domingo, 25 de julho de 2010

AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 69

13ª Estação – Quibrote-Hataavá (parte 5)

TEXTOS: Números 33:16/ 1 Tm 6:6-11


Amados irmãos e irmãs, esta é a última palavra sobre Quibrote-Hataavá, a 13ª estação por onde o povo de Israel passou um dia. Assim como eles, nós hoje também podemos passar por essa experiência, através da Palavra de Deus, pelo Seu maravilhoso Espírito.

Temos aprendido sobre o significado de Quibrote-Hataavá. Essa é uma palavra muito interessante:

• Quibrote: é plural de “qeber”, que significa tumba, sepulcro ou sepultura. Quibrote significa justamente isso, tumba.

• Hataavá: “hat” é um artigo em hebraico e “ta’avah” significa cobiçosos.

• Então, Quibrote-Hataavá significa tumba dos cobiçosos; sepultura dos cobiçosos.

Meu desejo hoje é ler um texto que está em 1 Timóteo 6:6-11, onde temos um ensino neotestamentário que corresponde a essa lição. Conforme vemos em 1 Coríntios 10:6, “essas coisas se tornaram exemplos para nós a fim de que não cobicemos as coisas más como eles cobiçaram”. Assim, vamos analisar essa passagem que Paulo escreveu a Timóteo (1 Tm 6:6-11):

6 De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. 7 Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. 8 Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. 9 Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. 10 Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores. 11 Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas coisas; antes, segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão.

Meus amados, vamos entender alguns princípios aqui. Paulo diz que alguns querem a piedade para convertê-la em negócio. Especialmente nesses tempos da chamada teologia da prosperidade, não é o dinheiro que é a raiz de todos os males, mas o amor a ele. Esse amor é caracterizado pela cobiça e esse tipo de cobiça nos leva a desviar da fé. Essa é a figura que nós encontramos aqui em Quibrote-Hataavá.

Nós temos que entender o verdadeiro sentido de prosperidade à luz da Bíblia. Precisamos ser claros quanto a Palavra de Deus, porque muitas pessoas têm criado uma teologia para si. Vejamos algumas proposições no estudo desses textos que Paulo nos traz. 1 Tm 6:9 diz:

Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição.

Gostaria de tomar algumas palavras desse texto para que, juntos, possamos estudá-las, analisá-las, segundo o original grego, conforme foram escritas, e conhecer verdadeiramente o que Deus deseja nos falar. Creio que dentro de cada uma dessas palavras podemos ver uma proposição divina dando para nós o verdadeiro sentido daquilo que o Espírito Santo quer nos falar agora.

• “querem”: no grego é “boulomai”. Significa querer deliberadamente, ter um propósito; vontade vinculada ao afeto.

Querer aqui significa que alguém tem um propósito e esse propósito é ficar rico. O propósito que essa pessoa tem na vida cristã não é quanto à salvação em si, mas é usar a salvação para obter valores para a sua própria vida. Quantas pessoas estão buscando a Deus em troca de alguma coisa? Quantas pessoas têm usado a vida cristã para poder solucionar o seu problema financeiro, o seu problema de casamento... Muitos têm procurado a vida cristã para poder solucionar os seus problemas, mas sabemos que não é essa a proposta do Evangelho, não era isso que o Senhor Jesus pregava, nem tão pouco os apóstolos. Então, a expressão querer, aqui, nos fala de uma vontade vinculada ao afeto, dos que querem, daqueles que têm uma vontade vinculada ao afeto – o que significa que a riqueza é uma coisa que está vinculada ao desejo. Mas a vida cristã não pode ter outro desejo que não seja Cristo. Você entende isso?

• “caem”: essa expressão no grego é “empipto”. Significa cair no poder de alguém.

Desde que uma pessoa deliberadamente tem um propósito, e esse propósito está vinculado ao afeto, e esse propósito é ficar rico, essa pessoa se torna escrava do poder da riqueza. Quando as pessoas agem assim, quando a busca delas é o dinheiro, quando a busca delas é simplesmente satisfação própria, elas caem sob esse poder.

Não é que Deus não queira lhe abençoar, resolver o seu problema, restaurar o seu casamento. Ele quer, é propósito dEle. Mas o que nós precisamos conhecer não é simplesmente a natureza das bênçãos espirituais, mas a natureza dos problemas pelos quais estamos passando e por que estamos passando por eles. Qual é o problema real do meu casamento? Qual é o verdadeiro problema da minha vida financeira? Por que o problema da minha vida financeira não é ter mais, não é pagar as dívidas. O que me motivou a fazê-las? O que levou meu casamento à ruína? Muitas vezes as pessoas querem simplesmente a benção, mas não querem compreender o verdadeiro caminho, o verdadeiro mover de Deus, a verdadeira vontade de Deus, o querer de Deus. Nós temos que entender isso.

• “caem em tentação”: a palavra tentação aqui no grego é “peirasmos” – tentação da fidelidade do homem quanto à integridade, virtude, constância, na condição das coisas; um estado mental no qual somos seduzidos ao pecado, a um desvio da fé e da santidade.

“Caem em tentação”, isto é, as pessoas caem em relação à fidelidade do homem, quanto ao seu caráter, a sua integridade, virtude, a sua perseverança quanto à fé, quanto à santidade.

• “e ciladas”: ciladas aqui no grego é “pagis” – armadilha; encerra a ideia de algo inesperado, repentino; o mal que mantém alguém preso.

Vejam o quanto é sério isso que Paulo está falando. As pessoas que deliberadamente têm um propósito de ficar ricas caem no poder da riqueza, tornam-se escravas desse desejo que é uma tentação que fere a integridade, o caráter do homem, a sua santidade, e o mantém preso em uma armadilha.

• “e em muitas concupiscências”: “epithumia” – essa palavra tem um sentido muito interessante; fala de desejo, de anelo; desejo pelo que é proibido; luxúria.

Vejam que um pecado vai levando a pessoa a outro pecado. É uma degradação; é depravação.

• “insensatas”: a palavra insensatas aqui se refere àquele que não está em seu juízo, cujos atos são contrários ao bom senso.

• “perniciosas”: pernicioso é aquilo que é nocivo.

• “as quais afogam”: essa palavra afogam é “buthizo”. No grego é arrastar para o fundo, afundar.

• “afogam os homens na ruína”: ruína aqui no grego é “olethros”. Significa destruição, morte.

• “perdição”: no grego é “apoleia” – destruição total; destruição que consiste no sofrimento da pessoa.

Então, amados irmãos e irmãs, vejam o quanto tudo isso é sério!

Agora, olhem o versículo 11. Paulo diz:

Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas coisas; antes, segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão.

Meus queridos, devemos saber que o amor ao dinheiro é uma idolatria e isso naturalmente segue à injustiça, à avareza, à destruição, à morte, à queda, ao fracasso. Há um texto em Oséias 9:10 que diz assim:

Achei a Israel como uvas no deserto, vi a vossos pais como as primícias da figueira nova; mas eles foram para Baal-Peor, e se consagraram à vergonhosa idolatria, e se tornaram abomináveis como aquilo que amaram.

A Bíblia diz em 2 Coríntios 3:18 que somos transformados de glória em glória. Gostaria que você pudesse pegar essa última frase de Os 9:10, “e se tornaram abomináveis como aquilo que amaram”, e olhasse para 2 Co 3:18, que diz que “somos transformados de glória em glória”. Todos nós estamos em um processo de transformação. Saímos daquilo que éramos, daquela vida velha, do mundo, do Egito, e chegamos a essa posição cristã, por causa do perdão, do sangue, da obra da cruz em nós; e estamos caminhando para aquilo que seremos, de glória em glória.

Meus irmãos e irmãs, é muito interessante compreendermos estas questões – para onde estamos indo, em que estamos nos transformando –, porque tudo isso é tão sério! Temos que entender que, hoje, em nossa vida cristã, estamos em um processo de transformação; que nós não estamos em um estado de petrificação. Somos pessoas flexíveis e maleáveis e estamos caminhando em direção à transformação que Deus tanto almeja em seu coração. O irmão A. W. Tozer disse certa vez:

“O que perturba não é o fato de estarmos em transformação e sim no que estamos nos tornando. Não é problema o fato de estarmos em movimento, precisamos saber para onde estamos nos movendo, pois não está na natureza humana mover-se num plano horizontal – ou alçando voo ou afundando.”

Meus irmão e irmãs, se nossa vontade não for transformada pelo trabalho da cruz em nós, nossas escolhas não nos levarão para Deus e sim para o mundo. O pior é que nós seremos conduzidos sempre pelos desejos da nossa carne. Apocalipse 22:11 diz:

“Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se.”

Amados, não só estamos todos num processo de transformação, mas estamos todos nos tornando naquilo que amamos. Em grande medida, somos a somatória de tudo que amamos e, por necessidade moral, todos nós crescemos à imagem daquilo que mais amamos, pois o amor, entre outras coisas, é uma afinidade criativa poderosa. O amor muda, molda, modela e transforma. Você e eu precisamos saber disso. Sem dúvida, o mais poderoso agente que afeta a natureza humana depois da ação direta do Espírito Santo dentro da alma é o amor. Por isso, não podemos permitir que sejamos seduzidos pelo poder do consumo, pela força do dinheiro, pela cobiça do nosso próprio coração, porque são situações que a nossa carne tenta impor sobre nós. O dinheiro ou qualquer outra coisa desse mundo não podem ser objeto do nosso amor, porque se nós permitirmos isso, seremos engolfados. Se Cristo não for o objeto único do nosso amor, nunca vamos viver uma vida que agrada a Deus. Esse não é um assunto insignificante, esse não é um assunto que pode ser desprezado pelos Cristãos de hoje; pelo contrário, é de ordem profética para o nosso futuro, porque este assunto mostra-nos o que seremos e, dessa forma, prediz com precisão o nosso destino eterno.

Nossos afetos, amados irmãos e irmãs, precisam ser purificados. Amar coisas erradas é fatal para o crescimento espiritual. Quando o nosso amor não é Cristo, quando o nosso amor está voltado para outras coisas, esse amor torce, deforma a vida e torna impossível a imagem de Cristo se formar na vida humana. É somente quando amamos as coisas certas que podemos estar certos. Somente enquanto continuamos amando aquilo que realmente Deus coloca em nós, mesmo que de forma lenta, somos deslocados, estamos em um movimento, um movimento firme, para conformação do caráter de Cristo.

Quando lemos o primeiro mandamento, “amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento”, como está em Mateus 22:37, vemos o desejo supremo de Deus que criou o homem conforme a Sua imagem e semelhança. A suprema obra de Cristo na redenção não foi salvar-nos do inferno. Graças a Deus que na obra da redenção Ele nos salvou do inferno; graças a Deus porque na obra da redenção Ele perdoou os nossos pecados; graças a Deus por tudo isso. Mas temos que entender que a grande e suprema obra de Cristo na redenção foi restaurar-nos à semelhança de Deus, ao propósito declarado em Romanos 8:29:

“Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho (...).”

Isso é lindo meus irmãos e irmãs! Embora a perfeita restauração à imagem divina aguarde o dia do aparecimento de Cristo, a obra da restauração está em andamento agora. Há uma lenta, porém firme, transformação no nosso ser, na nossa natureza humana. É isso que temos que entender neste ponto. É interessante entender que Deus está provendo tudo para que, através de Cristo, através do Espírito Santo, por meio da Palavra, Ele mesmo sendo dispensado a nós, possa nos conformar a Si mesmo. Por isso é importante você guardar o seu coração em Deus. Quando lemos e compreendemos que temos de amar a Deus sobre todas as coisas, perguntamos: como podemos amar a Deus acima de todas as coisas? A resposta a essa pergunta e a todas as outras relacionadas a ela é que o amor que temos por Deus não é o amor do sentir, mas o amor do querer. O amor está dentro do nosso poder de escolha. De outra forma, não teríamos na Bíblia a ordem de Deus para amá-lo; não teríamos como prestar contas diante dEle em relação a esse amor. Não chegamos ao amor de Deus através de uma repentina visitação emotiva. O amor por Deus vem do arrependimento, do desejo de mudar o rumo da vida, de uma determinação resoluta de amá-lO, de desejá-lO. Na medida em que Deus entra de uma maneira mais completa no foco do nosso coração, nosso amor por Ele pode, de fato, expandir, crescer, avançar dentro de nós, até nos libertar de toda compulsão de coisas que residem em nosso interior. Somos responsáveis por amar a Deus. Não somos responsáveis por sentir, mas somos responsáveis por amar. E o verdadeiro amor espiritual começa com o desejo, com o querer. Se os nossos desejos não forem tratados, trabalhados, voltados para Deus, nunca saberemos, nunca poderemos amá-lo de verdade.

Que Deus nos ajude; que Deus venha nos abençoar pela Sua Palavra.

Por: Ir. Luiz Fontes

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