quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O Espírito de Intercessão


Capítulo XVIII

E aquele que examina os corações sabe qual é a intenção do Espírito; e é ele que segundo Deus intercede pelos santos.
Romanos 8:27

Dos ofícios do Espírito Santo, aquele que nos leva mais profundamente ao entendimento do Seu lugar na economia da graça divina e do mistério da Santa Trindade é a obra que Ele faz como o Espírito de intercessão. Temos o Pai para quem intercedemos e que ouve a intercessão. Temos o Filho através de quem intercedemos e através de quem recebemos e nos apropriamos da resposta por causa de nossa união com Ele. E temos o Espírito Santo por quem intercedemos, que intercede em nós, de acordo com a vontade de Deus, com sons tão profundos, inexprimíveis, que Deus escrutina nossos corações para conhecer a mente do Espírito. Tão graciosa e real quanto a divina obra de Deus no trono, ouvindo graciosamente nossas preces, é a obra do Filho assegurando e transmitindo a resposta do alto, e a obra do Espírito Santo em nós, intercedendo em nosso favor. A intercessão interior é tão divina quanto a intercessão do alto. Vejamos por que razão é assim, e o que isso nos ensina.

Na criação do mundo vemos como foi obra do Espírito colocar-Se em contato com a matéria escura, caótica e sem vida e por Sua energia avivadora conceder a ela o poder da vida e da frugalidade. Foi somente depois de ser vitalizada por Ele que a Palavra de Deus a esculpiu e originou as várias formas de vida e beleza de que agora desfrutamos. Da mesma forma, na criação do homem foi o Espírito que foi soprado no corpo que havia sido formado da terra e que se uniu àquilo que, doutra feita, seria apenas matéria morta. Mesmo na pessoa de Jesus, um corpo foi preparado para Ele através da obra do Espírito. Através do Espírito Seu corpo ressurgiu do túmulo e é através do Espírito que nossos corpos são tornados templos de Deus – os próprios membros de nosso corpo, membros de Cristo. Pensamos no Espírito em relação com a natureza espiritual do ser divino, distante da vileza e fragilidade da substância física. Mas é obra do Espírito unir-Se especificamente com o que é material, elevá-lo à Sua própria natureza espiritual, e assim criar a mais elevada forma de perfeição – um corpo espiritual.

Esta visão da obra do Espírito é essencial para o entendimento do lugar que Ele tem na divina obra da redenção. Em cada parte dessa obra há um ofício especial designado para cada uma das três pessoas da Trindade. O Pai é o Deus invisível, o Autor de tudo. O Filho de Deus é a forma de Deus revelada, tornada manifesta, e trazida para perto de nós. O Espírito de Deus é o poder de Deus habitando em Seu povo e operando nele o que o Pai e o Filho desejam para nós. Não só individualmente, mas na igreja como um todo, o que o Pai propôs e o Filho buscou, pode ser apropriado e levado a termo no corpo de Cristo somente através da intervenção contínua e da operação ativa do Espírito Santo.

Isto é especialmente verdadeiro a respeito da oração intercessória. A vinda do reino de Deus, o crescimento na graça, conhecimento e santidade nos crentes, sua crescente devoção à obra de Deus, a obra efetiva do poder de Deus nos não convertidos através dos meios de graça – tudo isso Deus tem para nós através de Cristo. Mas essas coisas não podem vir a menos que sejam desejadas e buscadas, ansiadas, cridas e esperadas. Esta é a maravilhosa posição que o Espírito Santo ocupa – para Ele foi designada a tarefa de preparar o corpo de Cristo para alcançar, receber e se assegurar daquilo que foi providenciado na plenitude de Cristo, nosso Cabeça. Para que sejam comunicados o amor e a bênção do Pai, tanto o Filho quanto o Espírito têm de trabalhar. O Filho recebe do Pai, revela e nos aproxima; o Espírito interior desperta a alma para ter com seu Senhor. Tão indispensável quanto a obra incessante de Cristo, pedindo e recebendo do Pai, é a incessante intercessão do Espírito.

A luz que é lançada sobre este santo mistério pelas palavras do texto que tomamos é impressionante. Na vida de fé e oração há operações do Espírito nas quais a Palavra de Deus é esclarecida ao nosso entendimento, e nossa fé aprende a expressar aquilo que pede e de que precisa. Mas há também operações do Espírito, mais profundas que os pensamentos ou sentimentos, em que Ele produz desejos e anseios no nosso espírito, nas fontes secretas da vida, que só Deus pode descobrir e entender. Há o desejo por “conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento” e de ser “cheios de toda a plenitude de Deus”, a esperança Naquele “que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além do que pedimos ou pensamos” (Efésios 3:19-20), mesmo o que “não subiu ao coração do homem” (I Coríntios 2:9). Quando essas aspirações tomam posse de nós, começamos a orar pelo que não pode ser expresso, e nosso único conforto é que o Espírito intercede em nós com gemidos inexprimíveis numa língua que só Ele conhece e entende.

Aos Coríntios, Paulo diz: “Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento” (I Coríntios 14:15). Sob a influência do mover do Espírito Santo e de Seus miraculosos dons, o perigo era negligenciar o entendimento. O perigo nesses últimos dias é o oposto, orar com o entendimento é universal. Devemos nos lembrar que junto com a oração do entendimento deve haver oração no Espírito (Judas 1:20, Efésios 6:18). Devemos dar o lugar devido à cada uma das operações do Espírito. A Palavra de Deus deve habitar ricamente em nós, nossa fé deve se agarrar clara e inteligentemente a ela, e nós devemos pleiteá-la em oração. Devemos ainda nos lembrarque no santuário mais íntimo do nosso ser, na área do inexprimível e inconcebível, o Espírito intercede por nós aquilo que não sabemos e não conseguimos expressar (I Coríntios 2:6-11). Conforme crescemos na compreensão da divindade do Espírito Santo, e a realidade de Sua habitação, devemos reconhecer quão infinitamente além do alcance de nossas mentes está a avidez divina com que Ele nos dirige aos céus. Devemos sentir a necessidade de cultivar a atividade de fé que procura se ater e obedecer a Palavra de Deus e daí aprender a orar. Conforme oramos, nos lembraremos o quanto Deus e o mundo espiritual em que entramos pela oração estão infinitamente acima de nossa compreensão. Creiamos e nos regozijemos porque onde falham o coração e a carne, Deus é nossa força; Seu Santo Espírito no santuário interior de nosso espírito faz Sua obra incessante de intercessão e ora em nós de acordo com a vontade de Deus. Conforme oramos, adoremos em santa quietude, e rendamo-nos ao bendito Parácleto, que é o único e verdadeiro Espírito de súplica.

“Não sabemos o que havemos de pedir como convém”, mas “é Ele que segundo Deus intercede pelos santos” (Romanos 8:26-27). É especificamente na oração intercessória que podemos contar com a profunda, inexprimível, mas prevalecente intercessão do Espírito.

Que privilégio ser o templo do qual o Espírito Santo clama ao Pai seu incessante “Aba” e oferece seus louvores profundos demais para serem colocados em palavras. Que idéia maravilhosa é que o Filho eterno habitou na carne em Jesus de Nazaré e orou ao Pai como homem, e também que o Espírito eterno habita em nós – carne pecaminosa que somos – e fala ao Pai através de nós assim como fez o Filho. Quem não se renderia a este bendito Espírito para se tornar aceitável para compartilhar da poderosa obra intercessória através da qual somente o reino de Deus pode ser revelado? O caminho está aberto e nos convida a todos. Permita que o Espírito Santo tenha pleno controle sobre sua vida. Creia na possibilidade de Ele tornar a sua personalidade e consciência o lugar de Sua habitação. Creia na certeza de Sua obra e intercessão através de você de uma forma que nenhuma mente humana pode compreender. Creia que na secreta, calada, perseverança dessa obra, Seu imenso poder está aperfeiçoando o divino propósito do seu bendito Senhor. Viva como alguém em quem aquilo que ultrapassa o entendimento se tornou verdade e vida, em quem a intercessão do Espírito é parte da vida diária.

Sumário

1.    Lendo sobre o lugar do Espírito Santo na oração intercessória, podemos entender melhor as orações do nosso Senhor em Sua última noite na terra com seus repetidos “Não se faça a minha vontade, porém a Tua” e “Seja feita a Tua vontade” (Mateus 26). Ele pretende que tenhamos o Espírito Santo orando em nós e através de nós, guiando nossos desejos e fortalecendo nossa fé. Ele espera que rendamos todo o nosso ser à habitação do Espírito para que Ele ore livremente através de nós de acordo com a vontade de Deus.

2.    “Não sabemos o que havemos de pedir como convém” (Romanos 8:26): quão frequentemente isso tem sido um peso, um sofrimento! Que isso de agora em diante seja um conforto. Porque nós não sabemos, devemos ficar de lado e dar lugar Àquele que sabe. Podemos crer que em nossa gagueira, às nossas vistas, o intercessor está pleiteando por nós. Não temamos em crer que em nossa ignorância e fraqueza o Espírito Santo está fazendo a Sua obra.


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