Irmãos estmos compartilhando mais um estudo a cerca do maravilhoso livro de Efésios. Que o Senhor nos dê graça para enxergarmos as verdades espirituais e nos apropriarmos delas.
CAPÍTULO 15
“SEM CRISTO”
"Que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comu¬nidade de Israel, e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo." - Efésios 2:12
Passamos agora, neste versículo doze, a ver e estudar em detalhe o segundo aspecto deste problema, a saber, como foi possível que estes efésios - que eram gentios, incircuncisos - como foi possível que eles fossem introduzidos na Igreja Cristã e unidos aos cristãos judeus para formarem um novo corpo, a Igreja Cristã? Essa é a questão da qual o apóstolo trata aqui. A distinção entre judeu e gentio era deveras real. Não devemos menosprezá-la, nem diminuí-la, nem tratá-la como algo de somenos importância. Afinal de contas, foi Deus mesmo que introduziu o sinal da circuncisão. Foi Deus que mandou Abraão circuncidar-se e circuncidar os seus filhos, e que isso fosse feito perpetuamente. Por¬tanto, não devemos subestimar essa distinção entre judeus e gentios. Mas, embora reconheçamos a distinção, devemos ter claro entendi¬mento do que ela significa e o que representa. Foi nesse ponto que os judeus se extraviaram. Para eles o sinal externo, sozinho, significava tudo. Era algo na carne, era algo externo. Este homem é circunciso? Então ele está bem, ele pertence ao povo de Deus. É incircunciso? Então ele está mal e não tem esperança nenhuma. Eles tinham entendido de maneira totalmente errônea o objetivo, o propósito e o espírito da circuncisão.
O apóstolo trata dessa questão em muitas das suas Epístolas. Ele o faz, por exemplo, de maneira particularmente clara, na Epístola aos Romanos, capítulo dois, versículos vinte e oito e vinte e nove, onde ele diz: "Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus". Noutras palavras, os judeus tinham sido totalmente incapazes de ver que todo o objetivo disso era algo espiritual na mente de Deus. O apóstolo estava muito preocupado com isso. Alguns, quando ouvem que não existe mais circuncisão e incircun¬cisão, judeu e gentio, e assim por diante, mostram-se propensos a dizer: bem, então não precisamos dar atenção a estas coisas. Alguns cristãos têm sido bastante tolos para dizer que, uma vez que somos cristãos, não necessitamos do Velho Testamento. Todavia, isso, diz ainda o apóstolo na Epístola aos Romanos, está completamente errado. "Qual é logo a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão?" E ele replica: "Muita, em toda a maneira, porque, primeiramente, as palavras de Deus lhes foram confiadas". Depois, no capítulo nove da Epístola aos Romanos, ele torna a desenvolver o mesmo argumento. Ele fala da sua grande tristeza e dor no coração - "Porque eu mesmo poderia desejar ser separado de Cristo, por amor de meus irmãos, que são meus parentes segundo a carne; que são israelitas". Que é que ele quer dizer? Ele prossegue para dar a resposta: "dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e os concertos, e a lei, e o culto, e as promessas; dos quais são os pais, e dos quais é Cristo segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente". Havia um propósito e objetivo muito real na distinção entre judeu e gentio. Não era como os judeus o interpretavam, que o faziam erroneamente, mas lá estava o fato, e era extremamente impor¬tante. Aqui, agora, neste versículo doze de Efésios, capítulo dois, Paulo nos dá o verdadeiro conceito da matéria em foco. No versículo onze ele nos dá o falso conceito da circuncisão; no versículo doze ele nos dá o verdadeiro conceito da circuncisão e da falta dela.
O apóstolo apresenta o seu ensino de maneira interessante, extra¬ordinária e, à primeira vista, surpreendente. Eis como ele o expressa: "Que naquele tempo estáveis sem Cristo". Ora, esse é um modo estranho de dizê-lo - "sem Cristo". Pode-se traduzir como "separados de Cristo", "fora de Cristo", "não em comunhão com Cristo", "não em relação com Cristo", ou até "vivendo separadamente de Cristo". Depois de haver feito a sua colocação em termos gerais, ele vai adiante para expressar-se a respeito mediante cinco pontos diferentes: "sepa¬rados da comunidade de Israel", "estranhos aos concertos da pro¬messa", "não tendo esperança", "sem Deus", "no mundo".
A situação que prevalecia antes de Cristo
Isto certamente exige nossa cuidadosa atenção. Obviamente Paulo está se referindo à situação que prevalecia antes de Cristo, sob a antiga dispensação, sob o Velho Testamento. O mundo estava dividido entre judeus e gentios, aqueles que, como judeus, tinham sido circuncidados, e os incircuncisos, os gentios, as outras nações. Todavia, vocês podem reparar que ele se refere aos gentios daquele tempo e naquela condição nestes termos: "sem Cristo", "fora de Cristo". Aqui ele está se referindo a uma situação que imperava antes da vinda do Senhor Jesus Cristo ao mundo; entretanto, ele o diz em termos de estar "em Cristo", ou "fora de Cristo", em termos de viver separadamente de Cristo. Por que é que o apóstolo descreve esse estado de coisas em termos de uma relação com Cristo? Naturalmente, num sentido, a resposta é que ele está fazendo algo que é obrigado a fazer, e se não entendemos e não captamos claramente o que ele está fazendo nesta passagem, só se pode pensar que temos lido o Velho Testamento em vão. Aqui ele está fazendo um repasso geral do Velho Testamento. Que é que o caracteriza? A resposta é: "a comunidade de Israel"; "os concertos da promessa"; a esperança que Deus dera ao povo; a relação deste com Deus; sua separação do mundo. Este é o sumário da condição e da situação dos israelitas sob a dispensação do Velho Testamento. Todas as outras nações estavam fora destas bênçãos e, todavia, a descrição que ele faz é em termos de estar "em Cristo", ou "fora de Cristo".
Tudo no Velho Testamento olha para o futuro, para Cristo
Como devemos entender isto? A resposta é que tudo o que Deus fez aos judeus e por eles sob a antiga dispensação foi feito na expectação de Cristo. Tudo no Velho Testamento olha para o futuro, para Cristo. Nunca devemos examinar aquelas coisas em si e de si. Tudo quanto Deus fez àqueles judeus, àqueles israelitas, Ele o fez como preparação para a vinda do Senhor Jesus Cristo. O apóstolo o expressa numa frase em Gálatas 3:23 desta maneira: diz ele que o propósito de Deus foi manter-nos "encerrados para aquela fé que se havia de manifestar"; "a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo", nunca foi seu propósito fazer coisa alguma em si e de si. Foi aí que os judeus erraram. Eles pensavam que a lei era alguma coisa em si mesma, e que eles foram salvos porque possuíam a lei, ao passo que os outros não. Não, diz Paulo, a lei é o nosso preceptor, o nosso aio, para levar-nos a Cristo. O propósito de todas aquelas coisas era encerrar-nos para aquela fé que se havia de manifestar.
Podemos ver o ponto mais ou menos assim: Deus fez o homem à Sua imagem, e o homem vivia em harmonia e em comunhão com Deus. Mas, ele pecou e caiu, apartando-se de Deus. Que lástima! Depois que ele deu nascimento à sua progênie, a terra encheu-se de gente, e até ao tempo do chamamento de Abraão o mundo inteiro e todos os seus povos e nações estavam numa mesma relação com Deus. Não houve nenhuma divisão importante até à vocação de Abraão. Já havia uma espécie de divisão entre a linhagem de Caim e a de Sete, contudo Deus tratava igualmente todas as nações e todos os povos, até quando Abraão foi chamado. Então Deus fez algo novo. Ele disse a Abraão que ia fazer dele uma nação, que dos seus lombos surgiria uma grande nação, um povo especial e peculiar pertencente ao próprio Senhor Deus. Ele ia criar uma nova nação, uma nação especial. Ia separá-la de todos os outros povos e manteria uma peculiar relação com essa nação especial. Essa é a formação de Israel, essa é a gênese da comunidade de Israel, o povo de Deus. Depois Ele fez certas alianças com esse povo. Fez-lhe certas promessas. Comprometeu-Se com ele. Ele separou este homem, Abraão, e lhe disse: "Em ti e em tua semente serão abençoadas todas as famílias da terra". Deus fez aliança com Abraão, comprometeu-Se com ele, fez um juramento - esse é o significado das alianças. Estas promessas foram repetidas muitas vezes - a grande e única aliança repetida em várias formas – a lsaque e a Jacó, a Moisés no Sinai, e ainda a Davi, e pregadas pelos profetas. É isso que se quer dizer com estas expressões, "a comunidade de Israel", "os concertos da promessa", e assim por diante. Todas tinham em vista a futura vinda do Messias, o grande Libertador. Noutras palavras, o que temos que compreender é que agora Deus via o mundo e o seu povo de duas maneiras: via o povo da aliança de um modo; via os demais povos de outro modo. E o povo da aliança era conhecido pelo sinal e pela marca da circuncisão. Todo menino nascido em Israel tinha que ser circuncidado no oitavo dia porque pertencia ao povo da aliança, à nação de Israel, ao povo de Deus. De um lado está o povo de Deus; do outro estão os gentios.
É isso que o apóstolo está lembrando aos efésios, e este é o seu objetivo ao fazê-lo: ele quer que eles se apercebam da grandeza da sua salvação. Quer que compreendam que o fato de agora se haverem tornado concidadãos, coerdeiros com os santos e da família de Deus, é a coisa mais assombrosa que poderia acontecer. A única maneira pela qual eles poderão entender isto é experimentando algo da "sobreexce¬lente grandeza do poder de Deus sobre nós, os que cremos". Não é somente o poder que nos ressuscita da morte no pecado, é um poder que sobrepuja esta tremenda questão de como os que estão fora da relação pactual, da aliança, poderão ser introduzidos. Assim, ele prossegue, para explicar-lhes e expor-lhes isso. Ninguém jamais se regozijará em Cristo como deve, se não compreender qual era a sua situação antes de se tornar cristão. O problema com todos os cristãos professos que não se regozi¬jam em Cristo é que eles nunca se deram conta do que eles eram em pecado. Não ajuda nada dizer-lhe que você deve ser "sempre positivo"; você tem que partir do que há de negativo em você. Se você não se der conta do que você era antes de ser tomado por Deus, jamais O louvará como deve. Por isso Paulo desce a minúcias. Há muitos que nunca viram qualquer necessidade de Cristo. Por quê? Porque estão satisfeitos consigo e pensam que tudo está bem com eles como eles são. Esse é o problema. Paulo está desejoso de que os seus leitores entendam esta questão. Ele orou no sentido de que Deus abrisse "os olhos de seu entendimento", para que pudessem entendê-la. Vocês estavam longe, diz ele, mas agora "pelo sangue de Cristo chegastes perto" - você seria capaz de ver o que Deus fez? Você não consegue ver a medida do Seu amor, da Sua graça e misericórdia, e do Seu ilimitado poder?
Aplicando esse argumento do apóstolo a nós
Esse é o argumento. Vamos adiante, com o fim de aplicá-lo a nós. Vocês conhecem com o seu coração, como também com a sua cabeça, o maravilhoso amor de Deus? Ficam emocionados quando pensam nele e o imaginam? Enchem-se de um sentimento de maravilha, de amor e de louvor? Se não se sentem assim é porque vocês ainda não compre¬enderam o que Deus fez por vocês em Cristo. Entende-se isto exami¬nando o que significa não ser cristão - "sem Cristo", estar "fora de Cristo". Noutras palavras, o primeiro princípio que firmamos é que a única coisa que importa nesta vida e neste mundo é estar relacionado com Deus em Cristo. Não há nada mais terrível que se possa dizer a qualquer pessoa do que esta - "sem Cristo", "vivendo separadamente de Cristo". Quando o apóstolo procurou uma expressão pela qual mostrar àquelas pessoas quão longe elas estavam, e a total desesperança da sua situação, foi esta que ele escolheu: "sem Cristo". "Vivendo separadamente de Cristo." "Sem estar em vívida relação com Cristo." Não há nada pior do que isso. Mas, por outro lado, não há nada mais maravilhoso do que estar "em Cristo". Estas são as expressões do Novo Testamento - "em Cristo", "fora de Cristo".
As duas únicas posições que importam
São essas as duas únicas posições que importam. Todos estamos, ou "em Cristo", ou "fora de Cristo". Você sabe exatamente onde está? Isto não é teoria, é fato real, é experiência. É o que vai determinar o nosso destino eterno. É porque ignoram o que é estar "fora de Cristo" que milhões de pessoas no mundo atual passam o domingo de manhã lendo os jornais e o lixo dos tribunais, em vez de investigarem a Palavra de Deus. Não se apercebem de como é terrível a sua situação por estarem "fora de Cristo". Por isso Paulo lhes diz em detalhe o que significa isso com as cinco expressões já mencionadas. Elas podem ser classificadas em duas divisões.
O que significa estar sem Cristo quanto à nossa relação com Deus
Primeiro consideremos: o que significa estar sem Cristo quanto à nossa relação com Deus. Aqui o apóstolo diz duas coisas, as duas primeiras das cinco expressões.
"Separados da comunidade de Israel"
A primeira é que nós estamos num estado e numa condição de "separados da comunidade de Israel". A referência é à uma agremiação de cidadãos ou de pessoas definidamente constituídas numa comunidade política. No mínimo significa certo número de pessoas definidamente constituídas numa comunidade. É algo separado e distinto, algo que pode ser reconhecido. Portanto, o que nos é dito é que Deus, da maneira que indiquei, formou uma comunidade para Ele. Este é o método de salvação estabelecido por Deus; Ele forma um povo, uma comunidade. Ele separa as pessoas e Se mantém numa relação especial com elas. Uma descrição minuciosa disso tudo é dada no capítulo dezenove do livro de Êxodo. O apóstolo Pedro o cita em sua Primeira Epístola, capítulo dois, versículos nove e dez. Deus reuniu aquelas pessoas antes de lhes dar os Dez Mandamentos, e lhes disse: "Sereis a minha propriedade peculiar", "Vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido." Ele separou esse povo para Si e o apartou de todos os demais. Mas não ficou nisso. Fez isso porque tinha um interesse especial por ele. É um povo que constitui a Sua "propriedade peculiar". Assim, bem mais tarde, por meio do profeta Amós, Deus disse a respeito da nação de Israel: "De todas as famílias da terra a vós somente conheci" (Amós 3:2). Obviamente, isso não significa que Ele não tomava conhecimento de todas as outras. Certamente que tomava. "Conhecer" nas Escrituras significa ter inte¬resse pessoal e especial por, estar preocupado com, importar-se com, ver com os olhos de um pai e com amorosa contemplação. "De todas as famílias da terra avós somente conheci" - a referência é a Israel. Deus via todas as nações, porém não as conhecia, não tinha esse interesse especial por elas; elas estavam fora da comunidade de Israel, eram estranhos. De fato, a palavra empregada por Paulo aqui é muito interessante. Aqui se lê "(estáveis) separados"; a tradução deveria ser "tendo-se feito separados", ou "tendo-se tornados separados". Nou¬tras palavras, nunca houve o propósito de que alguém estivesse nessa situação; é tudo consequência da Queda, consequência do pecado. O homem separou-se, passou a estar fora do interesse peculiar de Deus.
Então a primeira coisa que significa estar "sem Cristo" é que você está fora daquele círculo no qual Deus está peculiarmente interessado. Você não pertence ao povo da aliança. Você é tão-somente um de uma grande multidão nalgum lugar; não há este interesse especial, este especial objeto de interesse. "Separados da comunidade de Israel." Hoje é a Igreja Cristã que corresponde à comunidade de Israel. A coisa mais terrível acerca do não cristão é que ele está fora daquele círculo e não pertence ao povo de Deus. Você está separado da comunidade de Israel? Você se sente estranho num culto cristão? Você se pergunta: do que é que esse homem está falando? Que será isso tudo? Não lhe parece muito prático, não é como uma pregação sobre conferências internacionais, sobre a fabricação de armas atômicas ou sobre questões políticas correntes. Não é relevante, é obsoleto. E alheio a você, é-lhe estranho? Ou você sente que lhe diz respeito? É uma coisa terrível a pessoa sentir¬-se um forasteiro, um intruso, sentir que não tem parte nestas coisas, que de algum modo elas nada têm a ver consigo. Você está dentro? Você ama os irmãos na fé? Você tem parte nestas coisas? É terrível estar "fora de Cristo", "separado da comunidade de Israel".
"Estranhos ao concerto da promessa"
O que a seguir o apóstolo nos diz é que os gentios eram "estranhos ao concerto da promessa", ou "às alianças da promessa" (ARA). Já lhes fiz lembrar as alianças feitas por Deus. Deus tomou Abraão. Não porque houvesse algo de peculiarmente bom em Abraão; ele era um pagão entre outros pagãos. Deus o chamou e lhe disse: Eu pus Meus olhos em você, vou abençoar você, empenho-Me pessoalmente com você. Como nos lembra o autor da Epístola aos Hebreus, Deus o fez com juramento (6:13-18). Empenhou-Se e fez um juramento, para a segu¬rança de Abraão e sua semente. As promessas de Deus! Leiam o Velho Testamento e as verão uma após outra. Deus chama homens, separa-os, dá-lhes uma revelação, uma visão, dirige-Se a eles, envia-lhes uma palavra. É o que os mantém em marcha. Este foi o segredo do povo descrito no capítulo onze da Epístola aos Hebreus - as promessas. Deus olhava para os do Seu povo e lhes dizia: não se preocupem; deixem que as outras nações os invejem e tentem destruí-los; deixem que os homens se levantem contra vocês; não importa; vocês são o Meu povo, nunca os deixarei desaparecer, "Não te deixarei, nem te desampararei" (Hebreus 13:5); apegue-se à palavra da minha aliança e às Minhas promessas, olhem para o futuro, para o seu cumprimento.
As promessas da aliança! Mas os efésios lhes eram estranhos. As nações gentílicas nada sabiam delas. Enquanto que o povo peculiar de Deus, os judeus, recebia estas grandes mensagens e se regozijava nelas, os outros absolutamente não as conheciam - eram estranhos, absoluta¬mente estranhos, nada tinham ouvido dessas promessas, não sabiam nada a respeito, e não estavam interessados nelas. Essa continua sendo a verdade sobre todos os que estão "fora de Cristo", sobre os que não estão ligados vitalmente a Cristo. Podem ler a Bíblia, e não se comovem. Podem ver estas "grandíssimas e preciosas promessas" (2 Pedro 1:4), e ainda indagam: a quem se aplica isso? Que se pode dizer a respeito? São estranhos, são como estrangeiros, não entendem a língua. Acaso a Bíblia lhe diz algo? É-lhe inteligível? Você acha que ela não passa de palavras sem nexo, de jargão? Ou lhe diz algo, diz-lhe palavras que o levantam e o firmam sobre os seus pés e o levam a louvar a Deus? Você é estranho às alianças da promessa, ou sabe que elas estão falando com você e que você é membro da agremiação, que Deus Se dirige a você quando você lê a Sua Santa Palavra? Que coisa terrível é estar "fora de Cristo", não estar em vívida relação com Cristo, ser estranho às alianças da promessa!
As inevitáveis consequências de estar "fora de Cristo"
Vamos adiante e consideremos a segunda divisão: as inevitáveis consequências de estar "fora de Cristo". O apóstolo menciona três.
Sem esperança
A primeira é que a pessoa está sem esperança. Certamente esta é uma das declarações mais terríveis das Escrituras, senão a mais terrível. "Não tendo esperança"! Não existe nada pior. "Enquanto há vida há esperança"; sim, porém quando a esperança se vai, nada mais resta. A esperança é a última que morre, mas quando morre a esperança, "retoma o caos" - como diz Otelo *. Contudo, quem está sem Cristo está sem esperança.
Isto significa, primeiramente, que ele não tem nenhuma esperança nesta vida. Vocês já tinham percebido que sem Cristo não há nenhuma esperança nesta vida, neste mundo? - absolutamente nenhuma! Será exagero? Em resposta eu lhes peço que considerem as declarações dos pensadores mais profundos que o mundo conheceu, e verão que, invariavelmente, eles são pessimistas. As maiores obras de Shake¬speare são tragédias. Todas as religiões, fora a fé cristã, são profunda¬mente pessimistas. O único consolo que lhe dão é que chegará o tempo em que você escapará deste mundo; poderá ter que passar por uma série de reencarnações - mas aqui não há esperança, você terá que livrar-se dele e, de um modo ou de outro, perder-se nalgum nirvana. Elas não dão esperança alguma ao homem neste mundo. É a carne, o corpo, dizem elas, que causa todos os nossos problemas, e não há esperança para você enquanto estiver no corpo. Por isso você tem que sair deste mundo. O hinduísmo, o budismo e todo o resto são completamente sem esperança. São produtos de pensamento profundo sem a revelação; e todas elas são totalmente destituídas de esperança. Isso é algo que vocês verão em todas as grandes filosofias, em todas as grandes religiões. Vê-le-ão em toda grande literatura. Já notaram que os nossos maiores poetas são pessimistas? Wordsworth nos diz que ouvia a "dolente e triste música da humanidade". Naturalmente, se vocês estiverem voejando de salão de baile em salão de baile e de cinema em cinema, não a ouvirão, porque há tanto barulho que não a podem ouvir; porém, o poeta senta-se, põe¬-se à escuta e medita, e o que ouve? - Que a vida é maravilhosa? - Não, o que ele ouve é a "dolente e triste música da humanidade". "A vida é real, a vida é séria." Não é um vertiginoso rodar de prazer após prazer. Não se vê esperança nesta vida e neste mundo.
Tudo isso nos vem habilmente resumido no livro de Eclesiastes, onde o autor diz: "Vaidade das vaidades! é tudo vaidade". Isso não é dito de maneira superficial, num momento de decepção; é a conclusão a que chegou um profundo pensador que tentara todas as possibilidades, considerara todas as coisas que se nos oferecem, e viu que todas elas juntas não chegam a nada. "O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; de modo que nada há novo debaixo do sol" (1:9). Não há esperança para o mundo, ele não vai ficar cada vez melhor. Todo o fútil idealismo dos últimos séculos é totalmente condenado por todas as grandes expressões do pensamento dos séculos - e, natural¬mente, está totalmente desacreditado hoje pelos fatos e eventos. Sem Cristo não há esperança nesta vida e neste mundo. "Vaidade de vaidades! é tudo vaidade!", pode-se escrever rotulando todas essas coisas. Não somente não há esperança de que as coisas melhorem, também não há esperança de que o próprio homem melhore. Ele não é nada melhor do que era sob a dispensação do Velho Testamento. Continua cometendo os mesmos pecados, continua culpado das mesmas faltas; não há prova de que houve progresso espiritual do homem. O homem é tão podre hoje como quando caiu no jardim do Éden. Além disso, não há o que ver no futuro. Todos estamos envelhecendo, as nossas energias vão fenecendo, a morte virá, inevitavelmente. Façam vocês o que fizerem, não se livrarão dela. Essa é a vida sem Cristo. Deixemos que Shakespeare, com seu jeito inimitável, resuma o ponto para nós. Já no período final da sua vida, ele o expressou perfeitamente num dos seus últimos dramas, A Tempestade ("The Tempest").
As torres envoltas em nuvens,
Os suntuosos palácios,
Os templos solenes
E o próprio globo grandioso,
Sim, todo o universal legado se dissolverá,
E, como esta frágil pompa esmaecida,
Nem mesmo um vapor deixará atrás:
É o que somos,
Como feitos de sonhos, e um sono cerca
A nossa curta vida.
É assim a vida sem Cristo. Nenhuma esperança! Absolutamente nenhuma! Isso não é pessimismo, é realismo, é encarar os fatos. Não há esperança neste mundo, ele não está ficando melhor. Vejam os jornais, vejam os fatos: o homem não está melhorando, e nada o espera senão a morte. As torres envoltas em nuvens, os suntuosos palácios, o próprio globo grandioso - tudo vai dissolver-se.
Assim como não há esperança nesta vida, neste mundo, certamente não há nenhuma esperança além desta vida para quem está fora de Cristo. A morte é apenas o fim da jornada para ele. Como Horácio Bonar diz em seu hino: "Falecem os homens cercados de trevas, sem uma esperança que alegre sua tumba". Eles olham para o futuro, mas o que veem? Nada! Não conseguem ver através da morte, não têm "a fé que vê através da morte". Que é que existe além da morte? Eles não sabem. Ou dizem que não há nada, ou que há um tormento, ou uma série de reencarnações. Não sabem; e quando chegam ao fim, deixam tudo, caem os palácios e as torres, e o que fica? - Nada! Sem esperança! Essa é a vida sem Cristo. Esta é a vida que estão tendo milhões neste país hoje, milhões que nos julgam tolos porque nos assentamos para ouvir o velho evangelho nas igrejas. Eles pensam que têm vida e liberdade - todavia eis a sua situação: "não tendo esperança"!
Sem esperança
Mas, pior ainda: "sem Deus"! Que é que Paulo quer dizer com isso? Refere-se obviamente a uma vida sem nenhuma experiência subjetiva de Deus. Deus continua existindo, porém essas pessoas não o sabem, não têm consciência disso; e não O fruem! Permitam-me fazer um sumário disso nos seguintes termos: eles não conhecem a Deus e não estão em comunhão com Deus; portanto, eles estão sem a ajuda, a paz e a alegria que vêm mediante o conhecimento de Deus e a fé nEle. O mundo deles está enterrado em colapso, tudo vai indo mal e eles se veem sós. Em seu completo isolamento e desolação, eles não têm nada, porque não conhecem a Deus. Os cristãos também têm problemas nesta vida, ocorrem acidentes, as coisas vão mal; quanto às circunstâncias, o cristão pode ser idêntico a outro homem. Mas há esta grande diferença: o outro está sem Deus; o cristão tem Deus e conhece a Deus.
Quão diferente do salmista é esse outro homem sem Deus! O salmista, vocês recordam, disse isto: "Quando meu pai e minha mãe me desampararem, o Senhor me recolherá" (Salmo 27:10). Seu pai e sua mãe o deixaram, amigos e companheiros foram-se todos, tudo se foi. Está bem, diz o salmista, "quando meu pai e minha mãe me desampa¬rarem", mesmo então, "o Senhor me recolherá". Ouçam-no ainda: "Eu me deitei e dormi" - ele estava cercado de inimigos nessa altura - "Eu me deitei e dormi; acordei" - por quê? - "porque o Senhor me sustentou" (Salmo 3:5). Ouçam-no noutra ocasião: "Das profundezas a ti clamo, ó Senhor" (Salmo 130:1). Ele estava num fosso horrível, e tudo parecia ter-se ido; mas olhou para o alto, Deus continuava lá; "Das profundezas clamei ao Senhor". "O Senhor é o meu pastor, nada me faltará." "Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam" (Salmo 23:1,4). Não posso ver mais nada, mas ainda vejo a Ti. O outro homem não conhece isso; ele está "sem Deus". "O Senhor é a minha luz e a minha salvação; a quem temerei? O Senhor é a força da minha vida; de quem me recearei?" (Salmo 27:1). Com Deus! - não "sem Deus". Ouçam-no, porém, dizê-lo também numa admirável declaração: "Desde o fim da terra clamarei a ti, quando o meu coração estiver desmaiado; leva-me para a rocha que é mais alta do que eu" (Salmo 61:2). Aí está ele, quase afundando num oceano de dificuldades, com inimigos e tudo mais contra ele; ele clama a Deus: "Leva-me para a rocha que é mais alta do que eu", sabendo que ali estará seguro. No entanto, esse outro homem nada sabe disso, está sem Cristo e, portanto, está sem Deus. Que diferença do apóstolo Paulo, que diz: "Ninguém me assistiu na minha primeira defesa, antes todos me desampararam. Que isto lhes não seja imputado. Mas o Senhor me assistiu e fortaleceu-me" (2 Timóteo 4:16-17). Paulo estava em julgamento, todos os seus amigos o tinham abandonado: "ninguém me assistiu, todos me desampararam". "Mas o Senhor me assistiu e fortaleceu-me." Também escreve da prisão a Timóteo, quando tudo estava contra ele, e diz: "Mas não me envergonho; porque sei em quem eu tenho crido, e estou certo de que é poderoso, para guardar o meu depósito até àquele dia" (2 Timóteo 1:12). Ouçam o autor da Epístola aos Hebreus citar o Velho Testamento: "O Senhor é o meu ajudador, e não temerei o que me possa fazer o homem". Por quê? Porque Deus disse: "Não te deixarei, nem te desampararei" (Hebreus 13:5-6).
Contudo, esse outro homem não sabe disso; ele é deixado entregue a si mesmo quando o seu mundo cai por terra e tudo vai mal. Ele não somente está "sem esperança", mas também está "sem Deus", e não pode olhar para o futuro, para o dia em que, segundo o livro de Apocalipse, "Deus limpará de seus olhos toda a lágrima", e não mais haverá tristeza, nem suspiros, nem pranto. O homem sem Cristo não conhece essas coisas. Quão diferente é o nosso Senhor! Ouçam o Senhor dizer pessoalmente: "Eis que chega a hora, e já se aproxima, em que vós sereis dispersos cada um para sua parte, e me deixareis só; mas não estou só, porque o Pai está comigo" (João 16:32). Ele não estava "sem Deus". Deus estava com Ele quando todos O tinham abandonado e fugido. "Mas não estou só, o Pai está comigo."
"Sem esperança" e "sem Deus" "no mundo"
Que coisa terrível é estar "sem esperança" e "sem Deus" "no mundo" - pertencer a este mundo passageiro que está debaixo da ira de Deus, debaixo da condenação, e que deverá ser destruído. "O mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre" (1 João 2:17).
Essas palavras vêm a alguém que está "sem Cristo"? Se vêm, você se dá conta de onde está? Você está fora da comunidade, fora do interesse especial de Deus, você não conta com promessas que o sustentem, com "nenhuma esperança", você está "sem Deus", "no mundo"! Se você vê isso, e se você compreende o que significa, há só uma coisa para você fazer - fugir para Cristo. Outrora os efésios tinham estado naquela situação - "Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto". Você não precisa continuar sendo um forasteiro. Não precisa continuar e achar que estas coisas não lhe dizem respeito. Deus está falando com você. Creia nEle, ouça-O, aja baseado no que Ele diz, vá a Ele, confesse a Ele tudo quanto seja verdade quanto a você, e se lance sobre o Seu amor e graça e misericórdia e compaixão. E Ele o receberá e lhe dirá que enviou Seu Filho para morrer e derramar Seu sangue por você, para que você se tornasse "concidadão dos santos e da família de Deus". Você verá que passou a ter nova vida e nova esperança, conhecerá a Deus e saberá que Ele nunca o deixa nem o desampara. Fuja para Ele.
Se você está ali, regozije-se nEle. Estar "em Cristo"! Não há nada que sobrepuje isso. É o céu na terra. É o antegozo da bem-aventurança eterna.
* Título de um drama de Shakespeare e nome do seu principal personagem. Nota do tradutor.
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