quarta-feira, 15 de junho de 2011

ESTUDO DA EPÍTSOLA DE PAULO AOS EFÉSIOS


CAPÍTULO 18

“Conhecendo o Incognoscível”

(Aquilo que não pode ser conhecido)

"Poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus.” (Ef 3:18,19)

Tendo examinado a largura, o comprimento, a profundidade e a altura deste conhecimento do amor de Cristo, devemos voltar-nos agora à consideração da natureza ou caráter do conhecimento. Nossa compreensão disso obviamente terá um sério efeito não somente sobre o nosso desejo disso, mas também sobre o nosso empenho e sobre os nossos esforços para obtê-lo. Muitos jamais o conheceram e nunca o experimentaram por haver-se extraviado em suas idéias quanto ao caráter do conhecimento. O apóstolo emprega três expressões escolhidas deliberadamente com o fim de esclarecer o seu significado aos efésios.

A primeira palavra a que devemos dar atenção é a palavra “compreender” – “(Para) poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos...”. A palavra significa “apanhar mentalmente com firmeza” uma coisa, ou “agarrar-se a algo com a mente”. O termo descreve o processo de captação mental de uma idéia ou de uma verdade. Portanto, uma tradução melhor aqui poderia ser: “Para poderdes aprender com todos os santos...”.

Existem, naturalmente, diferentes tipos de conhecimento, e é bom para nós que sejamos capazes de distinguir entre eles. Estamos focalizando aqui o que se descreve como conhecimento “conceptual”, um conhecimento de conceitos e idéias. Esta outra espécie de conhecimento em que um conceito, uma idéia, é posta diante de nós, e podemos captá-la, agarrá-la, tomar posse dela e fazê-la nossa. A ênfase está no fato de que é um processo mental, é algo feito com a mente. Assim o apóstolo está orando, em primeiro lugar, para que os efésios captem com as suas mentes este amor de Cristo.

Temos a tendência de considerar o amor de maneira sentimental, como se fosse algo puramente emocional. O conceito de amor comum no mundo de hoje é que ele é puramente irracional. Falando, de modo geral, não é amor, mas simplesmente o que se chama paixão, e não há elemento intelectual na paixão! Todavia há sempre um real elemento intelectual no amor, um elemento de entendimento. O amor pode dar razões de si. Esta é a idéia transmitida pelo emprego que o apóstolo faz da palavra “compreender”. Ao mesmo tempo, porém, ele não está dizendo que o amor deve ser apreendido por um puro ato do intelecto, e sim que há um elemento no amor que jamais devemos ignorar. O próprio apóstolo elucida este ponto em sua Epístola aos Filipenses 1:9:

“E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção, para aprovardes as coisas excelentes e serdes sinceros e inculpáveis para o Dia de Cristo,”

Notem que ele está orando para que o amor deles aumente em “conhecimento e percepção”. No Novo Testamento o amor jamais deve ser entendido como algo intuitivo ou instintivo, como algo puramente emocional e irracional. Duas palavras são empregadas no NT para descrever o amor – “eros” e “ágape”. Pois bem, o apóstolo não está se referindo aqui ao que se pode descrever como amor erótico. Isso é simplesmente da carne; é animal e carnal. É o conceito comum de amor que prevalece no mundo hoje. Ficamos livres deste mal quando nos damos conta da veracidade daquilo que o apóstolo está salientando com esta palavra “compreender” ou “aprender”.

Noutras palavras, o amor é algo que pode ser “contemplado”; na verdade podemos dizer que o amor sempre tem em si um elemento contemplativo. Diz o apóstolo que a nossa primeira real reação a este amor é que começamos a captá-lo com as nossas mentes. À medida que aplicarmos as nossas mentes a isto, veremos aumentar o nosso amor a Cristo. Quantas vezes meditamos no amor de Cristo da maneira que vemos no grande hino de Isaac Watts?

“Quando eu perscruto a espantosa cruz

Quantas vezes a perscrutamos? Isso é o que o apóstolo quer dizer da sua epístola. Temos que escalar as alturas para contemplar e contemplar o amor de Cristo. Leva tempo “perscrutar”. Isto envolve uma atividade mental.

A segunda palavra do apóstolo é que devemos “conhecer” o amor de Cristo, “que excede o conhecimento”. De muitas maneiras esta palavra é maior e mais forte que “compreender”. Ela não fala de conhecimento conceptual, e sim de um conhecimento obtido pela experiência pessoal e nela fundada. Agora é conhecimento experimental e vivencial. Esta é a diferença entre “compreender e conhecer”. A palavra “conhecer”, como empregada nas Escrituras, é sempre pessoal e experimental. Ademais, o verbo “conhecer” refere-se ao conhecimento direto e imediato que não resulta da contemplação e meditação. É conhecimento pertencente à esfera da experiência.

Devemos observar cuidadosamente a ordem em que o apóstolo utiliza estas duas palavras. É evidente que o conhecimento conceptual sempre deve vir primeiro. Todavia deve levar a este conhecimento experimental posterior. Agora estamos examinando, não primariamente uma atividade da mente ou do entendimento. Este descreve não tanto uma atividade da nossa parte; descreve mais uma consciência de algo que está acontecendo conosco e que está ocorrendo dentro de nós. Já não estamos vendo externamente o amor de Cristo com extasiada admiração; agora o estamos experimentando; somos inundados e envolvidos por este amor, completamente tomados por ele e por ele arrebatados. “conhecer” descreve a nossa consciência do fato de que Cristo nos ama; de que o nosso Senhor nos está dizendo pessoalmente que nos ama com imensurável amor.

Nenhum de nós seria cristão se Cristo não nos amasse e não Se desse por nós. A mensagem do evangelho pra nós é que:

“Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”

Se eu aceito o ensino de que Cristo levou sobre Si os meus pecados e recebeu o castigo que me cabia, deve ser óbvio para mim que ele o fez porque me amou; é prova do Seu amor. Mas há um sentido em que esta realidade esta fora de mim. Creio no conceito, descanso no conceito. Como isso é diferente de dizer-me Cristo pessoalmente que me ama – de me fazer ciente disto e claramente num sentido íntimo, direto e experimental.

Você pode ficar ciente do amor de outrem por você pelas ações dessa pessoa, porém o que o amor sempre quer é uma declaração pessoal. O amor sempre deseja uma palavra pessoal; não se contenta com manifestações gerais. Aqui o apóstolo está afirmando que ao cristão é possível “conhecer” o amor de Cristo neste sentido imediato, direto, experimental e vivencial. Além e acima do conhecimento conceptual há este conhecimento experimental. É uma possibilidade tão gloriosa que o apóstolo afirma que “dobra os seus joelhos diante de Pai” e “ora incessantemente” para que os efésios tenham esse conhecimento. Não só lhes falta um conhecimento conceptual dele; não o conhecem por experiência, como ele o conheceu; razão porque ele ora no sentido de que venham a conhecê-lo deste modo.

A terceira palavra que o apóstolo emprega em conexão com o amor de Cristo é: “excede o entendimento”. Significa realmente, “ultrapassa o conhecimento”. Portanto, uma boa tradução seria “o superior ou sobreexcelente conhecimento do amor de Cristo”; quer dizer, embora possamos vir a conhecê-lo, só conheceremos algo dele; é um “mar que nunca vaza”, inesgotável e inescrutável. Assim esquecemos o que para traz fica e prosseguimos para frente e para o alto, sempre a fazer novas descobertas.

Tendo considerado as expressões, chegamos ao ponto em que devemos fazer uma pergunta: este conhecimento que estivemos descrevendo é realmente possível para todos os cristãos aqui e agora, nesta vida e neste mundo? O apóstolo afirma que ela está acessível a todos os cristãos, e assim ora para que os membros da igreja de Éfeso, cada um deles, e todos os santos de toda parte, venham a ter este conhecimento do amor de Cristo – o conceptual e o experimental. Isso é possível nesta vida e neste mundo.

Veja o que o apóstolo Pedro em sua primeira Epístola 1:8, escrevendo a numerosos cristãos que ele não conhecia, os quais descreve como “estrangeiros e peregrinos” dispersos, diz se referindo ao Senhor Jesus Cristo:

“a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória

Essa porção das Escrituras deve ser mantida em nossas mentes como pano de fundo para esta oração que estamos considerando.

O nosso Senhor Jesus diz em João 14:21:

“Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada.”

E depois, no capítulo 17, ainda de João, versículo 23, há uma estonteante declaração na oração do senhor Jesus pelos Seus:

“... para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim.”

Não se trata aqui de um conhecimento conceptual do amor de Deus, e sim de um conhecimento imediato, direto do amor de Deus por nós. Como amou Seu Filho, assim nos ama. É preciso que tenhamos esse conhecimento.

Esta experiência não se limita aos apóstolos e a alguns santos proeminentes, mas algumas pessoas humildes e desconhecidas têm-se regozijado neste conhecimento conceptual e experimental do amor de Cristo. Por exemplo. Num hino de George Robinson:

Amado com amor eterno,

Guiado pela graça que o amor conhece...

Num amor que jamais pode cessar,

Eu sou dEle, e Ele é meu.

Para sempre dEle, e somente dEle:

Quem separará meu Senhor de mim?

Ora ninguém poderia escrever tais palavras, se não fossem verdadeiras. Podemos apropriar-nos desta linguagem? Charles Wesley repete frequentemente a mesma coisa com palavras como:

Jesus amante da minha alma,

Permite-me voar para o teu seio.

Ó Cristo, és tudo que eu desejo;

Bem mais que tudo em Ti encontro.

Daniel Steele veio a conhecer o amor de Cristo neste sentido experimental, e aqui está como ele o descreve: quase uma semana, e várias vezes por dia, uma pressão do Seu grande amor sobreveio ao meu coração em tal medida que fez meu cérebro latejar, e todo o meu ser, alma e corpo geme sob a tensão da quase insuportável pletora de alegria. E, contudo, em meio a esta plenitude, há uma fome de mais, e em meio à consumidora chama de amor, está sempre em meus lábios o paradoxal brado: “Queima, queima ó Amor, dentro do meu coração, queima ferozmente noite e dia, até que toda a escória dos amores terrenais esteja extinta e seja eliminada

Eu e você devemos aprender e conhecer, com todos os santos, este amor de Cristo. Isto não é uma fantasia ociosa; é uma gloriosa possibilidade. Devemos orar incessantemente por nós mesmos, fazendo a oração que Paulo fez pelos efésios. Que Cristo pessoalmente possa fazer conhecido o Seu amor pessoal por nós.


Por: D. M. Lloyd Jones

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