segunda-feira, 26 de março de 2012

AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 143


Por: Luiz Fontes

30ª Estação – Jotbatá (parte 2)

TEXTOS: Nm 33:33; Jo 7:37-39; I Co 6:17; Rm 16:18; Fp 3:17-19; 4:4-5; Sl 121:1-2; Gl 5:16; Jo 4:14; Tg 3:11

Como já temos visto, essa 30ª estação, Jotbatá, mostra para nós um aspecto muito profundo da vida espiritual: o fluir do Espírito. Em cada uma dessas estações temos aprendido sobre as experiências do povo de Deus e a aplicação espiritual Neo Testamentária da revelação.

O significado da palavra Jotbatá é “algo bom, agradável”. Trata-se de uma região de fontes de águas, onde o povo de Israel pode saciar a sua sede. E quando olhamos para essa realidade no Novo Testamento, nós somos levados para o Evangelho de João, capítulo 7 e versículos 37 e 38. Vamos, então, dar continuidade a esse estudo sobre o fluir do Espírito.

João 7:37-39 diz:

37 No último dia, o grande dia da festa, levantou-se Jesus e exclamou: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. 38 Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. 39 Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito até aquele momento não fora dado, porque Jesus não havia sido ainda glorificado.”

Amados irmãos e irmãs, nós estamos estudando especialmente sobre esta palavra: interior. O Senhor Jesus disse que quem crer nEle, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. Por que muitas pessoas dizem crer no Senhor, e o Espírito Santo, que é este rio de água viva, não tem fluido? Para entendermos isso, teremos que estudar o significado desta palavra interior. No grego ela é “koilia”. Quando a estudamos no Novo Testamento, entendemos algo muito especial. O primeiro ponto que vai nos abrir este assunto está no texto de I Coríntios 6:17, quando Paulo diz:

17 Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele.”

Isso é muito interessante porque nós vemos aqui o aspecto radical do Evangelho de Cristo Jesus. O Evangelho não é opcional, ele é radical. E nós temos que estar certos disso. Precisamos viver uma vida unida com o Senhor; precisamos ter uma vida íntima como Senhor. E por que muitas vezes nós não temos vivido esta realidade? Romanos 16:18 começa a introduzir o significado desta palavra interior (ou melhor, “koilia”:

“porque esses tais não servem a Cristo”

Nesse contexto Paulo está falando dos maus obreiros, e diz: esses tais não servem a Cristo”. A palavra servem, aqui, tem o sentido de adorar. Ela é latréia. Porque servir é adorar e adorar é servir. Essas pessoas não adoram a Cristo, nosso Senhor, e sim ao seu próprio ventre. Isso significa que essas pessoas são ególatras, adoradoras de si mesmas. O texto ainda diz:

“e, com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos incautos.”

Vemos, então, que essas pessoas têm um Deus que é o seu próprio ventre. Elas não servem a Cristo, mas a si mesmas. São pessoas que procuram, através de palavras, enganar o coração de pessoas simples. E isso revela que esse tipo de pessoas, que procuram enganar os corações desprevenidos, que fazem discípulos para si e não para Cristo, estão com o interior cheio de lisonjas, de engano, de perversidade. Por isso o Espírito Santo não pode fluir da vida delas.

Depois nós temos outro exemplo que está em Filipenses 3:17-19. E mais uma vez nós vamos ver nesses textos:

17 Irmãos, sede imitadores meus e observai os que andam segundo o modelo que tendes em nós. 18 Pois muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes, eu vos dizia e, agora, vos digo, até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo. 19 O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas.

Vemos aqui pessoas que são inimigas da cruz de Cristo, porque pregam a mensagem sem o conteúdo da cruz. Pessoas que não vivem uma realidade viva do Evangelho de Cristo. Essas pessoas vivem para si mesmas. E Paulo diz que o destino dessas pessoas é a perdição. Isso nos leva a alguns pontos importantes:

1 – A necessidade de exercermos um espírito de discernimento. Nós não podemos viver a vida cristã na superficialidade. Temos que ser sérios, prudentes, ousados, com relação àqueles que procuram afrontar o Evangelho de Cristo Jesus na vida do corpo, que é a igreja. Paulo era assim, pois todas as vezes que detectava algo que realmente feria a integridade do corpo de Cristo, ele reagia com veemência. Paulo sempre foi coerente na conduta de viver o Evangelho.

2 – Na sequência, Paulo diz que o Deus dessas pessoas é o ventre. Nesse sentido, vemos o culto ao ego. Vivemos num tempo onde os manuais de autoajuda têm se incorporado à vida moderna de uma forma muito natural, assim como os telefones celulares, a internet. Você pode ver que cada vez mais pessoas encontram inspiração e conselhos para obter uma vida melhor – seja do ponto de vista material ou mesmo do ponto de vista espiritual. Se você puder fazer um estudo vai ver claramente que os livros mais vendidos, os títulos de maior sucesso são aqueles que ensinam a ficar rico em pouco tempo, aqueles que ensinam a galgar degraus no trabalho rapidamente. Se todos os títulos de autoajuda fossem colocados em uma centrífuga, o conselho fundamental que daí resultaria seria: goste de você; tenha confiança em si mesmo; acredite em você; acredite na sua capacidade; você é o melhor.

Irmãos e irmãs, nós precisamos ser cuidadosos com tudo isso. Existe uma sutileza por trás dessas frases de efeito. O ensino de Paulo não é para nós desdenharmos de nós mesmos. Ele mostra o caminho para vivermos uma vida adequada. Note o versículo 19, onde ele diz:

“visto que só se preocupam com as coisas terrenas”.

Também quero que vocês leiam Filipenses 4:4-5, onde Paulo diz:

4 Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos. 5 Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens. Perto está o Senhor.”

Ora eu creio que esses textos devem impactar o nosso coração, porque nós vivemos hoje essa febre por autoajuda, em ler livros de autoajuda, em buscar autoajuda. Agora olhe esses versículos que lemos até aqui, especialmente os versículos 4 e 5 do capítulo 4 de Filipenses: “Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez vos digo: alegrai-vos”. Amados, vocês sabem que quando escreveu esta carta aos filipenses, Paulo não estava à beira de um lago lindo, calmo e sereno. Não! Paulo estava numa terrível prisão romana. Paulo estava vivendo uma experiência profundamente frustrante do ponto de vista humano, porque aquelas prisões não se comparam nem mesmo com aquilo que nós conhecemos do sistema prisional brasileiro. Por mais perverso, por mais ordinário, injusto e imundo que seja, não se compara com as prisões daquele tempo. E Paulo tinha uma alegria. Ele falou de uma alegria numa forma como nós não podemos ler em outros lugares na Bíblia. Com uma verdade tão impressionante, com uma essência viva de uma realidade que nos toca profundamente. Mas o que levou Paulo a uma condição daquela, vivendo a expectativa da sua própria morte e falar de alegria? O que isso tem a ver com aquilo que nós compreendemos através dos livros de autoajuda sobre alegria? Porque, irmãos, quando falo de autoajuda é porque eu não creio em autoajuda. Eu creio é na ajuda que vem do alto, a ajuda que vem de Deus. Eu não acredito e nem confio nessa psicologia moderna de autoajuda, mas creio e prego a ajuda que vem do alto, como diz o Salmo 121:

“Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? 2 O meu socorro vem do SENHOR, que fez o céu e a terra.”

Não é autoajuda; é a ajuda que vem do alto. E agora você vê Paulo aqui exortando os irmãos à alegria. Veja que ele diz: “seja a vossa moderação”. Essa palavra, no original, é “epieikes”, e significa virtude de permanecer na exata medida. Ela fala de tranquilidade, comedimento. Uma pessoa que vive em Cristo é tranquila, é pacífica. Uma pessoa perturbada não vive em Cristo, mas vive oprimida por satanás. Quando Paulo diz aqui: “Perto está o Senhor”, ele não se refere à vinda do Senhor, e sim à presença do Senhor. É essa presença que nos traz tranquilidade; é essa presença que nos traz a moderação. Nós temos que ter convicção da fé que nós temos recebido por meio do Evangelho. Nós temos que exercê-la. Por isso, a vida cristã é uma vida radical.

Em Gálatas 5:16 Paulo diz:

andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne”.

Esse texto nos diz que nós temos que crescer, porque a vida cristã é progressiva. Na vida cristã não há estagnação. Quando nós estagnamos, nós retrocedemos. Ou nós estamos andando para frente ou estamos andando para trás – não tem como parar na carreira cristã.

Nesse sentido, vemos Filipenses 3:19, onde Paulo diz que “o Deus deles é o ventre. O termo aqui é “koilia”. Trata-se da autoglorificação. Servem a si mesmos, amam a si mesmos. “A glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas”. Então, irmãos e irmãs, vejam que essa palavra “kolia” revela o nosso interior. E os textos que lemos nos levam a refletir sobre o que realmente está fluindo de nós, o que realmente está fluindo da nossa vida. Nos textos que lemos vemos pessoas que servem ao seu próprio ventre, pessoas que se autoglorificam. Segundo esses textos, essas pessoas não andam segundo o Espírito, elas pregam o Evangelho diferente, focadas em si mesmas, em seus interesses.

Mais uma vez eu quero lhe perguntar: o que é que tem fluido da sua vida? Amados, quero ainda ler dois textos com vocês. O primeiro está aqui no Evangelho de João, capítulo 4 e versículo 14, quando o Senhor Jesus encontrou com aquela mulher samaritana. Diz assim:

14 aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna.”

A ação do verbo “jorrar”, aqui no original grego, conforme a gramática, expressa a ideia de prosseguimento. É jorrando, entende? Como vamos explicar a nossa vida diante desse versículo? Será que existe um rio fluindo da sua vida? Será que na sua vida existe um rio fluindo incessantemente? É por isso que as pessoas vivem atrás de autoajuda, porque elas esqueceram de viver o Evangelho. O Evangelho que elas creram é o “evangelho de meias verdades”. Como se explica o “evangelho de meias verdades”? O “evangelho de meias verdades” não é o Evangelho. O Evangelho é puro, simples, poderoso, glorioso e completo. Não é um “evangelho de meias verdades”. O Evangelho é a Verdade!

Então, olhe para isso. O outro texto que quero ler com você está aqui em Tiago 3:11. Olhe o que diz:

11 Acaso, pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso?”

Veja que o Senhor Jesus disse: “A água que Eu lhe der será uma fonte a jorrar para a vida eterna”. Esta água é uma clara referência à obra e à Pessoa do Espírito Santo em nós. Veja que o Senhor Jesus disse: “essa água será nela uma fonte”. Está vendo? Uma fonte a jorrar. Isso tem que ser claro na sua mente, tem que estar claro na sua experiência. Essa fonte não pode jorrar para outro lugar, a não ser para a vida eterna. Mas se ela estiver suja, se ela estiver contaminada, ela jamais poderá jorrar para a vida eterna. Ela só pode jorrar para a vida eterna se ela for uma fonte de água cristalina. Olhe agora as palavras de Tiago: “Acaso pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso?” Na versão Rainha Valéria, em espanhol, está assim: “Será possível que do mesmo manancial brote água doce e amarga pela mesma abertura?”.

Amados irmãos e irmãs, em síntese, os textos que já estudamos em Romanos 16:18 e em Filipenses 3:17-19 nos dizem que essas pessoas citadas por Paulo servem ao seu próprio ventre, andam como inimigos da cruz de Cristo, porque só se preocupam com as coisas terrenas. Como poderemos permitir o fluir do Espírito Santo em nós se em nosso interior estamos contaminados pela egolatria, por uma paixão exacerbada pelas coisas desse mundo?

Que Deus, pelo Seu Espírito, nos limpe pela Sua Palavra. Que Deus, pelo Seu Espírito, nos lave pela Sua Palavra. Que o Senhor venha operar de uma forma abundante e poderosa em cada um de nós, para que o Seu Espírito venha fluir como um rio de águas vivas a jorrar, a saltar para a vida eterna. Irmãos, a eternidade já começou dentro de nós e nós temos que ter certeza e experiência quanto a isso, porque a vida cristã é uma vida de realidade espiritual. Não seja negligente quanto a isso. Não seja leviano quanto à vida cristã. Entenda o que Deus tem reservado para você, entenda o que Deus quer para você, entenda o que Deus tem depositado na sua vida. Creia, viva uma vida cristã pela fé. Que Deus lhe abençoe!

Um comentário:

Ângelo dos Santos Monteiro, disse...

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