terça-feira, 23 de novembro de 2010

AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 82

17ª Estação – Libna (parte 2)

Por: Luiz Fontes

Textos: Nm 33:20; 14:30; 15:2 e Ef 2:1-8


Vamos prosseguir estudando essa 17ª Jornada. O povo de Israel está agora em Libna (Nm 33:20).
Quando você estuda Números 14, que é o contexto desta estação, você vê que aquele povo havia sido derrotado, por causa da atitude de incredulidade que tiveram para com Deus lá em Ritma, a 15ª estação. Depois, em Rimom-Perez, a 16ª estação, eles também foram derrotados pelos filisteus. Agora, na 17ª estação, em Libna, que significa “brancura” – “algo claro, branco” –, aprendemos sobre “o resgate de Deus”. Números 15, capítulo a partir do qual vamos dar continuidade ao estudo desta estação, vem nos mostrar isso.
Quero que você observe dois textos muito interessantes. Em Nm 14:30, Deus diz para o povo:

“não entrareis na terra a respeito da qual jurei que vos faria habitar nela, salvo Calebe, filho de Jefoné, e Josué, filho de Num.”

Vejam o que o Senhor diz: “não entrareis na terra”. Agora, Nm 15:2:

“Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando entrardes na terra das vossas habitações, que eu vos hei de dar.”

Então, primeiro Deus diz: “não entrareis”; depois Ele diz: “quando entrardes”. Ora, o que isso significa? Para nós, no aspecto espiritual, significa muito. Primeiro, com incredulidade, presunção, auto-suficiência – o que vimos nas duas estações anteriores, Ritma e Rimom-Perez –, ninguém poderá entrar na terra. E como é que se entra, então? Temos a resposta lendo o capítulo 15 do livro de Números, focando o Novo Testamento, pois este capítulo de Números lança luz ao Novo Testamento, revelando para nós que poderemos entrar, pois o meio de Deus é Cristo – e é sobre isso que iremos aprender hoje. Toda aquela terra de Canaã revela Cristo. Somente poderemos entrar por meio de Cristo, Aquele que é a dádiva de Deus, como também, para nós, a habitação de Deus.
Vivendo uma vida de incredulidade, de presunção, de autoconfiança, nunca poderemos estar em Cristo. Nosso Deus, não raramente, permite que Seu povo passe por dificuldades, por lutas – e muitas lutas! –, com o propósito de nos levar a conhecer nossas próprias misérias. E quando você pode ver isso, quando você passa por duras provas e pode enxergar essa realidade, é sinal de maturidade. Muitas vezes, as experiências duras pelas quais passamos têm em vista o tratamento de Deus com a nossa vida, com a nossa própria carne, com a nossa presunção, com a nossa incredulidade. É sobre isso que vamos aprender aqui. Além disso, devemos notar que Deus não somente permite que passemos por dificuldades, mas também nos revela “o socorro bem presente na angústia” e nos traz a verdadeira alegria aos nossos corações, manifestando Sua fidelidade. É glorioso, quando você tem o privilégio de ver isto: Em meio a uma situação de provação, você experimentar a graça de Deus. Imagine, quanto louvor gera em nosso coração; o quanto podemos engrandecer o Seu nome por todas as coisas invisíveis e imperceptíveis do nosso coração, escondidas lá dentro, que são trazidas à luz, quando passamos por situações que muitas vezes revelam nossa incredulidade, arrogância, soberba, nossa própria carnalidade. E o Senhor permite tais situações tendo em vista que cheguemos ao fim de nós mesmos, para que não venhamos viver uma vida fazendo provisão para nossa própria carne.
No Novo Testamento, na Epístola aos Efésios, capítulo 2, vemos que primeiro Paulo diz:

“E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que, noutro tempo, andastes, segundo o curso deste mundo(...).”

Então, lendo os versículos de 1 a 3, você vê a profundidade de uma vida pecaminosa, alienada, distante de Deus, vivida toda segundo o curso do mundo, segundo o espírito da potestade que habita nos filhos da desobediência. Mas, ao introduzir os versículos 4 e 5, ele diz:

“4 Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, 5 estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos).”

Aqui você estuda três grandes temas que envolvem toda a Bíblia: a misericórdia, o amor e a graça de Deus. A misericórdia está relacionada a nossa condição presente, isto é, o estado de decadência em que o homem se encontra, sem Deus. É justamente o que encontramos nos versículos supracitados. Quando chegamos a estudar o amor de Deus, somos conduzidos pelo Espírito Santo – porque só podemos compreendê-lo com a ajuda do Espírito Santo – a mergulhar naquilo que é mais profundo em Deus, naquilo que jamais conseguiremos compreender por nós mesmos. O amor de Deus é infinito, incalculável, e o homem jamais chegara à compreensão total do que é o amor de Deus. O amor de Deus é a parte mais profunda do Seu ser; é aquilo que é mais profundo em Deus. Todo o ser de Deus é amor.

Então, você vai perceber que todo esse capítulo 15 de Números vai nos falar do amor, da misericórdia e da graça de Deus. E Paulo também trata desse profundo amor nesses versículos que acabamos de ler em Efésios 2:4-5. Veja que ele começa com a seguinte frase: “Mas Deus...”. Que frase linda! Temos aqui uma conjunção que sugere um contraste e, também, estabelece uma conexão. Temos então duas coisas: a conexão e o contraste. E com essas duas palavras – “Mas Deus” –, chegamos à introdução daquilo que é a mensagem do Evangelho, a mensagem cristã, a mensagem peculiar e específica que a fé cristã tem para nos oferecer. Num sentido, essas duas palavras – “Mas Deus” – contem em si, e por si, a totalidade do Evangelho de Cristo Jesus, do Evangelho que os apóstolos pregaram.
Quando diz “mas”, ele introduz um ponto de transição entre o estado decaído e desesperador que vivíamos e a esperança e consolação que temos em Cristo. Esta é a verdade do Evangelho para nós. Assim, quando Paulo diz “Mas Deus”, ele está revelando a totalidade da vida cristã.
Vimos que primeiro Deus disse “Não entrarão”, e depois que “deveriam entrar”. Sabemos que Deus não é complacente com o pecado, pois Ele tratou com aqueles pecadores. Sempre que o povo pecou, teve que ser tratado. Toda a congregação foi contaminada pela rebeldia, pelo pecado daqueles dez espias, e, assim, vimos o julgamento de Deus quando caíram mortos, derrotados pelos filisteus. De certo modo, aquela derrota atingiu todo o povo de Israel. Podemos até dizer que ela atingiu Moisés, Arão, Calebe e Josué, porque eles viram seus irmãos mortos ali. Foi uma tragédia! Toda aquela nação agora estava debaixo daquele pecado, debaixo da consequência daquele pecado, assim também como a Bíblia diz que “por causa do pecado de um só homem, todos pecaram” (Rm 5:12). Todos nós herdamos a natureza pecaminosa através dos genes e cromossomos de Adão.
Então, tendo dito antes que não poderiam entrar na terra, Deus agora diz que eles a possuirão, que poderão entrar. Mas Ele também vai estabelecer o princípio para que isso aconteça. Isso porque com sua incredulidade, autoconfiança e com suas próprias armas, eles não poderiam entrar. Eles só poderiam entrar através do meio que Deus estabeleceu – não apenas para eles, mas também para nós, porque esta é a realidade cristã a qual estamos vivendo à luz das lições que temos que aprender nessas jornadas. Nós também temos que entrar e, para isso, Cristo é o caminho. Assim, aprendemos aqui sobre o que é a misericórdia de Deus. A misericórdia de Deus se manifesta por causa da pobreza da nossa condição.
Mas também temos que aprender sobre a graça de Deus, pois Sua graça nos fala da glória radiante da posição que agora nós temos na salvação em Cristo Jesus. O sentimento que Deus tem para conosco quando somos pecadores é misericórdia. E a obra que Deus realiza por nós, tornando-nos Seus filhos, é graça. A misericórdia vem do amor e resulta na graça. É isso que aprendemos no Novo Testamento e é isso que esse capítulo 15 de Números vai nos mostrar.
Aqui em Números você verá vários sacrifícios, vários níveis de sacrifícios. E isso é importante, porque ao ler sobre esses sacrifícios, você vai aprender que eles nos falam de aspectos da obra de Cristo, daquilo que Ele realizou para satisfação da justiça de Deus; para que eu e você fôssemos aceitos como filhos de Deus; para que a nossa culpa fosse removida; para que os nossos pecados fossem perdoados; para que a Sua cruz se tornasse em nossa vida a expressão da Sua vitória e da vida que temos que viver para agradar a Deus. Esta é a verdade, este é o ensino e é tudo isso que aprendemos aqui. Ao abrir esse capítulo 15, você será confrontado com essa maravilhosa realidade.
Primeiro vimos uma sentença solene: “Não entrareis”. Temos aqui uma lição: a lição do quanto somos tardios em aprender; do quanto não conseguimos enxergar; do quanto somos indignos; do quanto somos carentes; do quanto necessitamos da misericórdia de Deus; do quanto não podemos confiar na nossa própria carne. Esta é uma lição que temos que aprender. Por outro lado, temos estas palavras: “Quando entrardes na terra das vossas habitações que eu vos hei de dar”. Aqui nós temos a grande e preciosa lição: seguramente, temos aqui a salvação que vem do Senhor. Salvação é um ato soberano de Deus.
Nessas duas solenes declarações, podemos aprender sobre o fracasso do homem e sobre a fidelidade de Deus. Encarando o assunto do ponto de vista humano, a sentença é “Não entrarei na terra”. Mas se a encaramos do ponto de vista de Deus, podemos dizer “Vamos entrar”. Porque a salvação é uma de Deus, uma obra segura. A salvação que Deus nos deu não é uma salvação para um final de semana, ela é uma salvação eterna. Em nós, por natureza, habita o fracasso. Não nascemos pecadores eleitos, nascemos pecadores condenados, estávamos condenados. Mas (não esqueça) Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do seu amor com que nos amou, estando nós ainda mortos nos nossos delitos e pecados, nos deu (Ele, Deus, nos deu) vida juntamente com Cristo (pela graça sois salvos). E isso não vem de nós (Ef 2:8 nos diz), é dom de Deus. O homem fracassa, mas Deus é fiel. O homem coloca tudo a perder, mas Deus restaura tudo. As coisas que são impossíveis aos homens, são possíveis a Deus. Graças a Deus que o Evangelho é assim; graças a Deus que a nossa salvação foi assim – um ato soberano de Deus. Que você possa compreender isso. Esta é a lição de Libna.
Aqui no capítulo 15 de Números vamos aprender isso, sobre a restauração de Deus, sobre a purificação de Deus. Estávamos imundos, vivíamos uma vida imunda, uma vida toda imaculada pelo pecado. Mas fomos lavados, completamente, pelo sangue de Cristo Jesus. E você tem que compreender isso. Compreender que a obra de Deus é tão profunda em você pelo sangue de Cristo. E quando Deus olha para você Ele vê a obra de Cristo. E, segundo essa perspectiva de Deus, Ele vê essa obra consumada nEle. Nossa redenção, nossa salvação, já está consumada em Deus. Deus é eterno. O passado, o presente e o futuro ocorrem instantaneamente dentro dEle, e Ele vê em nós essa obra consumada. Ele já nos vê tão puros, como é o Seu filho Jesus – sem mácula, sem ruga, nenhuma imperfeição do próprio pecado.
Graças a Deus, porque esta é a salvação em Deus, esta é a salvação que está consumada no próprio ser de Deus. E nós O estamos vendo hoje, pelo Seu Espírito Santo, operar esta salvação, dia após dia, de glória em glória.

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