Capítulo III
O espírito é o que vivifica; a carne para nada
aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.Senhor,
para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna
João 6:63,68
O qual nos habilitou para sermos ministros de uma
nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o
espírito vivifica.
2 Coríntios 3:6
Nosso bendito Senhor falou de Si mesmo como o pão da vida, e de Sua
carne e sangue como a comida e bebida da vida eterna. Para muitos de seus
discípulos foi um duro discurso que eles não puderam entender. Jesus disse-lhes
que seria somente quando o Espírito viesse, e eles O possuíssem, que Suas
palavras seriam claras para eles. Ele diz, “o
Espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita”.
Nestas palavras e nas correspondentes de Paulo, temos a mais próxima
abordagem para o que pode ser chamado de uma definição do Espírito. (Veja 1
Coríntios 15:45, “o espírito vivificante.”)
O Espírito sempre atua, em primeiro lugar, quer em natureza ou em graça, como
um princípio vivificante. É da mais profunda importância ater-se firmemente a
isso. A Sua obra no crente – selando, santificando, iluminando e fortalecendo –
é radicada nisto: quando Ele é conhecido e honrado e um lugar Lhe é dado;
quando Ele é aguardado como sendo a vida interior da alma, que Suas outras
obras graciosas são experimentadas. Estas são conseqüências da vida interior; é
no poder da vida interior que elas podem ser desfrutadas. “É o Espírito que vivifica”. Em contraste, nosso Senhor disse: “a carne para nada aproveita”. Ele não
está falando aqui da carne como o fundamento do pecado. Em seu aspecto
espiritual, a carne é o poder no qual o homem natural, ou mesmo o crente que
não está plenamente rendido ao Espírito, busca servir a Deus ou conhecer e
reter coisas espirituais. O fútil caráter de todos os seus esforços está
indicado na descrição: “para nada
aproveita”. Seus esforços simplesmente não são suficientes; eles não nos
valem quanto a alcançar realidade espiritual. Paulo mencionou a mesma coisa
quando disse que a letra mata. Toda a dispensação da lei foi senão uma
dispensação da letra e da carne. Embora ela teve uma certa glória e os
privilégios de Israel foram muito grandes, ainda assim, como diz Paulo, “Porquanto, na verdade, o que, outrora, foi
glorificado, neste respeito, já não resplandece, diante da atual sobreexcelente
glória” (2 Coríntios 3:10). Mesmo Cristo, quando estava na carne, e até que
a dispensação do Espírito tivesse lugar, não podia pelas Suas palavras efetuar
nos Seus discípulos o que Ele desejava.
“As palavras que eu vos tenho dito
são espírito e são vida” (João 6:63). Ele desejava ensinar aos discípulos
duas coisas. Primeiro, que palavras são sementes vivas com poder para germinar,
para brotar, assegurando sua própria vitalidade, revelando sua própria
natureza, e provando seu poder naqueles que as recebem e as guardam em seus
corações. Ele não queria que eles fossem desencorajados se não compreendessem
tudo de uma vez. Suas palavras são espírito e vida; elas não eram destinadas
apenas para entendimento, mas para a própria vida. Vindas no poder do Espírito,
mais altas e profundas que todo pensamento, elas penetrariam a própria raiz de
nossa vida. Elas têm em si mesmas a vida divina operando com uma energia divina
a verdade que elas expressam, conduzindo aqueles que a recebem à experiência
delas. Segundo, como uma conseqüência disto, Suas palavras requerem uma
natureza espiritual para recebê-las. Sementes precisam de um solo congênere:
deve haver vida no solo tanto quanto na semente. Não só na mente ou nos
sentimentos ou até mesmo na vontade apenas, mas a Palavra deve ser conduzida
através desses meios para dentro da vida. O centro desta vida é nossa natureza
espiritual, com a consciência como sua voz; lá a autoridade da Palavra deve ser
reconhecida. Mas mesmo isso não é suficiente: a consciência habita no homem
como um cativo entre poderes que ela não pode controlar. É o Espírito que vem
de Deus, o Espírito que traz vida, e através da Palavra assimila a verdade e o
poder em nós.
Em nosso estudo da obra do Espírito Santo, nunca é demais sermos
diligentes em ganhar uma firme segurança nessa verdade. Ela nos salvará do
erro. Ela nos preservará de esperar desfrutar dos ensinamentos do Espírito sem
a Palavra ou nos tornarmos mestres no ensino da Palavra sem o Espírito.
Na Santa Trindade, a Palavra e o Espírito são geminados – são um com o
Pai. Não é diferente com as palavras da Escritura, inspiradas por Deus. O
Espírito Santo tem incorporado através dos tempos os pensamentos de Deus na
Palavra escrita, e vive agora, por esse propósito, em nossos corações – revelar
o poder e o significado dessa Palavra. Se você deseja ser cheio do Espírito,
seja cheio da Palavra. Se você deseja ter a vida divina do Espírito dentro de
você se fortificando em cada parte da sua natureza, permita que a palavra de
Cristo habite em você ricamente. Se você deseja que o Espírito cumpra seu
ofício de trazer à mente no exato momento e aplicar com precisão divina à sua
necessidade aquilo que Jesus disse, permita que as palavras de Cristo residam em você. Se você deseja que
o Espírito lhe revele a vontade de Deus em cada circunstância da vida,
decidindo o que você deve fazer em meio a comandos e princípios conflitantes
com precisão inerrante, sugerindo a Sua vontade conforme a sua necessidade,
tenha a Palavra vivendo em você, pronta para que Ele a use. Se você deseja ter
a Palavra eterna como sua luz, permita que a Palavra escrita seja transcrita em
seu coração pelo Espírito Santo. “As
palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida”. Tome-as e faça
delas um tesouro: é através delas que o Espírito manifesta Seu poder
vivificante.
Compare cuidadosamente Efésios 5:18-19 e Colossenses 3:16, e veja que a
jubilosa comunhão da vida Cristã, descrita nas mesmas palavras, em um texto é
dita como vinda de estar cheio do Espírito e no outro de estar cheio da
Palavra.
Não pense nem por um momento que a Palavra pode desabrochar vida em
você, a menos que o Espírito dentro de você a aceite e aproprie-se dela na vida
interior. Quanto da leitura das
Escrituras, estudo das Escrituras, e pregação escritural tem como objetivo
primário chegar ao verdadeiro significado da Palavra? Muitos pensam que se
soubessem exatamente o que Ela significa, a conseqüência natural seria a bênção
que a Palavra pretendia trazer. Não é o caso. A Palavra é uma semente. Em toda
semente há uma parte na qual a vida está escondida. Pode-se ter a mais perfeita
semente em substância, mas a menos que ela seja exposta em um solo adequado à ação
do sol e umidade, pode nunca chegar à vida. Devemos entender as palavras e
doutrinas da Escritura com nosso intelecto e ainda assim conhecer pouco de sua
vida e poder. Precisamos lembrar a nós mesmos e à igreja que as Escrituras
proferidas por homens santos da antigüidade conforme foram movidos pelo
Espírito Santo somente podem ser entendidas por homens santos conforme são
ensinados pelo mesmo Espírito.
Esta é uma das sérias lições que a história dos Judeus no tempo de
Cristo nos ensina. Eles eram extraordinariamente zelosos, assim acreditavam,
pela Palavra de Deus e pela honra e mesmo assim veio a ser que todo o seu zelo
era por sua interpretação humana da Palavra de Deus. Jesus lhes disse: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter
nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. Contudo, não
quereis vir a mim para terdes vida” (João 5:39-40). Eles de fato criam nas
Escrituras para levá-los à vida eterna, e ainda assim nunca viram que essas
palavras testificavam a Cristo e por isso não foram a Ele. Eles estudaram e
aceitaram as Escrituras na luz e poder de sua razão e entendimento humanos ao
invés de na luz e poder do Espírito de Deus como sua vida.
A fraqueza na vida de tantos crentes que lêem e conhecem
consideravelmente as Escrituras é porque não sabem que é o Espírito que
vivifica, e que a carne – entendimento humano, mesmo que inteligente, mesmo que
determinado – para nada serve. Eles pensam que têm nas Escrituras a vida
eterna. Mas conhecem pouco do Cristo vivo no poder do Espírito como sua
verdadeira vida.
O que é necessário é muito simples: a recusa determinada em tentar
interpretar a Palavra escrita sem o Espírito vivificante. Nunca tomemos as
Escrituras em nossas mãos, mentes ou bocas, sem perceber a necessidade e a
promessa do Espírito. Primeiro, em um ato de fé silenciosa, olhe para Deus para
que Ele dê e renove as obras de Seu Espírito dentro de você. Então, renda-se ao
poder que habita dentro de você e espere n’Ele para que não somente a mente mas
a vida em você se abra para receber a Palavra.
Conforme prosseguirmos no ensinamento de nosso bendito Senhor com
respeito ao Espírito, se tornará claro para nós que assim como as palavras do
Senhor são espírito e são vida, também o Espírito deve estar em nós como o
espírito de nossa vida. Nossa vida íntima pessoal deve refletir o Espírito de
Deus. Mais profundamente que os sentimentos, mente ou vontade – a própria raiz
de todos eles e seu princípio motivador – deve estar o Espírito de Deus. Se
procuramos ir além dessas faculdades, descobriremos que nada se iguala ao
Espírito da vida nas palavras do Deus vivo. Se esperarmos no Espírito Santo,
nas profundezas de nossa alma, para revelar as palavras por Seu poder
vivificante e aplicá-las à nossa vida, conheceremos em verdade o que significam
as palavras: “mas o espírito vivifica”.
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