terça-feira, 18 de janeiro de 2011

ESTUDO DAS JORNADAS


AS 42 JORNADAS NO DESERTO -

CAPÍTULO 91

POR: Luiz Fontes

TEXTO: Números 33:22 – 19ª Estação – Queelata – parte 1


Números 33:22 diz:

“partiram de Rissa e acamparam-se em Queelata.”

Esta é a 19ª estação. No aspecto histórico, em Deuteronômio 2:1 vemos essa jornada de forma implícita. Olhe o que diz o texto:

“Depois, viramo-nos, e seguimos para o deserto, caminho do mar Vermelho como o SENHOR me dissera, e muitos dias rodeamos a montanha de Seir”.

Olhe para esta frase: “muitos dias”. Ela descreve o momento em que eles começam a peregrinação de 38 anos, desde que desobedeceram a Deus e não quiseram entrar na terra de Canaã. Você se lembra quando eles estiveram em Ritma? Quando aqueles dez espias incitaram o povo à incredulidade? E assim o povo se levantou contra Moisés e Arão e desejaram voltar para o Egito. É isso que nós vimos em Ritma. Sabemos que essa atitude trouxe uma grande indignação da parte de Deus contra o pecado da incredulidade praticado por eles. E daí por diante, vemos que Deus rejeita aquela geração.
Agora Ele ordena que eles voltem pelo golfo de Ácaba, quando diz: “seguimos para o deserto, caminho do mar Vermelho”. Eles estão voltando agora para o golfo de Ácaba, até que esta velha geração morresse no deserto. Ainda no versículo 1 de Deuteronômio diz assim: “rodeamo-nos”. Essa é uma palavra que nós temos que notar. Este “rodear” é em torno do Monte Seir. Essa região era ocupada pelos descendentes de Esaú. Tinha uns 160 Km de extensão e ficava ao sul de Moabe. Moabe é a região da Jordânia hoje. Então nós sabemos que neste monte houve várias jornadas. E a primeira dessas jornadas é Queelata. É a primeira das jornadas nessa região. Aqui iremos estudar um fato muito triste. Talvez de todos os acontecimentos que ocorreram nestas 42 jornadas, os acontecimentos aqui de Queelata sejam os mais tristes que eles tiveram que enfrentar. Essa é a jornada mais triste! Muitas coisas posteriores que ocorreram tiveram como base os acontecimentos dessa jornada.
Nós vamos estudar Números 16. Porque em Números 16 estão os textos correspondentes a esta jornada, onde podemos ver as passagens relativas a Queelata. Nós vamos estudar as lições estritamente solenes no que concerne a nossa vida cristã prática hoje, o que o nosso querido Pai deseja nos falar sobre esses assuntos. Nunca devemos esquecer que estamos lendo o Antigo Testamento tendo os olhos no Novo Testamento. Nós não podemos ler o Antigo Testamento somente como história, senão que temos que ler o Velho Testamento com o Novo Testamento. Porque o Novo Testamento ensina que todas estas jornadas, essas estações, “foram escritas como exemplo para nós”. E aqui nós podemos ver isso! Ver que enquanto lemos essas jornadas de Israel, aqui em Números 33, vemos exemplos para nós que somos a Igreja do Senhor Jesus. Quando consideramos os episódios aqui, podemos ver a era da Igreja, a era da graça, em que se dão os mesmos acontecimentos. Quando lemos a Epístola de Judas, no versículo 11, percebemos justamente isso.
Então, antes de lermos os textos correspondentes a estas estação é importante ressaltar que algumas estações onde eles passavam eram lugares conhecidos. Sabemos que em muitas dessas estações havia habitantes. Mas outros lugares, outras estações, eram apenas deserto. E o nome que estas estações receberam foi devido às experiências que eles ali tiveram. Por exemplo, aqui em Queelata, o nome está relacionado com a experiência e não com o lugar em si. O nome Queelata sintetiza o que aconteceu aqui em Números 16. A palavra Queelata, no hebraico, significa “assembléia”. Mas aqui, segundo a realidade do contexto, podemos ver o quê? Uma assembléia em crise. Quando estudamos essa palavra Queelata na Septuaginta – a versão dos setenta –, descobrimos que essa palavra Queelata é a palavra para Igreja no Novo Testamento. Isso é muito interessante! Quando eu falo Septuaginta estou falando daquela tradução do Torá, isto é, do hebraico antigo para o grego. Essa versão foi feita no século III antes de Cristo. Ela foi encomendada por Ptolomeu II, que viveu entre os anos 287 e 247. Ele foi rei do Egito. Ele pediu que fosse feito um exemplar dessa tradução da Bíblia para que fosse colocada na recém inaugurada biblioteca de Alexandria. Então a tradução ficou conhecida como: “Septuaginta” ou “Os Setenta”, palavra latina que significa “setenta”. Ou ainda com o prefixo LXX. Porque setenta e dois rabinos trabalharam nela e, segundo contam alguns eruditos, eles teriam acabado a tradução em setenta e dois dias. Esta versão Septuaginta foi usada como base para diversas traduções da Bíblia.
Então, no original grego esse termo Queelata, no hebraico, corresponde a “ekklesia” no Novo Testamento. A palavra “ekklesia” fala de: ajuntamento, reuniões. Em Atos dos Apóstolos, capítulo 19, versículos 23 a 41, nós temos aquele episódio lá em Éfeso, quando aquelas pessoas comercializavam no templo da deusa Diana, depois que Paulo e seus companheiros chegaram ali pregando o evangelho do reino. Nós sabemos que a mensagem do evangelho provocou uma revolução naquela cidade e também grande colapso nesta idolatria comercial. Então levantaram uma grande sedição contra Paulo e aqueles que o acompanhavam e os levaram para um grande teatro, onde toda a multidão gritava: “Grande é a Diana dos efésios”. E no versículo 32, do capítulo 19 de Atos, diz assim:

“Uns, pois, gritavam de uma forma; outros, de outra; porque a assembléia caíra em confusão. E, na sua maior parte, nem sabiam por que motivo estavam reunidos”.

Esse termo “assembléia” aqui no grego é “ekklesia”. O significado desse termo no Novo testamento fala de uma “união, de cidadãos chamados para fora de seus lares para algum lugar público; qualquer ajuntamento ou multidão de homens reunidos por acaso”. Então isso significa uma “assembléia” ou a palavra grega “ekklesia” que é o termo usado para “Igreja” no Novo Testamento. Essa palavra vem de dois vocábulos: o primeiro é “ek”, que significa por para fora, cortar fora; e a segunda é “klesia”, uma derivação do verbo kaleo, que significa “chamar”, de onde vem a expressão “parakaleo” ou “parakleto” que se refere ao Espírito Santo, aquele que chama para o lado. Então essa palavra “ekklesia” indica que nós somos um povo “cortado, amputado, que foi cortado do mundo”. Lembra de quando o Senhor Jesus disse em João 15:5:

“Eu sou a videira, vós, os ramos”.

O Senhor usou essa figura para mostrar a identificação Dele com a Igreja. Nós somos os ramos, ele é a videira. Ele diz que nós estaríamos Nele. Isso é muito importante. Quando Ele diz “Eu sou a videira”, nós sabemos que a videira é a árvore toda. E nós, onde ficamos na videira? Nós somos os ramos, ou seja, nós somos a videira também. Isso é muito interessante! Essa união mística entre Cristo e nós é que é “Igreja” no contexto bíblico do Novo Testamento. Então nós temos que entender a palavra no seu sentido natural, no sentido “lato”, e aquilo que a Bíblia impõe como revelação, como conteúdo, como verdade, como realidade espiritual. Temos que ver isso com muito cuidado.
Em Números 23:9, quando Balaão iria amaldiçoar o povo de Deus, há uma grande ilustração para compreendermos o que de fato significa ser Igreja, ser membro deste corpo místico de Cristo Jesus. Diz assim:

“Pois do cimo das penhas vejo Israel e dos outeiros o contemplo: eis que é povo que habita só e não será reputado entre as nações”.

Vemos aqui que Balaão sobe pela primeira vez no monte. Ele foi contratado, por dinheiro, para amaldiçoar o povo de Deus. Era um profeta mercenário. A Bíblia diz que Balaão sobe no monte e vai amaldiçoar o povo de Deus. Quando ele vai amaldiçoar, o Espírito de Deus desce sobre ele e, nas três tentativas, não consegue. Primeiro ele acha que o lugar é que está errado. Vai, tenta e sobe em outro lugar. Sobe depois no outro lado do monte. Em seguida ele acha que o sacrifico é que está errado. Na verdade, era ele que estava errado. Infelizmente Balaão não via isso. Então prossegue na tentativa de oferecer um sacrifício melhor e, nas três vezes em que ele quer amaldiçoar, ele abençoa. Na primeira vez, diz assim: “Eis que este povo habitará só, e entre as nações não será contado entre o povo”. Vejam que Balaão diz que Israel era um povo separado. Esse povo não é contado. Meus irmãos, que linda aplicação espiritual isso tem ao nosso viver cristão prático. Nós só temos uns aos outros, como Igreja, para contarmos. Somos um povo que não é contado neste mundo; não somos um povo contado com o povo desta terra. Somos um povo amputado do mundo, somos cortados do mundo. Esse é o sentido espiritual do que significa ser Igreja. Você não pode pegar apenas o sentido lato da palavra, mas a verdade ilustrada pela própria Bíblia para poder explicar uma palavra no seu âmbito espiritual. É o que estamos vendo aqui. Somos um povo separado, exclusivo, um povo exclusivamente de Cristo. Nós precisamos dar valor à eclesia, ao corpo de Cristo, porque fomos amputados do mundo, somos um povo que habita só. Nós só vivemos para Cristo; vivemos uns com os outros. Isso é Igreja, essa é a verdade de Cristo e a Igreja. Quando você compreende isso, você sabe o que é Igreja.
Em 1Coríntios 12:12 diz assim:

“Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo”.

Aqui nós temos uma definição mística do que é a Igreja. De quem Paulo está falando aqui? Ora, se você lê o texto claramente, você sabe que ele está falando do corpo de Cristo, que é a Igreja de Cristo. Mas, veja que ele diz: “(...) todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo”. Precisamos atentar mais microscopicamente para esse versículo. Quando Paulo diz “assim também”, ele usa dois advérbios: “assim”, fala de natureza igual; “também”, fala de inclusão. Depois nós temos ainda o substantivo masculino quando ele diz “com respeito”: o significado aqui é aquilo que motiva, aquilo que é a causa, a razão. Então vemos que Cristo é a causa da inclusão, de todos nós fazermos parte do Seu corpo. Isso é Igreja, aqui está a definição da Igreja.
Essa é a verdade que encontramos. E é sobre esta base que estaremos estudando acerca de Queelata. Nós precisamos encontrar o nosso lugar nesta estação, encontrar o lugar da nossa edificação, aquilo que Deus quer corrigir em nós. Porque o Senhor quer nos mostrar algo extremamente sério em relação à vida da Igreja. O que aconteceu aqui em Números 16 é muito presente no tocante a nossa própria vida hoje. Vamos estudar o versículo 11 de Judas, vamos poder nos inteirar da seriedade, da gravidade de toda essa situação dentro de nosso contexto. Porque nós somos a Igreja. O significado de ser Igreja é algo muito sério. Precisamos descobrir a essência da identidade e do caráter da Igreja, e como tudo isso envolve o próprio Deus, o próprio Cristo, a própria obra do Espírito Santo. Não podemos viver uma vida cristã equivocada, uma vida que não esteja compatível com a palavra de Deus. Temos que entender isso, porque esta estação vai tratar de rebelião, da questão de confusão, de crise espiritual; vamos tratar aqui da questão da usurpação do poder, da autoridade espiritual mal compreendida. São esses assuntos que iremos estudar. Espero que o Senhor fale ao seu coração. Que Ele venha mostrar para você verdadeiramente, pela Sua palavra, o verdadeiro sentido espiritual de Queelata, essa 19ª estação onde o povo de Israel esteve. A tragédia que ocorreu aqui e porque muitas verdades espirituais ainda não foram manifestadas profundamente em nossa vida – por causa do nosso próprio andar, por causa da maneira como nós temos nos relacionado com as coisas espirituais.
Que Deus, pelo Seu Santo Espírito venha falar a cada um de nós a Sua palavra.

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