domingo, 29 de maio de 2011

AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 106

Harada – 21ª Estação (parte 4)



Por: Luiz Fontes


TEXTOS: Números 33:24; Números 18:1-7; 2 Timóteo 2:4

Vamos prosseguir estudando este maravilhoso assunto desta 21ª Jornada, Harada, que trata da questão da nossa reverência, do nosso temor a Deus em relação ao nosso serviço e ao ministério. Creio que precisamos estar profundamente convictos do quanto nos é necessário estar debaixo do temor de Deus para poder servi-lO na Sua obra, para poder estar diante dEle pelo Seu próprio povo, no tocante ao nosso serviço, ao encargo do ministério.

Amados irmãos e irmãs, a vocação ministerial tem a ver com viver as implicações da palavra de Deus numa comunidade, sem jamais se permitir vaguear pelos caminhos exóticos de uma religião que busca fama, fortuna, prazer; de uma religião que busque sempre a promoção pessoal, o sucesso, o reconhecimento, o aplauso. No serviço da obra de Deus nós somos cercados por tantas oportunidades e vantagens que muitas vezes tentam nos seduzir, nos atrair para um campo onde Deus não é glorificado. Não podemos permitir que o sistema nos transforme em gerentes de “lojas eclesiásticas”. Nossas preocupações não devem ser como manter “os clientes” felizes ou como atraí-los para que não vão a “outras lojas”, a outros grupos concorrentes que ficam na mesma rua, no mesmo bairro. Precisamos ser cuidadosos para que não sejamos formados por esse tipo de sistema que tenta nos induzir de modo a sempre satisfazer as pessoas, a buscar embalar os produtos de forma que os consumidores gastem mais dinheiro com eles.

Meus irmãos e irmãs, devemos estar comprometidos com o Evangelho puro e simples que o Senhor Jesus pregou. Paulo, escrevendo a Timóteo, em 2 Timóteo 2:4 disse:

4 Nenhum soldado em serviço se envolve em negócios desta vida, porque o seu objetivo é satisfazer àquele que o arregimentou.”

Amados, não é o nosso papel atrair consumidores, como se fôssemos empreendedores cuja mente está diariamente ocupada em levantar grandes somas em dinheiro; não é o nosso papel supervisionar o desenvolvimento da nossa obra e o trabalho da nossa equipe; não é o nosso papel agir como administradores comerciais cuja mente está ocupada com estratégias semelhantes às de franquias de fast-food, esperando sempre o sucesso rápido. Não fomos chamados para isso. Nessa estação, Harada, dentro de todo o contexto que temos estudado até aqui, desde o capítulo 16 de Números, onde fomos subindo estação após estação, precisamos estar atentos, pois, todos nós estamos vulneráveis e condicionados a ceder nesse tipo de ambiente. Por que não agradaríamos àqueles que estão pagando os nossos salários, se podemos fazê-lo e manter, aparentemente, nossa consciência tranquila? Como não satisfazer àqueles que nos aplaudem, que nos elogiam, que nos reconhecem, que mantêm nosso sucesso, nosso padrão? Por que nossas consciências não estariam tranquilas se nossas ações são ratificadas muitas vezes pelo voto, pelo reconhecimento, pela aceitação das pessoas na comunidade, das pessoas nas congregações onde temos servido?

Esse consumismo tem uma finalidade muito perversa, que é a de moldar-nos. E muitas vezes não estamos nos dando conta de como estamos sendo moldados por esse tipo de sistema, por esse tipo de consumo, por esse tipo de evangelicalismo. Não há área em nossas vidas que não seja afetada de uma forma ou de outra por esse tipo de consumo religioso. Somente Deus, por Seu maravilhoso Espírito Santo, para nos guardar. Estou deixando com você essa palavra para que você medite, para que você esteja atento, para que o Senhor guarde o seu coração. Não podemos permitir que nossos irmãos vejam Deus como um produto que irá ajudá-los a viver bem ou melhor, que olhem para Deus e vejam nEle apenas um produto de consumo religioso. Não podemos permitir que as pessoas sejam movidas por esse tipo de visão, que vivam a vida cristã procurando a melhor oferta. Líderes que mal veem o que estão fazendo, aqueles que estão fazendo acordos e não têm consciência do perigo de tudo isso; aqueles que estão “marketizando” a linha de produtos em nome de Deus, a fim de atrair as pessoas para, depois, criar maneiras de superar os que competem pelo mercado, de sempre estar no topo, acima, de ser o melhor. Isso não é vida cristã. A vida cristã nunca esteve tão envolvida com relações públicas, com a imagem diante do público, com vendas, técnicas de propaganda e marketing, de espírito competitivo como temos visto. Quantos ministros de Deus, vocacionados pelo Espírito Santo, se permitem envolver nessa atmosfera, não vendo nada de errado nesse tipo de prática. Quantos estão validando isso tudo e até buscando fundamento na palavra de Deus, fazendo uso de textos fora de seu claro contexto para fundamentar esse tipo de ensino. Vemos aqui o velho sistema de livre empreendimento, de mercado, que tentamos enquadrar dentro da nossa vida cristã. Não podemos permitir isso, não podemos aceitar que esse tipo de comportamento, de conduta e de prática esteja no meio do povo de Deus.

Vejo e falo com muita tristeza, porque faço parte, são os meus irmãos. Não é o meu papel aqui julgar e condenar, porque a própria palavra de Deus já nos julga, e sabemos o quanto estamos comprometidos com ela. Mas hoje, infelizmente, uma grande porcentagem, assustadoramente alta, de líderes tem se colocado ao lado do próprio inimigo e do mundo para forjar uma religião maligna e envolver o povo de Deus. Precisamos tomar muito cuidado para que satanás não venha nos desviar do propósito da vocação para a qual fomos chamados. O mundo quer uma religião que seja atraente, cheia de entretenimento, com algumas pausas para comerciais morais. O trabalho de um homem de Deus e de uma mulher de Deus é levar as pessoas a viver uma vida dia após dia diante de Deus. O trabalho de um homem de Deus vocacionado pelo Espírito Santo é levar as pessoas a terem uma vida comprometida com Deus, ministrar-lhes uma palavra viva, poderosa e eficaz, que trate em todas as áreas de sua vida. Nós não podemos permitir que o Evangelho seja diluído debaixo de nossos próprios olhos, porque Deus está reivindicando a Sua igreja, está reivindicando a centralidade da Sua palavra.

Estudando essas jornadas em torno do Monte Sefer, podemos ver o que o Espírito Santo deseja falar a nós quanto ao verdadeiro significado do ministério cristão, especialmente àqueles que têm o encargo do ministério e da palavra. Quando olhamos para a palavra de Deus, vemos que o ministério cristão é uma grande responsabilidade, e talvez muitos não tenham atentado para isso. Mas quero que você atente. O ministério cristão é o mais digno e o maior privilégio que um homem pode ter – o de ser chamado, vocacionado por Deus para servir no santo encargo do ministério. Quando olhamos para a palavra de Deus nós entendemos o que é isso. Vemos que o propósito de Deus é nos levar a uma vida profunda, movidos pelo Espírito Santo, pela palavra, pelo trabalho da cruz, uma vida profunda em Cristo. Não podemos permitir que o cristianismo se torne algo morno, insípido, uma religião de consumo, que tende a transformar o culto a Deus em cerimônias cheias de ostentações. Não podemos permitir ser levados para um tipo de casulo emocional, aonde nunca vamos verdadeiramente experimentar Deus em profundidade. Temos que ser cuidadosos quanto a esse chamado santo e eficaz, porque um dia Deus vai nos pedir conta.

O ministério correto é aquele que toma como fonte a Bíblia, a palavra de Deus, a literatura que é uma expressão viva do próprio falar de Deus que domina as pessoas. Quando olhamos a história da Igreja durante todos esses séculos, vemos que Deus sempre teve uma só palavra. E é isso que Deus deseja, uma palavra que toque o comportamento das pessoas, e não estratégias humanas, que procuram manipular as pessoas, que procuram torná-las escravas de um comércio religioso. Vivemos num século de mudanças rápidas, onde a análise racional leva a conclusões em que muitas vezes o inesperado ocorre, e você nem mesmo toma conhecimento do que está acontecendo com você; onde a tecnologia tem dado saltos tão grandes que não conseguimos acompanhar. Mas, a palavra de Deus está acima de tudo isso; a experiência à qual somos destinados a viver em Cristo está além de tudo isso. O pensamento corrente diz-nos que é necessário atualizarmo-nos o tempo todo, e que precisamos voltar a estudar para adquirir as últimas informações para que dominemos as novas técnicas de mercado e, assim, possamos manter as massas manipuladas conforme o produto que lhes oferecemos. Vê-se hoje uma tendência que se desenvolve e que está intimamente ligada àquilo que é o mercado, o comércio, a política do mundo. A Bíblia diz em 1 João 2:15 que não podemos amar o mundo e nem as coisas que há no mundo.

A Igreja é espiritual, o ministério é espiritual. Às vezes vemos que o ministério tem sido reduzido a meros profissionais simpáticos – aqueles que são transformados em réplicas dos líderes culturais; aqueles que procuram poder, influência, prestígio. Quantos estão sendo escravizados por isso. Quantas vezes temos ouvido vozes insistentes que ressoam em nossos ouvidos, dizendo que precisamos nos moldar aos nossos líderes culturais, aos grandes executivos bem sucedidos, aos artistas que possuem o poder sobre as massas, porque temos que almejar o sucesso, ser pessoas de sucesso. Não, nós temos que ser homens como foi Abraão – em Gênesis 12:2 Deus disse para Abraão: “Sê tu uma bênção”. Nós somos portadores de bênção. Temos que ser homens formados como foi Moisés no deserto da vida, que experimentou o sofrimento, a luta, onde Deus foi moldado em sua mente e em seu caráter. Temos que ser homens como Elias que não teve nenhum receio de confrontar o pecado na corte, a política injusta e idólatra de seu tempo. Quando a glória de Deus e a santidade de Deus estavam sendo expostas à vergonha por causa da idolatria do povo de Deus, Elias aparece, como que do nada, um homem de Tesbe, nas imediações de Gileade. Ele vem para proclamar o juízo de Deus. Em 1 Reis 17, a partir do versículo 1, vemos que logo quando ele aparece e proclama o juízo de Deus, Deus o separa e o leva para o ribeiro de Querite – que significa “cortar na medida certa”. Deus leva Elias a Querite porque ainda precisava trabalhar mais na sua vida. Estudando todo o ministério de Elias, vamos perceber que durante aquele tempo em que servia nas mãos de Deus para que Deus lhe usasse, a maior parte do tempo foi Deus trabalhando na vida de Elias. Não foi Deus trabalhando através de Elias, mas Deus trabalhando na própria vida de Elias. Isso é tão rico! À medida que estamos servindo a Deus, nos entregando diante de Deus pelos nossos irmãos, a vida de Deus está sendo dispensada para dentro de nós, Deus está trabalhando sua vida em nós, porque nunca estamos prontos. Um dia Pedro disse para Jesus que estava pronto (Lucas 22), mas nós nunca estamos prontos. Cada dia é um novo dia, cada dia é uma nova experiência. É assim que você vai fluir no ministério cristão, é assim que você vai ser um homem de sucesso. Um homem de sucesso não é aquele que o mundo e as pessoas aplaudem, mas aquele que está diante de Deus e Deus vê; aquele do qual Deus se agrada, aquele que é um homem segundo o coração de Deus, segundo a vontade de Deus, segundo o propósito de Deus. A nosso vida é vivida diante de Deus, não é vivida somente diante dos homens. Acima de tudo, diante de Deus.

Por essas questões, precisamos ser cuidadosos. Não podemos ignorar que o nosso papel enquanto ministros de Deus é manter a clara distinção entre as mentiras do mundo, as mentiras do diabo, e a verdade do Evangelho. É claro que essa tarefa ministerial não se restringe somente àqueles que são chamados e vocacionados por Deus para o serviço do ministério. Essa tarefa abrange a todos os salvos em Cristo Jesus. No entanto, aqueles que Deus tem chamado para o santo encargo do ministério e da palavra estão em uma posição estratégica, que vai contra a cultura do mundo. Nosso lugar na sociedade é sobre certos aspectos únicos. Não há quem ocupe outra posição tão privilegiada, tão importante em todos os aspectos, como aqueles que foram chamados por Deus para servir no ministério. Mas também é uma posição tão perigosa, onde tantas sutilezas tentam nos atrair. Mas o nosso compromisso é manter viva a proclamação do Evangelho de Cristo Jesus, é lavar as almas a conhecerem profundamente o amor de Deus. Essa tarefa não é fácil, pois há forças poderosas, algumas sutis, outras tão óbvias, tão nítidas diante de nós, que tentam nos domar, constranger, nos reduzir, nos levar a servir à cultura como ela é. Forças que tentam nos induzir a usar a nossa posição, o nosso chamamento para nos tornarmos pessoas poderosas, importantes, de acordo com os padrões do mundo. Assim, irmãos e irmãs, precisamos de toda a ajuda que possamos conseguir de Deus para manter a nossa identidade com relação ao caráter do Evangelho ao qual fomos chamados a proclamar.

Que Deus, de uma forma tão poderosa, possa falar ao seu coração essa palavra, possa levar você a compreender a importância de tudo isso e o verdadeiro significado da vocação à qual você foi chamado diante de Deus. Que Ele lhe abençoe.

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