CAPÍTULO 14
Por: D.M. Lloyd Jones
“ALICERÇADOS EM AMOR”
"Para que Cristo habite pela fé nos vossos corações. Afim de, estando arraigados e fundados em amor" – Efésios 3:17
Passemos agora a considerar a última frase desse versículo 17, a saber: “a fim de, estando (vós) arraigados e fundados em amor”. Isto é necessário, diz o apóstolo, para habilitar-nos a termos alguma compreensão do amor de Cristo. Ainda é parte da grande oração que o apóstolo está fazendo a favor dos efésios. Conforme avançamos, é importante lembrar-nos de que o interesse do apóstolo por estas pessoas é que conheçam o Senhor Jesus Cristo. Tudo na vida cristão deve resultar do nosso conhecimento dEle como Pessoa, e da nossa comunhão com Ele.
Esse é o sentido de Cristo habitar nos nossos corações. A minha principal ambição deve ser, não de ser um bom homem. Num sentido, nem devemos mesmo falar do “aprofundamento da vida espiritual”; devemos falar do aprofundamento do nosso conhecimento de Cristo e do nosso amor por Ele. Quando isso acontece, a nossa vida espiritual se aprofunda, necessariamente. Assim, o que o apóstolo está dizendo aqui é que, se Cristo habitar nos nossos corações, o resultado será que estaremos “arraigados e fundados em amor”.
Aqui a ênfase é que nós devemos estar arraigados e fundados no amor. Noutras palavras, o amor deve ser o elemento predominante e preponderante em nossas vidas. Obviamente não temos nenhum amor em nós sem o amor de Deus. “Nós o amamos porque Ele nos amou primeiro”; e necessariamente a um elemento de amor na vida cristã desde o começo. Aqui, no capítulo 3, ele está interessado no nosso amor a Ele, e não do Seu amor a nós. Assim, o assunto aqui é nosso amor a Deus, o nosso amor ao Senhor Jesus – na verdade, o nosso amor a tudo que pertence à “verdade que está em Cristo Jesus”.
Com o fim de acentuar que a principal característica da vida cristã deve ser o amor, o apóstolo utiliza duas figuras: “arraigados” e “fundados”. A primeira logo nos faz pensar numa árvore; a segunda, num edifício. Vê-se claramente que a idéia dominante nas duas figuras é a de “permanência”. O que é comum às duas figuras é o que uma árvore tem em comum com um grande edifício, a saber, a idéia de “profundidade, firmeza, permanência e durabilidade”. “Arraigados” quer dizer “profundamente arraigados”. Não devemos pensar num renovo que poderia ser derrubado por uma ligeira rajada de vento, mas, antes num majestoso carvalho cujas raízes descem às profundezas da terra e que se espalham em muitas direções e se agarram firmemente no solo e nas rochas.
Na outra figura, devemos ver um edifício grande e alto, erigido sobre um alicerce firme e forte. Quanto mais olharmos para ele, a idéia que se estampa em nós é a de solidez. Dois elementos – profundidade e força – e, portanto, permanência e durabilidade.
Este não é o único lugar em que o apóstolo coloca juntas estas duas idéias. Na verdade parece que ele pensa em termos destas duas figuras toda vez que pensa na Igreja. Voltemo-nos, pois, para 1 Co 3:9, onde vemos o apóstolo lembrar aos membros da igreja de Corinto:
“Porque de Deus somos cooperadores; lavoura de Deus, edifício de Deus sois vós.”
Eles são “lavoura”, “fazenda” de Deus; contudo são também edifício de Deus. Uma idéia sem a outra não parece adequada ao seu propósito de comunicar certas grandes verdades acerca da Igreja e da vida cristã. Precisamente da mesma maneira ele emprega as duas idéias com o fim de falar-nos da “centralidade do amor” na vida do cristão. Um só quadro não basta. E, segundo o apóstolo, essa é a condição do cristão. Essa é a descrição que ele faz do amor presente na vida do cristão maduro.
Portanto, a figura comunica a idéia de que o amor é o solo em que a nossa vida cristã é plantada e no qual ela cresce. O alimento e a nutrição, e tudo que nos ajuda a edificar-nos e a fortalecer-nos, provêm do solo do amor. Assim, o terreno e o solo da nossa vida cristã devem ser o amor, diz o apóstolo. O amor é a única coisa que edifica a vida cristã e que a torna parecida com a vida de Cristo. Devemos manter sempre esta verdade diante de nós. Devemos olhar para Ele, devemos tornar-nos semelhantes a Ele. O único modo de tornarmos semelhantes a Ele é estar “arraigados” em amor somente desta maneira ficaremos fortes e manifestaremos a mais notável característica de uma árvore majestosa.
Podemos acentuar esta verdade mediante certos contrastes. De acordo com a verdade do Novo Testamento, é o amor, e não o conhecimento, que nos faz cristãos fortes. Isto é ensinado com clareza em 1 Co 8:1, onde lemos a memorável frase:
“A ciência incha, mas o amor edifica.”
Esta é uma distinção sumamente importante. Lembremos que é o grande apóstolo Paulo que diz isto. Ele é dentre todos os homens que declara: “A ciência (conhecimento) incha, mas o amor edifica.” O apóstolo escreveu esta carta por causa de divisões e porque havia muitos e graves problemas naquela igreja. Um cuidadoso exame do tratamento dado aos problemas, leva à conclusão de que todos os problemas tinham uma origem comum – os coríntios estavam colocando “o conhecimento no lugar do amor”. Era uma igreja muito dotada, o Espírito Santo dispensara muitos dons; porém se desviaram porque esqueceram o amor. O amor é o alicerce, o solo, não o conhecimento. O verdadeiro conhecimento cristão é o conhecimento de uma Pessoa. E porque é conhecimento de uma Pessoa, leva ao amor, porque Ele é amor. “Deus é amor”. Cristo é o amor encarnado. Assim, conhecer a Deus e a Cristo leva necessariamente ao amor.
Vemos uma repetição do mesmo ensino ainda em 1 Co 13:2, onde lemos:
“E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria”
Por maior que seja o nosso conhecimento, se não temos este amor, somos inúteis.
Novamente aqui em 1 Co 13, agora no versículo 8, diz:
“A caridade nunca falha; mas, havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;”
Todo o nosso conhecimento é apenas parcial. Tratemos de dar-nos conta de que o que compete ao conhecimento é levar-nos ao amor.
Outra verdade ainda é que somente o amor pode dar-nos real poder para vivermos a vida cristã e para trabalharmos e labutarmos nesta vida cristã. O amor enche de energia o homem e o envia a uma tarefa, concita-o e o impulsiona para a ação. O apóstolo Paulo expõe esta verdade em sua Epístola aos Gálatas 5:6, onde vemos dizer:
“Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor.”
Dificilmente Paulo menciona a fé sem juntar-lhe o amor. Na verdade a fé, a esperança e o amor andam juntos. Assim, nesse capítulo 3 da Epístola aos Efésios, depois de escrever sobre Cristo habitar “pela fé” nos corações, ele passa imediatamente a mencionar o amor. Ele o faz porque a “fé opera pelo amor”, a fé é energizada pelo amor, e a vida da fé só é ativada graças ao amor. E este se refere, lembremo-nos, ao nosso amor a Deus.
Deixe-me ilustrar. Um homem pode pregar por ser o seu trabalho, sua tarefa. Mas como é diferente, quando este homem é energizado pelo amor – pelo amor a Deus e a Cristo, e pelo amor às almas! “fé que atua pelo amor”. O ponto que estou defendendo é que unicamente o amor realmente nos dá poder e força na vida cristã. Vemos isto na história de Jacó, no Velho Testamento. Tendo fugido de casa e da ira de seu irmão Esaú, ele foi para a terra natal de sua mãe e entrou em contato com Labão e sua família. Ali se enamorou de Raquel, uma das filhas de Labão, e pediu que lhe fosse concedida para ser sua esposa. Mas foi ludibriado por Labão e forçado a receber Lia, irmã mais velha de Raquel, e depois lhe foi dada Raquel, com a condição de que concordasse em trabalhar sete anos por ela. Então vem a interessante declaração de Gn 29:20:
“Assim, por amor a Raquel, serviu Jacó sete anos; e estes lhe pareceram como poucos dias, pelo muito que a amava.”
Sete anos parecem um longo tempo quando alguém está esperando por alguma coisa. Mas a Jacó o trabalho e a espera por Raquel, durante sete anos, pareceram apenas poucos dias. A explicação está no amor a Raquel. O amor muda tudo. Parece ter o poder de cancelar o tempo.
O amor é também o único motivo verdadeiro para a obra e para a atividade na vida cristã. Por que nos chamamos cristãos? Por que participamos do pão e do vinho na Ceia do senhor? Por que nós cremos que Cristo morreu pelos nossos pecados na cruz? A razão de tudo isso é que sabemos que:
“Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito,”
O amor é o motivo de Deus. Por que o Deus eterno, absoluto e santo haveria de preocupar-Se com este mundo que se rebelou contra Ele e reduziu o Seu paraíso a um estado de caos? Foi por causa do Seu eterno e espantoso amor! Esta é a motivação atuante no coração de Deus. Vemos isto na história do Senhor Jesus em todos os Evangelhos. Quando olhava as multidões, diz-nos a Palavra que Ele as via como “ovelhas sem pastor”. Tudo por causa do Seu grande coração repleto de amor. Isso lhe dava energia; era o poder que O levava a prosseguir. E na vida cristã devemos ser como Ele; devemos seguir Seus passos, ser reproduções dEle. Este, pois, deve ser o motivo impulsor em nossa vida cristã. Em todos os seus aspectos.
Vejam este motivo como vem exemplificado no próprio apóstolo Paulo. As Escrituras o retratam como um infatigável evangelista e pregados que viajava dia e noite ensinando e pregando. Por que procedia desse modo? Em 2 Coríntios 5:14, achamos a sua resposta:
“Pois o amor de Cristo nos constrange...”
O amor de Cristo está nele. Ele sabe o que Cristo fez por ele, e isto criou em seu coração um amor semelhante. Ele está “arraigado no amor de Cristo”. É isto que o impulsiona, a força motriz é esta, e nada mais.
Há ainda mais um elemento nesta idéia de estarmos arraigados em amor. É negativo, porém muito importante, e está implícito no que temos dito. Não haverá nenhum valor fundamental em toda a nossa obra se não estiver arraigada e fundada em amor. O apóstolo Paulo nos diz em 1 Co 13:1:
“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine.”
Você pode ser o maior orador do mundo, pode ser capaz de falar de maneira comovente, podendo causar admiração das pessoas e talvez até levá-las à ação; entretanto se o amor não estiver dominando o que você diz ou faz, você será como o metal que soa ou como o sino que tine. Ele continua versículo 2:
“Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei”.
Essa é uma declaração demolidora e alarmante, contudo obviamente é a pura verdade. Tem que ser, porque a vida cristã é uma vida semelhante a Cristo, e nEle tudo teve origem no amor. Nada tem valor aos olhos do senhor, a menos que venha de um coração cheio de amor.
O cristão é alguém que “está arraigado em amor”. É também dali que ele recebe energia, e é que o constrange. Visto que Cristo habita em sue coração pela fé, a sua fé está “arraigada no solo do amor”, e extrai os seus preciosos nutrientes vitais daquela fonte. Desse modo passa a ser uma reprodução do próprio senhor Jesus cristo.
Que Deus nos abra os olhos para isto! Dê-nos Ele seu amor, e o “derrame” em nossos corações! Busquemos isto acima de tudo mais, porque sem isto, tudo mais nada é, e não levará a nada, senão a perda.
Que Deus nos arraigue em Seu amor.
2 comentários:
Esse foi um dos mais maravilhosos estudos q eu já fiz pela enternet . Q nosso Senhor abençoe muitíssimo o escritor desse estudo! Obrigada por me abencoa.
Amei muito bom ensinado sem amor A Deus nada q fazamos vai valer a pena mais como jesus nos amar e Deus devemos amar nosso irmão nosso próximo como a nos mesmo pois todos nos que amamos a Deus devemos amar nosso próximo como a nos mesmo pois somos só um em cristo jesus
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