Porque nós é que somos a
circuncisão, nós que adoramos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não
confiamos na carne.
Filipenses 3:3
Adorar é a maior glória do homem. Ele foi criado para comunhão com Deus
e, dessa comunhão, a adoração é maior das expressões. Todos os exercícios da
vida Cristã – meditação e oração, amor e fé, rendição e obediência – culminam
na adoração. Reconhecendo o que Deus é em Sua santidade, Sua glória e Seu amor,
percebendo o que eu sou como uma criatura pecaminosa e como o filho redimido do
Pai, em adoração eu tomo o meu ser o apresento a Deus. Ofereço a Ele a adoração
e glória que Lhe são devidas. A mais verdadeira, mais plena, e mais íntima
aproximação de Deus é a adoração. Cada sentimento e cada serviço da vida Cristã
estão incluídos nisso: adoração é o mais elevado destino do homem porque nela
Deus é tudo.
Jesus nos diz que com a Sua vinda uma nova adoração irá começar. Tudo o
que os gentios ou os Samaritanos chamavam de adoração, tudo o que mesmo os
Judeus conheciam sobre adoração, de acordo com a revelação providencial da lei
de Deus, dariam passagem a algo distinta e inteiramente novo – adoração em
espírito e em verdade.
Esta é a adoração que Ele inauguraria ao nos dar Seu Espírito
Santo. Esta é tão-somente a adoração que é agradável ao Pai. É para essa
adoração em particular que recebemos o Espírito Santo. Abracemos desde o início
de nosso estudo sobre a obra do Espírito a bendita idéia de que o grande
propósito para o qual o Espírito de Deus está dentro de nós é que adoremos em
espírito e em verdade. “Porque são estes que o Pai procura para seus
adoradores” (João 4:23). Para este propósito Ele mandou Seu Filho e Seu
Espírito.
Em espírito. Quando Deus criou o homem como alma vivente, aquela alma, como morada e órgão de
sua personalidade e consciência, era ligada de um lado, através do corpo, com o
mundo externo visível, e de outro lado, através do espírito, com o invisível e
o divino. A alma tinha de escolher entre se render ao espírito e por ele ser
ligada a Deus e Sua vontade, ou ao corpo e às solicitações do visível. Na
queda, a alma recusou o governo do espírito e se tornou escrava do corpo com
seus apetites terrenos. O homem se tornou carnal; o espírito perdeu o seu local
destinado de governo e se tornou pouco mais que um poder dormente. Não era
mais, agora, o princípio governante, mas um cativo se debatendo. E o espírito
agora se coloca em oposição à carne
(a palavra para a vida da alma e corpo juntos) em sua sujeição ao pecado.
Ao falar do homem não regenerado
em contraste com o espiritual (1 Coríntios 2:14), Paulo o chama de o homem
natural. A vida da alma compreende todas as nossas faculdades morais e
intelectuais; elas podem até mesmo ser dirigidas para as coisas de Deus, mas à
parte da renovação do Espírito divino. Porque a alma está sob o poder da carne,
diz-se do homem que este se tornou
carnal, como sendo carne. Como o corpo consiste de carne osso, e a carne é a
parte que é especialmente dotada de sensibilidade, e através da qual recebemos
sensações do mundo externo, a carne denota a natureza humana. Ela se tornou
sujeita ao mundo dos sentidos, ou sentimentos. E porque a alma veio, então, a
estar sob o poder da carne, a Escritura fala de todos os atributos da alma como
pertencentes à carne e subjugados a seu poder. Assim são contrastados os dois
princípios dos quais a prática da Cristandade e a adoração podem proceder. Há
uma sabedoria carnal e uma sabedoria espiritual (1 Coríntios 2:12). Há um
serviço a Deus, confiando na carne e se gloriando na carne, e um serviço a Deus
pelo espírito (Filipenses 3:3-4). Há uma mente carnal e uma mente espiritual.
Há uma adoração que é agradável à carne, porque é no poder do que a carne pode
fazer, e uma adoração a Deus que é no espírito. É esta a adoração que Jesus
veio tornar possível e realizar em nós, nos dando um novo espírito em nosso
mais íntimo ser e então, dentro dele, o Espírito Santo de Deus.
Adoração em espírito é adoração em verdade. Assim como
as palavras em espírito não significam
“interna” (como em contraste com “observância externa”), mas espiritual,
trabalhada em nós pelo Espírito de Deus (em oposição àquilo que o poder natural
do homem pode efetuar), também as palavras em
verdade não significam “sincera” e “correta”. Em toda a adoração dos santos
do Velho Testamento, eles sabiam que Deus procurava a verdade no íntimo; eles O
buscavam com todo o seu coração, e ainda assim não se ativeram àquela adoração
em espírito e em verdade que Jesus tornou possível quando rasgou o véu da
carne. Verdade aqui significa a
substância, a realidade, a verdadeira possessão de tudo o que a adoração a Deus
implica, tanto quanto ao que ela demanda quanto ao que ela promete. João fala
de Jesus como “o unigênito do Pai (...) cheio de graça e de verdade” (João
1:14). E ele acrescenta, “Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a
graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo” (v.17). Se compararmos
verdade e falsidade, a lei de Moisés era tão verdadeira quanto o evangelho de
Jesus; ambos vieram de Deus. Mas a lei era somente uma sombra das benesses que
viriam; o próprio Cristo era a substância dessas boas coisas porque ele mesmo
era a verdade, a realidade de Deus se concedendo a nós. Assim, somente a
adoração em espírito é adoração em verdade, verdadeiro gozo do poder
divino que é a própria vida de Cristo e comunhão com o Pai, revelada e
sustentada dentro de nós pelo Espírito Santo.
Verdadeiros adoradores adoram ao Pai em espírito e em verdade. Todos os
que adoram não são verdadeiros adoradores.
Pode haver uma grande parte de adoração séria e honesta sem que esta seja uma
adoração que é em espírito e em
verdade. A mente pode estar intensamente ocupada, os
sentimentos profundamente movidos, a vontade fortemente excitada, e ainda assim
pode, ao mesmo tempo, havermuito pouca adoração espiritual que se firma na
verdade de Deus. Pode haver uma grande correlação com a verdade bíblica, e
mesmo assim se a atividade predominante daquele que adora provém de seu próprio
esforço, não será a adoração inspirada pelo Espírito que Deus requer de nós.
Deve haver verdadeira harmonia entre Deus, que é Espírito, e o adorador que se
aproxima em espírito. O
infinito Espírito Santo, a verdadeira expressão de Deus o Pai, deve ser
refletido no espírito do filho. E isto somente pode acontecer conforme o
Espírito de Deus habite em nós.
Se vamos nos tornar adoradores em espírito e em verdade, a primeira
coisa que precisamos perceber é o perigo de adorar na carne. Como crentes,
temos em nós uma dupla natureza – carne e espírito. Uma é a parte natural,
sempre pronta a exaltar-se e a encarregar-se de fazer o que for necessário na
adoração a Deus. A outra é a parte espiritual, à qual, se fraca, a carne não
permitirá o pleno controle no ato da adoração. Nossas mentes podem se deleitar
no estudo da Palavra de Deus, podemos até mesmo ser movidos pelos pensamentos
que ela provoca, mas podemos ainda ser impotentes para obedecer a lei, render a
obediência e adoração que gostaríamos (Romanos 7:22-23).
Precisamos da habitação do Espírito para a vida e a adoração. Para
recebê-lo plenamente, a carne deve ser silenciada. “Cale-se toda a carne diante do Senhor” (Zacarias 2:13). A Pedro já
havia sido revelado que Jesus era o Cristo, e ele ainda assim não saboreou a
idéia da cruz. Sua mente não estava em sintonia com as coisas de Deus, mas com
as coisas dos homens. Nossas próprias idéias sobre as coisas divinas, nossos
próprios esforços para elaborarmos os sentimentos corretos, devem ser
abandonados; nosso próprio poder para adorar deve ser visto como ele é:
insuficiente. Toda aproximação de Deus deve acontecer sob uma muito evidente e
quieta rendição ao Espírito Santo. Conforme aprendermos o quanto é impossível
assegurarmos voluntariamente a obra do Espírito, também aprenderemos que se vamos
adorar no Espírito, devemos andar no Espírito. “Vós, porém, não estais na
carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós” (Romanos
8:9). Conforme o Espírito habita e governa em mim, eu posso adorar no Espírito.
“Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o
Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus
adoradores” (João 4:23). Sim, o Pai busca tais adoradores, e os que Ele busca,
Ele encontra, porque Ele mesmo é quem os chama. Para que possamos ser tais
adoradores, Ele enviou Seu próprio Filho para buscar e salvar os perdidos, para
que nos tornássemos Seus verdadeiros adoradores, que penetraram através do véu
rasgado da carne e o adoram no Espírito. Quando Ele enviou o Espírito de Seu
Filho, Ele era a expressão da verdade e realidade de quem Cristo havia sido na
terra. Sua presençareal comunica em nosso interior a mesma vida que Cristo
viveu. A hora chegou e é agora, vivemos no momento em que os verdadeiro
adoradores de Cristo podem adorar ao Pai em espírito e em verdade. Creiamos
nisso; o Espírito foi dado e habita em nós por esta razão: o Pai busca
verdadeiros adoradores. Regozijemo-nos na confiança de que podemos chegar a
esse ponto porque o Espírito Santo nos foi dado.
Percebamos em santo temor e tremor que Ele habita dentro de nós.
Rendamo-nos humildemente, no silêncio da carne, à Sua liderança e ensinamento.
Esperemos em fé perante Deus por Sua obra. Que cada novo vislumbre do que
significa a obra do Espírito, cada exercício de fé em Sua habitação ou
experiência de Sua obra, termine em adoração ao Pai, dando-Lhe louvor, graças,
honra e amor que pertencem a Ele somente.
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