AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 81
Por: Ir. Luiz Fontes
17ª Estação – Libna (parte 1)
Textos: Nm 33:20; 14:40-45; 15:1-31 e Dt 1:45-46; 2:1-8
Nm 33:20 diz:
“E saíram de Rimom-Perez e acamparam em Libna”.
A partir daqui vamos estudar a 17ª estação da peregrinação do povo de Israel pelo deserto. Com a ajuda da Palavra do Senhor, através do Seu Espírito, estudando este capítulo 33 e versículo 20 do livro de Números, nós encontramos mais uma estação – Libna. Antes que entremos no aspecto principalmente espiritual, desejo fazer uma exposição da realidade geográfica e histórica de Libna, para que possamos entender melhor essa estação.
Ao observarmos um mapa da Península do Sinai, temos uma visão clara de toda essa região até a terra de Canaã, na costa do Mar Mediterrâneo, chegando ao Mar Grande. Esta é a Costa Baixa, de baixa altura, posto que está ao nível do mar. Um pouco mais adentro, aproximadamente uns 15 km, há uma cordilheira nessa região que se levanta até a parte sul onde está o Egito, pelo lado ocidental. Chegando ao pé dessa cordilheira, esse lugar chama-se Sefelá ou terras baixas. Ali em Sefelá existe uma cidade chamada Libna, que se localiza no limite, na divisa com o Egito. Este é um lugar muito interessante, é uma região muito importante. Especialmente nos livros de Reis e de Crônicas encontramos algumas menções de Libna, porque essa era uma região fronteiriça, e por isso muitos reis tentaram conquistá-la.
O nome Libna se deve ao fato de estar situada ao pé do monte. Se você fosse visitar aquela região, iria ver que ao pé do monte daquelas cordilheiras havia umas pedras brancas, o que leva alguns estudiosos a acreditarem ser a origem do nome Libna. Porém, existe um outro significado que os estudiosos também consideraram, porque o nome Libna vem de Libner, em hebraico, que era o nome dado a uma árvore conhecida como Choupo Branco ou Populos Alba. Essa árvore expele uma resina branca e leitosa e talvez daí venha a palavra Libne ou Libner, em hebraico, que significa brancura.
O contexto desta estação está em Nm 14:40-45. Então, se você quer estudar Libna, primeiro deve olhar o contexto. Depois de ler Nm 33:20, você deverá analisar os vv. 40-45 de Nm 14, assim como Dt 1:41-46, que é a repetição da mesma situação encontrada em Nm 14:40-45, que já estudamos, em Rimom-Perez, a 16ª estação.
Agora, para entender essa estação, compreendendo melhor todo o contexto, é necessário ler vários textos nesses dois livros. Lembramos que quando esteve em Rimom-Perez, o povo de Israel tentou avançar, contudo Deus não foi com eles. Foram derrotados, houve uma grande tragédia. Neste ponto termina o capítulo 14 e se inicia o capítulo 15 de Números – aqui nós temos a estação de Libna. Assim, antes de lermos os textos de Números 15, é bom lembrarmos que os filhos de Israel foram derrotados em Rimom-Perez. Quando você termina de ler esses últimos versículos de Números 14 e inicia o capítulo 15, não vê nenhum sinal de uma outra estação, mas, atentando para o final de Dt 1, há de se notar os sinais cronológicos dessa estação.
Dt 1:45 diz assim:
“Tendo voltado, chorastes diante de Jeová; porém Jeová não vos ouviu a vós, nem inclinou os ouvidos a vós.”
Esse texto está relacionado com Rimom-Perez. Notem o versículo 46:
“Assim ficastes muitos dias em Cades, segundo os dias que ali ficastes.”
Neste ponto precisamos fazer uma análise textual. Veja que Cades, neste versículo, refere-se não à cidade de Cades-Barnéia, porque eles ainda não haviam chegado à cidade de Cades. É interessante saber que ao redor da cidade de Cades havia o deserto de Cades e, em várias estações, eles estiveram nesse deserto. Se você visitar essa região, notará que muito desses lugares existem até o dia de hoje. Alguns nomes como Razerote, Quibrote-Hataavá, que temos estudado em estações passadas, foram nomes que eles mesmos colocaram depois de passaram por ali. Às vezes chegavam em lugares que já existiam, e às vezes em lugares onde tinham que acampar e, conforme o que ocorria ou segundo alguma coisa que lhes acontecia, nomeavam para recordar a lição e a experiência que aprendiam.
Então, quando em Dt 1:46 diz “Assim ficastes muitos dias em Cades”, trata-se de uma referência a várias jornadas que passaram no deserto de Cades. Em Dt 2:1 diz:
“Então voltamos e partimos para o deserto pelo caminho do mar Vermelho, como Jeová me falou; e muitos dias rodeamos o monte Seir.”
É importante lembrar que o Senhor lhes havia dito tanto em Ritma como Rimom-Perez que deviam voltar pela região do Mar Vermelho. Não se refere aqui ao Mar-Vermelho, pelo golfo de Suez. Quando eles saíram do Egito e atravessaram o Mar-Vermelho, foi nessa região do Golfo de Suez, mas aqui o Senhor está falando para eles retornarem pelo Golfo de Acaba. Eles estiveram dando voltas aqui por 38 anos, porque lá em Ritma não quiseram entrar na terra, quando os 12 espias voltaram e eles foram incrédulos (Nm 14:2-4). Depois nós vemos em Nm 14:40-45 que em sua auto-confiança, em sua presunção, e tendo com fundamento a incredulidade de Nm 14:2-4, eles tentaram ir, mas o Senhor não foi com eles e foram derrotados. É necessário você saber isso, caso contrário você não vai ter uma visão clara do estudo da Palavra de Deus. Então vemos aqui esses aspectos adicionais, os quais não podemos esquecer, pois são de grande significado para nossa compreensão no estudo dessas 42 estações. Quando você lê Dt 1:46, “ficastes muitos dias em Cades” (lembramos que aqui não é a cidade de Cades-Barnéia, e sim o deserto de Cades), e depois lê Dt 2:1, “e muitos dias rodeamos”, você deve saber que esses “muitos dias em Cades” e “muitos dias rodeamos”, tudo isso, equivale a trinta e oito anos, quando, na verdade, toda essa viagem teria que durar dois anos e onze dias apenas.
Ainda ao ler Dt 2:1-3,8, você terá uma visão clara disso. Observe bem:
“1 Então voltamos e partimos para o deserto pelo caminho do mar Vermelho, como Jeová me falou; e muitos dias rodeamos o monte Seir. 2 Jeová disse: 3 Assaz tendes andado em roda deste monte; voltai-vos para o norte.”
Versículo 8:
8 —Assim rodeamos o país de Edom, deixando o caminho que vai de Elate e Eziom-Geber até o mar Morto e seguindo o caminho que vai até o deserto de Moabe.
Veja que outra vez eles passaram pelo deserto de Arabá.
Nos textos acima encontramos uma cidade, um lugar, uma estação, chamada Eziom-Geber, que foi a última parada deles antes de chegarem ao deserto de Sim. Eziom-Geber estava localizada próximo a Elate, a testa do Golfo de Ácaba. Precisamos fazer uma análise mais detalhada aqui, porque Eziom-Geber é a 32ª jornada e, entre Libna e Eziom-Geber temos 15 jornadas, as quais não estão mencionadas nesse versículo 8 de Deuteronômio 2. Então, é muito importante estudar a Bíblia assim, é algo muito impressionante porque você é ajudado a compreender como foi que essas jornadas aconteceram.
Quando você toma aquela frase “muitos dias” (Dt 1:46) e depois “muitos dias rodeamos o monte Seir”, quando você entende tudo isso, você tem uma visão clara e geográfica, o que nos leva a entender a localização de cada jornada. Eles não saíram de Libna e foram diretamente para Ezom-Geber. Sendo Libna a 17ª estação e Eziom-Geber a 32ª, logicamente eles teriam de passar por Rissa, a 18ª, Queelata, 19ª, Monte Sefer, 20ª, Harada, 21ª, Maquelote, 22ª, Taate, 23ª, Tera, 24ª, Mitca, 25ª, Hasmona, 26ª, Maserote, 27ª, Benê-Jaacã, 28ª, Hor-Hagidgade, 29ª, Jotbatá, 30ª, Abrona, 31ª, e Eziom-Geber, a 32ª estação. Ao lermos Nm. 33:21-36 veremos todas essas estações (da 17ª à 32ª). Todas essa estações estão resumidas em Dt de 1:46 a 2:1-8. Veja Dt 1:46:
“Assim ficastes muitos dias em Cades”.
Nunca é demais ressaltar que Cades neste texto é o deserto de Cades. Em Dt 2:1 lemos:
“Então voltamos e partimos para o deserto pelo caminho do mar Vermelho” – aqui é o Golfo de Ácaba – “como Jeová me falou; e muitos dias rodeamos”
Você percebe? “Permanecemos muitos dias” e “muitos dias rodeamos”. Por quê? Porque todas estas quinze estações ocorreram aqui nesses versículos. Então tudo isto é muito importante e você tem que entender.
As lições da estação de Libna concentram-se em Nm 15:1-31. Esse capítulo é muito importante porque nos mostra a provisão de Deus em Cristo. Libna fala de brancura. Por causa da incredulidade, por causa da presunção, por causa da autoconfiança, aquele povo não pôde entrar na terra. Agora Deus mostra-lhes um caminho, um meio de poder entrar na terra. Nós sabemos que essa terra fala da plenitude de Deus em Cristo e esta é a verdade quanto a nossa vida cristã hoje, quanto a nossa peregrinação. Nós temos que atentar para essa verdade, porque muitas vezes falhamos, erramos, somos tomados pela presunção, pelo orgulho, pela soberba. Muitas vezes nós somos consumidos por uma religiosidade profana que não agrada a Deus; muitas vezes confiamos em nós mesmos, pois ainda não fomos levados ao fim de nós mesmos. Necessitamos do trabalhar de Deus, necessitamos de uma obra profunda de Deus em nós, necessitamos conhecer o poder de Deus em Cristo nos resgatando. Nós precisamos conhecer a misericórdia de Deus, porque a história daquele povo revela muito a nossa própria condição espiritual, nosso próprio contexto espiritual, no qual vivemos um evangelho de consumo, um evangelho centrado nas nossas preferências, um evangelho “ao gosto do freguês”, um evangelho que destitui Deus e coloca o homem no centro. Todo este tipo de comportamento cristão, atualmente, demonstra a nossa presunção, o nosso orgulho, a nossa soberba. Nós precisamos ser transformados, nós precisamos de uma obra profunda de Deus no nosso íntimo. Precisamos que Deus nos resgate completamente. Esta é a lição que você aprende em Nm 15.
Você vai ver que essas ofertas que Deus pede aqui revelam os aspectos de Cristo, da sua própria vida, da sua entrega ao Pai; revelam o fato de Ele ter encarnado, de Ele ter vivido uma vida santa diante do Pai, uma vida sem pecado; que o Pai o fez pecado por nós para que nele fossemos feito justiça de Deus, a Sua própria justiça, a Sua própria Vida sendo oferecida como sacrifício ao Pai pela nossa própria vida contaminada pelo pecado, uma vida completamente encharcada de iniquidade. Necessitamos da obra de Cristo em nós, necessitamos que Ele nos lave pelo Seu sangue para que nós sejamos purificados desde a nossa consciência. Nossa própria vida em si, nosso comportamento, nossa conduta, todo nosso ser, precisa ser lavado pelo sangue de Cristo Jesus. Esta é a lição de Libna. Este lugar revela-nos isso agora – todo esse capítulo 15 do livro de Números. Encorajo você a ler todo esse capítulo para que possa compreender todo o propósito de Deus em Cristo, aquilo que Deus em Cristo está realizando em sua vida, aquilo que Ele cumpriu em Cristo. Ele deseja que você possa absorver isso pela fé. Aceitar isso pela fé.
A salvação é uma experiência estupenda, a salvação é uma expressão grandiosa e gloriosa. No capítulo 2 da Epístola aos Hebreus vemos o escritor chamá-la de “tão grande salvação”, porque aquilo que Cristo fez, Ele o fez uma vez para sempre; aquilo que Ele cumpriu, cumpriu uma vez para sempre. E você tem que olhar para isso e entender que, apesar de muitas vezes errarmos, de muitas vezes falharmos, de termos pecado, precisamos compreender que o poder do sangue de Cristo Jesus nos purifica, nos limpa de toda a iniquidade, lava a nossa vida tão perfeita, tão completamente, que as acusações de satanás em face às nossas falhas não nos atingem mais. O sangue de Cristo Jesus nos purifica, nos liberta, nos transforma, nos atrai, nos ganha, opera poderosamente dentro do nosso ser.
Essa é a obra de Deus. Foi isso que Ele fez, foi isso que Ele realizou por você lá na cruz. E nós temos que atentar para essa lição de Libna que mostra o quanto tudo isso tem que ser prático no nosso viver. Não podemos viver um Evangelho de aparências, temos que viver um Evangelho centrado na cruz, um evangelho centrado naquilo que Cristo fez, naquilo que Cristo é. Nós não podemos viver fora disso, senão estaremos sempre em derrota, nunca vamos viver uma vida de vitória em Cristo, seremos medíocres nas nossas condutas – e nós não podemos viver assim.
Essa é a lição de Libna. É tudo isso que você vai ver no capítulo 15 do livro de Números. Todos estes sacrifícios revelam aspectos da obra de Cristo, tudo aquilo que Ele realizou para satisfação do coração do Pai em nosso favor. Prosseguirei falando sobre isso. Espero que seu coração esteja aberto para poder receber aquilo que Cristo fez, aquilo que Cristo está fazendo pelo poder do Espírito e por meio da Palavra, nos conduzindo para Sua própria glória mediante a obra da cruz, mediante aquilo que está consumado lá na cruz do Calvário há dois mil anos atrás. Você precisa estar completamente claro sobre isso.
Que Deus lhe abençoe!
Nenhum comentário:
Postar um comentário