quarta-feira, 20 de abril de 2011

AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 102

Por: Luiz Fontes

20ª ESTAÇÃO – MONTE SEFER (PARTE 3)

TEXTOS: Números 17:1-8; Efésios 4:7-14

O testemunho de Deus acerca do ministério segundo a Sua vontade

Vamos dar continuidade ao estudo deste maravilhoso assunto aqui na 20ª estação por onde o povo de Israel peregrinou – a estação chamada Monte Sefer (ou Monte Shaphar, conforme o original hebraico).

Aqui nós vemos Deus dando testemunho acerca do ministério segundo a Sua vontade. Vemos Deus mostrando para nós aquilo que procede dEle, a autoridade ministerial que procede dEle, aquilo que é inerente ao Seu governo. O ministério cristão não é uma profissão, não é um legado de família; o ministério cristão é uma dádiva de Deus. Deus concede aquilo que é inerente a Si mesmo, da Sua autoridade, do Seu poder, da Sua sabedoria, do Seu governo: aqueles que Ele escolhe para poder usar, tendo em vista que em tudo Cristo seja glorificado. Creio que a melhor maneira de podermos ver isso é estudando Efésios 4:7-11. Quando temos a oportunidade de ler esses versículos em Efésios 4, podemos ver claramente como Deus se manifesta, como Ele se revela, como Se move.

Sabemos que nesta estação, Monte Sefer (Nm 17), temos esse maravilhoso episódio onde a vara de Arão floresceu. De cada uma das tribos de Israel, Moisés tomou uma vara, e da tribo de Levi Ele tomou a vara de Arão. Vimos que depois de todas essas varas terem sido colocadas diante do Testemunho, no Tabernáculo, no dia seguinte a vara de Arão floresceu. Temos, aqui, o ensinamento acerca do fundamento da autoridade espiritual na vida da Igreja. Essa autoridade é mediante o poder da ressurreição. Precisamos ser zelosos, cuidadosos, diligentes, concernente a esse assunto, para que correspondamos com a vontade de Deus, para que o nosso viver esteja de acordo com o padrão daquilo que Deus estabeleceu na Sua palavra.

Nesse sentido, vamos ler Efésios 4:7-11:

7 e a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo. 8 Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens. 9 Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia descido às regiões inferiores da terra? 10 Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas. 11 E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres”.

É interessante notarmos, no versículo 7, Paulo dizer que “a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo” (“conforme a medida do dom de Cristo”). Não podemos esquecer que aqui o apóstolo faz uma referência a Cristo – Cristo como o dom inefável de Deus para nós. Este é um detalhe que temos que entender, à medida que vamos ascendendo, compreendendo esses versículos. À medida que vamos subindo, na leitura da palavra de Deus (Efésios 4, versículos 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13...), vamos vendo isso. Trata-se de um detalhe que não podemos esquecer, pois este é o ensino fundamental de Paulo nessa seção do capítulo 4 de Efésios.

Sabemos que na primeira parte deste capítulo ele trata da unidade do Espírito. Paulo fala da unidade na variedade. Não uma comunhão monótona, mas uma unidade na diversidade, que é o resultado da obra do Espírito Santo em nossas vidas, para a glória de Cristo, o Cabeça da Igreja.

Ainda vemos que, nos versículos de 7 a 13, Paulo apresenta dois aspectos da obra de Cristo:

· Em Sua obra completa na Cruz, Cristo levou cativos os Seus inimigos afim de que não sejamos mais escravos do pecado, não estejamos mais debaixo do domínio de satanás, do domínio do diabo, do pecado e da morte.

· Em Sua gloriosa ressurreição o Senhor Jesus concedeu homens como dádivas para a obra do ministério.

Precisamos considerar aqui três proposições:

1) Paulo não está estabelecendo um rígido sistema de ordem clerical eclesiástico. Contudo, devemos observar que os princípios estão firmados aqui para que sejam observados e praticados por todos nós. E diante dessa verdade, temos que evitar dois erros:

1.1) Ir além das escrituras e impor à Igreja qualquer tipo de sistema ou ordem clerical, mecânica, qualquer tipo de legalismo, de sistema rígido.

1.2) Por causa do medo de ir além da palavra de Deus, como vemos muitas vezes, em muitas comunidades de irmãos, não compreender claramente o que é o ministério e, assim, tornar tudo impossível de ser realizado com ordem e decência para a glória de Deus. E muitos têm desprezado o verdadeiro significado do ministério.

Nós não podemos estar nem em um extremo e nem no outro; precisamos viver a vida cristã equilibrada.

2) Os dons mencionados por Paulo nesse versículo 11 de Efésios 4, são aqueles que o Espírito Santo dá pessoalmente, aqueles membros do corpo de Cristo, conforme lemos em 1 Coríntios 12:28. Agora, nesses textos de Efésios 4:7-11, o Senhor Jesus concede graça a certos indivíduos para que se tornem dádivas à Igreja, para que os santos sejam supridos da vida de Cristo, para que eles possam desempenhar o ministério, cooperar na edificação da Igreja, para que haja crescimento, maturidade (v. 12).

3) Embora esses ministérios sejam os dons de Deus à Igreja, eles não são representados pelos títulos de suas classes dados individualmente a eles pelo Espírito Santo, e sim pela função, pela unção. Muitas vezes se enfatiza muito o título, mas não se vê, na pessoa, a unção. Precisamos ser cuidadosos, entender que há alguns princípios quanto a isso:

3.1) Cristo, e somente Cristo, é o Cabeça da Igreja. Há somente um Cabeça na Igreja, e Ele é rei, é o Senhor Jesus. Só há um líder sobre nós – o Senhor Jesus. Jamais algum homem ou mulher pode ser o líder da Igreja. A história nos ensina que essa verdade foi esquecida e, por isso, muitas batalhas têm sido travadas sobre ela. Precisamos declarar essa verdade em nossos dias, dizer que ninguém tem o direito de usurpar o lugar na Igreja que pertence unicamente ao Senhor Jesus. Existem os ministérios, que são dádivas, mas eles não podem ocupar o lugar de Cristo. Eles não estão aqui para suplantarem nos corações dos membros o lugar de Cristo.

3.2) A Igreja consiste de membros, cada qual tendo uma função sob a Cabeça, Cristo. Em Efésios 4:7 Paulo fala da graça dada. Essa graça está relacionada ao funcionamento da Igreja como corpo de Cristo. Quando o apóstolo diz “Ele mesmo”, podemos ver esta graça para servir os santos, uns aos outros, na vida do corpo de Cristo. Vemos aqui a questão do desempenho da função individual e particular. Nosso viver na Igreja não permite a passividade, pois todos nós temos uma função na edificação da Igreja do Senhor Jesus. Vejam que os versículos 12-14 de Efésios 4 dizem algo muito especial:

12 com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, 13 Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo 14 para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro”.

Então vemos que os ministérios, de apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres, não foram constituídos para usurparem o ministério de todos os santos, e sim para promoverem o ministério de todos os santos. Vejam que Ef 4:11 diz que o Senhor Jesus concedeu uns, e não todos. Apenas uns podem ser, servir no corpo, esses ministérios. Mas observem que o Senhor constituiu esses ministérios com o propósito de levar os santos:

· “ao desempenho do seu serviço”;

· “à edificação do corpo de Cristo”;

· e também ele diz: “até”. Quer dizer, levar a esse desempenho, a essa edificação, onde todos os membros participam, “até que” “todos nós” cheguemos “à unidade da fé”, “ao pleno conhecimento do Filho de Deus”, “à perfeita varonilidade” e “à medida da estatura de Cristo”.

Portanto, nós, todos os santos, estamos sendo edificados para a obra do ministério. Este é o serviço, este é o papel do ministério como dádivas: levar os cristãos a desempenharem seu sacerdócio universal. É isso que Deus diz. Vejam que o apóstolo Paulo diz que o propósito desses ministérios é a capacitação ao serviço, de onde vem a palavra “diakonia”. Depois ele fala da edificação da Igreja. A edificação da Igreja é uma tarefa de todos os santos em Cristo. Então, precisamos compreender que quando os santos chegarem a tal experiência, os ministérios terão cumprido seu propósito específico. Mas o papel, a edificação, aquilo que constitui a tarefa de todos os santos, há de continuar. Temos que ver isso mui claramente na nossa experiência cristã. Não podemos viver uma vida completamente enganada com relação àquilo que é a verdade de Deus para nós.

Ministério e dom

Outro detalhe que precisamos compartilhar é a diferença entre “ministério” e “dons”. Os dons são os meios recebidos do Espírito Santo pelos quais é entregue algo de Cristo ao Corpo. O ministério, ou o serviço, é aquilo que é ministrado do próprio Cristo ao Corpo por meio daqueles que Ele escolhe. Cada ministério contribui com algo específico de Cristo, daquilo que supre a necessidade da Igreja. O que importa para o corpo não são os dons, mas o conhecimento pessoal de Cristo transmitido por meio deles, aquilo que de Cristo é ganho. Precisamos, assim, ver a questão dos dons ali de 1 Coríntios 12. Quando lemos a partir do versículo 4, descobrimos aquelas classes de dons:

· Os dons que revelam: a palavra da sabedoria, a palavra do conhecimento, discernimento de espíritos;

· Os dons de poder: dons da fé, operações de maravilhas, dons de curar;

· Os dons de inspiração: profecia, interpretação de línguas e variedades de línguas.

Os dons não pertencem ao indivíduo, os dons pertencem do Corpo para o Corpo. O que é importante é você compreender que os dons são os meios recebidos do Espírito Santo pelos quais alguém, qualquer um de nós que fazemos parte do Corpo de Cristo, pode entregar algo de Cristo no Corpo. Cada ministério contribui com algo específico a mais de Cristo. O ministério na vida de uma pessoa prossegue nela, mas os dons não. Os dons são uma ação repentina, clara, objetiva, do Espírito Santo do Corpo para o Corpo. O que importa para a Igreja não é simplesmente a questão dos dons em si, mas aquilo que é ganho de Cristo por meio dos dons. Corremos o grande perigo de ficar com os dons e perder Cristo. Os dons, assim como o ministério cristão, nunca devem substituir Cristo na Igreja. Por isso, essa realidade precisa ser experimentada numa intimidade com o Senhor Jesus. Precisamos da ajuda do Espírito Santo para isso.

Ofício e dom

Agora, gostaria de especificar outro assunto: a diferença entre “ofício” e “dom”. Ofício é aquilo que uma pessoa recebe como resultado de uma comissão. Tudo que é comissionado é um ofício. O dom é aquilo que alguém recebe no fundamento da graça. Qualquer coisa que esteja relacionada com a capacitação é dom. Vemos, então, não somente aqueles dons de 1 Coríntios 12, a partir do versículo 4, mas também os de Romanos 12: dons de socorro, de governo – quantas pessoas possuem esses dons! –, o dom da hospitalidade, enfim, o Espírito Santo tem agido e quer continuar agindo na vida da Igreja. Mas a Igreja precisa amadurecer na intimidade, na comunhão com a Pessoa de Cristo, para que essas coisas não se percam.

Tudo isso fica muito claro quando estudamos essas jornadas do povo de Israel. Vemos que havia muita confusão no meio deles, era um povo obstinado, não cresciam. No estudo da estação anterior, Queelata, vimos rebelião, um povo que não queria caminhar em conformidade com o caráter de Deus. Por isso, Deus julgou Datã, Coré e Abirão, com todas as pessoas que os seguiam. E Deus os julgou perante os olhos de toda a congregação. Mas, em Números 17, na estação que estamos estudando, Deus estabelece o princípio do Seu governo, do Seu mover. Amados irmãos, nós também vivemos a mesma experiência de vida em ressurreição. Após o Senhor Jesus Cristo ter ressuscitado, Ele concedeu dons aos homens. Ele concedeu não apenas dons aos homens, porque essa é uma citação do Salmo 68. E lá, nesse Salmo, podemos ver que Davi cita os homens como dádivas. E Paulo não poderia mudar isso, há aqui uma tradução infeliz. O que vemos é que os homens são dádivas de Deus. E essas dádivas de Deus visam à edificação da Igreja. E não apenas edificar a Igreja, mas levá-la ao desempenho do ministério, como também levá-la a edificar a si própria. Na medida em que eles estão dispensando algo específico de Cristo, seja por qualquer um dos cinco ministérios, vemos que isso leva a Igreja a amadurecer, a se edificar, a desempenhar o serviço, a chegar ao conhecimento de Cristo Jesus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura plena da pessoa de Cristo e a nossa conformação com Ele.

Precisamos atentar para tudo isso. Esse assunto é maravilhoso. Que o Espírito Santo desperte no seu coração o desejo para estudá-lo mais e mais, para que você possa ser abençoado, para que possa compreender o que significa essa experiência dos ministérios serem fundamentados no poder da ressurreição de Cristo, nessa experiência de Números 17, que aconteceu com a vara de Arão.

Que Deus, de uma forma poderosa, venha falar ao seu coração e lhe abençoar com essa palavra, no grande e poderoso nome de Jesus, o Seu Amado Filho.

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