Espírito Santo fazendo. E tudo faz em colaboração, e tudo o que se realiza com Deus e para Deus é em colaboração.
O que Deus está fazendo
Vamos, irmãos, colaborar com Deus no que ele está fazendo. Ele nos escolheu, sem enganar-se a respeito de nós, porque ele conhecia todo o caminho, mas também o fim, desde o começo, e aí é onde devem estar postos os nossos olhos – no fim. «...aos que antes conheceu». Porque ele disse: «Façamos isto», vamos chegar a isto, vai introduzir muitos filhos na glória. Aleluia! E isso é o que ele está fazendo – uma nova Jerusalém, tendo a glória de Deus. Isso é o que Deus está fazendo.
Então, qual é o modelo? A Trindade. Qual é o conteúdo? A Trindade. A Trindade não é só modelo; também é o conteúdo. «...como tu em mim e eu em ti...», esse é o modelo, é o como. E nós devemos conhecer esse como pelo Espírito. Como é o Espírito do Pai e do Filho, e está em nosso espírito, então Jesus tinha essa plena confiança na obra do Espírito.
«Naquele dia, vós conhecereis que eu estou em meu Pai e meu Pai está em mim». Conhecereis isto: tereis a revelação de que o Pai está no Filho. Que o Filho não se movia sozinho, mas em comunhão com o Pai. Que o Pai ama o Filho, e mostra a ele todas as coisas que o Pai faz. E para que as mostra? Para que o Filho as faça igualmente com o Pai.
O Pai faz todas as coisas; mas ele não quer fazer nada sozinho. O Pai quer fazer tudo com o Filho, e o Filho quer fazer tudo com o Pai. O Filho não faz nada por si mesmo, mas o que vê o Pai fazer. Mas o Filho sabe por que vê o Pai fazer; porque o Pai ama ao Filho e lhe mostra. Então o Filho vê o que o Pai quer fazer; o Filho discerne o movimento do Espírito. Basta um pequeno sinal, e o Filho já sabe onde está o Pai.
O Filho conhece o Pai. Quando estava na terra como homem, em suas provações, diz: «Ele me tem dado mandamento do que tenho que dizer e o que tenho que falar. As obras que faço, não as faço por mim mesmo; o Pai que mora em mim, ele me deu mandamento». Ninguém o via, mas o Filho o via. O Pai lhe mostra as coisas que ele faz.
Ajuda e premia
Deus é amor, Deus se alegra em realizar aos que ama, lhes participando o que ele é, e deixando que façam com ele as coisas, inclusive premiando-os pelo que ele faz! Ele é o que faz, mas faz contigo. E depois premia a ti, mas você sabe que foi ele. Você sabe que, se ele não tivesse te ajudado, não terias feito nada, mas ele vai te galardoar como se tivesse sido você o que faz as coisas. Como é nosso Pai! Mas sabemos que não fizemos nada, que guardamos as Suas obras até o fim. Ele quer que as guardemos, mas são Suas obras.
Assim é o Pai e o Filho, assim são as divinas pessoas do único Deus, da Trindade. O Pai ama o Filho e lhe mostra. E o Filho, porque seu Espírito estava despertado, percebia o que o Pai estava fazendo. O Pai faz, mas mostra ao Filho, para que também ele o faça igualmente como o Pai, com o Pai. Assim é Deus desde o princípio, inclusive antes do princípio das coisas criadas.
Da eternidade, quando planejavam, o Pai planejava com o Filho. A sabedoria divina, que é o Filho, estava com o Pai. «...antes das suas obras... eu era a sua delícia de dia em dia... diante dele» (Prov. 8). E depois, fazendo as suas obras, nada o Pai fazia sem o Filho; ambos faziam tudo, no Espírito. Quando «o Espírito se movia sobre a face das águas», não era independente do Pai nem do Filho. Eram juntos.
Fomos criados para isso. «Não é bom que o homem esteja só». Não é bom viver isolado; não é bom. Deus mesmo, que é um só Deus, é trino. Porque é amor, e ama de verdade, e tem a quem amar, a seu Filho. O Pai ama ao Filho; ele é Filho do seu amor. Planeja com o Filho, cria com o Filho, redime com o Filho, reina com o Filho, julga com o Filho. Assim é Deus; tudo o que ele tem feito, tem-no feito no princípio do amor, no princípio da participação, no princípio da delegação.
A ti, Deus quer verte fazer as suas obras. Diz o Senhor Jesus: «...e até maiores farás, porque eu vou para o Pai» (Jo. 14:12). Então, o Espírito nos mostra o que o Pai e o Filho fazem. Porque assim como o Pai mostra ao Filho o que ele faz, o Espírito nos mostra o que ambos fazem, para que nós o façamos.
Então, não temos que estar muito distraídos com tantas coisas, mas muito atentos ao que o Pai nos preparou, o que é que ele nos organizou na vida. Pode ser recolher um papelzinho debaixo da cadeira. Mas esse não é você sozinho – são o Pai, o Filho e o Espírito Santo recolhendo papeizinhos, ordenando as cadeiras, lavando os pratos, ajudando aos necessitados, levando os irmãos que não têm carro até às suas casas. Quem faz todas essas coisas dessa maneira? O Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Ele faz as coisas grandes e as coisas pequenas; ele quer expressar-se em toda a cotidianidade das coisas. Você já é um filho. Antes, na Lei, tinha que escrever as coisas fora. Mas ele diz: «Naquele dia, não me perguntareis nada. O Pai mesmo vos ama; ele vos fará saber todas as coisas». Ou seja, que o Espírito Santo se move dentro de ti, e é o Espírito do Pai e do Filho. E ele nos mostra o que ele faz, coisas grandes e pequenas.
No grande e no pequeno o Senhor está, e justamente, quanto menor for a coisa, mais podemos ver que é Deus, porque só um Deus tão grande pode estar tão atento a tantos milhões e milhões de coisas pequenas, e essas coisas pequenas são todas conhecidas por ele.
Deus faz isso. Ele não tem variação. Ele faz milagres, mas também faz a vida cotidiana, e a vida cotidiana também é um milagre. Então, irmãos, todo o pequeno é para viver com o grande Deus trino. Amém.
Mensagem ministrada em Temuco, em Agosto de 2009.
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