sábado, 9 de março de 2013

DISCIPLINA COM EQUILÍBRIO






Efésios 6:1-4

Chegamos agora à questão de como exercer a disciplina. O apóstolo trata disso, em particular, neste versículo quatro. Não há dúvida quanto à necessidade da disciplina, e de que ela deve ser imposta. Mas, como fazê-lo? É aí que muitas vezes se formou grande confusão. Já concordamos que, fora de questão, nossos avós vitorianos erraram nesse ponto e que com freqüência não exerciam disciplina de maneira certa e bíblica. Também vimos que o que temos hoje é, em grande parte, uma violenta reação contra aquilo. Isso não justifica a situação atual, porém nos ajuda a compreendê-la. O importante é que não devemos cair no erro de voltar da situação atual para o outro extremo, igualmente errado. E aqui, se tão somente seguirmos as Escrituras, teremos um conceito equilibrado. A disciplina é essencial e deve ser imposta; no entanto o apóstolo nos exorta a sermos cuidadosos quanto à maneira de exercê-la, porque poderemos causar mais dano do que benefício, se não o fizermos do modo certo.
É claro que, em geral, há pouca necessidade deste ensino na época atual porque, como venho indicando, o problema hoje é que as pessoas não acreditam em nenhuma disciplina. Portanto, há pouca necessidade de dizer-lhes que não exerçam disciplina de maneira errônea. Temos de instar com o homem moderno a reconhecer a necessidade de disciplina e a pô-la em prática. Mas na esfera da Igreja - e talvez na esfera das igrejas cristãs evangélicas em particular, e especialmente nos Estados Unidos da América - o que o apóstolo diz neste versículo quatro será cada vez mais necessário. É da seguinte maneira que surge essa necessidade. O perigo sempre presente é o de reagir violentamente. É sempre errado quando a nossa atitude é determinada por outra atitude que consideramos errada. Nosso conceito nunca deve ser resultante de uma reação meramente negativa. Este princípio vale não somente com respeito a este assunto particular, e sim também em muitos aspectos e departamentos da vida. Muitíssimas vezes deixamos que a nossa atitude seja governada e determinada por algo errôneo. Permitam-me apresentar uma ilustração atual desta tendência. Há cristãos, em certas partes do mundo, que estão reagindo tão violentamente a um tipo errôneo de fundamentalismo dos dias atuais que estão quase perdendo seu conhecimento das doutrinas cristãs essenciais. É seu aborrecimento com alguma coisa errada que determina a posição deles. Isso é sempre errado. Nossa posição deve ser positivamente determinada pelas Escrituras. Não devemos ser apenas reacionários. E nesta questão particular de disciplina no lar, e das crianças, há o perigo real de que bons cristãos evangélicos, bíblicos, tendo visto claramente que a atitude moderna é inteira e completamente errada, e estando determinados a não aceitá-la, partam para o outro extremo e retrocedam à antiga idéia vitoriana. Portanto, eles têm necessidade da exortação que encontramos nestes versículos desta epístola.
O apóstolo divide o seu ensino em duas seções, negativa e positiva. Este problema ele diz que não se limita aos filhos; os pais e as mães também têm que ter cuidado. Negativamente, ele lhes diz: “Não provoqueis a ira a vossos filhos”. Positivamente, diz: “Mas criai-os na doutrina e na admoestação “do” Senhor”. Na medida em que nos lembrarmos dos dois aspectos, tudo irá bem.
Começamos com a negativa: “Não provoqueis a ira a vossos filhos”. Estas palavras podem ser traduzidas, “não exaspereis vossos filhos, não irriteis vossos filhos, não provoqueis vossos filhos, levando-os a ficarem ressentidos”. Esse é um perigo muito real quando exercemos a disciplina. E se cometermos esse erro, faremos muito mais mal do que bem. Não teremos sucesso na aplicação da disciplina aos nossos filhos, só produzindo neles tão violenta reação, tanta ira e ressentimento, que a situação será quase pior do que se não praticarmos disciplina alguma. Todavia, como vimos, ambos os extremos são completamente errôneos. Noutras palavras, devemos exercer esta disciplina de ma­neira tal, que não irritemos nossos filhos, não os provoquemos levando-os a um ressentimento pecaminoso. Exige-se de nós que mantenhamos o equilíbrio.
Como fazê-lo? Como os pais devem exercer esta disciplina? E não somente os pais, mas também os professores e todo aquele que têm a in­cumbência de dirigir os mais novos. Mais uma vez devemos retornar ao capítulo 5, versículo 18. “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito.” A chave é sempre essa. Quando estávamos tratando desse verso, vimos que a vida vivida no Espírito, a vida do homem cheio do Espírito, é sempre caracterizada por duas coisas importantes - poder e domínio. É um poder disciplinado. Lembrem-se de como Paulo o expressa, escrevendo a Timóteo: “Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação (de disciplina)” (2 Tm 1:7). Não um poder descontrolado, mas um poder controlado pelo amor e pela moderação, pela disciplina! É sempre essa a característica da vida daquele que é “cheio do Espírito”.
Noutras palavras, o cristão é completamente diferente do homem que se acha sob a influência do vinho, do homem embrutecido pelo vinho. Há sempre excesso ou contenda nesse caso, e o homem reage violentamente. Pode-se irritar facilmente um ébrio e provocá-lo, levando-o a uma reação violenta. Falta-lhe equilíbrio, falta-lhe juízo, ofende-se por qualquer trivialidade e, por outro lado, fica contente em demasia com coisas triviais. Invariavelmente peca por reação excessiva. O cristão, porém, diz o apóstolo, sempre deve manifestar a antítese desse tipo de comportamento.
Então, como devo exercer a disciplina? “Não provoqueis a ira a vossos filhos.” Este deve ser o primeiro princípio a governar a nossa ação. Seremos incapazes de exercer a verdadeira disciplina, se primeiro não formos capazes de exercer domínio próprio e de disciplinar o nosso gênio. O problema com o homem “cheio de vinho” é que ele não pode dominar-se; ele é dominado por seus instintos e paixões, e por sua natureza inferior. O álcool põe fora de ação os centros mais elevados do cérebro, incluindo-se o senso de autodomínio. O álcool é uma dessas drogas depressivas que eliminam as mais refinadas capacidades de discriminação do cérebro, os centros mais elevados, dando como resultado que os fatores instintivos, elementares, ganhem expressão. É o que acontece com o homem cheio de vinho; daí seus excessos e sua falta de domínio próprio. Entretanto os cristãos são cheios do Espírito, e as pessoas cheias do Espírito sempre são caracterizadas pelo domínio próprio. Quando você for disciplinar um filho, terá que dominar-se primeiro a si próprio. Se tentar disciplinar seu filho quando você estiver de mau humor, é certo que fará mais malefício do que benefício. Que direito terá de dizer ao filho que ele precisa de disciplina, quando evidentemente você mesmo precisa dela? O domínio próprio, o domínio do gênio, é um requisito essencial para podermos comandar outros. Mas o problema é esse, não é? Vemos isso nas ruas, em toda parte. Vemos pais aplicando castigo com raiva, muitas vezes a tremer de irritação. Não têm domínio próprio, e o resultado é que acabam exasperando o filho. Assim, o primeiro princípio é que devemos começar por nós mesmos. Precisamos estar certos de que estamos tendo domínio próprio, de que estamos calmos. Seja o que for que tenha acontecido, seja qual for a provocação, não devemos reagir com violência similar à do bêbado; é preciso haver esta disciplina pessoal, este autodomínio que habilita o homem a examinar a situação objetivamente e a lidar com ela de maneira equilibrada e bem controlada. Como isto é importante! As nações precisam aprender justamente esta lição. Suas conferências fracassam porque os homens se portam como crianças, ou pior; não se dominam, reagem violentamente. Esta condição de “embriaguez”, estas reações violentas, são uma causa da guerra. São as causas principais de todos os fracassos da vida - no casamento, no lar e em todas as outras esferas. Todavia, em lugar nenhum esta lição é mais importante do que na área da disciplina aplicada aos nossos filhos.
Em certo sentido, o segundo princípio decorre do primeiro. Se cabe ao pai aplicar esta disciplina da maneira certa, ele jamais deverá agir caprichosa­mente. Não há nada mais irritante para quem está se submetendo à disciplina do que a percepção de que a pessoa que a está ministrando é caprichosa e incerta. Não há nada mais aborrecido para um filho do que o tipo de pai cujos sentimentos e atos nunca podem ser previstos, pessoa variável, cujas condições pessoais são sempre incertas. Não há pior tipo de pai do que aquele que, um dia, com temperamento bondoso, é indulgente e deixa o filho fazer quase tudo que quer, contudo no dia seguinte fuzila de raiva se o filho mal chega a fazer alguma coisa. Isso torna a vida impossível para o filho. Uma atitude excêntrica do pai é, de novo, indicativa da condição de quem está “cheio de vinho”. As reações de um homem embriagado são imprevisíveis; não se pode dizer se ele vai mostrar-se jovial ou com mau gênio; ele não é governado pela razão, não tem domínio próprio, não tem equilíbrio. Tal pai, torno a dizê-lo, não exerce uma disciplina verdadeira e proveitosa, e a situação do filho fica impossível. Este é provocado e irritado, vindo a irar-se, e perde todo o respeito pelo pai.
Estou me referindo não somente a reações temperamentais, e sim também à conduta. O pai que não é coerente em sua conduta não pode exercer disciplina no caso do filho. O pai que faz uma coisa hoje e o contrário amanhã, não é capaz de ministrar boa disciplina. Tem que haver coerência, não somente na reação, mas também na conduta e no comportamento do pai; precisa haver um padrão quanto à vida do pai, pois o filho está sempre observando e vigiando. No entanto, se o filho vê que o pai é variável e que faz exatamente aquilo que proíbe ao filho, de novo não se pode esperar que o filho se beneficie com qualquer disciplina ministrada por um tal pai. Não pode haver nada de variável, capricho­so, incerto ou inconstante nos pais, se é que estes querem exercer disciplina.
Outro princípio muito importante é que os pais nunca devem ter a mente e os ouvidos fechados para os argumentos do filho. Não há nada que aborreça tanto aquele que está sendo disciplinado como a percepção de que todo o procedimento é completamente irracional. Noutras palavras, é um pai to­talmente mau aquele que não se dispõe a levar em consideração quaisquer circunstâncias, ou que não quer ouvir nenhuma explicação concebível. Alguns pais e mães, em seu desejo de exercer disciplina, são propensos a tornarem-se inteiramente irracionais, e eles mesmos podem estar equivocados. O relato que receberam a respeito do filho pode ser errôneo, ou podem existir circunstâncias peculiares que eles ignoram; porém ao filho não é dada permissão nem sequer para expor a sua situação ou para dar algum tipo de explicação. Naturalmente se pode ver que o filho poderá tirar proveito disso. O que estou dizendo é que jamais devemos ser irracionais. Deixe que o filho dê a sua explicação e, se não for uma explicação verdadeira, castigue-o por isso, bem como pelo ato particular que constitui a transgressão visada. Mas, negar-se a ouvi-lo, proibir toda espécie de réplica, é indesculpável.
Este princípio nos fica claro quando vemos um Estado portando-se mal. Não nos agrada um Estado policial, temos orgulho da Lei do Habeas Corpus neste país, lei que declara que é um grave mal manter um homem na prisão sem lhe conceder um julgamento. Somos eloqüentes sobre isto, porém muitas vezes fazemos exatamente a mesma coisa em nossos lares. Não é dada ao filho nenhuma oportunidade para expor o seu caso, nem por um momento a razão tem vez na situação, recusamo-nos a sequer admitir a possibilidade de que haja alguma explicação a respeito da qual até então nada ouvimos. Tal conduta é sempre errada; é provocar a ira a nossos filhos. Com todo a certeza, isso vai exasperá-los e irritá-los, levando-os a um estado de rebelião e antagonismo.
No entanto, há outro princípio a considerar - o pai nunca deve ser egoísta. “Pais, não provoqueis a ira a vossos filhos.” Isto acontece às vezes devido ao puro e simples egoísmo dos pais. Minha denúncia visa aquelas pessoas que não reconhecem que o filho tem sua própria vida e sua própria personalidade, e que parecem achar que os filhos são inteiramente para o prazer delas ou para o seu uso. Têm uma noção essencialmente falsa da paternidade e do que ela significa. Não entendem que são apenas tutores e guardiães destas vidas que nos são entregues, que não somos seus donos, que elas não nos “pertencem”, que não são "‘mercadorias” ou “bens”, que não temos direitos absolutos sobre elas. Mas muitos pais que se comportam como se tivessem esse direito de propriedade; e a personalidade do filho não recebe nenhum reconhecimento. Não há nada — mais deplorável ou repreensível do que um pai dominador. Refiro-me ao tipo de pai ou mãe que impõe a sua personalidade ao filho, e que está sempre esmagando a personalidade do filho; o tipo de pai ou mãe que exige tudo e tudo espera do filho. Geralmente estes pais são descritos como possessivos. Sua atitude é sumamente cruel e, infelizmente, pode persistir na vida adulta dos filhos.
Algumas das maiores tragédias que encontrei em minha experiência pastoral eram resultantes disso. Conheço muitas pessoas cujas vidas foram totalmente arruinadas por pais egoístas, possessivos, dominadores. Conheço muitos homens e muitas mulheres que nunca se casaram por esta razão. Fizeram com que eles se sentissem criminosos só por pensarem em deixar pai e mãe; tiveram que dedicar a vida toda aos pais. Por que teriam vindo ao mundo, senão para isso? Não lhes fora permitido ter sua vida própria, independente, nem desenvolver a sua personalidade; um pai despótico ou uma mãe dominadora esmagara a vida, a individualidade e a personalidade do filho ou da filha. Isso não é disciplina; é tirania do tipo mais repugnante, e uma contradição do claro e simples ensino das Escrituras. É totalmente indesculpável e, à medida que oprime a personalidade do filho, produz ressentimento. Como evitá-lo? Estejamos certos de que estamos completamente livres disso. “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda.” O bêbado só pensa em si, seu único interesse é sua própria satisfação. Se pensasse nos outros, nunca se embriagaria, porque bem sabe que isso os faz sofrer. A embriaguez é uma manifestação de egoísmo, é auto-indulgência consumada. Não devemos ter esse espírito com respeito a coisa nenhuma, e particularmente nesta relação sumamente delicada entre pais e filhos.
Contudo, repito: a punição, a disciplina, jamais deverá ser ministrada de maneira mecânica. Há gente que acredita na disciplina pela disciplina. Esse não é o ensino bíblico, mas sim a filosofia do sargento instrutor. Não há nada que dizer a favor dela; não tem nada de inteligente! Isso é o que há de horrível com tal disciplina. No Exército e nas outras forças armadas a disciplina é pouco ou nada inteligente; é feita em termos de números, e a personalidade não é levada em conta. Pode ser que essa forma de disciplina seja necessária lá, porém quando penetra na esfera do lar, é imperdoável. Noutras palavras, é preciso haver uma razão para aplicar-se a disciplina de maneira correta e genuína; não deve ser aplicada de maneira mecânica. Sempre deverá ser inteligente; sempre deverá existir uma razão para a sua aplicação, e essa razão deve ser exposta com simplicidade e clareza. Nunca deve ser aplicada à semelhança de alguém que aperta um botão, e espera o resultado inevitável. Isso não é disciplina verdadeira; nem humana é. Pertence aos domínios da mecânica. Mas a disciplina verdadeira sempre se baseia no entendimento; tem mensagem própria; tem explicação para dar.
Observem que em todo o transcurso do nosso estudo, estamos vendo que é necessário atingir um equilíbrio. Ao criticarmos o conceito moderno que não reconhece nenhuma disciplina, observamos que ele parte do pressuposto de que tudo que se tem que fazer é dar explicações e fazer apelos, e tudo estará bem. Vimos claramente que esse conceito não é válido, nem na teoria, nem na prática; todavia, é igualmente errado arrojar-se para o outro extremo e dizer: “Isto tem que ser feito porque eu mando. Não há nada que perguntar, e não será dada nenhuma explicação.” A disciplina cristã, equilibrada, nunca é mecânica; é sempre dinâmica, é sempre pessoal, é sempre compreensível e, acima de tudo, é sempre altamente inteligente. Sabe o que faz e nunca peca por excesso. Não perde o domínio próprio, não é uma espécie de cachoeira a derramar-se de maneira descontrolada e violenta. Há sempre este fator inteligente e com­preensível no âmago e no centro da verdadeira disciplina.
Isso leva inevitavelmente ao sexto princípio. A disciplina nunca deve ser demasiado severa. Aí talvez esteja o perigo que confronta muitos bons pais atualmente, quando vêem a rebeldia generalizada que os cerca, e a lamentam e a condenam. Correm o perigo de influenciar-se tão intensamente por sua revolta, que vão direto ao outro extremo e se tornam severos demais. O oposto da ausência de disciplina não é a crueldade, e sim a disciplina equilibrada, controlada. Um antigo adágio nos fornece a regra e a lei fundamentais acerca de toda esta matéria. É que “a punição deve ser proporcional ao crime.” Noutras palavras, devemos ter o cuidado de não aplicar a punição máxima a todas as transgressões, grandes ou pequenas. Isto simplesmente equivale a dizer de novo que a punição não deve ser mecânica; pois se a punição dada for despropor­cional ao mau comportamento, ao crime, ou seja ao que for, não pode ser boa. Inevitavelmente dará à pessoa punida uma sensação de injustiça, um sentimento de que a punição é tão severa, tão fora de proporção com o mal praticado, que constitui um ato de violência, não de correção saudável. Isso inevitavelmente produz esta “ira” de que o apóstolo fala. O filho se irrita e acha que a punição é irracional. Embora talvez esteja disposto a admitir alguma culpa, ele está seguro de que a culpa não foi tão grave para merecer aquilo tudo. Para expressá-lo doutro modo, jamais devemos humilhar outra pessoa. Se ao punir ou ministrar disciplina ou correção cometermos o erro de humilhar o filho, é claro que nós mesmos precisaremos ser disciplinados. Nunca humilhemos ninguém! Certamente devemos castigar, se necessário, mas que seja uma punição ra­zoável, baseada no entendimento. E nunca o façamos de modo que o filho pense que está sendo espezinhado e completamente humilhado em nossa presença, e pior ainda, na presença de outros.
Tudo isso, bem sei, pode ser muito difícil; porém, se somos “cheios dc Espírito”, faremos bom julgamento nestas questões. Aprenderemos que nossa ministração da disciplina jamais deverá ser apenas um meio de aliviar nossas tensões emocionais. Isso é sempre errado; e nunca devemos deixar-nos gover­nar pelo prazer de punir; tampouco, como já salientei, devemos pisar na personalidade e na vida do indivíduo com quem estamos lidando. O Espírito nos admoesta a sermos extremamente cuidadosos neste ponto. No momento em que a personalidade é posta para fora e esta rígida, dura e áspera a idéia de punição entra, somos culpados das coisas contra as quais Paulo nos adverte. Então estaremos irritando e provocando a ira a nossos filhos, e os estaremos tornando rebeldes. Perderemos o respeito deles e os faremos pensar que estão sendo maltratados; um senso de injustiça se inflamará dentro deles, e acharão que estamos sendo cruéis. Isso não beneficia nenhuma das partes e, portanto, jamais deveremos tentar aplicar disciplina desse modo.
Assim chegamos àquilo que, de muitas maneiras, é a última das nossas considerações em termos negativos. Nunca devemos deixar de reconhecer o crescimento e o desenvolvimento dos nossos filhos. Este é outro alarmante defeito paterno que, graças a Deus, não se vê hoje com tanta freqüência como antigamente. Ainda existem, no entanto, alguns pais que continuam a consi­derar os seus filhos a vida toda como se nunca tivessem saído da meninice. Os filhos podem ter vinte e cinco anos de idade, mas são tratados como se tivessem cinco. Esses pais não reconhecem que esta pessoa, este indivíduo, este filho que Deus lhes deu por Sua graça, é alguém que está crescendo e se desenvolvendo e amadurecendo. Não reconhecem que a personalidade do filho está flores­cendo, que ele está obtendo conhecimento, que sua experiência está se alar­gando, e que o filho está se desenvolvendo como acontecera com eles próprios. Isso é de particular importância no estágio da adolescência; daí, um dos maiores problemas sociais de hoje é o que está relacionado com o manejo e o tratamento do adolescente.                                                                                                                                                                                                                                   É o problema das escolas dominicais, como também das escolas diárias. Os professores da escola dominical atestam que têm pouca dificuldade enquanto as crianças não chegam à adolescência, mas que, aí, tendem a perdê-las. Os pais acham a mesma coisa. Este período da adolescência é, notoria­mente, a idade mais difícil, pela qual todos têm que passar e, portanto, precisa de graça especial, compreensão, e do mais cuidadoso manejo.
Como pais, nunca deveremos ser culpados de não reconhecer este fator, e temos que procurar ajustar-nos a ele. Pelo fato de você poder dominar o seu filho, digamos até à idade de nove ou dez anos, não deve dizer: “Vou continuar agindo assim, dê no que der. A vontade dele tem que ser dobrada pela minha. Não me importa o que ele sinta, ou o que ele entenda, as crianças sabem muito pouca coisa, de modo que continuarei a impor-lhe a minha vontade”. Pensar e agir assim significa que certamente você provocará a ira a seu filho e, com isso, irá causar-lhe grande dano. Irá causar-lhe dano psicológico, e até poderá causar- lhe dano físico. Criará nele vários tipos de enfermidades psicossomáticas, tão comuns nos dias atuais. Essa espécie de comportamento por parte dos pais é prolífico na produção desses efeitos e resultados. Nunca deveremos ser culpa­dos desse erro.
Como evitarei todos estes males?”, você perguntará. Uma boa regra é que nunca devemos impingir nossas idéias em nossos filhos. Até certa idade é certo e bom ensinar-lhes certas coisas e insistir nelas, e não haverá dificuldade nisso, se for feito corretamente. Eles até gostarão disso. Mas depressa chegarão a uma idade em que começarão a ouvir conceitos e idéias dos seus amigos, provavelmente na escola ou noutras agremiações. É quando a crise começa a de­sabrochar. Todo o instinto dos pais leva-os, muito acertadamente, a proteger o filho, porém, outra vez, isso pode ser feito de tal maneira que causa mais dano do que benefício. Se você der ao filho a impressão de que ele tem que acreditar nestas coisas simplesmente porque você acredita nelas, e porque seus pais também acreditavam, inevitavelmente criará uma reação. É antibíblico agir assim. E não somente é antibíblico, mas também põe à mostra uma triste falta de compreensão da doutrina neotestamentário da regeneração.
Surge neste ponto um importante princípio que se aplica não somente a esta esfera, mas também a muitas outras. Constantemente estou tendo que dizer a pessoas que se tomaram cristãs e cujos entes queridos não são cristãos, que tenham muito cuidado. Eles mesmos vieram a enxergar a verdade cristã, e não podem entender por que estes outros membros da família - marido, esposa, pai. Mãe, ou filho - não a enxergam. Toda a tendência desses cristãos é de impacientar-se com eles e de forçá-los à fé cristã, de impingir neles sua crença. De modo nenhum se deve fazer isso. Se a pessoa em questão não foi regenerada, não poderá exercer fé. Precisamos ser vivificados”, antes de podermos crer. Quando a pessoa está morta “em ofensas e pecados(Ef 2:1), não pode crer; portanto, não se pode impingir fé nos outros. Eles não enxergam a verdade, não podem compreendê-la. “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las. porque elas se discernem espiritualmente” (1 Co 2:14). Muitos pais caíram neste erro justamente neste ponto. Tentaram arrastar seus filhos, no estágio da adolescência, para a fé cristã; tentaram impingir-lhes seus conceitos, tentaram compeli-los a dizerem coisas nas quais na verdade não criam. Este método é sempre errado.
Bem, o que se pode fazer?”, serei interrogado. Nosso interesse é tentar ganhá-los, é tentar mostrar-lhes a excelência e a racionalidade do que somos e do que cremos. Devemos ser muito pacientes com eles e tolerar as dificuldades que apresentam. Eles têm os seus problemas, embora estes não signifiquem nada para você. Contudo, para eles esses problemas são muito reais. Toda a arte de exercer disciplina está em reconhecer esta outra personalidade o tempo todo. Você deve colocar-se no lugar do seu filho, por assim dizer, e com real simpatia, amor e compreensão tentar ajudá-lo. Se os filhos recusarem e rejeitarem os seus esforços, não reaja violentamente, mas faça-os perceber que você sente muito, que você se entristece por amor deles, e que você acha que algo muito precioso está se perdendo. E, ao mesmo tempo, deve fazer-lhes tantas concessões quantas puder. Não deve ser duro e rígido, não deve negar-lhes nada automati­camente sem qualquer razão, simplesmente porque é o pai e este é seu método e seu modo de agir. Ao contrário, deve preocupar-se em fazer toda legítima concessão que puder, ir tão longe quanto puder em matéria de concessão, mostrando com isso que você respeita a personalidade e a individualidade do seu filho. Isso, em si e por si, é sempre bom e certo, e sempre redundará em benefício.
Permitam-me resumir a minha argumentação. A disciplina deve ser sempre praticada com amor, e se você não puder praticá-la com amor, não tente aplicá-la de modo nenhum. Nesse caso, terá necessidade de tratar de si próprio primeiro. O apóstolo já nos disse que devemos falar a verdade com amor, num sentido mais geral, porém exatamente a mesma coisa aplica-se aqui. Fale a verdade, mas com amor. Com a disciplina é precisamente a mesma coisa; deve ser governada e dirigida pelo amor. “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda (ou “excesso”), mas enchei-vos do Espírito.” Qual é “o fruto do Espírito”? “Caridade (ou “amor”), gozo, paz, longanimidade, benignidade bondade, fé, mansidão, temperança”. Se como pais, estamos cheios do Espírito, e produzimos tal fruto, a disciplina não será grande problema para nós. “Cari­dade, gozo, paz, longanimidade- sempre com amor, sempre para o bem do filho. O objetivo da disciplina não é manter o seu padrão ou dizer: “Decidi que tem que ser assim, e assim será”. Você não deve pensar primordialmente em si próprio, e sim no filho. O bem do filho deve ser o seu motivo dominante. Você deve ter um conceito correto da paternidade e considerar o filho como uma vida que Deus lhe deu. Para quê? Para guardar para você e moldar segundo o seu modelo, para impor-lhe a sua personalidade? Absolutamente não! Pelo con­trário, foi colocado sob os seus cuidados e sob a sua responsabilidade por Deus, para que a alma dele finalmente venha a conhecê-l0 e a conhecer o Senhor Jesus Cristo. O filho é uma entidade como você, dada, enviada por Deus a este mundo como você. Assim, você deve olhar para os seus filhos primariamente como almas, e não como você olha para um animal que você possui, ou para certos bens que lhe pertencem. Seu filho é uma alma que Deus lhe deu, e você deve agir como seu tutor e seu depositário.
Finalmente, a disciplina sempre deve ser exercida de modo que leve os filhos a respeitarem seus pais. Nem sempre eles entenderão e, provavelmente, por vezes acharão que não merecem castigo. Entretanto, se somos “cheios do Espírito”, o efeito de nossa ação disciplinar será que eles nos amarão e nos respeitarão; e virá o dia em que nos agradecerão por havermos agido assim. Mesmo quando queiram defender-se, haverá alguma coisa dentro deles que lhes dirá que estamos certos. Terão um respeito fundamental pelo nosso caráter. Eles ficam vigiando as nossas vidas; observam a disciplina e o autodomínio que exercemos sobre nós mesmos, e vêem que o que fazemos com eles não é algo caprichoso, que não estamos apenas dando escape às nossas tensões emocionais e procurando alívio. Saberão que os amamos, que estamos interessados em seu bem-estar e em beneficiá-los neste mundo pecaminoso e mau; e assim haverá este respeito, esta admiração, esta apreciação e este amor subjacentes.
E vós, pais, não provoqueis a ira a vossos filhos.” Que tremenda coisa a vida é! Como são maravilhosas todas estas relações - marido, esposa, pais, filhos! Vemos pessoas no mundo que nos cerca precipitando-se para o casa­mento e precipitando-se para sair do casamento. Quanto aos filhos, muitos deles não têm a mínima idéia do que a paternidade realmente significa! Para muitos pais os filhos não passam de um estorvo, ora exageradamente mimados, ora severamente punidos; muitas vezes deixados sozinhos em casa enquanto os pais saem para se divertirem; enviados a internatos escolares para que os pais tenham liberdade! Quão pouco se pensa no filho, em seu sofrimento, nas pressões que se exercem sobre a sua natureza sensível! A tragédia disso tudo é que as vidas dessas pessoas não são governadas pelos ensinamentos do Novo Testamento: não são “cheias do Espírito”; não tratam seus filhos como Deus nos trata, em Seu infinito amor, bondade e compaixão. Imagine, se Deus nos tratasse como freqüentemente tratamos nossos filhos! Ah, a longanimidade de Deus! Ah, a paciência de Deus! Ah, a admirável maneira pela qual Ele tolera as nossas maldades como fez com as maldades dos filhos de Israel da antiguidade! Para mim, não há nada mais admirável que a paciência de Deus, e Sua longanimidade para conosco. Digo ao povo cristão, e a todos quantos de algum modo são res­ponsáveis pela disciplina de crianças e jovens, “haja em vós o mesmo sen­timento que houve também em Cristo Jesus” (Filipenses 2:5). E que o mesmo amor esteja também em nós, para que não provoquemos a ira a nossos filhos e com isso, os envolvamos, e a nós também, em todas as más conseqüências do nosso fracasso.











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