quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O Espírito Santo e a Consciência


Capítulo XIX

Em Cristo digo a verdade, não minto (dando-me testemunho a minha consciência no Espírito Santo).
Romanos 9:1
O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.
Romanos 8:16

A maior glória de Deus é Sua santidade, em virtude da qual Ele odeia e destrói o mal, ama e opera o bem. Na humanidade, a consciência tem a mesma tarefa. Ela condena o pecado e aprova o que é direito e bom. A consciência é o remanescente da imagem de Deus, a mais próxima semelhança do divino, a guardiã da honra de Deus em meio à ruína da queda. A obra redentora de Deus começa com a consciência. O Espírito de Deus é o Espírito de santidade; a consciência é uma fagulha da santidade divina. A harmonia entre a obra do Espírito Santo em renovar e santificar o homem e a obra da consciência é íntima, essencial. O crente que deseja ser cheio com o Espírito Santo e experimentar até a plenitude das bênçãos que Ele dá, deve primeiro ver que precisa conceder a sua consciência o lugar de honra que lhe é devido. A fidelidade à consciência é o primeiro passo na senda da restauração à santidade de Deus. Uma boa consciência é o terreno básico e a característica da verdadeira espiritualidade. Quando a consciência testemunha em relação a uma pronta resposta para com Deus e quando o Espírito testemunha quanto à aceitação que Deus dá à nossa fé e obediência, então os dois tornam-se um.
A consciência pode ser comparada à janela de um quarto, através da qual a luz do céu brilha e através da qual nós podemos ver o céu. O coração é a câmara na qual nossa vida habita, nosso ego, nossa alma, com seus poderes e afeições. Sobre as paredes dessa câmara está escrita a lei de Deus. Mesmo nos povos pagãos ela é ainda parcialmente legível, embora tristemente obscurecida e desfigurada. No crente, a lei está escrita pelo Espírito Santo em letras de luz, as quais são freqüentemente turvas no princípio, mas tornam-se mais claras e brilhantes conforme são expostas às luz que vem de fora. Em cada pecado que eu cometo, a luz que brilha interiormente torna-o manifesto e o condena. Se o pecado não é confessado e abandonado, a mancha permanece, e a consciência torna-se corrompida porque a mente rejeita o ensino da luz (Tito 1:15). E assim, com o pecado sobre pecado, a janela fica mais e mais escura, até que a luz mal pode brilhar através dela e o cristão pode pecar sem perturbação – uma consciência em grande parte cega e sem sentimento. Em Seu trabalho de renovação, o Espírito Santo não cria novas faculdades: Ele renova e santifica aquelas que já existem. A consciência é uma obra do Espírito de Deus, na função de Criador. O Espírito de Deus, na função de Redentor, tem como Seu primeiro cuidado restaurar o que o pecado corrompeu. É somente restaurando a consciência à sua função plena e saudável e revelando nela a graça maravilhosa de Cristo, “o Espírito testifica com o nosso espírito”, que Ele habilita o crente a viver uma vida na plena luz do favor de Deus. É quando a janela do coração que olha em direção ao céu está limpa e é mantida assim que nós podemos andar na luz.
A obra do Espírito na consciência é tripla. Através da consciência, o Espírito faz com que a luz da lei santa de Deus brilhe dentro do coração. Um quarto pode ter as cortinas puxadas, ou mesmo as venezianas fechadas: e isto não impede que a luz do relâmpago, de tempo em tempo, brilhe nas trevas. A consciência pode estar tão corrompida e cauterizada pelo pecado que o forte homem no interior habite em paz. Quando o relâmpago do Sinai brilha no coração, a consciência desperta e está pronta a admitir e sustentar a condenação. Tanto a lei quanto o evangelho, com o seu chamado ao arrependimento e sua convicção de pecado, apelam para a consciência. É apenas quando a consciência concorda com o peso da transgressão e descrença, que o livramento pode verdadeiramente vir.
É através da consciência que o Espírito, do mesmo modo, faz com que a luz da misericórdia brilhe.     Quando as janelas de uma casa estão manchadas, elas podem ser lavadas. “Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno a Si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas para servirmos ao Deus vivo” (Hb 9:14; 10:2,22). O alvo do sangue de Cristo é alcançar a consciência, para silenciar suas acusações, e limpá-la, até que ela possa testificar: toda mácula está removida; o amor do Pai faz com que Cristo, em brilho descoberto, irradie em minha alma. Este é o privilégio de cada crente. Isso se torna certo quando a consciência diz amém à mensagem de Deus a respeito do poder do sangue de Jesus.
A consciência que foi purificada no sangue deve ser mantida limpa por um andar em obediência de fé, com a luz do favor de Deus brilhando sobre ela. Diante da promessa de que o Espírito de habitação tomaria a seu encargo a liderança em toda a vontade de Deus, a consciência deve concordar e testificar que Ele tem realizado esta obra. O crente é chamado a andar em humildade e vigilância, a fim de que em nada sua consciência o acuse de não ter feito o que ele sabia ser certo ou ter feito o que não provém de fé. Ele deve estar contente com nada menos do que o testemunho de Paulo: “Porque a nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência, de que com simplicidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria carnal, mas na graça de Deus, temos vivido no mundo” (II Co 1:12). (Compare At 23:1; 24:16; II Tm 1:3). Note bem estas palavras: “nossa glória é esta: o testemunho de nossa consciência”. É quando a janela é mantida limpa e brilhante por nossa habitação na luz que nós podemos ter comunhão com o Pai e com o Filho. O amor do céu brilha descoberto em nosso interior, e nosso amor responde em confiança infantil.
A manutenção de uma boa consciência em relação a Deus é essencial para a vida da fé. O crente não deve se contentar com nada menos que isso. Ele deve estar certo de que isso está ao seu alcance. Os crentes do Velho Testamento tiveram pela fé o testemunho de terem agradado a Deus (Hb 11:4-6, 39). No Novo Testamento, ela se coloca diante de nós não somente como um mandamento a ser obedecido, mas também como uma graça concedida pelo próprio Deus. “Para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus; corroborados em toda a fortaleza, segundo a força da sua glória... para que o nosso Deus vos faça dignos da sua vocação, e cumpra todo o desejo da sua bondade, e a obra da fé com poder... operando em vós o que perante ele é agradável” (Cl 1:10-11; II Ts 1:11; Hb 13:21). Quanto mais buscamos esse testemunho da consciência – de que estamos fazendo o que é agradável a Deus – mais sentiremos a liberdade daquelas falhas que nos impedem de olhar imediatamente para o sangue de Cristo. O sangue que limpa a consciência age no poder da vida eterna que não conhece interrupção ou mudança e que salva completamente. “Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado” (1 Jo 1:7).
A causa da fraqueza da nossa fé é a falta de uma consciência limpa. Perceba como Paulo conecta as duas coisas em I Timóteo: “o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida” (1:5). “Conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé” (1:19). E especialmente (3:19), “Guardando o mistério da fé numa consciência pura”. A consciência é o fundamento da fé. Aquele que deseja se fortalecer na fé e ter confiança para com Deus deve saber se O está agradando (I Jo 3:21-22). Jesus disse claramente que é para os que O amam e guardam Seus mandamentos que a promessa do Espírito é dirigida. Como poderíamos reivindicar confiadamente essa promessa, a não ser que em simplicidade infantil nossa consciência possa testificar que preenchemos os requisitos? Até que a igreja possa subir à altura de seu santo chamado como intercessora, e reivindicar essas promessas ilimitadas que estão ao seu alcance, os crentes se aproximarão de seu Pai, regozijando-se, como Paulo, no testemunho de sua consciência – de que pela graça de Deus estão andando em santidade e sinceridade divina. Devemos perceber que esta é a mais profunda humildade e traz a maior glória para a graça ofertada por Deus – desistir das nossas idéias do que podemos alcançar e aceitar a declaração de Deus sobre o que Ele deseja e promete como o padrão daquilo que devemos ser.
Como essa vida bendita na qual podemos apelar diariamente a Deus e aos homens como Paulo: “Em Cristo digo a verdade, não minto (dando-me testemunho a minha consciência no Espírito Santo)” pode ser atingida? O primeiro passo é se humilhar debaixo da reprovação da consciência. Não se contente com uma confissão geral de que algo está errado. Acautele-se da confusão entre transgressão real e tentação para o pecado. Se quisermos morrer para o pecado pelo Espírito de habitação, devemos primeiro lidar com a prática do pecado. Permita que o trabalho da consciência em silenciosa submissão e humilhação reprove e condene qualquer pecado. Diga para o seu Pai que você, pela Sua graça, irá obedecer – mesmo nas menores coisas. Aceite novamente a oferta de Cristo de tomar posse inteiramente do seu coração, habitar em você como Senhor e cuidador. Confie que Ele, pelo Seu Espírito Santo, o fará mesmo quando você se sentir fraco e desamparado. Lembre-se que a obediência, o tomar e guardar as palavras de Cristo em sua vontade e vida, é o único caminho para provar a realidade de sua rendição a Ele e o seu interesse em Sua obra e graça. Vote em fé que pela graça de Deus você irá procurar sempre ter uma consciência vazia de ofensa a Deus e aos outros.
Quando você seguir esses passos, estará sendo fiel em manter sua consciência pura, e a luz do céu irá resplandecer de forma mais brilhante no seu coração, revelando o pecado e enfatizando a lei escrita lá pelo Espírito. Esteja disposto a ser ensinado; confie que o Espírito irá ensiná-lo. Todo o esforço para manter limpa a consciência que foi lavada pelo sangue será acompanhado da ajuda do Espírito. Renda-se de todo o coração à vontade de Deus e ao poder do Seu Espírito Santo.
Conforme você se curva à reprovação da sua consciência e se entrega completamente para fazer a vontade de Deus, sua coragem se fortalecerá, tornando possível ter uma consciência vazia de ofensa. O testemunho da consciência sobre o que você está fazendo e irá fazer, pela graça, será acompanhado pelo testemunho do Espírito sobre o que Cristo está fazendo e irá fazer. Em simplicidade infantil você irá procurar começar cada dia com a simples oração: Pai, não há nada agora entre o Senhor e Seu filho. Minha consciência, divinamente limpa no sangue, dá testemunho disso. Não permita que nem mesmo a sombra de uma nuvem intervenha nesse dia. Em tudo quero fazer a Sua vontade: Seu Espírito habita em mim, e me guia, e me fortalece em Cristo. Você entrará na vida que se regozija somente na graça, e que diz ao fim de cada dia: nosso gozo é esse, “o testemunho de nossa consciência” de que em santidade e divina sinceridade, pela graça de Deus, nos conduzimos neste mundo.

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