quarta-feira, 11 de julho de 2012

O Espírito e a Palavra


Capítulo III

 O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna
João 6:63,68

O qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica.
2 Coríntios 3:6

Nosso bendito Senhor falou de Si mesmo como o pão da vida, e de Sua carne e sangue como a comida e bebida da vida eterna. Para muitos de seus discípulos foi um duro discurso que eles não puderam entender. Jesus disse-lhes que seria somente quando o Espírito viesse, e eles O possuíssem, que Suas palavras seriam claras para eles. Ele diz, “o Espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita”.
Nestas palavras e nas correspondentes de Paulo, temos a mais próxima abordagem para o que pode ser chamado de uma definição do Espírito. (Veja 1 Coríntios 15:45, “o espírito vivificante.”) O Espírito sempre atua, em primeiro lugar, quer em natureza ou em graça, como um princípio vivificante. É da mais profunda importância ater-se firmemente a isso. A Sua obra no crente – selando, santificando, iluminando e fortalecendo – é radicada nisto: quando Ele é conhecido e honrado e um lugar Lhe é dado; quando Ele é aguardado como sendo a vida interior da alma, que Suas outras obras graciosas são experimentadas. Estas são conseqüências da vida interior; é no poder da vida interior que elas podem ser desfrutadas. “É o Espírito que vivifica”. Em contraste, nosso Senhor disse: “a carne para nada aproveita”. Ele não está falando aqui da carne como o fundamento do pecado. Em seu aspecto espiritual, a carne é o poder no qual o homem natural, ou mesmo o crente que não está plenamente rendido ao Espírito, busca servir a Deus ou conhecer e reter coisas espirituais. O fútil caráter de todos os seus esforços está indicado na descrição: “para nada aproveita”. Seus esforços simplesmente não são suficientes; eles não nos valem quanto a alcançar realidade espiritual. Paulo mencionou a mesma coisa quando disse que a letra mata. Toda a dispensação da lei foi senão uma dispensação da letra e da carne. Embora ela teve uma certa glória e os privilégios de Israel foram muito grandes, ainda assim, como diz Paulo, “Porquanto, na verdade, o que, outrora, foi glorificado, neste respeito, já não resplandece, diante da atual sobreexcelente glória” (2 Coríntios 3:10). Mesmo Cristo, quando estava na carne, e até que a dispensação do Espírito tivesse lugar, não podia pelas Suas palavras efetuar nos Seus discípulos o que Ele desejava.
As palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida” (João 6:63). Ele desejava ensinar aos discípulos duas coisas. Primeiro, que palavras são sementes vivas com poder para germinar, para brotar, assegurando sua própria vitalidade, revelando sua própria natureza, e provando seu poder naqueles que as recebem e as guardam em seus corações. Ele não queria que eles fossem desencorajados se não compreendessem tudo de uma vez. Suas palavras são espírito e vida; elas não eram destinadas apenas para entendimento, mas para a própria vida. Vindas no poder do Espírito, mais altas e profundas que todo pensamento, elas penetrariam a própria raiz de nossa vida. Elas têm em si mesmas a vida divina operando com uma energia divina a verdade que elas expressam, conduzindo aqueles que a recebem à experiência delas. Segundo, como uma conseqüência disto, Suas palavras requerem uma natureza espiritual para recebê-las. Sementes precisam de um solo congênere: deve haver vida no solo tanto quanto na semente. Não só na mente ou nos sentimentos ou até mesmo na vontade apenas, mas a Palavra deve ser conduzida através desses meios para dentro da vida. O centro desta vida é nossa natureza espiritual, com a consciência como sua voz; lá a autoridade da Palavra deve ser reconhecida. Mas mesmo isso não é suficiente: a consciência habita no homem como um cativo entre poderes que ela não pode controlar. É o Espírito que vem de Deus, o Espírito que traz vida, e através da Palavra assimila a verdade e o poder em nós.
Em nosso estudo da obra do Espírito Santo, nunca é demais sermos diligentes em ganhar uma firme segurança nessa verdade. Ela nos salvará do erro. Ela nos preservará de esperar desfrutar dos ensinamentos do Espírito sem a Palavra ou nos tornarmos mestres no ensino da Palavra sem o Espírito.
Na Santa Trindade, a Palavra e o Espírito são geminados – são um com o Pai. Não é diferente com as palavras da Escritura, inspiradas por Deus. O Espírito Santo tem incorporado através dos tempos os pensamentos de Deus na Palavra escrita, e vive agora, por esse propósito, em nossos corações – revelar o poder e o significado dessa Palavra. Se você deseja ser cheio do Espírito, seja cheio da Palavra. Se você deseja ter a vida divina do Espírito dentro de você se fortificando em cada parte da sua natureza, permita que a palavra de Cristo habite em você ricamente. Se você deseja que o Espírito cumpra seu ofício de trazer à mente no exato momento e aplicar com precisão divina à sua necessidade aquilo que Jesus disse, permita que as palavras de Cristo residam em você. Se você deseja que o Espírito lhe revele a vontade de Deus em cada circunstância da vida, decidindo o que você deve fazer em meio a comandos e princípios conflitantes com precisão inerrante, sugerindo a Sua vontade conforme a sua necessidade, tenha a Palavra vivendo em você, pronta para que Ele a use. Se você deseja ter a Palavra eterna como sua luz, permita que a Palavra escrita seja transcrita em seu coração pelo Espírito Santo. “As palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida”. Tome-as e faça delas um tesouro: é através delas que o Espírito manifesta Seu poder vivificante.
Compare cuidadosamente Efésios 5:18-19 e Colossenses 3:16, e veja que a jubilosa comunhão da vida Cristã, descrita nas mesmas palavras, em um texto é dita como vinda de estar cheio do Espírito e no outro de estar cheio da Palavra.
Não pense nem por um momento que a Palavra pode desabrochar vida em você, a menos que o Espírito dentro de você a aceite e aproprie-se dela na vida interior. Quanto da leitura das Escrituras, estudo das Escrituras, e pregação escritural tem como objetivo primário chegar ao verdadeiro significado da Palavra? Muitos pensam que se soubessem exatamente o que Ela significa, a conseqüência natural seria a bênção que a Palavra pretendia trazer. Não é o caso. A Palavra é uma semente. Em toda semente há uma parte na qual a vida está escondida. Pode-se ter a mais perfeita semente em substância, mas a menos que ela seja exposta em um solo adequado à ação do sol e umidade, pode nunca chegar à vida. Devemos entender as palavras e doutrinas da Escritura com nosso intelecto e ainda assim conhecer pouco de sua vida e poder. Precisamos lembrar a nós mesmos e à igreja que as Escrituras proferidas por homens santos da antigüidade conforme foram movidos pelo Espírito Santo somente podem ser entendidas por homens santos conforme são ensinados pelo mesmo Espírito.
Esta é uma das sérias lições que a história dos Judeus no tempo de Cristo nos ensina. Eles eram extraordinariamente zelosos, assim acreditavam, pela Palavra de Deus e pela honra e mesmo assim veio a ser que todo o seu zelo era por sua interpretação humana da Palavra de Deus. Jesus lhes disse: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida” (João 5:39-40). Eles de fato criam nas Escrituras para levá-los à vida eterna, e ainda assim nunca viram que essas palavras testificavam a Cristo e por isso não foram a Ele. Eles estudaram e aceitaram as Escrituras na luz e poder de sua razão e entendimento humanos ao invés de na luz e poder do Espírito de Deus como sua vida.
A fraqueza na vida de tantos crentes que lêem e conhecem consideravelmente as Escrituras é porque não sabem que é o Espírito que vivifica, e que a carne – entendimento humano, mesmo que inteligente, mesmo que determinado – para nada serve. Eles pensam que têm nas Escrituras a vida eterna. Mas conhecem pouco do Cristo vivo no poder do Espírito como sua verdadeira vida.
O que é necessário é muito simples: a recusa determinada em tentar interpretar a Palavra escrita sem o Espírito vivificante. Nunca tomemos as Escrituras em nossas mãos, mentes ou bocas, sem perceber a necessidade e a promessa do Espírito. Primeiro, em um ato de fé silenciosa, olhe para Deus para que Ele dê e renove as obras de Seu Espírito dentro de você. Então, renda-se ao poder que habita dentro de você e espere n’Ele para que não somente a mente mas a vida em você se abra para receber a Palavra.
Conforme prosseguirmos no ensinamento de nosso bendito Senhor com respeito ao Espírito, se tornará claro para nós que assim como as palavras do Senhor são espírito e são vida, também o Espírito deve estar em nós como o espírito de nossa vida. Nossa vida íntima pessoal deve refletir o Espírito de Deus. Mais profundamente que os sentimentos, mente ou vontade – a própria raiz de todos eles e seu princípio motivador – deve estar o Espírito de Deus. Se procuramos ir além dessas faculdades, descobriremos que nada se iguala ao Espírito da vida nas palavras do Deus vivo. Se esperarmos no Espírito Santo, nas profundezas de nossa alma, para revelar as palavras por Seu poder vivificante e aplicá-las à nossa vida, conheceremos em verdade o que significam as palavras: “mas o espírito vivifica”.

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