Efésios 5:25-33
Ainda vamos continuar examinando esta extraordinária declaração na
qual o principal objetivo do apóstolo é ensinar
aos maridos seus deveres para com suas esposas; e ele o faz em termos do relacionamento
do Senhor Jesus Cristo com a Igreja. O apóstolo toma ora um assunto ora
outro, mas nós decidimos que o melhor procedimento, para melhor compreensão do
seu ensino, é tomá-los separadamente. Temos considerado primeiro o que ele diz
sobre a relação de Cristo com a Igreja para que, tendo visto essa doutrina em
sua inteireza e plenitude, pudéssemos
estar em condições de aplicá-la aos maridos em seu relacionamento com suas
esposas.
Já
consideramos como o nosso Senhor morreu pela Igreja, entregou-Se por ela, e
como Ele prossegue a separá-la para Si (santifica-a, põe-na à parte,
dedica Sua peculiar afeição a ela) para poder purificá-la e continuar este
processo de purificação espiritual.
Há
ainda duas expressões por considerar em conexão com este continuado tratamento
que o Senhor dá à Igreja. São as duas palavras que se acham no verso 29, onde lemos que:
“nunca ninguém aborreceu a sua
própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja”.
Paulo
não diz que “no passado o Senhor
alimentou e sustentou a Igreja”; o propósito é mostrar que Ele continua
realizando essa obra. Isto se coaduna inteiramente com o que nos é dito acerca
da purificação, que evidentemente é um contínuo processo de santificação. Este
alimentar e sustentar também é uma coisa que continua, e não é apenas uma ação
realizada uma vez para sempre no passado. Por isso, os que reduzem a uma ação
unicamente passada aquilo de que tratamos até o verso 26, parecem-me estar
omitindo todo o fio do ensino desta seção. A morte do Senhor Jesus aconteceu
uma vez por todas, mas todo o restante tem continuidade, com este objetivo
culminante em vista.
Examinemos,
pois, estas três palavras; são muito interessantes. “Antes a alimenta.” Esta expressão explica-se a si mesma. Seu
sentido essencial é o de prover alimento,
comida, nutrição. Cristo Se preocupa com a saúde, o crescimento, o desenvolvimento e o bem-estar da Sua Igreja, pelo que Ele a alimenta. De certo modo, o apóstolo tratou deste tema no capítulo
4, onde o expressa nestes termos:
“E ele mesmo deu uns para
apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para
pastores e doutores”.
Para
que? “Para aperfeiçoamento dos santos”;
para este processo que continua. É algo que prossegue, “para a obra do ministério, para edificação” - para a construção - “do corpo de Cristo; até que todos cheguemos...”
- aí está de novo o objetivo final!
Assim, aqui, temos outro modo de dizer a mesma coisa, e é maravilhoso
compreendermos, como membros da Igreja cristã, que o Senhor alimenta dessa maneira
a vida da Igreja.
É
uma expressão do Seu amor e do Seu cuidado por nós, suprindo-nos do alimento espiritual de que necessitamos. A Bíblia é dada por Deus, pelo Senhor
Jesus Cristo, mediante o Espírito, como alimento
para a alma. É uma parte da nutrição que Ele nos dá. E todo o ministério da Igreja, como no-lo recorda o capítulo 4, é destinado ao mesmo fim. Noutras palavras, não
há escusa para a Igreja quando ela é ignorante ou subdesenvolvida ou fraca
ou marasmática. Igualmente não há
escusa para nenhum cristão individual.
O próprio Senhor Jesus nos alimenta.
Pedro,
em sua segunda epístola, diz-nos que o Senhor “nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade” (1:3). É isso que torna grave a situação do cristão
queixoso. Nunca poderemos pleitear a escusa de que não houve alimento suficiente porque estávamos num
deserto. O alimento está disponível, o “maná
celestial” (Jo 6:31-32, 49-51) é fornecido; tudo que se pode necessitar
está aí, na Bíblia. Aí está o
alimento concentrado, não adulterado, como o mesmo Pedro o expõe em sua
primeira epístola, no capítulo 2:
“o leite racional, não
falsificado, para que por ele vades crescendo”.
O
Senhor o providenciou. Esta é uma coisa magnífica, para nossa ponderação - que
o Senhor está alimentando a Igreja. O
marido, em seu cuidado pela esposa, trabalha para providenciar alimento e tudo
de que ela necessite. Os pais
que cuidam dos seus filhos têm para estes o alimento certo, e abundante, na hora
certa. Que preocupação demonstram eles neste aspecto! O Senhor está fazendo
isso por nós de maneira infinitamente mais grandiosa.
Como
estamos reagindo a isso? Damo-nos conta de que Ele nos
está alimentando? Uma parte do Seu cuidado consiste em prover atos de culto público. O culto público não é uma
instituição humana, uma invenção do homem. Não é uma coisa dirigida como uma
instituição; e as pessoas não vêm à casa de Deus - pelo menos não devem vir -
por uma questão de dever. Devem vir porque compreendem que não poderão crescer se não vierem. Vêm para alimentar-se, para encontrar alimento para a alma. O Senhor o providenciou. Deus sabe que eu não vou ao púlpito
só porque resolvo ir. Não fora pela vocação
do Senhor, eu não o faria. Tudo que fiz foi resistir a essa vocação. Este é o Seu método. Ele chama homens, separa-os, dá-lhes a mensagem, e o Espírito está presente para dar iluminação. Tudo isso faz parte do
método pelo qual o Senhor alimenta a Igreja.
Tomemos
em seguida a palavra “sustenta” (“dela
cuida”). Esta palavra é empregada somente duas vezes no Novo Testamento. É uma
palavra que comunica uma idéia bem definida, geralmente a de vestir. É disso que a noiva, a esposa, necessita. Essas são as duas primeiras coisas em que você
pensa - o alimento e o vestuário. Mas o termo transmite mais
uma idéia, a saber, a de cuidar de, olhar por, proteger. É expressão de solicitude. Quando você alimenta e sustenta uma pessoa, você mostra, com uma
vigilância constante, um cuidado e um anelante desejo de que ela
floresça, desenvolva-se e cresça (a nossa
esposa). Essas são as idéias dadas pelo termo “sustenta” (“cuida”), acrescentado ao termo “alimenta”.
Nosso
maior problema é que não temos uma verdadeira concepção do interesse do Senhor por nós e do Seu zelo por nós. Essa é a
nossa carência fundamental - não conhecemos o Seu amor. Muitas vezes as pessoas
se preocupam, e naturalmente com razão, com o seu amor a Ele; mas eu e você
nunca O amaremos, enquanto não começarmos a conhecer alguma coisa do Seu amor
por nós. Você pode produzir excitação ou alguma coisa carnal, mas não pode
produzir amor. No caso da Igreja, o amor é sempre uma resposta, uma reação: “Nós o amamos a ele porque ele nos amou
primeiro” (1 Jo 4:19). Somos incapazes, até que, subitamente, Ele irradia
sobre nós os fulgentes raios do Seu amor; e quando nos damos conta disso, começamos
a amar. E chegamos a dar-nos conta disso mediante este modo muito prático de
entender algo do que Ele fez por nós, e do que Ele provê para nós, alimentando-nos e sustentando-nos, cuidando de nós. Quanto mais enxergarmos isso, e
nos dermos conta disso, mais maravilhados ficaremos, e mais O amaremos, em
resposta ao Seu amor.
Não
devemos deter-nos em Sua obra por nós na cruz. Começamos aí, mas vemos que, tendo
terminado essa obra, Ele prossegue e faz toda esta imensa e ampla provisão para
nós, e cuida providencialmente de nós, nas coisas que nos sucedem,
dirigindo-nos e guiando-nos. De mil e uma maneiras Ele alimenta e sustenta a
vida da Igreja, pela qual Ele morreu. Não significa que olvidamos a cruz, ou
que voltamos as costas para ela, porém que, em acréscimo, percebemos mais esta
obra que Ele realiza por nós.
Por
que o Senhor faz tudo isso? Por que morreu pela Igreja? Por que este processo de santificação e purificação? Por que a alimentação e o sustento, o cuidado? Qual o propósito disso tudo? A resposta
acha-se na tremenda declaração do verso 27:
“Para apresentar a si mesmo
igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e
irrepreensível”.
Tudo
visa a esse fim. Tudo que estivemos examinando é o objetivo imediato, mas tendo
em vista esse objetivo final. Esse é o propósito, essa é a grande finalidade
para a qual o Senhor fez e continua fazendo as coisas que estivemos considerando.
No
entanto, para apanharmos a força total desta expressão, devemos mudar um pouco
a tradução. Uma tradução mais fiel é, certamente, esta: “Para ele próprio a apresentar a si mesmo”. Temos que introduzir
adicionalmente ali a expressão, “ele
próprio”. E a razão do acréscimo é que nos lembra logo que todas as
analogias, mesmo as analogias das Escrituras, são inadequadas. São apenas
tentativas de oferecer-nos vislumbres do entendimento daquilo que a verdade é
realmente. Mas nenhuma ilustração é suficiente. Aqui, o apóstolo está
ilustrando esta relação entre Cristo e a Igreja em termos de marido e mulher; e
todavia, imediatamente encontramos algo que mostra que a analogia é inadequada,
não indo suficientemente longe. Todos sabemos que o procedimento normal é que
alguém entregue a noiva ao noivo - o pai, ou um parente, ou um amigo. Ele
conduz a noiva até ao noivo, na cerimônia matrimonial. Tendo sido ajudada por
outros em todos o seus preparativos - em sua criação e educação, e mesmo em seu
vestuário etc. - a noiva é apresentada ao
noivo por outra pessoa. Contudo, nesta passagem não é assim. Aqui, o Senhor apresentará Sua noiva a Si mesmo.
“Para apresentá-la a si mesmo.”
Este
é simplesmente outro modo de salientar aquilo que constitui o grande tema da
Bíblia toda - que em sua inteireza a nossa salvação procede do Senhor. É Sua
realização. Ele mesmo apresenta Sua noiva a Si mesmo porque ninguém mais
pode fazê-lo, ninguém mais é competente para fazê-lo. Somente Ele pode
fazê-lo. Ele fez tudo por nós, do princípio ao fim, e concluirá a obra apresentando-nos a Si mesmo com toda esta glória
aqui descrita.
O
quadro que temos diante de nós, portanto, é o de nosso Senhor e Salvador
divisando prospectivamente o momento, o dia em que irá apresentar a Igreja a Si
mesmo. E como será a Igreja? Será “uma
igreja gloriosa” - que significa uma
Igreja caracterizada por glória. Aqui está uma expressão com a qual estamos
familiarizados, no sentido individual, nas Escrituras. O destino final de
cada um de nós, o último evento da nossa salvação individual é a glorificação
- justificação, santificação, glorificação. Às vezes a
glorificação é descrita como “redenção”,
como, por exemplo, na grande declaração de 1 Coríntios, capítulo lº,
verso 30:
“o qual para nós foi feito por
Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção”. Isso realmente
significa “glorificação”.
Ou,
como Paulo o expressa em Romanos 8:30: “aos
que justificou, a estes também glorificou”. Esse é o fim. Ou como o temos
na Epístola aos Filipenses, no fim do capítulo três:
“Mas a nossa cidade está nos
céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará
o nosso corpo abatido (ou o corpo da nossa humilhação), para ser conforme o seu corpo glorioso
(o corpo da Sua glorificação) segundo o
seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas”.
Isso
é para nos acontecer individualmente;
mas a Igreja também, em seu conjunto
total, haverá de ser glorificada.
É
isso que significa a frase “igreja
gloriosa”. Ela estará num estado de
glória. O apóstolo nos ajuda a entendê-lo, primeiro descrevendo sua aparência externa. Descreve isto em
termos de duas negativas. A Igreja, em sua glória, não terá mácula nem ruga. Não haverá nela nem mancha
nem desonra. É muito difícil
percebermos bem isso. Enquanto a Igreja caminha neste mundo de pecado e
vergonha, ela se suja de lama e lodo. Portanto, há manchas
e nódoas nela. E é muito difícil
livrar-se delas. Todos os medicamentos que conhecemos, todos os produtos de
limpeza são incapazes de remover estas manchas e nódoas. A Igreja não é limpa
aqui, não é pura; embora esteja sendo purificada,
ainda há muitas manchas nela.
Entretanto,
quando ela chegar àquele estado de glória
e de glorificação, ficará sem uma
única mancha; não haverá nódoa alguma nela. Quando Ele a apresentar a Si mesmo,
com todos os principados e poderes, e com todas as compactas fileiras de potestades
celestes e contemplar esta coisa maravilhosa, a sondá-la e a examiná-la,
não haverá nela nenhuma mácula, nenhuma nódoa. O exame mais cuidadoso não será
capaz de detectar a menor partícula de indignidade ou de pecado. O apóstolo já
introduzira esta idéia no capítulo 3, verso 10, onde ele diz:
“Para que agora, pela igreja, a
multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos
céus”.
Estes
principados e potestades estarão olhando para ela; e o Senhor, em Seu gozo,
não somente a apresentará a Si mesmo, mas o fará na presença deles. A noiva e o Noivo estarão diante das hostes da eternidade, e Ele solicitará a sua inspeção. Pedirá que a
observem, e elas não poderão achar mancha alguma, nem mácula, nem nódoa nenhuma
nela - “sem mácula”.
Sim,
e graças a Deus, “nem ruga” - “sem mácula, nem ruga”. As rugas, como
sabemos, são sinais de velhice, ou de
doença, ou de algum tipo de
transtorno constitucional. As rugas são um sinal de imperfeição. Quando envelhecemos, desenvolvemos rugas. A gordura
desaparece da pele. A enfermidade também pode privar-nos dessa camada de
gordura, e assim fazer-nos parecer prematuramente velhos. Não importa qual seja
a causa - qualquer espécie de aflição ou de ansiedade leva às rugas. É sinal de
fadiga e de decadência, de idade avançada e de bancarrota. Neste mundo a Igreja
tem muitas rugas; parece idosa, velha. Contudo, graças a Deus, diz o apóstolo
Paulo, quando chegar o grande dia em que Cristo vai apresentar a Igreja a Si
mesmo em toda a sua glória, não somente não haverá nela mácula nenhuma; também
não haverá nenhuma ruga. Tudo será apagado
e alisado, sua pele será perfeita,
cheia e bem formada. É impossível descrever esta perfeição. A idéia toda é, num
sentido, sugerida no Salmo 110, onde ao salmista, numa prospectiva profética, é
propiciado um vislumbre deste estado de perfeição: “O teu povo”, diz ele no versículo três:
“se apresentará voluntariamente
no dia do teu poder, com santos ornamentos: como vindo do próprio seio da alva,
será o orvalho da tua mocidade”.
A
Igreja terá renovada a sua mocidade.
Ousaria eu expressá-lo assim? O Especialista em Beleza terá dado Seu toque
final à Igreja, a massagem terá sido tão perfeita que não restará nem uma ruga
sequer. Ela parecerá jovem e na florescência da juventude, com a cor das
faces, com a pele perfeita, sem mácula nem ruga. E permanecerá assim, para todo
o sempre. O corpo da sua humilhação terá desaparecido, terá sido transformado e transfigurado no corpo da sua glorificação.
É
isto que nos é dito em geral aqui, acerca da Igreja. Permitam-me, porém,
lembrá-los de que em Filipenses 3, versos 20 e 21, Paulo nos diz que essa mesma
coisa nos irá acontecer individualmente.
É coisa maravilhosa de se ver. Estes nossos corpos, individualmente, o seu e
o meu, vão ser glorificados. Nenhuma
enfermidade restará, nenhum vestígio de doença ou de falha ou de sinais de
velhice; haverá uma grandiosa renovação da nossa mocidade. E viveremos naquela
eternidade de perpétua juventude, sem decadência nem doença, nem qualquer diminuição
da glória a nós pertencente. Assim será a aparência externa da Igreja. Não se
esqueçam de que a idéia que o apóstolo deseja transmitir é a do prazer do Noivo na Sua noiva. Ele a está
preparando para “aquele dia”. Será
realizada a Sua grandiosa celebração; é Sua intenção mostrá-la ao universo
inteiro.
Essa
verdade, no entanto, não se refere somente ao exterior, e sim também à sua interioridade.
De um modo deveras extraordinário, o Salmo 45 é uma perfeita descrição
profética disso tudo: “A filha do rei é
toda ilustre (ou “gloriosa”) no seu
palácio”. O salmista não se contenta em dizer que “as suas vestes são de ouro tecido”, e que “levá-la-ão ao rei com vestidos bordados”; ele ressalta igualmente
que ela será “toda ilustre (toda
gloriosa) no seu palácio”.
Isso
é o que o apóstolo apresenta aqui - ela será “santa e irrepreensível”. Será positivamente santa. A declaração do
apóstolo é essencialmente positiva. A santidade, a retidão ou justiça da Igreja
não é mera “ausência” do pecado e de
pecados; é a participação na retidão de Deus.
Aí
é onde os homens meramente moralistas ficam sem entender nada. Eles não têm
concepção de coisa nenhuma, senão de uma moralidade negativa; para eles a
moralidade significa não fazer certas coisas. Não é o que a Bíblia quer dizer
com retidão; o termo bíblico significa “ser
como Deus”! Deus é santo, e a Igreja se torna santa, com esta esplêndida
retidão, com esta perfeição. É muito mais que mera ausência do mal. É
essencialmente positiva retidão íntegra,
verdade, beleza e tudo aquilo que é glorioso em sua essência como o é em
Deus. A Igreja compartilha disto. Ela está agora revestida da justiça de
Cristo. Graças a Deus, Ele vê isso, e não a nós. Mas, naquele dia, haverá mais
que isso. Ela será na verdade semelhante
a Ele, positivamente, inteiramente justa e santa.
E
então, para garantia de que o entendamos, o apóstolo diz, “irrepreensível”, isto é, “sem
culpa”. Já dissera isto no verso 4 do capítulo primeiro:
“Bendito o Deus e Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais no
lugares celestiais em Cristo; como também nos elegeu nele antes da fundação do
mundo”.
Para
quê? “Para que fôssemos santos e
irrepreensíveis diante dele em caridade” (“em amor”). Foi o prelúdio. Os
temas dominantes sempre estão no prelúdio. Agora Paulo toma o tema que apenas
mencionara lá; aqui, no capítulo cinco, ele o desenvolve mais completamente. A
Igreja, então, vai estar neste glorioso estado.
Permitam-me
resumir tudo isso da seguinte maneira: os termos empregados pelo apóstolo
Paulo são destinados a comunicar perfeição
de beleza, saúde e simetria físicas, a perfeição absoluta
de caráter espiritual. Pensem na
noiva mais bela que já viram. Multipliquem isso pela infinidade, e ainda nem
começarão a compreender isto. Mas é como será a Igreja. Nunca existiu nem
existirá beleza perfeita neste mundo. Um rosto bonito, quem sabe, porém com
mãos feias. Há sempre alguma coisa, algum tipo de defeito, não há? Todavia, ali
não haverá nenhum. E essa é, suponho, a suprema qualidade desta beleza que esta
sendo descrita - sua simetria, sua perfeição absoluta em todos os aspectos.
Esta
é a realidade à qual devemos aspirar mais que tudo. Somos todos muito
assimétricos. Alguns estão cheios de conhecimento intelectual, de conhecimento
teórico da doutrina, e nunca se movem além disso. Outros não têm doutrina, mas
falam de suas atividades e de suas vidas - são igualmente defeituosos. O homem
que só tem entendimento teórico destas coisas, e que não demonstra o poder
delas em sua vida, é um indigno representante do seu Senhor. A mesma coisa com
o outro! O homem prático, assim chamado, não tem tempo para doutrina; o outro,
não tem nada senão doutrina: ambos estão igualmente enganados. Graças a Deus
pelo dia que há de vir, quando seremos completos, não nos faltando nada, e bem
proporcionados e equilibrados. Ah, a gloria da beleza aqui descrita e para a
qual o nosso bendito Senhor e Salvador nos está preparando dia após dia, semana após
semana, mês após mês, e ano após ano! Falo a cristãos. Vocês já
se tinham dado conta disto, sobre si próprios? Tinham compreendido que
privilégio é serem membros da Igreja cristã? É isto que significa ser cristão!
Você que está pronto a correr para o salão de beleza, porventura está correndo
ao salão de beleza de Cristo? É o que a Igreja faz. Você tem um real
entendimento da Igreja como a noiva de Cristo por quem Ele morreu e por quem
continua fazendo todas estas coisas? Sabe que Ele cuida de você, que o
sustenta? Sabe que o seu nome está escrito em Seu coração, bem como em Suas
próprias mãos? Ele nos amou com um amor eterno, Ele morreu por nós, Ele nos
separou para Si, Ele fez toda esta provisão para nós, em preparação para aquele
grande dia em que nos apresentará a Si mesmo Igreja gloriosa, sem mácula, nem
ruga, nem coisa semelhante, mas havendo nós de ser santos e irrepreensíveis.
Este
é o processo em andamento. E é bom lembrá-los de novo de que o processo
prosseguirá sem interrupção, até ser concluído. Nada poderá detê-lo, nada terá
permissão para detê-lo, porque ela é a Sua noiva. E se posso aventurar-me a
empregar este antropomorfismo, Seu grande prazer de Si e dela é tal, que Ele não pode permitir que
nada detenha ou impeça a obra! Ela está em andamento, digo eu; e continuará em
andamento. Aqui está a garantia bíblica. O apóstolo já no-la dera no
capítulo 3, versos 20 e 21: “Ora”,
diz ele:
“àquele que é poderoso para
fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos,
segundo o poder que em nós opera, a esse glória na igreja, por Jesus Cristo, em
todas as gerações, para todo o sempre”.
Esse
é o poder que opera em nós, e continuará operando. Ele não parou com a Sua
morte; Ele não pára na justificação; Ele continua a operar com o Seu poder em
nós. Ele faz tudo o que o apóstolo vem descrevendo, para que seja “a esse glória na igreja, por Jesus Cristo,
em todas as gerações para todo o sempre”.
Esse
poder é irresistível. Farei, pois, mais uma vez esta exortação: se você é de
fato um filho de Deus e um membro da Igreja, um membro do corpo de Cristo,
permita-me admoestá-lo, à luz deste elevado e glorioso ensino de que este corpo
está sendo aperfeiçoado e afinal será perfeito. Portanto, não resista ao Senhor, não resista aos ungüentos, aos emolientes e ao gentil
ensinamento que de várias outras maneiras, Ele oferece pela instrução na Palavra. Porque,
acredite-me, se você se manchar
profundamente com o pecado, Ele tem alguns ácidos muito fortes que poderá usar, e que de fato usará, para arrancar você do pecado! Veja o que diz
Hb 12:6:
“Porque o Senhor corrige o que
ama, e açoita a qualquer que recebe por filho”.
Estamos
acostumados, quando celebramos a ceia do Senhor, a recordar o que o apóstolo
diz sobre isso em 1 Coríntios 11:23-28. “Examine-se
pois o homem a si mesmo”. O argumento é que, se nos examinarmos a nós
mesmos e nos julgarmos a nós mesmos, não seremos julgados; mas se deixarmos de
fazê-lo, Ele no-lo fará; Ele o fará
por nós. Não há dúvida acerca disto; é absolutamente categórico: “Examine-se pois o homem a si mesmo, e assim
coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente
- quer dizer, de maneira descuidada, sem pensar no que está fazendo. Pois sim,
ele pode pensar um pouco no cristianismo no domingo, mas esquecê-lo nos seis
dias da semana, e então vir a uma celebração da Ceia porque é membro da igreja.
Se você age dessa maneira, diz o apóstolo, cuidado:
“Examine-se pois o homem a si
mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que come e bebe
indignamente, come e bebe para sua própria condenação” - e condenação
significa julgamento - “não discernindo o
corpo do Senhor”.
Esse
homem não compreende o que está fazendo. “Por
causa disto” - porque não se examinam a si mesmos, porque não percebem que
a Igreja é a noiva de Cristo e que Ele vai aperfeiçoá-la e glorificá-la - “por causa disto, há entre vós muitos fracos
e doentes, e muitos que dormem.” “Muitos
fracos”, quer dizer, pessoas que nunca se sentem bem sem saber por que
razão. “E doentes”, isto é, estão
positivamente mal. “Por causa disto”
- porque não se examinam a si mesmos, o Senhor tem esse outro modo de levar a
efeito esse aperfeiçoamento. Leiam
as biografias dos santos, e verão que muitos deles deram graças a Deus por
alguma doença que lhes sobreveio.
Para mim, um dos melhores exemplos disto é o caso do grande doutor Thomas
Chalmers, que provavelmente nunca teria sido um pregador evangélico se não
tivesse sofrido uma moléstia que o manteve preso ao leito por quase doze meses.
Foi essa a maneira pela qual Deus o levou a enxergar plenamente a verdade. “Por causa disto, há entre vós muitos fracos
e doentes” - sim - “e muitos que
dormem” - o qual significa que estão mortos. É um grande mistério, e não
tenho a pretensão de compreendê-lo, mas o ensino do apóstolo é simples e claro.
O que ele diz é, “Se nos julgássemos a
nós mesmos” - se nos examinássemos,
e nos tratássemos e nos puníssemos a nós mesmos - “não seríamos julgados. Mas quando somos
julgados - que significa isso? - “somos
repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo”.
Isso
tudo, interpretado, significa justamente o que estou tentando dizer - isto é,
uma vez que a Igreja é a noiva de Cristo, e uma vez que o Seu anelo por ela O
leva a olhar para o futuro, para aquele grande dia em que ela será uma “igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem
coisa semelhante”, mas será “santa e
irrepreensível diante dele em amor” (Ef 1:4), Ele leva avante a Sua obra
até aquele fim. E se não correspondermos
a Ele, e não nos rendermos ao Seu carinho e às manifestações do Seu terno amor e dos Seus galanteios, assevero em Seu nome, que Ele o ama tanto que
purificará você e o levará lá. Talvez lhe aplique o ácido da “fraqueza”, ou o da “doença”, mas será para o seu bem. Não me entenda mal. Não significa
que toda vez que você estiver doente será necessariamente por castigo. As
Escrituras não dizem isso; mas dizem que pode ser. Isso tem acontecido muitas
vezes. Pode-se ler muitos exemplos disso nas Escrituras. Paulo compreendeu que o espinho
na carne lhe fora dado para mantê-lo humilde
e para que ele não se exaltasse (2 Co
12:7-10). Há pessoas tolas e tagarelas que dizem
que jamais é da vontade do Senhor que alguém fique doente. As Escrituras
ensinam que “o Senhor corrige o que ama”,
e esta é uma das maneiras de que se utiliza -“há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem”. Se você
é realmente um filho de Deus, tenha cuidado, esteja alerta. Desde que você
pertence ao corpo do qual Ele é a Cabeça, Ele o purificará, Ele o aperfeiçoará,
Ele fará que você venha a ser aquilo que Ele determinou que fosse.
O
que acabo de dizer nos deixa com uma questão final. Quando irá acontecer tudo
isso? Parece não haver nenhuma dúvida quanto a isso. Tem que ver com a “Segunda Vinda” do nosso Senhor. Será
quando Ele vier e levar a Igreja para estar com Ele. Esse é o ensino das
Escrituras. “Vou preparar-vos lugar. E,
se eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para mim mesmo,
para que onde eu estiver estejais vós também” (Jo 14:2-3).
Na
oração sacerdotal registrada em João capítulo 17, temos exatamente o mesmo
ensino. A vontade de Cristo é que a Igreja veja “aquela glória que tinha contigo (com o Pai) antes que o mundo existesse” (verso 5). É isso que eu e você, como
cristãos, vamos ver. “Assim como é o
veremos” (1 Jo 3:2). Agora Ele voltou a ter a glória que desde a eternidade
partilhara com o Pai. Ele pôs de lado os sinais dessa glória enquanto esteve cá
na terra. Ele esteve aqui “em semelhança
da carne do pecado” (Rm 8:3), e há aquela insinuação no capítulo 8 do Evangelho
Segundo João, verso 57, de que Ele parecia muito mais velho do que era. Jesus
dizia de Si mesmo: “antes que Abrão existisse eu sou”. Os judeus diziam:
“De que é que ele está falando? Ele ainda
não tem cinqüenta anos”. Ele tinha cerca de trinta e três anos, mas eles
falavam em cinqüenta. Isso tem pouca importância - o que importa é que quando
Ele subiu ao céu a glória retomou, e agora Ele Se acha em Seu estado glorificado. Paulo O viu de relance, no caminho de Damasco, em toda a Sua glória.
Foi tão maravilhoso, que ficou cego e caiu ao solo. Mas eu e você iremos vê-lo
“assim como é”. Precisamos ser glorificados antes de podermos suportar essa visão, porém com absoluta certeza isso
nos acontecerá. E O “veremos face a face”
(1 Co 13:12). Na qualidade de noiva de Cristo, estaremos lá, ao lado dEle,
partilhando esta glória.
Quando será? Será quando tudo estiver completo, quando a plenitude dos
gentios e a de Israel forem salvas, e a Igreja estiver inteira e completa.
Nenhuma pessoa estará perdida ou faltando, nem uma só. O diabo não frustará
esta realização; ele já é um inimigo derrotado. O apóstolo sempre se deleita em
dizer isto. Ele o diz gloriosamente na Epístola aos Filipenses, capítulo
primeiro, verso 6:
“Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a
boa obra, a aperfeiçoará até” - até quando? - “até ao dia de Jesus Cristo”.
Esse é o dia, “o dia do Senhor”,
“o dia de Jesus Cristo”, “o dia de Cristo”, “o grande e glorioso dia”, “aquele
dia” que “se vai aproximando” (Fp
1:6,10; At 2:20; Hb 10:25). Ou como Paulo o expressa no final do capítulo 3 de
Filipenses:
“Mas a nossa cidade está nos
céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que” -
quando vier - “transformará o nosso corpo
abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de
sujeitar também a si todos as coisas”.
Nada pode detê-lo! Outra vez o apóstolo, escrevendo aos romanos, no
capítulo 8, nos versos 22 e 23, diz:
“Porque sabemos que toda a
criação geme e está juntamente com dores de parto até agora. E não só ela, mas
nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos,
esperando a adoção”
Que é isso? - “a saber, a
redenção” - a glorificação - “do
nosso corpo”. Isso significa ficar a Igreja livre das manchas, nódoas e rugas, e de todas as coisas semelhantes
a essas, e estar completa e gloriosa em Sua presença.
Vocês já notaram isto no capítulo 19 do Livro de Apocalipse, versos 6
a 9?: “E ouvi como que a voz de uma
grande multidão, e como que a voz de muitas águas, e como que a voz de grandes
trovões, que dizia: aleluia pois já o Senhor Deus Todo-Poderoso reina.
Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos- lhe glória; porque vindas são as bodas
do Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou. E foi-lhe dado que se vestisse de
linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos
santos. E disse-me: escreve
bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro”. Ah,
o privilégio de ser convidado para a ceia das bodas do Cordeiro, quando Ele vai
apresentar a esposa a Si mesmo! Ela estará vestida com vestes de justiça por
fora, e por dentro será perfeita. Ah, que bênção, estar presente naquela
maravilhosa festa de casamento! Não nos surpreende que Judas termine a sua
pequena epístola dizendo: “Ora, àquele
que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis,
com alegria, perante a sua glória, ao único Deus, Salvador nosso, por Jesus
Cristo, nosso Senhor, seja glória e majestade, domínio e poder, antes de todos
os séculos, agora, e para todo o sempre”.
Como deveríamos sentir-nos? Deveríamos sentir-nos exatamente como se
sente toda mulher comprometida para casar-se. Deveríamos estar olhando para o
futuro, para o grande dia, ansiosos por ele, vivendo para ele. Isto deveria
estar no centro das nossas vidas, com a exclusão de tudo mais. Deveríamos ser
alentados por isto, estimulados e motivados por isto, e sempre olhando e
aguardando isto - o dia das bodas, a cerimônia, os amigos assistindo, o banquete,
a maravilha, a glória e o esplendor
disso tudo!
“Para apresentar a si mesmo igreja gloriosa,
sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível.”
Ele olhando-a nos olhos; ela olhando-O nos olhos! Foi esse o objetivo do nosso
bendito Senhor quando Ele veio à terra, viveu, morreu e ressuscitou. É Seu
objetivo por nós. Ele morreu por nós para podermos chegar lá! Ele nos separou para podermos chegar lá! Ele nos está
purificando para podermos chegar lá! Ele nos alimenta para podermos chegar lá!
Ele nos sustenta e cuida de nós para podermos chegar lá! Queira Deus dar-nos
graça para compreendermos o privilégio de ser um membro da Igreja cristã! Oxalá
nos sejam dadas também graça e força e entendimento para captarmos algo da
glória que nos aguarda, de modo que canalizemos para ela o nosso afeto, e não
para as coisas da terra!
Um comentário:
A paz do Senhor. Meu nome é Diego Sawada, sou criador do Blog Palavra de Renovo. Primeiramente gostaria de fazer um elogio para o conteudo do seu Blog. Eu gostaria de saber se vocês gostariam de fazer uma parceria conosco?
Quero inserir o link do seu blog em nosso site, e pediriamos que fizesse o mesmo para nos ajudar.
Fico no aguardo. Muito Obrigado. Deus te abençoe
Esse é o nosso site: www.palavraderenovo.com
Postar um comentário