Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito, e de juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. Hebreus 4:12
terça-feira, 23 de novembro de 2010
AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 83
17ª Estação – Libna (parte 3)
Textos: Nm 33:20; 14:30; 15:2
Estamos estudando a 17ª estação, Libna. Sabemos que na estação anterior a essa – Rimom-Perez – Deus diz para os filhos de Israel (Nm 14:30):
“Não entrareis na terra a respeito da qual jurei que vos faria habitar nela, salvo Calebe, filho de Jefoné, e Josué, filho de Num.”
Na 16ª estação, Deus diz que eles não iriam entrar na terra. Mas, quando avançam um pouco e chegam a Líbna, a 17ª estação (Nm 33:20), Deus diz (Nm 15:2):
“Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando entrardes na terra das vossas habitações, que eu vos hei de dar.”
Então, primeiro vimos Deus dizendo: “Não entrareis na terra”. E agora Ele diz: “Entrareis”. Irmãos e irmãs, vamos estudar sobre isso.
Quando em Nm 14:30 o Senhor diz “não entrareis”, nós temos o lado sombrio e humilhante; o lado que revela nosso fracasso, nossa queda, nossa herança pecaminosa, nossa vida em Adão. Nascemos como pecadores condenados, não como pecadores eleitos para o céu. Nascemos condenados ao inferno.
Mas, graças a Deus que Ele também diz: “Entrareis”. Há também esse entrareis. E por que nós temos essa verdade? Porque temos agora uma oferta em Cristo, uma proposta em Cristo. Esta é a salvação. Cristo entrou em cena e, nEle, tudo está assegurado para a glória de Deus. É o propósito de Deus constituir Cristo como cabeça sobre todas as coisas, e Ele nos deu Cristo. Este é o plano de Deus e não há coisa alguma, em que Adão tenha falhado, que Cristo não tenha restaurado. Tudo está estabelecido sobre uma nova base, sobre um novo fundamento – Cristo. Ele é O cabeça de uma nova criação; o herdeiro de todas as promessas que Deus fez a Abraão, a Isaque, a Jacó.
Voltando à Palavra, percorrendo-a desde Gn 11, vemos que Deus fez uma promessa a Abraão. Ele ratificou esta promessa a Isaque e a Jacó. Mesmo estando os filhos de Israel escravos no Egito, Deus separou Moisés e o levou ao Deserto de Midiã. Ali, Ele o preparou através do silêncio, através do tempo, da obscuridade. E quando Moisés já tinha oitenta anos, Deus lhe apareceu e revelou o Seu plano – não todo de uma vez. Passo a passo, Moisés foi conhecendo este maravilhoso plano de Deus. E, na 15ª estação, Ritma, quando o povo estava prestes a entrar na terra, o vemos na seguinte situação: o povo não quis entrar, foram incrédulos. Em seguida, na 16ª estação, Rimom-Perez, eles foram presunçosos, autoconfiantes, e fracassaram – foram julgados. Ali, muitos caíram mortos, pois tentaram tomar a terra na sua própria força. Há um meio. Nós, por nós e de nós, não temos mérito algum para poder alcançar a salvação. Salvação é um dom de Deus. Salvação é uma proposta em Cristo. Somente em Cristo nós poderemos ser salvos. Por isso, o Senhor Jesus é o herdeiro de todas as promessas que Deus fez. O governo de Deus está sobre Cristo e somente Ele é digno de toda glória. Não podemos ver a salvação fora de Cristo.
Assim, ao olharmos para a Palavra de Deus, perceberemos que Adão falhou, fracassou, mas o último Adão – Cristo – realizou uma obra perfeita na Cruz do Calvário. E, agora, Deus diz que sim, que nós podemos entrar. Primeiro, em Nm 14:30, vimos Deus dizendo: “Não entrareis na terra”. Agora, em Nm 15:2, vemos que Ele diz: “Sim, vocês vão entrar”. Em Adão nós temos o “não”; em Cristo nós temos o “sim”. Amados irmãos e irmãs, prestem atenção: não existe “não” quando se trata de Cristo. Tudo em Cristo é “sim”. NEle tudo está divinamente estabelecido, tudo está consumado. E, porque é assim, Deus pôs o Seu selo, o selo do Espírito Santo, que todos os cristãos agora possuem. Vejam o que diz 2Co 1:19-22:
“19 Porque o Filho de Deus, Cristo Jesus, que foi, por nosso intermédio, anunciado entre vós, isto é, por mim, e Silvano, e Timóteo, não foi sim e não; mas sempre nele houve o sim. 20 Porque quantas são as promessas de Deus, tantas têm nele o sim; porquanto também por ele é o amém para glória de Deus, por nosso intermédio. 21 Mas aquele que nos confirma convosco em Cristo e nos ungiu é Deus, 22 que também nos selou e nos deu o penhor do Espírito em nosso coração.”
Percebem? Em Cristo não existe não. Em Cristo existe sim. Poderemos entrar sim.
Então, irmãos e irmãs, as primeiras linhas do capítulo 15 de Números devem ser lidas à luz de todo o Evangelho de Deus, de toda a Palavra de Deus, toda a Bíblia Sagrada. Faz parte de toda a história dos caminhos de Deus com o Seu povo neste mundo. Vejam que em Nm 14 Israel havia perdido todo o direito à terra. Eles mereciam ser mortos ali mesmo no deserto, mereciam cair mortos naquele deserto. Mas, amados, a preciosidade da graça de Deus é que Ele, agora, estabelece o meio pelo qual pudessem entrar naquela terra. Sabemos que Deus levantou uma geração nova que a possuiu. Deus levantou uma geração que pôde conquistá-la. Mas aquela conquista da terra era apenas um passo, porque a verdadeira terra que Deus estava dando para eles não era Canaã, era a verdadeira e sublime posse espiritual que encontramos nos capítulos 3 e 4 da Epístola aos Hebreus: o repouso de Deus. Nada pode ser mais abençoado e mais certo do que tudo isso.
Deus sobrepõe-se a todas as nossas falhas, a toda a nossa pecaminosidade e a todas as nossas fraquezas. Ele se sobrepõe a tudo aquilo que fazemos por nós mesmos, de nós mesmos, não o agradando. Ele age tão poderosamente! E foi o que Ele fez aqui em Nm 15. De uma maneira súbita, Deus reage, age, toma uma posição clara e firme para poder mostrar para o povo de Israel a Sua misericórdia e a Sua graça. E é justamente isso que Ele está fazendo. Isso é muito sério para nós. É algo muito sério encarar a salvação desta perspectiva. É inteiramente impossível que uma simples promessa de Deus não seja cumprida. Todas as Suas promessas irão se cumprir. Seria possível que a conduta dos descendentes de Abraão, daqueles israelitas, frustrasse o propósito eterno de Deus? Ou impedisse o cumprimento das promessas incondicionais que Deus havia feito a Abraão, a Isaque e a Jacó? Será que Deus iria parar no meio do caminho porque aqueles homens foram incrédulos, por que aqueles dez espias foram incrédulos e semearam um espírito de incredulidade no meio do povo? Isso é impossível. Se a geração que saiu do Egito recusou-se a entrar em Canaã, o Senhor poderia suscitar até mesmo pedras. Da areia daquele deserto Ele poderia suscitar filhos para poder possuir a terra, trazer uma nova descendência. Ele poderia fazer isso para sustentar suas promessas. Isso é que nos ajuda a entender o caráter de Deus, a entender esse capítulo 15 do Livro de Números, a Sua beleza, a Sua força incontestável. Vejam que esse capítulo se sucede ao fracasso da nação de Israel no capítulo 14. Isso é muito lindo, trata-se de um dos quadros mais extraordinários do Antigo Testamento: poder contemplar a misericórdia de Deus, poder contemplar a beleza do amor de Deus. Vemos aqui como que o sol da justiça raiando para a nação de Israel. Antes vimos as nuvens sombrias e ameaçadoras do julgamento de Deus. Mas naquele momento, Deus levantou-se para confirmar as Suas promessas, para confirmar a Sua palavra.
Precisamos entender que Deus é fiel, Ele nunca se arrepende dos Seus dons e nem da Sua vocação. Por isso, ainda que uma geração incrédula pudesse murmurar e se rebelar milhares de vezes, nada o impediria de alcançar o Seu propósito. Apesar de mim, apesar de você, meu irmão e minha irmã, entendam que Deus alcançará o Seu propósito. Por isso precisamos humilhar o nosso coração diante dEle. Não podemos permitir ser reprovados. Não podemos dar lugar à presunção, à incredulidade em nosso coração. Precisamos da ajuda do Espírito Santo. Que ele nos tome pela mão e nos guie nessa jornada, para que não venhamos viver uma vida que não corresponda com o caráter de Deus. Eis aqui o lugar divino, o repouso da fé em todo tempo. Aqui encontramos abrigo seguro para nossa própria vida, em meio ao naufrágio fruto da nossa própria incredulidade, das nossas disposições naturais, as quais, muitas vezes, permitimos que se manifestem contra a fé, contra a vontade de Deus, contra o plano e o propósito de Deus. Como somos carentes da ajuda de Deus, como necessitamos de que o Espírito Santo nos tome e nos conduza por essa jornada espiritual, a qual Deus nos chamou a viver nessa geração.
Amados, sempre que o homem entra em cena, ele fracassa. Sempre que o homem tenta, de si e por si mesmo, agradar a Deus, ele fracassa. Deus levantou cristo em ressurreição e todos nós, que cremos nEle, somos colocados sobre esta base, uma base inteiramente nova. Nós somos unidos a Ele, ao Senhor Jesus ressuscitado e glorificado, e, assim, permanecemos nEle. Nós estamos sendo edificados nEle, porque somente Cristo agradou a Deus. Toda a vida que agradou a Deus é Cristo. Somente Cristo agradou a Deus e Sua vida é a nossa vida. Tudo está posto sobre essa base e ninguém pode impedir isso. Eu e você estamos em Cristo, temos que compreender a grandeza, a majestade, a maravilha de estarmos nesta posição irrevogável. Mas, para isso, temos que ter consciência, compreender tudo isso, entender essa verdade. Não podemos viver uma vida que contraria esse princípio espiritual. Lendo Nm 15 perceberemos isso. A geração rebelde tinha de ser posta à parte. Aqueles que se rebelaram contra Deus tinham que ser tratados, disciplinados, julgados. Mas o propósito eterno de Deus, o propósito eterno da graça de Deus, tem de permanecer, e todas as Suas promessas hão de se realizar. Nós temos que ver isso com muita clareza.
Ao estudamos o capítulo 15 de Êxodo, vemos vários sacrifícios. Não trataremos aqui das instruções maravilhosas contidas nesses diferentes sacrifícios, apresentados nesse capítulo. Para isso, será necessário estudar o livro de Levítico, onde eles estão de forma mais detalhada. Temos aqui aspectos de Cristo e da Sua obra. Mas, quero aqui apenas acrescentar os direitos que Deus exige, e que precisamos tomar conhecimento, quanto aos nossos pecados, quanto a nossa ignorância.
E o que aprendemos aqui em Nm 15? Aprendemos que Deus não é complacente com o nosso pecado. Deus não vira as costas para nosso pecado, Ele trata com o nosso pecado. Sua santidade não pode ser reduzida à medida da nossa mentalidade, da nossa inteligência. Você tem que saber que a graça fez provisão para os pecados, até mesmo para a nossa ignorância. A santidade de Deus exige que os nossos pecados sejam julgados e confessados. Todo o coração sincero irá adorar a Deus por saber que os nossos pecados foram julgados em Cristo. Todos os nossos pecados foram confessados. Ali na Cruz do Calvário nós vemos esta magnífica e estupenda obra. O que seria de nós sem essa provisão da graça de Deus em Cristo Jesus, lá na Cruz? Graças a Deus que Deus se satisfez. A Sua santidade, a Sua justiça, foram satisfeitas pela oferta que Cristo realizou lá na Cruz do Calvário. E agora nós podemos viver uma vida que agrada a Deus. Sabe por quê? Porque vivemos na base daquilo que é Cristo; na base daquilo que Cristo fez. Você tem que ter uma visão disso à luz do Novo Testamento.
Isso é Libna. Libna fala da obra da purificação por meio do sacrifício que Cristo realizou. Agora, você tem que entender que todos os seus pecados estão eternamente perdoados. Você tem que entender que você está numa nova base, em Cristo. Sua vida está fundamentada nEle. Você vive nEle. Você vive para Ele. Esta é a salvação de Deus. Esta é a obra que Deus fez para vocês. É o que Ele está realizando na Sua vida, para que você tenha paz. Sabe por que você tem paz? Porque você foi justificado. Justificação é o ato pelo qual Deus nos declara justos. Não baseado em nossa justiça, mas baseado na justiça de Cristo realizada ao nosso favor. Isto é maravilhoso, é grandioso. Esta é a lição de Libna: a lição da misericórdia de Deus, a lição da graça de Deus, a lição do amor de Deus, em face à completa ignorância, à completa pecaminosidade do próprio homem, à sua própria incredulidade. Deus se revelou a nós, trazendo-nos salvação em Cristo Jesus. E o Seu Espírito está aplicando esta salvação na nossa própria vida. A salvação objetiva foi aquilo que Cristo fez. A salvação subjetiva é aquilo que o Espírito Santo está fazendo agora em nós, levando-nos a viver essa salvação na experiência prática, dia após dia. Aquilo que Paulo diz em Ef 4:30:
“E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção.”
Graças a Deus Ele está realizando esta obra em nós. Que Ele lhe abençoe com a Sua palavra.
AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 82
17ª Estação – Libna (parte 2)
Por: Luiz Fontes
Textos: Nm 33:20; 14:30; 15:2 e Ef 2:1-8
Vamos prosseguir estudando essa 17ª Jornada. O povo de Israel está agora em Libna (Nm 33:20).
Quando você estuda Números 14, que é o contexto desta estação, você vê que aquele povo havia sido derrotado, por causa da atitude de incredulidade que tiveram para com Deus lá em Ritma, a 15ª estação. Depois, em Rimom-Perez, a 16ª estação, eles também foram derrotados pelos filisteus. Agora, na 17ª estação, em Libna, que significa “brancura” – “algo claro, branco” –, aprendemos sobre “o resgate de Deus”. Números 15, capítulo a partir do qual vamos dar continuidade ao estudo desta estação, vem nos mostrar isso.
Quero que você observe dois textos muito interessantes. Em Nm 14:30, Deus diz para o povo:
“não entrareis na terra a respeito da qual jurei que vos faria habitar nela, salvo Calebe, filho de Jefoné, e Josué, filho de Num.”
Vejam o que o Senhor diz: “não entrareis na terra”. Agora, Nm 15:2:
“Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando entrardes na terra das vossas habitações, que eu vos hei de dar.”
Então, primeiro Deus diz: “não entrareis”; depois Ele diz: “quando entrardes”. Ora, o que isso significa? Para nós, no aspecto espiritual, significa muito. Primeiro, com incredulidade, presunção, auto-suficiência – o que vimos nas duas estações anteriores, Ritma e Rimom-Perez –, ninguém poderá entrar na terra. E como é que se entra, então? Temos a resposta lendo o capítulo 15 do livro de Números, focando o Novo Testamento, pois este capítulo de Números lança luz ao Novo Testamento, revelando para nós que poderemos entrar, pois o meio de Deus é Cristo – e é sobre isso que iremos aprender hoje. Toda aquela terra de Canaã revela Cristo. Somente poderemos entrar por meio de Cristo, Aquele que é a dádiva de Deus, como também, para nós, a habitação de Deus.
Vivendo uma vida de incredulidade, de presunção, de autoconfiança, nunca poderemos estar em Cristo. Nosso Deus, não raramente, permite que Seu povo passe por dificuldades, por lutas – e muitas lutas! –, com o propósito de nos levar a conhecer nossas próprias misérias. E quando você pode ver isso, quando você passa por duras provas e pode enxergar essa realidade, é sinal de maturidade. Muitas vezes, as experiências duras pelas quais passamos têm em vista o tratamento de Deus com a nossa vida, com a nossa própria carne, com a nossa presunção, com a nossa incredulidade. É sobre isso que vamos aprender aqui. Além disso, devemos notar que Deus não somente permite que passemos por dificuldades, mas também nos revela “o socorro bem presente na angústia” e nos traz a verdadeira alegria aos nossos corações, manifestando Sua fidelidade. É glorioso, quando você tem o privilégio de ver isto: Em meio a uma situação de provação, você experimentar a graça de Deus. Imagine, quanto louvor gera em nosso coração; o quanto podemos engrandecer o Seu nome por todas as coisas invisíveis e imperceptíveis do nosso coração, escondidas lá dentro, que são trazidas à luz, quando passamos por situações que muitas vezes revelam nossa incredulidade, arrogância, soberba, nossa própria carnalidade. E o Senhor permite tais situações tendo em vista que cheguemos ao fim de nós mesmos, para que não venhamos viver uma vida fazendo provisão para nossa própria carne.
No Novo Testamento, na Epístola aos Efésios, capítulo 2, vemos que primeiro Paulo diz:
“E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que, noutro tempo, andastes, segundo o curso deste mundo(...).”
Então, lendo os versículos de 1 a 3, você vê a profundidade de uma vida pecaminosa, alienada, distante de Deus, vivida toda segundo o curso do mundo, segundo o espírito da potestade que habita nos filhos da desobediência. Mas, ao introduzir os versículos 4 e 5, ele diz:
“4 Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, 5 estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos).”
Aqui você estuda três grandes temas que envolvem toda a Bíblia: a misericórdia, o amor e a graça de Deus. A misericórdia está relacionada a nossa condição presente, isto é, o estado de decadência em que o homem se encontra, sem Deus. É justamente o que encontramos nos versículos supracitados. Quando chegamos a estudar o amor de Deus, somos conduzidos pelo Espírito Santo – porque só podemos compreendê-lo com a ajuda do Espírito Santo – a mergulhar naquilo que é mais profundo em Deus, naquilo que jamais conseguiremos compreender por nós mesmos. O amor de Deus é infinito, incalculável, e o homem jamais chegara à compreensão total do que é o amor de Deus. O amor de Deus é a parte mais profunda do Seu ser; é aquilo que é mais profundo em Deus. Todo o ser de Deus é amor.
Então, você vai perceber que todo esse capítulo 15 de Números vai nos falar do amor, da misericórdia e da graça de Deus. E Paulo também trata desse profundo amor nesses versículos que acabamos de ler em Efésios 2:4-5. Veja que ele começa com a seguinte frase: “Mas Deus...”. Que frase linda! Temos aqui uma conjunção que sugere um contraste e, também, estabelece uma conexão. Temos então duas coisas: a conexão e o contraste. E com essas duas palavras – “Mas Deus” –, chegamos à introdução daquilo que é a mensagem do Evangelho, a mensagem cristã, a mensagem peculiar e específica que a fé cristã tem para nos oferecer. Num sentido, essas duas palavras – “Mas Deus” – contem em si, e por si, a totalidade do Evangelho de Cristo Jesus, do Evangelho que os apóstolos pregaram.
Quando diz “mas”, ele introduz um ponto de transição entre o estado decaído e desesperador que vivíamos e a esperança e consolação que temos em Cristo. Esta é a verdade do Evangelho para nós. Assim, quando Paulo diz “Mas Deus”, ele está revelando a totalidade da vida cristã.
Vimos que primeiro Deus disse “Não entrarão”, e depois que “deveriam entrar”. Sabemos que Deus não é complacente com o pecado, pois Ele tratou com aqueles pecadores. Sempre que o povo pecou, teve que ser tratado. Toda a congregação foi contaminada pela rebeldia, pelo pecado daqueles dez espias, e, assim, vimos o julgamento de Deus quando caíram mortos, derrotados pelos filisteus. De certo modo, aquela derrota atingiu todo o povo de Israel. Podemos até dizer que ela atingiu Moisés, Arão, Calebe e Josué, porque eles viram seus irmãos mortos ali. Foi uma tragédia! Toda aquela nação agora estava debaixo daquele pecado, debaixo da consequência daquele pecado, assim também como a Bíblia diz que “por causa do pecado de um só homem, todos pecaram” (Rm 5:12). Todos nós herdamos a natureza pecaminosa através dos genes e cromossomos de Adão.
Então, tendo dito antes que não poderiam entrar na terra, Deus agora diz que eles a possuirão, que poderão entrar. Mas Ele também vai estabelecer o princípio para que isso aconteça. Isso porque com sua incredulidade, autoconfiança e com suas próprias armas, eles não poderiam entrar. Eles só poderiam entrar através do meio que Deus estabeleceu – não apenas para eles, mas também para nós, porque esta é a realidade cristã a qual estamos vivendo à luz das lições que temos que aprender nessas jornadas. Nós também temos que entrar e, para isso, Cristo é o caminho. Assim, aprendemos aqui sobre o que é a misericórdia de Deus. A misericórdia de Deus se manifesta por causa da pobreza da nossa condição.
Mas também temos que aprender sobre a graça de Deus, pois Sua graça nos fala da glória radiante da posição que agora nós temos na salvação em Cristo Jesus. O sentimento que Deus tem para conosco quando somos pecadores é misericórdia. E a obra que Deus realiza por nós, tornando-nos Seus filhos, é graça. A misericórdia vem do amor e resulta na graça. É isso que aprendemos no Novo Testamento e é isso que esse capítulo 15 de Números vai nos mostrar.
Aqui em Números você verá vários sacrifícios, vários níveis de sacrifícios. E isso é importante, porque ao ler sobre esses sacrifícios, você vai aprender que eles nos falam de aspectos da obra de Cristo, daquilo que Ele realizou para satisfação da justiça de Deus; para que eu e você fôssemos aceitos como filhos de Deus; para que a nossa culpa fosse removida; para que os nossos pecados fossem perdoados; para que a Sua cruz se tornasse em nossa vida a expressão da Sua vitória e da vida que temos que viver para agradar a Deus. Esta é a verdade, este é o ensino e é tudo isso que aprendemos aqui. Ao abrir esse capítulo 15, você será confrontado com essa maravilhosa realidade.
Primeiro vimos uma sentença solene: “Não entrareis”. Temos aqui uma lição: a lição do quanto somos tardios em aprender; do quanto não conseguimos enxergar; do quanto somos indignos; do quanto somos carentes; do quanto necessitamos da misericórdia de Deus; do quanto não podemos confiar na nossa própria carne. Esta é uma lição que temos que aprender. Por outro lado, temos estas palavras: “Quando entrardes na terra das vossas habitações que eu vos hei de dar”. Aqui nós temos a grande e preciosa lição: seguramente, temos aqui a salvação que vem do Senhor. Salvação é um ato soberano de Deus.
Nessas duas solenes declarações, podemos aprender sobre o fracasso do homem e sobre a fidelidade de Deus. Encarando o assunto do ponto de vista humano, a sentença é “Não entrarei na terra”. Mas se a encaramos do ponto de vista de Deus, podemos dizer “Vamos entrar”. Porque a salvação é uma de Deus, uma obra segura. A salvação que Deus nos deu não é uma salvação para um final de semana, ela é uma salvação eterna. Em nós, por natureza, habita o fracasso. Não nascemos pecadores eleitos, nascemos pecadores condenados, estávamos condenados. Mas (não esqueça) Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do seu amor com que nos amou, estando nós ainda mortos nos nossos delitos e pecados, nos deu (Ele, Deus, nos deu) vida juntamente com Cristo (pela graça sois salvos). E isso não vem de nós (Ef 2:8 nos diz), é dom de Deus. O homem fracassa, mas Deus é fiel. O homem coloca tudo a perder, mas Deus restaura tudo. As coisas que são impossíveis aos homens, são possíveis a Deus. Graças a Deus que o Evangelho é assim; graças a Deus que a nossa salvação foi assim – um ato soberano de Deus. Que você possa compreender isso. Esta é a lição de Libna.
Aqui no capítulo 15 de Números vamos aprender isso, sobre a restauração de Deus, sobre a purificação de Deus. Estávamos imundos, vivíamos uma vida imunda, uma vida toda imaculada pelo pecado. Mas fomos lavados, completamente, pelo sangue de Cristo Jesus. E você tem que compreender isso. Compreender que a obra de Deus é tão profunda em você pelo sangue de Cristo. E quando Deus olha para você Ele vê a obra de Cristo. E, segundo essa perspectiva de Deus, Ele vê essa obra consumada nEle. Nossa redenção, nossa salvação, já está consumada em Deus. Deus é eterno. O passado, o presente e o futuro ocorrem instantaneamente dentro dEle, e Ele vê em nós essa obra consumada. Ele já nos vê tão puros, como é o Seu filho Jesus – sem mácula, sem ruga, nenhuma imperfeição do próprio pecado.
Graças a Deus, porque esta é a salvação em Deus, esta é a salvação que está consumada no próprio ser de Deus. E nós O estamos vendo hoje, pelo Seu Espírito Santo, operar esta salvação, dia após dia, de glória em glória.
Por: Luiz Fontes
Textos: Nm 33:20; 14:30; 15:2 e Ef 2:1-8
Vamos prosseguir estudando essa 17ª Jornada. O povo de Israel está agora em Libna (Nm 33:20).
Quando você estuda Números 14, que é o contexto desta estação, você vê que aquele povo havia sido derrotado, por causa da atitude de incredulidade que tiveram para com Deus lá em Ritma, a 15ª estação. Depois, em Rimom-Perez, a 16ª estação, eles também foram derrotados pelos filisteus. Agora, na 17ª estação, em Libna, que significa “brancura” – “algo claro, branco” –, aprendemos sobre “o resgate de Deus”. Números 15, capítulo a partir do qual vamos dar continuidade ao estudo desta estação, vem nos mostrar isso.
Quero que você observe dois textos muito interessantes. Em Nm 14:30, Deus diz para o povo:
“não entrareis na terra a respeito da qual jurei que vos faria habitar nela, salvo Calebe, filho de Jefoné, e Josué, filho de Num.”
Vejam o que o Senhor diz: “não entrareis na terra”. Agora, Nm 15:2:
“Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando entrardes na terra das vossas habitações, que eu vos hei de dar.”
Então, primeiro Deus diz: “não entrareis”; depois Ele diz: “quando entrardes”. Ora, o que isso significa? Para nós, no aspecto espiritual, significa muito. Primeiro, com incredulidade, presunção, auto-suficiência – o que vimos nas duas estações anteriores, Ritma e Rimom-Perez –, ninguém poderá entrar na terra. E como é que se entra, então? Temos a resposta lendo o capítulo 15 do livro de Números, focando o Novo Testamento, pois este capítulo de Números lança luz ao Novo Testamento, revelando para nós que poderemos entrar, pois o meio de Deus é Cristo – e é sobre isso que iremos aprender hoje. Toda aquela terra de Canaã revela Cristo. Somente poderemos entrar por meio de Cristo, Aquele que é a dádiva de Deus, como também, para nós, a habitação de Deus.
Vivendo uma vida de incredulidade, de presunção, de autoconfiança, nunca poderemos estar em Cristo. Nosso Deus, não raramente, permite que Seu povo passe por dificuldades, por lutas – e muitas lutas! –, com o propósito de nos levar a conhecer nossas próprias misérias. E quando você pode ver isso, quando você passa por duras provas e pode enxergar essa realidade, é sinal de maturidade. Muitas vezes, as experiências duras pelas quais passamos têm em vista o tratamento de Deus com a nossa vida, com a nossa própria carne, com a nossa presunção, com a nossa incredulidade. É sobre isso que vamos aprender aqui. Além disso, devemos notar que Deus não somente permite que passemos por dificuldades, mas também nos revela “o socorro bem presente na angústia” e nos traz a verdadeira alegria aos nossos corações, manifestando Sua fidelidade. É glorioso, quando você tem o privilégio de ver isto: Em meio a uma situação de provação, você experimentar a graça de Deus. Imagine, quanto louvor gera em nosso coração; o quanto podemos engrandecer o Seu nome por todas as coisas invisíveis e imperceptíveis do nosso coração, escondidas lá dentro, que são trazidas à luz, quando passamos por situações que muitas vezes revelam nossa incredulidade, arrogância, soberba, nossa própria carnalidade. E o Senhor permite tais situações tendo em vista que cheguemos ao fim de nós mesmos, para que não venhamos viver uma vida fazendo provisão para nossa própria carne.
No Novo Testamento, na Epístola aos Efésios, capítulo 2, vemos que primeiro Paulo diz:
“E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que, noutro tempo, andastes, segundo o curso deste mundo(...).”
Então, lendo os versículos de 1 a 3, você vê a profundidade de uma vida pecaminosa, alienada, distante de Deus, vivida toda segundo o curso do mundo, segundo o espírito da potestade que habita nos filhos da desobediência. Mas, ao introduzir os versículos 4 e 5, ele diz:
“4 Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, 5 estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos).”
Aqui você estuda três grandes temas que envolvem toda a Bíblia: a misericórdia, o amor e a graça de Deus. A misericórdia está relacionada a nossa condição presente, isto é, o estado de decadência em que o homem se encontra, sem Deus. É justamente o que encontramos nos versículos supracitados. Quando chegamos a estudar o amor de Deus, somos conduzidos pelo Espírito Santo – porque só podemos compreendê-lo com a ajuda do Espírito Santo – a mergulhar naquilo que é mais profundo em Deus, naquilo que jamais conseguiremos compreender por nós mesmos. O amor de Deus é infinito, incalculável, e o homem jamais chegara à compreensão total do que é o amor de Deus. O amor de Deus é a parte mais profunda do Seu ser; é aquilo que é mais profundo em Deus. Todo o ser de Deus é amor.
Então, você vai perceber que todo esse capítulo 15 de Números vai nos falar do amor, da misericórdia e da graça de Deus. E Paulo também trata desse profundo amor nesses versículos que acabamos de ler em Efésios 2:4-5. Veja que ele começa com a seguinte frase: “Mas Deus...”. Que frase linda! Temos aqui uma conjunção que sugere um contraste e, também, estabelece uma conexão. Temos então duas coisas: a conexão e o contraste. E com essas duas palavras – “Mas Deus” –, chegamos à introdução daquilo que é a mensagem do Evangelho, a mensagem cristã, a mensagem peculiar e específica que a fé cristã tem para nos oferecer. Num sentido, essas duas palavras – “Mas Deus” – contem em si, e por si, a totalidade do Evangelho de Cristo Jesus, do Evangelho que os apóstolos pregaram.
Quando diz “mas”, ele introduz um ponto de transição entre o estado decaído e desesperador que vivíamos e a esperança e consolação que temos em Cristo. Esta é a verdade do Evangelho para nós. Assim, quando Paulo diz “Mas Deus”, ele está revelando a totalidade da vida cristã.
Vimos que primeiro Deus disse “Não entrarão”, e depois que “deveriam entrar”. Sabemos que Deus não é complacente com o pecado, pois Ele tratou com aqueles pecadores. Sempre que o povo pecou, teve que ser tratado. Toda a congregação foi contaminada pela rebeldia, pelo pecado daqueles dez espias, e, assim, vimos o julgamento de Deus quando caíram mortos, derrotados pelos filisteus. De certo modo, aquela derrota atingiu todo o povo de Israel. Podemos até dizer que ela atingiu Moisés, Arão, Calebe e Josué, porque eles viram seus irmãos mortos ali. Foi uma tragédia! Toda aquela nação agora estava debaixo daquele pecado, debaixo da consequência daquele pecado, assim também como a Bíblia diz que “por causa do pecado de um só homem, todos pecaram” (Rm 5:12). Todos nós herdamos a natureza pecaminosa através dos genes e cromossomos de Adão.
Então, tendo dito antes que não poderiam entrar na terra, Deus agora diz que eles a possuirão, que poderão entrar. Mas Ele também vai estabelecer o princípio para que isso aconteça. Isso porque com sua incredulidade, autoconfiança e com suas próprias armas, eles não poderiam entrar. Eles só poderiam entrar através do meio que Deus estabeleceu – não apenas para eles, mas também para nós, porque esta é a realidade cristã a qual estamos vivendo à luz das lições que temos que aprender nessas jornadas. Nós também temos que entrar e, para isso, Cristo é o caminho. Assim, aprendemos aqui sobre o que é a misericórdia de Deus. A misericórdia de Deus se manifesta por causa da pobreza da nossa condição.
Mas também temos que aprender sobre a graça de Deus, pois Sua graça nos fala da glória radiante da posição que agora nós temos na salvação em Cristo Jesus. O sentimento que Deus tem para conosco quando somos pecadores é misericórdia. E a obra que Deus realiza por nós, tornando-nos Seus filhos, é graça. A misericórdia vem do amor e resulta na graça. É isso que aprendemos no Novo Testamento e é isso que esse capítulo 15 de Números vai nos mostrar.
Aqui em Números você verá vários sacrifícios, vários níveis de sacrifícios. E isso é importante, porque ao ler sobre esses sacrifícios, você vai aprender que eles nos falam de aspectos da obra de Cristo, daquilo que Ele realizou para satisfação da justiça de Deus; para que eu e você fôssemos aceitos como filhos de Deus; para que a nossa culpa fosse removida; para que os nossos pecados fossem perdoados; para que a Sua cruz se tornasse em nossa vida a expressão da Sua vitória e da vida que temos que viver para agradar a Deus. Esta é a verdade, este é o ensino e é tudo isso que aprendemos aqui. Ao abrir esse capítulo 15, você será confrontado com essa maravilhosa realidade.
Primeiro vimos uma sentença solene: “Não entrareis”. Temos aqui uma lição: a lição do quanto somos tardios em aprender; do quanto não conseguimos enxergar; do quanto somos indignos; do quanto somos carentes; do quanto necessitamos da misericórdia de Deus; do quanto não podemos confiar na nossa própria carne. Esta é uma lição que temos que aprender. Por outro lado, temos estas palavras: “Quando entrardes na terra das vossas habitações que eu vos hei de dar”. Aqui nós temos a grande e preciosa lição: seguramente, temos aqui a salvação que vem do Senhor. Salvação é um ato soberano de Deus.
Nessas duas solenes declarações, podemos aprender sobre o fracasso do homem e sobre a fidelidade de Deus. Encarando o assunto do ponto de vista humano, a sentença é “Não entrarei na terra”. Mas se a encaramos do ponto de vista de Deus, podemos dizer “Vamos entrar”. Porque a salvação é uma de Deus, uma obra segura. A salvação que Deus nos deu não é uma salvação para um final de semana, ela é uma salvação eterna. Em nós, por natureza, habita o fracasso. Não nascemos pecadores eleitos, nascemos pecadores condenados, estávamos condenados. Mas (não esqueça) Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do seu amor com que nos amou, estando nós ainda mortos nos nossos delitos e pecados, nos deu (Ele, Deus, nos deu) vida juntamente com Cristo (pela graça sois salvos). E isso não vem de nós (Ef 2:8 nos diz), é dom de Deus. O homem fracassa, mas Deus é fiel. O homem coloca tudo a perder, mas Deus restaura tudo. As coisas que são impossíveis aos homens, são possíveis a Deus. Graças a Deus que o Evangelho é assim; graças a Deus que a nossa salvação foi assim – um ato soberano de Deus. Que você possa compreender isso. Esta é a lição de Libna.
Aqui no capítulo 15 de Números vamos aprender isso, sobre a restauração de Deus, sobre a purificação de Deus. Estávamos imundos, vivíamos uma vida imunda, uma vida toda imaculada pelo pecado. Mas fomos lavados, completamente, pelo sangue de Cristo Jesus. E você tem que compreender isso. Compreender que a obra de Deus é tão profunda em você pelo sangue de Cristo. E quando Deus olha para você Ele vê a obra de Cristo. E, segundo essa perspectiva de Deus, Ele vê essa obra consumada nEle. Nossa redenção, nossa salvação, já está consumada em Deus. Deus é eterno. O passado, o presente e o futuro ocorrem instantaneamente dentro dEle, e Ele vê em nós essa obra consumada. Ele já nos vê tão puros, como é o Seu filho Jesus – sem mácula, sem ruga, nenhuma imperfeição do próprio pecado.
Graças a Deus, porque esta é a salvação em Deus, esta é a salvação que está consumada no próprio ser de Deus. E nós O estamos vendo hoje, pelo Seu Espírito Santo, operar esta salvação, dia após dia, de glória em glória.
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
HABITAÇÃO DE DEUS
Continuação do estudo da epístola aos Efésios
Por: D. M. Lloyd Jones
CAPÍTULO 30
"Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra de esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor, no qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito.” - Efésios 2:20-22
Estes versículos dão prosseguimento ao pensamento do versículo anterior, onde o apóstolo diz: "Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus".
Tratamos das duas primeiras figuras que o apóstolo usa para habilitar-nos a ver os privilégios de sermos membros da Igreja Cristã, e, assim, agora chegamos a esta terceira e última figura. E a figura da Igreja como "templo de Deus", "casa de Deus", edifício em que Deus habita.
É sempre interessante observar como opera a mente do apóstolo. Vocês alguma vez perguntaram, ao lerem esta declaração, por que o apóstolo acrescentou esta última, esta terceira figura? Parece-me haver uma única explicação. A idéia de família sugeriu-lhe logo a idéia de casa. É uma transição natural- da família para a casa em que ela habita. Digo que é interessante observar como opera a mente do apóstolo, e o digo deliberadamente. Quando pensamos na doutrina da inspiração dos escritores das Escrituras, é importante ter sempre em mente que a doutrina da inspiração não elimina as características individuais dos escritores; de outro modo, não haveria nenhuma variação no estilo, todos eles escreveriam exatamente da mesma maneira. Mas, embora seja um fato que todos estes diferentes escritores estavam cheios do Espírito Santo e foram dominados, governados e conduzidos por Ele, foi dada liberdade de ação às suas características individuais. Portanto, nunca tenha dificuldade alguma, quando ler ou ouvir uma porção das Escritu¬ras, em saber se foi escrita por Paulo ou por Pedro ou por João. Eles têm as suas características individuais, e aqui, nesta passagem, temos algo que é muito característico do apóstolo Paulo, a saber, o modo como a sua mente sempre se move ao longo das linhas da razão ou seguindo elos e conexões lógicos. Família! - Casa!
Agora devemos examinar esta figura. Ao tratar da Igreja como família de Deus, afanei-me para assinalar que isso representou um avanço no pensamento do apóstolo em relação à primeira figura. Procurei mostrar, com uma série de comparações e contrastes, o porquê disso, e como ele nos estava levando a uma concepção mais elevada. Agora, pois, ao chegarmos a esta terceira figura, levanta-se a questão: ele continua avançando? Esta terceira figura é um clímax ou um anticlímax? Alguns talvez sintam, na primeira leitura, que, qualquer que seja a verdade a respeito da segunda, esta terceira figura só pode ser um anticlímax, porque ir da idéia de família para a idéia de casa é certamente ir para baixo. Parece um movimento do pessoal para o impessoal, do homem para o material. Qual será, pois, a situação? O pensamento do apostolo está avançando? Está nos levando para um ponto ainda mais alto? Ou de repente ele muda a tendência e a linha de pensamento e nos leva a uma espécie de figura mecânica?
Esta é uma questão muito importante, não somente do ponto de vista da exatidão, da exegese e da exposição, mas talvez ainda mais do ponto de vista da verdade espiritual. Portanto, eu me proponho a mostrar que o pensamento do apóstolo continua avançando e que nesta terceira figura ele nos leva a um grande clímax além do qual nada e possível. Como se pode estabelecer isso? Da seguinte maneira: em sua definição e descrição da relação que existe entre os membros da Igreja. Já salientamos que o princípio dominante do apóstolo o tempo todo é o da unidade, e o que ele está procurando fazer com estas três figuras é expor este grande fato da unidade. Minha tese é que nesta terceira figura ele nos está mostrando a essência dessa unidade de maneira até mais grandiosa do que nas duas primeiras ilustrações. Com o fim de justificar esta minha tese, tudo o que necessito é mostrar a superioridade desta terceira figura nesse aspecto em relação à segunda, a figura da família; porque Já mostramos que essa é superior à figura do Estado.
A minha opinião é que os membros de uma família, embora mais estreitamente interligados que os concidadãos de um Estado, ainda constituem, nalguns aspectos, uma associação livre e solta. Afinal a família é uma reunião de indivíduos, ao passo que, quanto ao edifício, a situação é outra e o que há é uma verdadeira fusão das partes. Pois bem, a frase que o apóstolo usa no versículo vinte, "no qual todo o edifício” “o edifício completo" dá-nos a chave para um verdadeiro entendimento. Sei que há os que traduziriam essa expressão como "todo edifício”, mas ainda assim a verdade em foco continuaria sendo a mesma. Se vocês preferirem entender a frase como significando "todo edifício” e pensarem em cada edifício como uma parte diferente do templo, ainda assim as diferentes partes serão componentes de um todo, de modo que vocês ainda terão a idéia de um edifício completo. Opino, pois, que na idéia de um edifício, em distinção de uma família, há a idéia de uma unidade existente entre os diferentes tijolos ou pedras do edifício, unidade mais estreita do que a que existe entre os membros de uma família. Os membros de uma família são indivíduos separados e distintos. Os membros da família não são idênticos; eles não têm que fazer desaparecerem as suas características a fim de serem membros de uma família. A individualidade ainda permanece, e às vezes é tão forte que certos membros da família podem ter menos semelhanças uns com os outros do que com outras pessoas das suas relações. São membros de uma família e, todavia, a sua individualidade é mantida e permanece, e, nesse sentido, a conexão e a ligação é fraca. Por outro lado, o ponto deveras essencial quanto a uma estrutura, a um edifício, é a coesão, o que o apóstolo descreve como sendo "bem ajustado".
Talvez eu possa expressá-lo melhor da seguinte maneira: os membros de uma família, afinal de contas, podem separar-se uns dos outros. Não significa que deixam de ser membros da família, porém podem romper a companhia uns dos outros. Podem até brigar, não querer ver-se nem falar uns com os outros. Sei que a união fundamental ainda está ali e que nada poderá dissolvê-la; mas, no que diz respeito à amizade, à comunhão, ao companheirismo e a estarem juntos, eles podem, porque são entidades distintas e separadas, separar-se uns dos outros e até dar a impressão de que não existe nenhuma relação ou ligação entre eles. Contudo, se vocês começarem a fazer esse tipo de coisa com um edifício, o fim será que vocês não mais terão o edifício. Se vocês tirarem bom número de pedras de um edifício, suas paredes ruirão, o seu edifício deixará de existir. Assim é que neste caso, penso eu, o princípio da unidade revela-se mais estreito e mais próximo. Separem os tijolos ou as pedras de uma parede, e o edifício se vai; mas vocês podem separar os membros de uma família, e ainda a família permanecerá como uma unidade. A ligação é mais frouxa do que no caso do edifício. Portanto, a minha opinião é que o apóstolo está realmente avançando em seu pensamento, e que aqui ele nos mostra que a relação dos cristãos como membros de uma igreja é tão estreita e íntima como a que prevalece nas diferentes partes e segmentos de um edifício.
“ponto de vista do privilégio”
Mas quando vemos isso do ponto de vista do privilégio, o progresso do pensamento fica ainda mais evidente. Vimos que o filho está numa posição mais vantajosa que o cidadão. O cidadão humilde pode apelar para o rei, para o chefe de Estado, mas não da mesma maneira pela qual uma criança pode aproximar-se do seu pai. Isso mostra uma relação mais íntima e um privilégio superior e maior. Todavia aqui o apóstolo vai alem disso. A sua concepção de Igreja nesta passagem é que a Igreja e templo santo do Senhor, que "todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor". Pois bem, o filho tem acesso ao Pai, mas o filho não habita dentro do Pai. Entretanto a idéia aqui apresentada é de Deus habitando conosco, fazendo em nós a Sua habitação. Ora, isso é um tremendo avanço do pensamento, como a segunda figura fora sobre a primeira. Não somente estamos nesta relação íntima com Deus e temos esta liberdade de acesso a Ele; além e acima de tudo isso, o mistério e a glória final da Igreja é que Deus habita nela. Ela é Seu templo, templo santo do Senhor. Como a Sua presença habitava no santuário interior do antigo templo entre os filhos de Israel, assim agora Ele habita na Igreja, entre o Seu povo. Não há nada, na esfera do pensamento, que supere isso.
Esta verdade, naturalmente, assemelha-se ao ensino dado pelo nosso Senhor pouco antes do fim da Sua vida terrena, quando Ele disse: “... convém-vos que eu vá; porque se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, enviar-vo-lo-ei" (João 16:7). Era um grande privilégio estar ah, na presença do Filho de Deus, vendo-O, ouvindo-O, podendo fazer-Lhe perguntas e receber Sua ajuda. Era maravilhoso, era esplêndido; mas há algo melhor, e é vir Ele habitar em nós, viver em nós, ter Sua morada em nós. E Ele disse: Eis o que vou fazer, virei a vocês e me manifestarei a vocês, eu e o Pai estaremos em vocês e em vocês faremos nossa morada (João 14:21-23). Isso é mais que falar com Ele externamente. Ele vem habitar em nós - "Vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim" (Gálatas 2:20). Pois bem, é essa a idéia, o tipo de concepção que o apóstolo coloca diante de nós nesta terceira e última figura. que utiliza. O que ele diz é que os efésios são partes deste grande edifício, deste templo de Deus - estes mesmos efésios que antes estavam tão longe foram edificados neste templo e estão sendo edifi¬cados nele.
A proeminência do Novo Testamento
A este ensino, concernente à Igreja como um grande edifício, o Novo Testamento dá muita proeminência. E como não há nada mais vital hoje do que a necessidade que os cristãos têm de compreender este ensino do Novo Testamento sobre a Igreja, não há nada mais urgente para nós do que apegar-nos firmes a este ensino maravilhoso. Por certo vocês se lembram do que foi proposto pelo Senhor no grande incidente ocorrido em Cesárea de Filipe, quando Pedro fez a sua confissão de fé, "Tu és o Cristo, Filho de Deus vivo", e o nosso Senhor lhe disse: "Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja" (Mateus 16: 16-18). Aí está a primeira utilidade da analogia; aí está a base sobre a qual todos os outros têm edificado. Espero referir-me a essa declaração particular mais adiante, para que tenhamos algum entendi¬mento do que o nosso Senhor quis dizer com ela; mas ela é tratada aqui pelo apóstolo, indireta e implicitamente.
Depois há a declaração registrada no início do capítulo três da Primeira Epístola aos Coríntios, indo do versículo 9 ao 17. Ali o apóstolo afirma que ele é um sábio "arquiteto", e evidentemente tem em mente esta concepção geral da Igreja como um edifício - "ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo". Há pessoas de todo tipo que estão edificando sobre este fundamento, diz o apóstolo, porém elas não estão edificando da maneira certa, e vai haver um julgamento e as obras de cada um serão julgadas. Mas é à idéia de Igreja como edifício que ele está dando ênfase: "Não sabeis vós", diz ele, "que sois o templo de Deus?" Todo o problema da igreja de Corinto foi que os seus membros tinham esquecido isso, e a conseqüência foi que eles estavam se dividindo - "Eu sou de Paulo; eu sou de Apolo; eu sou de Cefas"; e assim por diante. Ele pergunta: vocês não percebem que são um templo do Deus vivo? Não destruam dessa maneira o templo de Deus, vocês estão violando o princípio da unidade. Somos assim levados a lembrar-nos da imensa importância desta doutrina. Em última análise, todas as dificuldades da Igreja provêm da incompreensão da natureza da Igreja. É por isso que, em última instância, todas estas Epístolas do Novo Testamento tratam da doutrina da Igreja. Estas pessoas tinham sido salvas, eram cristãs, sem dúvida; mas estavam com problemas em muitas direções porque continuavam esquecidas de que eram membros da Igreja. Segregavam-se a si mesmas, por assim dizer, tornando-se individualistas num sentido errado, e daí surgiram proble¬mas e sofrimentos. A resposta a isso tudo é: voltem e tratem de compreender que a Igreja é como um grande edifício.
Também diz a mesma coisa quando ele lembra a esses coríntios, no capítulo seis, versículo dezenove, que o Espírito Santo habita neles. Ele está pensando mais nos indivíduos do que na Igreja, porém isso faz parte do mesmo conceito. "Não sois de vós mesmos, fostes comprados por bom preço." O apóstolo lhes diz que não cometam certos pecados do corpo. Por quê? Porque "o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós". Há ainda uma declaração muito notável na Segunda Epístola aos Coríntios, capítulo seis, versículo dezesseis, onde ele diz: "Que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: neles habitarei, e entre eles eu andarei...” Aí está, mais uma vez, a Igreja como templo do Deus vivo. De novo vocês o têm na Primeira Epístola a Timóteo, capítulo três, versículo quinze. Cito todas estas passagens para mostrar quão vital¬mente importante é esta doutrina no ensino do Novo Testamento. "Mas, se (eu) tardar", diz Paulo a Timóteo, "para que saibais como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade." Continua sendo a mesma idéia. E o apóstolo Pedro faz uso da mesma ilustração. Diz ele: "Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual..." (1 Pedro 2:5). Há outros exemplos que também poderiam ser citados, mas estes são os principais.
Com todas estas passagens em nossas mentes, vejamos o que o apóstolo nos está ensinando realmente neste ponto do nosso capítulo. Parece-me que podemos dividir a sua declaração em duas partes principais. Primeiro, há nela uma afirmação geral acerca desta idéia de Igreja, especialmente em termos de unidade e privilégio; segundo, há nela verdadeiros detalhes da construção. Sempre que você examinar um edifício, é importante que tenha em mente essas duas coisas. Você pode ter uma visão geral do edifício; há certas características marcantes que você poderá notar imediatamente. Todavia, depois há aquele outro aspecto que se deve estudar num edifício - o exame dos alicerces, em detalhe, o processo empregado na construção das paredes, e o que mantém toda a estrutura interligada. Há esse aspecto, o lado mais mecânico. De maneira fascinante, o apóstolo trata aqui de ambos os aspectos.
“concepção geral da Igreja como edifício”.
No momento só quero tratar particularmente do primeiro princípio; a saber, esta concepção geral da Igreja como edifício. Ao estudarmos este ponto, queira o Espírito habilitar-nos a ver-nos a nós mesmos como parte deste admirável processo que está em andamento.
A primeira coisa que o apóstolo nos diz é que a Igreja é um edifício que está em processo de edificação. Não conheço melhor maneira de pensar na era atual, na presente dispensação, do que simplesmente ver a Igreja desse modo. Que é que Deus está fazendo no presente? Que será que na verdade Deus tem feito desde que o nosso Senhor completou a Sua obra e retornou ao céu? Que é que na verdade Deus tem feito desde a queda do homem? A resposta é que Deus está erigindo um edifício, e esse edifício é a Igreja. Este é um processo que está em andamento. E o apóstolo nos dá idéia disso aqui, com estas palavras, "edificados sobre o fundamento", ou, mais precisamente, "que estão sendo edificados sobre". Está presente aí a idéia de processo. E também noutra expres¬são, "no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor". Vocês podem ver o processo em andamento, um edifício crescendo para o alto e aumentando. Gosto de pensar nisso como um quadro descritivo daquilo que está acontecendo no mundo vocês podem ler os livros da história secular, podem examinar a história do mundo e da raça humana como o faz o homem de mentalidade secular, e verão que é muito difícil formular alguma idéia disso tudo; mas quando o examinam do ponto de vista da Bíblia, vêem claramente o que está acontecendo. Deus tem um grande plano. Ele é o Arquiteto eterno, que traçou a Sua planta e as especificações, e está edificando. E de cada geração Ele está retirando certas pedras, escavando as pedreiras, extra¬indo as pedras, levando-as da maneira que espero descrever posterior¬mente, e adicionando-as ao edifício. Em algumas gerações houve poderosos avivamentos e houve grande acréscimo, podendo-se ver o edifício como que saltando para o alto; porém também há períodos em que parece não acontecer nada, e um observador casual poderia dizer que não há crescimento, que não há expansão, que as paredes não sobem nada e que nada acontece. E, contudo, o edifício está crescendo, uma pedra aqui, outra ali, talvez. E tudo parte deste grande processo.
Devemos lembrar-nos de que não se trata apenas de uma parte do propósito de Deus, mas do fato de que esse propósito é firme e seguro. Este processo de edificação vem se realizando há muito tempo "Vocês estão sendo edificados para isso", para templo do Senhor, diz Paulo a estes efésios, entretanto quantos milhares, quantos milhões têm sido edificados desde aquele tempo! Eu e vocês fomos acrescentados a ele; somos parte dele; e o processo continua. E continuará até que se complete e termine. Este grande apóstolo Paulo, no capítulo onze da Epístola aos Romanos, fala sobre "a plenitude dos gentios" e sobre o fato de que "todo o Israel será salvo". Acreditem-me, "o Senhor conhece os que são seus" e "o fundamento de Deus fica firme" (2 Timóteo 2: 19). Faça o mundo o que quiser, fique às soltas o inferno, ainda assim cada um daqueles que Deus escolheu para este edifício estará no edifício. Fomos colocados nele, acrescentados a ele, e este é o mais alto e maior privilégio que pode ser dado ao ser humano. Portanto, pense em si desta maneira, como parte deste edifício glorioso, deste tremendo templo que Deus está edificando. Ele vai extraindo pedras do mundo e vai erigindo este novo edifício, esta estrutura maravilhosa, este glorioso templo. Esse é o primeiro pensamento.
Pois bem, devo ressaltar logo o segundo ponto sugerido na passa¬gem em foco, que é o seguinte: este processo é vital. Outra vez deve anotar como é fascinante observar como opera a mente do apóstolo. Ele deve ter percebido, logo que começou com esta concepção, que as pessoas poderiam pensar na Igreja, e no edifício da Igreja, de maneira mecânica. Põe-se tijolo em cima de tijolo, acrescenta-se pedra a pedra, coloca-se um pouco de reboco, etc. - o que é mais mecânico do que edificar? O apóstolo, penso eu, teve tanto receio de que as pessoas o entendessem mal dessa maneira, que estranhamente introduziu a pala¬vra "cresce": "no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce ..." Um edifício pode crescer? Segundo o apóstolo, pode; e, a fim de tornar isso claro, ele quase incorre no erro, na verdade incorre no erro de misturar as suas metáforas. Ele mistura a metáfora do crescimento das flores, da relva, com a de um edifício desenvolvendo-se, erguendo-se, estenden¬do-se e indo para cima. É interessante notar que no capítulo três da Primeira Epístola aos Coríntios ele também põe estas duas idéias lado a lado. Diz ele no versículo nove: "Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus". Ao mesmo tempo o apóstolo se refere a si próprio como agricultor e como arquiteto. Vocês, diz ele, são como uma lavoura de trigo, e são também um edifício. Ele coloca as duas idéias juntas e parece fundi-las numa só. O edifício crescendo - um processo vital.
O apóstolo Pedro faz a mesma coisa. Se ele recebeu de Paulo a idéia ou não, eu não sei. (Sabemos que ele tinha lido as cartas de Paulo porque ele nos disse que algumas delas eram um pouco difíceis de entender 2 Pedro 3: 15-16).) Vocês notaram as palavras de I Pedro 2:5 que há pouco citei: "Vós também, como pedras vivas ..."? Uma pedra pode ser viva, pode estar viva? Há vitalidade numa pedra? Pedro afirma que há, pois esta é a sua metáfora: "Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual".
Na verdade aqui, no versículo 22, o apóstolo expõe também a mesma idéia: "no qual todo o edifício, bem ajustado" - bem ajustado! Ele faz uso desta mesma idéia no capítulo quatro quando, falando sobre o corpo, diz: "Do qual todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas". Ora, tudo isso é muito simples no caso do corpo, mas seria tão evidente no caso de uma parede, no caso de um edifício? A única maneira de entender isso, de acordo com o apóstolo, é captar a idéia de que se trata de um edifício vital, um edifício vivo.
Esta é uma das coisas que precisam ser expostas com ênfase urgente¬mente hoje. Há toda a diferença do mundo entre apenas acrescentar nomes ao rol de membros de uma igreja, e o crescimento do templo santo do Senhor. Estamos vivendo numa época caracterizada por uma mentali¬dade estatística, e vocês podem ler relatórios de países e localidades em que todo o mundo parece ser membro de igreja. Mas, infelizmente, não se segue que todos esses membros estão sendo edificados neste santo templo do Senhor. Não se segue necessariamente que eles são pedras "vivas", que eles fazem parte deste crescimento. O crescimento da Igreja é vital, não mecânico. Os homens podem aumentar o número de membros de uma igreja, porém somente Deus pode edificar, mediante o Espírito, na construção da Igreja. Este crescimento rumo a um templo santo é um processo vital. Quando vocês ouvirem tudo o que se fala hoje sobre a unidade da Igreja e sobre uma grande Igreja mundial, e sobre a incorporação de denominações diferentes, tenham em mente esta palavra "cresce". Uma coisa é meramente fundir diversas organiza¬ções. Não é esse o conceito de Paulo sobre a unidade da Igreja e sobre o aumento da Igreja. Mas parece que é esse o pensamento dominante hoje. É mecânico, é estatístico. Segundo esta idéia, vocês simplesmente somam; vocês se assentam, têm uma conferência, e resolvem fazer isso. Que contraste com este processo vital, vivo, dinâmico! "Cresce para templo santo"! Pedras vivas! Pedras animadas! Dou ênfase a esta verdade porque não hesito em asseverar que, em grande parte, é porque este princípio foi esquecido que a Igreja está como está hoje. A Igreja está rogando aos homens que se agreguem a ela. Que confissão de incapacidade de entender a natureza da Igreja! Eu nunca peço a ninguém que se agregue à Igreja. Nunca o farei. Nunca o fiz. Para mim é um grave erro querer convencer as pessoas, quase implorar-lhes, que se agreguem à Igreja. Na verdade, muitas vezes as pessoas são subornadas para aderirem à Igreja. Mas tudo isso é a verdadeira antítese deste processo vital no qual o apóstolo está interessado, este crescimento, o resultado desta tremenda operação. Lembremo-nos sempre que este processo é vital.
"Templo santo".
Isso me leva ao meu terceiro comentário. Vocês notam que o apóstolo diz que este é um "templo santo". Quando você anda em volta deste templo e o examina, qual a sua impressão maior? Bem, diz o apóstolo, a impressão maior que ele causa é de "santidade". Ele não diz uma palavra sobre o seu tamanho, não fala nada sobre o seu caráter ornamental. Não diz nada sobre algo nele que se preste para exibição. Contudo, ele diz que o templo é santo. Essa é a sua grande característica. “... cresce para templo santo no Senhor." "No qual também vós sois edificados para morada de Deus em Espírito" (ou, "mediante o Espírito", VA). Ah, como temos esquecido esta característica! Quão tristemente está sendo esquecida hoje! Certamente foi essa a fatalidade que aconteceu quando Constantino ligou o Estado romano à Igreja Cristã. Foi esquecido que ela é um templo santo, que a principal característica da Igreja sempre é que ela seja santa - não que ela seja grande e Influente. Decerto vocês se lembram da afirmação que um homem fez, talvez em parte brincando, mas como é verdadeira! Discu¬tindo a questão dos milagres na Igreja, este homem assinalou que era quando a Igreja podia dizer: "Não tenho prata nem ouro", que ela podia continuar, dizendo, "Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda" (Atos 3:6). Atualmente a Igreja não pode fazer nenhuma dessas afirmações. Ela tem prata e ouro, tornou-se grande e poderosa, todavia se esqueceu da santidade. No entanto, esta é a característica do templo, "um povo santo", "um local de encontro para Deus nele habitar".
Oxalá em toda a nossa conversação, em todo o nosso pensar e em todas as nossas discussões concernentes à unidade hoje, este princípio fosse posto no centro. Mas não é. O que está sendo discutido hoje são os diversos pontos de vista acerca da ordenação; se os bispos são do ser (isto é da essência) da Igreja, ou se são apenas da sua conveniência,* e assim por diante; meras questões mecânicas! Como se essas coisas tivessem algum valor! Como o apóstolo continua dizendo no capítulo 4, a única garantia da verdadeira unidade da Igreja é a unidade do Espírito Santo, a unidade da santidade, a unidade do povo santo. Quando a santidade é a principal característica, a unidade aparece por conta própria. Quando santidade é colocada no centro, muita coisa terá que sair, antes de muita Coisa poder entrar. Todo avivamento, todo grande aumento da Igreja em sua longa história, sempre seguiu esse padrão. Foi quando Wesley e Whitefield tiveram o seu "Clube Santo" que veio o avivamento, há 200 anos. Você começa com a santidade, e então o número aumenta. Mas se você tentar aumentar o número sem a santidade, você não terá um "templo santo no Senhor". Terá uma grande organização, terá uma florescente preocupação com atividades, terá uma instituição maravilhosa; porém não será esse o lugar onde Deus habita. Poderá ser um lugar de muito entretenimento e de muita atividade e agitação, mas não será a Igreja do Deus vivo. A santidade é a sua principal característica.
Trindade santa e bendita
Isso me leva ao último pensamento, no momento, e é que sempre se deve pensar na Igreja, em termos da Trindade santa e bendita. Com que constância o apóstolo volta a isso! Vimo-lo no versículo dezoito, "Porque por ele (referindo-se ao Filho) ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito". As três Pessoas! Vocês notam a sua ênfase? "Jesus Cristo (aí está a primeira menção de Cristo nestes versículos particulares) é a principal pedra da esquina" - Jesus Cristo! Que mais? "No qual" - em Jesus Cristo - "todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor" - outra vez o Senhor Jesus Cristo; "no qual" - ainda o Senhor Jesus Cristo. Paulo não consegue deixá-lo de lado, não pode esquecê-IO. Vai sempre dando ênfase a isto, e o vai repetindo. Quando lemos inteiramente estes dois capítulos desta Epís¬tola aos Efésios, com que freqüência vemos esta repetição do nome, Jesus Cristo, o Senhor, Cristo Jesus, nEle, também nEle; e ele continua, e vai sempre se referindo a Ele! Sem Cristo não há Igreja. Sem Cristo não há unidade. É por isso que um congresso mundial de crenças, assim chamado, é uma negação de Cristo e da Igreja. E é por isso que qualquer movimento ou organização que pretenda pôr os homens em paz com Deus e que não ponha Cristo em toda parte - no centro, no início, no fundamento, no fim, em toda parte - não é cristão. Poderá fazer muitas coisas boas socialmente, poderá ajudar pessoas, poderá talvez produzir alguma mudança em suas vidas; mas se Cristo não lhe for essencial, não é cristão. Notem a repetição aqui de novo - "Jesus Cristo" - nO qual, nO qual, nO qual! Não há nada que esteja fora da nossa relação com Ele. E depois, "morada de Deus" - o Pai! - vindo habitar nEle. Ele manifestava a Sua presença na glória da Shekiná no templo, no "lugar santíssimo"; e Ele vem habitar na Igreja. E o faz mediante o Espírito. O Filho! O Pai! O Espírito Santo! Esta é sempre a ordem - o Filho nos leva ao Pai, e o Pai e o Filho enviam o Espírito. E assim temos este "templo santo no Senhor".
Vocês não vêem a importância desta doutrina? As pessoas entra¬vam no antigo templo para encontrar-se com Deus. Era o lugar habitado por Sua presença e Sua honra. A importância prática, a importância vital desta doutrina para nós é que Deus agora habita no templo que é a Igreja. E é em nós e através de nós que as pessoas O buscam e, nesse primeiro sentido, vêm a Ele. Estaremos nós dando a impressão aos de fora que a Igreja é o templo do Deus vivo? Estarão eles vendo algo desta santidade, desta referência que é própria de Deus em nós - que Ele habita em nós e Se move em nós?
Há, então, alguns princípios gerais que se deduzem da linguagem geral do apóstolo. Consideraremos em detalhe o que ele nos diz acerca da construção. É absolutamente vital. Em todo este moderno interesse pela união e pela Igreja, nada é mais fundamentalmente importante do que ser todo o nosso pensamento dominado pelas Escrituras. Devemos ser cautelosos para que não se intrometam idéias humanas, e devemos assegurar-nOs de que, em nosso desejo de "fazer" algo, não estejamos desperdiçando nossa energia e, assim quando chegar o dia em que a obra de todos os homens será provada por fogo, ver que a nossa obra não será mais que madeira, feno e palha e que será totalmente queimada e nós sofremos perda - embora, .pela graça de Deus, nós mesmos ainda possamos ser salvos - todavia, como que pelo fogo (I Coríntios 3: 13 e 15).
*Esse... Bene esse. Em latim no original. Nota do tradutor.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Exposição sobre Efésios
Irmãos, continuamos com o estudo do livro de Efésios, chegamos ao capítulo 29 "DA FAMÍLIA DE DEUS". Que o Senhor fale aos nossos corações por meio da sua Palavra.
CAPÍTULO 29
DA FAMÍLIA DE DEUS
Por: D.M. Lloyd Jones
"Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus." - Efésios 2:19
Tendo considerado a primeira figura que o apóstolo emprega para nos mostrar o privilégio de sermos membros da Igreja Cristã, a saber, a de cidadãos de um Estado, agora chegamos à sua segunda figura. Os cristãos verdadeiros não são somente concidadãos dos santos, mas também são "da família de Deus". Obviamente, aqui há algo dife¬rente, há um avanço. No entanto, de novo, lembremo-nos de que as duas coisas que Paulo quer assinalar são este princípio da unidade e também a grandeza do privilégio. Podemos perguntar, porém: por que ele usa desse modo uma segunda figura? E por que, na verdade, ele vai usar uma terceira figura, que estudaremos mais adiante? A resposta, penso eu, é óbvia: é que ele sentiu que só a primeira figura não era suficiente. Ela nos dá uma idéia, apresenta-nos uma parte vital da doutrina, mas não inclui tudo. Não é suficientemente compreensiva. Ela estabeleceu um tremendo aspecto, que já consideramos, porém há muito mais para ser dito. Portanto, convém que consideremos e descubramos porque ele emprega esta segunda ilustração.
Certamente vocês se lembram de que, no primeiro capítulo, o apóstolo já nos apresentara esta idéia de família, onde ele diz: "E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito da sua vontade". Agora, aqui, ele retoma essa idéia, dizendo-nos que, como crentes, pertencemos à família de Deus. Noutras palavras, somos filhos de Deus. Paulo argumenta neste sentido quanto a judeus e gentios que se tornaram cristãos. Todas as outras distinções, vocês recordam, desapareceram, foram postas de lado, foram abolidas. Nesta nova realidade que Deus trouxe à existência entre os judeus e os gentios, o grande fato suplementar é que estamos na posição de filhos.
“a idéia de Estado com a idéia de família”
Portanto, o que temos que fazer é comparar e contrastar a idéia de Estado com a idéia de família. E é só quando fizermos isto que compreenderemos porque o apóstolo introduz a segunda figura e em que sentido esta segunda figura constitui um definido avanço em relação à primeira, e nos leva a uma percepção mais profunda da verdade acerca da unidade de todos os cristãos e da grandeza do privilégio que gozamos. Devemos, pois, considerar os pontos de contraste entre o Estado e a família.
O primeiro é que a relação que existe entre os membros de um Estado é, afinal de contas, uma relação geral, ao passo que o que caracteriza a relação entre os membros de uma família é que esta é uma relação mais particular. Todos nós, neste país, somos cidadãos da Grã¬-Bretanha, mas não pertencemos à mesma família. Há numerosas famílias e, somos todos um no Estado. É isso que quero dizer quando falo da relação no Estado como sendo mais geral. Por outro lado, na família estreita-se a relação; é uma unidade muito menor. E porque a relação é mais estreita e mais particular, é, por isso mesmo, muito mais intensa. Assim é que podemos usar outras expressões. Podemos dizer que a ligação entre nós no Estado é muito leve. Há uma ligação, e é suficiente para separar-nos das pessoas que pertencem a outros países e a outros reinos. Estamos ligados uns aos outros, mas a ligação é leve. Numa família, porém, a ligação já não é leve. Visto que é particular, visto que é mais estreita, é mais intensa, e também mais cerrada. Portanto, o apóstolo está dando realmente um passo adiante em sua doutrina acerca desta unidade. A unidade que existe na Igreja Cristã entre os membros não é uma ligação leve, é uma ligação intensa, cerrada, íntima.
Todavia, podemos ir mais adiante com a seguinte colocação: em segundo lugar, a unidade existente no Estado é, em última análise, uma unidade externa. Isso dispensa desenvolvimento e demonstração. Não se pode pensar numa família, sem que se pense num fator interior, de dentro, que une os seus membros. Não é o que se dá no Estado, no qual nos unem certos tipos de cultura, certas leis, certos interesses comuns, todos os quais, num sentido final, estão na superfície das nossas vidas e fora de nós. Na família há algo essencialmente interior, interno. Noutras palavras, a relação entre os membros de um Estado é mais remota, enquanto que entre os membros de uma família é mais íntima. Quero dizer com isso que conhecemos muitas pessoas de maneira vaga e um tanto remota. Reconhecemos os que moram na mesma rua, ou que trabalham no mesmo emprego; são nossos "conhecidos", mas real¬mente não os conhecemos, não temos intimidades com eles. Pode haver uma espécie de conhecimento de "bom dia, boa tarde", uma amizade geral, porém é sempre remota. Ao passo que na família a idéia central é logo uma idéia de intimidade e entendimento, e de laços interiores.
Ou pensemos nisso de maneira diferente. Em última instância, a nossa relação uns com os outros no Estado é impessoal, ao passo que a verdade geral acerca da família é que, nesta, a relação é intensamente pessoal. Este é um princípio muito importante, independentemente da sua aplicação à Igreja. Há no mundo atual a tendência de salientar e desenvolver relações impessoais, em detrimento das relações pessoais. Vocês podem pensar em muitos exemplos disso. O próprio Estado age assim. À medida que o Estado se torna cada vez mais poderoso, e que interfere cada vez mais em nossas vidas, vai tendendo a nos despersonalizar. Passamos a ser unidades impessoais, passamos a ser números. Desaparece o elemento pessoal. Há muita evidência disso neste país atualmente.
Não estou argumentando politicamente, mas o faço filosofica¬mente, considerando-o um ponto muito importante e, em última análise, faço-o do ponto de vista da personalidade e da individualidade. O Estado sempre tende a despersonalizar-nos. Naturalmente, isso faz parte de toda a questão da psicologia das massas e das multidões. Você sempre tende a perder um pouco a sua identidade na multidão. E por isso que as multidões são tão perigosas, e talvez chegue o dia em que haverá necessidade de uma legislação que proíba a reunião de pessoas além de certos limites numéricos. Gostemos ou não, uma multidão tem influên¬cia sobre nós, e as pessoas tendem a agir automaticamente em meio a uma multidão. Hitler sabia disso muito bem, e soube aproveitar a idéia. Numa multidão você pode levar as pessoas a fazerem coisas que jamais elas sonhariam em fazer sozinhas ou individualmente. De um modo ou de outro, desaparece o elemento pessoal. De fato precisamos observar e vigiar isso até mesmo em nossos sistemas educacionais. Quanto mais você forçar lealdade a um lado ou a uma escola, mais tendendo estará a despersonalizar as crianças e a produzir uma relação impessoal. Eu até chego a opinar que, talvez, esta seja uma das principais razões do pavoroso aumento de divórcios no presente. As pessoas pensam cada vez menos em si desta maneira pessoal, e os objetos de lealdade se tornaram mais gerais - o país, a Coroa, a escola, a ala, algo semelhante, algo que está fora da pessoa. Essas coisas não devem ser negligenciadas, concordo, pois é uma coisa terrível a pessoa ser egoísta e egocêntrica; porém a tragédia é que sempre nos inclinamos a ir de um extremo ao outro. Na tentativa de ensinar as crianças e outros a não serem egoístas, certamente iremos ao outro extremo, se nos tornarmos tão impessoais que eles tenham medo de expressar os seus sentimentos, e assim tentem despersonalizar-se ao ponto de desaparecerem na multidão, Assim vocês vêem que o apóstolo avançou definitivamente em seu pensamento aqui. A ligação, a relação no Estado é impessoal. Mas na família - e esta é a glória da família - todos nós somos pessoas, e todas as relações são pessoais, diretas e imediatas.
Então, finalmente, podemos dizer que a diferença entre as duas relações é a diferença que há entre uma relação legal, judicial e uma relação de sangue, vívida e vital. O que em última instância nos une no Estado é a lei. Pode haver certos interesses e perspectivas em comum; todavia o que afinal de contas nos une e mantém a coesão é o processo da lei - a relação é legal. Mas não é esse o caso da família. Na família o que nos une é o sangue. É uma relação vital. Pode-se mostrar facilmente a diferença desta maneira: vocês verão particularmente no continente europeu, em vários países que estão separados uns dos outros como Estados, que, não obstante, há o mesmo sangue nas pessoas que pertencem a esses Estados diferentes. Pensem nos eslavos, por exem¬plo. Eles têm o mesmo sangue e possuem certas características; e embora uns pertençam a um país e outros a outro, sempre se pode reconhecer o eslavo. E assim com outros tipos de nacionalidade e de sangue. Uma relação de sangue é algo mais íntimo, direto, vital e vivo do que qualquer relação que seja delimitada e determinada pelos processos da lei e pelos decretos dos homens.
O apóstolo, então, não está meramente multiplicando palavras quando diz: "Assim que já não sois estranhos e estrangeiros, mas concidadãos dos santos" - sim, e membros "da família de Deus". Ele deu passos adiante, levou-nos a uma esfera mais elevada, e estreitou a relação; e quando você estreita a relação, esta sempre se torna mais intensa. Sempre temos relação mais intensa quando somos em menor número. Isso é psicologia, assim é a natureza humana, não é? Por isso o termo "família" transmite todas estas grandes idéias que é importante que captemos.
“aplicação particular disso tudo aos cristãos”
Tendo mostrado a diferença de modo geral, passemos agora à aplicação particular disso tudo aos cristãos, aos membros da Igreja Cristã. Por que é importante que compreendamos esta relação familiar? Por que o apóstolo estava tão desejoso de que estes efésios a compre¬endessem? E porque tantos de nós não compreendem estas verdades que nós somos o que somos e a Igreja é o que é. Acaso compreendemos que de fato somos da família de Deus - e que pertencemos à família de Deus? Esta verdade é uma parte vital da doutrina da salvação. Por isso devemos considerá-la.
Começo com o aspecto mais grandioso e mais importante. É importante que o compreendamos para que entendamos, como devemos, a maravilhosa e estupenda graça de Deus. Eis o que quero dizer: já seria uma coisa maravilhosa se Deus apenas decidisse não punir-nos, não nos enviar ao inferno. Era o inferno que nós merecíamos. Em nosso estado e condição natural, que o apóstolo descrevera ¬"andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos", e sendo "filhos da ira, como os outros também" ¬não merecíamos outra coisa que não o inferno. Digo que teria sido uma coisa maravilhosa se Deus meramente decidisse não nos deixar naquele estado e não punir-nos. Contudo, o método de salvação estabelecido por Deus não pára aí. Ele nos eleva a esta dignidade de filhos, Ele nos adota em Sua família.
Vê-se tudo isso na parábola do filho pródigo. O filho foi para casa e disse a seu pai: "Pai, pequei contra o céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado teu filho". E ia acrescentar, "faze-me como um dos teus jornaleiros". Mas o pai não pode considerar o seu rapaz, embora pródigo, como um dos seus serviçais. Isso simplesmente não pode acontecer. Diz ele: não, não, você volta como meu filho; e o abraça, e lhe traz o melhor traje e o anel, e mata o bezerro cevado. Meu filho! Esse é o método divino de salvação. E, pois, importante que captemos este princípio, a fim de nos habilitarmos a engrandecer a graça? E Deus. Que plano de salvação! Que esquema de redenção! Não satisfeito com outra coisa, senão que estejamos na Sua presença como Seus filhos! Se não nos dermos conta disso, não nos daremos conta da grandeza e das riquezas da graça de Deus.
Aí está, então, o primeiro ponto, e o mais importante, o ponto que, em certo sentido, inclui todos os demais. Ele acentua o que há pouco estive dizendo, que nunca devemos pensar na salvação negativamente. Só começamos com os aspectos negativos. A primeira coisa da qual todos necessitamos é o perdão dos pecados e a nossa libertação da Ira de Deus. Todavia Ele não se detém nisso. E jamais devemos deter-nos nisso, em nosso pensamento. O nosso pensamento deve ser positivo, devemos ver a que tudo isso leva. O cristão não é meramente alguém que foi perdoado e salvo do inferno. Muito mais que isso, ele foi adotado na família do Deus eterno!
Outro ponto muito importante é o seguinte: vocês notam que isso só é verdade quanto a nós no Senhor Jesus Cristo e por intermédio dEle. Isso só é próprio dos que estão "em Cristo". Isso é absolutamente vital e fundamental, porque há corrente hoje um frouxo ensino concernente à paternidade universal de Deus, assim chamada, e à fraternidade universal dos homens. Aqui, neste capítulo, o apóstolo ensina exatamente o oposto. Toda bênção - e devemos ter em mente que este versículo dezenove é um resumo do que vem antes - tudo, ele nos estivera dizendo, é "em Cristo Jesus". Nenhuma destas coisas é real sem Cristo Jesus. "Portanto, lembrai-vos de que vós noutro tempo éreis gentios na carne... que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo. Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto"; "Ele é a nossa paz." Depois, no versículo 18, "Porque por ele (ou "nele", Cristo), ambos temos acesso ao Pai em um (ou "por um") mesmo Espírito". Isso de pertencer à família de Deus independentemente do Senhor Jesus Cristo não existe. A humanidade está dividida em dois compartimentos - os que estão fora de Cristo ou sem Cristo, e os que são membros da família de Deus. Acerca dos primeiros disse o Senhor Jesus Cristo: "Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai" (João 8:44). Como é importante observar estas coisas! Deus, como o Criador, é o Criador de todos, e nesse sentido há uma espécie de paternidade. Entretanto não é disso que o apóstolo está falando aqui; não é dessa verdade que o Senhor Jesus Cristo fala, quando diz: "Vosso pai celestial sabe que necessitais de todas estas coisas" (Mateus 6:32). Não, esta é a nova relação que só passou a existir mediante o Senhor Jesus Cristo e a obra perfeita por Ele realizada.
Portanto, Deus não é Pai dos que não crêem em Cristo. E não há quem possa ir a Deus e Lhe pedir algo, dizendo: "Meu Pai", a não ser que vá "pelo sangue de Cristo", confiando unicamente em Sua obra perfeita. Isso, como vocês sabem, muitas vezes é negado hoje. Muitos falam leviana, desembaraçada e relaxadamente sobre ir a Deus sem sequer mencionar o nome do Senhor Jesus Cristo. Um dia se despertarão para verem que Ele nunca os conheceu, que eles estão fora, que não pertencem à família. Sem Cristo, esse relacionamento não existe. Por outro lado, deixem que eu diga enfaticamente que esta bênção é uma realidade quanto a todos os cristãos verdadeiros. Nisso não há divisões quanto aos cristãos - são todos "concidadãos dos santos e da família de Deus". Portanto, devemos rejeitar todos os ensinamentos que dizem que alguns cristãos não são filhos de Deus, e que traçam uma distinção entre filhos e criaturas. Criaturas e filhos, neste sentido, são iguais, e você não pode ser cristão sem ser uma criatura de Deus e um filho de Deus. Os termos aplicam-se igualmente a todos os cristãos.
É importante compreender isso, pela seguinte razão: se eu e vocês somos filhos de Deus, não temos direito de viver como se fôssemos I apenas empregados. Não temos direito de viver na cozinha da casa. Somos filhos! - e todos os cristãos que não se dão conta disso, e que estão levando uma vida de serviçal, estão desonrando a Deus e estão difa¬mando a glória eterna da Sua graça. Por isso é importante compreender mais este avanço na doutrina. Se não o compreendermos, cairemos naqueles diversos erros e, com isso, estaremos difamando a glória do Senhor Jesus Cristo. Nós O estaremos tirando do centro, Ele já não será crucial, o Seu sangue estará sendo posto de lado e em descrédito. Ele não será tudo para nós, e não glorificaremos Seu Pai como devemos.
Esse é, então, o primeiro motivo pelo qual devemos captar esta verdade. É indispensável para um verdadeiro entendimento da doutrina da salvação.
Somente quando entendemos esta verdade é que passamos a usufruir os privilégios desta posição
Mas eu tomo a liberdade de dizê-lo com maior clareza. Somente quando entendemos esta verdade é que passamos a usufruir os privilégios desta posição. Vocês percebem o que isto significa? Estivemos considerando os privilégios de ser um cidadão do reino, e estes são maravilhosos e gloriosos. No entanto, à luz das distinções que traçamos, você pode ver quão mais altos são os privilégios quando você se vê como filho de Deus, e não apenas como cidadão do Seu reino.
Quais são estes privilégios? Eis o primeiro: Deus é nosso Pai. O eterno e sempiterno Deus! Podemos ir a Ele como nosso Pai. Vocês recordam o que o próprio Senhor Jesus Cristo disse: "Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus" (João 20: 17). Certamente não há maior honra nem maior dignidade que possamos vislumbrar ou compre¬ender do que justamente esta - levar sobre nós o nome de Deus. Não admira que João, no prólogo do seu Evangelho, tenha dito que "a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder (o direito, a autoridade) de serem feitos filhos de Deus" (1: 12). Não há o que supere isso, não há o que conceber acima disso, que somos de fato membros da família de Deus. Isso nos caracteriza literalmente como cristãos. Diz ainda João: "Ama¬dos, agora somos filhos de Deus" (l João 3:2). Não sabemos o que seremos em toda a sua plenitude, continua ele dizendo, mas isto sabemos, que já, agora, somos filhos de Deus. O apóstolo Pedro ocupa¬-se igualmente disso e afirma que "somos participantes da natureza divina" (2 Pedro 1:4). Cada vez mais me parece que é a nossa falha neste ponto que realmente explica por que a Igreja Cristã está como está. E não se trata do que fazemos ou tentamos fazer; enquanto não voltarmos a isto, e realmente não o compreendermos, enquanto não o sentirmos e não experimentarmos o seu poder, não vejo esperança para a Igreja Somos filhos de Deus, participantes da própria natureza divina.
Depois, por causa disso, a segunda coisa que nos caracteriza em nossa relação com Deus como nosso Pai é que temos o direito de aproximar-nos dEle, o mesmo direito que uma criança tem quanto ao ser pai. Paulo já o dissera num versículo anterior: "Porque por ele arribo: temos acesso" - não a Deus, vocês se lembram, mas - "ao Pai em um mesmo Espírito". Isso é tão extraordinariamente forte que mal pode¬mos recebê-lo; mas é verdade. Posso usar uma ilustração simples e óbvia? Imaginem um homem, alguém responsável por uma grande empresa, com centenas, talvez milhares de pessoas a seu serviço e sob a sua direção, um homem excepcionalmente ocupado. É evidente que esse homem não pode cuidar pessoalmente de todos os pormenores do seu negócio ou das obras ou do que seja. Ele só lida com grandes princípios; ele tem os seus gerentes e subgerentes, chefes etc., e esses tratam das minúcias das coisas dos seus respectivos departamentos. Se você levar um detalhe de algum departamento a esse grande homem, que é o chefe de todos, o presidente da companhia, ele simplesmente o despedira, pois não tem tempo para essas coisas. E contudo o vejo ali, um certo dia, em seu escritório, sentado à mesa de trabalho, com todas estas grandes tarefas em mente, e talvez com vultosas quantias para administrar, pelas quais ele é responsável. Ele não pode ver os seus gerentes hoje, só pode ver alguns diretores especiais. Contudo, de repente, ele ouve uma leve batida à porta. Ele sabe quem é; é o seu filhinho, o seu pequerrucho cambaleante; e o homem vai pessoalmente abrir a porta, e passa algum tempo falando com ele, tal vez brincando um pouco com ele.
Tudo é posto de lado. Por quê? É seu filho. Essa é a doutrina que estamos considerando. Deus, que criou do nada todas as coisas, e para quem todas as estrelas e constelações são o que bolinhas de gude são para uma criança, Deus, que domina todas as coisas e que existe de eternidade a eternidade, para quem as nações são como "o pó miúdo das balanças" (Isaías 40: 15) - é meu Pai, é seu Pai, e não há nada, por menor e mais trivial que seja, na minha vida e na sua, pelo que Ele não Se interesse e, por assim dizer, pelo que não Se disponha a deixar que o universo inteiro siga adiante por seu próprio impulso por algum tempo enquanto Ele ouve você e dá atenção somente a você. E isso que essa doutrina quer dizer.
Como somos tolos! Como nos privamos de algumas das coisas mais preciosas da vida cristã, simplesmente porque não nos apegamos à doutrina! Usamos as expressões levianamente, mas não analisamos o seu conteúdo. Eis o que o apóstolo está dizendo: não somos só cidadãos -lembro-lhes que o cidadão tem direito de apelar para o rei, mas isto nos leva muito mais longe - vou como uma criança diretamente à presença de meu Pai, e Ele está sempre pronto a receber-me. Ou, para dizê-lo invertendo os termos, se tão-somente nos déssemos conta do interesse de Deus por nós e da Sua amorosa preocupação conosco! Como é que podemos ler as Escrituras e examinar estas declarações gloriosas, e, ao que parece, nunca as compreender? Foi o próprio Filho de Deus que nos disse que, como filhos de Deus, "até os cabelos da nossa cabeça estão todos contados". É dessa maneira, e em minúcias como essa, que Deus nos conhece. O nosso Senhor estava sempre repetindo este ponto. Diz Ele: "Vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas" (Mateus 6:32). Porque inquietar-se e aborrecer-se? Se você tão¬-somente compreendesse que Ele é seu Pai, que Ele sabe tudo a seu respeito, e que Ele conhece todas as suas necessidades e inquietações muito melhor do que você mesmo, como um pai sabe estas coisas melhor do que seu filho! Por que você não confia nisso, por que você não põe a sua confiança nisso, por que você vai ao Pai com hesitação e dúvida? "Vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas." Somos membros da família de Deus. Não haverá perigo de abusarmos desta doutrina enquanto nos lembrarmos de que o nosso Senhor disse na Oração Dominical: "Pai nosso, que estás no céu, santificado seja o teu nome". Enquanto você começar desse modo, quando for a Deus recorrendo a Ele como seu Pai, não haverá leviandade, nem familiari¬dade indigna, porém a plena relação de Pai-e-filho permanecerá, e você poderá buscá-lO com confiança, com segurança, com certeza, sabendo que, por ser Ele seu Pai, e por Suas grandíssimas e preciosas promessas, Ele estará sempre pronto a recebê-lo. Mais maravilhoso que o Seu estupendo poder é a relação. Essa é a garantia.
“há uma relação com o Filho”
Esse é o primeiro aspecto do privilégio. O segundo é: graças à nossa relação com o Pai, há uma relação com o Filho. As Escrituras se referem ao Senhor Jesus Cristo como "o primogênito entre muitos irmãos" (Romanos 8:29). E é verdade. Diz Ele: "Meu Pai - vosso Pai". Há uma relação entre nós e Ele. Diz o autor da Epístola aos Hebreus que Ele "não socorre a anjos, mas socorre a descendência de Abraão" (2:16, ARA). Ele não assumiu a natureza dos anjos, assumiu a natureza humana; Ele foi feito "um pouco menor do que os anjos", desceu ali nosso nível, assumiu a natureza humana por meio da virgem Maria. I ~I (' é o nosso irmão, é o primogênito entre muitos irmãos; Ele diz: "Eis-me aqui a mim, e aos filhos que Deus me deu". Assim, Ele é um conosco participante da nossa natureza. Mas, como mostra a Epístola aos Hebreus, Ele não fica nisso. Em razão dessa verdade, Ele nos entende Ele Se identifica conosco, Ele está no céu para nos representar. Ele está sempre lá com o Pai, intercedendo por nós. E pensar nisso é, de novo, algo que se nos impõe com extraordinária força. E nEle, por meio dEle e por Ele que nós vamos ao Pai.
No entanto, não nos esqueçamos nunca de que, graças à nossa relação com o Pai e com o Senhor Jesus Cristo, temos o direito de dizer, segundo este apóstolo: "E se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo" (Romanos 8: 17). E neste momento, seja qual for a sua situação, esta é a pura e simples verdade a seu respeito, você é um herdeiro de Deus. Há uma glória que nos espera, glória tão maravilhosa que até as Escrituras pouco nos falam dela. Às vezes as pessoas perguntam: por que tão pouco se nos fala do céu, por que tão pouco nos é dito em detalhe sobre o estado eterno? A resposta é muito simples. Porque somos pecadores, porque somos decaídos, a nossa linguagem também é decaída, e qualquer tentativa de descrever a glória do céu seria uma falsa apresentação. Por isso não recebemos descrições pormenorizadas. Tudo que nos é dito é que estaremos com Cristo - e isso deveria ser suficiente para nós. Estaremos com Ele. Seremos semelhantes a Ele.
Há imagens utilizadas no livro de Apocalipse, mas, lembremo-nos de que são apenas figuras e imagens; a realidade mesma é infinitamente mais grandiosa, a glória é indescritível. E eu e vocês somos herdeiros disso. "Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus" "Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra" e esta será uma nova terra, uma terra glorificada, renovada, "novos céus e nova terra, em que habita a justiça" (2 Pedro 3:] 3). E é nossa; somos herdeiros dela, e co-herdeiros com Cristo. "Se sofrermos (com ele), também com ele reinaremos", diz Paulo a Timóteo. O que o está aborrecendo, Timóteo, por que você está se queixando e lamentando? Porque está tão desgostoso consigo mesmo? Você não sabe que se sofrer com Ele, também reinará com Ele e será glorificado com Ele? Se nos lembrássemos disso sempre, falaríamos menos, não nos queixaríamos, não nos deixaríamos vencer e abater pelos problemas e dificuldades. Os nossos fracassos realmente provêm da nossa incapacidade de captar e compreender que Deus é nosso Pai, que todo e qualquer pormenor da nossa vida é do interesse dEle. Leve tudo a Ele; "leve-o ao Senhor em oração", seja o que for. Ele próprio empregava o termo Pai. Não pense em Mim, parece Ele dizer, como um Deus distante, na glória e na eternidade; estou lá, mas em Cristo vim a você, sou seu Pai, venha a mim. Assim como o Senhor fazia o Seu amoroso convite e convidava a que fossem a Ele todos os que estavam cansados e sobrecarregados, igualmente Deus convida os Seus filhos. "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei" (Mateus 11 :28). Aquela criança que está zangada e triste porque deseja uma coisa que ela não tem - seu pai a ergue e abraça, e a criança fica satisfeita só por isso, porque sabe que o abraço significa que tudo o que o pai tem é dela também. Assim Deus está pronto a tomar-nos nos Seus braços e a envolver-nos no Seu amor. Busquem a Deus, cristãos, Ele é seu Pai, vocês são "membros da família de Deus".
E ainda, pela mesma razão, compartilhamos o mesmo Espírito. O Espírito que estava em Cristo é o mesmo Espírito que está em nós. "E, porque sois filhos", diz Paulo, "Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai" (Gálatas 4:6). O Espírito de adoção! (Romanos 8: 15). Aí está outro resultado da nossa condição de filhos de Deus - Ele nos deu o Seu Espírito.
“das responsabilidades disso tudo”
Ao concluir, preciso lembrá-los das responsabilidades disso tudo? Isso é inevitável. Desfrute tal posição, tal dignidade, tal glória; participar de tais privilégios, ah, como é grande a nossa responsabili¬dade! Permitam-me citar algumas palavras ditas pelo nosso Senhor. Tendo em vista tudo quanto acima foi dito, "resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus" (Mateus 5: 16). Um filho nos diz muitas coisas sobre os seus pais, não diz? Um filho não nos diz somente coisas referentes a si, ele nos diz muito mais acerca de seus pais. Quando você observa o comportamento de uma criança, você aprende realmente muito sobre a disciplina, ou a falta dela, no seu lar. O filho proclama o pai. "Eles verão as vossas boas obras, e glorificarão a vosso Pai, que está nos céus." Cristo disse de novo: "Neles (em nós) eu sou glorificado" (João 17:10, VA e ARA). Certamente vocês recordam como, no Sermão do Monte, falando sobre o amor aos inimigos, o nosso Senhor diz: "Ouvistes o que foi dito: amarás o teu próximo, e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem". Por que devemos fazer todas estas coisas? Eis porquê: "Para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus" (Mateus 5:43-45). Aí está porque temos que fazê-lo, para que sejamos semelhantes ao nosso Pai, para que proclamemos a família a que pertencemos. "Pois, se amardes aos que vos amam que galardão havereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus." Portanto, na próxima vez que você estiver em dúvida quanto à ação que deva praticar ou não, se você deve fazer certa coisa ou não, não perca tempo perguntando a alguém se aquilo é certo ou errado; simpl.es1]1ente pergunte: "Essa espécie de coisa é digna de um filho de meu Pai? E coerente com a família a que eu pertenço, com o Pai que pôs o Seu nome em mim e a quem eu represento entre os homens?”
"Já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus."
CAPÍTULO 29
DA FAMÍLIA DE DEUS
Por: D.M. Lloyd Jones
"Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus." - Efésios 2:19
Tendo considerado a primeira figura que o apóstolo emprega para nos mostrar o privilégio de sermos membros da Igreja Cristã, a saber, a de cidadãos de um Estado, agora chegamos à sua segunda figura. Os cristãos verdadeiros não são somente concidadãos dos santos, mas também são "da família de Deus". Obviamente, aqui há algo dife¬rente, há um avanço. No entanto, de novo, lembremo-nos de que as duas coisas que Paulo quer assinalar são este princípio da unidade e também a grandeza do privilégio. Podemos perguntar, porém: por que ele usa desse modo uma segunda figura? E por que, na verdade, ele vai usar uma terceira figura, que estudaremos mais adiante? A resposta, penso eu, é óbvia: é que ele sentiu que só a primeira figura não era suficiente. Ela nos dá uma idéia, apresenta-nos uma parte vital da doutrina, mas não inclui tudo. Não é suficientemente compreensiva. Ela estabeleceu um tremendo aspecto, que já consideramos, porém há muito mais para ser dito. Portanto, convém que consideremos e descubramos porque ele emprega esta segunda ilustração.
Certamente vocês se lembram de que, no primeiro capítulo, o apóstolo já nos apresentara esta idéia de família, onde ele diz: "E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito da sua vontade". Agora, aqui, ele retoma essa idéia, dizendo-nos que, como crentes, pertencemos à família de Deus. Noutras palavras, somos filhos de Deus. Paulo argumenta neste sentido quanto a judeus e gentios que se tornaram cristãos. Todas as outras distinções, vocês recordam, desapareceram, foram postas de lado, foram abolidas. Nesta nova realidade que Deus trouxe à existência entre os judeus e os gentios, o grande fato suplementar é que estamos na posição de filhos.
“a idéia de Estado com a idéia de família”
Portanto, o que temos que fazer é comparar e contrastar a idéia de Estado com a idéia de família. E é só quando fizermos isto que compreenderemos porque o apóstolo introduz a segunda figura e em que sentido esta segunda figura constitui um definido avanço em relação à primeira, e nos leva a uma percepção mais profunda da verdade acerca da unidade de todos os cristãos e da grandeza do privilégio que gozamos. Devemos, pois, considerar os pontos de contraste entre o Estado e a família.
O primeiro é que a relação que existe entre os membros de um Estado é, afinal de contas, uma relação geral, ao passo que o que caracteriza a relação entre os membros de uma família é que esta é uma relação mais particular. Todos nós, neste país, somos cidadãos da Grã¬-Bretanha, mas não pertencemos à mesma família. Há numerosas famílias e, somos todos um no Estado. É isso que quero dizer quando falo da relação no Estado como sendo mais geral. Por outro lado, na família estreita-se a relação; é uma unidade muito menor. E porque a relação é mais estreita e mais particular, é, por isso mesmo, muito mais intensa. Assim é que podemos usar outras expressões. Podemos dizer que a ligação entre nós no Estado é muito leve. Há uma ligação, e é suficiente para separar-nos das pessoas que pertencem a outros países e a outros reinos. Estamos ligados uns aos outros, mas a ligação é leve. Numa família, porém, a ligação já não é leve. Visto que é particular, visto que é mais estreita, é mais intensa, e também mais cerrada. Portanto, o apóstolo está dando realmente um passo adiante em sua doutrina acerca desta unidade. A unidade que existe na Igreja Cristã entre os membros não é uma ligação leve, é uma ligação intensa, cerrada, íntima.
Todavia, podemos ir mais adiante com a seguinte colocação: em segundo lugar, a unidade existente no Estado é, em última análise, uma unidade externa. Isso dispensa desenvolvimento e demonstração. Não se pode pensar numa família, sem que se pense num fator interior, de dentro, que une os seus membros. Não é o que se dá no Estado, no qual nos unem certos tipos de cultura, certas leis, certos interesses comuns, todos os quais, num sentido final, estão na superfície das nossas vidas e fora de nós. Na família há algo essencialmente interior, interno. Noutras palavras, a relação entre os membros de um Estado é mais remota, enquanto que entre os membros de uma família é mais íntima. Quero dizer com isso que conhecemos muitas pessoas de maneira vaga e um tanto remota. Reconhecemos os que moram na mesma rua, ou que trabalham no mesmo emprego; são nossos "conhecidos", mas real¬mente não os conhecemos, não temos intimidades com eles. Pode haver uma espécie de conhecimento de "bom dia, boa tarde", uma amizade geral, porém é sempre remota. Ao passo que na família a idéia central é logo uma idéia de intimidade e entendimento, e de laços interiores.
Ou pensemos nisso de maneira diferente. Em última instância, a nossa relação uns com os outros no Estado é impessoal, ao passo que a verdade geral acerca da família é que, nesta, a relação é intensamente pessoal. Este é um princípio muito importante, independentemente da sua aplicação à Igreja. Há no mundo atual a tendência de salientar e desenvolver relações impessoais, em detrimento das relações pessoais. Vocês podem pensar em muitos exemplos disso. O próprio Estado age assim. À medida que o Estado se torna cada vez mais poderoso, e que interfere cada vez mais em nossas vidas, vai tendendo a nos despersonalizar. Passamos a ser unidades impessoais, passamos a ser números. Desaparece o elemento pessoal. Há muita evidência disso neste país atualmente.
Não estou argumentando politicamente, mas o faço filosofica¬mente, considerando-o um ponto muito importante e, em última análise, faço-o do ponto de vista da personalidade e da individualidade. O Estado sempre tende a despersonalizar-nos. Naturalmente, isso faz parte de toda a questão da psicologia das massas e das multidões. Você sempre tende a perder um pouco a sua identidade na multidão. E por isso que as multidões são tão perigosas, e talvez chegue o dia em que haverá necessidade de uma legislação que proíba a reunião de pessoas além de certos limites numéricos. Gostemos ou não, uma multidão tem influên¬cia sobre nós, e as pessoas tendem a agir automaticamente em meio a uma multidão. Hitler sabia disso muito bem, e soube aproveitar a idéia. Numa multidão você pode levar as pessoas a fazerem coisas que jamais elas sonhariam em fazer sozinhas ou individualmente. De um modo ou de outro, desaparece o elemento pessoal. De fato precisamos observar e vigiar isso até mesmo em nossos sistemas educacionais. Quanto mais você forçar lealdade a um lado ou a uma escola, mais tendendo estará a despersonalizar as crianças e a produzir uma relação impessoal. Eu até chego a opinar que, talvez, esta seja uma das principais razões do pavoroso aumento de divórcios no presente. As pessoas pensam cada vez menos em si desta maneira pessoal, e os objetos de lealdade se tornaram mais gerais - o país, a Coroa, a escola, a ala, algo semelhante, algo que está fora da pessoa. Essas coisas não devem ser negligenciadas, concordo, pois é uma coisa terrível a pessoa ser egoísta e egocêntrica; porém a tragédia é que sempre nos inclinamos a ir de um extremo ao outro. Na tentativa de ensinar as crianças e outros a não serem egoístas, certamente iremos ao outro extremo, se nos tornarmos tão impessoais que eles tenham medo de expressar os seus sentimentos, e assim tentem despersonalizar-se ao ponto de desaparecerem na multidão, Assim vocês vêem que o apóstolo avançou definitivamente em seu pensamento aqui. A ligação, a relação no Estado é impessoal. Mas na família - e esta é a glória da família - todos nós somos pessoas, e todas as relações são pessoais, diretas e imediatas.
Então, finalmente, podemos dizer que a diferença entre as duas relações é a diferença que há entre uma relação legal, judicial e uma relação de sangue, vívida e vital. O que em última instância nos une no Estado é a lei. Pode haver certos interesses e perspectivas em comum; todavia o que afinal de contas nos une e mantém a coesão é o processo da lei - a relação é legal. Mas não é esse o caso da família. Na família o que nos une é o sangue. É uma relação vital. Pode-se mostrar facilmente a diferença desta maneira: vocês verão particularmente no continente europeu, em vários países que estão separados uns dos outros como Estados, que, não obstante, há o mesmo sangue nas pessoas que pertencem a esses Estados diferentes. Pensem nos eslavos, por exem¬plo. Eles têm o mesmo sangue e possuem certas características; e embora uns pertençam a um país e outros a outro, sempre se pode reconhecer o eslavo. E assim com outros tipos de nacionalidade e de sangue. Uma relação de sangue é algo mais íntimo, direto, vital e vivo do que qualquer relação que seja delimitada e determinada pelos processos da lei e pelos decretos dos homens.
O apóstolo, então, não está meramente multiplicando palavras quando diz: "Assim que já não sois estranhos e estrangeiros, mas concidadãos dos santos" - sim, e membros "da família de Deus". Ele deu passos adiante, levou-nos a uma esfera mais elevada, e estreitou a relação; e quando você estreita a relação, esta sempre se torna mais intensa. Sempre temos relação mais intensa quando somos em menor número. Isso é psicologia, assim é a natureza humana, não é? Por isso o termo "família" transmite todas estas grandes idéias que é importante que captemos.
“aplicação particular disso tudo aos cristãos”
Tendo mostrado a diferença de modo geral, passemos agora à aplicação particular disso tudo aos cristãos, aos membros da Igreja Cristã. Por que é importante que compreendamos esta relação familiar? Por que o apóstolo estava tão desejoso de que estes efésios a compre¬endessem? E porque tantos de nós não compreendem estas verdades que nós somos o que somos e a Igreja é o que é. Acaso compreendemos que de fato somos da família de Deus - e que pertencemos à família de Deus? Esta verdade é uma parte vital da doutrina da salvação. Por isso devemos considerá-la.
Começo com o aspecto mais grandioso e mais importante. É importante que o compreendamos para que entendamos, como devemos, a maravilhosa e estupenda graça de Deus. Eis o que quero dizer: já seria uma coisa maravilhosa se Deus apenas decidisse não punir-nos, não nos enviar ao inferno. Era o inferno que nós merecíamos. Em nosso estado e condição natural, que o apóstolo descrevera ¬"andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos", e sendo "filhos da ira, como os outros também" ¬não merecíamos outra coisa que não o inferno. Digo que teria sido uma coisa maravilhosa se Deus meramente decidisse não nos deixar naquele estado e não punir-nos. Contudo, o método de salvação estabelecido por Deus não pára aí. Ele nos eleva a esta dignidade de filhos, Ele nos adota em Sua família.
Vê-se tudo isso na parábola do filho pródigo. O filho foi para casa e disse a seu pai: "Pai, pequei contra o céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado teu filho". E ia acrescentar, "faze-me como um dos teus jornaleiros". Mas o pai não pode considerar o seu rapaz, embora pródigo, como um dos seus serviçais. Isso simplesmente não pode acontecer. Diz ele: não, não, você volta como meu filho; e o abraça, e lhe traz o melhor traje e o anel, e mata o bezerro cevado. Meu filho! Esse é o método divino de salvação. E, pois, importante que captemos este princípio, a fim de nos habilitarmos a engrandecer a graça? E Deus. Que plano de salvação! Que esquema de redenção! Não satisfeito com outra coisa, senão que estejamos na Sua presença como Seus filhos! Se não nos dermos conta disso, não nos daremos conta da grandeza e das riquezas da graça de Deus.
Aí está, então, o primeiro ponto, e o mais importante, o ponto que, em certo sentido, inclui todos os demais. Ele acentua o que há pouco estive dizendo, que nunca devemos pensar na salvação negativamente. Só começamos com os aspectos negativos. A primeira coisa da qual todos necessitamos é o perdão dos pecados e a nossa libertação da Ira de Deus. Todavia Ele não se detém nisso. E jamais devemos deter-nos nisso, em nosso pensamento. O nosso pensamento deve ser positivo, devemos ver a que tudo isso leva. O cristão não é meramente alguém que foi perdoado e salvo do inferno. Muito mais que isso, ele foi adotado na família do Deus eterno!
Outro ponto muito importante é o seguinte: vocês notam que isso só é verdade quanto a nós no Senhor Jesus Cristo e por intermédio dEle. Isso só é próprio dos que estão "em Cristo". Isso é absolutamente vital e fundamental, porque há corrente hoje um frouxo ensino concernente à paternidade universal de Deus, assim chamada, e à fraternidade universal dos homens. Aqui, neste capítulo, o apóstolo ensina exatamente o oposto. Toda bênção - e devemos ter em mente que este versículo dezenove é um resumo do que vem antes - tudo, ele nos estivera dizendo, é "em Cristo Jesus". Nenhuma destas coisas é real sem Cristo Jesus. "Portanto, lembrai-vos de que vós noutro tempo éreis gentios na carne... que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo. Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto"; "Ele é a nossa paz." Depois, no versículo 18, "Porque por ele (ou "nele", Cristo), ambos temos acesso ao Pai em um (ou "por um") mesmo Espírito". Isso de pertencer à família de Deus independentemente do Senhor Jesus Cristo não existe. A humanidade está dividida em dois compartimentos - os que estão fora de Cristo ou sem Cristo, e os que são membros da família de Deus. Acerca dos primeiros disse o Senhor Jesus Cristo: "Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai" (João 8:44). Como é importante observar estas coisas! Deus, como o Criador, é o Criador de todos, e nesse sentido há uma espécie de paternidade. Entretanto não é disso que o apóstolo está falando aqui; não é dessa verdade que o Senhor Jesus Cristo fala, quando diz: "Vosso pai celestial sabe que necessitais de todas estas coisas" (Mateus 6:32). Não, esta é a nova relação que só passou a existir mediante o Senhor Jesus Cristo e a obra perfeita por Ele realizada.
Portanto, Deus não é Pai dos que não crêem em Cristo. E não há quem possa ir a Deus e Lhe pedir algo, dizendo: "Meu Pai", a não ser que vá "pelo sangue de Cristo", confiando unicamente em Sua obra perfeita. Isso, como vocês sabem, muitas vezes é negado hoje. Muitos falam leviana, desembaraçada e relaxadamente sobre ir a Deus sem sequer mencionar o nome do Senhor Jesus Cristo. Um dia se despertarão para verem que Ele nunca os conheceu, que eles estão fora, que não pertencem à família. Sem Cristo, esse relacionamento não existe. Por outro lado, deixem que eu diga enfaticamente que esta bênção é uma realidade quanto a todos os cristãos verdadeiros. Nisso não há divisões quanto aos cristãos - são todos "concidadãos dos santos e da família de Deus". Portanto, devemos rejeitar todos os ensinamentos que dizem que alguns cristãos não são filhos de Deus, e que traçam uma distinção entre filhos e criaturas. Criaturas e filhos, neste sentido, são iguais, e você não pode ser cristão sem ser uma criatura de Deus e um filho de Deus. Os termos aplicam-se igualmente a todos os cristãos.
É importante compreender isso, pela seguinte razão: se eu e vocês somos filhos de Deus, não temos direito de viver como se fôssemos I apenas empregados. Não temos direito de viver na cozinha da casa. Somos filhos! - e todos os cristãos que não se dão conta disso, e que estão levando uma vida de serviçal, estão desonrando a Deus e estão difa¬mando a glória eterna da Sua graça. Por isso é importante compreender mais este avanço na doutrina. Se não o compreendermos, cairemos naqueles diversos erros e, com isso, estaremos difamando a glória do Senhor Jesus Cristo. Nós O estaremos tirando do centro, Ele já não será crucial, o Seu sangue estará sendo posto de lado e em descrédito. Ele não será tudo para nós, e não glorificaremos Seu Pai como devemos.
Esse é, então, o primeiro motivo pelo qual devemos captar esta verdade. É indispensável para um verdadeiro entendimento da doutrina da salvação.
Somente quando entendemos esta verdade é que passamos a usufruir os privilégios desta posição
Mas eu tomo a liberdade de dizê-lo com maior clareza. Somente quando entendemos esta verdade é que passamos a usufruir os privilégios desta posição. Vocês percebem o que isto significa? Estivemos considerando os privilégios de ser um cidadão do reino, e estes são maravilhosos e gloriosos. No entanto, à luz das distinções que traçamos, você pode ver quão mais altos são os privilégios quando você se vê como filho de Deus, e não apenas como cidadão do Seu reino.
Quais são estes privilégios? Eis o primeiro: Deus é nosso Pai. O eterno e sempiterno Deus! Podemos ir a Ele como nosso Pai. Vocês recordam o que o próprio Senhor Jesus Cristo disse: "Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus" (João 20: 17). Certamente não há maior honra nem maior dignidade que possamos vislumbrar ou compre¬ender do que justamente esta - levar sobre nós o nome de Deus. Não admira que João, no prólogo do seu Evangelho, tenha dito que "a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder (o direito, a autoridade) de serem feitos filhos de Deus" (1: 12). Não há o que supere isso, não há o que conceber acima disso, que somos de fato membros da família de Deus. Isso nos caracteriza literalmente como cristãos. Diz ainda João: "Ama¬dos, agora somos filhos de Deus" (l João 3:2). Não sabemos o que seremos em toda a sua plenitude, continua ele dizendo, mas isto sabemos, que já, agora, somos filhos de Deus. O apóstolo Pedro ocupa¬-se igualmente disso e afirma que "somos participantes da natureza divina" (2 Pedro 1:4). Cada vez mais me parece que é a nossa falha neste ponto que realmente explica por que a Igreja Cristã está como está. E não se trata do que fazemos ou tentamos fazer; enquanto não voltarmos a isto, e realmente não o compreendermos, enquanto não o sentirmos e não experimentarmos o seu poder, não vejo esperança para a Igreja Somos filhos de Deus, participantes da própria natureza divina.
Depois, por causa disso, a segunda coisa que nos caracteriza em nossa relação com Deus como nosso Pai é que temos o direito de aproximar-nos dEle, o mesmo direito que uma criança tem quanto ao ser pai. Paulo já o dissera num versículo anterior: "Porque por ele arribo: temos acesso" - não a Deus, vocês se lembram, mas - "ao Pai em um mesmo Espírito". Isso é tão extraordinariamente forte que mal pode¬mos recebê-lo; mas é verdade. Posso usar uma ilustração simples e óbvia? Imaginem um homem, alguém responsável por uma grande empresa, com centenas, talvez milhares de pessoas a seu serviço e sob a sua direção, um homem excepcionalmente ocupado. É evidente que esse homem não pode cuidar pessoalmente de todos os pormenores do seu negócio ou das obras ou do que seja. Ele só lida com grandes princípios; ele tem os seus gerentes e subgerentes, chefes etc., e esses tratam das minúcias das coisas dos seus respectivos departamentos. Se você levar um detalhe de algum departamento a esse grande homem, que é o chefe de todos, o presidente da companhia, ele simplesmente o despedira, pois não tem tempo para essas coisas. E contudo o vejo ali, um certo dia, em seu escritório, sentado à mesa de trabalho, com todas estas grandes tarefas em mente, e talvez com vultosas quantias para administrar, pelas quais ele é responsável. Ele não pode ver os seus gerentes hoje, só pode ver alguns diretores especiais. Contudo, de repente, ele ouve uma leve batida à porta. Ele sabe quem é; é o seu filhinho, o seu pequerrucho cambaleante; e o homem vai pessoalmente abrir a porta, e passa algum tempo falando com ele, tal vez brincando um pouco com ele.
Tudo é posto de lado. Por quê? É seu filho. Essa é a doutrina que estamos considerando. Deus, que criou do nada todas as coisas, e para quem todas as estrelas e constelações são o que bolinhas de gude são para uma criança, Deus, que domina todas as coisas e que existe de eternidade a eternidade, para quem as nações são como "o pó miúdo das balanças" (Isaías 40: 15) - é meu Pai, é seu Pai, e não há nada, por menor e mais trivial que seja, na minha vida e na sua, pelo que Ele não Se interesse e, por assim dizer, pelo que não Se disponha a deixar que o universo inteiro siga adiante por seu próprio impulso por algum tempo enquanto Ele ouve você e dá atenção somente a você. E isso que essa doutrina quer dizer.
Como somos tolos! Como nos privamos de algumas das coisas mais preciosas da vida cristã, simplesmente porque não nos apegamos à doutrina! Usamos as expressões levianamente, mas não analisamos o seu conteúdo. Eis o que o apóstolo está dizendo: não somos só cidadãos -lembro-lhes que o cidadão tem direito de apelar para o rei, mas isto nos leva muito mais longe - vou como uma criança diretamente à presença de meu Pai, e Ele está sempre pronto a receber-me. Ou, para dizê-lo invertendo os termos, se tão-somente nos déssemos conta do interesse de Deus por nós e da Sua amorosa preocupação conosco! Como é que podemos ler as Escrituras e examinar estas declarações gloriosas, e, ao que parece, nunca as compreender? Foi o próprio Filho de Deus que nos disse que, como filhos de Deus, "até os cabelos da nossa cabeça estão todos contados". É dessa maneira, e em minúcias como essa, que Deus nos conhece. O nosso Senhor estava sempre repetindo este ponto. Diz Ele: "Vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas" (Mateus 6:32). Porque inquietar-se e aborrecer-se? Se você tão¬-somente compreendesse que Ele é seu Pai, que Ele sabe tudo a seu respeito, e que Ele conhece todas as suas necessidades e inquietações muito melhor do que você mesmo, como um pai sabe estas coisas melhor do que seu filho! Por que você não confia nisso, por que você não põe a sua confiança nisso, por que você vai ao Pai com hesitação e dúvida? "Vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas." Somos membros da família de Deus. Não haverá perigo de abusarmos desta doutrina enquanto nos lembrarmos de que o nosso Senhor disse na Oração Dominical: "Pai nosso, que estás no céu, santificado seja o teu nome". Enquanto você começar desse modo, quando for a Deus recorrendo a Ele como seu Pai, não haverá leviandade, nem familiari¬dade indigna, porém a plena relação de Pai-e-filho permanecerá, e você poderá buscá-lO com confiança, com segurança, com certeza, sabendo que, por ser Ele seu Pai, e por Suas grandíssimas e preciosas promessas, Ele estará sempre pronto a recebê-lo. Mais maravilhoso que o Seu estupendo poder é a relação. Essa é a garantia.
“há uma relação com o Filho”
Esse é o primeiro aspecto do privilégio. O segundo é: graças à nossa relação com o Pai, há uma relação com o Filho. As Escrituras se referem ao Senhor Jesus Cristo como "o primogênito entre muitos irmãos" (Romanos 8:29). E é verdade. Diz Ele: "Meu Pai - vosso Pai". Há uma relação entre nós e Ele. Diz o autor da Epístola aos Hebreus que Ele "não socorre a anjos, mas socorre a descendência de Abraão" (2:16, ARA). Ele não assumiu a natureza dos anjos, assumiu a natureza humana; Ele foi feito "um pouco menor do que os anjos", desceu ali nosso nível, assumiu a natureza humana por meio da virgem Maria. I ~I (' é o nosso irmão, é o primogênito entre muitos irmãos; Ele diz: "Eis-me aqui a mim, e aos filhos que Deus me deu". Assim, Ele é um conosco participante da nossa natureza. Mas, como mostra a Epístola aos Hebreus, Ele não fica nisso. Em razão dessa verdade, Ele nos entende Ele Se identifica conosco, Ele está no céu para nos representar. Ele está sempre lá com o Pai, intercedendo por nós. E pensar nisso é, de novo, algo que se nos impõe com extraordinária força. E nEle, por meio dEle e por Ele que nós vamos ao Pai.
No entanto, não nos esqueçamos nunca de que, graças à nossa relação com o Pai e com o Senhor Jesus Cristo, temos o direito de dizer, segundo este apóstolo: "E se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo" (Romanos 8: 17). E neste momento, seja qual for a sua situação, esta é a pura e simples verdade a seu respeito, você é um herdeiro de Deus. Há uma glória que nos espera, glória tão maravilhosa que até as Escrituras pouco nos falam dela. Às vezes as pessoas perguntam: por que tão pouco se nos fala do céu, por que tão pouco nos é dito em detalhe sobre o estado eterno? A resposta é muito simples. Porque somos pecadores, porque somos decaídos, a nossa linguagem também é decaída, e qualquer tentativa de descrever a glória do céu seria uma falsa apresentação. Por isso não recebemos descrições pormenorizadas. Tudo que nos é dito é que estaremos com Cristo - e isso deveria ser suficiente para nós. Estaremos com Ele. Seremos semelhantes a Ele.
Há imagens utilizadas no livro de Apocalipse, mas, lembremo-nos de que são apenas figuras e imagens; a realidade mesma é infinitamente mais grandiosa, a glória é indescritível. E eu e vocês somos herdeiros disso. "Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus" "Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra" e esta será uma nova terra, uma terra glorificada, renovada, "novos céus e nova terra, em que habita a justiça" (2 Pedro 3:] 3). E é nossa; somos herdeiros dela, e co-herdeiros com Cristo. "Se sofrermos (com ele), também com ele reinaremos", diz Paulo a Timóteo. O que o está aborrecendo, Timóteo, por que você está se queixando e lamentando? Porque está tão desgostoso consigo mesmo? Você não sabe que se sofrer com Ele, também reinará com Ele e será glorificado com Ele? Se nos lembrássemos disso sempre, falaríamos menos, não nos queixaríamos, não nos deixaríamos vencer e abater pelos problemas e dificuldades. Os nossos fracassos realmente provêm da nossa incapacidade de captar e compreender que Deus é nosso Pai, que todo e qualquer pormenor da nossa vida é do interesse dEle. Leve tudo a Ele; "leve-o ao Senhor em oração", seja o que for. Ele próprio empregava o termo Pai. Não pense em Mim, parece Ele dizer, como um Deus distante, na glória e na eternidade; estou lá, mas em Cristo vim a você, sou seu Pai, venha a mim. Assim como o Senhor fazia o Seu amoroso convite e convidava a que fossem a Ele todos os que estavam cansados e sobrecarregados, igualmente Deus convida os Seus filhos. "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei" (Mateus 11 :28). Aquela criança que está zangada e triste porque deseja uma coisa que ela não tem - seu pai a ergue e abraça, e a criança fica satisfeita só por isso, porque sabe que o abraço significa que tudo o que o pai tem é dela também. Assim Deus está pronto a tomar-nos nos Seus braços e a envolver-nos no Seu amor. Busquem a Deus, cristãos, Ele é seu Pai, vocês são "membros da família de Deus".
E ainda, pela mesma razão, compartilhamos o mesmo Espírito. O Espírito que estava em Cristo é o mesmo Espírito que está em nós. "E, porque sois filhos", diz Paulo, "Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai" (Gálatas 4:6). O Espírito de adoção! (Romanos 8: 15). Aí está outro resultado da nossa condição de filhos de Deus - Ele nos deu o Seu Espírito.
“das responsabilidades disso tudo”
Ao concluir, preciso lembrá-los das responsabilidades disso tudo? Isso é inevitável. Desfrute tal posição, tal dignidade, tal glória; participar de tais privilégios, ah, como é grande a nossa responsabili¬dade! Permitam-me citar algumas palavras ditas pelo nosso Senhor. Tendo em vista tudo quanto acima foi dito, "resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus" (Mateus 5: 16). Um filho nos diz muitas coisas sobre os seus pais, não diz? Um filho não nos diz somente coisas referentes a si, ele nos diz muito mais acerca de seus pais. Quando você observa o comportamento de uma criança, você aprende realmente muito sobre a disciplina, ou a falta dela, no seu lar. O filho proclama o pai. "Eles verão as vossas boas obras, e glorificarão a vosso Pai, que está nos céus." Cristo disse de novo: "Neles (em nós) eu sou glorificado" (João 17:10, VA e ARA). Certamente vocês recordam como, no Sermão do Monte, falando sobre o amor aos inimigos, o nosso Senhor diz: "Ouvistes o que foi dito: amarás o teu próximo, e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem". Por que devemos fazer todas estas coisas? Eis porquê: "Para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus" (Mateus 5:43-45). Aí está porque temos que fazê-lo, para que sejamos semelhantes ao nosso Pai, para que proclamemos a família a que pertencemos. "Pois, se amardes aos que vos amam que galardão havereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus." Portanto, na próxima vez que você estiver em dúvida quanto à ação que deva praticar ou não, se você deve fazer certa coisa ou não, não perca tempo perguntando a alguém se aquilo é certo ou errado; simpl.es1]1ente pergunte: "Essa espécie de coisa é digna de um filho de meu Pai? E coerente com a família a que eu pertenço, com o Pai que pôs o Seu nome em mim e a quem eu represento entre os homens?”
"Já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus."
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Jornadas no Deserto - 17ª Estação LIBNA
AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 81
Por: Ir. Luiz Fontes
17ª Estação – Libna (parte 1)
Textos: Nm 33:20; 14:40-45; 15:1-31 e Dt 1:45-46; 2:1-8
Nm 33:20 diz:
“E saíram de Rimom-Perez e acamparam em Libna”.
A partir daqui vamos estudar a 17ª estação da peregrinação do povo de Israel pelo deserto. Com a ajuda da Palavra do Senhor, através do Seu Espírito, estudando este capítulo 33 e versículo 20 do livro de Números, nós encontramos mais uma estação – Libna. Antes que entremos no aspecto principalmente espiritual, desejo fazer uma exposição da realidade geográfica e histórica de Libna, para que possamos entender melhor essa estação.
Ao observarmos um mapa da Península do Sinai, temos uma visão clara de toda essa região até a terra de Canaã, na costa do Mar Mediterrâneo, chegando ao Mar Grande. Esta é a Costa Baixa, de baixa altura, posto que está ao nível do mar. Um pouco mais adentro, aproximadamente uns 15 km, há uma cordilheira nessa região que se levanta até a parte sul onde está o Egito, pelo lado ocidental. Chegando ao pé dessa cordilheira, esse lugar chama-se Sefelá ou terras baixas. Ali em Sefelá existe uma cidade chamada Libna, que se localiza no limite, na divisa com o Egito. Este é um lugar muito interessante, é uma região muito importante. Especialmente nos livros de Reis e de Crônicas encontramos algumas menções de Libna, porque essa era uma região fronteiriça, e por isso muitos reis tentaram conquistá-la.
O nome Libna se deve ao fato de estar situada ao pé do monte. Se você fosse visitar aquela região, iria ver que ao pé do monte daquelas cordilheiras havia umas pedras brancas, o que leva alguns estudiosos a acreditarem ser a origem do nome Libna. Porém, existe um outro significado que os estudiosos também consideraram, porque o nome Libna vem de Libner, em hebraico, que era o nome dado a uma árvore conhecida como Choupo Branco ou Populos Alba. Essa árvore expele uma resina branca e leitosa e talvez daí venha a palavra Libne ou Libner, em hebraico, que significa brancura.
O contexto desta estação está em Nm 14:40-45. Então, se você quer estudar Libna, primeiro deve olhar o contexto. Depois de ler Nm 33:20, você deverá analisar os vv. 40-45 de Nm 14, assim como Dt 1:41-46, que é a repetição da mesma situação encontrada em Nm 14:40-45, que já estudamos, em Rimom-Perez, a 16ª estação.
Agora, para entender essa estação, compreendendo melhor todo o contexto, é necessário ler vários textos nesses dois livros. Lembramos que quando esteve em Rimom-Perez, o povo de Israel tentou avançar, contudo Deus não foi com eles. Foram derrotados, houve uma grande tragédia. Neste ponto termina o capítulo 14 e se inicia o capítulo 15 de Números – aqui nós temos a estação de Libna. Assim, antes de lermos os textos de Números 15, é bom lembrarmos que os filhos de Israel foram derrotados em Rimom-Perez. Quando você termina de ler esses últimos versículos de Números 14 e inicia o capítulo 15, não vê nenhum sinal de uma outra estação, mas, atentando para o final de Dt 1, há de se notar os sinais cronológicos dessa estação.
Dt 1:45 diz assim:
“Tendo voltado, chorastes diante de Jeová; porém Jeová não vos ouviu a vós, nem inclinou os ouvidos a vós.”
Esse texto está relacionado com Rimom-Perez. Notem o versículo 46:
“Assim ficastes muitos dias em Cades, segundo os dias que ali ficastes.”
Neste ponto precisamos fazer uma análise textual. Veja que Cades, neste versículo, refere-se não à cidade de Cades-Barnéia, porque eles ainda não haviam chegado à cidade de Cades. É interessante saber que ao redor da cidade de Cades havia o deserto de Cades e, em várias estações, eles estiveram nesse deserto. Se você visitar essa região, notará que muito desses lugares existem até o dia de hoje. Alguns nomes como Razerote, Quibrote-Hataavá, que temos estudado em estações passadas, foram nomes que eles mesmos colocaram depois de passaram por ali. Às vezes chegavam em lugares que já existiam, e às vezes em lugares onde tinham que acampar e, conforme o que ocorria ou segundo alguma coisa que lhes acontecia, nomeavam para recordar a lição e a experiência que aprendiam.
Então, quando em Dt 1:46 diz “Assim ficastes muitos dias em Cades”, trata-se de uma referência a várias jornadas que passaram no deserto de Cades. Em Dt 2:1 diz:
“Então voltamos e partimos para o deserto pelo caminho do mar Vermelho, como Jeová me falou; e muitos dias rodeamos o monte Seir.”
É importante lembrar que o Senhor lhes havia dito tanto em Ritma como Rimom-Perez que deviam voltar pela região do Mar Vermelho. Não se refere aqui ao Mar-Vermelho, pelo golfo de Suez. Quando eles saíram do Egito e atravessaram o Mar-Vermelho, foi nessa região do Golfo de Suez, mas aqui o Senhor está falando para eles retornarem pelo Golfo de Acaba. Eles estiveram dando voltas aqui por 38 anos, porque lá em Ritma não quiseram entrar na terra, quando os 12 espias voltaram e eles foram incrédulos (Nm 14:2-4). Depois nós vemos em Nm 14:40-45 que em sua auto-confiança, em sua presunção, e tendo com fundamento a incredulidade de Nm 14:2-4, eles tentaram ir, mas o Senhor não foi com eles e foram derrotados. É necessário você saber isso, caso contrário você não vai ter uma visão clara do estudo da Palavra de Deus. Então vemos aqui esses aspectos adicionais, os quais não podemos esquecer, pois são de grande significado para nossa compreensão no estudo dessas 42 estações. Quando você lê Dt 1:46, “ficastes muitos dias em Cades” (lembramos que aqui não é a cidade de Cades-Barnéia, e sim o deserto de Cades), e depois lê Dt 2:1, “e muitos dias rodeamos”, você deve saber que esses “muitos dias em Cades” e “muitos dias rodeamos”, tudo isso, equivale a trinta e oito anos, quando, na verdade, toda essa viagem teria que durar dois anos e onze dias apenas.
Ainda ao ler Dt 2:1-3,8, você terá uma visão clara disso. Observe bem:
“1 Então voltamos e partimos para o deserto pelo caminho do mar Vermelho, como Jeová me falou; e muitos dias rodeamos o monte Seir. 2 Jeová disse: 3 Assaz tendes andado em roda deste monte; voltai-vos para o norte.”
Versículo 8:
8 —Assim rodeamos o país de Edom, deixando o caminho que vai de Elate e Eziom-Geber até o mar Morto e seguindo o caminho que vai até o deserto de Moabe.
Veja que outra vez eles passaram pelo deserto de Arabá.
Nos textos acima encontramos uma cidade, um lugar, uma estação, chamada Eziom-Geber, que foi a última parada deles antes de chegarem ao deserto de Sim. Eziom-Geber estava localizada próximo a Elate, a testa do Golfo de Ácaba. Precisamos fazer uma análise mais detalhada aqui, porque Eziom-Geber é a 32ª jornada e, entre Libna e Eziom-Geber temos 15 jornadas, as quais não estão mencionadas nesse versículo 8 de Deuteronômio 2. Então, é muito importante estudar a Bíblia assim, é algo muito impressionante porque você é ajudado a compreender como foi que essas jornadas aconteceram.
Quando você toma aquela frase “muitos dias” (Dt 1:46) e depois “muitos dias rodeamos o monte Seir”, quando você entende tudo isso, você tem uma visão clara e geográfica, o que nos leva a entender a localização de cada jornada. Eles não saíram de Libna e foram diretamente para Ezom-Geber. Sendo Libna a 17ª estação e Eziom-Geber a 32ª, logicamente eles teriam de passar por Rissa, a 18ª, Queelata, 19ª, Monte Sefer, 20ª, Harada, 21ª, Maquelote, 22ª, Taate, 23ª, Tera, 24ª, Mitca, 25ª, Hasmona, 26ª, Maserote, 27ª, Benê-Jaacã, 28ª, Hor-Hagidgade, 29ª, Jotbatá, 30ª, Abrona, 31ª, e Eziom-Geber, a 32ª estação. Ao lermos Nm. 33:21-36 veremos todas essas estações (da 17ª à 32ª). Todas essa estações estão resumidas em Dt de 1:46 a 2:1-8. Veja Dt 1:46:
“Assim ficastes muitos dias em Cades”.
Nunca é demais ressaltar que Cades neste texto é o deserto de Cades. Em Dt 2:1 lemos:
“Então voltamos e partimos para o deserto pelo caminho do mar Vermelho” – aqui é o Golfo de Ácaba – “como Jeová me falou; e muitos dias rodeamos”
Você percebe? “Permanecemos muitos dias” e “muitos dias rodeamos”. Por quê? Porque todas estas quinze estações ocorreram aqui nesses versículos. Então tudo isto é muito importante e você tem que entender.
As lições da estação de Libna concentram-se em Nm 15:1-31. Esse capítulo é muito importante porque nos mostra a provisão de Deus em Cristo. Libna fala de brancura. Por causa da incredulidade, por causa da presunção, por causa da autoconfiança, aquele povo não pôde entrar na terra. Agora Deus mostra-lhes um caminho, um meio de poder entrar na terra. Nós sabemos que essa terra fala da plenitude de Deus em Cristo e esta é a verdade quanto a nossa vida cristã hoje, quanto a nossa peregrinação. Nós temos que atentar para essa verdade, porque muitas vezes falhamos, erramos, somos tomados pela presunção, pelo orgulho, pela soberba. Muitas vezes nós somos consumidos por uma religiosidade profana que não agrada a Deus; muitas vezes confiamos em nós mesmos, pois ainda não fomos levados ao fim de nós mesmos. Necessitamos do trabalhar de Deus, necessitamos de uma obra profunda de Deus em nós, necessitamos conhecer o poder de Deus em Cristo nos resgatando. Nós precisamos conhecer a misericórdia de Deus, porque a história daquele povo revela muito a nossa própria condição espiritual, nosso próprio contexto espiritual, no qual vivemos um evangelho de consumo, um evangelho centrado nas nossas preferências, um evangelho “ao gosto do freguês”, um evangelho que destitui Deus e coloca o homem no centro. Todo este tipo de comportamento cristão, atualmente, demonstra a nossa presunção, o nosso orgulho, a nossa soberba. Nós precisamos ser transformados, nós precisamos de uma obra profunda de Deus no nosso íntimo. Precisamos que Deus nos resgate completamente. Esta é a lição que você aprende em Nm 15.
Você vai ver que essas ofertas que Deus pede aqui revelam os aspectos de Cristo, da sua própria vida, da sua entrega ao Pai; revelam o fato de Ele ter encarnado, de Ele ter vivido uma vida santa diante do Pai, uma vida sem pecado; que o Pai o fez pecado por nós para que nele fossemos feito justiça de Deus, a Sua própria justiça, a Sua própria Vida sendo oferecida como sacrifício ao Pai pela nossa própria vida contaminada pelo pecado, uma vida completamente encharcada de iniquidade. Necessitamos da obra de Cristo em nós, necessitamos que Ele nos lave pelo Seu sangue para que nós sejamos purificados desde a nossa consciência. Nossa própria vida em si, nosso comportamento, nossa conduta, todo nosso ser, precisa ser lavado pelo sangue de Cristo Jesus. Esta é a lição de Libna. Este lugar revela-nos isso agora – todo esse capítulo 15 do livro de Números. Encorajo você a ler todo esse capítulo para que possa compreender todo o propósito de Deus em Cristo, aquilo que Deus em Cristo está realizando em sua vida, aquilo que Ele cumpriu em Cristo. Ele deseja que você possa absorver isso pela fé. Aceitar isso pela fé.
A salvação é uma experiência estupenda, a salvação é uma expressão grandiosa e gloriosa. No capítulo 2 da Epístola aos Hebreus vemos o escritor chamá-la de “tão grande salvação”, porque aquilo que Cristo fez, Ele o fez uma vez para sempre; aquilo que Ele cumpriu, cumpriu uma vez para sempre. E você tem que olhar para isso e entender que, apesar de muitas vezes errarmos, de muitas vezes falharmos, de termos pecado, precisamos compreender que o poder do sangue de Cristo Jesus nos purifica, nos limpa de toda a iniquidade, lava a nossa vida tão perfeita, tão completamente, que as acusações de satanás em face às nossas falhas não nos atingem mais. O sangue de Cristo Jesus nos purifica, nos liberta, nos transforma, nos atrai, nos ganha, opera poderosamente dentro do nosso ser.
Essa é a obra de Deus. Foi isso que Ele fez, foi isso que Ele realizou por você lá na cruz. E nós temos que atentar para essa lição de Libna que mostra o quanto tudo isso tem que ser prático no nosso viver. Não podemos viver um Evangelho de aparências, temos que viver um Evangelho centrado na cruz, um evangelho centrado naquilo que Cristo fez, naquilo que Cristo é. Nós não podemos viver fora disso, senão estaremos sempre em derrota, nunca vamos viver uma vida de vitória em Cristo, seremos medíocres nas nossas condutas – e nós não podemos viver assim.
Essa é a lição de Libna. É tudo isso que você vai ver no capítulo 15 do livro de Números. Todos estes sacrifícios revelam aspectos da obra de Cristo, tudo aquilo que Ele realizou para satisfação do coração do Pai em nosso favor. Prosseguirei falando sobre isso. Espero que seu coração esteja aberto para poder receber aquilo que Cristo fez, aquilo que Cristo está fazendo pelo poder do Espírito e por meio da Palavra, nos conduzindo para Sua própria glória mediante a obra da cruz, mediante aquilo que está consumado lá na cruz do Calvário há dois mil anos atrás. Você precisa estar completamente claro sobre isso.
Que Deus lhe abençoe!
Por: Ir. Luiz Fontes
17ª Estação – Libna (parte 1)
Textos: Nm 33:20; 14:40-45; 15:1-31 e Dt 1:45-46; 2:1-8
Nm 33:20 diz:
“E saíram de Rimom-Perez e acamparam em Libna”.
A partir daqui vamos estudar a 17ª estação da peregrinação do povo de Israel pelo deserto. Com a ajuda da Palavra do Senhor, através do Seu Espírito, estudando este capítulo 33 e versículo 20 do livro de Números, nós encontramos mais uma estação – Libna. Antes que entremos no aspecto principalmente espiritual, desejo fazer uma exposição da realidade geográfica e histórica de Libna, para que possamos entender melhor essa estação.
Ao observarmos um mapa da Península do Sinai, temos uma visão clara de toda essa região até a terra de Canaã, na costa do Mar Mediterrâneo, chegando ao Mar Grande. Esta é a Costa Baixa, de baixa altura, posto que está ao nível do mar. Um pouco mais adentro, aproximadamente uns 15 km, há uma cordilheira nessa região que se levanta até a parte sul onde está o Egito, pelo lado ocidental. Chegando ao pé dessa cordilheira, esse lugar chama-se Sefelá ou terras baixas. Ali em Sefelá existe uma cidade chamada Libna, que se localiza no limite, na divisa com o Egito. Este é um lugar muito interessante, é uma região muito importante. Especialmente nos livros de Reis e de Crônicas encontramos algumas menções de Libna, porque essa era uma região fronteiriça, e por isso muitos reis tentaram conquistá-la.
O nome Libna se deve ao fato de estar situada ao pé do monte. Se você fosse visitar aquela região, iria ver que ao pé do monte daquelas cordilheiras havia umas pedras brancas, o que leva alguns estudiosos a acreditarem ser a origem do nome Libna. Porém, existe um outro significado que os estudiosos também consideraram, porque o nome Libna vem de Libner, em hebraico, que era o nome dado a uma árvore conhecida como Choupo Branco ou Populos Alba. Essa árvore expele uma resina branca e leitosa e talvez daí venha a palavra Libne ou Libner, em hebraico, que significa brancura.
O contexto desta estação está em Nm 14:40-45. Então, se você quer estudar Libna, primeiro deve olhar o contexto. Depois de ler Nm 33:20, você deverá analisar os vv. 40-45 de Nm 14, assim como Dt 1:41-46, que é a repetição da mesma situação encontrada em Nm 14:40-45, que já estudamos, em Rimom-Perez, a 16ª estação.
Agora, para entender essa estação, compreendendo melhor todo o contexto, é necessário ler vários textos nesses dois livros. Lembramos que quando esteve em Rimom-Perez, o povo de Israel tentou avançar, contudo Deus não foi com eles. Foram derrotados, houve uma grande tragédia. Neste ponto termina o capítulo 14 e se inicia o capítulo 15 de Números – aqui nós temos a estação de Libna. Assim, antes de lermos os textos de Números 15, é bom lembrarmos que os filhos de Israel foram derrotados em Rimom-Perez. Quando você termina de ler esses últimos versículos de Números 14 e inicia o capítulo 15, não vê nenhum sinal de uma outra estação, mas, atentando para o final de Dt 1, há de se notar os sinais cronológicos dessa estação.
Dt 1:45 diz assim:
“Tendo voltado, chorastes diante de Jeová; porém Jeová não vos ouviu a vós, nem inclinou os ouvidos a vós.”
Esse texto está relacionado com Rimom-Perez. Notem o versículo 46:
“Assim ficastes muitos dias em Cades, segundo os dias que ali ficastes.”
Neste ponto precisamos fazer uma análise textual. Veja que Cades, neste versículo, refere-se não à cidade de Cades-Barnéia, porque eles ainda não haviam chegado à cidade de Cades. É interessante saber que ao redor da cidade de Cades havia o deserto de Cades e, em várias estações, eles estiveram nesse deserto. Se você visitar essa região, notará que muito desses lugares existem até o dia de hoje. Alguns nomes como Razerote, Quibrote-Hataavá, que temos estudado em estações passadas, foram nomes que eles mesmos colocaram depois de passaram por ali. Às vezes chegavam em lugares que já existiam, e às vezes em lugares onde tinham que acampar e, conforme o que ocorria ou segundo alguma coisa que lhes acontecia, nomeavam para recordar a lição e a experiência que aprendiam.
Então, quando em Dt 1:46 diz “Assim ficastes muitos dias em Cades”, trata-se de uma referência a várias jornadas que passaram no deserto de Cades. Em Dt 2:1 diz:
“Então voltamos e partimos para o deserto pelo caminho do mar Vermelho, como Jeová me falou; e muitos dias rodeamos o monte Seir.”
É importante lembrar que o Senhor lhes havia dito tanto em Ritma como Rimom-Perez que deviam voltar pela região do Mar Vermelho. Não se refere aqui ao Mar-Vermelho, pelo golfo de Suez. Quando eles saíram do Egito e atravessaram o Mar-Vermelho, foi nessa região do Golfo de Suez, mas aqui o Senhor está falando para eles retornarem pelo Golfo de Acaba. Eles estiveram dando voltas aqui por 38 anos, porque lá em Ritma não quiseram entrar na terra, quando os 12 espias voltaram e eles foram incrédulos (Nm 14:2-4). Depois nós vemos em Nm 14:40-45 que em sua auto-confiança, em sua presunção, e tendo com fundamento a incredulidade de Nm 14:2-4, eles tentaram ir, mas o Senhor não foi com eles e foram derrotados. É necessário você saber isso, caso contrário você não vai ter uma visão clara do estudo da Palavra de Deus. Então vemos aqui esses aspectos adicionais, os quais não podemos esquecer, pois são de grande significado para nossa compreensão no estudo dessas 42 estações. Quando você lê Dt 1:46, “ficastes muitos dias em Cades” (lembramos que aqui não é a cidade de Cades-Barnéia, e sim o deserto de Cades), e depois lê Dt 2:1, “e muitos dias rodeamos”, você deve saber que esses “muitos dias em Cades” e “muitos dias rodeamos”, tudo isso, equivale a trinta e oito anos, quando, na verdade, toda essa viagem teria que durar dois anos e onze dias apenas.
Ainda ao ler Dt 2:1-3,8, você terá uma visão clara disso. Observe bem:
“1 Então voltamos e partimos para o deserto pelo caminho do mar Vermelho, como Jeová me falou; e muitos dias rodeamos o monte Seir. 2 Jeová disse: 3 Assaz tendes andado em roda deste monte; voltai-vos para o norte.”
Versículo 8:
8 —Assim rodeamos o país de Edom, deixando o caminho que vai de Elate e Eziom-Geber até o mar Morto e seguindo o caminho que vai até o deserto de Moabe.
Veja que outra vez eles passaram pelo deserto de Arabá.
Nos textos acima encontramos uma cidade, um lugar, uma estação, chamada Eziom-Geber, que foi a última parada deles antes de chegarem ao deserto de Sim. Eziom-Geber estava localizada próximo a Elate, a testa do Golfo de Ácaba. Precisamos fazer uma análise mais detalhada aqui, porque Eziom-Geber é a 32ª jornada e, entre Libna e Eziom-Geber temos 15 jornadas, as quais não estão mencionadas nesse versículo 8 de Deuteronômio 2. Então, é muito importante estudar a Bíblia assim, é algo muito impressionante porque você é ajudado a compreender como foi que essas jornadas aconteceram.
Quando você toma aquela frase “muitos dias” (Dt 1:46) e depois “muitos dias rodeamos o monte Seir”, quando você entende tudo isso, você tem uma visão clara e geográfica, o que nos leva a entender a localização de cada jornada. Eles não saíram de Libna e foram diretamente para Ezom-Geber. Sendo Libna a 17ª estação e Eziom-Geber a 32ª, logicamente eles teriam de passar por Rissa, a 18ª, Queelata, 19ª, Monte Sefer, 20ª, Harada, 21ª, Maquelote, 22ª, Taate, 23ª, Tera, 24ª, Mitca, 25ª, Hasmona, 26ª, Maserote, 27ª, Benê-Jaacã, 28ª, Hor-Hagidgade, 29ª, Jotbatá, 30ª, Abrona, 31ª, e Eziom-Geber, a 32ª estação. Ao lermos Nm. 33:21-36 veremos todas essas estações (da 17ª à 32ª). Todas essa estações estão resumidas em Dt de 1:46 a 2:1-8. Veja Dt 1:46:
“Assim ficastes muitos dias em Cades”.
Nunca é demais ressaltar que Cades neste texto é o deserto de Cades. Em Dt 2:1 lemos:
“Então voltamos e partimos para o deserto pelo caminho do mar Vermelho” – aqui é o Golfo de Ácaba – “como Jeová me falou; e muitos dias rodeamos”
Você percebe? “Permanecemos muitos dias” e “muitos dias rodeamos”. Por quê? Porque todas estas quinze estações ocorreram aqui nesses versículos. Então tudo isto é muito importante e você tem que entender.
As lições da estação de Libna concentram-se em Nm 15:1-31. Esse capítulo é muito importante porque nos mostra a provisão de Deus em Cristo. Libna fala de brancura. Por causa da incredulidade, por causa da presunção, por causa da autoconfiança, aquele povo não pôde entrar na terra. Agora Deus mostra-lhes um caminho, um meio de poder entrar na terra. Nós sabemos que essa terra fala da plenitude de Deus em Cristo e esta é a verdade quanto a nossa vida cristã hoje, quanto a nossa peregrinação. Nós temos que atentar para essa verdade, porque muitas vezes falhamos, erramos, somos tomados pela presunção, pelo orgulho, pela soberba. Muitas vezes nós somos consumidos por uma religiosidade profana que não agrada a Deus; muitas vezes confiamos em nós mesmos, pois ainda não fomos levados ao fim de nós mesmos. Necessitamos do trabalhar de Deus, necessitamos de uma obra profunda de Deus em nós, necessitamos conhecer o poder de Deus em Cristo nos resgatando. Nós precisamos conhecer a misericórdia de Deus, porque a história daquele povo revela muito a nossa própria condição espiritual, nosso próprio contexto espiritual, no qual vivemos um evangelho de consumo, um evangelho centrado nas nossas preferências, um evangelho “ao gosto do freguês”, um evangelho que destitui Deus e coloca o homem no centro. Todo este tipo de comportamento cristão, atualmente, demonstra a nossa presunção, o nosso orgulho, a nossa soberba. Nós precisamos ser transformados, nós precisamos de uma obra profunda de Deus no nosso íntimo. Precisamos que Deus nos resgate completamente. Esta é a lição que você aprende em Nm 15.
Você vai ver que essas ofertas que Deus pede aqui revelam os aspectos de Cristo, da sua própria vida, da sua entrega ao Pai; revelam o fato de Ele ter encarnado, de Ele ter vivido uma vida santa diante do Pai, uma vida sem pecado; que o Pai o fez pecado por nós para que nele fossemos feito justiça de Deus, a Sua própria justiça, a Sua própria Vida sendo oferecida como sacrifício ao Pai pela nossa própria vida contaminada pelo pecado, uma vida completamente encharcada de iniquidade. Necessitamos da obra de Cristo em nós, necessitamos que Ele nos lave pelo Seu sangue para que nós sejamos purificados desde a nossa consciência. Nossa própria vida em si, nosso comportamento, nossa conduta, todo nosso ser, precisa ser lavado pelo sangue de Cristo Jesus. Esta é a lição de Libna. Este lugar revela-nos isso agora – todo esse capítulo 15 do livro de Números. Encorajo você a ler todo esse capítulo para que possa compreender todo o propósito de Deus em Cristo, aquilo que Deus em Cristo está realizando em sua vida, aquilo que Ele cumpriu em Cristo. Ele deseja que você possa absorver isso pela fé. Aceitar isso pela fé.
A salvação é uma experiência estupenda, a salvação é uma expressão grandiosa e gloriosa. No capítulo 2 da Epístola aos Hebreus vemos o escritor chamá-la de “tão grande salvação”, porque aquilo que Cristo fez, Ele o fez uma vez para sempre; aquilo que Ele cumpriu, cumpriu uma vez para sempre. E você tem que olhar para isso e entender que, apesar de muitas vezes errarmos, de muitas vezes falharmos, de termos pecado, precisamos compreender que o poder do sangue de Cristo Jesus nos purifica, nos limpa de toda a iniquidade, lava a nossa vida tão perfeita, tão completamente, que as acusações de satanás em face às nossas falhas não nos atingem mais. O sangue de Cristo Jesus nos purifica, nos liberta, nos transforma, nos atrai, nos ganha, opera poderosamente dentro do nosso ser.
Essa é a obra de Deus. Foi isso que Ele fez, foi isso que Ele realizou por você lá na cruz. E nós temos que atentar para essa lição de Libna que mostra o quanto tudo isso tem que ser prático no nosso viver. Não podemos viver um Evangelho de aparências, temos que viver um Evangelho centrado na cruz, um evangelho centrado naquilo que Cristo fez, naquilo que Cristo é. Nós não podemos viver fora disso, senão estaremos sempre em derrota, nunca vamos viver uma vida de vitória em Cristo, seremos medíocres nas nossas condutas – e nós não podemos viver assim.
Essa é a lição de Libna. É tudo isso que você vai ver no capítulo 15 do livro de Números. Todos estes sacrifícios revelam aspectos da obra de Cristo, tudo aquilo que Ele realizou para satisfação do coração do Pai em nosso favor. Prosseguirei falando sobre isso. Espero que seu coração esteja aberto para poder receber aquilo que Cristo fez, aquilo que Cristo está fazendo pelo poder do Espírito e por meio da Palavra, nos conduzindo para Sua própria glória mediante a obra da cruz, mediante aquilo que está consumado lá na cruz do Calvário há dois mil anos atrás. Você precisa estar completamente claro sobre isso.
Que Deus lhe abençoe!
domingo, 7 de novembro de 2010
EXPOSIÇÃO SOBRE EFÉSIOS
Irmãos continuamos com mais um capítulo do nosso estudo sobre a epístola aos efésios. O irmão Lloyd Jones, com a ajuda do Senhor, expõe de forma muito rica cada detalhe e certamente nos ajuda a entender as riquezas escondidas nesses textos.
Que o Espírito Santo ilumine os olhos do nosso coração, e que possamos reter as verdades espirituais contidas nesse estudo.
Que Deus nos abençoe.
CAPÍTULO 28
PRIVILÉGIOS E RESPONSABILIDADES
Por: D. M. Lloyd Jones
"Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus." - Efésios 2:19
Como já vimos, o apóstolo está descrevendo aqui, de maneira positiva, os privilégios dos membros da Igreja Cristã. Havendo expli¬cado como os dois lados foram aproximados, os judeus e os gentios, agora mostra aos dois juntos qual é a situação deles como membros da Igreja. Com esse fim, ele emprega diversas imagens e figuras. A Igreja, ele já tinha sugerido, é como um corpo. Mas aqui ele nos fala da Igreja como uma cidade, um reino – "concidadãos". Ele diz que a Igreja é também como uma família – "a família de Deus". Todavia a Igreja é também como um templo, no qual Deus habita. No momento vamos examinar a primeira figura dada neste versículo dezenove – a Igreja como um Estado, um reino, uma cidade. Anteriormente consideramos o significado dessa definição em geral. Consideramos também como se obtém esta cidadania. E então vimos alguns dos privilégios gerais que pertencem a nós, como cidadãos desse reino. Lembramo-nos do caráter do nosso Rei, da extensão do Seu reino, dos nossos concidadãos, e da glória futura deste reino estupendo no qual fomos introduzidos.
Privilégios mais particulares que pertencem a nós como membros e cidadãos deste grande reino
Mas agora devemos examinar por um momento privilégios mais particulares que pertencem a nós como membros e cidadãos deste grande reino. O apóstolo tinha desejo de que os efésios se dessem conta destas coisas. Eles tinham sido salvos, estavam na Igreja, tinham sido selados pelo Espírito Santo. No entanto, ele não está satisfeito com isso, ele ora no sentido de que os olhos do seu entendimento sejam ilumina¬dos para que eles possam conhecer mais estas coisas e, dentre elas, esta em particular. E, certamente, o nosso maior problema como povo cristão hoje é que não nos damos conta dos privilégios da nossa posição como membros da Igreja Cristã. A maior necessidade atual é ter uma verda¬deira e adequada concepção da natureza da Igreja Cristã. Visto que a nós que pertencemos a ela falta isso, é que não conseguimos atrair os de fora. Causamos tão pobre impressão que eles não se interessam. O avivamento começa na Igreja. Nunca se poderá levar adiante a evangelização com uma Igreja que não seja uma viva demonstração do evangelho. Assim, de todos os pontos de vista, aquilo em que necessitamos concentrar-nos na hora presente é o caráter, a natureza da Igreja, e o privilégio da nossa posição na Igreja.
Consideremos alguns destes outros privilégios. Há certas coisas que podemos acrescentar aos privilégios gerais, já considerados. Ao desenvolvermos esta analogia da Igreja como um reino, esses privilé¬gios se tornam óbvios.
Benefícios que gozamos por sermos cidadãos desse reino
Pensem, por exemplo, nos benefícios que gozamos por sermos cidadãos desse reino. Essa é uma das primeiras coisas em que se pensa em conexão com um reino. Como cidadão de um país, você goza todos os benefícios do reino, do governo e das leis dessa comunidade particular. Com frequência, a orgulhosa vanglória dos cidadãos deste país (Inglaterra), é que ele é a pátria da liberdade – da democracia parlamen¬tar, e assim por diante. Pois bem, são essas as coisas que desfrutamos como resultado da nossa cidadania neste país. Noutros países há pessoas que não têm estes privilégios, ainda vivem mais ou menos em servidão. Há outros que estão debaixo de tiranias terríveis. Uma das melhores coisas da cidadania é que ela dá de imediato a você o direito de gozar todos os benefícios do sistema e forma de governo, e da economia de um Estado particular.
Podemos transferir tudo isso para a esfera da Igreja. O apóstolo já nos fizera lembrar isso, no capítulo primeiro, no versículo três, onde ele diz: "Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo". Esse é o sumário de todas as bênçãos deste reino particular. São intermináveis, e é impossível tentar descrevê-las. Mas devemos apegar¬-nos ao grande princípio de que todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo são nossas. O reino, a cidade a que pertencemos é um reino, uma cidade em que todas as bênçãos são dadas gratuitamente; é do beneplácito do Rei que elas sejam dadas. Ele Se deleita em fazê¬-lo. Ele Se interessa pelos Seus cidadãos, interessa-Se por todo o Seu povo; seu bem-estar ocupa um lugar especial em Sua mente e em Seu coração. Ele é o Pai do Seu povo, e Se interessa por seu bem-estar e por sua felicidade em todos e cada um dos seus aspectos.
Outras declarações das Escrituras no mesmo sentido nos ajudarão a entender isto. O apóstolo, em sua primeira carta a Timóteo, usa uma expressão interessante: "Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, principalmente dos fiéis" (ou, "principalmente dos que crêem", VA, 4:10). A palavra "Salvador" significa Aquele que aben¬çoa, Aquele que cuida de, Aquele que livra de dificuldade. E as Escrituras ensinam isto em toda parte, concernente a Deus. Deus "faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos". Há hoje no mundo homens e mulheres que nunca pensam em Deus e nunca O mencionam, exceto para blasfemar do Seu nome; não obstante, gozam alguns dos benefícios e bênçãos comuns, gerais do reino de Deus. Tudo o que eles têm provém de Deus. Ele é "o Salvador de todos os homens", sim, mas "principalmente dos que crêem". Ele tem interesse pessoal pelos crentes, um interesse especial, um interesse peculiar, e eu e vocês, como cidadãos do reino, somos os beneficiários destes benefícios, destas bênçãos especiais que Ele tem para o Seu povo. Tudo é ordenado para o nosso bem. "Sabemos", diz Paulo – não há necessidade de argumentar a respeito, nem de questionar ou indagar – ¬"Sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus" (Romanos 8:28). Não há nada que supere isso. É pura verdade que Deus, que domina totalmente o universo e o cosmos, manipula todas as coisas para o bem do Seu povo. Tudo é realizado com vistas a este fim. Deus tem o domínio sobre tudo e, como nosso Rei, Ele manipula todos os Seus recursos para o nosso bem.
Vejam outra declaração feita pelo mesmo apóstolo: "Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?" (Romanos 8:32). O nosso Senhor também afirma que "até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados" (Mateus 10:30), e que nada pode aconte¬cer independentemente de nosso Pai. Muito do ensino do Sermão do Monte destina-se a inculcar esta ideia do interesse e preocupação especial de Deus pelo Seu povo. É uma coisa que faz parte de toda a concepção de um reino com seu rei e seus cidadãos. E por isso devemos lembrar-nos deste fato deveras maravilhoso. Neste reino de Deus e do Seu Cristo, ao qual pertencemos, todos os recursos da Deidade são para nós. Esse é o ensino da Bíblia, em toda parte. O Velho Testamento diz muita coisa acerca do interesse de Deus por Seu povo. Isso está ainda mais claro no Novo Testamento. Somos os beneficiários de todas estas admiráveis, indizíveis, insondáveis riquezas e bênçãos do reino de Deus.
O direito de acesso ao Rei
Outro privilégio é que temos o direito de acesso ao Rei. Essa verdade inclui o mais humilde cidadão do território. Em última instân¬cia, ele tem direito de apelar para o rei. Todo o processo da lei está ali, num sentido, para habilitá-lo a exercer esse direito. Ele pode recorrer de uma autoridade para outra superior, até por fim apelar para o rei. Pois bem, isso aplica-se a cada um de nós, como cristãos. Temos um Rei que, apesar de ser o Rei dos reis e o Senhor dos senhores, e o Governador dos confins da terra, conhece os Seus cidadãos individualmente e por eles Se interessa. Você está sobrecarregado, leva um pesado fardo, está lutando e pelejando? Lembro-lhe que você tem direito de acesso ao Rei. Leve a sua causa a Ele. Por maior que seja aquilo que está ocupando a sua atenção, eu lhe garanto que, se você estender a mão quando Ele estiver passando e lhe apresentar a sua petição, Ele terá tempo para ouvi¬-lo, para olhar para você e para tratar do seu caso. Nunca nos sintamos sumidos na Igreja ou no grande mundo em que vivemos. Nunca pensemos que somos tão pequenos e insignificantes que este grande e exaltado Rei não Se interessa por nós. O ensino geral das Escrituras salienta o inverso e o contrário. Ele está pronto a ouvir o seu humilde clamor.
Quantos exemplos disso há na vida e no ministério do nosso bendito Senhor, quando esteve na terra! Lembram-se de quando Ele fazia a Sua última viagem para Jerusalém, como era seguido por uma grande multidão? Mas lá estava um pobre cego que clamava: "Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim" (Lucas 18:38). Tentaram fazê-lo calar¬-se. Quieto!, diziam, Ele vai indo para Jerusalém, Ele não tem tempo para falar com Você. Todavia Ele o ouviu. E teve tempo para parar, falar com ele, curá-lo e libertá-lo. Igualmente teve tempo para Zaqueu. Também teve tempo para cuidar doutro cego, à porta do templo. Não Importava onde estivesse, ou quão grande fosse a multidão. Lembram¬-se da mulher que tocou as Suas vestes? Aí vocês têm ilustrações do Seu cuidado e solicitude pelas pessoas. Portanto, em sua necessidade e em seu desespero, lembre-se de que, como cidadão deste reino, o seu Rei conhece você e está sempre pronto a ouvir a sua petição e a atender o seu clamor.
Os recursos do reino são compartilhados entre nós
Mas vamos considerar outro aspecto do assunto. Os recursos do reino são compartilhados entre nós. Referimo-nos a este ponto quando estudamos a nossa concidadania com os santos; porém só o analisamos do ponto de vista da sua grandeza. Entretanto também nos será valioso do ponto de vista prático. A comunhão que gozamos com os nossos concidadãos! Isso também é uma parte essencial de toda e qualquer concepção do Estado. Fala-se muito hoje sobre a responsabi¬lidade do Estado pelo bem-estar do povo, cuja base se pretende ser que os fortes levem as cargas dos fracos, e os ricos as cargas dos pobres. É uma co-participação feita para que ninguém tenha superabundância e outros fiquem sem nada. Essa é a ideia. E caracteriza mais propriamente o reino de Deus. Há uma injunção específica, neste sentido: "Mas nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos" (Romanos 15:1). "Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo" (Gálatas 6:2).
Certamente não há nada que nos seja mais precioso do que a maneira pela qual, como cidadãos juntos, como membros da Igreja Cristã juntos, sabemos e experimentamos isso na prática. Haveria alguma coisa mais animadora para o cristão do que saber que outros oram por ele? – que outros têm você, o seu fardo e o seu problema em seus corações e estão fazendo intercessão por você? Eles não estão pensando somente em si mesmos, você é um concidadão, vocês se pertencem. Oramos uns pelos outros, sentimos uns com os outros, entendemo-nos uns aos outros. Eu poderia desenvolver este ponto extensamente; deixem-me, porém, dizê-lo simplesmente desta forma: quantas vezes soubemos da seguinte experiência! Sentimo-nos de tal modo que mal podemos orar, estamos desanimados, e talvez o diabo tenha estado particularmente ocupado conosco, e nos esquecemos inteiramente do fato de que temos este acesso direto ao próprio Rei. Enquanto estamos tendo comiseração por nós mesmos, de repente nos encontramos com outro cristão e, começando a conversar, vemos que ele ou ela está com o mesmo problema ou dificuldade. Imediatamente somos tranquilizados e fortalecidos. E assim vamos adiante juntos. Levamos as cargas uns dos outros. "A lágrima de compaixão", a compreensão! Estamos indo juntos para Sião, através de uma terra estranha. É deveras maravilhoso aperceber-nos de que os recursos de outros, a força e a habilidade de outros, estão à nossa disposição em nossas dificuldades. E, por sua vez, quando eles estão deprimidos e nós estamos alegres, podemos ajudá-los. É admirável a comunhão entre os concidadãos!
A proteção que o reino nos dá
Contudo, vamos considerar outra fonte de conforto, a saber: a proteção que o reino nos dá. É algo extraordinário. É um fato, ao nível secular. Todo o poder, toda a capacidade e todos os recursos de um reino estão por trás do cidadão mais humilde e servem para defendê-lo. Deixem-me utilizar uma ilustração que sempre me parece expressar o ponto com muita clareza. Do seu estudo da história vocês se lembram do que aconteceu em 1739? Em 1739 começou a chamada "Guerra da Orelha de Jenkins". Um certo capitão Jenkins navegava em alto mar, e uma guarda costeira espanhola o atacou sem nenhuma justificação, e por breve tempo ocupou o seu navio. E ainda, em acréscimo à infâmia da ação, cortaram uma das orelhas do capitão Jenkins. Este finalmente voltou ao seu país. Conservou a orelha numa garrafa de álcool e, quando regressou, apresentou-a ao parlamento. E por causa disso, este país, Grã-Bretanha, declarou guerra à Espanha em 1739 – a Guerra da Orelha de Jenkins. Quem era o capitão Jenkins? Não importa, era um cidadão, da Grã-Bretanha, e não devia ser insultado pela Espanha, nem por qualquer outro país; e porque o insultaram, todo o poderio deste país voltou-se contra a Espanha em defesa daquele cidadão individual. E quando eu e você viajarmos ao exterior e acaso sofrermos alguma indignidade ou insulto, devemos lembrar-nos do fato de que o mesmo poder, e todos os recursos do nosso país, estão por trás de nós e preocupados com a nossa defesa.
Isso tudo se aplica com mais propriedade à esfera da Igreja. Vejam certos exemplos do Velho Testamento. Eis aí um homem de Deus duramente pressionado, seus inimigos a cercá-lo e a atacá-lo. Que poderá fazer? Ele diz: "Torre forte é o nome do Senhor; a ela correrá o justo, e estará em alto refúgio" (Provérbios 18:10). "O nome do Senhor!" Há uma exposição maravilhosa disso nos Salmos três e quatro, onde o salmista nos conta que estava cercado por todas as espécies de perigos e de inimigos furiosos. E, todavia, eis o que ele escreve: "Tu, Senhor, és um escudo para mim, a minha glória, e o que exalta a minha cabeça. Com a minha voz clamei ao Senhor, e ouviu-me desde o seu santo monte. Eu me deitei e dormi; acordei, porque o Senhor me sustentou. Não temerei dez milhares de pessoas que se puseram contra mim e me cercam. Levanta-te, Senhor; salva-me, Deus meu; pois feriste a todos os meus inimigos nos queixos; quebraste os dentes aos ímpios. A salvação vem do Senhor". Zacarias diz algo semelhante: "Porque assim diz o Senhor dos Exércitos: depois da glória ele me enviou às nações que vos despojaram; porque aquele que tocar vós toca na menina do seu olho" (Zc 2:8). Vocês querem algo que vá além disso? "Aquele que tocar em vós", diz Deus a você como cristão, "toca na menina do meu olho" – o ponto mais sensível do Meu ser. Essa é a proteção. "Dou-lhes a vida eterna", diz o Senhor Jesus Cristo, "e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão" (João 10:28). Haverá algum lugar mais seguro que esse? "Se Deus é por nós", diz Paulo, "quem será contra nós?" (Romanos 8:31). "O Senhor é o meu ajudador", diz o escritor da Epístola aos Hebreus, "e não temerei o que me possa fazer o homem" (13:6). Diz João, em sua Primeira Epístola, "maior é o que está em vós do que o que está no mundo" (4:4). Pode ser que o inimigo esteja atacando e ferindo você; não revide, não se vingue, diz Paulo, pois "Minha é a vingança, eu retribuirei, diz o SENHOR" (Romanos 12:19). "Eles o venceram", diz o livro de Apocalipse, "pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho" (12:11). Aquele poderoso dragão que se levanta contra a Igreja de Deus, e lança da sua boca uma torrente de águas na tentativa de arrastá-la, está sempre tentando destruir o povo de Deus. Que é que podem fazer os que Lhe pertencem? "Eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho." É assim que se derrota o diabo quando ele vem com toda a sua milícia e com todo o seu terrível poder. Diz finalmente o apóstolo Paulo: "por cuja causa padeço também isto" – as perseguições, provações e tribu¬lações que sofreu – "mas não me envergonho; porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito (VA: "para guardar aquilo que eu lhe confiei") até àquele dia" (2 Timóteo 1:12). Está certo, diz Paulo; você, Timóteo, está passando por tempos difíceis; sei o que é isso; eu não me envergonho, não fico alarmado, não me apavoro, não me abalo – pois eu conheço Aquele em quem eu creio, e Lhe confiei tudo, e Ele me guardará e guardará tudo o que eu considero precioso até aquele dia. Ah, se nos déssemos conta dos nossos privilégios como cristãos! Seja qual foro seu problema, seja qual for a sua situação, seja qual for a sua provação, eu insisto com você, lembre-se dos recursos, lembre-se das coisas que caracterizam você como cidadão deste grande e glorioso reino.
As obrigações, as exigências, as responsabilidades da nossa cidadania
Apresso-me a acentuar outro aspecto que é igualmente importante para nós, a saber, as obrigações, as exigências, as responsabilidades da nossa cidadania. "Já não somos estranhos e estrangeiros, mas concidadãos dos santos." O que estivemos fazendo foi regozijar-nos nos privilégios, porém agora vamos lembrar-nos das responsabilidades. As Escrituras dão ênfase a elas em toda parte. Toda a segunda metade desta Epístola aos Efésios é dedicada quase exclusivamente a isso. Mas vamos recordar resumidamente algumas coisas que decorrem da nossa posição privilegiada e exaltada. São elas que, como já mencionei, nos fornecem certas provas sutis e excelentes quanto a se pertencemos ao reino ou não.
O nosso orgulho do reino
A primeira é, obviamente, esta – o nosso orgulho do reino. A analogia humana é óbvia. O nosso orgulho da pátria, o nosso orgulho da cidadania! Sir Walter Scott pergunta, com muito acerto: "Haverá algum ser humano vivo que esteja com a sua alma tão amortecida que nunca tenha dito a si próprio: Esta é a minha terra natal, a minha terra?" Isso é natural, é instintivo. As pessoas não somente estão dispostas a falar sobre o seu país e a aclamá-lo; também morrerão por ele. As pessoas fazem isso por qualquer coisa pela qual se interessem. Está alguém interessado em música? – está sempre falando sobre música. Está interessado em futebol? Não gritaria, torcendo pelo seu time? Vocês não os têm ouvido aos milhares? O interesse pela agremiação deles! Não contentes com isso, usam os seus mascotes, as suas cores especiais, pagam muito dinheiro para ir ver seu ti me jogar. O entusiasmo! A paixão! Essa é a esfera do seu interesse.
Mas, que dizer de nós? Somos cidadãos de um reino que não pertence a este mundo – o reino celestial que estivemos descrevendo. Que dizer a respeito? Temos orgulho dele? Estamos mostrando de que lado estamos? Estamos mostrando as nossas cores? Ou, quando estamos em companhia de certas pessoas, procuramos ocultar que somos cris¬tãos? Quando estamos com pessoas que não observam o domingo, e que antes desprezam as que frequentam a igreja, procuramos dar a impressão de que essa é também a nossa posição? Não admira que as multidões estejam fora da igreja, quando tantas vezes nós damos a impressão de que nos sentimos um pouco envergonhados pelo fato de estarmos dentro. Todavia não é só questão de envergonhar-nos. Se nos déssemos conta da verdade acerca da nossa posição, ficaríamos comovidos, ficaríamos emocionados. Como o homem que diz, "Esta é a minha terra natal, a minha terra", nós nos gloriaríamos em nosso reino e nos gabaríamos dele, estaríamos prontos a aclamá-lo e, se necessário, a morrer por ele. Nós o enalteceríamos, e enalteceríamos as suas virtudes e todos os altos, grandes e gloriosos privilégios dele decorrentes, e estaríamos ansiosamente desejosos de que todos o conhecessem e pertencessem a ele – como acontece com alguém que se encontra num país estrangeiro. Os homens deste país, quando no exterior, não escon¬dem que são britânicos, querem que todo o mundo saiba disso. E as pessoas que vêm para cá de outros países fazem o mesmo, e fazem muito bem! Do mesmo modo, como cidadãos deste reino glorioso, devemos mostrar sempre a nossa lealdade a esse reino, e gloriar-nos no fato de que pertencemos a ele.
Primeiro a pátria, depois eu
Naturalmente, o próximo ponto é: primeiro a pátria, depois eu. Essa é a provada verdadeira apreciação que a pessoa faz da sua cidadania. Quando o país está em dificuldade, o grito é: "Pelo rei e pela pátria!" – não por seus interesses e preocupações particulares! Ouçam o que diz o apóstolo Paulo: "Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra" (2 Timóteo 2:4). Ele quer dizer que quando um homem é soldado do exército, não se dedica ao mesmo tempo a uma profissão ou a um negócio fora do exército. Ele está inteiramente à disposição do oficial comandante, do seu rei e do seu país. Ele não se embaraça com os negócios desta vida quando está na guerra, porque as consequências seriam caóticas. Se muitos homens alistados no exército, com o país em guerra, de repente dissessem: lamento, mas não posso combater hoje, tenho que ir para casa e resolver alguns negócios, o exército seria logo derrotado. Os soldados têm que cancelar a si próprios, têm que dar de mão de si, têm que estar a disposição do rei e da pátria. Quando você está no exército, não é você que decide quando vai ter folga. Apliquemos esse pensamento à esfera superior. "Pelo rei e pela pátria!" "Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra." Primeiro o reino e o rei. E é justamente essa a prova para vermos se nos damos conta da nossa cidadania neste reino. Acaso submetemo¬-nos ao Rei e à pátria? Renunciamo-nos a nós mesmos? Compreende¬mos que a verdade a nosso respeito é que "não sois de vós mesmos", que "fostes comprados por bom preço"? (1 Coríntios 6:19 e 20). Pertencemos a Ele, não pertencemos mais a nós mesmos.
Agora sou estrangeiro em todo e qualquer outro reino
O próximo pensamento nesta sequência lógica é: em virtude da minha relação com este reino, segue-se que agora sou estrangeiro em todo e qualquer outro reino. Paulo diz a estes efésios: "Já não sois estranhos e estrangeiros, mas concidadãos dos santos"; outrora estavam fora deste reino, eram estranhos e estrangeiros, mas agora são cidadãos do reino. Entretanto, lembre-se, isso significa que você agora é um estranho e um estrangeiro naquele país do qual você veio. Que impor¬tante princípio! Permitam-me lembrá-los da maneira pela qual o após¬tolo Pedro usa este argumento na sua Primeira Epístola: "Vós, que em outro tempo não éreis povo, mas agora sois povo de Deus". "Amados'', diz ele, "peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais que combatem contra a alma; tendo o vosso viver honesto entre os gentios, para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no dia da visitação, pelas boas obras que em vós observem" (2:10-12). Vocês vêem a mudança? Eles não eram um povo; agora são. Estavam fora do reino, estranhos e estrangeiros fora do reino de Deus; agora estão dentro do reino de Deus. Mas, por causa disso, diz ele, vocês são estrangeiros e peregrinos neste mundo, não pertencem mais a ele. Essa e outra maneira de dizer o que Paulo diz em Filipenses 3:20: "A nossa cidadania está no céu" (VA); e porque a nossa cidadania está no céu, aqui somos estrangeiros. estamos no mundo porém não somos do mundo.
Isto é uma coisa que acontece automaticamente. Quando você esta visitando outro país, você não se torna parte dele; continua sendo estrangeiro, sabe disso, e todo o mundo sabe disso também. Eu e vocês, como cristãos, tornamo-nos estrangeiros neste mundo. Não mais pertencemos a este mundo, se é que somos cristãos verdadeiros. Somos como pessoas que estão fora de casa. Estamos aqui por algum tempo, somos forasteiros, somos peregrinos, somos viajores; esta é sempre a descrição que a Bíblia nos apresenta. Leiam o capítulo onze da Epístola aos Hebreus. Os que são mencionados ali se consideravam "estrangeiros e peregrinos na terra". Eles estavam em busca da "cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e construtor é Deus". Eles moravam em tendas. Cada um deles dizia: "Sou estrangeiro aqui, meu lar é o céu". Segue-se automaticamente, não segue? Somos tão-somente estranhos e estrangeiros entre os ímpios. Eles não nos entendem, eles são diferentes. Podem opor-se a nós, podem perseguir-nos. Tudo muito certo, diz Pedro, apenas se lembrem de quem vocês são, e se lembrem de que não pertencem mais a eles. Não há necessidade de argumentar a respeito disso. Ou vocês estão no reino de Deus, ou estão fora; não podem estar nos dois lugares ao mesmo tempo. E é preciso que fique evidente para todos que vocês pertencem a este reino celestial e não àquele outro.
Representar o nosso Rei e a nossa pátria
Eu gostaria de colocar este ponto da seguinte forma, como o meu quarto princípio. Como estranhos, peregrinos e estrangeiros neste mundo, lembremo-nos sempre de que a nossa primeira obrigação é representar o nosso Rei e a nossa pátria. "A Inglaterra espera que cada homem cumpra hoje o seu dever", disse o almirante Nelson na manhã da batalha de Trafalgar. Em tempos antigos, aonde quer que fosse um cidadão do Império Romano, ele levava o seu manto peculiar, o sinal do fato de que ele era um cidadão romano; e ele zelava muito do manto e sua honra. Com toda razão o fazia! Sim, diz o apóstolo Paulo também aos filipenses, "Somente deveis portar-vos dignamente, conforme o evangelho de Cristo" (Fp 1:27). Você é um estranho fora de casa, você sabe da sua pretensão e você disse aos outros o que você é. Lembre-se, eles o estarão observando. Nunca se esqueça disso! Eles vão julgar o seu Rei e o seu país pelo que vêem em você. Vejam de novo, em Pedro: "Amados, peço-vos como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais que combatem contra a alma; tendo o vosso viver honesto entre os gentios; para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no dia da visitação, pelas boas obras que em vós observem". Eles perseguem vocês como a malfeitores, mas provem a eles, pelas suas boas obras, que vocês são filhos de Deus.
Sempre é assim que o Novo Testamento prega a santificação e a santidade. Alguma coisa tragicamente errada aconteceu com a pregação da santificação e da santidade quando ela sempre nos oferece algo, "Vida com V maiúsculo", ou algo que vai ser maravilhoso para nós. Eis como as Escrituras nos exortam à santidade: "Sede santos, porque eu sou santo, diz o Senhor". Se você não está vivendo uma vida santificada e uma vida santa, você é um traidor da sua pátria e do seu Rei. Você não tem direito de viver como quiser. Você não pode dissociar-se da sua cidadania. Você não pode dizer: não importa a ninguém o que eu faço, quero ter a minha vida à minha maneira. Não, se você é cristão. Se você cair, todos nós cairemos com você. E o mundo se rirá de nós. Acima de tudo, Cristo será ridicularizado. Pois um membro da Igreja Cristã ter vida mundana nada mais é que ser ele um canalha e um traidor. Na esfera secular as pessoas são executadas por fazerem uma coisa como essa. Insultar a bandeira! Rebaixar o país! Rebaixar o monarca! Não há nada pior. E eu e você somos cidadãos deste Rei celestial e do Seu reino glorioso e santo. "Amados, peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais (que fiqueis longe) das concupiscências carnais que combatem contra a alma" – não por amor de vocês mesmos apenas, porém por amor daqueles gentios que estão olhando, e pela honrado seu Rei. "Somente deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo."
Essa é uma boa maneira de estudar a prática cristã. Em nossa vida diária, quando nos assaltam dúvidas sobre se devemos fazer algo ou não, ou se devemos usar isto ou aquilo, esta é a nossa prova: serve para mim? Condiz? Se eu vestir este manto, ele está de acordo com meu chapéu e os meus sapatos? É digno? Combina com...? Essa é a figura, a ilustração utilizada pelo apóstolo. Se não servir, se não combinar, se não for próprio e não estiver em harmonia com o restante, devo largar dele. Que toda a sua conduta seja governada pelo evangelho de Cristo. Todas as minhas ações devem ser controladas por ele. É preciso que seja uma realidade global. Cada ato deverá ser digno, próprio, pertinente. Assim, você deve pensar nas grandes doutrinas da fé e perguntar: esta espécie de conduta é consoante com essa fé? Convém ao evangelho de Cristo?
Devemos sempre estar preocupados com a defesa do reino
Finalmente, deveria ser óbvio que, como cidadãos deste reino, devemos sempre estar preocupados com a defesa do reino, com a defesa das suas leis e com a defesa de tudo o que é propugnado por esse reino. A bandeira! Devemos estar dispostos a morrer pela "bandeira"; ela representa o país e tudo o que lhe pertence. Isso é igualmente verdade quanto a nós, no sentido espiritual. Não mais somos estranhos e estrangeiros, mas concidadãos dos santos. Em dias como os atuais somos convocados para defender esta "bandeira", a Bíblia. Ela está sendo atacada e ridicularizada. Vocês a estão defendendo? Não basta dar o seu testemunho como uma defesa da Bíblia. Vocês têm que preparar-se para defender a Bíblia. Para começar, vocês têm que conhecer a Bíblia. E vocês têm que ter algum conhecimento dos livros que os ajudarão a defender a Bíblia. Boa vontade e boas intenções não defenderão o país. Para defender o pais, o homem tem que entrar no exército e tem que ser treinado, fazer exercícios e aprender a ser disciplinado; goste ou não, terá que fazê-lo "à força", como se diz. E eu e você temos que aprender "à força" a defender a bandeira, o país, o reino. O nosso livro está sendo atacado; a nossa fé está sendo atacada. Temos que estar "sempre preparados", diz Pedro, "para responder a qualquer que nos pedir a razão da esperança que há em nós" (1 Pedro 3:15). Como poderemos fazê-lo? O reino está sendo atacado por um inimigo poderoso, e eu e vocês estamos sendo convocados como combatentes para que façamos a nossa pequena parte individual. Não há maior honra, não há privilégio mais alto. A vitória é certa e segura. Mas seria trágico, quando chegar o grande e glorioso dia de celebrar essa vitória, se algum de nós achasse que não fez absolutamente nada, que simplesmente ficamos sentados enquanto alguma outra pessoa fazia o trabalho, a defesa, a luta, o esforço.
Não precisamos ser todos grandes peritos na arte da guerra. Deixem-me usar uma analogia humana. Não precisamos ser todos soldados de carreira; você não precisa ser, necessariamente, um obreiro de tempo integral, pode engajar-se na Defesa Civil do reino de Deus. Um policial de alto nível. Ache tempo para isso. Tenha um só interesse. Dedique-se a ele. O reino de Deus está sendo atacado e ridicularizado. Saltemos logo em sua defesa, por pequeno que seja o serviço que possamos prestar.
Noutras palavras, como cidadãos deste reino, o nosso maior desejo, a nossa principal ambição, sempre deverá ser que as suas fronteiras sejam ampliadas e ele se torne cada vez mais poderoso e cada vez mais glorioso, até o dia em que "os reinos do mundo vierem a ser de nosso Senhor e do seu Cristo".
"Já não sois estranhos e estrangeiros, mas concidadãos dos santos" neste reino glorioso. E por essa razão somos apenas estrangeiros e peregrinos neste mundo, com todo o seu artificialismo, ostentação com toda a sua louca confiança própria, que darão em nada. Graças a Deus, não pertencemos a isso. Aqui somos apenas estrangeiros. "A nossa cidadania", graças a Deus, "está no céu."
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