Capítulo VI
Se me amais, guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e Ele
vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco.
João14: 15-16
Ora, nós somos testemunhas destes fatos, e bem assim o Espírito Santo,
que Deus outorgou aos que lhe obedecem.
Atos 5:32
A expressão desta
verdade sugere a pergunta: Como pode ser? Não precisamos do Espírito para nos
fazer obedientes? Ansiamos pelo poder do Espírito porque lamentamos a
desobediência que encontramos em nós mesmos, e desejamos ser de outra maneira.
Mas o Salvador requer obediência como a condição para o Pai doar e nós
recebermos o Espírito.
O dilema é
resolvido se nos lembrarmos que há uma dupla manifestação do Espírito de Deus
correspondente ao Velho e Novo Testamentos. No primeiro, Ele opera como o
Espírito de Deus preparando o caminho para revelação mais elevada de Deus, como
o Pai de Jesus Cristo. Desta maneira Ele operou nos discípulos de Cristo como o
Espírito de fé e conversão. O que eles estavam para receber agora era algo
maior – o Espírito do Jesus glorificado comunicando o poder das alturas, a
experiência de Sua plena salvação. Entretanto, para todos os crentes sob a
economia do Novo Testamento, o Espírito neles é o Espírito de Cristo, ainda há
algo que corresponde à dupla dispensação. Onde há pouco conhecimento da obra
do Espírito ou onde seu operar numa igreja ou num indivíduo é fraco, os crentes
podem não passar da experiência da Sua obra preparatória neles. Apesar de
Ele estar neles, podem não conhecê-Lo em Seu poder como o Espírito do Senhor
glorificado. Ele está neles para fazê-los obedientes. É somente quando renderem
obediência à Sua obra mais elementar, a observância dos mandamentos de
Cristo, que serão promovidos à experiência mais elevada de Sua habitação
consciente.
Esta é uma lição
que não podemos estudar muito profundamente. Nos anjos do céu, no próprio Filho
de Deus, somente por obediência o relacionamento com o ser divino poderia ser
mantido e assegurada a permissão para uma experiência mais próxima de Seu amor
e vida. A vontade de Deus revelada é a expressão de Sua perfeição oculta.
Somente aceitando e fazendo a Sua vontade, para que a desistência de nossa
vontade seja possuída e usada como Lhe agrada, somos equipados para entrar em
Sua divina presença. Assim foi com o Filho de Deus. Foi após uma vida de
humildade e obediência, aos trinta anos de idade, quando Ele se entregou ao
batismo de arrependimento, que Ele foi batizado com o Espírito. O Espírito veio
por causa de Sua obediência. E foi após Ele aprender obediência em sofrimento e
se tornar obediente até a morte de cruz que Ele novamente recebeu o Espírito do
Pai para derramar em Seus discípulos: “Exaltado,
pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo,
derramou isto que vedes e ouvis.” (Atos 2:33). A plenitude do Espírito para
o Seu corpo, a igreja, foi a recompensa da obediência. Esta lei da vinda do
Espírito, como revelado no Cabeça, se aplica para cada membro do corpo. Obediência é a condição indispensável da
habitação do Espírito.
Cristo Jesus veio
preparar o caminho para a vinda do Espírito. Sua vinda externa na carne foi
a preparação para Sua vinda interna no Espírito. A vinda externa apelou à
alma com sua mente e sentimentos. Foi somente quando Cristo em Sua vinda
externa foi aceito, quando foi amado e obedecido, que a revelação interna e
mais íntima foi dada. O vínculo pessoal com Jesus, a aceitação pessoal d’Ele
como Senhor e Mestre a ser amado e obedecido, foi a preparação dos discípulos
para o batismo do Espírito. Mesmo agora, é no ouvir da voz da consciência e no
fiel comprometimento em observar os mandamentos de Jesus que provamos nosso
amor a Ele e nossos corações estão preparados para a plenitude do Espírito.
Nossas realizações podem estar aquém de nossos objetivos; podemos às vezes ter
de admitir que o que deveríamos fazer, não fazemos. Mas se o Mestre vê nossa rendição
de todo o coração à Sua vontade e nossa fiel obediência àquilo que já temos da
liderança de Seu Espírito, podemos estar certos de que o pleno dom não será
retido.
Estas palavras
sugerem as duas razões pelas quais a presença e o poder do Espírito na igreja
freqüentemente não são percebidos. Não é sempre que se entende que apesar da
obediência do amor preceder a plenitude do Espírito, devemos esperar pela
plenitude para seguir. Aqueles que querem a plenitude do Espírito antes de
obedecer não erram menos que aqueles que pensam que a obediência é um sinal de
que a plenitude do Espírito já está presente.
Obediência deve preceder o batismo do Espírito. João pregou a Jesus como o verdadeiro batizador – o que batiza com o
Espírito Santo e com fogo. Jesus tomou Seus discípulos como candidatos a esse
batismo num curso de treinamento de três anos. Primeiro de tudo, Ele os tomou
como amigos próximos de ministério. Ele os ensinou a abandonar tudo por Ele.
Ele chamou a Si mesmo de seu Mestre e Senhor e os ensinou a fazer o que Ele
dissesse. Então, em seu discurso de despedida falou da obediência aos seus
mandamentos como sendo a condição para maiores bênçãos espirituais. Eu suspeito
que a igreja não tenha dado a esta palavra obediência
a proeminência que Cristo deu a ela. Algumas das razões foram o perigo da
justiça própria, exaltação da graça imérita, o poder do pecado, e a relutância
natural da carne em aceitar um elevado padrão de santidade. Enquanto a
gratuidade da graça e a simplicidade da fé foram pregadas, a absoluta
necessidade de obediência e santidade não foi igualmente apresentada. O
pensamento geral foi que somente aqueles que têm a plenitude do Espírito podem
ser obedientes. Novamente, devemos perceber que obediência é o primeiro passo. O batismo do
Espírito, a plena revelação do Senhor glorificado operando em nós e através de
nós sucede como parte de Deus. Não se compreende em todos os setores que a
simples, completa lealdade a cada ditado da consciência e cada preceito da
Palavra é o passaporte para aquela vida plena no Espírito.
Como conseqüência
natural da negligência desta verdade, a verdade acompanhante é também
esquecida: Os obedientes podem e irão
buscar a plenitude do Espírito. A promessa aos obedientes da
habitação consciente, ativa do Espírito é um fato desconhecido para muitos
Cristãos. A maior parte da vida é gasta em arrependimento pela
desobediência, arrependimento pela falta de poder do Espírito, e oração para
que o Espírito nos ajude a obedecer,
ao invés de despertar a força do Espírito já presente em nós para a obediência
como de fato é possível e necessário. O fato de que o Espírito Santo é
enviado aos obedientes para lhes dar a presença de Jesus como uma realidade
contínua é escassamente considerada. O significado da vida de Jesus como nosso
exemplo não é sempre compreendido. Jesus viveu a vida exteriormente rasteira de
provações e obediência em preparação para a vida espiritual oculta de poder e
glória. É desta vida interior que fomos feitos participantes no dom do Espírito
do Jesus glorificado. Mas em nossa participação interior pessoal de tal dom,
devemos andar no caminho que Ele preparou para nós. Através de nossa
mortificação das obras da carne, nos rendemos a Deus para fazer em nós o que
ele deseja e fazer com que cumpramos a Sua vontade. Experimentamos então Deus
em Sua plenitude. Aceitar Sua vontade com o mesmo coração que Ele a abraçou
é o lar do Espírito Santo. A revelação do Filho em Sua perfeita obediência
foi a condição para o derramamento do Espírito; a aceitação do Filho em amor
e obediência é o caminho para a habitação do Espírito.
É esta verdade que
tem, em anos recentes, sido revelada com poder aos corações de muitos, descrita
nos termos plena rendição e completa consagração. Conforme estes
entenderam que o Senhor Jesus requer obediência implícita e que a desistência
de tudo para Ele e Sua vontade é absolutamente necessária, eles encontraram
entrada para uma vida de paz e força anteriormente desconhecida. Muitos
estão aprendendo que ainda não alcançaram isto. Eles descobrirão que há
aplicações deste princípio além das que conceberam. Conforme entendemos no
poder do Espírito de que forma, já o possuindo em salvação, cada parte de
nossas vidas pode ser trazida em lealdade a Jesus, e conforme nos entregamos em
fé, veremos que o Espírito do Senhor glorificado pode operar Sua maravilhosa
obra em nós de uma maneira muito superior ao que poderíamos pedir ou pensar.
Deus deseja que a habitação do Espírito Santo seja para a igreja mais do que o
que ela já conheceu.
Peçamos a Deus para
despertar Sua igreja a se agarrar a esta dupla lição: Uma obediência
viva é indispensável para a plena experiência da habitação; a plena
experiência da habitação é o que requer a obediência em amor. Digamos ao
nosso Senhor que O amamos e desejamos observar Seus mandamentos. Mesmo que soe
fraco e vacilante, falemos isto a Ele como o propósito de nossas almas. Ele
aceitará o nosso compromisso. Acreditemos no Espírito como já tendo sido dado a
nós, quando na obediência da fé nos entregamos a Cristo. E creiamos que a plena
habitação, com a revelação de Cristo, pode ser nossa também.
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