Por: Luiz Fontes
28ª Estação – Benê-Jaacã (parte 2)
TEXTOS: Nm 33:31; II Tm 2:2; I Tm 1:2, 18; II Tm 1:2; II Tm 1:13-14; Gn 25:1-6; Rm 9:7; Hb 11:18; II Tm 2:22, 24-26; II Tm 3:1-5, 10; II Co 3:1-2; II Jo 12; III Jo 13-14; Jo 15:8; At 4:13; 11:26; I Co 11:1; II Co 3:3; II Tm 4:2-5
Vamos dar continuidade ao estudo da estação de Benê-Jaacã, a 28ª estação, conforme Números 33:31. A Bíblia diz que quando o povo de Israel saiu de Moserote, acampou em Benê-Jaacã.
Sabemos que Benê-Jaacã fala-nos dos “filhos da inteligência”, dos “filhos da sabedoria”. Vemos aqui que se trata de uma estação muito interessante que nos revela a maneira como o Senhor está nos conduzindo através do processo do verdadeiro significado do discipulado cristão.
Temos visto já em algumas palavras anteriores acerca do testamento que Abraão deixou, assim como o de Pedro. E, agora, estamos vendo o “testamento” de Paulo para Timóteo – a preocupação que o apóstolo tinha em seu coração com relação à continuidade do ministério da palavra por meio de Timóteo, seu filho espiritual. Timóteo. Quero ler com vocês um texto que está em II Timóteo 2:2:
“1 Tu, pois, filho meu, fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus. 2 E o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros.”
Amados, quando Paulo escreveu esta carta a Timóteo, tinha em vista a continuidade da obra de Deus. Paulo tinha por Timóteo a consideração de um filho. Fazendo um exame das duas epístolas de Paulo a Timóteo, você verá essa grande ênfase que ele dá à questão relacional entre pai e filho. Por isso, uma pessoa que discipula tem que ser madura, não pode ser uma pessoa infantil, um neófito. Somente alguém que tem amadurecimento espiritual é capaz de discipular a outros. Nós não podemos incentivar os irmãos ao discipulado onde não há maturidade, onde não há profundidade espiritual. Pessoas que não têm profundidade espiritual não têm a menor capacidade de discipular ninguém. Nós precisamos entender esse princípio na Palavra de Deus.
Em I Timóteo 1:2 Paulo diz:
“2 a Timóteo, verdadeiro filho na fé, graça, misericórdia e paz, da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor.”
Ainda no versículo 18 ele diz:
“18 Este é o dever de que te encarrego, ó filho Timóteo, segundo as profecias de que antecipadamente foste objeto: combate, firmado nelas, o bom combate,”.
Avançando para II Timóteo 1:2, está assim:
“2 ao amado filho Timóteo, graça, misericórdia e paz, da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor.”
E onde já lemos, em II Timóteo 2:2, ele diz:
“Tu, pois, meu filho (...)”.
Vemos, então, que o discipulado tem esse lado paternal. Apesar disso, não podemos esquecer que todo discipulado é a Cristo. Nunca esqueça isso. Você não discipula uma pessoa à denominação, não discipula a você. O discipulado é a Cristo. Por mais que exerçamos, pela Palavra de Deus, pela unção do Espírito Santo, a direção de Deus na formação do caráter espiritual na vida de uma pessoa, nunca devemos conduzi-la levianamente a nós mesmos – sempre a Cristo. O que temos que ter em vista é a vida da obra de Cristo em Pessoa, e não a nós mesmos. Nunca devemos nos impor sobre qualquer pessoa, pois isso não é discipulado, é tirania religiosa. O termo filho, que Paulo usa aqui, é teknon, e significa “um relacionamento íntimo e recíproco formado entre duas pessoas pelos laços do amor, da amizade e da confiança”.
Veja então o que Paulo diz a seu filho Timóteo: “o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros.” (II Tm 2:2). Vejam continuidade aqui. Essa é a obra de Deus, e esse é o verdadeiro discipulado. Em II Timóteo 1:13-14 ele diz:
“13 Mantém o padrão das sãs palavras que de mim ouviste com fé e com o amor que está em Cristo Jesus. 14 Guarda o bom depósito, mediante o Espírito Santo que habita em nós.”
Meus queridos, será que somos capazes de ver o zelo de Pulo por Timóteo? O que fica claro, evidente aqui, é que nada deveria se perder – tudo aquilo que foi investido na vida de Timóteo através de Paulo pela unção, direção e poder do Espírito Santo. Timóteo tinha que manter com diligência a sã doutrina, aquilo que foi depositado nele. E deveria ser transmitido às gerações seguintes.
Agora, veja um detalhe muito interessante aqui que corrobora com aquilo que Abraão fez com relação a Isaque e aos demais filhos que ele teve. Nós já estudamos isso. Em Gênesis 25:1-6, temos os filhos de Abraão com Quetura, e também Ismael, filho de Agar. E a Bíblia diz que a esses filhos Abraão deu presentes, mas a Isaque ele deu tudo. Por que Abraão fez isso? Não eram todos seus filhos? Naturalmente, sim. Mas Isaque era o filho da promessa, aquele pelo qual Deus iria mover seu propósito. Através de Isaque Deus continuaria em Seu propósito, em Seu plano, em Sua vontade. A Bíblia diz que “em Isaque a descendência de Abraão seria chamada”. Em Romanos 9:7 e Hebreus 11:18, podemos entender isso melhor. Deus continuaria por meio de Isaque, e não por meio dos demais filhos de Abraão.
Gênesis 25:6 diz que Abraão, além de dar presentes aos filhos das concubinas, ainda em vida os separou de seu filho Isaque, enviando-os para a terra oriental. Será que podemos notar o zelo de Abraão com relação a Isaque, o cuidado que ele tem aqui com Isaque? Ele não queria que seu filho se misturasse com seus irmãos, pois estes não tinham a promessa, suas motivações não eram puras. Esse detalhe é muito importante, pois Paulo age da mesma forma com Timóteo. II Timóteo 2:22 diz:
“22 Foge, outrossim, das paixões da mocidade. Segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor.”
Veja o zelo de Paulo. Por um lado, ele diz “foge das paixões da mocidade” – por um lado ele tinha que fugir –; por outro lado, ele tinha que “seguir com aqueles que invocam o Senhor com um coração puro”. Para que pudesse seguir a justiça, a fé e o amor, Timóteo deveria estar em paz com aqueles que invocam o Senhor com um coração puro. Ele não iria e nem poderia andar sozinho, deveria estar com essas pessoas.
Avançando um pouco mais em II Timóteo 3:1-5, perceberemos isso de uma forma muito clara. Diz assim:
“1 Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, 2 pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, 3 desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, 4 traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus, 5 tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes.”
Vejam que a frase “tendo aparência de piedade” demonstra que todas essas pessoas citadas aqui por Paulo são encontradas na própria vida da Igreja. Essas pessoas, esses caluniadores, desobedientes, ingratos, ímpios, sem afeição natural, têm aparência de piedade, terão aparência de piedade, aparência de vida cristã, de temor a Deus, porém, negando a essência, a vida e o poder da piedade. E sabe o que Paulo diz? “Foge destes”. Foge destes homens. Paulo está dizendo a Timóteo: evita mesclar-se com pessoas infiéis, que não são sérias com Deus, porque Deus vai julgar essas pessoas. Mantenha distância, Timóteo. Isso é o verdadeiro discipulado bíblico, é formação espiritual.
Amados, como nós precisamos ser sérios com as coisas de Deus. Como precisamos cuidar daqueles que o Senhor tem nos confiado. Como precisamos cuidar uns dos outros. Como precisamos permitir que o Senhor aprofunde Sua obra em nós, para que possamos fazer discípulos de todas as nações. Não apenas ir e pregar o Evangelho – o que é um mandamento do Senhor, e nós devemos pregar o Evangelho. Mas também ir e fazer discípulos de todas as nações. Precisamos compreender que o Senhor tem que avançar não apenas em nós, mas avançar além de nós, levando-nos a investirmos em outras pessoas aquilo que Ele depositou em nós. É isso o que aprendemos aqui em Benê-Jaacã.
Estudando essas estações aqui, Hasmona, Moserote, Benê-Jaacã, aprendemos justamente isto: que agora uma nova geração está surgindo no deserto e que é ela que vai conquistar Canaã. Nós não podemos levar para a sepultura tudo aquilo que foi depositado em nós. Então, temos que avançar.
Quero ler um texto que está em II Coríntios 3:1-2 que diz:
“1 Começamos, porventura, outra vez a recomendar-nos a nós mesmos? Ou temos necessidade, como alguns, de cartas de recomendação para vós outros ou de vós? 2 Vós sois a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos os homens,”.
Meus amados, creio que todos nós sabemos que Paulo foi grandemente usado por Deus para levar o Evangelho aos irmãos da Acaia, especialmente aqui em Corinto. Mas sabemos que alguns obreiros haviam passado por esta região da Acaia, onde estava a cidade de Corinto. E esses irmãos, como, por exemplo, Apolo, que não eram conhecidos de algumas igrejas, de algumas localidades, deveriam estar munidos de cartas para serem apresentados a essas igrejas. Essas cartas eram cartas de recomendação dos santos. Agora, você entende o que Paulo está dizendo, que ele mesmo não necessitava de cartas para chegar até eles? Paulo não tinha nenhuma necessidade de que outras igrejas o recomendassem, fizessem alguma recomendação à igreja de Corinto concernente a Paulo, pois os próprios coríntios eram a credencial apostólica de Paulo. Foi ali que Paulo permaneceu por cerca de dezoito meses, pregando o Evangelho.
Você pode notar no âmbito espiritual que aqui não estamos mais no nível de cartas escritas em papel, mas no nível do discipulado? O texto aqui fala de impressão viva. Quando estudamos as Epístolas de João, a segunda e a terceira, vemos o apóstolo João terminando-as de maneira singular. Primeiro, II João 12:
“12 Ainda tinha muitas coisas que vos escrever; não quis fazê-lo com papel e tinta, pois espero ir ter convosco, e conversaremos de viva voz, para que a nossa alegria seja completa.”
João diz que tinha muitas coisas que escrever aos irmãos, porque muitas coisas ele havia deixado como depósito divino. Mas ele não queria escrever, e sim falar. É importante escrever, mas falar face a face é muito mais importante, produz efeitos mais profundos, duradouros. É importante escrever, sim, mas estar face a face é muito mais significativo.
Amados irmãos, sabemos que essas cartas são de grande importância para nós hoje. Mas em nosso contexto temos que entender o significado prático de estabelecermos relacionamentos onde investimos do Senhor naqueles que Ele tem nos confiado. Lendo a III Epístola de João, versículos 13 e 14, vemos que ele diz a mesma coisa:
“13 Muitas coisas tinha que te escrever; todavia, não quis fazê-lo com tinta e pena, 14 pois, em breve, espero ver-te. Então, conversaremos de viva voz. A paz seja contigo. Os amigos te saúdam. Saúda os amigos, nome por nome.”
João nos mostra um nível mais elevado da edificação. É importante escrever, mas podemos avançar mais profundamente em nossa relação cristã. E João nos mostra aqui uma maneira de avançarmos em um plano mais alto do relacionamento espiritual. Lá em II Coríntios 3:2 Paulo diz:
“Vós sois a nossa carta, escrita em nosso coração”.
Paulo quer escrever uma carta viva, escrever mediante o Espírito Santo. O importante não é o papel em si, mas o coração deles. O aspecto espiritual das palavras de Paulo e de João é que mais do que cartas, aqueles irmãos deveriam andar na mesma conduta, tendo a mesma vocação. Em João 15:8 podemos meditar um pouco nas palavras do nosso Senhor Jesus:
“8 Nisto é glorificado meu Pai, em que deis muito fruto; e assim vos tornareis meus discípulos.”
A vida do Senhor Jesus, quando Ele viveu aqui na terra, era uma vida frutífera. E Ele diz que Deus, o Pai, é glorificado no Filho se nós tivermos uma vida frutífera, como a vida de Cristo. A verdadeira característica dos discípulos do Senhor Jesus é a de uma vida frutífera. Essas palavras do Senhor Jesus corroboram com aquilo que Paulo diz em II Coríntios 3:2: “Vós sois a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos os homens”. O que Paulo nos diz aqui é que todas as pessoas que nos ouvem, que nos veem, em nosso trabalho, no serviço aos santos, em nossa casa, no trabalho secular, na escola, verão que somos pessoas que andam com Deus. As pessoas estão lendo Deus em nossas vidas, estão ouvindo Deus em nossas vidas. Você se lembra de Atos dos Apóstolos 4:13? Aqueles fariseus, os sacerdotes, ao verem a intrepidez de Pedro e João, ficaram sabendo que eram homens iletrados, mas ficaram admirados, pois reconheceram que eles haviam estado como o Senhor Jesus. Sabemos que o Senhor Jesus não escreveu nenhuma carta, mas aqueles discípulos eram cartas vivas do Senhor Jesus.
Em Antioquia os discípulos de Cristo foram denominados, pela primeira vez, de cristãos (At 11:26). Então, fazer discípulos é produzir cartas vivas de Cristo para que sejam lidas e ouvidas. Não fazemos discípulos para nós, pois não somos o modelo. O modelo, o padrão, é Cristo. Quando Paulo diz, em I Coríntios 11:1 “Sede meus imitadores”, ele deixa claro que imitá-lo é seguir os passos de Cristo. Porque é isso que Paulo está dizendo. Veja que na continuação de II Coríntios 3, no versículo 3 ele diz:
“3 estando já manifestos como carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério, escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações.”
Nesse texto Paulo nos dá o fundamento para a formação de discípulos: “não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente, escrevendo nos corações”. Foi neste nível que Paulo investiu na vida de Timóteo. Ele diz a Timóteo em II Timóteo 3:10:
“10 Tu, porém, tens seguido, de perto, o meu ensino, procedimento, propósito, fé, longanimidade, amor, perseverança,”.
Amados, observem que esse versículo se inicia com “Tu, porém”. Há aqui um contraste. Lendo os versículos de 1 a 9 desse capítulo percebemos claramente que Paulo adverte Timóteo acerca dos homens maus. O contexto desses versículos podem ser vistos em II Timóteo 2:24-26. E vejam que Paulo está falando sobre o servo do Senhor. E depois ele inicia o capítulo 3, indo do versículo 1 até o 5, aqueles textos que já lemos, onde ele diz que nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos, etc. Nós vimos tudo isso. E aqui Paulo diz a Timóteo que não se misture com estes homens, que ele seja diferente, uma carta viva, lida e ouvida por todas as pessoas. Isso porque muitas pessoas têm a aparência de piedade, porém, Timóteo deveria ser cuidadoso, mantendo distância destes, seguindo de perto o ensino daquilo que aprendeu de Paulo: o procedimento, propósito, fé, longanimidade, amor, perseverança. Paulo coloca a Timóteo a integridade da sua doutrina. A sua conduta, propósito, fé. Timóteo havia visto como Paulo havia se conduzido. Paulo era autêntico, por isso ele se expressava de uma maneira tão clara a Timóteo.
Amados, precisamos entender que na vida da Igreja os motivos puros devem ser evidenciados. No contexto religioso, degradado, as pessoas fazem as coisas por rivalidade, vanglória, pretexto e ambição. Por isso esse assunto do discipulado é sempre voltado para o homem. E nós não podemos ser levianos, precisamos ser sérios com aquilo que o Senhor está nos confiando.
Avançando um pouco mais, a II Timóteo 4:2-5, vemos que Paulo diz:
“2 prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. 3 Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; 4 e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas. 5 Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério.”
Vejam que no versículo 5 mais uma vez Paulo usa a frase “Tu, porém”. E o contexto nos mostra a linha de contraste que deve haver entre Timóteo e os falsos obreiros. Nos versículos 2 e 3 Paulo diz: “2 prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. 3 Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina”.
Então, irmãos, este é o princípio que aprendemos aqui em Benê-Jaacã: precisamos realmente fazer discípulos a Cristo, levar as pessoas a desfrutarem de Cristo Jesus, da sabedoria e da vida de Cristo Jesus que há em nós como depósito divino.
Que Deus, de uma forma poderosa, fale ao seu coração.
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