terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 138

27ª Estação – Moserote (parte 2)

TEXTOS: Ef 3:1;4:1; Fm 1:23; Mt 11:29-30; Jo 21:15-19; Lc 22:31-34; 54-62; II Pe 1:5-12; Gn 25:1-6; II Tm 2:22

Vamos prosseguir estudando a 27ª estaçãoMoserote.

Pela graça do Senhor, temos compreendido desde a primeira parte alguns aspectos muito interessantes acerca dessa estação. Sua singularidade, sua posição geográfica. No primeiro estudo aprendemos que o povo de Israel avançou... Primeiro percorreu algumas estações... Foram prosseguindo e depois voltaram. E sabemos que nessa volta, aqui nessa estação, Arão morreu. É interessante acompanharmos, prestarmos atenção a tudo isso. Eles passaram por Moserote e avançaram, foram mais adiante. Depois, vimos que voltaram. E nesse retorno, passaram novamente por Moserote, onde Arão morreu.

Além disso, aqui somos também conduzidos pelo Senhor, na Sua infinita graça e misericórdia, a entender alguns pontos muito importantes, pontos que nos mostram uma transição. Naquele exato momento em que alguns anciãos da obra, aqueles que tanto foram usados pelo Senhor na edificação da Sua Igreja, aqueles que foram úteis na vida de Deus (ou mesmo, num âmbito mais geral, porque podemos avançar também hoje para dentro do Antigo Testamento e ver algumas experiências, como na vida de Abraão). Então, de um modo geral, abrangendo a Obra de Deus, no que consiste na edificação da Igreja hoje, chega um momento em que alguns anciãos precisam deixar a Obra – quando o Senhor lhes promove para a Sua glória. Esse ponto é muito importante, porque precisamos aprender a viver a nossa maturidade espiritual. Estudamos essa estação, chegamos a este assunto um tanto quanto delicado, mas que precisa ser ensinado à luz da Palavra de Deus. Isso porque Moserote, assim como Hasmona, é uma estação que diz respeito aos anciãos.

O nome Moserote significa carregar o jugo com outro; ser aprisionado, vinculado; aquilo que ata, que liga as pessoas; aquilo que estabelece um relacionamento mais profundo. Isso é muito importante para a nossa vida; é algo extraordinário. Isso porque a nossa vida cristã vai avançando, em etapas, estágios... É um processo. A Bíblia diz que “a vereda dos justos é como a luz a aurora, que vai brilhando, brilhando, até ser dia perfeito” (Pv 4:18). Trata-se de uma caminhada, de estação em estação.

Precisamos, então, ver alguns pontos aqui, os quais o Senhor tem ministrado ao meu coração, e desejo que Ele fale muito a você. Quero ler alguns textos em Efésios 3:1 e 4:1, como também em Filemon 1:23.

Efésios 3:1:

1 Por esta causa eu, Paulo, sou o prisioneiro de Cristo Jesus, por amor de vós, gentios,”.

Efésios 4:1:

1 Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados,”.

Filemon 1:23:

23 Saúdam-te Epafras, prisioneiro comigo, em Cristo Jesus”.

Vamos agora estudar essa estação dentro deste contexto de que Paulo nos fala aqui: estarmos aprisionados no Senhor. Porque essa estação é muito profunda, muito ampla em seu conteúdo espiritual. E temos que estudá-la, pois, quando Paulo diz “prisioneiro em Cristo Jesus”, temos que saber o que realmente ele está dizendo.

Sabemos que essas cartas – Efésios, Filemon – foram cartas que Paulo escreveu na prisão, quando esteve preso em Roma. Paulo tinha plena convicção de que não era um prisioneiro de Nero, mas de Cristo. Cristo era a causa da sua prisão. Mas não somente isso, ele estava preso a Cristo. Porque estava preso a Cristo, ele estava naquela condição. Paulo escolheu levar o jugo de Cristo sobre si. Isso significa que o Senhor Jesus havia conduzido a vida de Paulo num andar tão profundo de união com Ele, que Paulo levava sobre si o jugo de Cristo. Em Mateus 11:29-30 o Senhor Jesus disse:

29 Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. 30 Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.”

“Jugo” significa vínculo de submissão e obediência. Paulo estava tão unido a Cristo, que ficou preso a Cristo. Ele não andava de acordo com a sua vontade, ele havia chegado ao fim de si mesmo. Era Cristo que o guiava, ele estava completamente submetido a Cristo Jesus. Amados irmãos, o trabalho de Deus através da cruz em nossa vida é nos levar ao fim de nós mesmos, ao fim da nossa vontade, da nossa vida própria. Isso é morrer para nós mesmos. Quero dar-lhes um exemplo que está em João 21:17-19. Quando o Senhor Jesus ressuscitou, foi se encontrar com os discípulos, especialmente com Pedro. E em João 21:17-19 diz assim:

17 Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João, tu me amas? Pedro entristeceu-se por ele lhe ter dito, pela terceira vez: Tu me amas? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo. Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas. 18 Em verdade, em verdade te digo que, quando eras mais moço, tu te cingias a ti mesmo e andavas por onde querias; quando, porém, fores velho, estenderás as mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres. 19 Disse isto para significar com que gênero de morte Pedro havia de glorificar a Deus. Depois de assim falar, acrescentou-lhe: Segue-me.”

Aqui está um homem que já não confiava mais em si mesmo. Esse homem era Pedro. No princípio vemos Pedro cheio de confiança em si mesmo. Pedro era uma pessoa que tinha uma vontade própria muito forte, uma pessoa centrada em si mesmo. Pedro achava que estava sempre preparado, que poderia até mesmo defender a vida do Senhor – como fez diante de Malco (Jo 18:10). Pedro era uma pessoa que tinha uma vontade muito forte. Em João 13:37 ele diz para o Senhor Jesus: “Por Ti darei a minha própria vida”. E o Senhor Jesus lhe ensinou que ele não estava preparado, que não era uma pessoa confiável. Ele não estava adequado, pois ainda não havia colocado o jugo do Senhor. Pedro ainda não estava preso ao Senhor. Por isso, em Lucas 22:31-34 e 54-62, ele nega o Senhor Jesus. Meus amados, se não colocarmos o jugo do Senhor, sempre estaremos prontos a negar o Senhor, a abandonar o Senhor, a decepcioná-lo.

Em Lucas 22:54-62 Pedro havia negado o Senhor por três vezes. Mas, agora, nesses textos de João 21:15-19, vemos o Senhor perguntar-lhe por três vezes: “Tu me amas?”. Pedro aqui já era uma pessoa experimentada, não era mais uma pessoa vacilante. Ele havia aprendido muito com tudo o que lhe acontecera. Creio que em todo o tempo, durante o intervalo entre a cruz e a aparição do Senhor, Pedro pôde refletir muito sobre a sua própria vida. Ali o Senhor pôde levá-lo ao fim de si mesmo, quando ele chora amargamente depois que o galo canta.

Amados irmãos, precisamos ver o quanto tudo isso implica em nossa vida cristã. Como precisamos crescer a cada dia, mais e mais. A vida cristã não é uma mesmice, ela é ascensional. Temos que ver isso. Precisamos saber que as últimas jornadas que estamos estudando, como Hasmona e Moserote, são as que enfatizam a vida cristã em um plano mais alto. Essas são as estações dos anciãos, do amadurecimento e da profundidade da vida espiritual.

Ao fazer um exame bem detalhado no léxico da língua grega, você verá que, das três perguntas que o Senhor Jesus faz a Pedro em João 21:15-17, nas duas primeiras o Senhor pergunta se ele O ama. Nessas duas primeiras perguntas, a palavra para “amor” é ágape. Mas, na terceira vez, Ele não usa o termo ágape, e sim o termo phileo. Ágape é o amor de Deus, o amor incondicional, o amor que o próprio Deus derramou em nosso coração. Esse amor é Ele sendo dado a nós. Sempre que o Senhor pergunta para Pedro, ele responde usando o termo phileo porque a resposta de Pedro nunca é ágape, mas phileo“o amor entre os irmãos”. E na terceira vez em que pergunta “Pedro, tu me amas”, o Senhor já não usa mais o termo ágape, e sim phileo. E a Bíblia diz que Pedro se entristece e reponde: “Senhor, Tu sabes todas as coisas, sabes que eu Te amo”. Mais uma vez Pedro volta a dizer: “Tu sabes que eu Te amo” (como um irmão).

Vemos aqui um ancião, uma pessoa madura. Creio que isso nos mostra algo especial. Então, o Senhor avança e diz para Pedro em João 21:18-19:

18 Em verdade, em verdade te digo que, quando eras mais moço, tu te cingias a ti mesmo e andavas por onde querias (...)”

“Você fazia a sua vontade, vivia de acordo com o seu próprio pensamento, com a sua própria vontade”.

“quando, porém, fores velho, estenderás as mãos(...)”

Olhem bem a cruz, aqui está a cruz – “mãos estendidas”. Sabemos que Pedro morreu em uma cruz, de cabeça para baixo.

“e outro te cingirá e te levará para onde não queres. 19 Disse isto para significar com que gênero de morte Pedro havia de glorificar a Deus. Depois de assim falar, acrescentou-lhe: Segue-me.”

Temos aqui a figura da cruz na vida de Pedro. Então, a grande lição que Pedro tinha que aprender é que ele iria glorificar a Deus em sua vida, como também na morte. Temos que aprender que não vivemos a vida para nós mesmos. Esse é o ponto mais profundo da nossa maturidade espiritual. Não vivemos para nós mesmos. Existe uma escada ascensional que temos que caminhar, degrau por degrau. Como exemplo, vamos ler alguns versículos em II Pedro 1:11-15:

10 Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum. 11 Pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. 12 Por esta razão, sempre estarei pronto para trazer-vos lembrados acerca destas coisas, embora estejais certos da verdade já presente convosco e nela confirmados. 13 Também considero justo, enquanto estou neste tabernáculo, despertar-vos com essas lembranças, 14 certo de que estou prestes a deixar o meu tabernáculo, como efetivamente nosso Senhor Jesus Cristo me revelou. 15 Mas, de minha parte, esforçar-me-ei, diligentemente, por fazer que, a todo tempo, mesmo depois da minha partida, conserveis lembrança de tudo.”

Vejam a herança que Pedro está querendo deixar para todos aqueles irmãos, para a Igreja do Senhor Jesus. Aqui está um apóstolo, um ancião, uma pessoa que sabe aonde tem que ir; que compreendeu o significado de viver uma vida para Deus, de ter que morrer de uma forma que Deus seja glorificado até mesmo na sua morte. Observe que no versículo 10 Pedro inicia assim: “Por isso”. Isso indica que aquilo que ele acabara de dizer é muito importante. Precisamos conhecer o contexto imediato desses versículos de II Pedro. Vamos ler, então, para que seja formado um lindo quadro na nossa mente, de forma que compreendamos com maior clareza e profundidade as palavras de Pedro. II Pedro 1:5-7 diz assim:

5 por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; 6 com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade; 7 com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor.”

Vejam que fé, virtude, conhecimento, domínio próprio, perseverança, piedade, fraternidade e amor”, todas essas coisas, são itens de uma escada. Olhem o que significa isso! São os degraus da escada que Pedro percorreu em sua jornada ascensional. Esse foi o seu caminho até à maturidade. Essa é a jornada para uma vida num plano mais alto. Pedro foi alguém que andou por esse caminho. Amados irmãos, sabemos que essas cartas de Pedro são os escritos de um ancião, de uma pessoa madura. Precisamos entender, então, o plano de Deus. Pedro entendia que ele tinha que partir e estar com o Senhor, mas não queria que a sua morte enterrasse toda a herança espiritual de Deus na vida dele. Ele tinha uma herança para deixar aos irmãos – todos os ensinamentos apostólicos, o encargo apostólico, tudo o que tinha que deixar para os irmãos como uma herança espiritual. Ele não queria que essas coisas fossem enterradas com ele. E agora Pedro entende isso por causa da sua união com o Senhor, porque o jugo do Senhor havia sido colocado sobre ele. Pedro foi aprisionado com o Senhor. Essa é a lição de Moserote. Que coisa mais linda, amados irmãos. Precisamos ser ajudados pelo Senhor, ser tocados profundamente por tudo isso.

Gostaria de ler ainda com vocês Gênesis 25:1-6, chamando a atenção para um episódio na vida de Abraão, quando estava prestes a morrer.

1 Desposou Abraão outra mulher (depois da morte de Sara, obviamente); chamava-se Quetura. 2 Ela lhe deu à luz a Zinrã, Jocsã, Medã, Midiã, Isbaque e Suá. 3 Jocsã gerou a Seba e a Dedã; os filhos de Dedã foram: Assurim, Letusim e Leumim. 4 Os filhos de Midiã foram: Efá, Efer, Enoque, Abida e Elda. Todos estes foram filhos de Quetura. 5 Abraão deu tudo o que possuía a Isaque. 6 Porém, aos filhos das concubinas que tinha, deu ele presentes e, ainda em vida, os separou de seu filho Isaque, enviando-os para a terra oriental.”

Prestemos atenção aqui, vendo os cuidados que Abraão teve antes de morrer. Esses versículos mostram os filhos de Abraão com Quetura. E esse detalhe é muito especial, porque Abraão foi muito cuidadoso. Ele deixou tudo, toda a sua herança para Isaque, pois esses outros filhos não foram os filhos da promessa. Somente aquele que foi geado pela promessa de Deus deveria herdar tudo. O que era importante para Abraão era o plano de Deus, a continuidade do propósito de Deus. Vejam as palavras de Paulo a Timóteo. As epístolas que Paulo escreve a Timóteo, especialmente II Timóteo, são como um testamento. Paulo aqui dá as suas últimas palavras, as palavras finais a Timóteo. Em II Timóteo 2:22 ele diz assim:

22 Foge, outrossim, das paixões da mocidade. Segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor.”

Paulo está dando as suas últimas instruções. Do mesmo modo, vejam novamente as palavras de Pedro em sua segunda carta. As palavras de Pedro são como um testamento. A atitude de Abraão também é como um testamento, deixando as coisas em ordem, de maneira que sirvam à causa do Senhor.

Paulo tinha Timóteo como seu filho. Sabemos que essas cartas pastorais são as cartas da velhice de Paulo. Ele não queria que Timóteo, seu filho amado, se mesclasse com aqueles que não andam no espírito. Tanto Abraão, como Paulo, como Pedro, não queriam que após as suas mortes o plano de Deus perdesse a continuidade.

Irmãos, é isso o que aprendemos aqui em Moserote. Essa é uma herança espiritual que Deus deixa para nós. E precisamos estar atentos a isso, estar presos ao Senhor, ser ganhos por Ele. Não podemos nos permitir que o Senhor invista tanto na nossa vida e, um dia, por não olharmos para o alto, por não termos uma visão profunda, por não estarmos com o coração aprisionado, ganho pelo Senhor, não tenhamos o entendimento acerca do propósito da nossa vida. Não vivemos para nós, vivemos para agradar ao Senhor. Essa é a lição que aprendemos em Moserote. Precisamos investir de forma muito clara para que haja continuidade na Obra e no propósito de Deus. Não podemos enterrar conosco toda a herança espiritual. Precisamos permitir que Deus avance além de nós, que Ele passe por meio de nós, que sejamos apenas instrumentos Seus dentro de um tempo, de uma geração conforme a Sua vontade. Que Ele prossiga para além de nós.

Que Deus venha abençoar a cada um de nós. Que essas palavras sejam guardadas em nosso coração. Tenho certeza de que ela vai servir na vida de muitas pessoas. Tenho certeza de que ela vai abrir a mente de muitos de nós, tanto na questão da herança espiritual, como também nas questões materiais. Que sejamos sóbrios, sinceros, maduros. Que tenhamos uma vida cristã muito profunda em Deus, para podermos entender Seus caminhos e Seu próprio caminho por meio de nós. Como Ele precisa, necessita avançar por meio de nós para que possa alcançar em Si mesmo a glória do Seu propósito. Quando coloco a palavra necessita, não que haja alguma necessidade inerente ao próprio caráter de Deus, mas em relação a nós mesmos. Porque Deus nos incluiu em Seu plano, em Sua vontade, e Ele quer, é Seu desejo, avançar por meio de nós. Ele quer ter Sua glória sendo não apenas revelada em nossa vida, mas também expressada por meio de nós.

Que Deus, de uma forma poderosa e gloriosa, fale ao seu coração.

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