segunda-feira, 12 de março de 2012

AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 141

Por: Luiz Fontes

29ª Estação – Hor-Hagidgade (parte 1)

TEXTOS: Nm 33:32; Dt 10:67; Gl 4:19; 6:17; Hb 4:12

Números 33:32 diz:

32 partiram de Benê-Jaacã e acamparam-se em Hor-Hagidgade”.

Segundo a versão Reina Valéria, esse texto está assim:

“Saíram de Beenê-Jaacã e acamparam-se no monte Gidgade.”

Quanto a isso, não há aqui nenhuma dificuldade. Nós vamos fazer uma análise mais detalhada deste nome, desta estação, e acredito que isso vai nos ajudar a entender. Precisamos dar continuidade à sequência do estudo destas estações para que venhamos compreender cada detalhe. Então, como vocês puderam notar, na versão atualizada de João Ferreira de Almeida diz que eles acamparam em Hor-Hagidgade. Mas na versão Rainha Valéria está escrito Gidgade. Trata-se do mesmo lugar. A questão é entendermos como ocorreu essa mudança relacionada à questão das traduções do original hebraico.

Primeiro, há algo muito interessante aqui, porque esta é a última sessão que corresponde à última parte dessas estações. Sabemos que a primeira das quatro sessões dessas peregrinações inicia-se em Ramessés e vai até Elim. Ela representa as experiências iniciais do povo de Deus, aquela primeira fase da vida cristã. E aqui nós temos Israel como exemplo para nós. No Novo Testamento nós vemos o ensino de que essas jornadas de Israel no deserto foram um exemplo para nós, a Igreja do Senhor Jesus. Então, não estamos lendo o Antigo Testamento como uma história. Estamos diante de exemplos dados a nós por Deus tendo em vista as realidades espirituais inerentes ao Novo Testamento.

Assim, as primeiras jornadas representam o primeiro nível espiritual, quando somos como crianças espirituais e aprendemos as primeiras lições da fé cristã. Depois nós temos a segunda sessão que se inicia no Mar Vermelho e vai até Rissa. Nessas estações somos conduzidos a aprender lições mais profundas. Saímos da infância espiritual e avançamos a uma maturidade onde aprendemos lições que nos conduzem a um plano mais elevado em relação à vocação cristã. Aqui começamos a entender o propósito da nossa vocação, o propósito da salvação. Em seguida temos a terceira etapa que começa em Queelata e vai até Mítica, onde são estudadas as estações relativas à liderança cristã, à questão do governo espiritual de Deus por meio do Seu povo. Essas estações são fundamentais para a compreensão do governo de Deus através da vida da Igreja – o que de fato, espiritualmente, é a liderança cristã; princípio de autoridade espiritual no corpo de Cristo, que é a Sua igreja. Depois vamos para Hasmona, que é uma estação de transição, e a partir daqui começa um processo de transição, onde a velha geração começa a dar lugar a uma geração que foi gerada no deserto. Essa geração foi gerada nos campos de Moabe para cruzar o Jordão para entrar na terra prometida.

Tudo isso é muito importante. Essas jornadas que iniciam em Hasmona, as estações que representam essa transição, representam também a vida espiritual num plano mais elevado. Elas nos mostram o caminho do discipulado, a necessidade de deixarmos uma herança para aqueles que vão prosseguir no propósito eterno de Deus, aqueles que vão continuar na responsabilidade de preparar o caminho para a volta do Senhor Jesus.

Então, meus amados irmãos e irmãs, tendo já estudado as lições relativas a Hasmona, Moserote e Benê-Jaacã, chegamos agora à experiência do monte Gidgade (ou, como nós vimos em Números 33:32, Hor-Hagidgade). Mas há ainda um detalhe que precisamos ver sobre essa palavra. Vamos ler Deuteronômio 10:6-7 para que sejamos ajudados a ver mais claramente a questão geográfica, cronológica e também etimológica desta palavra. Vejamos esses textos:

6 Partiram os filhos de Israel de Beerote-Benê-Jaacã para Mosera. Ali faleceu Arão e ali foi sepultado. Eleazar, seu filho, oficiou como sacerdote em seu lugar. 7 Dali partiram para Gudgoda e de Gudgoda para Jotbatá, terra de ribeiros de águas.”

Prestem atenção aqui a essa palavra Gudgoda, porque é a mesma palavra para descrever o nome Gidgade ou Hor-Hagidgade. Prestem muita atenção em tudo isso. O que se chama Hor-Hagidgade em Números, em Deuteronômio é Gudgoda. Não é que sejam dois nomes distintos, pois a palavra Hor-Hagidgade é a mesma palavra Gudgoda, e também a mesma palavra para descrever o monte Gidgade que nós vemos na versão Rainha Valéria, em espanhol. Mas analisando o hebraico vemos que se escrevem da mesma maneira. Essas pronúncias devem-se ao trabalho dos massoretas. Preciso fazer para vocês uma abordagem acerca do trabalho dos massoretas – quem eles eram, o papel que exerceram na história da teologia cristã, especialmente nos escritos antigos.

Os massoretas eram escribas judeus que se dedicaram em guardar e preservar as escrituras que atualmente constituem o Antigo Testamento. Às vezes o termo é usado para falar dos comentaristas hebraicos dos textos sagrados. Esses massoretas substituíram os escribas por volta do ano 500 d.C. até o ano 1.000. A maioria desses estudiosos, desses copistas, permanecia no anonimato, pois muitos não podiam saber quem de fato eram eles, uma vez que eles trabalhavam com muito zelo, com muito cuidado. Mas quando você vasculha a história, descobre que o nome de uma família de massoretas ficou muito bem registrado na história, a família de Bem Asher, a partir da Bíblia, escrita originalmente em hebraico, em geral o Antigo Testamento, que foi copiado com fidelidade pelos escribas judeus do século VI ao X d.C. Esses estudiosos, esses copistas, foram chamados de massoretas.

Durante séculos o hebraico foi escrito apenas com consoantes, o que fazia com que as vogais fossem supridas pelo leitor. Mas quando você estuda a época dos massoretas fica sabendo que a pronúncia correta do hebraico estava se perdendo porque muitos judeus já não eram fluentes nesse idioma. Surgiram, então, um grupo de massoretas na Babilônia, em Israel, que criaram sinais que eram colocados junto com as consoantes para indicar a acentuação e a pronúncia correta das vogais. Pelo menos três sistemas foram elaborados, mas o mais prestigioso foi o dos massoretas em Tiberíades, junto ao mar da Galileia, onde morava a família Bem Asher. Essa família foi tomada de um grande zelo em relação aos escritos antigos. Somente dessa família certas fontes listam cinco gerações de massoretas. Esses homens estavam na vanguarda dos que aperfeiçoavam os símbolos de escrita que melhor expressariam o que eles entendiam ser a pronúncia correta do texto bíblico em hebraico. Para formular esses símbolos eles tiveram que definir a base do sistema gramatical na língua hebraica. Assim, não havia um sistema definido de regras para a gramática da língua hebraica por escrito. Por isso, é cabível dizer que esses massoretas estiveram entre os primeiros gramáticos da língua hebraica. Nós precisamos saber isso. Todos nós cristãos que amamos a Palavra de Deus, que consideramos a Palavra de Deus e desejamos estudá-la com zelo, precisamos saber dessas verdades. O último massoreta de que se tem conhecimento foi Aarão. Ele foi o último massoreta da tradição da família Bem Asher. Foi o primeiro a escrever e copiar essas informações. Creio que isso vai nos ajudar a compreender o que de fato está acontecendo aqui no nosso estudo.

Então, sabemos que foi a parir da época dos massoretas que se iniciou a colocação dos sinais vocálicos nas letras hebraicas. Por isso é que às vezes aparecem escritos como Gudgoda em um texto e Hor-Hagidgade ou monte Gidgade em outros. Mas amados irmãos e irmãs, a expressão Gudgoda, que é a que nós vamos considerar, nos mostra uma chave para a nossa experiência espiritual, para o estudo dessa estação. O que significa essa palavra – Gudgoda? Se a estudarmos na Bíblia veremos com propriedade que ela significa:

ð lugar cortante; penetrar; incisão. Gudigoda nos revela uma obra mais profunda.

Quando estudamos Beenê-Jaacã, vimos a questão de fazer discípulos. Somos ensinados pela Palavra de Deus a fazer discípulos. Não a fazer discípulos a nós, mas fazer discípulos a Cristo, tendo Cristo como padrão, como modelo. Não podemos enterrar todo o depósito de Deus em nossa própria vida, de modo algum. Não podemos encerrar a obra de Deus na nossa vida. Nossa vida não é um fim, nossa vida é um meio. E nós temos que ser zelosos quanto a isso, porque se não somos cuidadosos podemos deixar perder-se aquilo que Deus tem depositado na nossa própria vida. Precisamos compreender que o cristão maduro procura ser um discipulador – procura investir em outros para que Deus possa continuar, através de outros, aquilo que Deus começou na vida dele. Nós temos vários exemplos disso na Bíblia. O cristão maduro tem uma visão clara acerca disso. Moisés, por exemplo, foi para Josué um discipulador e não o formou para si, mas investiu na vida de Josué o depósito de Deus para que em Josué Deus pudesse continuar a mesma obra. A obra não é nossa, a obra é de Deus.

Vejamos também o que Paulo foi para Timóteo. Paulo fez um investimento muito alto na vida de Timóteo. Ele investiu da sua própria vida na vida de Timóteo para que Timóteo pudesse crescer, avançar, prosseguir na direção da vontade de Deus no mesmo ministério. Paulo chega a dizer para Timóteo que transmitisse a outros aquilo que Timóteo recebera dele. A obra de Deus não pode morrer, não pode parar em nós.

Olhemos ainda a vida de João Marcos. Você conhece a vida de João Marcos, sabe que ele foi aquele jovem que se apartou de Paulo e Barnabé na primeira viagem missionária. Mas Pedro tomou João Marcos como filho. Lá em sua primeira carta ele chama João Marcos de filho – “Meu filho” (I Pe 5:13). Os grandes eruditos e estudiosos da Bíblia dizem que o Evangelho de Marcos é o Evangelho de Pedro. E se você fizer um estudo profundo e apurado daquele Evangelho verá claramente a ênfase sobre o ministério de Pedro. Tudo isso é muito curioso, porque Pedro investiu na vida de João Marcos e ele pôde deixar de ser um jovem covarde, inseguro, para se tornar um cooperador entre os apóstolos. Paulo chega a pedir, perto da sua morte, para que lhe trouxessem João Marcos, pois este lhe era útil.

Então, em todos esses exemplos temos uma geração sendo formada para dar continuidade à obra de Deus. Nós precisamos ser zelosos com o propósito de Deus; precisamos entender que Deus está escrevendo Sua história a partir da nossa vida. Essa estação nos revela um avanço, um trabalhar mais profundo do verdadeiro significado espiritual daquilo que significa o discipulado. É um avançar para dentro, é um trabalhar dentro de nós. A vida cristã é profunda, a vida cristã não é medíocre, a vida cristã não é superficial. Tem que haver uma incisão, tem que haver um corte, tem que haver um aprofundamento, tem que haver um trabalhar dentro de nós. Precisamos trazer em nós as marcas do caráter do Evangelho de Cristo. É isso que essa estação nos mostra. Deve estar visível na nossa vida o trabalhar de Deus, a expressão de Deus. Nós não podemos deixar que a nossa história se finde, se apague na sepultura. Deus deseja avançar além da nossa vida. Deus deseja aprofundar em nós. Tem que haver uma expressão clara de que Deus está prevalecendo, de que Deus está avançando. É o que vamos aprender nessa estação. Houve aqui um trabalhar mais profundo, houve um corte. Algo tem que penetrar, tem que haver marcas, tem que haver estigma na nossa própria vida.

Paulo disse em Gálatas 6:17:

“trago em meu corpo as marcas de Cristo.

Quais são as marcas que existem na nossa vida? O que pode ser visto em nós? O que pode ser claro na nossa vida em termos de expressão cristã?

Paulo também disse lá na epístola aos Gálatas 4:19:

“Filhinhos, por quem de novo sofro dores de parto, até ser Cristo formado em vós”.

“Cristo formado em nós”. Esta incisão, este trabalhar profundo, esta expressão. Essa deve ser a característica prática, essencial da vida cristã. Essa é a realidade viva daquilo que significa ser cristão. Nós não podemos ser negligentes quanto a isso, não podemos ser tão superficiais quanto a isso, porque a vida cristã tem que ter essa característica, tem que ter essa realidade. E vemos aqui, em Gudgoda, incisãoum corte, uma aprofundamento. A Palavra de Deus é uma espada que corta profundamente (Hb 4:12). Ela penetra profundamente, trabalhando Cristo em nós, trabalhando a Cruz, porque a Cruz e a Palavra são as duas ferramentas do Espírito Santo para moldar o nosso caráter, para moldar a nossa vida. A Cruz e a Palavra. Isso é extremamente significativo, claro e prático na nossa experiência cristã. Tem que ser, porque toda a obra de Deus é caracterizada pela Palavra e a Cruz. Aqui nós vemos os dois aspectos: a espada viva e eficaz, penetrando, trabalhando, formando, gerando Cristo em nossa vida, pois nós não podemos viver uma vida cristã superficial, nós não podemos passar a vida toda na superficialidade. Nós não podemos passar a vida toda mendigando. Temos que viver a vida cristã no plano mais elevado. Nós temos que viver a vida cristã mais profunda.

Agora, saímos da esfera do discipulado para o discipulador. Agora vamos ter que fazer discípulos. Agora você vai ter que ter essa marca, essa característica da expressão de Cristo ser formado na sua vida, de Cristo ter uma expressão viva no seu falar e no seu andar. Você tem que viver esse padrão, tem que viver nesse nível, porque é isso que se exige de nós.

Que Deus venha de uma forma poderosa falar ao seu coração. Que Deus venha revelar a você aquilo que Ele está fazendo com você, aquilo que Ele reivindica na sua vida, aquilo que Ele quer de você. Que DEUS fale a nós; que a Sua Palavra tenha total preeminência de trabalhar Ele mesmo em cada um de nós.

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