quarta-feira, 13 de julho de 2011

ESTUDO DA EPÍTSOLA DE PAULO AOS EFÉSIOS


CAPÍTULO 20

Preparando-nos para o hóspede

Por: D. M. Lloyd Jones

“... e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus.” (Ef 3:19)

Resta-nos agora considerar a questão muito prática e direta quanto a como podemos alcançar este conhecimento. Presumo que agora estamos ávidos e ansiosos por conhecê-lo e experimentá-lo. O princípio dominante e determinante é buscar a Pessoa – não buscar bênçãos gerais, e sim buscar a Pessoa do Senhor. Estou cada vez mais convencido de que muitos vivem a vida cristã neste mundo sem este conhecimento, simplesmente porque nunca saíram da esfera das generalidades para a das particularidades. Temos que “colocar-nos no caminho da benção” como fez o cego Bartimeu.

A primeira e óbvia regra é “ler a Palavra” de Deus com regularidade. Esta Palavra foi dada a fim de O revelar a nós. Num sentido, o propósito central das escrituras é revelar o Senhor Jesus Cristo. Isso é verdade tanto com relação ao Velho Testamento como com relação ao Novo. Cabe-nos vê-lO em toda parte nas Escrituras. Não somente nos quatro Evangelhos, mas também nas Epístolas. Todas elas se referem a Ele, todas elas são revelações dEle.

É-nos possível ler as Escrituras de maneira totalmente inútil. Se vocês lêem as Escrituras mecanicamente porque acreditam que é certo e bom fazer isso, provavelmente auferirão pouco benefício. Vocês poderão ter uma imediata sensação de satisfação própria por terem lido a sua porção para o dia; todavia isso não é ler as Escrituras. Temos que orar, pedindo a iluminação e a inspiração do Espírito Santo sempre que recorrermos às Escrituras.

Não há livro que mais exija aplicação e concentração do que a Bíblia. Não devemos parar no ponto em que dizemos que é bom lê-la porque é a Palavra de Deus. Devemos ir além e dizer a nós mesmos: ela é uma Palavra viva! O fato é que Deus continuou falando aos santos ao longo dos séculos por meio da Sua Palavra. Leiam as experiências deles, e verão que muitos deles tiveram as suas maiores experiências pessoais do “amor de Cristo” quando estavam lendo as Escrituras. Subitamente parece que Ele vem ao encontro deles mediante uma palavra particular; Ele sai do Livro, por assim dizer, e eles sabem que Ele está lhes falando pessoalmente.

E nós podemos ter experiências semelhantes, se aprendermos a ler a Bíblia com reflexão e meditação. Não obstante, a meditação e a contemplação não são fáceis, como sabemos por experiência própria. Concentrar-nos no que estamos lendo requer esforço e disciplina. A contemplação e o pensamento interior são mais difíceis ainda. O estágio final da vida santa é o da contemplação. Poucos chegam lá. Assim, se nesta questão do amor de Cristo ficarmos entregues a nós mesmos, veremos que isso será impossível. Mas Deus desceu até a nossa fraqueza e nos providenciou a Palavra, as ilustrações, a instrução e o ensino. Portanto, devemos tirar pleno proveito disso tudo e utilizá-lo em nosso esforços para conhecê-lO.

Devemos aplicar deliberadamente as nossas mentes à procura dEle e ao conhecimento do Seu amor. Noutras palavras devemos ir às Escrituras com espírito de grande expectativa. Devemos ir num estado de grande avidez, indagando: será que Ele vai falar comigo pessoalmente, como também o faz indiretamente mediante a Palavra? Lembre-se Ele continua o mesmo, como nos diz o escritor aos Hebreus 13:8:

“Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre.”

Essa foi a maravilhosa descoberta feita pelos diversos apóstolos que O viram após a Sua ascensão. Portanto, devemos buscá-lo. As Escrituras foram dadas para ajudar-nos, e devemos aplicar o que lemos nelas. O grande princípio é que a verdadeira leitura da Bíblia envolve pensamento, meditação, preparo pessoal e, acima de tudo, expectativa, uma ávida antecipação, uma procura do Senhor e uma prontidão para achá-lO em toda parte.

O subseqüente elemento nesta busca é a “oração”. Podemos passar muito tempo na posição de oração e, todavia, sem orar realmente. Pode ser que pela disposição natural, comecemos sendo moles e indolentes. Entendemos que precisamos ter um horário, e adotamos um. Contudo, inconsciente e gradativamente nos tornamos escravos do nosso horário, e com isso podemos deixar de experimentar a liberdade do Espírito. Por causa dos restos pecaminosos que permeiam em nós, vamos de um extremo para o outro. Temos que assegurar-nos bem de que não perdemos de vista o grande objetivo, o qual é, conhecer a Cristo e conhecer o Seu amor.

Insisto, pois, em que, quanto à oração, não há nada mais importante que a meditação e exame preliminar daquilo que vamos fazer. Há pouco propósito em começar a falar com Deus se não compreendemos a nossa própria condição. Não proceder assim significa que talvez estejamos indo à presença de Deus num estado pessoal completamente falso. Vamos a Deus nessas condições e lhe pedimos certas coisas. Se tivéssemos parado para analisar-nos a nós mesmos, e se tivéssemos conversado conosco mesmos com toda a sinceridade, teríamos descoberto que, provavelmente, estávamos em condições totalmente más e indignas. Tivéssemos feito isso, quão diferente seria a nossa oração. Acima de tudo, precisamos pensar nEle, em nosso grande Sumo Sacerdote. Como disse nosso irmão Isaac Watts:

“Com alegria meditamos nós na graça do nosso Grande Sumo Sacerdote nas alturas...”

Fazer isso e compreender isso transformará a nossa maneira de orar. Estaremos verdadeiramente buscando o Senhor e esperando dEle uma resposta viva.

Outro elemento importante é a “ação de graças”. Devemos compreender que Deus tem prazer em ouvir as nossas palavras de gratidão e louvor. O apóstolo Paulo corrigindo aos Filipenses (4:6) diz assim:

“Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças.”

Antes de pedirmos a Deus quaisquer novas bênçãos e benefícios, devemos ter o cuidado de agradecer-lhe o que já recebemos. Quantas vezes o fazem? Dizemos que Cristo morreu pelos nossos pecados, mas quantas vezes lhe agradecemos isso? Quanto mais lhe agradecem e lhe expressam seu débil amor por Ele, maior probabilidade terão de conhecer o seu amor por vocês no sentido maior a que Paulo se refere. Quanto mais proeminente forem o louvor e a ação de graças em nossa vida de oração, mais conheceremos este amor, que excede todo o entendimento.

Também deveria ser óbvio que devemos procurar “agradá-lo” em todas as coisas. Se amamos certas pessoas, instintivamente procuramos agradá-las; e quanto mais agradamos, mais elas mostrarão o seu amor por nós. É realmente simples assim. O nosso Senhor pessoalmente afirma isso com a maior clareza e simplicidade no Evangelho de João 14:21, diz assim:

“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele.”

E, contudo, quantas vezes nos esquecemos disso! A Bíblia é um livro prático, e quer mostrar-nos que o amor não é um vago sentimento. Diz-nos o nosso Senhor que mostremos o nosso amor por Ele guardando os Seus mandamentos. Se realmente desejamos conhecê-lo e conhecer o Seu amor, devemos realizar com todas as nossas forças tudo que Ele mandou que fizéssemos. Sejamos diligentes, portanto, na observância dos Seus mandamentos. Ou, para expor negativamente o assunto, tratemos de compreender quão importante é evitar desagradá-lO. Certas coisas são completamente incompatíveis com a Sua presença. As Escrituras nos advertem com muita clareza acerca do perigo de “entristecer o Espírito”. O mesmo que se aplica ao Espírito Santo, aplica-se igualmente ao Senhor Jesus Cristo. Portanto, se você anela a manifestação do Seu amor, evite fazer as coisas que sabe que Ele não pode suportar, as coisas que Ele odeia, as coisas que O enviaram à morte na cruz. Evite-as!

Há certas coisas que o Senhor Jesus Cristo detesta e abomina; assim é simples questão de lógica afirmar que, se nos apegarmos a essas coisas e as permitimos, realmente não temos direito de esperar nenhuma manifestação do Seu amor. Você pode ser cristão sem conhecer deste modo seu amor; porém, se você quiser ser a espécie de cristão que Paulo queria que estes efésios fossem, terá que desistir das coisas que Ele odeia, custe o que custar.

Cada um de nós sabe individualmente qual a coisa, ou as coisas que se interpõem entre nós e Ele. Façamo-las partir! Expulsemo-las. Mesmo que elas sejam legítimas em si mesmas, se você tem certeza que elas são um empecilho, elas tem que sumir. Veja o ensino do próprio Senhor nessa matéria em Mateus 5:29,30:

“Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti... E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti...”

O quarto princípio envolvido nesta questão requer concentração ou dedicação total. Vemo-la exposto no livro de Jeremias 29:13, diz assim:

Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração.” Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração.

A ênfase cai na frase, “de todo o vosso coração”. Também no livro de Salmos 86:1l lemos:

“... une o meu coração ao temor do teu nome.”

O salmista está cônscio da dificuldade, de modo que ora a Deus, pedindo-lhe que “uma o seu coração” para que ele O busque com todo o seu ser. Nada é mais importante nesta esfera do que ter o olhar posto numa só direção, concentrado, fechado para tudo mais que esteja fora do campo de visão. Este tem sido uma grande característica dos santos de Deus.

Isso nos leva ao último princípio, que, como todos os outros, também é sumamente vital. Pode ser descrito como “responsividade” às iniciativas de aproximação do Senhor. Significa “que contém resposta”, “que responde”. Contém a idéia de “corresponder à iniciativa alheia”. Muitas vezes ficamos tão ocupados lendo as Escrituras, orando, que achamos que nada está acontecendo. Entretanto, muita coisa pode estar acontecendo, e o problema é que somos “lerdos” e tão destituídos de responsividade, que não tomamos conta disso.

O Senhor pode vir muito silenciosamente e brandamente, a princípio. O Espírito Santo é comparado com uma pomba, a mais gentil de todas as aves. Essa é, também uma descrição do nosso bendito Senhor. Nem sempre Ele manifesta a plenitude do Seu amor. Pode acontecer que lhe dê somente leves indicações dele. O amor humano pode expressar-se com um olhar apenas. O olho que pode severamente, pode também olhar com ternura e amor. Um simples cintilar nos olhos pode dizer-nos tudo e trazer-nos alegria indizível. O nosso Senhor trata-nos dessa maneira. Ele é o nosso Amante celestial, e às vezes a manifestação do Seu amor é tênue; Ele nos dá apenas uma ligeira indicação dele. Por isso, devemos estar buscando estas coisas. Seu amor não vem de maneira estereotipada. São muitas maneiras pelas quais Ele manifesta o Seu amor. Esteja à espreita, atentos à mais leve manifestação dele! Jamais desprezem “o dia das pequenas coisas”.

No momento em que você sentir o mais leve movimento ou indicação do Seu amor, corresponda, aja, renda-se a Ele imediatamente. Seja o que for que Ele o chame para fazer, faça-o logo. E quando você agir assim, verá que ele virá mais frequentemente, e as manifestações serão mais patentes e mais claras.

Ao mesmo tempo, demos ouvidos à advertência concernente precisamente a esta questão que se acha no capítulo cinco de Cantares de Salomão, nos primeiros seis versículos:

“Já entrei no meu jardim, minha irmã, noiva minha; colhi a minha mirra com a especiaria, comi o meu favo com o mel, bebi o meu vinho com o leite.”

Aí temos a chegada do noivo, quando Ele bate a porta da noiva. Mas a resposta dela é:

Eu dormia, mas o meu coração velava; eis a voz do meu amado, que está batendo: Abre-me, minha irmã, querida minha, pomba minha, imaculada minha, porque a minha cabeça está cheia de orvalho, os meus cabelos, das gotas da noite. Já despi a minha túnica, hei de vesti-la outra vez? Já lavei os pés, tornarei a sujá-los?”

Seu amado está ali, implorando-lhe que abra a porta; porém ela está cansada e acha que não deve incomodar-se e deixar o leito e sujar de novo os pés para abrir a porta. Ela o deseja, naturalmente, mas não lhe é conveniente recebê-lo naquele momento. “Eu dormia, mas o meu coração velava”. Ela reconhece a voz, contudo não pode ser importunada para levantar-se naquele momento.

O cântico prossegue, descrevendo como ela o procurou. Saiu e procurou pelas ruas. Graças a Deus, Ele não a deixou para sempre. Estava simplesmente lhe ensinando esta grande, central e absolutamente importante lição de que, sempre que ele se aproxima, deve ser agarrado, deve ser seguro imediatamente, com pronta reação. Não a retarde! Agradeça-lhe toda indicação, por mais tênue que seja; corra para Ele, receba-o, seja-lhe responsivo. E quando formos responsivos a Ele e a cada aproximação dEle, Ele se chegará mais e mais a nós e nos aqueceremos ao refulgente calor da Sua face, regozijando-nos com os Seus braços e nos embriagando com seu glorioso e eterno amor.

Queira Deus encher-nos com o Seu Espírito e com sabedoria e entendimento, para que possamos estar despertos, alertas e sensíveis a cada aproximação dEle, e para que jamais venhamos a ser surpreendido por Ele devido termos recusado, ou não termos reconhecido, algumas de Suas ternas aproximações.

Não permita Deus que haja tanto barulho na casa das nossas almas que não O escutemos! Não permita Deus que haja tanto estrondo dos ruídos do mundo que não O ouçamos, e que O deixemos lá fora, batendo à porta. Sejamos sensíveis a Ele, estejamos preparados e prontos a ouvi-lO, anelantes, e esperando Por Ele. E quando procedermos assim, com toda a certeza Ele virá e se manifestará a nós.

“Eis que estou à porta e bato...”

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