Capítulo XXI
Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que
o Espírito de Deus habita em vós?
I Co 3:16
As Escrituras nos convidam a estudar a analogia do templo com a
habitação interior do Espírito. O templo foi construído com o modelo que Moisés
viu no monte, uma sombra lançada pelas realidades espirituais eternas que ele
simbolizava. Uma dessas realidades é a natureza tripla do homem. Porque o homem
foi criado à imagem de Deus, o templo não é apenas um exemplo do mistério da aproximação
do homem à presença de Deus, mas também do caminho de Deus para penetrar no
homem, para estabelecer residência com ele.
Nós estamos familiarizados com a divisão do templo em três partes. Havia
o exterior, visto por todos os homens, com o átrio no qual todo israelita podia
entrar e onde todos os serviços externos eram executados. Havia o Santo lugar,
no qual apenas os sacerdotes entravam, para apresentar a Deus o sangue e o
incenso, o pão ou o óleo, que tinham trazido de fora. Embora próximos, eles não
estavam ainda dentro do véu; na presença imediata de Deus. Deus habitava no
Santíssimo, em uma luz inacessível, onde ninguém poderia se aventurar. A
entrada momentânea do sumo sacerdote uma vez ao ano era apenas para fazê-los
conscientes da verdade de que não havia lugar para o homem lá até que o véu
fosse rasgado em dois.
O homem é o templo de Deus. Nele há três partes. O corpo representa o
átrio, a vida exterior e visível, onde a conduta é regulada pelas leis de Deus
e onde todo o serviço consiste em olhar como são as coisas ao redor de nós, e
aproximar-nos de Deus. A alma representa a vida interior, o poder da mente,
sentimento e vontade. No homem regenerado este é o Santo lugar, onde
pensamentos, afeições e desejos se movem para lá e para cá como os sacerdotes
do santuário, rendendo a Deus o seu serviço na plena luz da consciência. Então
há, dentro do véu, oculto de toda vista e luz do homem, o mais íntimo e oculto
santuário, o lugar secreto do Altíssimo, onde Deus habita e onde o homem não
pode entrar, até que o véu se rasgue. O homem tem não apenas corpo e alma, mas
também espírito. Mais profundo que a alma com sua consciência, há a natureza
espiritual unindo o homem com Deus. Tão grande é o poder do pecado que de
alguma maneira esta parte morre: “eles são sensuais, não tendo o Espírito”. Em
outros, ele é nada mais que um lugar dormente, um vácuo, aguardando pela
vivificação do Espírito Santo. No crente, ele é a câmara interior do coração,
do qual o Espírito tomou posse, e a partir do qual Ele aguarda para fazer Sua
gloriosa obra, tornando a alma e o corpo santos para com o Senhor.
Assim que, a menos que esta habitação interior seja reconhecida, rendida
e humildemente mantida em adoração e amor, ela trará comparativamente pouca
bênção. Reconhecer a presença do Espírito Santo habitando interiormente nos
habilitará a levar em conta todo o templo, mesmo o átrio mais exterior, como
sendo sagrado para o Seu serviço, e entregar cada faceta de nossa natureza à
Sua liderança e vontade. A parte mais sagrada do templo – para a qual todo o
resto existia e dependia – era o Santo dos Santos. Embora os sacerdotes nunca
pudessem entrar e ver a glória que residia lá, a conduta deles era regulada e
sua fé motivada pelo pensamento da presença invisível que ele continha. Era
este fato que dava valor à aspersão do sangue e ao queimar do incenso. E era
este fato que tornava um privilégio se aproximar e lhes dava confiança para
sair e abençoar o povo. Era o Santo dos Santos que tornava o lugar onde eles
serviam um Santo lugar. Toda a vida deles era controlada e inspirada pela fé na
glória invisível que habitava para dentro do véu.
E assim é com o crente. Até que ele aprenda pela fé curvar-se em santo
temor diante do estupendo mistério que ele é o templo de Deus porque o Espírito
de Deus habita nele, ele nunca aceitará a sua vocação com a alegria e confiança
que ela merece. À medida em que ele olha para o santo lugar, tanto quanto o
homem possa ver por si mesmo, ele buscará em vão pelo Espírito Santo. Cada um
deve aprender a conhecer o lugar secreto do Altíssimo interiormente.
Como esta fé nesta habitação oculta se torna nossa? Tome uma posição
sobre a Palavra de Deus e aceite e se aproprie de seu ensino. Necessitamos crer
que Deus quer dizer o que Ele diz. Nós somos o Seu templo – um tipo de templo
que Deus ordenou que fosse construído. Ele quer que vejamos nele o que Deus
pretendia para nós. O Santo dos Santos era o ponto central, a porção essencial
do templo. Ele era escuro, secreto, escondido, até o tempo de seu desvendamento.
Ele requeria e recebia a fé do sacerdote e do povo. O Santíssimo dentro de mim
é oculto e invisível também – algo que apenas a fé pode perseguir e conhecer. O
Pai e o Filho agora mesmo fazem Seu lar dentro de mim. Eu meditarei e estarei
quieto até que algo da sobrepujante glória desta verdade se apodere de mim e a
fé comece a perceber que eu sou o Seu templo, e no lugar secreto Ele se assenta
sobre o Seu trono. Quando eu me aplico em meditar e adorar dia a dia, rendendo
e abrindo todo o meu ser a Ele, Ele resplandecerá, em Seu poder divino e
amoroso, em minha consciência a luz da Sua presença.
Em meio à terrível experiência do fracasso e pecado, nova esperança
romperá. Embora eu possa ter buscado avidamente fazê-lo, eu não pude manter o
lugar santo para Deus, porque Ele próprio é que o mantém. Se eu Lhe dou a
glória devida ao Seu nome, Ele enviará Sua luz e Sua verdade através de todo o
meu ser, revelando o Seu poder para santificar e abençoar. Através da alma,
colocando-se sempre mais debaixo de Seu governo, o Seu poder operará, mesmo nas
paixões e apetites interiores, sujeitando cada pensamento ao Espírito Santo.
Se você tem afastado o pecado e pedido ao Espírito para habitar em você,
creia que Ele o faz e que você é o templo do Deus vivo! Você foi selado com o
Espírito Santo; Ele é a segurança do amor do Pai por você.
Lembre-se de que o véu era apenas para um tempo. Quando a preparação
estava completa, o véu da carne foi rasgado. Assim como a morte de Cristo
rasgou o véu de templo, também o véu é rasgado em você para permitir a entrada
do Espírito Santo do alto para o interior do seu ser. A glória oculta do lugar
sagrado se derramará dentro de sua vida consciente: o serviço do lugar santo
será no poder do Espírito eterno.
Sumário
·
O espírito aqui (João 4:24) denota aquele elemento
mais profundo da alma humana pelo qual é possível manter comunhão com Deus.
·
Note como Paulo, ao apelar aos coríntios para
erguer-se de seu profundo estado carnal, mais uma vez pleiteia com eles na base
do fato de eles serem templos do Espírito Santo.
·
Aprendamos aqui que cada crente tem o Espírito
Santo, e que ele deve saber disto, e que este conhecimento é a mais eficiente
ferramenta para elevar-se de uma vida carnal e adentrar a plenitude do
Espírito.
·
É o corpo que é o templo do Espírito Santo (I
Coríntios 6:19). Se nosso espírito é cheio com o Espírito de Deus, isto se
manifestará também no corpo. “Se pelo Espírito mortificardes os feitos do
corpo, certamente vivereis” (Romanos 8:13).
·
Você sabe disto pela fé? Você está prosseguindo
para conhecê-lo em plena experiência de modo que sua consciência mais profunda
dirá espontaneamente: sim, eu sou um templo de Deus; o Espírito de Deus habita
em mim?
Introdução sobre Espírito, Alma e Corpo
(Estudo
complementar)
O corpo é a cobertura externa do homem é, sem
dúvida alguma, correto, mas a Bíblia jamais confunde o espírito e a alma como
se fossem a mesma coisa. Não só são diferentes em condições, mas também suas
naturezas diferem uma de outra. A Palavra de Deus não divide o homem em duas partes
de alma e corpo. Pelo contrário, trata o homem como um ser tripartido: espírito,
alma e corpo. 1 Tessalonicenses 5:23, 24 diz:
“E o próprio Deus de paz vos
santifique completamente; e o vosso espírito, e alma e corpo sejam plenamente
conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”.
Este versículo mostra claramente que o homem
está dividido em três partes. O apóstolo Paulo se refere aqui à santificação
total dos crentes: «vos santifique completamente». Segundo o apóstolo, como se
santifica uma pessoa por completo? Guardando seu espírito, alma e corpo. Este versículo também faz uma distinção entre
espírito e alma, pois de outro modo Paulo teria dito simplesmente «sua alma».
Tem alguma importância a divisão em espírito e
alma? É um assunto de primordial importância porque afeta tremendamente a vida
espiritual do crente. Como um crente pode compreender a vida espiritual se não
conhecer o alcance do mundo espiritual? Sem compreender isto como pode crescer
espiritualmente?
O fracasso em distinguir entre o espírito e a
alma é fatal para a maturidade espiritual. Como poderemos escapar do fracasso
se confundirmos o que Deus dividiu? Outras partes da Bíblia fazem a mesma
diferenciação entre espírito e alma. Veja Hb 4:12:
“Porque a palavra de
Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e
penetra até a divisão de alma e espírito, e de juntas e medulas, e é apta para
discernir os pensamentos e intenções do coração”.
Neste versículo, o escritor divide os elementos
não corporais do homem em duas partes, «alma e espírito». Aqui se menciona a
parte corporal através das juntas e das medulas — órgãos motores e sensoriais.
Quando o sacerdote utiliza a faca para cortar e dividir totalmente o
sacrifício, não pode ficar nada oculto. Inclusive se separam as juntas e as
medulas (tutanos). Da mesma maneira o Senhor Jesus usa a Palavra de Deus sobre
seu povo para separá-lo todo, para penetrar inclusive até a divisão do
espiritual, o anímico e o físico. E daqui se deduz que, posto que se pode
dividir a alma e o espírito, devem ser diferentes em sua natureza. Assim, é
evidente aqui que o homem é um composto de três partes.
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