quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

CHAMADOS A PERSEVERANÇA

Hb 10:35 – 11:2

Vamos, na seqüência do cap. 10, estudar um texto que tem como “foco” um dos temas centrais do livro de Hebreus – perseverança. Somos aqui nesses versos chamados à perseverança. Essa palavra “perseverança” que aparece no verso 36 é um termo muito importante dentro deste livro. Veja o que nos diz Hb 10:36:

“Com efeito, tendes necessidade de perseverança...”

Esse termo resume na verdade a intenção do livro de Hebreus. A intenção dessa Epístola é que tenhamos desenvolvida, encorajada a nossa perseverança. Porque o assunto de Hebreus é a “carreira cristã” ou o “correr” esta carreira ou ainda, o “progresso” desta carreira. O livro de Hebreus todo se relaciona com progresso. Como já vimos: progresso nas exortações, nos ensinos e nos pecados. Tudo isso está diretamente envolvido com correr a carreira. Então por isso esse termo “perseverança” tem um lugar central neste livro.

Agora vendo um termo co-relato a perseverança – “”, veremos como o livro de Hebreus conecta fé a perseverança. Para termos uma idéia geral sobre esse termo “”, observe o seguinte: se nós estudarmos os escritos de Paulo veremos que na visão dele, tem relação com justiça ou Justificação. Paulo é o apóstolo que proclamou a justiça que vem pela fé. Veja o que ele nos diz em Rm 1:17:

“a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé”.

Veja a “justiça de Deus” se revela onde? “no evangelho, de fé em fé”. Termo que também se repete aqui em Hebreus. O justo será justificado pela fé. Veja agora Rm 5:1:

Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus...”

Precisamos ver ainda outro texto. Está em Gl 3:6:

“É o caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça.”

Qual foi a benção de Abraão? A justificação pela fé. E esta benção chegaria a todos os que crêem pelo mesmo instrumento, a fé. Então a fé nos escritos de Paulo tem uma relação muito própria com justificação.

Agora vamos ver como o apóstolo Pedro se identifica com a fé, outro apóstolo que falou bastante sobre a fé. Veja 1 Pe 1:7:

“para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé... redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo”;

Observe que Pedro liga a esperança. Esperança é o foco de Pedro. Nesse verso Pedro foca uma esperança futura. Veja na seqüência os versos 8 e 9 desse mesmo texto:

“... no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória, obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma.”

Então Pedro de alguma maneira contempla o fim. Por isso Pedro é chamado o apóstolo da esperança. Os escritos de Pedro focam esta consumação. Veja o que ele diz:

“obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma.”

Resumindo, podemos dizer que fé no entendimento de Pedro é aquilo que nos capacita a herdar a esperança. Fé em Pedro está ligada a esperança. Assim como fé em Paulo está ligada a Justificação.

Agora vamos ver a visão do apóstolo João sobre a fé. Outro grande autor do Novo Testamento. Qual a visão de João de fé? João liga à união ou a vida. Veja os versos que resumem o Evangelho de João. Veja Jo 20:30,31:

“Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.”

Então fé nos escritos de João aponta para uma vida de união. Aponta para a própria vida. Diz ele no final do verso 31:

“para que, crendo, tenhais vida em seu nome.”

Então resumindo de novo veja: Paulo conecta fé a Justificação. Fé em Pedro está ligada a esperança. A visão de João liga fé à vida de união. E qual é a visão do escritor aos Hebreus acerca da fé? Nós não sabemos qual é o autor de Hebreus. Ele vai se diferenciar de Paulo, Pedro e João. O que Hebreus diz sobre fé? Veja Hb 10: 38:

“o meu justo viverá pela fé; e: Se retroceder, nele não se compraz a minha alma”.

Então Hebreus diz que tendo fé correremos a carreira. Hebreus conecta fé a perseverança. É o instrumento necessário para que corramos a carreira cristã. Então temo quatro ênfases diferentes de fé:

· Fé para justificação.

· Fé para esperança.

· Fé para vida de união.

· Fé para perseverança ou correr a carreira.

Então se olharmos para este contexto agora sobre fé no livro de Hebreus é exatamente isso que veremos. Veja Hb 10:35:

Não abandoneis, portanto, a vossa confiança...”

Agora vejamos o verso 36:

“Com efeito, tendes necessidade de perseverança...”

Hebreus não coloca o foco no futuro. Coloca o foco no presente. No correr a carreira. No verso 35 ele fala como Pedro olhando o futuro (galardão). Mas esse não é o seu foco. Hebreus põe o foco aqui no presente. O que nós precisamos ter agora (perseverança) para chegar lá (galardão). Então no verso 36 ele revela o seu foco. “Com efeito, tendes necessidade de perseverança”. Podemos dizer que este é o significado da fé segundo Hebreus.

Em que contexto “o justo viverá pela fé” em Hebreus? Contexto de Paulo, de Pedro, de João? Obviamente que não! Pois a continuação deste verso 38 vai nos mostrar isso, veja:

“e: Se retroceder, nele não se compraz a minha alma”

Retroceder tem a ver com a carreira cristã. Porque o foco de Hebreus é progredir e não retroceder. Então fica muito claro que fé em Hebreus se liga a perseverança, o instrumento necessário para se correr a carreira. Quando diz que o “o justo viverá pela fé” significa que ele correrá pela fé a carreira. Diferente de Paulo, Pedro e João. Muito interessante essa diferença de ênfase. A mesma fé. Necessária para justificação, para esperança, para vida de união, e aqui em Hebreus para perseverança ou correr a carreira. Veja isso em Hb 12:1,2:

“... corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus...”

Veja o par – e perseverança. Veja agora o que nos diz o escritor aos Hebreus no verso 39:

Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição; somos, entretanto, da fé, para a conservação da alma.”

O escritor está dizendo que a fé é o único instrumento espiritual capaz de preservar (conservar) a alma. Então a citação no verso 38 “o meu justo viverá pela fé”, se torna ainda mais significativa a luz deste verso 39. O justo viver “pela fé” significa não apenas como Paulo que ele vai ser justificado pela fé. Mas em Hebreus o justo viver pela fé significa que ele vai “preservar a sua alma” pela fé. Podemos dizer “salvar” a sua alma pela fé. Correndo esta carreira até o fim, guardando a Palavra de Deus, guardando o testemunho de Jesus. Por isso ele vai insistir no cap. 11 o assunto da fé. Os heróis da fé. Eles correram as suas carreiras, perseveraram pela sua fé. Por isso é importante compreendermos como Hebreus foca a fé.

Fé é uma grande palavra. Ele conecta diversas realidades espirituais ao mesmo tempo. Examinando essa questão da fé vemos que não há nenhum lugar nas Escrituras em que fé tenha qualquer relação com você criar nada. Como se a fé fosse um instrumento para criar algo. É importante destacar esta nota por causa do contexto evangélico ao qual vivemos hoje. Vivemos num contexto onde se diz quase que a fé é criativa. Onde somos ensinados, de certa forma, a ter fé na fé. Então textos são citados fora do seu contexto. Ex: “tudo é possível ao que crer”. Então o que é que você deseja? O que é que você quer? Será possível se você crer. Alguns levam isso a linha do absurdo. O que é que você deseja? Um apartamento de cobertura no Guarujá/SP. Isso é possível. Se você tiver fé. É assim que a fé é “descaracterizada” em muitos círculos evangélicos. Como se a fé fosse um poder criativo para realizar os desejos do coração do homem. Isso nunca foi o significado de fé segundo a Bíblia. Essa não é a fé bíblica. Por que nós chegamos como cristianismo a “deturpar” tanto esse assunto da fé? Sermos levados a crer na nossa fé? A entender que a fé é uma “senha”, é um “abracadabra”, para realizarmos os desejos do nosso coração. Todos os que começam crendo na chamada “Teologia da prosperidade” acabam “incrédulos”. Porque essa teologia é falsa, é diabólica. Porque vai de encontro com os princípios da Palavra de Deus. Ninguém permanece crendo no “falso” por muito tempo. Fé não é instrumento de “manipular” Deus, de “ordenar” Deus. Porque Deus não está numa posição à qual podemos ordenar a Ele.

Vamos avançar um pouco para Hb 11:1, veja o que nos diz:

“Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem.”

Então aqui o escritor vai nos ajudar a entender a fé. Ele diz que a fé é: “a certeza. O significado aqui é “substância”, “conteúdo”. A fé é o conteúdo, a substância de coisas que se esperam. Então a primeira parte do verso 1 ficaria assim:

“Ora, a fé é a substância, o conteúdo de coisas que se esperam...”

Nessa primeira parte ele aborda fé mais ou menos como Pedro faz. A fé nos trazendo conteúdo de coisa que iremos “herdar” plenamente naquele Dia. Mas como a ênfase do livro de Hebreus não é aquele Dia, é Pedro que enfatiza essa glória e esperança, o livro enfatiza o presente, a carreira. Então ele diz que a fé é esse instrumento que nos traz certeza. A tradução de Darby diz assim:

“a é a substancialização dos fatos eternos

Essa definição contraria o que temos dito no início. Aqui nós temos a fé na Palavra de Deus, na revelação de Deus a respeito da sua vontade. Então nós cremos naquilo que Ele revelou, na Sua vontade. Ai nós a experimentamos pela fé. Há uma “tríade” na vida cristã que anda como uma corrente e precisa estar no meio. Veja como seria: fato espiritualexperiência. Fato espiritual é o primeiro elo da corrente. Fato não é fé. É fato espiritual. Senão é fé na fé. Fé que não tem substância. A fé tem um apoio. Precisamos crê no fato que Deus revelou. Depois vem fé. E o terceiro elo experiência. Veja o que Paulo diz em 2 Co 5:7:

“visto que andamos por fé e não pelo que vemos.”

Então fato, fé e experiência. Por que nós cremos que somos Justificados? Nós cremos porque Deus declarou. Então a fé é a certeza, a substância, a realidade, o conteúdo. E mais, qualquer experiência que não acrescente mais dos fatos espirituais, do ser de Deus, da Pessoa de Cristo, do caráter de Cristo, da obra de Cristo, da cruz do Calvário, essa experiência esta fadada ao fracasso. Por quê? Porque não trouxe revelação de Cristo. E nenhuma experiência pode ser sustentada se não trouxer algo mais de Cristo para nossa vida.

Então fé em Hebreus está ligada à carreira cristã, à vocação celestial. Que o Senhor fortaleça a nossa fé.

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