23ª Estação, Taate – parte 7
TEXTOS: Nm 18:20-24; Gn 12:6-8; Gn 12:10-20; 1 Pe 2:5; Gn 13:18
Quero dar continuidade ao assunto da consagração, dentro desta 23ª estação da peregrinação do povo de Israel pelo deserto – Taate. Baseados em Números 18:20-24, temos estudado sobre a consagração dos sacerdotes, e espero que nosso bendito Pai celeste, pelo Seu Espírito Santo, fale a cada um de nós.
OS QUATRO ALTARES DA VIDA DE ABRAÃO
Estudando sobre a vida de Abraão, vemos que Deus o conduz sobre o princípio da Cruz. E você deve saber que a Cruz é um princípio em Deus – antes mesmo de haver aquela Cruz do Gólgota, havia uma Cruz em Deus, como princípio. Quando chama Abraão, Deus vai se revelando para ele, conduzindo-o por Seus caminhos santos, por esses caminhos misteriosos, que muitas vezes não compreendemos, mas que necessitamos conhecer. Se você deseja ter uma vida cristã madura, você precisa andar nesses caminhos misteriosos de Deus. Caminhos esses que, por nós mesmos, jamais poderemos compreender. Somente pela verdade de Deus, pelo Seu Espírito em nós, é que poderemos conhecer os caminhos santos e misteriosos de Deus.
Não podemos nos relacionar com Deus baseados apenas em Suas obras; temos que nos relacionar com Deus baseados em Seus caminhos. E é isso que você vai ver na vida de Abraão. Em toda a sua vida de peregrinação, ele levantou quatro altares.
Primeiro altar: revelação
O primeiro altar ele levantou em Siquém (Gn 12:6,7). Estudando esse altar, vemos o princípio da revelação. A Bíblia diz em Gn 12:7:
“7 Apareceu o SENHOR a Abrão (...).”
Aqui está Deus revelando-se para Abraão. Lá em Siquém nós encontramos o carvalho de Moré – Moré significa “ensino”. Ali Deus começa a ensinar, a conduzir Abraão. Deus não estava apenas transmitindo Sua vida para Abraão, mas queria também que Abraão fosse um transmissor dessa vida. Deus não queria apenas ser a bênção em Abraão, mas também que ele fosse a expressão dessa bênção. Deus havia dito para ele, bem no início, no capítulo 12 de Gênesis:
“Em ti serão benditas todas as famílias da terra.”
Em ti serão benditas, abençoadas, todas as famílias da terra. Para que Abraão pudesse abençoar todas as famílias da terra, ele necessitava conhecer a Deus. Sem esse conhecimento experimental de Deus ele jamais poderia ser uma bênção.
Segundo altar: separação
À medida que vamos andando, em Gênesis 12:8 encontramos o segundo altar na historia de Abraão. Esse segundo altar foi edificado entre Ai e Betel. Podemos chamar esse altar de separação. A Bíblia diz que Abraão deixou a cidade de Ai para trás, e tinha Betel adiante dele. O nome Ai significa, literalmente, “monte de ruínas”; e Betel significa “casa de Deus”.
Podemos, assim, dizer que a vida de altar é uma vida de consagração, uma vida que permite que a Cruz nos separe de tudo aquilo que é o mundo, de tudo aquilo que é o amor ao mundo. De tudo o que há no mundo, a cobiça, a concupiscência, a soberba, de todas essas coisas, a Cruz tem que nos separar, na nossa vida. O trabalho da Cruz em nós coloca o mundo para trás, e mantém viva e clara, diante de nós, a visão da casa de Deus – Betel nos fala da casa de Deus. E não somente a visão de Betel, mas, a Cruz operando em nós, habilita-nos, capacita-nos a participar da vida da Igreja, isto é, de Betel. Dessa forma, somos edificados como casa espiritual, para um sacerdócio santo a Deus (1 Pe 2:5).
Esse trabalho da Cruz, o que podemos ver em cada um desses altares, introduz-nos na vida e na realidade daquilo que é o corpo de Cristo. No Novo Testamento vemos que quando o Senhor Jesus passou pela Cruz a Igreja surgiu. A Igreja foi gerada pelo poder da vida em ressurreição. Somente após passar pela Cruz, Ele tem a Sua Igreja. Nós também precisamos passar pela Cruz, para que a Igreja possa surgir em nossa realidade viva e prática – não a Igreja como uma instituição religiosa, não a Igreja como uma organização, mas a Igreja como organismo vivo, com a realidade da Cruz, como um testemunho da palavra de Deus, como vemos em experiência e prática no Novo Testamento.
Somente a Cruz pode separar-nos do mundo e introduzir-nos na realidade viva daquilo que é a casa de Deus. Enquanto tivermos um coração dividido, jamais poderemos conhecer o que é a Igreja. Se o nosso coração é governado pelos sentimentos do mundo, pela realidade daquilo que é o mundo, sempre teremos uma visão errada da casa de Deus, daquilo que é a Igreja. É por isso que vemos tanta confusão, esta coisa sombria, o povo de Deus dividido por tantas coisas – se não é por denominações, é por doutrina, costume, cultura, por tantas práticas, e o mundo fica olhando para nós, questionando: “O que é a Igreja?” “Onde está a Igreja?”.
Para muitos, a Igreja resume-se a um local construído. Mas, na Bíblia, a Igreja não é um prédio. A Igreja é constituída de pessoas vivas. Quando Deus olha para Goiânia, quantas Igrejas ele vê? Ele vê somente uma Igreja, e esta Igreja é o Seu povo, é o Seu corpo, um organismo vivo. E é o propósito de Deus que esta Igreja esteja unida ao nome de Cristo, à Pessoa de Cristo. Isso tem que tocar-nos profundamente. Sem uma visão clara daquilo que é a Igreja, nunca vamos compreender o verdadeiro propósito eterno de Deus, vamos ficar perdidos em meio a tanta confusão que vemos diante de nós. Por isso, Abraão deixou Ai, deixou as ruínas para trás, e avançou para Betel. E quando está avançando, ele edifica esse altar. Isso é importante em nossa vida. Meus irmãos, isso é muito importante. Que o Senhor nos ajude a compreender tudo isso. Diante de Deus, por causa da obra da Cruz de Cristo no Calvário, nós somos a casa de Deus, a Igreja é o corpo de remidos. Mas, quando olhamos para o lado subjetivo dessa verdade, ou seja, refletir em nosso viver, conduta e relacionamentos, percebemos que o fato espiritual de ser casa de Deus depende do trabalho da Cruz em nossa vida.
Observe que após esse segundo altar Abraão desce para o Egito. Em Gênesis 12:10 a Bíblia diz:
“10 Havia fome naquela terra; desceu, pois, Abrão ao Egito, para aí ficar, porquanto era grande a fome na terra.”
“Para aí ficar”. Vemos nessa expressão que Abraão estava contrariando a vontade de Deus, porque não era propósito de Deus que ele fosse para o Egito. Isso mu8itas vezes acontece comosco. Embora Abraão tivesse alguma experiência do altar, ele também era um homem natural. E agora Deus necessita trabalhar com as escolhas, com os caminhos que Abraão tinha dentro de si. Esses caminhos visavam tornar Abraão independente de Deus. E o Senhor, de uma forma misericordiosa, tratou com ele, como vemos em Gênesis 12:10-20, trazendo-o de volta. E, assim, Abraão fez as suas jornadas do Neguebe até Betel, até o lugar onde primeiramente ele teve a sua tenda entre Ai e Betel, até o lugar do altar que outrora ele havia levantado para Deus.
A Bíblia diz que Abraão voltou ao mesmo ponto de onde ele se desviou um dia, quando escolheu ir para o Egito.
Temos aqui um princípio espiritual muito importante para a nossa vida. Deus não pula as etapas em nosso discipulado. O trabalho da Cruz em nós tem dois lados: o negativo e o positivo. Do lado negativo, esse trabalho tem o propósito de despir-nos do Velho Homem; do lado positivo, esse trabalho tem o propósito de revestir-nos do Novo Homem. Mas atente para algo muito especial. Quando Deus trata com as coisas negativas de nossa vida diante Dele, esse tratar não é a essência da santificação, pois esta é essencialmente positiva. Quando Deus faz algo nesse aspecto da nossa vida, Seu propósito é reconduzir-nos ao ponto de onde havíamos desviado, ao ponto de onde saímos do Seu propósito, de onde saímos do centro da Sua vontade. A partir daí, com a vida de altar restaurada, andamos novamente com Ele, prosseguimos, compartilhando do Seu caráter, da Sua amizade, dos Seus afetos, do Seu amor, da Sua misericórdia, da Sua graça.
Ainda, acrescentamos que este tratar de Deus conosco em uma área específica de nossa vida, como essa da escolha de Abraão em ir para o Egito, é progressivo e cada vez mais profundo. Anos depois, vemos que Abraão escolhe erradamente o caminho natural, de uma maneira e ideias naturais, para tentar ajudar Deus a gerar Isaque. E o que acontece? Ele gera Ismael Veja que Deus começa a tratar isso na vida dele. Por isso, temos que atentar para a necessidade do operar da Cruz em nossa vida.
Assim, há esses dois aspectos: o negativo e o positivo. No aspecto negativo, a Cruz vem despindo-nos desse Velho Homem, desse homem que confia em si mesmo, dessa velha natureza arraigada em si, no seu eu, no seu ego. E o trabalho da Cruz vem para despir-nos dessa confiança própria, dessa força natural, que reside dentro de nós. Mas, por outro lado, vem também nos revestindo do Novo Homem.
Quando olhamos isso na vida de Abraão, vemos a nossa própria vida. Meus irmãos, é necessário que todos nós que amamos o Senhor, que estamos na vida do corpo de Cristo, sejamos tratados em nossa vida carnal, para que conheçamos e experimentemos a realidade daquilo que é o corpo de Cristo. Somente após a nossa vida natural ter sido tratada pelo trabalhar da Cruz, e somente depois de termos sido subjugados para perceber que a nossa vida natural deve ser julgada pelo trabalho da Cruz em vez de ser louvada, é que, espontaneamente, teremos o prazer de estar unidos a outros irmãos. Como isso é profundo, como isso tem que nos tocar, tem que agir profundamente dentro de nós. Este é o trabalho da Cruz.
Terceiro altar: comunhão
Depois, vemos Abraão edificando outro altar. Isso está em Gênesis 13:18, em Hebrom. A palavra Hebrom significa “comunhão”, e isso nos traz o princípio da comunhão. Veja agora que ele sai de Betel e, nessa experiência da casa de Deus, avança para Hebrom, que significa comunhão. A casa de Deus é uma questão de vida, e a comunhão é uma questão de viver. Temos que lembrar que Hebrom vem depois de Betel. Onde houver a realidade da casa de Deus, haverá a comunhão. Comunhão não é uma comunidade organizada por um número de pessoas. A comunhão só poderá ser encontrada, quando a nossa vida natural for tratada pelo trabalho da Cruz. Deus nos mostrará que o que é impossível fazer com indivíduos, é possível quando é feito em comunhão. Esse é o significado de Hebrom.
Deus preparou para Abraão um caminho onde ele, ao contrário de Adão, teve que experimentar a Deus e conhecê-lO, para que pudesse transmitir a graça de Deus, a misericórdia de Deus. Em Gênesis 12, bem no início, Deus diz para ele: ”Sê tu uma bênção”. Depois Deus diz: “Abençoarei os que te abençoarem”. E ainda diz: “Em ti serão benditas todas as famílias da terra”. Deus queria que Abraão fosse um transmissor de Sua graça, do Seu amor e do Seu poder.
O chamado de Deus para Abraão era que ele saísse de Hur e fosse para Canaã, mas você sabe que ele parou em Harã. Vemos aqui o quanto a Cruz tornou-se necessária na vida dele. É interessante que Deus disse para Noé levar toda a sua família para dentro da Arca. Mas, Abraão, tinha que sair do meio da sua parentela. Isso ocorreu com ele porque a sua chamada não era para a salvação, e sim para o ministério, diferentemente de Noé. Abraão não tinha o conhecimento da clareza do comissionamento de Deus para ele, não compreendia por que tinha que pagar um preço tão alto por esse chamado. Meus irmãos, a profundidade do nosso tratamento por Deus determina a profundidade da nossa vida nas mãos de Deus. Noé podia ficar com a sua família, mas Abraão não. Isso nos ensina, e também fala ao nosso coração de uma forma muito solene, que jamais devemos interpretar mal o modo de Deus tratar conosco. Todas as nossas experiências são para que Deus tenha maior glória através do chamamento, da vocação, do ministério que Ele nos confiou a realizar para a glória do Seu nome.
A vida de Abraão foi marcada por esses altares. Sempre que recebia uma direção de Deus, esses altares surgiam. Esses altares também demonstravam na vida de Abraão a sua dependência de Deus e a busca que ele tinha em compreender os caminhos de Deus.
Outra característica que fica evidente nesses altares levantados por Abraão era sua consagração. Eles ocorreram em lugares estratégicos, do ponto de vista de Deus. É por isso que Deus vem revelando para Abraão todo esse princípio maravilhoso. E agora, em Hebrom, Deus começa a falar de forma profunda ao coração dele.Temos aqui mais um degrau na vida de consagração de Abraão. Vemos aqui que Deus avança. Esse altar, que fala da comunhão, mostra que a Cruz habilita-nos a ter aquela incessante comunhão com Deus, aquela amizade com Deus, aquela vida de união com Deus. Como já disse Madame Guyon, “O Senhor se coloca no exato lugar daquilo que Ele põe à morte em nossas vidas”. Meus amados irmãos, que possamos compreender isso diante do Senhor. Ele substitui para adicionar e divide para multiplicar. E quem O conhece pode confiar em Suas mãos. Por isso ele está trabalhando aqui na vida de Abraão através desses altares, para revelar algo grandioso no nosso coração.
Que Deus, de uma forma tremenda, profunda e poderosa, prossiga falando ao seu coração.
Por: Ir. Luiz Fontes
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