quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

OS PRIVILÉGIOS DA ESPOSA




 
Continuação do estudo sobre o casamento.


Efésios 5:25-33

Estivemos traçando nosso curso através desta grande afirmação, primari­amente destinada à edificação dos maridos, mas que, como vimos, tem uma gloriosa mensagem para todo o povo cristão. Isto porque, ao dirigir sua mensagem ao marido, o apóstolo o faz empregando a comparação com o relacionamento que existe entre Cristo e a Igreja. Essa é a analogia que o marido sempre deverá ter em mente.

Há, porém, mais uma coisa que nos cabe fazer antes da aplicação do ensino aos deveres particulares dos maridos para com as suas esposas. Há implícita naquilo que o apóstolo vem dizendo, mais uma coisa que será de grande importância quando chegarmos à aplicação prática, mas que é de inestimável valor para cada um de nós, cristãos, quando nos damos conta da nossa relação com o Senhor Jesus Cristo, e de que, juntos, somos a esposa de Cristo. Deixem-me explicar isto.

Dado tudo que estivemos considerando, segue-se necessariamente que o marido concede certas coisas a Sua esposa; e agora vamos ver o que o Senhor Jesus Cristo, como Esposo da Igreja, lhe concede. Ao fazê-lo, compreendere­mos melhor o glorioso privilégio de sermos cristãos e membros da Igreja cristã. Demoro-me nesta verdade porque é minha crescente e profunda convicção que o maior problema, a maior dificuldade hoje é que cristãos como nós não se dão conta do privilégio e da dignidade de serem membros da Igreja cristã e do corpo de Cristo. Bem sei, e concordo, que está certo preocupar-nos com as condições do mundo. Não poderemos ser cristãos, se não tivermos essa preocupação; todavia não consigo entender como se pode ser complacente quanto às con­dições da Igreja. Para mim a coisa mais triste e mais séria dos dias atuais é a omissão do povo cristão de considerar o que o Novo Testamento diz acerca de nós mesmos, e o que significa ser membro do corpo de Cristo. Num mundo que dá tanta importância a honras, glórias e posições, não é espantoso darmos tão pouca atenção ao fato de sermos membros da Igreja? Muitos parecem entender isso como sendo eles que conferem à Igreja alguma dignidade, em vez de perceberem que esse é o supremo e o mais glorioso privilégio que se pode ter ou conhecer. Outros acham que ser membro da Igreja é um trabalho e um dever, e ficam mais satisfeitos consigo mesmos se desempenham alguma função. Ora, isso revela uma completa incapacidade de entender o que significa realmente sermos membros do Seu corpo, o qual é a esposa do Senhor Jesus Cristo.

Vejamos, pois, algumas das coisas que Ele nos concede, coisas que dizem respeito a nós como povo cristão e membros da Igreja. Se a Igreja tão somente percebesse estas coisas, deixaria de estar cheia de racionalizações defensivas, deixaria de ser frouxa e desanimada, e de apresentar o infeliz aspecto que apresenta; transbordaria de genuíno gozo, alegria e glória.
Que é que Cristo nos concede? Primeiramente, Sua vida. Já estudamos essa verdade, mas preciso mencioná-la outra vez, neste contexto. Ele nos dá uma parte da Sua própria vida - tornamo-nos partícipes da Sua vida. É o que acontece quando alguém se casa, não é? Ele vivia sua própria vida, porém agora não a vive exclusivamente; sua esposa se torna participante da sua vida. Como é uma parte dele, ela se torna participante da sua vida, das suas atividades e de tudo que lhe diz respeito. A primeira coisa que um homem casado tem que aprender é que, quando se vê confrontado por situações diversas, agora lhe compete fazer algo novo. Antes, o principal problema para ele era: como isto me afeta, qual a minha reação a isto? Entretanto, agora ele não pára aí. Agora ele tem que pensar em como isto afeta sua esposa. Já não leva uma vida isolada, digamos, por sua própria conta; sempre terá que considerar outra pessoa, que é partícipe da sua vida. Certas coisas podem ser-lhe aceitáveis, mas agora há alguém mais que ele tem de levar em consideração.

Eu poderia desenvolver isto; poderia falar baseado em muita experiência pastoral sobre problemas e dificuldades de que já tive de tratar porque os maridos se esquecem justamente deste ponto. Permitam-me dar-lhes uma ilustração disso. Uso-a porque é uma experiência que muitas vezes tive de enfrentar, e a respeito da qual muitas vezes fui mal compreendido. Mas, correndo esse risco, conto-a de novo, com o fim de ilustrar este ponto. Um homem me procura e me diz que se sente chamado para servir nalgum campo missionário estrangeiro. Bem, isso é excelente. No entanto, então eu tenho que lhe fazer uma pergunta - e sempre a faço, se o homem é casado: que diz sua esposa sobre isso? Algumas vezes tenho de lidar com homens que não parecem preocupados com isso, e parecem considerar a matéria como se fosse de decisão puramente pessoal. Todavia não é! O homem não tem direito de isolar-se sobre uma questão como essa, deixando de lado a sua esposa. Uma vez que ambos são uma carne, ele tem de considerar as opiniões da sua esposa. Já estivemos tratando dos deveres das esposas para com os seus maridos. Há muito que dizer sobre esse outro lado também; mas o ponto que estou firmando é que é um cristão bem pobre aquele que diz: “Se me sinto chamado para uma obra particular, não importa o que a minha esposa diga”. Claro que importa! Isso mostra uma compreensão completamente falsa deste ensino.

Vejamos, no entanto, outro aspecto do assunto, e tratemos de aperceber-nos de que somos partícipes da vida do Senhor Jesus Cristo. É um pensamento tremendo, mas temos direito de dizer que estamos sempre em Sua mente; que em toda a Sua perspectiva temos nossa parte e nosso lugar. Estamos “em Cristo”, somos participantes da Sua vida. Escrevendo aos colossenses, o apóstolo utiliza esta extraordinária frase no capítulo 3, verso 4: “Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar”. Ele é “a nossa vida”, o que é outra maneira de dizer que somos participantes da Sua vida. Ora, não há nada que supere isso! De fato, já estivemos examinando isso quando estávamos es­tudando a afirmação de que somos membros do Seu corpo, da Sua carne e dos Seus ossos. Agora o estamos examinando de um ângulo ligeiramente diferente; não tanto do ângulo da união mística, e sim da consciência pessoal do Senhor de que Ele está dando Sua vida, partilhando-a, e de que nós somos incluídos nela e nos tornamos parte integrante da Sua vida.

Prossigamos, porém, para mostrar isto em suas várias manifestações. Uma é que Ele nos outorga Seu nome. Tomamos sobre nós o Seu nome porque Ele mesmo no-lo dá. Somos chamados “cristãos”, e essa é a maior verdade concernente a nós. Não somos mais o que éramos; mudamos de nome. Quando a mulher se casa, muda de nome. Quão importante é isso, para ajudar-nos a entender o ensino do grande apóstolo neste capítulo cinco desta Epístola aos Efésios! Quanta coisa ele tem para dizer também acerca deste insensato movimento moderno chamado “feminismo”! Quando uma mulher se casa, renuncia ao seu nome e toma o nome do seu marido. Isso é bíblico, e também é o costume do mundo inteiro. Isso nos ensina sobre a relação entre marido e mulher. Não é o marido que muda de nome, mas a esposa. Há uma notável ilustração disto, de tempos recentes. Refiro-me a ela porque espero que ajude a fixar estas verdades em nossas mentes. A nação toda sabe o que aconteceu no caso da princesa Margaret, como o nome do marido dela é apresentado sempre que ela é mencionada; e isso está certo. Não proceder assim é antibíblico. O nome do marido é que é tomado, não o da mulher. Não importa quem sejam os cônjuges, esta é a posição escriturística.

Contudo, examinemos isso tudo do nosso ponto de vista, como membros da Igreja cristã. Cristo colocou Seu nome em nós. Não se pode fazer maior cumprimento do que esse. Essa é a mais clara expressão deste relacionamento matrimonial. O Novo Testamento nos apresenta isto de muitas maneiras. “Já não há judeu nem gentio, bárbaro nem cita, escravo nem livre” (Gl 3:28 e Cl 3:11). Costumava haver. Aqueles eram os nomes que tínhamos antes. Não mais, porém! Agora somos cristãos, temos um novo nome. Ou tomemos o modo pelo qual este mesmo apóstolo o expressa em sua Segunda Epístola aos Coríntios, capítulo 5: “Daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne”. “Eu costumava conhecer as pessoas segundo a carne”, é o que ele diz; “como judeu, eu costumava dizer: “Quem é esse homem? É judeu? Se não é, não passa de um cão”. “Entretanto”, diz ele, “não penso mais segundo essas categorias; agora utilizo novos termos. O que desejo saber é: “Este homem é cristão?” Não me interessa qual era o seu nome antigo; este é o nome em que estou interessado agora - “cristão!” Leva ele o nome de Cristo sobre si? Assim nos damos conta de que o Senhor Jesus Cristo nos dá o Seu nome. A realidade disto é tal, diz ainda o apóstolo, escrevendo aos gálatas, que chega a este ponto: “vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim”. Essa é a idéia. Em certo sentido, Paulo está submerso, desaparecido, todavia ele continua, e diz: “a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (2:20). Que esplêndida exposição é essa, desta relação matrimonial! Há um sentido em que toda a vida do cristão está no Esposo e, no entanto, ele não se perdeu inteiramente, ele ainda está lá - “a vida que agora vivo na carne”.

Aí está o grande mistério do relacionamento matrimonial! Mas devemos apegar-nos a este grande fato - que levamos sobre nós o nome do Senhor Jesus Cristo. O que importa, e deve importar, para cada um de nós é que mudamos de nome. Aqui, no terreno da Igreja, os outros nomes absolutamente não impor­tam. Não importa o nome que a pessoa tenha, qual a sua posição ou o seu ofício, qual a sua capacidade, e tudo mais. A única coisa que importa a seu respeito agora, é que ela tem sobre si o nome de Cristo. Somos todos um aí, estamos todos juntos em Cristo. Ele nos tomou para Si - a Igreja é a esposa de Cristo. Eis o que praticamente Ele nos diz: “Esqueça esse velho nome, tome sobre si este Meu nome; você Me pertence”. Encontramos isto no Livro de Apocalipse, capítulo 3, verso 12: “A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus e dele nunca sairá; e escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, do meu Deus, e também o meu nome”. É isso!

Teu novo nome escreve em meu coração,
Teu novo e melhor nome de amor.

Está é a coisa espantosa que acontece com todos os que de fato são cristãos, com todos os membros deste corpo, que é a esposa de Cristo. Foi-lhes dado pelo Príncipe da glória e, maravilha das maravilhas é o Seu nome! Não há honra ou glória maior do que esta. Você desaparece num novo nome, e é o nome mais elevado de todos. Lemos que vem o dia em que “ao nome de Jesus” se dobrará “todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra” - e esse é o nome que nos é dado, a nós que fomos constituídos em esposa de Cristo.

Então vemos que disso decorre o fato de que somos participantes da Sua dignidade, da Sua grandiosa e gloriosa posição. O apóstolo já dissera algo equivalente no capítulo 2, onde nos dissera a admirável verdade de que Deus “nos ressuscitou juntamente com ele (com Cristo) e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus”. Essa verdade agora nos abrange. Se somos cristãos, estamos “em Cristo”, o que significa que estamos assentados com Ele “nos lugares celestiais”. Onde quer que o esposo esteja, ali está a esposa também, e a reputação, a dignidade e a posição que pertencem a ele, pertencem a ela. Não tem a menor importância quem ela era; no momento em que ela se torna sua esposa, participa de todas as coisas com ele. E ai daquele que não lhe conceda a posição e a dignidade a que faz jus! Não há maior insulto ao esposo do que recusar a honrar a sua esposa. Esta verdade, diz o Novo Testamento, vale para o cristão. Isto nos é dito repetidamente. Uma declaração disso ocorre no capítulo 17 do Evangelho de João, verso 22, onde o Senhor Jesus diz: “E eu dei-lhes a glória que a mim me deste”. A glória que o Pai Lhe dera, diz Ele, Ele deu a Seu povo. É uma coisa que invariavelmente sucede no casamento: a esposa, sendo uma parte do marido e tendo sobre si o nome do marido, compartilha toda a posição dele. “Dei -lhes a glória que a mim me deste”.

Tomemos, porém, outra colocação do assunto. O Senhor Jesus Cristo disse a respeito de Si mesmo: “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8:12). É Sua reivindicação, e não existe reivindicação superior a essa. Sem mim, o mundo fica em trevas, diz Ele. Sou a luz que o mundo pode receber sempre, sendo que tudo mais não passa de tentativas feitas pelos homens para descobrirem alguma luz; e invariavelmente fracassam. Fora de Cristo não há luz. Mas, observem o que Ele diz a nosso respeito: “Vós sois a luz do mundo” (Mt 5:14). Noutras palavras, uma vez que Ele é o que é, e dada a nossa relação com Ele, igualmente viemos a ser a luz do mundo. É-nos muito difícil compreender isso, não é? Somos apenas um pequeno grupo nesta nossa terra pagã, e só a metade destes freqüentando a casa de Deus. Daí, ficamos cheios de desculpas, e nos sentimos um tanto envergonha­dos de nós mesmos. Contudo, a verdade acerca de nós é esta: somos a luz do mundo! Foi o Senhor Jesus Cristo que o disse. Este mundo mau e trevoso não conhece nenhuma luz, não tem nenhuma luz, exceto a luz que eu e vocês estamos disseminando.

No entanto, pensemos na questão quanto ao aspecto da nossa dignidade, da nossa glória - o que Ele é, Ele faz que sejamos. Isso é inevitável por causa da nossa relação. Há muitas outras exposições magníficas disto. Ouçam, de novo, o Senhor dizer, no Livro de Apocalipse, à igreja de Laodicéia, a respeito de toda gente: “Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no meu trono; assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono” (3:21). Posto que a Igreja é a esposa de Cristo, ela vai sentar-se com Ele no Seu trono. “Ela é plebéia”, dirão vocês. Sim, mas não importa; ela se casou com o Príncipe, e compartilha o trono com Ele. Essa é a dignidade, esse é o privilégio que Ele nos confere!

Em seguida, atentem para isto: o apóstolo Paulo, procurando ensinar aos membros da igreja de Corinto algo desta grandeza e desta glória, faz a seguinte colocação, no capítulo 6 da primeira epístola, verso 2: “Não sabeis vós que os santos hão julgar o mundo?” E mais adiante: “Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos?” Isto se refere a mim e a vocês. Vejam esses tristes membros da igreja de Corinto. Que há com vocês?”, pergunta o apóstolo. “Por que estão brigando uns com os outros? Por que vocês se orgulham deste ou daquele homem, e ficam levando uns aos outros às barras do tribunal por suas conten­das? Não percebem que todos vocês, como cristãos, estão em tal relação com Cristo, que irão julgar o mundo, que irão julgar os anjos?” Eis aí a dignidade que nos pertence.

Permitam-me expressá-lo deste modo: pensem no cristão em relação aos anjos. Já se deram conta de que nos está determinado um destino que nos colocará acima dos anjos? Os anjos são seres maravilhosos, “magníficos em poder” (Sl 103:20); mas estamos destinados a uma posição que será superior à dos anjos! O autor da Epístola aos Hebreus faz esta colocação: “Porque não foi aos anjos que sujeitou o mundo futuro, de que falamos. Mas em certo lugar testificou alguém, dizendo: que é o homem, para que dele te lembres? ou o filho do homem, para que o visites? Tu o fizestes um pouco menor do que os anjos, de glória e de honra o coroaste, e o constituíste sobre as obras de tuas mãos; todas as coisas lhe sujeitaste debaixo dos pés(Hb 2:5-8). “Mas”, diz alguém, “não vejo todas as coisas sujeitas ao homem; de que é que você está falando?” “Oh não”, diz o autor daquela epístola, "... ainda não vemos que todas as coisas lhe estejam sujeitas; vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte” (verso 9). Estas palavras significam que eu e vocês vamos ocupar aquela posição. Aos olhos de Deus já a ocupamos; não vemos isto, no entanto, já é coisa certa quanto a nós. Estamos acima dos anjos porque somos a esposa de Cristo; e como Ele está acima deles nos lugares celestiais, temos essa dignidade, essa grandeza e essa posição agora mesmo.

Isso nos leva ao ponto subseqüente, ou seja, que participamos não somente da Sua vida, mas também dos Seus privilégios. No momento em que uma mulher desposa um homem, passa a participar dos privilégios dele. Sejam estes quais forem, ela se toma participante deles. O apóstolo está dizendo aqui que isto se aplica à Igreja. Participamos do que? Participamos do amor do Pai. Há um versículo que, de muitas maneiras, é para mim o verso mais espantoso da Bíblia. É o verso 23 do capítulo 17 do Evangelho de João. Diz o Senhor: “para que o mundo conheça que tu me enviastes a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim”. É uma afirmação que significa que Deus o Pai nos ama, na qualidade de povo cristão, como ama a Seu próprio Filho. O que significa que, devido à nossa relação com o Filho, estamos nessa relação com Deus. Pensem num homem, sem filhas, cujo filho homem se casou. Ele agora diz à esposa do seu filho: “Você é minha filha. Nunca antes tive uma filha, mas agora você é minha filha”. E a considera como tal. Ela e seu filho são um; portanto, ele estende a ela o seu amor paterno - “para que o mundo conheça que os tens amado, como me amas”. O privilégio é esse. Opera deste modo - dá-nos acesso ao Pai. Um pai está sempre pronto a receber a esposa do seu filho. Antes ela não tinha acesso a ele; não havia nenhum relacionamento entre ela e o pai; mas no momento em que o filho se casa, ela passa a ter direito de acesso à presença do pai. Como o Pai está pronto a receber seu filho e a dar-lhe privilégios que não concederia aos seus servidores favoritos e mais dignos de confiança, assim agora ele os concede à nora, porque é esposa do seu filho. Povo cristão, será que tiramos proveito destes altos privilégios? Será que nos apercebemos de que temos direito de entrada e acesso à presença do Pai? Apesar de ser Ele o Governador do universo, se vocês tiverem alguma necessidade, lembrem-se de que têm direito de chegar à Sua presença. Por amor a Seu Filho, Ele não os rejeitará. Esposa de Cristo, Ele sempre lhe dará ouvidos, Ele sempre terá tempo para você. Não há maior privilégio do que este. Ele nos ama como ama a Seu Filho, e nos dá este direito de entrada e acesso à Sua santa presença.

Mais ainda, estou simplesmente dando títulos para que reflitam e medi­tem. Devemos dedicar muito do nosso tempo a estes pontos, pensando neles. Quando vocês se ajoelharem para orar, não comecem a falar imediatamente; parem e pensem. Pensem mesmo antes de dobrar os joelhos. Procurem dar-se conta do que estão fazendo; lembrem-se do que são, e porque são o que são; tragam à memória aquilo que lhes diz respeito, e os direitos e privilégios que lhes são dados. Depois, passem a considerar as possessões que o Senhor nos dá. Somos participantes das Suas possessões. O apóstolo Paulo, numa extraor­dinária exposição escrita à igreja de Corinto, diz, como se fosse, o seguinte: “Com que vocês se preocupam? Por que se dividem e têm ciúme e inveja uns dos outros? Que é que há com vocês? Todas as coisas são suas. Tudo! Não importa o que seja, tudo e todos são seus. Por que? Porque vocês são de Cristo, e Cristo é de Deus.” Estudem isso com esmero, no final do capítulo 3.

Torno a inquirir: não estou certo quando digo que a verdadeira tragédia hoje está na falha evidenciada pela Igreja de não compreender a verdade sobre si mesma? Tudo é vosso” - tudo! Em certo sentido, o cosmo é nosso, porque pertencemos a Cristo. O apóstolo Paulo ficava emocionado com este conheci­mento; e a prova do nosso cristianismo, a prova da nossa espiritualidade, é se nos comovemos e vibramos com estas coisas. Pode ser que estejamos passando por períodos difíceis, que estejamos sendo perseguidos, que estejamos sendo desprezados, que estejam rindo de nós porque somos cristãos. Sabem o que devemos dizer a nós mesmos? Devemos dizer: “se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo” (Rm 8:17). Pouco importa o que o mundo pense ou diga - “tudo é vosso”; os cristãos são “co-herdeiros de Cristo”.

Mas eu gosto particularmente da maneira como isto é expresso pelo autor da Epístola aos Hebreus, no capítulo 2, verso 5. Já o citei, mas volto a fazê-lo: “Porque não foi aos anjos que sujeitou o mundo futuro, de que falamos”. É uma pena que a Versão Autorizada e a Versão de Almeida façam a tradução dessa maneira negativa. O sentido é: ele não sujeitou o mundo futuro, do qual falamos, aos anjos, mas a nós. Qual é este “mundo futuro” de que ele fala? É este velho mundo em que eu e vocês vivemos atualmente. Sim! No entanto, não como ele é agora. É o mesmo mundo de hoje, mas como será quando Cristo voltar e destruir todos os Seus inimigos, todo o mal, e todo vestígio e todos os restos do mal; quando ocorrer o grande incêndio, a grande purificação, a regeneração, quando surgirem “novos céus e nova terra, em que habita a justiça” (2 Pe 3:13; Mt 19:28). Esse é o “mundo futuro” do qual ele está falando. E esta é uma parte vital da mensagem cristã essencial. Este mundo, no qual estamos neste momento, é apenas um mundo passageiro; este não é o mundo real, o mundo duradouro. O que vemos é o mundo resultante do que o homem fez dele. Vemos o caos que o homem produziu. Naturalmente, o mundo mesmo está muito interessado no visível e no atual; e todo mundo fica se perguntando que será que a última conferência vai realizar - haverá desarmamento, será abolida a guerra, tudo será perfeito por todo o tempo restante? Mas tudo em vão. Este mundo é mau, e o mal e o pecado continuarão a manifestar-se, enquanto não chegar o dia do juízo determinado por Deus. Todavia, há um “mundo futuro”; é a Nova Jerusalém que descerá do céu, este velho mundo restaurado com toda a sua glória, este velho mundo como Deus o fez no princípio, mas ainda mais glorioso. Isso acontecerá na segunda vinda de Cristo. Ele mesmo o habitará, e Sua esposa com Ele. Esse é “o mundo futuro, de que falamos”. Quem irá viver nesse mundo, quem herdará esse mundo? Bem, diz a epístola que não serão os anjos. “Porque não foi aos anjos que sujeitou o mundo futuro, de que falamos”, e sim a nós. Somos nós os herdeiros desta glória vindoura. Amados irmãos, vocês refletiram nisso alguma vez? Lembraram-se disso alguma vez? Pode ser que estejam tendo tempos difíceis, lutando com o mundo, a carne e o diabo; podem estar enfrentando dificuldades e obstáculos. Dêem as costas para isso! Não olhem só para isso! “Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas” (2 Co 4:18). Levantem a cabeça; vocês compartilham a herança de Cristo, as Suas possessões! Vocês O desposaram - ou melhor, Ele os desposou - e coloca todas estas coisas em suas mãos. Vocês são participantes das possessões de Cristo.

Permitam-me salientar de novo que somos partícipes dos interesses de Cristo, dos Seus planos e dos Seus propósitos. “Cooperadores de Deus” (1 Co 3:9). Não pense em sua igreja local, ou nalguma outra igreja, apenas em termos de si próprio e daquilo que você faz. A mesma coisa se aplica à sua denominação ou movimento. Eleve-se a um nível superior e considere os interesses do Senhor. Torno a citar, “Vós sois a luz do mundo”. O Senhor tem um propósito com respeito a este mundo, e eu e você estamos envolvidos nesse propósito e somos participantes dele. O marido conta tudo à sua esposa. Ela conhece todos os seus segredos, todos os seus desejos, toda ambição, toda esperança, todos os projetos que penetram sua mente. Ela e ele são um. Ele lhe diz coisas que não diria a ninguém mais; ela participa de tudo, nada fica para trás, nada se lhe oculta. Essa é a relação de marido e mulher. É igualmente a relação entre Cristo e a Igreja; somos Seus parceiros neste serviço de salvar homens. Vocês sabem desse interesse? Sentem-no, pensam nisso, dão valor ao privilégio de serem participantes do segredo? Sentem alguma porção do fardo, e O estão ajudando? O cristão é para isso, a esposa é para isso - uma ajuda satisfatória - e a Igreja é a esposa de Cristo. Quantas vezes vocês oram pelo bom êxito da pregação do evangelho? Até que ponto vocês estão interessados na mensagem evangelística da Igreja? Vocês pensam nisto, sentem-se parte disto, oram por isto? A esposa digna do título não precisa ser exortada a interessar-se pelas ocupações do marido; ela considera seu maior privilégio ajudar seu marido; interessa-se vitalmente por tudo que ele faz e pelo seu sucesso em tudo. A Igreja é a esposa de Cristo; Ele partilha tudo conosco. Tratemos de nos conscientizar destas coisas e de elevar-nos à dignidade e ao privilégio que lhes são próprios.

Mas, deixem-me mencionar uma coisa que, para mim, é um dos seus mais fascinantes e encantadores aspectos. O Senhor não partilha conosco somente as Suas possessões, os Seus interesses, os Seus planos e os Seus propósitos; também partilha conosco os Seus servos. Você pode ter sido uma Cinderela (Gata Borralheira); a Igreja toda era uma Cinderela, em seus trapos, com sua dura vida de escrava, fazendo todos os trabalhos caseiros em lugar de suas irmãs. Mas Cinderela casou-se com o príncipe; e o que sucede? Em vez de mourejar como escrava daquela maneira, agora ela tem os seus servos. Que servos? Os dele! Uma vez que ela se tornou esposa deste príncipe, todos os servos dele são servos dela e lhe prestam serviço como prestam serviço a ele. Vocês já se deram conta de que esta verdade se aplica a nós? Voltemos mais uma vez à Epístola aos Hebreus, capítulo primeiro. O escritor compara e contrasta o Senhor Jesus Cristo com os anjos e eis como se expressa: “a qual dos anjos disse jamais: assenta-te à minha destra até que ponha a teus inimigos por escabelo de teus pés?” E a seguir: “Não são porventura todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?” (versos 13 e 14).

O sentido é que, devido sermos cristãos, os anjos de Deus nos servem: aí está como a epístola descreve um anjo. Este é um “espírito ministrador”, enviado para nos servir e para ministrar a nosso favor, que somos herdeiros do “mundo futuro” do qual ela está falando. Receio que negligenciamos o ministério dos anjos; não pensamos suficientemente nisso. Entretanto, quer estejamos cientes quer não, há anjos que cuidam de nós; eles estão ao redor de nós. Não os vemos, mas isso não importa. As coisas mais importantes nós não vemos; só enxergamos as coisa visíveis. Contudo, estamos cercados de anjos; são designados para tomar conta de nós e para ministrar a nosso favor - anjos da guarda. Não tenho a pretensão de entender isso tudo; nada sei além daquilo que a Bíblia me diz - no entanto isto eu sei: os servos do Senhor, os anjos, são meus servos. Eles estão ao redor de todos nós, cuidando de nós e manipulando as coisas por nós de um modo que não podemos compreender. E sei mais, que quando morrermos, eles nos levarão para o lugar que nos está destinado. Foi o próprio Senhor Jesus Cristo que ensinou essa verdade na parábola do rico e Lázaro, em Lucas capítulo 16. É-nos dito que o rico morreu e foi sepultado. Mas o que aconteceu com Lázaro? Ele “foi levado pelos anjos para o seio de Abraão”. Porventura, damo-nos conta de que os anjos de Deus ministram a nosso favor porque somos a esposa do Filho? Desde sua origem eles têm ministrado para Ele e nEle têm esperado; e devido à nossa nova relação, agora são nossos servos, ministrando para nós. Queira Deus dar-nos a graça de perceber que estamos rodeados de tais ministérios e ministrações, e de tais ministros! Nada pode fazer-nos dano definitivamente; aí estão eles, enviados pelo Senhor para velar por nós.

Lembrem-se, porém, de que também somos participantes dos Seus problemas, dificuldades e sofrimentos. Ele disse: “Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós” (Jo 15:20). Também falou de ódio. Partilha mos algo dos Seus problemas? Estamos cientes disto? “Meus filhinhos”, diz Paulo aos gálatas, “por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós” (4:19). Ele sentia alguma coisa dessas dores. Todavia, de modo ainda mais notável ele diz, em Colossenses 1:24: “Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja”. O apóstolo Paulo estava tão consciente desta relação com o Senhor Jesus Cristo, que dizia que estava cumprindo em seu corpo o que restava dos sofrimentos de Cristo. A esposa digna deste título sofre sempre o que o seu marido sofre; sofre em seu coração quando o vê sofrer; ela o partilha com ele, suporta-o com ele. Assim o apóstolo Paulo completou em seu próprio corpo algo do que restava dos sofrimentos de Cristo à medida que Este leva a efeito o Seu propósito no mundo, a agonia do Filho de Deus, que continuará até chegar o “dia da coroação”. A Igreja é a esposa de Cristo. Será que nós, como partes e porções do corpo, temos alguma experiência desta agonia, deste sofrimento, dos sofrimentos da Cabeça?

Finalmente, participaremos de toda a glória das Suas prospectivas. Torno a referir-me ao “mundo futuro”. “Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em glória” (Cl 3:4). “Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” - quando Ele vier em sua glória. Se todos nós tivermos morrido, viremos com Ele; se estivermos vivos, seremos transformados e arrebatados para encontrar-nos com Ele nos ares. Estaremos na glória eterna com o Filho de Deus (1 Co 15:51-52 e 1 Ts 4:17). Esta é Sua oração especial ao Pai: “Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste”. “Eu dei-lhes a glória que a mim me deste.” Participaremos dela com Ele por toda a eternidade. Haverá alguma coisa comparável a isto, a sermos membros do corpo de Cristo, a sermos como partes da Igreja, a esposa de Cristo?

Que vergonha, por nossa fraqueza, nosso desalento, nossas queixas, nossa letargia, nossa quase-inveja do mundo e da sua vida pretensamente maravi­lhosa, da sua pretensa alegria e do seu pretenso gozo. É um mundo agonizante; é um mundo mau; está sob condenação; vai desaparecer. O mundo já “está passando”. Mas eu e você temos esta glória vindoura que podemos divisar, a glória que compartiremos com o Senhor Jesus Cristo naquele grande dia. A glória daquele “mundo futuro” é indescritível; e nele viveremos e reinaremos com o Senhor.

Havendo tomado a Igreja como Sua esposa, Ele lhe outorga isso tudo. Suas prospectivas são nossas, Sua glória é nossa, tudo é nosso. “Os mansos herdarão a terra” (Sl 37:11; Mt 5:5). Reinaremos com Ele sobre o universo todo; julgaremos os anjos. Eu e vocês! Assim é o cristão! Assim é a Igreja cristã, na qualidade de esposa de Cristo!



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