terça-feira, 1 de junho de 2010

AS 42 JORNADAS NO DESERTO

Estudo das 42 Jornadas no Deserto

CAPÍTULO 60

TEXTO: Êxodo, Cap. 32 – 7ª Subida

Vamos continuar estudando acerca desta 7ª subida de Moisés ao monte Sinai. Onde ele vai poder experimentar sobre a justiça e a misericórdia de Deus; onde ele vai poder compreender estes aspectos tão preciosos.

Aqui nesta 7ª subida nós temos a justiça e a misericórdia de Deus. Sabemos que o contexto desta subida é quando o povo de Israel está adorando a um bezerro de ouro, quando o povo está adorando àquele bezerro, que Arão fez para aquele povo. E o povo, desenfreadamente, adorava aquele bezerro quando Moisés quebrou as tábuas da Lei. Naquele momento a tribo de Levi é instituída – porque a tribo de Levi não adorara aquele bezerro de ouro. E ali Deus exerceu o seu juízo.

Agora Moisés sobe ao Monte Sinai. Ele ora! Esta oração ou intercessão está em Êxodo capítulo 32, versículo 11, quando Moisés suplicou ao Senhor e disse: “Por que se acende, SENHOR, a tua ira contra o teu povo, que tiraste da terra do Egito com grande fortaleza e poderosa mão?”. Aqui nós temos que ver a “Doutrina da ira de Deus”. O que é a ira de Deus? Se nós precisamos compreender o caráter de Deus em sua essência naquilo que é comunicado a nós através do Espírito santo, pela Palavra, nós não podemos deixar de conhecer a ira de Deus. A ira de Deus é uma Doutrina que está em toda a Bíblia. É um fato e ninguém pode contestá-lo. Todos nós estamos envolvidos na doutrina da ira de Deus. Dela depende o nosso destino. Nunca entenderemos o amor de Deus enquanto não compreendermos a doutrina da ira de Deus. A ira de Deus é nada mais nada menos que a “manifestação de indignação baseada em sua justiça”. Para entendermos a doutrina do amor de Deus nós precisamos entender primeiro a doutrina da ira de Deus. Sem a compreensão da ira de Deus, nós não vamos compreender seu amor por nós.

A primeira visão que nós devemos ter do pecado é que o pecado acarretou uma desordem tão profunda que é necessário uma reparação ou restituição, isto é, a “expiação”. A expiação é uma necessidade, porque ela emerge de dentro do próprio Deus. O pecado afetou a posição do homem diante de Deus. Paulo diz em Efésios capítulo 2, versículo 3: “e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais”. Isto indica que todos nós estamos sob a ira de Deus por natureza. A necessidade de satisfação para Deus, portanto, não se encontra em nada fora Dele, mas dentro Dele, em Seu próprio Caráter imutável.

Amados irmãos e irmãs, nós temos que saber que Deus é a sua própria Lei. Ele só se satisfaz e se conforma com esta Lei. A lei do seu próprio ser. Quando nós vemos Gênesis capítulo 3, versículo 24, quando Deus lançou o homem para fora do jardim, Ele pôs querubins ao oriente do jardim do Éden com uma espada inflamada, que andava ao redor para guardar o caminho da árvore da vida. O que significa a espada inflamada? Significa a espada da justiça de Deus, da ira e da punição. Deus agora está punindo o homem por causa do seu pecado. Aqui podemos ver a ira de Deus contra o pecado, contra a rebelião do homem. A ira de Deus indica que há dentro Dele uma intolerância santa contra a rebelião, contra a idolatria, a imoralidade, a injustiça, contra todo o mal. É isso que nós vemos.

Ezequiel, capítulo 24, versículos 13 e 14, diz assim:

13 - Na tua imundícia está a luxúria; porque eu quis purificar-te, e não te purificaste, não serás nunca purificada da tua imundícia, até que eu tenha satisfeito o meu furor contra ti. 14 - Eu, o SENHOR, o disse: será assim, e eu o farei; não tornarei atrás, não pouparei, nem me arrependerei; segundo os teus caminhos e segundo os teus feitos, serás julgada, diz o SENHOR Deus.

Veja isto, a ira de Deus acesa contra Judá não se apagaria facilmente, isto é, Deus não desistiria de julgar esta nação. O fogo da ira de Deus só se apagaria quando o seu juízo fosse completado. Nós podemos ver o exemplo disso no episódio da capa babilônica que Acã escondeu em sua casa dos despojos de Jericó. Diz assim o texto em Josué capítulo 7, versículo 26: “E levantaram sobre ele um montão de pedras, que permanece até ao dia de hoje; assim, o SENHOR apagou o furor da sua ira; pelo que aquele lugar se chama o vale de Acor até ao dia de hoje”. Nesse texto vemos o julgamento de Deus sobre a família de Acã, porque tomou dos despojos Jericó, as coisas condenadas por Deus e as escondeu em sua própria casa. Josué já havia avisado aos filhos de Israel a não tomarem dos despojos de Jericó porque isso seria maldição. Isto está em Josué 6:18. Esse foi o motivo da ira de Deus. Veja o versículo 13, de Ezequiel capítulo 5: “Assim, se cumprirá a minha ira, e satisfarei neles o meu furor e me consolarei; saberão que eu, o SENHOR, falei no meu zelo, quando cumprir neles o meu furor. Sabemos que no hebraico a palavra para “ira” é “kalah”, que é empregada por Ezequiel 16:26. Significa: ser completo; terminado; realizado. Segundo o seu contexto essa palavra indica que algo foi cumprido, terminado, chegou ao fim.

Veja que Ezequiel capítulo 7, versículos 7 e 8, diz assim:

7 - vem a tua sentença, ó habitante da terra. Vem o tempo; é chegado o dia da turbação, e não da alegria, sobre os montes. 8 - Agora, em breve, derramarei o meu furor sobre ti, cumprirei a minha ira contra ti, julgar-te-ei segundo os teus caminhos e porei sobre ti todas as tuas abominações.

Vejam que as palavras “derramarei” e “cumprirei” estão juntas e elas definem a ira de Deus sobre a nação de Judá. Jeremias havia dito isso em Lamentações capítulo 4, versículo 11: “Deu o SENHOR cumprimento à sua indignação, derramou o ardor da sua ira; acendeu fogo em Sião, que consumiu os seus fundamentos”. Então, amados irmãos e irmãs, a ira de Deus só cessa quando é cumprida. Aqui nós precisamos ver duas coisas importantes sobre a ira de Deus:
Primeira - quando ocorre ira de Deus é porque algo no ser essencial, isto é, no Seu ser moral é provocado pelo pecado, pelo mal, pela rebeldia do coração do homem.
Segundo – aquilo que está dentro de Deus deve sair e as exigências da Sua própria natureza e caráter devem ser preenchidas mediante a ação apropriada da Sua própria parte, da parte de Deus.

No Novo Testamento o primeiro pregador do Evangelho foi João Batista. E o que ele pregava? Veja o que diz Mateus capítulo 3, versículo 7: “Vendo ele, porém, que muitos fariseus e saduceus vinham ao batismo, disse-lhes: Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura?” O Senhor Jesus enfatizou o mesmo que João Batista. Olhe o Evangelho de João capítulo 3, versículo 36, que diz: “Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus”. O apóstolo Paulo enfatiza a mesma verdade de modo claro. Veja o que diz em Romanos capítulo 1, versículo 18: “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça”. Então nós vemos que esta é uma doutrina ampla na Palavra de Deus. Durante muito tempo na história da Igreja houve a ideia de que foi o diabo que tornou a cruz necessária. Os cristãos, durante um longo tempo na história da Igreja, reconheciam que desde a queda e por causa dela a humanidade estava cativa não somente ao pecado e a culpa, mas também ao diabo. Pensavam nele como o senhor do pecado e da morte, como o maior tirano de quem Cristo Jesus, o nosso Senhor, veio nos libertar. Mas isso não é verdade. Nós temos que entender que o sacrifício da cruz deveria ser de acordo com o caráter de Deus. O que fez a cruz necessária não foi uma transação entre Deus e o diabo; antes, foi uma exigência do próprio caráter de Deus. O que nós temos que ver é que o modo pelo qual Deus escolhe perdoar os pecadores e reconciliá-los consigo mesmo deve ser, acima de tudo, totalmente coerente com o seu próprio caráter. Quando falamos da ira de Deus devemos saber que uma única palavra não pode descrever a totalidade da natureza de Deus. A cruz de Cristo é o evento no qual Deus simultaneamente torna conhecida a sua santidade e o seu amor em um único evento de um modo absoluto. Na cruz vemos a combinação da Justiça inflexível e do amor transcendente, transbordante. Há dentro de Deus uma tensão interior entre sua compaixão e o furor da sua ira.
Dois textos que nos falam da dualidade de Deus são: Êxodo capítulo 34, versículo 6, que diz: “E, passando o SENHOR por diante dele, clamou: SENHOR, SENHOR Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade”. Veja que depois deste episódio da interseção de Moisés ele tem esta experiência, ele diz no versículo 7: “que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado, e visita a iniquidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até à terceira e quarta geração!”. Aqui Moisés entendeu claramente que a ira de Deus é a outra face do Seu amor.

Romanos capítulo 11, versículo 22, nos diz: “Considerai, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a bondade de Deus, se nela permaneceres”. Veja que tudo isso é muito rico! Temos que prestar atenção nisso, para que possamos entender verdadeiramente o que esta oração de Moisés significa para nós hoje. Então Moisés está orando “porque se acende a tua ira sobre o teu povo que tiraste da terra do Egito?” (Ex 32:11). Vamos estudar um pouco este texto, como também, os demais que se seguem para podermos compreender claramente o que tudo isso significa. Deus está ministrando algo para nós, e nós precisamos estar atentos ao que Deus deseja falar conosco. Veja que Moisés diz algo ainda quando segue neste mesmo assunto. Olha o que ele diz em Ex 32:12: “Por que hão de dizer os egípcios: Com maus intentos os tirou, para matá-los nos montes e para consumi-los da face da terra? Torna-te do furor da tua ira e arrepende-te deste mal contra o teu povo”. A palavra hebraica para “arrependimento” é “nacham”. É usada para indicar tanto o arrependimento humano quanto o arrependimento de Deus no Antigo Testamento. Amados irmãos e irmãs, é do conhecimento de todos nós que a Bíblia fala do arrependimento de Deus. Mas como o arrependimento de Deus deve ser entendido por nós? Será que o arrependimento humano serve de parâmetro para o arrependimento de Deus? O arrependimento de Deus é o mesmo dos homens? Deus realmente se arrepende como nós nos arrependemos? Creio que nós precisamos estudar este assunto. Embora já tenha compartilhado algo, quero avançar um pouco mais.

Em Gênesis capítulo 6, versículos 5 e 7 dizem assim:

5 - Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração; 6 - então, se arrependeu o SENHOR de ter feito o homem na terra, e isso lhe pesou no coração.

Em Êxodo 32:12, que é o texto que estamos considerando, diz isso. Se continuarmos lendo na sequência, veremos: Gn 6:5,7, Êxodo 32:12 e depois 1 Sm 15:10,11 e 35 que diz:

10 - Então, veio a palavra do SENHOR a Samuel, dizendo: 11 - Arrependo-me de haver constituído Saul rei, porquanto deixou de me seguir e não executou as minhas palavras. Então, Samuel se contristou e toda a noite clamou ao SENHOR. 35 -... O SENHOR se arrependeu de haver constituído Saul rei sobre Israel.

2 Samuel capítulo 24, versículo 16, diz: “Estendendo, pois, o Anjo do SENHOR a mão sobre Jerusalém, para a destruir, arrependeu-se o SENHOR do mal e disse ao Anjo que fazia a destruição entre o povo: Basta, retira a mão. O Anjo estava junto à eira de Araúna, o jebuseu”. Podemos citar ainda outros textos: Jr 18:7,8; Jr 2:13; Jr 3:10. Como entender todas estas passagens à luz deste assunto? Amados irmãos, a referência em cada caso é sobre a “anulação de um prévio tratamento” dispensado a certos homens como consequência da reação deles a esse tratamento. Mas não acho sugestão de que essa reação não tenha sido prevista ou que Deus tenha sido tomado de surpresa por algo e que não tivesse estabelecido em Seu Plano eterno. Não há mudança alguma em Seu propósito eterno quando Ele começa a agir em relação ao homem de maneira diferente. A primeira coisa que nós temos que ver é isto. Além dos textos bíblicos acima, outras passagens bíblicas são claras em afirmar que Deus nunca se arrepende:


• Números 23:19, diz: “Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa. Porventura, tendo ele prometido, não o fará? Ou, tendo falado, não o cumprirá?”.

• 1 Samuel 15:29, também da mesma forma diz: “Também a Glória de Israel não mente, nem se arrepende, porquanto não é homem, para que se arrependa”.

• Oséias 13:14, diz assim: “...Meus olhos não veem em mim arrependimento algum”.

Então, amados irmãos e irmãs, entendam que não existe contradição alguma nos textos que dizem que Deus se arrepende e nos que afirmam de outra maneira. Pelo contrário, estas três últimas passagens bíblicas estabelecem claramente que o arrependimento de Deus nunca deve ser entendido como o arrependimento humano. Sabem por quê? Simplesmente porque o arrependimento do homem é causado pelo reconhecimento de uma atitude precipitada como resultado da ignorância do que havia de acontecer. Nós nos arrependemos porque erramos. No caso de Deus é extremamente diferente. Ele jamais erra. Em Deus não pode haver variação ou sombra de mudança. O apóstolo Tiago escreveu isso no capítulo 1, versículo 17, em sua epístola. Quando a Bíblia fala de Deus se arrependendo, mudando a sua intenção para com o homem, evidentemente, é claro que é apenas a maneira humana de falar. Na realidade a mudança não é em Deus. Essa mudança é nas relações do homem com Deus. Quando fala de Si mesmo, Deus frequentemente acomoda sua linguagem a nossa capacidade limitada. Ele se descreve a Si mesmo como revestido de membros corporais como: olhos, ouvidos, mãos etc. Deus fala de si mesmo como tendo despertado. Vejam o Salmo capítulo 78, versículo 65: “Então, o Senhor despertou como de um sono”. Como se Ele tivesse despertado de madrugada. Jeremias 7:13 também diz isso – apesar de Ele não cochilar nem dormir. Quando Ele estabelece uma mudança em seu procedimento para com o homem, descreve a sua linha de conduta em termos de arrepender-se. Concluindo: o arrependimento de Deus não ocorre por causa de qualquer mudança Nele, mas por causa de nossa mudança para com Ele. Isso tem que ficar claro para nós. Este é um assunto que precisa ficar claro dentro do estudo da Palavra. Por isso estou compartilhando agora. Precisamos ter toda a clareza quando estudarmos este assunto. E é isto que Moisés está falando. A oração aqui de Ex 32:11 não é para Moisés mudar a Deus. Esta oração é para que Moisés toque na vontade de Deus, toque no caráter da vontade. Depois lemos que o próprio Moisés expressa isso lá em Êxodo capítulo 34, versículo 6 e 7, quando diz;

6 - E, passando o SENHOR por diante dele, clamou: SENHOR, SENHOR Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; 7 - que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado, e visita a iniquidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até à terceira e quarta geração!

Que Deus, de uma forma clara e poderosa, fale e aplique esta Palavra no poder do Espírito Santo aos nossos corações e nos abençoe rica e poderosamente.

Por: Ir. Luiz Fontes

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