AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 115
Taate – 23ª Estação (parte 6)
TEXTOS: Nm 33:26; Nm 18:20-24; Lv 8:1-24; Rm 12:1-2; 1 Pe 1:14; 2 Co 3:18; Gn 6:5; Ef 2:2; 1 Co 2:14; 2 Co 4:16; Jr 17:9
Quero dar continuidade ao estudo da 23ª estação – Taate, onde temos compartilhado sobre consagração.
Na última palavra, tendo como base Levítico, capítulo 8, estive falando sobre aquilo que o Senhor opera em nós mediante a obra da Cruz, mediante o Seu amor revelado na Cruz, pelo sangue. Ali nós pudemos ver algumas características tão importantes da obra salvadora, da obra expiatória de Cristo Jesus. Esta obra tem o propósito de nos levar à consagração a Deus, a consagrarmos a nossa própria vida a Ele – especialmente aqueles que têm o encargo da obra e do ministério. Precisamos entender o que significa o sacerdócio de todos os santos. Deus deseja que Seu povo seja consagrado a Ele, e nós precisamos entender o que é consagração.
Escrevendo aos romanos, em Romanos 12:1-2, Paulo diz assim:
“1 Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. 2 E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”
É necessário analisarmos esses dois versículos, e gostaria de fazer isso com muito zelo, temor e tremor diante de Deus. Estamos diante de textos profundos, preciosos, textos significativos dentro do contexto da nossa experiência cristã prática. Para você compreender o que Paulo está dizendo aqui é importante que você volte ao capítulo 1 e venha subindo, capítulo por capítulo, como se estivesse em uma grande escada ascensional. Mas não vamos fazer isso nesse momento, pois meu encargo agora é compartilhar especificamente sobre a consagração. Se o Senhor permitir, um dia nós poderemos estudar esses capítulos.
Primeiro, quero destacar a expressão “Rogo-vos”:
ü Essa palavra tem uma conotação forte em sua origem grega. Na língua grega ela traduz um forte clamor que mostra certa urgência.
ü É algo da máxima importância que ofereçamos a nossa vida a Deus como sacrifício vivo.
Ele diz ainda: “Rogo-vos (...) que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo”. Paulo diz que esse sacrifício deve ser “o culto racional”. Ora, o que quer dizer isso?
ü Significa aquilo que tem a consciência da sua aceitação.
ü Nós precisamos ter a consciência de que a nossa vida é um sacrifício vivo, nós temos que ter a consciência da aceitação desse sacrifício por Deus.
Agora, vamos aos aspectos práticos, aos detalhes desse culto racional. Então, o apóstolo vai nos dizer:
1) “não vos conformeis com este mundo”.
Observem a palavra “conformeis”. O termo grego para ela é “suschematizo”:
ü significa ter a mente e o caráter mundano, moldar-se de acordo com o mundo.
Devemos saber que, no sentido bíblico, o mundo é uma entidade espiritual. A exortação aqui é que não devemos seguir os padrões do mundo, e nem permitir que o mundo governe nossos valores, nem nossa conduta. Pedro nos diz assim em 1 Pedro 1:14:
“14 Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância”.
Nós não podemos ter a mente e o caráter mundano, nós não podemos permitir ser moldados em conformidade, de acordo com o mundo.
2) “mas transformai-vos”.
Esse termo ocorre apenas quatro vezes em todo o Novo Testamento. Primeiro em Mateus 17:2, depois em Marcos 9:2, aqui em Romanos 12:2 e, por último, em 2 Coríntios 3:18.
Em Mateus 17 nós temos a experiência do Senhor Jesus no monte da transfiguração. A Bíblia diz que Ele foi transfigurado diante dos discípulos. A palavra transfigurado é a palavra que Paulo usa aqui em Romanos 12:2. Isso é muito especial:
ü Quando Ele foi transfigurado, o Seu rosto resplandecia como sol e as Suas vestes tornaram-se brancas como a luz.
Essa palavra, “transfigurado”, significa:
ü alteração das feições, da forma; mudança no proceder, no pensar, no agir.
Este princípio corrige a libertinagem no meio de muitas comunidades cristãs, no meio do povo de Deus. Nós fazemos parte de um sacerdócio santo. Veja que 2 Coríntios 3:18, onde ocorre essa palavra pela última vez no Novo Testamento, diz assim:
“18 E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.”
Meus amados irmãos e irmãs, isso tem que nos impressionar. O que Paulo está dizendo aqui é que quando o véu da religiosidade, da cegueira espiritual é arrancado de nós pela revelação do Evangelho de Cristo, contemplamos, como por espelho... E o que é que nós vemos? Quando você olha para um espelho, é para contemplar a si próprio. Mas a Bíblia diz que quando nós olhamos para o espelho, refletimos a glória do Senhor Jesus e, então, somos transformados à imagem do Senhor Jesus. Nunca esqueça de que nós nos tornamos semelhantes àquilo que amamos – e aqui Paulo está falando justamente sobre isso. Paulo aqui não está falando de um processo de transformação, mas que nós temos que estar vivendo um processo de “conformação”.
A transformação foi aquilo que ocorreu lá atrás, quando você conheceu o Senhor. Ao passar pelo processo da vivificação, você nasceu de novo. E, nesse nascimento, você experimentou o quê? A transformação. Agora, o Senhor está operando uma obra muito grande em sua vida, que é a obra da conformação. Essa obra vai levar você ao último estágio da experiência cristã, que é a glorificação.
E Paulo diz assim: “E não vos conformeis com este século (mundo), mas transformai-vos (...)”. “Transformai-vos” como?
3) “mas transformai-vos pela renovação da vossa mente”.
Vamos, então, a outra característica do nosso culto racional. A primeira característica que nós vimos é não nos conformarmos com este mundo; a segunda característica é a transformação e a transfiguração. Á medida que não nos conformamos com este mundo, a vida interior do Senhor Jesus vai resplandecendo no nosso ser. À medida que você não se permite amoldar-se a este mundo, mais de Cristo Jesus vai se expandido na sua vida.
E agora temos a terceira característica do culto racional: “a renovação do entendimento”. A ênfase aqui é sobre algo que ocorre na nossa mente. A mente é um sistema organizado do ser humano e refere-se ao conjunto dos seus processos cognitivos, das suas atividades psicológicas. A mente é a parte corpórea inteligente e sensível do nosso ser. A mente é uma referência ao pensamento, ao entendimento, à memória, à lembrança. A mente é a faculdade que nos leva a entender algo, que nos dá a capacidade de criar, de conceber, de perceber; o intento de fazer planos, propósitos. Você tem de saber que a mente está falando do nosso intelecto, independente da nossa emoção e da nossa vontade.
Sabemos que quando o homem caiu, a sua mente, assim como a sua vontade, que são faculdades da alma, foram profundamente afetadas por causa do pecado. Em Gênesis 6:5 diz assim:
“5 Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração”.
Precisamos fazer uma análise desse texto. A palavra “homem”, aqui, no hebraico é “adam”, de onde vem a palavra “Adão”:
ü Espiritualmente falando, uma referência ao velho Adão, ao homem caído, ao homem do pecado.
Depois temos a palavra “mau”:
ü perverso, desagradável, triste, danoso, ofensivo; um caráter moralmente afetado pelo pecado.
Outro termo que você tem que notar nesse versículo 5 de Gênesis 6 é a palavra “desígnio”:
ü Essa palavra fala da estrutura intelectual do homem, todo o propósito do homem, toda a imaginação do homem;
ü A Bíblia diz que a causa da queda do homem foi o intelecto, ou seja, a busca pelo conhecimento.
Então, foi isso que o Senhor viu. O Senhor viu a perversidade, o estado danoso, ofensivo, desagradável em que o homem se encontrava em toda a sua estrutura intelectual ou mental. O seu pensamento, em tudo, foi afetado na Queda. Assim, temos uma descrição clara do que aconteceu na Queda. Toda a estrutura intelectual do homem foi corrompida por causa do pecado.
Lá em Gênesis 32:17 o Senhor havia dito a Adão para ele não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que Adão comesse dessa árvore, ele morreria. Nós sabemos que Adão viveu 930 anos. Obviamente, a morte predita ali pelo nosso Deus não era a morte física, e sim a morte espiritual. E o espírito de Adão morreu. O homem experimentou a morte, isto é, a sua função espiritual estava anulada nele.
A definição de morte é a suspensão de comunicação com o ambiente. Adão perdeu aquela comunhão íntima que tinha com Deus. E aqui nós podemos ver claramente duas coisas. Primeiro, a morte do espírito, que é a suspensão da comunhão do homem com Deus. Isso não quer dizer que o homem não tenha espírito, quer dizer que ele simplesmente perdeu a sensibilidade da vida de Deus no seu íntimo. O seu espírito está incapacitado de ter comunhão com Deus. Em seguida, podemos ver o efeito devastador da Queda, isto é, a mente do homem, que no princípio era governada pelo espírito do homem, agora passou a ser governada pela carne. Todo o pensamento do homem foi pervertido. Paulo diz em 1 Coríntios 2:14:
“14 Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.”
Paulo diz aqui o porquê de o homem natural não aceitar as coisas do Espírito de Deus. Essa palavra “aceitar” no grego é “dechomai”, que significa “receber”. O homem natural não recebe as coisas do espírito de Deus porque o espírito que governa a sua mente está em total desarmonia com Deus. Assim, ele não é capaz de entender as coisas do Espírito de Deus. Isso nos leva a ler um texto muito especial e que vai fechar esse assunto para nós. 2 Coríntios 4:16 diz assim:
“16 Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia.”
ü Esse homem interior é o homem interior de uma pessoa salva em Cristo Jesus. Este homem interior está vivificado, por isso Paulo diz que ele se renova de dia em dia.
Temos, assim, as características do culto racional. O primeiro aspecto do culto racional é não se conformar com o mundo. Quando você não se conforma com o mundo, então você experimenta algo muito especial: a transformação. O que é essa transformação, no aspecto íntimo da nossa experiência cristã? É a vida de Cristo que foi infundida em nós pelo Espírito Santo de Deus na salvação. Essa vida vai expandindo num processo de transfiguração, onde o Seu ser está se expandindo, nos levando à conformação com Ele, para que tenhamos a mente dEle, para que tenhamos a Sua vida, a liberdade de poder viver uma vida espiritual que nos transcende a Deus, que nos eleva a Deus, que faz com que ultrapassemos os limites da vida e entremos na dimensão do Espírito. Assim, vivermos uma vida elevada em Deus. Essa vida, Paulo diz, em Colossenses 3:3, que é Cristo Jesus, a nossa vida. Esta vida tem que se expandir, e isso somente através do processo de transfiguração, que é a segunda característica do nosso culto racional. Quando essa vida que é Cristo vai se expandindo dentro de nós, o que é que acontece? Ocorre a renovação do nosso entendimento. Aquele intelecto corrompido pelo pecado agora está sendo afetado pela vida do Espírito dentro de nós. Isto é a vida do Espírito no nosso espírito.
4) “para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.
O que o apóstolo diz em seguida? “Experimentamos a vontade de Deus”. Este é o quarto item. “Experimentamos a vontade de Deus”. É isso que diz Romanos 12:2. A depravação total significa que o homem, na totalidade do seu ser, por nascimento, é escravo do pecado e servo de satanás. Nesse sentido, ele está andando de acordo com o príncipe da potestade do ar, do espírito que atua nos filhos da desobediência, conforme Paulo escreveu em Efésios 2:2.
Meus irmãos e irmãs, nós não precisamos argumentar em favor dessa verdade. Ela é um fato comum na experiência dos homens. O homem é incapaz de atingir as suas próprias aspirações e concretizar seus próprios ideais. Ele não pode fazer as coisas que gostaria de fazer. Por quê? Porque existe uma incapacidade moral que o paralisa. Esta é uma prova de que ele não é um ser livre e que, ao contrário disso, é um escravo do pecado e de satanás. Lá em João 8:44, o Senhor Jesus disse: “Vós sois do diabo”. Quando estava confrontando aqueles fariseus, Ele disse:
“44 Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos.”
Então, o pecado é muito mais do que uma atitude, mais que uma série de atitudes. O pecado é a constituição do homem natural. Ele cega o entendimento, corrompe o coração e separa o homem de Deus. E a vontade do homem não escapou dos efeitos danosos do pecado, pois ela está sob o domínio do pecado e de satanás. Portanto, a vontade não é livre.
Em resumo, as afeições amam e a vontade escolhe, de acordo com o estado do coração. Sabemos que o coração é enganoso, é desesperadamente corrupto, mais do que todas as coisas, conforme escreveu Jeremias no capítulo 17 e versículo 9 do seu livro. Paulo, em Romanos 3:11, disse:
“não há quem entenda, não há quem busque a Deus.”
Meus irmãos, a vontade de Deus não é algo inerente a nossa natureza, a vontade de Deus é acrescida na nossa experiência de vida à medida que vivemos a vida cristã nesse culto diário a Deus, nessa entrega do nosso ser a Ele. Quando experimentamos a transformação da nossa mente, podemos conhecer a perfeita e agradável vontade de Deus e, assim, não vivemos um cristianismo de modo equivocado.
O cristão não deve fazer coisas sem saber por que faz. Se você não sabe por que vive a vida cristã, você está sofrendo de ignorância espiritual. Nós não temos o direito de ser ignorantes, não podemos permitir ser ignorantes quanto aos assuntos espirituais. A vida cristã é algo que age de dentro para fora, nunca de fora para dentro. A vida cristã é algo que se apossa de nós, é algo que nos cativa, que nos governa, que nos domina, que age lá dentro do nosso ser. A vida cristã é o despojar desse velho homem do pecado, do velho Adão corrompido, caído, o qual faz parte da nossa natureza humana. Nós nascemos com essa natureza. A Bíblia diz que temos que despojar desse velho homem. Esse despojar requer que nós venhamos nos revestir do Novo Homem, que é Cristo Jesus. Isso não é uma conformidade mecânica. O que se espera de nós é que ponhamos em prática uma mudança inteligente, coerente com a Palavra de Deus. É o espírito da nossa mente que precisa ser mudado. O cristão, repito, não deve fazer coisas sem saber por que faz, não deve fazê-las cegamente, só porque disseram que as faz. Ele precisa agir com discernimento, ouvindo a voz de Deus no seu interior. Isto é consagração.
Que DEUS, poderosamente, venha falar a você, de uma forma muito especial.