domingo, 30 de janeiro de 2011

AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 93


Por: Luiz Fontes

19ª Estação – Queelata (parte 3)

Textos: Nm 33:22 e Nm 16


Vamos continuar estudando essa estação – “Queelata” –, aqui em Números 16:5,6:

“5 E falou a Corá e a todo o seu grupo, dizendo: Amanhã pela manhã, o SENHOR fará saber quem é dele e quem é o santo que ele fará chegar a si; aquele a quem escolher fará chegar a si. 6 Fazei isto: tomai vós incensários, Corá e todo o seu grupo”.

Quero que você note alguns pontos aqui nesses textos que lemos.
Primeiro olhe para o teor das palavras relacionadas aqui a Coré, veja a arrogância dele, como os textos expõem o próprio coração de Coré. Diz assim: “falou a Coré e a toda a sua congregação”. Veja: “a toda sua congregação”. Coré já tinha uma predominância sobre algumas pessoas. Ele já era um líder sobre algumas pessoas, já tinha se constituído líder sobre 250 pessoas.
Dentro desse mesmo contexto, podemos olhar a nossa própria realidade. Podemos ver que esse comportamento tem as suas raízes aqui, quando a gente olha para muitas pessoas que gostam de dominar, gostam de exercer o poder, gostam de exercer a influência, pessoas que não sentem nenhum pudor quando dizem “Minha Igreja”. Esse tipo de comportamento tem suas raízes aqui nas palavras destinadas a Coré: “a ele e toda a sua congregação”. Vemos aqui o cúmulo da pretensão. Quantas pessoas acham que são os donos da Igreja do Senhor Jesus, quantos hoje não têm temor quando afirmam “Minha Igreja”.
Em Mateus 16 o Senhor Jesus diz:

“Eu edificarei a minha Igreja”.

A Igreja não é propriedade do homem; a Igreja é propriedade do Senhor Jesus. Ele está falando de algo particular, pessoal, de uma propriedade exclusiva dEle. “Eu edificarei minha Igreja”, isto é, Ele está dizendo que vai edificar a Igreja sobre Ele mesmo, o Filho do Deus vivo. Ele diz: “Eu edificarei a Igreja sobre mim mesmo”. Isso é importante e você tem que atentar, porque aqui nós encontramos as raízes do tipo de pretensão que vemos dentro do nosso próprio contexto. Que o Senhor nos guarde.
Ainda em Números 16:6, diz assim:

“Fazei isto: tomai vós incensários, Corá e todo o seu grupo”.

Na tipologia bíblica nós sabemos que incensário fala de oração. É isso que os grandes eruditos ensinam e é isso que nós aprendemos na própria Palavra de Deus. Incensário está ligado à oração e nós temos que ver aqui o porquê de Moisés fazer essa colocação. Esses assuntos precisam ser resolvidos diante de Deus, eles não podem ser resolvidos de qualquer maneira. Temos de encontrar o lugar da oração na nossa própria vida. O nosso chamado à oração é conhecer o coração de Deus, e a chave para entrar no coração de Deus é a oração. Somente aí nós poderemos conhecer Sua vontade, conhecer Sua Palavra e também conhecer a nós mesmos, as pretensões ocultas que residem dentro de nós.
Uma coisa muito importante que temos que aprender é que a oração é o retrato do caráter cristão. Precisamos reconhecer que a oração é o meio de relacionamento com Deus. Ela nos oferece um duplo retrato: o de Deus e o nosso. A oração tem um papel importante no relacionamento entre o homem e Deus. Primeiro ela vai nos mostrar um quadro muito descritivo do caráter humano e também do caráter divino. O que falamos para Deus quando oramos, quando estamos diante de Deus e todas as palavras de gratidão ou louvor, nossos desejos, as situações, tudo o que envolve a oração, revelam as nossas motivações secretas, revelam a nossa moral, revelam o nosso caráter. Da mesma forma, algumas afirmações que fazemos sobre Deus na oração, quando falamos do Seu amor, da Sua justiça, da Sua misericórdia, do Seu poder soberano, tudo o que nós falamos, revelam convicções daquilo que nós temos da natureza de Deus. E nossas orações quase sempre revelam também a nossa própria natureza. Por isso a oração não é somente um meio de relacionamento, mas também um meio de transformação. Isso porque nós somos revelados, as motivações secretas são expostas, os caminhos da nossa carnalidade são trazidos à tona. Se queremos saber quem somos, ou o que pensamos sobre Deus, quais são as nossa motivações primárias, secretas e a raiz do nosso caráter, é só olhar as palavras às quais usamos na oração. Aqui nós vamos ter uma revelação tanto da teologia quanto da antropologia. Então, a oração não apenas revela as distorções antropológicas e teológicas, mas também a forma e o caminho para corrigir essas distorções e nos transformar. Oração é o instrumento que transforma o nosso caráter.
Assim, nós temos que ser ajudados aqui. Precisamos olhar para a atitude de Moisés, porque é justamente esse ponto que ele quer tocar. Moisés entendeu que nada poderia ser tão importante para revelar as motivações secretas dessa situação do que a oração. Por isso ele introduz o incensário. Que o Senhor nos ajude a buscar nEle o caminho da oração, a fim de que venhamos conhecer as nossas motivações, as motivações secretas que estão por detrás das nossas atitudes impensadas, pois devemos entender que sempre somos passíveis de correção e, muitas vezes, não ouvimos ninguém, não queremos ouvir as pessoas que estão do nosso lado. Mas quando você ora verdadeiramente, a oração vem mostrar, vem revelar, o seu próprio caráter, as suas motivações e as distorções do seu próprio caminhar. Que Deus nos ajude.
Ainda precisamos continuar lendo Números 16:8-11:

“Disse mais Moisés a Corá: Ouvi agora, filhos de Levi: 9 acaso, é para vós outros coisa de somenos que o Deus de Israel vos separou da congregação de Israel, para vos fazer chegar a si, a fim de cumprirdes o serviço do tabernáculo do SENHOR e estardes perante a congregação para ministrar-lhe; 10 e te fez chegar, Corá, e todos os teus irmãos, os filhos de Levi, contigo? Ainda também procurais o sacerdócio? 11 Pelo que tu e todo o teu grupo juntos estais contra o SENHOR; e Arão, que é ele para que murmureis contra ele?”.

Podemos prosseguir mais um pouco aqui em Queelata. Já disse a vocês que o significado da palavra “Queelata” é assembléia e que vemos aqui uma confusão, uma crise profunda. Isso nos faz lembrar da síndrome de Lúcifer. Ele era um grande querubim, mas achou que era pouco e então desejou ocupar o lugar de Deus na Sua glória. Por causa da queda de Lúcifer, consequentemente nós tivemos a queda do homem e o homem herdou essa compulsão de querer ser Deus. A mais perversa compulsão que reside no coração do homem é desejar ser Deus. Lembra quando a serpente disse para Eva “e sereis como Deus conhecedores do bem e do mal” (Gênesis 3)? Essa é a compulsão do coração humano. Oh, amados! Será que essa situação não nos leva a refletir um pouco sobre nós mesmos? Não é verdade que nós nos preocupamos constantemente em sobressair? Quantas vezes desejamos ser considerados dignos de prêmio, de valorização? Não estamos sempre procurando a nós mesmos se somos melhores ou piores, mais fortes ou mais fracos, mais rápidos ou mais vagarosos do que aqueles que estão do nosso lado? Não temos considerado os nossos amigos, nossos companheiros desde o banco da escola primária, como rivais na corrida pelo sucesso, influência, pela popularidade? E não nos sentimos tão inseguros em relação ao que somos que nos agarramos a todas as oportunidades com o único propósito de obtermos poder, popularidade, influência, o controle sobre as pessoas? Meus amados irmãos e irmãs, quando nós nos dispusermos a olhar para todas essas coisas com os olhos do nosso querido Pai Celeste, imediatamente veremos que o que está acontecendo hoje, como vemos lá no Iraque, no Afeganistão, em Israel, lá na Palestina, não é muito diferente do que o que está ocorrendo no nosso próprio coração. Desde que a nossa própria segurança, desde que a nossa própria popularidade, desde que essa compulsão obstinada pelo poder está sendo ameaçada. A primeira atitude nossa é sempre procurar uma arma para poder proteger todos os nossos interesses, todos os nossos privilégios, todas essas compulsões perversas que permeiam o nosso coração. Oh, amados! Essa busca compulsiva pelo poder que o homem tem dentro de si, que o homem carrega dentro de si, que dá a ele essa autoconsciência, essa autovalorização, tem um poder perverso e terrível. Esse tipo de conduta nos afasta de Deus, nos afasta uns dos outros e nos torna isolados das pessoas. Isso tem em si uma característica diabólica, porque esse tipo de comportamento carrega a divisão, a rebelião. Deus deseja nos libertar disso. Olhe o que aconteceu com Datã, Coré e Abirão, nos versículos finais de Números 16.
Esse poder religioso é um dos piores e mais insidiosos que existe. A pior manifestação de poder que existe é o poder religioso. Infelizmente muitas pessoas que dizem hoje “Senhor, Senhor”, muitos daqueles que louvam, que O adoram, muitos daqueles que se dizem fiéis servos de Deus são pessoas que se têm deixado corromper pelo poder. Esse é o poder mais insidioso – o poder religioso. Ele é divisório, ofensivo. É impressionante o número de pessoas que foram ofendidas, massacradas pela religião. Quantas pessoas, homens e mulheres, estão separados, divorciados, rejeitados pela sociedade, desajustados, fracassados, por causa da perseguição religiosa, por causa do poder religioso. Quantas pessoas foram afastadas de Deus por terem sido abusadas pelo poder religioso. Enquanto esperavam uma expressão de amor, foram abusadas, violentadas. Nós precisamos ser guardados, precisamos ser ajudados, porque esse não é o Evangelho de Cristo. Você tem que ver que a influência devastadora do poder nas mãos de homens que se disfarçam de piedosos, homens que se julgam ser “homens de Deus”, torna-se evidente quando ao redor, em nossa própria realidade contextual, vemos tantos impérios megalomaníacos tendo o disfarce de eclesia. Mas vemos ali dentro uma busca desenfreada pelo sucesso e o reconhecimento pessoal. A busca pela fama, não sabendo das suas consequências repulsivas e insidiosas. Oh, meus amados irmãos e irmãs! Que Deus, no poder do Seu Espírito, guarde as nossas vidas para que nunca venhamos perder a simplicidade do Evangelho de Cristo Jesus. Neste tempo em que estamos vivendo, tempos de incerteza econômica, de incerteza política, uma das maiores tentações é a de usar a fé como instrumento para exercer poder sobre os outros e, por conseguinte, suplantar o mandamento de Deus com mandamentos humanos – tirar a Palavra de Deus e colocar a palavra humana. Quando o poder é usado para proclamar a Boa Nova, esse poder humano, esse poder insidioso, perverso, essa Boa Nova, a Palavra eficaz de Deus, torna-se depressa em uma mensagem enganadora e perversa. Por isso você precisa saber que o meio que Deus escolheu para se revelar ao homem foi através da fragilidade. Observe o que Paulo diz em Filipenses 2, a partir do versículo 5:

“5 Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, 6 pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; 7 antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, 8 a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. 9 Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, 10 para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, 11 e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai”.

Veja, Ele se tornou em semelhança humana, em forma de servo, morreu a pior das mortes no Seu tempo, que foi a morte de cruz, foi rejeitado, humilhado. Mas Deus O exaltou sobremaneira e O ressuscitou e O colocou acima de todo o principado e potestade, de todo o nome que se possa referir. É isso que está em Efésios 1, a partir do versículo 20:

“20 o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais, 21 acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir, não só no presente século, mas também no vindouro”.

Deus O exaltou e O colocou acima de todo principado e potestade e Lhe deu um nome que está acima de todo o nome. É isso que precisamos ver. O Deus Todo Poderoso, um dia, teve essa opção divina. E essa verdade, Deus escolher fazer parte da nossa história humana em completa fragilidade, é o centro, é a essência, da nossa fé cristã. Na pessoa bendita de Jesus, o Filho de Deus, nós vemos o quê? O Deus Homem. Esse Deus que se esvaziou para desmascarar a ilusão do poder, para desarmar o príncipe das trevas que tem governado o mundo. Foi isso que Ele fez, foi isso que Deus fez e é isso que Ele deseja nos mostrar. Esse é o caminho pelo qual Ele deseja levar eu e você. Deus quer mostrar isto para mim e para você: que o caminho de Datã, Coré e Abirão é um caminho que nós precisamos repudiar, porque esse caminho vai nos afastar de nossos irmãos, vai nos afastar do próprio Deus, viveremos para nós mesmos – porque existe dentro do homem esse desejo de mandar, de ordenar, de estar por cima, de ser o melhor, de sobrepujar. Oh! Nós não precisamos dessa expressão, da nossa própria vida adâmica. Autoridade espiritual é algo que vai muito além disso; é a expressão do governo de Deus fluindo na vida daqueles os quais Ele escolheu. Esse poder não opera com a força humana, esse poder opera com o Espírito de Deus no homem. É isso que eu e você temos que entender.
Que Deus fale ao seu coração e lhe abençoe com esta Palavra.

Nenhum comentário: