quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

SABEDORIA E REVELAÇÃO

Irmãos e irmãs este é o estudo da reunião de quinta feira dia 03/12/2009

CAPÍTULO 30

SABEDORIA E REVELAÇÃO

“Pelo que, ouvindo eu também a fé que entre vós há no Senhor Jesus, e o vosso amor para com todos os santos, não cesso de dar graças a Deus por vós, lembrando-me de vós nas minhas orações; para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação.”

- Efésios 1:15-17

A grande questão que agora se nos levanta é:

ü Como pode o homem vir a conhecer a Deus?

Jó colocou essa questão uma vez por todas quando perguntou:

“Pode o homem, por sua pesquisa, achar a Deus?” (Jo 11:7; cf. VA e ARA).

A resposta é dada no versículo que mostra o conteúdo da oração do apóstolo:

ü Precisamos do “espírito e de revelação” – esse é o segredo!

Devemos ter o cuidado de observar que o apóstolo não está orando aqui no sentido de que os efésios tenham um espírito geral de sabedoria; ele não está orando para que eles se tornem sábios, ou que as suas ações e as suas atividades sejam caracterizadas pela sabedoria. Esse tipo de sabedoria é excelente, e todos nós devemos procurar tornar-nos sábios nesse sentido. Mas Paulo não está orando no sentido de que toda a conduta deles na vida, e todas as suas relações sejam governadas por esse tipo de sabedoria e entendimento. Antes, sua oração é no sentido de que eles tenham em abundância o próprio Espírito Santo, o único meio pelo qual podemos ter sabedoria e entendi­mento espiritual. Noutras palavras, concordo com os que dizem que a palavra espírito aqui deveria ser escrita com inicial maiúscula. Vocês verão em muitos lugares nas Escrituras, na Versão Autorizada (inglesa) e em diversas outras traduções, que, embora a referência seja claramente ao Espírito Santo, é empregada inicial minúscula. Geralmente se pode decidir isso em termos do contexto; e, neste caso particular, a oração e petição é certamente no sentido de que eles tenham em abundância o Espírito Santo, o Espírito que dá e traz sabedoria, o Espírito que, só Ele, pode revelar-nos coisas. Nou­tras palavras:

ü mais uma vez o apóstolo está dando ênfase à obra peculiar do Espírito Santo.
.
Isso nos lembra de novo a maneira pela qual o apóstolo nos mostra que:

ü a obra da salvação é dividida entre as três Pessoas da Trindade santa e bendita.

Nada é mais “admirável”, para usar o termo empregado por Isaac Watts (“amazing”), do que o fato de que as três Pessoas da Trindade santa e bendita estão envolvidas juntas na obra de resgatar-nos e redimir-nos deste “presente mundo mau” e preparar-nos para a glória eterna. Desde o versículo 13 Paulo nos vem lembrando que a obra peculiar, especial do Espírito Santo é selar-nos e ser o nosso “penhor” até à redenção da posses­são adquirida. Agora ele nos lembra outra obra do Espírito, sem a qual jamais poderíamos conhecer a salvação. Quer dizer:

ü a obra peculiar do Espírito Santo consiste em aplicar-nos a redenção que foi planejada pelo Pai e posta em ação e efetuada pelo Filho.

Nada proclama de maneira final e com tanta clareza se a pessoa tem a idéia certa sobre si como pecadora, e a idéia certa sobre a salvação, como a sua consciência da sua necessidade do poder do Espírito Santo, e da sua ativa e constante dependência dEle. A atitu­de da pessoa para com o ensino bíblico referente ao Espírito Santo proclama claramente se ela tem idéias corretas sobre a doutrina do homem, a doutrina do pecado, a doutrina do Senhor Jesus Cristo, a doutrina da redenção – na verdade a totalidade da doutrina da re­denção. Isso porque não há doutrina que nos mostre tão claramente o nosso completo desamparo de desesperança como este singular ensino concernente à obra do Espírito Santo na aplicação da reden­ção a nós:

ü O fim, a meta, é levar-nos a conhecer a Deus.

Deus fez o homem; Ele o fez à Sua imagem e semelhança, e o homem foi des­tinado a viver uma vida em correspondência com Deus, a estar em comunhão com Deus. A criação do homem foi uma expressão do amor de Deus. Deus como amor dá-Se a si mesmo, Seu amor exter­na-se; e o homem foi feito para ser recipiente desse amor e corresponder a ele. Contudo veio o pecado e separou de Deus o homem; alienou-o, rompeu a comunicação. O homem tornou-se um fugitivo errante; tornou-se um estranho para Deus e não O "conhe­ceu" mais. Todo o fim e objetivo da redenção é levar o homem de volta a esse conhecimento. O ensino da Bíblia é que somente o Espírito Santo pode levar-nos de volta a esse conhecimento de Deus e Seus caminhos. Por isso o apóstolo ora:

“Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação". (Ef 1:17)

Ele ora rogando que o Espírito Santo faça isso porque só Ele pode fazê-lO. Passemos a estabelecer esta verdade fundamental.
Primeiramente opino que se trata de um simples fato:

ü O homem, por natureza, não conhece a Deus.

Declaro isso como uma asseveração, como algo que realmente não necessita de demonstração. Podemos provar o ponto fazendo duas perguntas simples: você, conhece a Deus? Algum homem, por natureza, conhece a Deus? De capa a capa a Bíblia responde que não, e a nossa experiência a confirma e a consubstancia completamente. Isso explica por que as pessoas acham tão difícil orar. Se você não consegue orar uma hora, por que não consegue? Você pode falar facilmente com seus vizinhos e amigos durante uma hora, na verdade, durante horas. Então, por que é difícil falar com Deus durante uma hora? Há somente uma resposta:

ü É porque não O conhecemos;

ü Não O conhecemos suficientemente, e não estamos cônscios de que estamos em Sua presença.

Isso é um simples fato.
Mas podemos ir adiante e dizer que o homem, entregue a si mesmo, por todos os esforços que faça, jamais pode chegar ao conhecimento de Deus. Pela pesquisa, pela capacidade natural, pela confiança em sua sabedoria e em seu entendimento, os homens nunca poderão achar a Deus. Essa é a proposição absoluta firmada pelo apóstolo Paulo na Primeira Epístola aos Coríntios, na memorável declaração:

“O mundo não conheceu a Deus pela sua sabe­doria” (1 Co l:21).

Essa tentativa de encontrar Deus tem sido a grande busca da humanidade desde o princípio. Os filósofos gregos tinham tentado isso. Há no homem um senso inato da consciência de que Deus existe; todo homem tem isso. O ateu, assim chamado, tem isso, e está simplesmente tentando argumentar contra esse fato, está tentando montar defesas contra algo em que ele, em sua mente, não quer crer, porém que algo dentro dele continua afirmando. A pes­quisa arqueológica mostra que todas as tribos mais primitivas do mundo têm senso de um Deus supremo, de um Ser supremo que está por trás de todas as coisas. É um sentimento universal da huma­nidade. Por isso o homem tem procurado satisfazer este sentimento de anseio, esta consciência que ele tem; e em geral faz isso utilizan­do a sua mente. Tudo quanto procuramos descobrir nesta vida o fazemos por meio das nossas mentes. As descobertas científicas resultam do uso da mente. Você coloca a sua hipótese ou suposição ou teoria; e depois a submete à prova por meio das suas experiênci­as. Na esfera do mundo esse procedimento é perfeitamente correto e freqüentemente adequado. Pois bem, isso é sabedoria humana; é o método do homem. Ele sonda os mistérios, faz o seu trabalho de pesquisa, busca e continua pesquisando; ele utiliza as suas faculda­des, especialmente a sua capacidade mental. Mas o fato é que, na tentativa de conhecer a Deus, e de achar Deus, esse afã e esses esforços mostram-se vãos:

“O mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria”.

Concordo com aqueles que ensinam que Deus determinou a hora particular em que enviaria Seu Filho ao mundo de tal maneira que seria dada à filosofia grega a sua oportunidade, e ela faria o máximo para levar a humanidade a este conhecimento de Deus, falhando nisso completamente. Este é um puro fato da história. Deus permitiu que os filósofos gregos tivessem a sua ocasião, antes de enviar Seu Filho a este mundo. Ele dispôs tudo aquilo primeiro, a fim de que se pudesse fazer esta afirmação: “O mundo não conhe­ceu a Deus pela sua sabedoria”. Ficou provado da maneira mais positiva que o homem, nas alturas da sua capacidade, é tão desvali­do como uma criança pequena, quando confrontado pelo conheci­mento infundido aos crentes efésios pelo Espírito. A situação é essa, daí as razões que o apóstolo passa a dar no capítulo 2 da Primeira Epístola aos Coríntios.
O melhor comentário deste versículo 17 do capítulo primeiro da Epístola aos Efésios é o capítulo 2 da Primeira Epístola aos Coríntios. Lá o apóstolo desenvolve num capítulo aquilo que aqui ele coloca numa frase:

ü O homem não conhece a Deus e, em si e por si, nunca pode chegar ao conhecimento de Deus porque esse conhecimento é “sabedoria oculta em mistério” (l Co 2:7);

ü Ela se ocupa das “profundezas de Deus”, do abismo insondável da personalidade eterna de Deus, da imensidão do ser eterno de Deus e Seus caminhos, que são “inescrutáveis” (Rm 11:33).

A mente do homem é demasiado pequena, demasiado limitada para sondar tais profundezas. Não estou insultando o homem, mas estou sim­plesmente dizendo que Deus é infinitamente grande e está acima de nós e além de nós, e a mente humana é pequena demais para poder captar estas “infinidades e imensidades”, na expressão de Thomas Carlyle.
No entanto, essa não é a única dificuldade, e num sentido não é a maior. O real problema está no fato de que:

“Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verda­de.” (Jo 4:24).

Toda verdade concernente a Deus é de caráter espiritual, e quando o homem natural encontra a luz do mundo, sua alardeada habilidade parece até ridícula, decorrendo daí que todos nós somos postos no mesmo nível. Nada é mais glorioso nem mais animador acerca da mensagem cristã e do método cristão, de salvação do que o fato de que as divisões e distinções humanas totalmente irrelevantes. Esta é a única esfera em que isso é verdadeiro. Com relação às coisas de Deus, habilidade ou falta de habilidade natural é completamente insignificante. Graças a Deus que é assim. Se fosse doutro modo, os inteligentes e dotados de intelecto levariam vantagem sobre os outros; ademais, não haveria porque enviar missionários às partes do mundo em que o povo ainda não recebeu instrução; na verdade, o empreendimento missionário seria impossível. Se é preciso que os homens tenham poder mental, instrução, entendimento e capacidade para exercer e usar as suas faculdades para poderem tornar-se cristãos, seria ridículo pregar o evangelho a pessoas ignorantes e iletradas. Além disso, é um fato que, enquanto muitos homens de grande intelecto não crêem no evangelho, é possível a um homem da África Central, que nunca teve um dia de instrução escolar, crer no evangelho e apreendê-lo. A explicação é que:

ü este conhecimento é de caráter espiritual; é conhecimento de Deus que é “Espírito”, e que só pode ser conhe­cido de maneira espiritual.

Uma verdade básica é que:

ü o homem, em conseqüência do pecado, não é mais espiritual; ele se tornou carnal, ou, para usar a expressão de Paulo, tornou-se homem “natural” (l Co 2:14).

Todo conhecimento, de acordo com o argumento do apóstolo em 1 Co 2, requer certas afinidades ou certa correspon­dência. Diz ele:

“Qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está?” (1 Co 2:11).

Noutras pala­vras, um homem entende outro porque ambos são homens e têm o mesmo espírito, em sentido natural. Você precisa ser músico para entender música, você precisa ter certa faculdade poética, se é que a poesia lhe deva falar algo. Você não pode chegar ao conhecimento nestes domínios, se não houver algum tipo de correspondência básica. Você pode ser um gênio, mas se lhe faltar sensibilidade poética, a poesia será uma tolice para você. Em todos os domínios e departamentos do pensamento e do conhecimento é preciso que haja alguma aptidão, algo que responda e corresponda ao objeto que você está desejoso de conhecer. Por causa desta exigência, o homem, nesta questão do conhecimento de Deus, está completamente desamparado e desvalido.

ü Não importa quão grande seja a sua mente ou o seu entendimento, o homem, por natureza, não é mais espiritual; é “carnal”, “vendido sob o pecado”;

ü A faculdade espiritual com a qual ele foi criado originalmente atrofiou-se, e não pode ser mais exercitada.

Seja o que for que o homem faça, por mais que ele tente elevar-se e estimular a sua mente, ele não pode produzir a necessária faculdade e afinidade para chegar ao conheci­mento de Deus. Estas coisas, diz o apóstolo noutra frase:

“se discernem espiritualmente” (versículo 14).

ü Sem a faculdade espiri­tual, você não as pode discernir.

Daí, as coisas de Deus são loucura para o homem natural, e ele não vê nada nelas. Falta-lhe esta capa­cidade ou faculdade essencial.
Portanto, devemos começar vendo claramente que, sem o Espírito Santo, o homem jamais poderá chegar a este conhecimento de Deus. É a função peculiar do Espírito Santo levar-nos a este conhecimento. Isso contraria toda a nossa maneira normal de ver a verdade e o conhecimento. É inteiramente diferente. O nosso Senhor expôs isso uma vez por todas com as palavras:

“Se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus” (Mt 18:3).

Essa é uma verdade universal. Seja a pessoa quem for, qualquer que seja a sua habili­dade ou a sua cultura ou a sua instrução, ela tem que descer e tornar-se como criança; tem que compreender o seu completo desamparo, a sua ruína total. Acima de tudo, ela tem que admitir a sua completa incapacidade de conhecer a Deus, apesar dos seus poderes intelectuais. Se não o fizer ou negar-se a fazê-lo, nunca terá este conhecimento. Foi a Nicodemos, mestre em Israel, homem de intelecto e de cultura, que o nosso Senhor disse:

“Não te maravilhes de te ter dito: necessário vos é nascer de novo” (Jo 3:7).

Nesta esfera nenhum homem pode partir de onde está, tem que retroceder a outro princípio; tem que fazer uma saída completamente nova. “Necessário vos é nascer de novo”, porque esta é uma esfera intei­ramente diferente. É a esfera do Espírito, e ninguém pode entrar nesta esfera por sua própria força e habilidade. Todos nós temos que entrar neste reino da mesma maneira. Não há vários caminhos para entrar; há apenas um, o caminho do arrependimento, envol­vendo completa admissão de fracasso e total bancarrota. Sem o Espírito Santo, o conhecimento de Deus é impossível; e Ele foi enviado para dar-nos este conhecimento.

O apóstolo passa a dizer-nos que o Espírito nos dá este co­nhecimento de duas maneiras principais:

1) Primeiro Ele nos dá a sabedoria necessária:

“Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria”

ü Sabedoria, como o termo é empregado aqui, não significa um espírito geral de sabedoria – Significa “conhecimento”.

Na Bíblia geralmente a palavra sabedoria vale por conhecimento, como, por exemplo, no livro de Provérbios:

“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Pv 9:10).

Não significa o que normalmente queremos dizer com sabedoria, a saber, o resultado ou a conseqüência do conhecimento. Podemos expor o assunto assim:

ü O que o apósto­lo está pedindo em oração para os efésios é que eles tenham o conhecimento que nos torna sábios para a salvação;

ü “Sabedoria” equivale a conhecimento, informação, entendimento.

Esta sabedoria ou conhecimento era o que os gregos procura­vam; eles eram “cientistas naturais” neste sentido. Eles achavam que havia muito que aprender, muito em que eles eram ignorantes; assim se puseram a acumular conhecimento. A presente geração a que pertencemos é tipicamente grega em sua perspectiva. Deleita­-se com as enciclopédias, deseja saber um pouco de tudo. Faz perguntas e lê livros porque acha que essa é a maneira de construir um mundo perfeito e o tipo certo de vida. O homem alega que quer conhecimento. A isso a Bíblia diz: se você quer conhecimento, se você quer sabedoria, se você quer verdadeiro entendimento, há somente um lugar no qual você pode achá-lo: ei-lo aqui! Segundo a Bíblia, a sabedoria começa com “o temor do Senhor”. Só se acha esperando no Senhor e buscando nEle o conhecimento de que necessitamos. O Espírito Santo nos ajuda a obter este conhecimento dando-nos a faculdade indispensável para o entendimento da men­sagem bíblica.
A grande questão é: que é que realmente necessito conhecer a fim de viver como devo neste mundo? Seria melhor começar com um curso de leitura da história, a longa história da humanidade, e dizer: “Pois bem, onde é que os homens erraram no passado, onde cometeram seus enganos? Se eu tão-somente puder descobrir isso, saberei o que evitar e o que não fazer”. Muitos pensam que é esse o caminho. Outros discordam e dizem: “Não! Tudo o que você preci­sa é examinar-se, fazer-se psicólogo e analisar a sua mente e os seus motivos”. É por esta razão que a psicologia está na moda no presen­te século. Em geral a teoria é que precisamos ter um conhecimento especial de nós mesmos; por isso nos sondamos a nós mesmos e analisamos a nossa mente inconsciente, assim chamada, registramos os nossos sonhos e os analisamos, e permitimos que psicana­listas nos examinem enquanto ficamos passivamente deitados em seus sofás num estado de “associação livre”. Este, pensamos, é o meio de chegarmos ao verdadeiro conhecimento e entendimento.
Mas a Bíblia diz “não” a tudo isso, e nos garante que o conhe­cimento de que necessitamos é de diferente ordem; é um conheci­mento ao qual somente o Espírito Santo pode levar-nos. É um conhecimento do próprio Deus. Devemos começar desse conheci­mento de Deus, o Autor e Criador de todas as coisas. Antes de eu começar a analisar-me ou de deixar que os outros o façam, eu deve­ria perguntar: quem sou eu, de onde venho, como posso explicar o meu próprio ser? Essas perguntas me levam de volta a Deus. Eu vejo a natureza e a criação, e tudo me sugere Deus. Mas não posso achá-la ali. Vejo ali os sinais dos Seus dedos, mas é a Ele que eu quero. Como posso achá-la? “Ah, se eu soubesse onde achá-la” (Jó 23:3, VA). Essa é a questão! Examino a história, examino a pro­vidência, examino a mim mesmo, examino tudo, em toda parte, e, contudo, não posso achá-lO. Onde posso encontrar Deus?

ü Há somente uma solução: devo esperar em Deus; e Deus haverá de falar-me sobre Si. Isso é revelação; e é função do Espírito Santo dar-nos esta revelação.

Somente assim descobrimos a verdade sobre Deus, sobre o caráter de Deus, sobre o ser de Deus, sobre Deus mesmo, Deus como Deus. Vimos que os maiores filósofos não puderam chegar a Ele, mas, graças a Deus, aprouve a Deus falar-nos sobre Si. Ele nos deu a sabedoria, o conhecimento de que necessitamos sobre Ele e Seus bondosos propósitos. Onde você poderia desvendar o plano de redenção, fora da Sua revelação? Como poderia o homem saber que Deus tem coração de amor e que olha para o homem em peca­do com olhos piedosos? Como poderia o homem ter descoberto isso? Ele não pôde fazê-lo; falhou, a despeito de todas as alturas filosóficas atingidas pelos pensadores gregos. Deus teve que revelá­-lo; o conhecimento e a sabedoria são dados unicamente por meio do Espírito Santo.
Permitam-me ilustrar o ponto: vejam o Senhor Jesus Cristo. Como homem natural, você olha para Ele e pode dizer: “Que fenô­meno extraordinário! É espantoso que um carpinteiro que nunca recebeu treinamento intelectual nas escolas, nem como fariseu nem como filósofo, possa ter proferido aquelas incomparáveis pérolas de sabedoria. Que fenômeno admirável!” Tente entendê-lO, tente analisá-lO – você não conseguirá. Você poderá tentar fazê-lo dizendo com os biólogos que Ele é uma espécie de “mutante” lançado inexplicavelmente por um desses estranhos truques da natureza, que Ele não se enquadra nas regras do desenvolvimento e evolução gradativa da humanidade. Você poderá olhar o Senhor Jesus Cristo com toda a sua sabedoria humana no auge, e não começará a entendê-lo. Mas quando você se submeter à revelação receberá uma revelação que, em certa medida, o habilitará a entendê-lO. Há duas naturezas na Pessoa de Jesus. Ele é o Nazareno, o carpinteiro, o filho de Maria; mais que isso, porém, Ele é o Filho eterno de Deus! Duas naturezas, uma Pessoa! Você recebe um fato, e também a explicação desse fato. Mas essa sabedoria só pode obter por meio do Espírito Santo.
Olhando para Jesus e analisando-O, você nunca O verá e nunca virá a conhecê-lO, bem como as bênçãos que Ele veio dar, porque as categorias que você utiliza não são suficientemente grandes. Torno a citar as palavras do apóstolo Paulo em 1 Co 2:7-8:

“Mas falamos a sabedoria de Deus oculta em mistério... a qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhe­cessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória”.

Eles não tinham conhecimento de que Ele era “o Senhor da glória”; somente enxer­gavam a estrutura humana, o homem. Não conseguiam ver o outro aspecto, não conseguiam chegar ao verdadeiro conhecimento dEle, por mais que tentassem. Este conhecimento é dado pelo Espírito Santo:

“Deus nos revelou (isto) pelo seu Espírito; porque o Espíri­to penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus” (l Co 2:10),

Ele abre os nossos olhos para o mistério da encarnação, das duas naturezas numa só Pessoa – sem mistura nem confusão, e, contudo, uma só Pessoa. E então nos leva a ver o caminho da salvação.
Suba com a sua mente natural ao seu ponto mais alto e olhe para a cruz do Calvário. Que é que você vê lá? O máximo que você pode ver é a morte de um mártir, a morte de alguém de alma pura, a morte de uma pessoa honesta que, em vez de retratar-Se ou retirar o Seu ensino, preferiu sofrer a morte. O homem natural, com a mente e a capacidade humanas em seu mais alto nível, não pode ver nada mais que isso na cruz. Ele não consegue enxergar o “amor tão admirável, divino”. Essa “maravilhosa” e gloriosa verdade só é vista pelos olhos que foram iluminados pelo Espírito Santo. Unicamente o Espírito Santo pode habilitar-nos a entender que Deus “fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos” (Is 53:6). O mundo ri-se disso e o ridiculariza. É natural que o faça, diz Paulo, pois:

“o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus”. (1 Co 2:14)

Não as compreende porque:

“elas se discernem espiritualmente”. (1 Co 2:14)

O homem natural nem começa a entendê-las; ele não se conhece a si mesmo, não conhece o pecado, não conhece o amor de Deus, e assim, como pode entendê-las? Somente o Espírito Santo pode pro­piciar este conhecimento, e ele o faz. Nem mesmo os discípulos entenderam o Calvário e o seu propósito, senão depois da ressurrei­ção, a despeito do fato de que tinham passado três anos olhando o Filho de Deus nos olhos e ouvindo todas as Suas palavras. Eles não puderam receber isso, não puderam entendê-lO.

ü Você terá que ter esta iluminação dada pelo Espírito Santo, e este conhecimento infundido, antes de poder ver isso;

ü Deus revela a verdade concernente a Si próprio; se Ele não o fizesse, seríamos deixados nas trevas mais densas.

Por isso Paulo ora no sentido de que os crentes efésios tenham o Espírito de sabedoria, o Espírito que dá a sabedoria, o conhecimento.
Este conhecimento a princípio foi dado por meio dos apóstolos e profetas. Daí dizer Paulo no fim do capítulo 2 que a Igreja Cristã foi edificada sobre:

“o fundamento dos apóstolos e dos profetas” (Ef 2:20).

A verdade veio por meio deles, da sua prédica e do seu ensino. Mas logo foi dada noutra forma, no que chamamos Novo Testamento, nos Evangelhos, no livro de Atos, nas Epístolas e no livro de Apocalipse. Este conhecimento já tinha sido dado de forma parcial por meio do Velho Testamento. Os escritores dos livros que constituem o Velho Testamento não estavam apenas expressando as suas idéias sobre a vida. Conforme o apóstolo Pedro, em sua Segunda Epístola, capítulo primeiro:

“nenhuma profecia da Escritu­ra é de particular interpretação”. (2 Pe 1:20)

Ele quer dizer que as profecias não eram simplesmente uma interpretação que os homens faziam da vida, sua visão pessoal do mundo e do que acontece nele. Nada disso, diz ele, mas, antes:

“homens santos de Deus falaram movidos (inspirados, conduzidos) pelo Espírito Santo” (1 Pe 1:20-21), (cf. VA (inglesa), ARC e ARA).

Foi o Espírito Santo que lhes deu o que eles viram. E que os guiou quando o escreveram:

“Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão”, diz igualmente o apóstolo Paulo (2 Tm 3:16).

ü As Escrituras não são fruto de pesquisa feita pelo homem, mas sim, da revelação e inspiração de Deus;

ü O Espírito de sabedoria opera agora mediante esta palavra que se acha na Bíblia e nos leva a este conhecimento.

2) O apóstolo fala também do “Espírito de revelação”.

Obviamente isso implica que temos necessidade de um novo conhecimento ou entendimento, como já vimos. Esse já foi dado, e, portanto, devemos rejeitar os ensinos de indivíduos ou igrejas que aleguem ter recebido nova revelação além e acima do que temos nas Escrituras. Geralmente falando, essa é uma alegação feita pela igreja católica romana. Ela afirma que recebeu ulterior revelação, quer através da tradição passada pelos apóstolos, quer decorrente da sua interpretação das Escrituras. Há indivíduos que fazem a mesma alegação. Mas não é o que quer dizer “revelação”, como o apóstolo emprega o termo aqui, pois disso ele já tinha tratado sob “sabedoria”.

2.1) “Revelação" deve-se entender aqui da seguinte maneira:

A capacidade humana de entender a verdade espiritual, em conseqüência da Queda, foi tão prejudicada que, mesmo quando vocês colocam esta sabe­doria que Deus nos deu mediante o Espírito Santo diante dos olhos do homem, ele não a pode ver nem compreender. A extensão da queda do homem é tão grande e ampla que nenhum homem, pelo exercício da sua vontade ou do seu entendimento, pode salvar-se ou tornar-se cristão. Repetidamente acentuei o argumento de 1 Co 2:14 acerca do homem natural. Como, então, alguém poderá vir a entender essas coisas? A resposta é:

“Nós temos a mente de Cristo” (1 Co 2:16).

ü O homem necessita que o Espírito Santo torne clara esta revelação para ele.

O Espírito Santo já inspirou e guiou homens santos para porem este conheci­mento em forma escrita, todavia, para podermos “vê-lo” e “recebê­-lo”, algo mais é necessário; é preciso que o Espírito opere também em nós. É preciso que Ele abra os nossos olhos para que vejamos o que está diante de nós. Isso não requer demonstração. O apóstolo Paulo nos diz, em 2 Co 3, que a maioria dos judeus estava em tristes condições, suas mentes esta­vam cegas, e havia um véu sobre os seus olhos. Eles liam as Escri­turas do Velho Testamento todos os sábados, mas não conseguiam discernir o significado. Liam a Palavra de Deus, porém não podiam entendê-la.

“Se ainda o nosso evangelho está encoberto, para os que se perdem está encoberto, nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do evangelho, a glória de Cristo que é a imagem de Deus.” (2 Co 4:3-4)

Esta verdade é ilustrada perfeitamente pela história acerca de William Pitt, o Jovem, e seu amigo William Wilbeforce. Pioneiro no movimento pró abolição da escravatura, era um excelente cristão que foi convertido com a idade de vinte e seis anos pela leitura de um livro de Philip Doddridge intitulado Surgimento e Progresso da Religião na Alma (The Rise and Progress of Religion in the Soul). Era um cristão ativo. Também era membro do Parlamento, e amigo de William Pitt, o Jovem, seu conhecido desde os dias da universi­dade. Pitt, como muitos outros estadistas, era um cristão formal e ia à igreja nas ocasiões especiais, mas realmente não tinha nenhum entendimento das coisas espirituais. Eles eram grandes amigos, e Wilberforce estava preocupado e ansioso quanto à alma de William Pitt. Orava por ele, e estava especialmente desejoso de que ele fos­se em sua companhia ouvir um pregador de Londres chamado Richard Cecil, homem muito espiritual e que pregava mensagens espirituais. Wilberforce costumava ouvi-lo regularmente, e a doutri­na pregada lhe causava prazer. Freqüentemente pedia a Pitt que o acompanhasse, mas Pitt tinha sempre uma desculpa ou outra. Entre­tanto, afinal Pitt prometeu ir, e um dia foram juntos ouvir Richard Cecil. Wilberforce sentiu que nunca tinha ouvido Richard Cecil expor a verdade de Deus de maneira mais maravilhosa e cheia do Espírito. Seu coração foi arrebatado pela verdade; era o céu para ele. Não pôde deixar de ficar curioso sobre o que estaria aconte­cendo com o seu amigo. Finalmente terminou o culto e eles saíram juntos. Pouco antes de deixarem o edifício, William Pitt voltou-se para Wilberforce e disse: “Sabe, Wilberforce, fiz o máximo para concentrar-me com todas as minhas forças no que o homem estava dizendo, mas não tenho a menor idéia do que ele estava falando”.
Essa é uma história verdadeira, e quão verdadeira continua sendo quanto a muitos! Do ponto de vista da capacidade pura e simples, William Pitt era maior que Wilberforce. Tinha uma grande mente, um grande intelecto; mas a verdade de Deus exposta por Richard Cecil não significava absolutamente nada para ele, porquanto os seus olhos não tinham sido abertos pelo Espírito. A verdade signifi­cava tudo para Wilberforce e nada para Pitt. Pitt não tinha recebido “o espírito de revelação”.
Paulo ora no sentido de que os cristãos efésios tenham “o espírito de sabedoria e de revelado”. Eles já eram cristãos, mas estavam só no começo, eram crianças em Cristo. Havia tanta coisa que eles ainda não tinham visto. Uma das experiências mais emoci­onantes que o cristão tem é ler a Bíblia toda, ano após ano, e de repente, ao ler uma passagem que já lera muitas vezes antes, encontrar algo que sobressai e lhe fala admiravelmente. Ele estivera cego para isso. É isso que torna possível a pregação ano após ano. O Espírito Santo dá aos pregadores novas revelações da verdade. Elas sempre estiveram lá, mas o pregador é levado a vê-las de maneira progressiva por este “espírito de revelação”. Sem este Espírito de revelação, o pregador fracassa e se torna uma ruína de idéias. Dependendo dEle mais que nunca. A verdade é tão grande, e a minha mente é tão pequena! Mas o Espírito de revelação nos dá entendi­mento.
Estivemos considerando uma das doutrinas da fé cristã. Os reformadores protestantes costumavam dizer aos ouvintes que há uma dupla ação do Espírito Santo:

ü Há o “Testimonium Spiritus Externus”* – o Espírito que está na Palavra, digamos, o Espírito que inspirou os homens que produziram a Palavra.

ü Isso é essencial. Mas não basta. Antes de eu saber que esta é a Palavra de Deus e a verda­de de Deus, antes de eu poder ler a Bíblia e descobrir saúde e alimento para a minha alma, algo adicional é necessário – o “Testimoniurn Spiritus Internus.”**

ü O Espírito na Palavra; o Espírito no leitor! E sem o Espírito nele, homem nenhum será capaz de entender o sentido da Palavra. As duas operações são absolutament­e essenciais.


Noutras palavras, vimos que o apóstolo ora pelos crentes efésios no sentido de que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, lhes dê:

ü “o Espírito de sabedoria” (Testimonium Spiritus Externos);

ü e “o Espírito de revelação”, a capacidade de vê-la e recebê-la, de ter prazer nela e alegrar-se nela (Testimonium Spiritus lnternus).

Que provisão perfeita para os pecadores condenados, cegos, desamparados e indignos! E tudo dado gratuitamente medi­ante o Espírito Santo de Deus! Quão perfeita salvação! “Tudo quanto necessito, em ti achar!”

Fonte: O supremo propósito de Deus. Por: D.M. Lloyod -Jones

Nenhum comentário: