domingo, 31 de julho de 2011

ESTUDO DAS JORNADAS NO DESERTO - CAPÍTULO 115


AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 115

Taate – 23ª Estação (parte 6)

TEXTOS: Nm 33:26; Nm 18:20-24; Lv 8:1-24; Rm 12:1-2; 1 Pe 1:14; 2 Co 3:18; Gn 6:5; Ef 2:2; 1 Co 2:14; 2 Co 4:16; Jr 17:9

Quero dar continuidade ao estudo da 23ª estação – Taate, onde temos compartilhado sobre consagração.

Na última palavra, tendo como base Levítico, capítulo 8, estive falando sobre aquilo que o Senhor opera em nós mediante a obra da Cruz, mediante o Seu amor revelado na Cruz, pelo sangue. Ali nós pudemos ver algumas características tão importantes da obra salvadora, da obra expiatória de Cristo Jesus. Esta obra tem o propósito de nos levar à consagração a Deus, a consagrarmos a nossa própria vida a Ele – especialmente aqueles que têm o encargo da obra e do ministério. Precisamos entender o que significa o sacerdócio de todos os santos. Deus deseja que Seu povo seja consagrado a Ele, e nós precisamos entender o que é consagração.

Escrevendo aos romanos, em Romanos 12:1-2, Paulo diz assim:

1 Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. 2 E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”

É necessário analisarmos esses dois versículos, e gostaria de fazer isso com muito zelo, temor e tremor diante de Deus. Estamos diante de textos profundos, preciosos, textos significativos dentro do contexto da nossa experiência cristã prática. Para você compreender o que Paulo está dizendo aqui é importante que você volte ao capítulo 1 e venha subindo, capítulo por capítulo, como se estivesse em uma grande escada ascensional. Mas não vamos fazer isso nesse momento, pois meu encargo agora é compartilhar especificamente sobre a consagração. Se o Senhor permitir, um dia nós poderemos estudar esses capítulos.

Primeiro, quero destacar a expressão “Rogo-vos”:

ü Essa palavra tem uma conotação forte em sua origem grega. Na língua grega ela traduz um forte clamor que mostra certa urgência.

ü É algo da máxima importância que ofereçamos a nossa vida a Deus como sacrifício vivo.

Ele diz ainda: “Rogo-vos (...) que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo”. Paulo diz que esse sacrifício deve ser “o culto racional”. Ora, o que quer dizer isso?

ü Significa aquilo que tem a consciência da sua aceitação.

ü Nós precisamos ter a consciência de que a nossa vida é um sacrifício vivo, nós temos que ter a consciência da aceitação desse sacrifício por Deus.

Agora, vamos aos aspectos práticos, aos detalhes desse culto racional. Então, o apóstolo vai nos dizer:

1) “não vos conformeis com este mundo”.

Observem a palavra “conformeis”. O termo grego para ela é “suschematizo”:

ü significa ter a mente e o caráter mundano, moldar-se de acordo com o mundo.

Devemos saber que, no sentido bíblico, o mundo é uma entidade espiritual. A exortação aqui é que não devemos seguir os padrões do mundo, e nem permitir que o mundo governe nossos valores, nem nossa conduta. Pedro nos diz assim em 1 Pedro 1:14:

14 Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância”.

Nós não podemos ter a mente e o caráter mundano, nós não podemos permitir ser moldados em conformidade, de acordo com o mundo.

2) “mas transformai-vos.

Esse termo ocorre apenas quatro vezes em todo o Novo Testamento. Primeiro em Mateus 17:2, depois em Marcos 9:2, aqui em Romanos 12:2 e, por último, em 2 Coríntios 3:18.

Em Mateus 17 nós temos a experiência do Senhor Jesus no monte da transfiguração. A Bíblia diz que Ele foi transfigurado diante dos discípulos. A palavra transfigurado é a palavra que Paulo usa aqui em Romanos 12:2. Isso é muito especial:

ü Quando Ele foi transfigurado, o Seu rosto resplandecia como sol e as Suas vestes tornaram-se brancas como a luz.

Essa palavra, “transfigurado”, significa:

ü alteração das feições, da forma; mudança no proceder, no pensar, no agir.

Este princípio corrige a libertinagem no meio de muitas comunidades cristãs, no meio do povo de Deus. Nós fazemos parte de um sacerdócio santo. Veja que 2 Coríntios 3:18, onde ocorre essa palavra pela última vez no Novo Testamento, diz assim:

18 E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.”

Meus amados irmãos e irmãs, isso tem que nos impressionar. O que Paulo está dizendo aqui é que quando o véu da religiosidade, da cegueira espiritual é arrancado de nós pela revelação do Evangelho de Cristo, contemplamos, como por espelho... E o que é que nós vemos? Quando você olha para um espelho, é para contemplar a si próprio. Mas a Bíblia diz que quando nós olhamos para o espelho, refletimos a glória do Senhor Jesus e, então, somos transformados à imagem do Senhor Jesus. Nunca esqueça de que nós nos tornamos semelhantes àquilo que amamos – e aqui Paulo está falando justamente sobre isso. Paulo aqui não está falando de um processo de transformação, mas que nós temos que estar vivendo um processo de “conformação”.

A transformação foi aquilo que ocorreu lá atrás, quando você conheceu o Senhor. Ao passar pelo processo da vivificação, você nasceu de novo. E, nesse nascimento, você experimentou o quê? A transformação. Agora, o Senhor está operando uma obra muito grande em sua vida, que é a obra da conformação. Essa obra vai levar você ao último estágio da experiência cristã, que é a glorificação.

E Paulo diz assim: E não vos conformeis com este século (mundo), mas transformai-vos (...)”. “Transformai-vos” como?

3) “mas transformai-vos pela renovação da vossa mente”.

Vamos, então, a outra característica do nosso culto racional. A primeira característica que nós vimos é não nos conformarmos com este mundo; a segunda característica é a transformação e a transfiguração. Á medida que não nos conformamos com este mundo, a vida interior do Senhor Jesus vai resplandecendo no nosso ser. À medida que você não se permite amoldar-se a este mundo, mais de Cristo Jesus vai se expandido na sua vida.

E agora temos a terceira característica do culto racional: “a renovação do entendimento”. A ênfase aqui é sobre algo que ocorre na nossa mente. A mente é um sistema organizado do ser humano e refere-se ao conjunto dos seus processos cognitivos, das suas atividades psicológicas. A mente é a parte corpórea inteligente e sensível do nosso ser. A mente é uma referência ao pensamento, ao entendimento, à memória, à lembrança. A mente é a faculdade que nos leva a entender algo, que nos dá a capacidade de criar, de conceber, de perceber; o intento de fazer planos, propósitos. Você tem de saber que a mente está falando do nosso intelecto, independente da nossa emoção e da nossa vontade.

Sabemos que quando o homem caiu, a sua mente, assim como a sua vontade, que são faculdades da alma, foram profundamente afetadas por causa do pecado. Em Gênesis 6:5 diz assim:

5 Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração”.

Precisamos fazer uma análise desse texto. A palavra “homem”, aqui, no hebraico é “adam”, de onde vem a palavra “Adão”:

ü Espiritualmente falando, uma referência ao velho Adão, ao homem caído, ao homem do pecado.

Depois temos a palavra “mau”:

ü perverso, desagradável, triste, danoso, ofensivo; um caráter moralmente afetado pelo pecado.

Outro termo que você tem que notar nesse versículo 5 de Gênesis 6 é a palavra “desígnio”:

ü Essa palavra fala da estrutura intelectual do homem, todo o propósito do homem, toda a imaginação do homem;

ü A Bíblia diz que a causa da queda do homem foi o intelecto, ou seja, a busca pelo conhecimento.

Então, foi isso que o Senhor viu. O Senhor viu a perversidade, o estado danoso, ofensivo, desagradável em que o homem se encontrava em toda a sua estrutura intelectual ou mental. O seu pensamento, em tudo, foi afetado na Queda. Assim, temos uma descrição clara do que aconteceu na Queda. Toda a estrutura intelectual do homem foi corrompida por causa do pecado.

Lá em Gênesis 32:17 o Senhor havia dito a Adão para ele não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que Adão comesse dessa árvore, ele morreria. Nós sabemos que Adão viveu 930 anos. Obviamente, a morte predita ali pelo nosso Deus não era a morte física, e sim a morte espiritual. E o espírito de Adão morreu. O homem experimentou a morte, isto é, a sua função espiritual estava anulada nele.

A definição de morte é a suspensão de comunicação com o ambiente. Adão perdeu aquela comunhão íntima que tinha com Deus. E aqui nós podemos ver claramente duas coisas. Primeiro, a morte do espírito, que é a suspensão da comunhão do homem com Deus. Isso não quer dizer que o homem não tenha espírito, quer dizer que ele simplesmente perdeu a sensibilidade da vida de Deus no seu íntimo. O seu espírito está incapacitado de ter comunhão com Deus. Em seguida, podemos ver o efeito devastador da Queda, isto é, a mente do homem, que no princípio era governada pelo espírito do homem, agora passou a ser governada pela carne. Todo o pensamento do homem foi pervertido. Paulo diz em 1 Coríntios 2:14:

14 Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.”

Paulo diz aqui o porquê de o homem natural não aceitar as coisas do Espírito de Deus. Essa palavra “aceitar” no grego é dechomai, que significa “receber”. O homem natural não recebe as coisas do espírito de Deus porque o espírito que governa a sua mente está em total desarmonia com Deus. Assim, ele não é capaz de entender as coisas do Espírito de Deus. Isso nos leva a ler um texto muito especial e que vai fechar esse assunto para nós. 2 Coríntios 4:16 diz assim:

16 Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia.”

ü Esse homem interior é o homem interior de uma pessoa salva em Cristo Jesus. Este homem interior está vivificado, por isso Paulo diz que ele se renova de dia em dia.

Temos, assim, as características do culto racional. O primeiro aspecto do culto racional é não se conformar com o mundo. Quando você não se conforma com o mundo, então você experimenta algo muito especial: a transformação. O que é essa transformação, no aspecto íntimo da nossa experiência cristã? É a vida de Cristo que foi infundida em nós pelo Espírito Santo de Deus na salvação. Essa vida vai expandindo num processo de transfiguração, onde o Seu ser está se expandindo, nos levando à conformação com Ele, para que tenhamos a mente dEle, para que tenhamos a Sua vida, a liberdade de poder viver uma vida espiritual que nos transcende a Deus, que nos eleva a Deus, que faz com que ultrapassemos os limites da vida e entremos na dimensão do Espírito. Assim, vivermos uma vida elevada em Deus. Essa vida, Paulo diz, em Colossenses 3:3, que é Cristo Jesus, a nossa vida. Esta vida tem que se expandir, e isso somente através do processo de transfiguração, que é a segunda característica do nosso culto racional. Quando essa vida que é Cristo vai se expandindo dentro de nós, o que é que acontece? Ocorre a renovação do nosso entendimento. Aquele intelecto corrompido pelo pecado agora está sendo afetado pela vida do Espírito dentro de nós. Isto é a vida do Espírito no nosso espírito.

4) “para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.

O que o apóstolo diz em seguida? “Experimentamos a vontade de Deus”. Este é o quarto item. “Experimentamos a vontade de Deus”. É isso que diz Romanos 12:2. A depravação total significa que o homem, na totalidade do seu ser, por nascimento, é escravo do pecado e servo de satanás. Nesse sentido, ele está andando de acordo com o príncipe da potestade do ar, do espírito que atua nos filhos da desobediência, conforme Paulo escreveu em Efésios 2:2.

Meus irmãos e irmãs, nós não precisamos argumentar em favor dessa verdade. Ela é um fato comum na experiência dos homens. O homem é incapaz de atingir as suas próprias aspirações e concretizar seus próprios ideais. Ele não pode fazer as coisas que gostaria de fazer. Por quê? Porque existe uma incapacidade moral que o paralisa. Esta é uma prova de que ele não é um ser livre e que, ao contrário disso, é um escravo do pecado e de satanás. Lá em João 8:44, o Senhor Jesus disse: “Vós sois do diabo”. Quando estava confrontando aqueles fariseus, Ele disse:

44 Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos.”

Então, o pecado é muito mais do que uma atitude, mais que uma série de atitudes. O pecado é a constituição do homem natural. Ele cega o entendimento, corrompe o coração e separa o homem de Deus. E a vontade do homem não escapou dos efeitos danosos do pecado, pois ela está sob o domínio do pecado e de satanás. Portanto, a vontade não é livre.

Em resumo, as afeições amam e a vontade escolhe, de acordo com o estado do coração. Sabemos que o coração é enganoso, é desesperadamente corrupto, mais do que todas as coisas, conforme escreveu Jeremias no capítulo 17 e versículo 9 do seu livro. Paulo, em Romanos 3:11, disse:

“não há quem entenda, não há quem busque a Deus.”

Meus irmãos, a vontade de Deus não é algo inerente a nossa natureza, a vontade de Deus é acrescida na nossa experiência de vida à medida que vivemos a vida cristã nesse culto diário a Deus, nessa entrega do nosso ser a Ele. Quando experimentamos a transformação da nossa mente, podemos conhecer a perfeita e agradável vontade de Deus e, assim, não vivemos um cristianismo de modo equivocado.

O cristão não deve fazer coisas sem saber por que faz. Se você não sabe por que vive a vida cristã, você está sofrendo de ignorância espiritual. Nós não temos o direito de ser ignorantes, não podemos permitir ser ignorantes quanto aos assuntos espirituais. A vida cristã é algo que age de dentro para fora, nunca de fora para dentro. A vida cristã é algo que se apossa de nós, é algo que nos cativa, que nos governa, que nos domina, que age lá dentro do nosso ser. A vida cristã é o despojar desse velho homem do pecado, do velho Adão corrompido, caído, o qual faz parte da nossa natureza humana. Nós nascemos com essa natureza. A Bíblia diz que temos que despojar desse velho homem. Esse despojar requer que nós venhamos nos revestir do Novo Homem, que é Cristo Jesus. Isso não é uma conformidade mecânica. O que se espera de nós é que ponhamos em prática uma mudança inteligente, coerente com a Palavra de Deus. É o espírito da nossa mente que precisa ser mudado. O cristão, repito, não deve fazer coisas sem saber por que faz, não deve fazê-las cegamente, só porque disseram que as faz. Ele precisa agir com discernimento, ouvindo a voz de Deus no seu interior. Isto é consagração.

Que DEUS, poderosamente, venha falar a você, de uma forma muito especial.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

ESTUDO DA EPÍSTOLA DE PAULO AOS EFÉSIOS

CAPÍTULO 22

A Experiência da Plenitude

“... e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus.” (Ef 3:19)

Ao darmos continuidade a este grande assunto, gostaria de insistir em que nos lembrássemos de que estamos tratando de algo essencialmente prático. O apóstolo que escreveu estas palavras era um mestre e um pastor. Ele não escreveu com a finalidade de incentivá-los a discutirem doutrina; escreveu sua epístola com o fim de ajudá-los em sua vida e em seu viver diário. Algo essencialmente prático, uma realidade concreta, está aqui diante de nós. Esta oração do apóstolo em favor dos efésios é a questão mais urgentemente prática para a consideração da Igreja Cristã na hora presente.

Receio que é próprio acrescentar que a Igreja não percebe isso, pois, temos a idéia que ser prático é entregar-se à atividades. Não é esse o ensino do Novo Testamento. Se realmente desejamos fazer algo para Deus, então, de acordo com o ensino do Novo Testamento, não devemos começar de imediato; primeiro devemos certificar-nos que somos cheios da plenitude de Deus, e do poder que, disso resulta. Um exemplo disso é o próprio apóstolo Paulo, não começou a agir a partir do momento em que foi convertido. Antes de começar seu ministério passou três anos na Arábia. Todavia, quando se retirou da Arábia, veio cheio da plenitude de Deus e de poder. Ele não subscreveu o moderno lema: “dê ao recém-convertido algo para fazer”.

A mesma coisa tem-se repetido muitas vezes na história doutros servos de Deus através dos séculos. Em certo sentido, nunca houve homem mais ocupado que João Wesley antes de 1738; quando da sua experiência singular na Rua Aldersgate, Londres, quando seu coração “aqueceu-se estranhamente” todo o seu ministério mudou. Percebia que lhe faltava poder, e especialmente que lhe faltava o conhecimento de Cristo que certos irmãos morávios tinham. Foi só depois que lhe foi dada a certeza de que os seus pecados foram perdoados, que Deus o usou de maneira extraordinária.

O homem verdadeiramente prático não é o que está sempre alvoroçado, mas sim, é o que está sendo usado por Deus o Espírito Santo. Ah, se a Igreja fosse levada a compreender isso! Este é o avivamento de que a Igreja necessita. Somente quando ela for avivada pelo Espírito é que se tornará poderosa. A Igreja precisa da plenitude de Deus – a única maneira pela qual ela poderá ser levada à verdadeira atividade prática.

Recentemente dei com uma declaração que me pareceu atingir em cheio a verdade de muitos cristãos dos dias atuais. O escritor escreveu: “A religião parece fazer parte do quintal da vida, não examinado e quase não utilizado”. Ele se referia aos que estão na Igreja. Sua religião parece estar nos fundos, e não na frente das suas vidas, no centro. Não é isso que o apóstolo pede em oração para os efésios? A fé cristã não é um fundo de reserva a que você possa recorrer. Não é algo que se possa descrever como “não examinado e quase não utilizado”.

Sabemos o que é ser “fortalecidos com poder” pelo Seu Espírito no homem interior? Estaria Cristo habitando “... pela fé em nossos corações”? Sabemos nós, com todos os santos o “comprimento e a largura, a altura e a profundidade” deste amor de Cristo que ultrapassa o conhecimento, para que sejamos “cheios de toda a plenitude de Deus”? É central em nosso pensamento? Onde o cristianismo entra em nossas vidas? É algo que só lembramos domingo de manhã, e que nos esquecemos durante toda a semana? É algo de que você só se lembra de vez em quando? Ou é o centro, “a razão de ser” da nossa vida, existência e atividade? Paulo ora para que seja isso; para que, de fato, conheçamos toda a plenitude de Deus.

No entanto, que é que isso significa na prática? Que significa experimentalmente? Já examinamos o assunto doutrinariamente; agora vamos examiná-lo experimentalmente e de um ponto de vista prático. Que será próprio de um homem cheio de toda a plenitude? Significa que Deus domina o nosso pensar, as nossas emoções e as nossas ações externas. Deve-se pensar no homem em termos da sua mente, do seu coração e da sua vontade. Se somos cheios de toda a plenitude, significa que Deus está no controle.

Tudo isso significa, primeiro e acima de tudo, que o nosso pensamento é dominado por Deus e pela mente de Deus. Tomem, por exemplo, a declaração de Paulo aos Romanos 12:2:

“E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”

Notem a menção que Paulo faz da “renovação da mente”. As nossas mentes nunca são livres. Não existe isso de “livre pensamento”. Alguns afirmam que a mente do homem é livre, porém isso não passa de uma ilusão do homem em pecado. Por natureza, e como resultado do pecado, a mente é sempre dominada pelo mundo e pela perspectiva do mundo. A diferença entre o cristão e o incrédulo é que, a mente do incrédulo é dominada pelo mundo, a do cristão foi “transformada” e “renovada” pelo Espírito Santo. O resultado é que agora o cristão pode pensar de maneira espiritual, ao passo que anteriormente não podia. Vê-se uma exposição clara desta verdade em 1 Coríntios 2:16:

“Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo.”

O apóstolo quer dizer que, se formos cheios de toda a plenitude de Deus, e se Cristo habitar pela fé em nossos corações, então teremos “a mente de Cristo”. Isto é inevitável! O homem que é cheio de toda a plenitude de Deus é que pode “pensar espiritualmente”. Acaso está claro para nós a diferença entre pensar naturalmente e pensar espiritualmente? O cristão não tem somente uma nova perspectiva, tem também o novo modo de pensar, um novo tipo de pensamento. Segue-se disso uma boa prova essa porção da Escritura que estamos considerando, sentimo-la estranha, ou ela nos fala? O apóstolo pensava de modo espiritual, e ele não escreve segundo as palavras do pensamento do homem, mas de acordo com o Espírito. Naturalmente, se não tivermos a mente renovada, transformada, estas coisas serão loucura para nós. Entretanto, para o homem em que “Cristo habita”, que tem em si esta “plenitude de Deus”, cuja mente agora está sendo dominada e governada por Deus, estas coisas são “tudo” e são o seu “maior deleite”.

É por isso que o homem cujo intelecto foi revestido da graça de Deus pode pensar espiritualmente e compreender as Escrituras. O novo homem em Cristo tem um sentido espiritual, uma percepção espiritual, que o capacita a seguir e a compreender a verdade espiritual a qual não significa nada para o homem natural.

O segundo elemento posto sob domínio é a parte emocional do nosso ser, onde sedia a emoção. O homem em quem habita toda a plenitude de Deus é dominado pelo amor de Deus. Noutras palavras, quando Deus domina os nossos corações, deixamos de ser governados pelo ego. Quando o amor de Deus entra, o ego sai. Vemos isso no apóstolo Paulo em 1 Coríntios 4:3, nos diz assim:

“Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós ou por tribunal humano; nem eu tampouco julgo a mim mesmo.”

Que transformação! Houve tempo em que ele era sensível ao julgamento e á crítica. Ele julgava os outros, mas detestava ser julgado. Mas tudo mudara. Por quê? Porque fora cheio do amor de Deus! O antigo amor do ego tinha desaparecido. Ele foi dominado por Deus.

Da mesma maneira, a vontade é dominada por Deus, bem como todas as nossas ações e atividades. O nosso senhor diz de si em João 6:38:

“Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou.”

O Filho de Deus não Se agarrou ás Suas prerrogativas; humilhou-Se, fez-Se um servo, pôs de lado a Sua vontade, e tudo quanto dizia e fazia era determinada pela vontade do Pai.

Isto caracterizava também o apóstolo Paulo. Veja o que nos diz em Atos 20:22-24, quando se despedia dos presbíteros da igreja de Éfeso:

“E, agora, constrangido em meu espírito, vou para Jerusalém, não sabendo o que ali me acontecerá, senão que o Espírito Santo, de cidade em cidade, me assegura que me esperam cadeias e tribulações. Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus.”

Sua vontade perdera-se inteiramente na vontade do se Senhor. Mais adiante em Atos 21:13, vemos uma repetição do que dissera em Éfeso:

“Que fazeis chorando e quebrantando-me o coração? Pois estou pronto não só para ser preso, mas até para morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus.”

Ele não tinha vontade própria; sua vontade se absorvera na do seu Senhor; ele a entregara, e na dEle ela desaparecera. Ele era inteiramente governado pela mente, pelo coração e pela vontade do Senhor Jesus Cristo que habitava pela fé em seu coração.

Tudo isso é o primeiro resultado de sermos “cheios de toda a plenitude de Deus”. Quando a plenitude de Deus habita em nós. A mente, o coração e a vontade são subjugadas e governadas pelo Senhor Jesus Cristo.

No momento em que nascemos de novo, que somos regenerados, em que este novo princípio é posto em nós, no momento em que nos tornamos participantes da natureza divina, novos instintos, desejos, alvos, objetivos vêm à existência. Estes começam a agitar-se dentro de nós! No momento em que temos esta vida em nós, começamos a ter um desejo que nunca tínhamos conhecido antes de conhecermos a Deus. Não digo conhecer “acerca de Deus”, mas “conhecê-lO”. Este era o conhecimento que o salmista nos revela (Sl 42:1-2):

“Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus?”

Conhecemos este desejo? Este desejo está sendo satisfeito? Não conhecer algo acerca dEle abstratamente, teoricamente, de modo que se pode falar e discutir sobre Ele, porém uma intimidade, algo direto, um verdadeiro conhecimento de Deus!

Nalgum grau, este desejo deve estar em todo Filho de Deus. Ele continua tendo interesse por outras formas de conhecimento; no entanto, são todas “secundárias”, em relação a este desejo de conhecer o Senhor. Deveria ser este o assunto da nossa meditação diária.

Outro desejo instintivo é o anseio por ter capacidade para servir ao Senhor e glorificar o Seu nome. Mais poderosamente ainda, Paulo conta como era governado por isso em Colossenses 1:28,29:

“o qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo; para isso é que eu também me afadigo, esforçando-me o mais possível, segundo a sua eficácia que opera eficientemente em mim.”

O apóstolo sabia o que era ser movido pelo emocionante poder de Deus mediante o Espírito Santo. Permita-me dizer que não há nada debaixo do céu que seja mais bem-aventurado do que conhecer algo do poder do Espírito Santo. Lamento por aqueles que nunca o experimentaram quando pregavam e procuravam expor as escrituras. Há uma diferença quase inexprimível entre pregar com o próprio poder, pregar com o poder do Espírito. Quando somos cheios de toda a plenitude de Deus, todos os nossos instintos e alvos espirituais são satisfeitos. O hino de Johann Caspar diz assim:

“Ó Senhor Jesus Cristo, cresce tu em mim e as outras coisas se retirarão

Expressa o anseio por ser liberto, por ser posto em liberdade do ego e do pecado, da vergonha, do fracasso e da fraqueza, e ser “cheio de toda a plenitude de Deus. Todos estes novos instintos são satisfeitos quando somos cheios dessa plenitude.

Finalmente, quando um homem é “cheio de toda a plenitude de Deus”, vai-se toda a sensação de carência, de vazio, de insuficiência. Lembra o que o nosso Senhor disse à mulher samaritana em João 4:13,14:

“Quem beber desta água tornará a ter sede; aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna

Nunca terá sede”! Como poderão ter sede, se estão “cheios de toda a plenitude de Deus. Mas o nosso Senhor não se contentou em dizer isso uma só vez. Ele repete em João 6:35:

“Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede.”

Você está com fome? Está com sede? É infeliz? Não está bem? Se você se sente assim significa que você não se mantém na busca do Senhor Jesus. “Aquele que vem a mim” significa “aquele que persevera em vir a mim”. Como é que pode ter fome ou sede, se a própria vida, a vida de verdade, a vida mais abundante, está dentro de você?

Paulo disse na prisão “bastante tenho recebido, e tenho em abundância”. “Cheio estou! Naturalmente que está! Ele está cheio de toda a plenitude de Deus.

Isto é pessoal, é Deus, Cristo habitando em nós. Portanto, concentre-se na Pessoa. Dirija-se à Pessoa do Senhor. Fale com Ele. Espere nEle, passe tempo com Ele. Ele lhe dará da Sua plenitude. Isso é cristianismo.


Por: D.M Lloyd Jones

terça-feira, 26 de julho de 2011

AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 114


Taate – 23ª Estação (parte 5)

TEXTOS: Nm 33:26; Nm 18:20-24; Lv 8:1-24; 1 Co 5:14-15; 1 Co 6:19-20; Ef 2:1-6

Dando continuidade ao estudo desta 23ª estação, Taate, encontramos em Números 33:26 que, após o povo de Israel partir de Maquelote, eles acamparam em Taate. Além disso, Números 18:20-24, textos referentes a essa estação, revelam para nós aspectos muito práticos acerca do ministério, do encargo da obra de Deus. E, agora, o Senhor tem colocado em meu coração de compartilhar acerca da consagração.

Sabemos que Deus havia consagrado, separado a tribo de Levi para o sacerdócio. Essa era uma tribo que tinha um encargo muito especial dentre todas as demais tribos do povo de Israel. Em Números 18:20-24 podemos ver alguns pontos muito importantes que espero, pela graça do Senhor, poder compartilhar com você. Precisamos examinar com atenção essa questão da consagração, pois se trata de um assunto muito sério.

1) Fundamentos da consagração:

a) O amor de Deus

Quando lemos o Novo Testamento, descobrimos que os filhos de Deus são constrangidos pelo amor de Deus a viverem para Ele, isto é, por causa da obra da cruz, por causa da morte do Senhor Jesus. O amor do Senhor Jesus nos constrange a viver para Ele, porque Ele morreu por nós. Quando Paulo diz isso em 1 Coríntios 5:14, ele usa a palavra “constrange”:

14 Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. 15 E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.”

Essa palavra, “constrange”, significa:

ü ser envolvido, ser envolvido de tal forma que você se sente apertado pela pessoa;

ü é como se você se sentisse tão atraído, que não tivesse outra alternativa, a não ser aquela pessoa.

E quando um cristão salvo mediante a obra de Cristo Jesus lá na Cruz do Calvário é movido por este amor, ele experimenta uma grande sensação na sua vida. Essa sensação é o amor de Cristo que aprisiona, que captura essa pessoa. E este amor é a base da consagração. Ninguém pode consagrar-se a Deus, a não ser que sinta o amor de Cristo Jesus, o amor de Deus em Sua vida. Nós precisamos ver esse amor. Antes que alguém possa realmente consagrar a sua vida a Cristo Jesus, ela precisa tocar, em sua própria vida, em sua própria experiência, a realidade deste amor. É inútil falar de consagração, quando não temos uma visão do que representa, do que significa realmente o amor de Cristo Jesus por nós. Depois que você vê esse amor, a consagração é algo inevitável, uma consequência inevitável.

b) A prerrogativa divina

Sabemos que a consagração não se fundamenta apenas no amor, mas também na prerrogativa divina, porque Deus é quem escolhe. E Ele, de uma forma soberana, em Sua sábia vontade, escolheu, decidiu quem seriam aqueles que exerceriam este encargo para a glória do Seu nome. Portanto, o amor, assim também como as prerrogativas divinas, são manifestações que se processam na vida de uma pessoa que o Senhor chama para a obra do ministério.

Em 1 Coríntios 6:19-20 Paulo diz assim:

19 Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? 20 Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo.

Então, tudo isso está envolvido. Nós não podemos viver outra realidade, a não ser essa.

2) Uma clara figura do caminho da consagração:

a) Expiação

Quando você estuda a palavra de Deus, pode ter uma visão muito especial sobre isso – como, por exemplo, o capítulo 8 de Levítico. Estudando o capítulo 8 de Levítico, você vê ali quatro coisas que são oferecidas como objeto de consagração: o novilho da oferta pelo pecado, dois carneiros, um da oferta queimada e outro da consagração, e uma cesta de pães asmos para uma oferta movida. Temos aqui uma clara figura do caminho da consagração.

O primeiro aspecto que uma pessoa que está para ser consagrada pra o serviço do ministério, para a obra integral, precisa conhecer é a expiação. Encorajo você a ler Levítico capítulo 8, pois este capítulo trata desse assunto da expiação, um assunto sério. Portanto, na expiação, o animal, o novilho, tinha que ser oferecido para Deus. A pessoa que está para ser consagrada de uma forma integral ao serviço da obra de Deus precisa conhecer essa doutrina na experiência de sua vida. Ela tem que compreender que pertence ao Senhor, porque este é um fundamento sério, uma obra tremenda. Temos aqui a requisição de um sacrifício, um novilho, para realizar a obra da expiação. Expiação é uma necessidade que emerge de dentro do próprio Deus. Temos que entender que o pecado afetou a posição do homem diante de Deus. Paulo diz aos irmãos em Efésios 2:1-3:

1 Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, 2 nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; 3 entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais.”

Éramos, então, por natureza, filhos da ira. Todos nós, portanto, por natureza, estamos sob a ira de Deus.

A necessidade de satisfação para Deus, portanto, não se encontra em nada fora dEle, mas dentro dEle, em Seu próprio caráter imutável. A lei à qual Deus deve se conformar, à qual Ele deve satisfazer, é a lei do Seu próprio Ser. O irmão A. W. Pink, em sua exposição sobre a justificação, disse: “A expiação de Cristo foi contrária aos nossos processos legais, porque esta se eleva por cima de suas limitações finitas”.

Creio que ao contemplar toda essa realidade, ao meditar sobre essas palavras do irmão A. W. Pink, você tem que compreender o que significa verdadeiramente a expiação. Por um lado, ela revela a profundidade do nosso pecado e, por outro, a elevada expressão do amor, da graça e da misericórdia de Deus. A expiação significa:

ü sofrer as consequências de;

ü expiar significa tirar a culpa, cobrir o pecado.

Essa é uma ideia que temos especialmente na língua hebraica, nos escritos do Antigo Testamento. Quando você estuda o Antigo Testamento, você vê ali uma classe de contrições que consistiam em sacrifícios expiatórios, cuja finalidade era a de reparar os pecadores, reparar a questão dos pecados na vida dos pecadores. No aspecto jurídico, a expiação é o cumprimento da pena imposta à pessoa a quem se imputou a prática de um crime. Oh, meus amados irmãos e irmãs! Temos que entender, que compreender que há uma cruz em Deus antes daquela cruz que vemos nos Evangelhos, daquela cruz de madeira, daquela cruz do Calvário. Temos que saber que existe uma cruz dentro de Deus. E a expiação é uma mudança operada em nós, uma mudança na qual somos reconciliados com Deus.

O Senhor Jesus suportou sobre Si todo o peso do furor da ira de Deus contra o nosso pecado, porque ali na cruz Ele foi, por amor, o nosso substituto e, assim, ganhou para nós o perdão, a adoção e a glória eterna. Creio que tudo isso tem que tocar-nos profundamente.

b) A oferta pelo pecado e a oferta queimada

Quando você examina Levítico 8, você vê tudo isso. Primeiro, o novilho para a expiação; depois, os dois carneiros, um como oferta queimada para ser oferecido e outro como oferta de consagração para capacitar Arão a servir a Deus.

Uma oferta queimada tem que ser inteiramente consumida pelo fogo. Os sacerdotes não têm permissão para comer da sua carne, pois cada parte dela deve ser queimada diante de Deus. Portanto, este é um passo mais avançado do que a oferta pelo pecado. A oferta pelo pecado resolve meramente o problema dos nossos pecados, mas, a oferta queimada, nos faz aceitáveis diante de Deus. Você e eu temos que olhar à luz do Novo Testamento que o Senhor Jesus suportou os nossos pecados naquela cruz. Esta é a obra expiatória do nosso Senhor em nosso favor. Na Sua morte Ele rasgou o véu do Templo, rasgou de alto a baixo, para que Ele pudesse nos levar aos mais santos lugares da presença de Deus. Por isso Paulo diz em Efésios 2:6 que nós estamos assentados com Cristo nos lugares celestiais. É isso que Ele fez, para que pudéssemos ser levados diante de Deus nos mais altos céus. Esta é a oferta queimada.

Ambas as ofertas começaram no mesmo lugar, ambas se iniciaram com os pecadores. A oferta pelo pecado expia apenas os nossos pecados, mas, a oferta queimada, leva os pecadores diante de Deus para que sejam aceitos. Portanto, a oferta queimada nos torna aceitáveis no Filho Amado de Deus. Ela vai além da oferta pelo pecado, pois fala do perfume do Senhor Jesus na presença de Deus e, portanto, da Sua aceitação pelo Pai. Hoje, meus amados irmãos, oferecendo uma oferta queimada, também somos aceitos.

Assim, temos:

ü negativamente, o perdão dos pecados através da oferta pelo pecado; e,

ü positivamente, a nossa aceitação, pelo Senhor Jesus, diante de Deus, através da oferta queimada.

3) Um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus:

Você pode ver a singularidade do significado desses quatro itens que encontramos aqui em Levítico 8? Você tem que ver que depois de matar o primeiro carneiro, o segundo carneiro, consequentemente, era morto. O sangue do segundo carneiro era aplicado sobre a ponta da orelha direita de Arão e de seus filhos, sobre o polegar da mão direita deles e sobre o dedo maior do pé direito (Lv 8:22-24). Isso era chamado de oferta de consagração, não sendo totalmente queimada, como era a oferta do carneiro queimado. O sangue deste carneiro era, primeiramente, aplicado na ponta da orelha direita, no polegar da mão direita e no dedo maior do pé direito da pessoa consagrada. Espiritualmente falando, isso significa que, de acordo com a aceitação que Cristo tem diante de Deus, você e eu, nós, permanecemos na posição de servos que atendem à voz de Deus, fazem a Sua vontade e andam em Seus caminhos. Daqui por diante, nossos ouvidos, nossas mãos e nossos pés pertencem exclusivamente a Deus. Aquilo que tocamos, os caminhos que andamos e aquilo que ouvimos têm que estar intimamente ligados ao serviço a Deus. Por isso que a consagração requer de nós uma posição integral diante de Deus. Tendo sido aceitos por Deus, em Cristo, precisamos nos consagrar inteiramente a Deus.

Onde está a marca do sangue, ali está a base da prerrogativa divina; onde se encontra o sinal de sangue, ali está o chamado no amor. Porque o sangue testifica tanto que sou comprado pelo Senhor, quanto o testemunho de que Ele me amou e derramou o Seu sangue por mim. O sangue, aqui, é o preço que Cristo pagou pela nossa redenção, e, também, o amor do qual fala o Novo Testamento.

O carneiro foi morto. Portanto, eu ofereço todo o meu ser. Assim, eu me torno um sacrifício vivo, pois o sangue está sobre mim. Este é um fato que Deus considera. Meus irmãos em Cristo, Deus considera que a Sua vida está marcada pelo sangue que foi derramado lá na cruz do Calvário. Esse sangue é o preço que foi pago lá na cruz por você. Embora você e eu estejamos vivos, contudo, nós fomos inteiramente consagrados, separados para Deus. Isso significa ser um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. É isso que Deus requer de nós, é isso que Deus espera de nós.

Não tendo uma visão clara do amor, da graça e da misericórdia de Deus, pelo sangue da cruz, nunca vamos poder compreender o que é consagração, não vamos entender por que temos que nos entregar totalmente a Deus – especialmente aqueles que estão no serviço da obra de Deus. Nesse sentido, se aqueles que estão no serviço da obra de Deus não compreendem isso, jamais vão compreender o encargo do chamado, da vocação e do ministério.

Por que o ministério tem se tornado uma profissão na vida de muitos? Por que a essência da revelação do caráter daquilo que é o ministério tem sido tão diluída na experiência de muitos? Por que o chamado tornou-se uma vocação humana, efêmera, em que as pessoas nunca se entregam totalmente, absolutamente, não vivem um chamado integral? Por quê? Porque essas pessoas não compreendem o valor da obra da Cruz, o valor do sangue; não compreendem o amor de Cristo por elas. Essas pessoas não podem corresponder às prerrogativas divinas, estão perdidas entre profissão e vocação. Nós precisamos ser libertos deste “evangelho medíocre”, porque a obra de Deus é algo muito, mas muito sério.

A minha expectativa, em Cristo Jesus, é que Ele fale ao seu coração; venha lhe abençoar, ricamente, pela Sua santa, rica, doce e poderosa Palavra. Amém.