terça-feira, 18 de janeiro de 2011

AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 90

Por: Luiz Fontes

18ª estação – Rissa – parte 06

TEXTO: Números 32: 37-41

Avançamos agora nesta parte final do estudo desta 18ª estação – Rissa. Dissemos bem no início desta estação que Rissa deve ser estudada em duas partes. A primeira parte, vendo o significado do seu nome, tem um aspecto negativo. É justamente o aspecto que nós vimos a partir do versículo 32, de Números capítulo 15, “um homem que estava apanhando lenha no dia de sábado”.
Hoje nós vamos estudar a segunda parte. Não podemos perder de vista que são duas partes que compõem o estudo de Rissa – uma negativa e a outra positiva. Então, ao chegarmos a esta segunda parte, temos que ler Números 15:27-41. Façamos a leitura:

“37 Disse o SENHOR a Moisés: 38 Fala aos filhos de Israel e dize-lhes que nos cantos das suas vestes façam borlas pelas suas gerações; e as borlas em cada canto, presas por um cordão azul. 39 E as borlas estarão ali para que, vendo-as, vos lembreis de todos os mandamentos do SENHOR e os cumprais; não seguireis os desejos do vosso coração, nem os dos vossos olhos, após os quais andais adulterando, 40 para que vos lembreis de todos os meus mandamentos, e os cumprais, e santos sereis a vosso Deus. 41 Eu sou o SENHOR, vosso Deus, que vos tirei da terra do Egito, para vos ser por Deus. Eu sou o SENHOR, vosso Deus.”

Aqui nós temos esta outra parte do estudo desta estação. Note que o Senhor ordenou ao povo de Israel que colocassem franjas, “borlas”, azuis para que eles pudessem estar com seus corações nas coisas celestes (Nm 15:38). Eles deveriam colocar essas franjas ou borlas azuis em cada canto, presas a um cordão. E ali estariam essas borlas azuis, revelando para eles o “caráter da vida celeste” que eles teriam que viver. Olhe atentamente ainda para os versículos 39 e 40. Aqui nós teremos um quadro muito mais claro desta exigência do Senhor. O Senhor diz: “para que”. Já mostra a razão, o motivo pelo qual o Senhor está colocando este princípio para eles. Isso deveria provocar neles o quê? “Visão espiritual”! Ele continua: “vendo-as, vos lembreis de todos os mandamentos do SENHOR”, isto é, da Palavra do Senhor. E “os cumprais; não seguireis os desejos do vosso coração, nem os dos vossos olhos.” Isso aqui é o principio espiritual contido nestas franjas azuis. Nós temos que obter aqui, pelo Espírito Santo, uma revelação clara daquilo que Ele está ministrando a nós. Precisamos notar aqui que o termo “coração” é um termo muito comum no Antigo Testamento, assim como no Novo Testamento. Refere-se ao nosso “homem interior”. Frequentemente está relacionado à parte emocional e intelectual do homem. Então, aquelas bordas azuis eram para que eles se lembrassem do caráter de Deus, da vida celeste que eles tinham que viver. Sempre deveriam olhar para cima quando fossem tentados pelo poder sedutor do mundo. Nosso coração é mau, enganoso, incorrigível, por isso não podemos seguir a vontade do nosso coração. Porque, desde que o homem caiu, tem sido escravo dos seus desejos, da sua vontade, das suas emoções. Todos nós que nascemos em Adão nascemos com o nosso espírito morto. Não havia um vida espirtual em nós. Esta vida espiritual só foi nos dada na regeneração. Agora, o nosso espírito reviveu. Nós temos que entender isso, nós temos um espírito que comunga com Deus. Nós temos um espírito onde Ele opera por meio de três faculdades: a comunhão, a intuição ou percepção e a conciência. Quando nós compreendermos isso, quando entendermos essa revelação, iremos perceber o que verdadeiramente o Senhor está nos falando. Qual é a verdade do Senhor dentro de nós?
Amados irmãos, a comunhão uma faculdade do espírito, do espírito vivificado. Fala da comunhão com Deus. É aqui que Deus e o homem se encontram; é aqui que nós temos a clara percepção daquilo que é aprovado ou mesmo reprovado por Deus. A função da comunhão no nosso espírito vem revelar justamente isso. É aqui, nesta faculdade, que nós podemos reter a presença de Deus, ter comunhão com Deus, alimentar-nos de Deus. Comunhão: essa é uma faculdade do espírito.
Depois nós temos a intuição ou percepção. A intuição ou percepção são ações do nosso espírito. É aqui que nós percebemos a presença de Deus, é aqui que nós temos uma visão da interior realidade espiritual.
E também temos a consciência, que é a terceira função do espírito humano. É em nossa consciência que nós temos o conhecimento experimental das verdades espirituais. Nós necessitamos entender isso, porque todas as vezes que erramos em nosso espírito a “voz” da nossa consciência fala a Palavra de Deus, fala a Lei de Deus. É aqui que o Espírito Santo nos convence do pecado, da justiça e do juizo.
Em Romanos 8:2, Paulo diz assim:

“Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte”.

Tudo o que é relativo à nossa consciência tem relação com o Espírito Santo. Paulo nos diz em Romanos 9:1:

“Digo a verdade em Cristo, não minto, testemunhando comigo, no Espírito Santo, a minha própria consciência”

Esse texto nos mostra claramente que o Espírito Santo está em nossa consciência. A voz do Espírito é a voz em nossa consciência. Tudo isso é muito importante. Por isso, agora nós temos que entender que não devemos viver governados ou mesmo escravizados pela nossa mente, nossa vontade, emoção. Mente, vontade e emoção devem ser governadas pela vida do Espírito Santo em nosso espírito. Devem ser governadas pela ação do Espírito Santo em nós por meio do nosso espírito. Senão, teremos uma vontade compulsiva pelas coisas que desagradam a Deus. As nossas emoções estarão sempre numa esfera almática, superficial. As nossas emoções sempre estarão relacionadas ao nosso bem estar e nunca àquilo que agrada a Deus. A nossa mente sempre estará voltada para a maquinação daquilo que está relacionado com o nosso próprio ego. Por isso nós necessitamos atentar para isso, porque o Senhor deseja que essas verdades sejam aplicadas a nós na vida cristã prática, a qual nós vivemos hoje.
O que significam essas borlas azuis? Significam que nós devemos ter o nosso coração voltado para aquilo que é celeste. Veja que o Senhor diz “para” – algo que nós temos que entender. “Para que, vendo-as, vos lembreis de todos os mandamentos do SENHOR e os cumprais; não seguireis os desejos do vosso coração, nem os dos vossos olhos.” Veja isso! Aqui está a razão!
Em Colossenses 3:1-3, Paulo exorta nesta mesma linha:

“1 Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. 2 Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; 3 porque morrestes (é o morrer do velho homem, do velho Adão; aquela morte participativa, a qual nós morremos com Cristo lá na Cruz do Calvário), e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus.”

É isto que o Senhor está falando a nós; esta é a verdade aqui: nós precisamos guardar o nosso coração em Cristo Jesus para que não sejamos governados pela compulsão deste mundo, pelo prazer desta terra. Nós temos que viver uma vida caracterizada pela vida de Cristo em nós. Se essa não é a nossa vida cristã, então nós não temos uma vida cristã para viver.
Em Tiago 4:4, diz assim:

“Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus”.

Precisamos notar algo aqui. O termo que Tiago usa para “infiéis”, na língua grega, é “moichos”, que significa “uma mulher infiel”. Na versão corrigida está assim: “Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus?”. Amados, o mundo constitui-se sempre um perigo entre nós e Deus. O mundo é um sistema que visa nos roubar da presença de Deus. Precisamos notar aqui também o verbo “quiser” que está no futuro do subjuntivo na língua grega. Esse verbo é “boulomai”. Na frase “Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo”, temos a voz média do verbo primário, que significa “querer deliberadamente, ter um propósito, uma vontade vinculada ao afeto, àquilo que se torna o nosso prazer; meu prazer”. É isso que Tiago está dizendo. Na vida cristã as coisas só têm significado em Deus. Elas só podem ser verdadeiramente plena e absoluta satisfação espiritual se estiverem vinculadas a Deus, se forem para a glória de Deus. Não podemos dar valor às coisas fora de Deus, porque isso constitui a idolatria em nosso próprio coração. E esse é o grande perigo. Por isso que o Senhor está nos exortando aqui em Rissa.
Podemos ver também outras duas palavras aqui: “prostituição” e “idolatria”. Todo esse contexto aqui de Tiago vem focar essa questão, como ele diz, “infiéis”, que é a palavra “adúlteros” ou “adúlteras”. E esse relacionamento produz o quê? Produz idolatria. Em Ezequiel 14:3-7 diz assim:

“3 Filho do homem, estes homens levantaram os seus ídolos dentro do seu coração, tropeço para a iniquidade que sempre têm eles diante de si; acaso, permitirei que eles me interroguem? 4 Portanto, fala com eles e dize-lhes: Assim diz o SENHOR Deus: Qualquer homem da casa de Israel que levantar os seus ídolos dentro do seu coração, e tem tal tropeço para a sua iniquidade, e vier ao profeta, eu, o SENHOR, vindo ele, lhe responderei segundo a multidão dos seus ídolos; 5 para que eu possa apanhar a casa de Israel no seu próprio coração (...)”

Veja que é isso que o Senhor está falando aqui em Rissa. O Senhor vai julgar aquilo que está no nosso coração. Aí ele prossegue dizendo:

“(...) porquanto todos se apartaram de mim para seguirem os seus ídolos. 6 Portanto, dize à casa de Israel: Assim diz o SENHOR Deus: Convertei-vos, e apartai-vos dos vossos ídolos, e dai as costas a todas as vossas abominações, 7 porque qualquer homem da casa de Israel (Israel aqui está no sentido figurativo e espiritual; é uma referência a todos nós membros do Corpo de Cristo) ou dos estrangeiros que moram em Israel que se alienar de mim, e levantar os seus ídolos dentro do seu coração, e tiver tal tropeço para a iniqüidade, e vier ao profeta, para me consultar por meio dele, a esse, eu, o SENHOR, responderei por mim mesmo”.

Amados, a idolatria não é só o que está diante de nós, mas também, aquilo que está dentro de nós. O termo que o Senhor usa aqui para “levantar” fala daquilo que “exaltamos, que damos preeminência dentro de nós”. Então, idolatria não é só uma imagem de escultura, pode ser a sua própria “vida financeira, seu carro, sua casa, seu filho, seu cônjuge”. Isso é muito mais sério! Esse tipo de idolatria é mais perversa, sutil, mais devastadora. Veja como Deus reage a isso. Nosso coração não pode estar focando estas coisas. Quando nós atentamos para isso precisamos ser cuidadosos, porque o Senhor está nos levando para um caminho estreito. Um caminho aonde somente Ele é glorificado. Nós não podemos permitir que o inimigo venha nos arrebatar da presença de Deus, da comunhão com Deus, da vida de Deus. Nós temos que ter os nossos olhos focados no Senhor. Nós temos que ter a nossa vida, toda ela, consagrada a Deus. Temos que viver uma vida que corresponda àquilo que Deus exige de nós pela Sua Palavra. E aquilo que Ele exige de nós pela Sua Palavra foi o que Ele cumpriu em Cristo. E aquilo que Ele cumpriu em Cristo é o que Ele exige de nós. E Cristo é a nossa vida. Nossa vida está escondida na vida de Cristo. E nós temos o Espírito Santo como o nosso “paracleto”, para nos ajudar. Esse é o ponto importante que nós temos aqui. Porque aqui o Senhor nos manda olhar “para cima”, para o “alto”, aonde nós somos atraídos para Ele mesmo.
Que nós possamos atentar para isso, ter o nosso coração focando sempre em Cristo Jesus, Autor e Consumador da nossa fé. Que o nosso coração esteja sempre voltado para Ele, para que o mundo não venha nos arrebatar, não venha nos roubar dEle. Mas que a cada dia nós estejamos caminhando pra Ele, focando naquilo que é celeste. Que aquilo que é celeste possa ser o alvo do nosso coração, da nossa vida. Que Deus nos abençoe poderosamente por meio da Sua Palavra.

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