terça-feira, 13 de setembro de 2011

AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 117



Por: Luiz Fontes

Taate – 23ª Estação (parte 8)

TEXTOS: Gênesis 13:12; Lucas 17:28-30; Gênesis 22:1-14; Gênesis 16:16; Gálatas 4:23; Romanos 4:19; Hebreus 11:18

A vida de Consagração: os quatro altares na vida de Abraão

Irmãos, vamos prosseguir estudando acerca dos quatro altares na vida de Abraão. Quero encerrar este assunto, de modo que você possa entender alguns aspectos muito importantes do que significa em termos práticos a vida de consagração.

Introdução: ainda sobre o 3º altar – comunhão

O último altar que compartilhei, o terceiro altar erguido por Abraão, foi levantado após a separação de Abraão e Ló. Temos aqui um degrau na vida de Abraão, e desse degrau podemos ver o quanto ele pôde avançar na consagração a Deus. Vimos que ele faz uma escolha e essa escolha define mui claramente a sua espiritualidade. Sabemos que houve uma contenda entre os pastores de Abraão e os pastores de Ló, o sobrinho de Abraão. Ló faz uma escolha que caracteriza uma pessoa que não conhece o significado espiritual de uma vida de altar. A Bíblia diz que Ló escolhe a campina do Jordão, uma terra boa para a prosperidade econômica. Diz ainda que ele vai armando suas tendas até Sodoma. Sodoma é uma figura do mundo caído, do mundo em trevas. Quando você estuda esse terceiro altar na vida de Abraão, compreende que ele fala de comunhão. Aqui, vemos a comunhão, a união de Deus com Abraão. Vemos também mais um aspecto da cruz, que é um retrato de cada um desses quatro altares que Abraão levantou. A cruz habilita-nos a ter aquela incessante comunhão com Deus, amizade com Deus, uma vida de união com Deus. Se você olha para a vida de Ló, vê que ele desde o princípio foi levado mais pela influência e exemplo de Abraão, do que por sua própria fé em Deus. Ló saiu de Ur dos Caldeus, mas caiu nas planícies de Sodoma. Ora, a chamada de Deus não tinha tocado o coração de Ló. Aquilo que Deus havia revelado para Abraão não havia tocado o coração de Ló.

Precisamos aprender algumas lições acerca de Ló:

1º) Na vida de Ló aprendemos que um dia aquilo no qual descansa o nosso coração se revelará. Por mais que você tente esconder, um dia isso vai se tornar evidente. Aquilo que está escondido lá dentro de seu coração, um dia se manifestará.

2º) Quando uma pessoa não anda corretamente na vontade de Deus, sempre terá uma pedra para tropeçar. E sempre que tropeçar, cairá. Isso é o que nos ensina Ló.

3º) Encontra-se oculto, longe da observação normal, nas câmaras íntimas dos afetos e desejos do coração, um profundo anseio pelas coisas que desagradam a Deus. Por isso, nós precisamos ser diligentes, vigilantes, cuidadosos, concernente a essas coias, das quais sabemos. Muitas vezes não as temos revelado, mas elas estão lá dentro, guardadas, escondidas. Você sabe que elas estão lá. Por isso, procure ter uma vida simples diante de Deus, uma vida íntima com Deus. Procure andar em comunhão com Deus, procure andar no Espírito Santo de Deus, para que você não possa fazer os desejos da sua carne.

4º) A contenda entre os pastores de Abraão e de Ló não manifestou a fé de Abraão, nem produziu o mundanismo de Ló, mas apenas revelou o que residia lá dentro do coração de Ló. Algo estava escondido, e um detalhe, essa questão da contenda, veio apenas manifestar aquilo que Ló buscava, aquilo que estava dentro dele esperando a primeira oportunidade para se manifestar.

5º) O mundo residia dentro de Ló. Ele apenas estava se disfarçando, vivendo na sombra de Abrão.

A Bíblia diz que Ló escolheu aquela campina do Jordão, aquele lugar que estava prestes para ser julgado. O coração de Ló foi atraído por aquilo que seus olhos viram. Gênesis 13:12 diz:

“(...) Ló habitou nas cidades da campina e armou as suas tendas até Sodoma.”

Na Bíblia, na linguagem de hoje, esse texto está assim:

“Ló foi armando (acampando) até chegar a Sodoma.”

A ideia clara aqui diz que Ló foi armando a sua tenda de lugar em lugar até chegar a Sodoma. A Bíblia diz que a vinda do Senhor será como nos dias da vida de Ló. Lucas 17:28-30 diz assim:

28 O mesmo aconteceu nos dias de Ló: comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam; 29 mas, no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre e destruiu a todos. 30 Assim será no dia em que o Filho do Homem se manifestar.”

O que significam “os dias de Ló”? Significam as pessoas que vivem uma vida completamente superficial no que diz respeito à espiritualidade; pessoas que vivem a vida cristã na sombra dos outros; pessoas que vivem um cristianismo completamente seduzido pelas coisas do mundo; um cristianismo misturado com as coisas do mundo, uma fé misturada com a carne. Esse tipo de manifestação revela aquilo que a Bíblia mostra para nós em Lucas 17:28: “os dias de Ló”. Que Deus guarde o nosso coração.

4º altar - adoração

Então, irmãos, vamos agora para o quarto altar na vida de Abraão. Sabemos que esse altar foi erguido no Monte Moriá, e podemos chamá-lo de altar da adoração.

Gênesis 22:1-14 apresenta todo o relato desse altar que reflete a vida madura de Abraão, o quanto ele já tinha aprendido diante do Senhor. É de aceitação geral entre os estudiosos, entre os eruditos da tipologia bíblica, que Abraão aqui tipifica Deus, o Pai Eterno. O que vemos aqui é um homem absolutamente rendido a Deus, a ponto de sacrificar o seu único e amado filho; um homem que amava a Deus a ponto de confiar em Seus caminhos; um homem tão sensível à voz de Deus, que pôde discernir cada instrução, cada exigência divina, todas as instruções divinas dadas a ele – ele pôde corresponder a todas elas.

Em cada passo do doloroso processo de sacrifício, vemos aqui um homem que adorou a Deus no momento em que oferecia o que era mais precioso para ele. Vejo algo muito especial aqui: somente a cruz é que nos torna verdadeiros adoradores de Deus. Sem as marcas da cruz nas nossas vidas, nos tornamos adoradores de nós mesmos. Nós consideramos nossas vidas e tudo o que temos por demais preciosos para nós, e jamais queremos oferecer a Deus aquilo que somos. Na verdade, neste altar, Deus coloca aquela parte mais íntima e preciosa de Abraão, porque ali estava o próprio coração de Abraão. Na pessoa de Isaque estava o próprio coração de Abraão. Deus, assim, tratou com o ser mais interior de Abraão. Vemos aqui ele se tornar um adorador. Amados irmãos em Cristo, que o nosso querido e fiel Pai amado faça o mesmo conosco. Que pela Sua misericórdia e para a Sua própria glória e honra, Ele venha fazer de nós verdadeiros adoradores.

Vamos voltar um pouco para que, subindo aos poucos, possamos entender a essência desse altar. Você se lembra de que em Gênesis 16:16 diz que Abraão tinha oitenta e seis anos quando gerou Ismael. Isso indica que a vida natural de Abraão ainda era algo muito forte nele. E é por isso que Paulo diz em Gálatas 4:23 que Ismael era nascido da carne. Em Romanos 4:19, falando de Abraão, ele diz assim:

19 E, sem enfraquecer na fé, embora levasse em conta o seu próprio corpo amortecido, sendo já de cem anos, e a idade avançada de Sara.”

Em outras palavras, a força natural e a carne de Abraão estavam enfraquecidas. Amados, o propósito de Deus era que Abraão perdesse a sua força natural para que ele pudesse gerar Isaque. Ter cem anos, espiritualmente, significa que tudo em nós está acabado, significa o nosso fim. Veja que Deus conduziu Abraão a um ponto em que ele percebeu que sua carne precisava ser tratada. A fé de Abraão era uma fé misturada com carne. E sabemos que em Gênesis 17:9-14 a Palavra nos fala da circuncisão. O que significa circuncisão? Significa a remoção da carne, da força humana, natural, que operava nele. E, na prática, o que significa isso em nós? Significa não confiarmos em nós mesmos, não confiar na nossa carne. Se a nossa carne não for tratada, o cristão não pode viver em aliança com Deus e nem desfrutar as Suas promessas. Em Gênesis podemos ver a revelação de que o desejo de Deus é ter um povo. E o que significa o povo de Deus? O povo de Deus são aqueles que foram circuncidados, isto é, aqueles que foram levados ao fim da sua própria vida natural, para que pudessem experimentar a expressão do poder do governo de Deus.

E, agora, lá no Monte Moriá, Deus pede Isaque como oferta. Sacrificar Isaque era algo muito caro para Abraão; era um custo muito alto para ele; algo muito impressionante que Gênesis 22 não registra. Você só pode ver isso em Hebreus 11:18:

18 a quem se tinha dito: Em Isaque será chamada a tua descendência”.

Isso é muito impressionante. Não era a questão de oferecer Isaque, o filho amado, mas uma questão da própria promessa de Deus, porque aquilo que era para Abraão também era para Deus. Isaque não era apenas o filho amado de Abraão. A questão é que nele, como diz o texto, em Isaque, será chamada a tua descendência”; Isto é, a promessa de Deus estava em Isaque, a posteridade do propósito eterno de Deus estava em Isaque. Deus não havia dado Isaque somente a Abraão. A intenção de Deus era obter a Sua vontade, o Seu propósito por intermédio dele. E quando você vê Deus provando Abraão, vê que Deus o provou tanto como pessoa, como também como um vaso. Em Hebreus 11:18 vemos ele sendo tratado como um vaso. Deus queria que Isaque fosse oferecido como holocausto, isto é, ele deveria ser imolado e depois queimado – por isso que havia lenha ali. E no Livro de Levítico nós vemos que a oferta queimada era a oferta que era para Deus.

O objetivo de Deus e as promessas de Deus estavam em Isaque, mas, também, Deus teria que tratar em Abraão como indivíduo. Abraão tinha uma grande relação de vida com Isaque. Amados, não podemos estar diretamente envolvidos com qualquer coisa que Deus tenha nos dado. Tudo em nós tem que ser para a glória de Deus. É errado adquirir algo por meio da carne, mas também é errado agarrar com mãos carnais aquilo que foi adquirido por meio da promessa espiritual, por meio da promessa de Deus. Deus não nos dá uma experiência para nos assentarmos sobre ela pelo resto da vida. Deus deve ser sempre a fonte de todas as coisas – não somente das nossas experiências, mas de todas as coisas.

Creio que isso seja extremamente significativo, porque aqui, agora, você vê Deus trabalhando Sua vida em Abraão. Aqui agora você vê Deus conduzindo Abraão conforme Ele quer, em cada um desses altares por onde Abraão pôde desfrutar a Deus, pôde caminhar com Deus – desde o primeiro altar, em Siquém.

Esse altar, em Siquém, caracteriza uma vida de revelação, pois a Bíblia diz que “em Siquém apareceu o Senhor a Abraão”. Esse altar tipifica revelação.

Em seguida, temos o segundo altar. E esse altar nos fala de separação entre aquilo que é a casa de Deus e aquilo que é o mundo. Esse altar Abraão edificou entre , que significa ruínas, e Betel. A Bíblia diz que “ele deixou Aí para trás e tinha adiante de si Betel, a casa de Deus. Esse altar fala da separação daquilo que é velho, daquilo que é do mundo, daquilo que realmente nos afasta de Deus – aquilo que realmente não glorifica o Senhor tem que ficar para trás. E temos que avançar para a casa de Deus. E para que tenhamos uma revelação clara da casa de Deus, precisamos nos separar de tudo aquilo que é ruína, de tudo aquilo que é do mundo. Precisamos ter uma caminhar progressivo, um caminhar profundo.

Depois, temos o terceiro altar, em Hebrom, que nos fala de comunhão. E você sabe que onde houver a expressão da casa de Deus, haverá comunhão.

E, agora, temos este quarto altar, que nos fala de adoração.

Esses quatro altares revelam para nós a progressão espiritual da nossa vida, mediante o trabalho da cruz. O quanto é necessário o trabalho da cruz!

Somente o trabalho da cruz em nós poderá produzir a verdadeira revelação de quem é Deus, do Seu maravilhoso propósito. Somente o trabalho da cruz em nossa vida poderá produzir em nós separação. A cruz nos separa de tudo aquilo que impede o nosso caminhar em direção à casa de Deus – como diz o salmista: “Alegrei-me quando me disseram: ‘Vamos à casa do Senhor’”. Caminhar em direção à casa de Deus é uma revelação profunda na Bíblia, porque a casa de Deus é uma expressão do Seu próprio Ser. Essa doutrina é chamada de “entremesclar”: é Deus unido ao Seu povo; é Seu povo unido com Ele; é uma vida nEle, uma vida vivida nEle e pra Ele. Depois nós vemos esse terceiro altar que fala de comunhão, e somente o trabalho da cruz em nós pode gerar comunhão. Somente o trabalho da cruz pode nos libertar do individualismo, do egoísmo, da indiferença, da insensibilidade. Somente o trabalho da cruz nos faz aceitar cada pessoa em Cristo como ela é. Por último, vemos que o trabalho da cruz é o que nos faz adoradores. Aqui, tanto no aspecto objetivo, ou seja, em tudo aquilo que a cruz é em si, dentro deste propósito eterno de Deus, aquilo que foi cumprido nela, como também aquilo que dela procede para agir na nossa vida, nos torna adoradores. Porque uma visão da obra da cruz, como também o operar da própria cruz em nós é que os faz adoradores.

Isto é vida de consagração. Tudo isso se resume na nossa consagração, no nosso viver em Cristo.

Que Deus, de uma forma poderosa, prossiga falando ao seu coração e lhe abençoando.

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