domingo, 29 de julho de 2012

Capítulo V Adoração no Espírito




Porque nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne.
Filipenses 3:3

Adorar é a maior glória do homem. Ele foi criado para comunhão com Deus e, dessa comunhão, a adoração é maior das expressões. Todos os exercícios da vida Cristã – meditação e oração, amor e fé, rendição e obediência – culminam na adoração. Reconhecendo o que Deus é em Sua santidade, Sua glória e Seu amor, percebendo o que eu sou como uma criatura pecaminosa e como o filho redimido do Pai, em adoração eu tomo o meu ser o apresento a Deus. Ofereço a Ele a adoração e glória que Lhe são devidas. A mais verdadeira, mais plena, e mais íntima aproximação de Deus é a adoração. Cada sentimento e cada serviço da vida Cristã estão incluídos nisso: adoração é o mais elevado destino do homem porque nela Deus é tudo.

Jesus nos diz que com a Sua vinda uma nova adoração irá começar. Tudo o que os gentios ou os Samaritanos chamavam de adoração, tudo o que mesmo os Judeus conheciam sobre adoração, de acordo com a revelação providencial da lei de Deus, dariam passagem a algo distinta e inteiramente novo – adoração em espírito e em verdade. Esta é a adoração que Ele inauguraria ao nos dar Seu Espírito Santo. Esta é tão-somente a adoração que é agradável ao Pai. É para essa adoração em particular que recebemos o Espírito Santo. Abracemos desde o início de nosso estudo sobre a obra do Espírito a bendita idéia de que o grande propósito para o qual o Espírito de Deus está dentro de nós é que adoremos em espírito e em verdade. “Porque são estes que o Pai procura para seus adoradores” (João 4:23). Para este propósito Ele mandou Seu Filho e Seu Espírito.

Em espírito. Quando Deus criou o homem como alma vivente, aquela alma, como morada e órgão de sua personalidade e consciência, era ligada de um lado, através do corpo, com o mundo externo visível, e de outro lado, através do espírito, com o invisível e o divino. A alma tinha de escolher entre se render ao espírito e por ele ser ligada a Deus e Sua vontade, ou ao corpo e às solicitações do visível. Na queda, a alma recusou o governo do espírito e se tornou escrava do corpo com seus apetites terrenos. O homem se tornou carnal; o espírito perdeu o seu local destinado de governo e se tornou pouco mais que um poder dormente. Não era mais, agora, o princípio governante, mas um cativo se debatendo. E o espírito agora se coloca em oposição à carne (a palavra para a vida da alma e corpo juntos) em sua sujeição ao pecado.

 Ao falar do homem não regenerado em contraste com o espiritual (1 Coríntios 2:14), Paulo o chama de o homem natural. A vida da alma compreende todas as nossas faculdades morais e intelectuais; elas podem até mesmo ser dirigidas para as coisas de Deus, mas à parte da renovação do Espírito divino. Porque a alma está sob o poder da carne, diz-se do homem que este se tornou carnal, como sendo carne. Como o corpo consiste de carne osso, e a carne é a parte que é especialmente dotada de sensibilidade, e através da qual recebemos sensações do mundo externo, a carne denota a natureza humana. Ela se tornou sujeita ao mundo dos sentidos, ou sentimentos. E porque a alma veio, então, a estar sob o poder da carne, a Escritura fala de todos os atributos da alma como pertencentes à carne e subjugados a seu poder. Assim são contrastados os dois princípios dos quais a prática da Cristandade e a adoração podem proceder. Há uma sabedoria carnal e uma sabedoria espiritual (1 Coríntios 2:12). Há um serviço a Deus, confiando na carne e se gloriando na carne, e um serviço a Deus pelo espírito (Filipenses 3:3-4). Há uma mente carnal e uma mente espiritual. Há uma adoração que é agradável à carne, porque é no poder do que a carne pode fazer, e uma adoração a Deus que é no espírito. É esta a adoração que Jesus veio tornar possível e realizar em nós, nos dando um novo espírito em nosso mais íntimo ser e então, dentro dele, o Espírito Santo de Deus.

Adoração em espírito é adoração em verdade. Assim como as palavras em espírito não significam “interna” (como em contraste com “observância externa”), mas espiritual, trabalhada em nós pelo Espírito de Deus (em oposição àquilo que o poder natural do homem pode efetuar), também as palavras em verdade não significam “sincera” e “correta”. Em toda a adoração dos santos do Velho Testamento, eles sabiam que Deus procurava a verdade no íntimo; eles O buscavam com todo o seu coração, e ainda assim não se ativeram àquela adoração em espírito e em verdade que Jesus tornou possível quando rasgou o véu da carne. Verdade aqui significa a substância, a realidade, a verdadeira possessão de tudo o que a adoração a Deus implica, tanto quanto ao que ela demanda quanto ao que ela promete. João fala de Jesus como “o unigênito do Pai (...) cheio de graça e de verdade” (João 1:14). E ele acrescenta, “Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo” (v.17). Se compararmos verdade e falsidade, a lei de Moisés era tão verdadeira quanto o evangelho de Jesus; ambos vieram de Deus. Mas a lei era somente uma sombra das benesses que viriam; o próprio Cristo era a substância dessas boas coisas porque ele mesmo era a verdade, a realidade de Deus se concedendo a nós. Assim, somente a adoração em espírito é adoração em verdade, verdadeiro gozo do poder divino que é a própria vida de Cristo e comunhão com o Pai, revelada e sustentada dentro de nós pelo Espírito Santo.

Verdadeiros adoradores adoram ao Pai em espírito e em verdade. Todos os que adoram não são verdadeiros adoradores. Pode haver uma grande parte de adoração séria e honesta sem que esta seja uma adoração que é em espírito e em verdade. A mente pode estar intensamente ocupada, os sentimentos profundamente movidos, a vontade fortemente excitada, e ainda assim pode, ao mesmo tempo, havermuito pouca adoração espiritual que se firma na verdade de Deus. Pode haver uma grande correlação com a verdade bíblica, e mesmo assim se a atividade predominante daquele que adora provém de seu próprio esforço, não será a adoração inspirada pelo Espírito que Deus requer de nós. Deve haver verdadeira harmonia entre Deus, que é Espírito, e o adorador que se aproxima em espírito. O infinito Espírito Santo, a verdadeira expressão de Deus o Pai, deve ser refletido no espírito do filho. E isto somente pode acontecer conforme o Espírito de Deus habite em nós.

Se vamos nos tornar adoradores em espírito e em verdade, a primeira coisa que precisamos perceber é o perigo de adorar na carne. Como crentes, temos em nós uma dupla natureza – carne e espírito. Uma é a parte natural, sempre pronta a exaltar-se e a encarregar-se de fazer o que for necessário na adoração a Deus. A outra é a parte espiritual, à qual, se fraca, a carne não permitirá o pleno controle no ato da adoração. Nossas mentes podem se deleitar no estudo da Palavra de Deus, podemos até mesmo ser movidos pelos pensamentos que ela provoca, mas podemos ainda ser impotentes para obedecer a lei, render a obediência e adoração que gostaríamos (Romanos 7:22-23).

Precisamos da habitação do Espírito para a vida e a adoração. Para recebê-lo plenamente, a carne deve ser silenciada. “Cale-se toda a carne diante do Senhor” (Zacarias 2:13). A Pedro já havia sido revelado que Jesus era o Cristo, e ele ainda assim não saboreou a idéia da cruz. Sua mente não estava em sintonia com as coisas de Deus, mas com as coisas dos homens. Nossas próprias idéias sobre as coisas divinas, nossos próprios esforços para elaborarmos os sentimentos corretos, devem ser abandonados; nosso próprio poder para adorar deve ser visto como ele é: insuficiente. Toda aproximação de Deus deve acontecer sob uma muito evidente e quieta rendição ao Espírito Santo. Conforme aprendermos o quanto é impossível assegurarmos voluntariamente a obra do Espírito, também aprenderemos que se vamos adorar no Espírito, devemos andar no Espírito. “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós” (Romanos 8:9). Conforme o Espírito habita e governa em mim, eu posso adorar no Espírito.

“Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores” (João 4:23). Sim, o Pai busca tais adoradores, e os que Ele busca, Ele encontra, porque Ele mesmo é quem os chama. Para que possamos ser tais adoradores, Ele enviou Seu próprio Filho para buscar e salvar os perdidos, para que nos tornássemos Seus verdadeiros adoradores, que penetraram através do véu rasgado da carne e o adoram no Espírito. Quando Ele enviou o Espírito de Seu Filho, Ele era a expressão da verdade e realidade de quem Cristo havia sido na terra. Sua presençareal comunica em nosso interior a mesma vida que Cristo viveu. A hora chegou e é agora, vivemos no momento em que os verdadeiro adoradores de Cristo podem adorar ao Pai em espírito e em verdade. Creiamos nisso; o Espírito foi dado e habita em nós por esta razão: o Pai busca verdadeiros adoradores. Regozijemo-nos na confiança de que podemos chegar a esse ponto porque o Espírito Santo nos foi dado.

Percebamos em santo temor e tremor que Ele habita dentro de nós. Rendamo-nos humildemente, no silêncio da carne, à Sua liderança e ensinamento. Esperemos em fé perante Deus por Sua obra. Que cada novo vislumbre do que significa a obra do Espírito, cada exercício de fé em Sua habitação ou experiência de Sua obra, termine em adoração ao Pai, dando-Lhe louvor, graças, honra e amor que pertencem a Ele somente.

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