domingo, 19 de junho de 2011

AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 109


Por: Ir. Luiz Fontes

Maquelote – 22ª Estação (parte 3)

TEXTOS: Números 18:8-19; Números 18:20; 1 Coríntios 15:20; 1 Coríntios 9:9-14

Vamos prosseguir estudando essa 22ª estação, Maquelote. Temos aprendido aqui alguns princípios espirituais acerca dos direitos do ministério sacerdotal. Estudando esses versículos de Números 18:8-19, temos uma ampla visão dos direitos dos sacerdotes. Que o Espírito Santo nos ajude a ver o real significado de todas essas ofertas dentro do nosso contexto espiritual hoje, o que o Novo Testamento nos revela sobre isso.

A tribo de Levi, isto é, Arão e seus filhos, não tinham direito à terra. Em Números 18:20 o Senhor diz para Arão:

20 Disse também o SENHOR a Arão: Na sua terra, herança nenhuma terás e, no meio deles, nenhuma porção terás. Eu sou a tua porção e a tua herança no meio dos filhos de Israel.”

Essa era a Palavra de Deus para com Arão e todos os seus filhos. Então, veja que a porção de Arão era o Senhor. O salário de Arão e tudo aquilo que ele recebesse era o Senhor. Estudando os versículos de Números 18:8-19, você vai ver que Números 18:20 resume tudo aquilo que o Senhor diz nesses versículos. Embora para alguns toda essa leitura pareça um tanto quanto confusa, ela não é, pois devemos ler o Velho Testamento tendo a luz do Novo Testamento. Primeiro precisamos considerar que todos esses sacrifícios, todas essas ofertas, falam dos distintos aspectos da obra e da Pessoa de Cristo Jesus. Esses sacrifícios apontam para aquilo que Cristo cumpriu lá na cruz do Calvário. Todas essas ofertas falam dEle – da natureza da Sua obra e da Sua Pessoa. E quando lemos e temos essa visão, tudo fica muito claro para nós.

O que o Espírito Santo quer nos mostrar é o verdadeiro significado da obra de Deus. O Senhor aqui está falando especialmente para aqueles que têm o encargo da obra e do ministério. Muitos compreenderam mal o verdadeiro sentido da obra de Deus. Para muitas pessoas a obra de Deus é apenas uma questão de profissão, de vocação humana. Isso não deve ser assim para nós. A obra de Deus é uma questão de ministério. Nós temos que olhar para a obra de Deus como algo que procede do coração de Deus. Este ministério, este serviço, é algo que procede da vontade de Deus, é algo proveniente de Deus. Não parte de quem quer, não parte daqueles que almejam ser, pois é inerente, pertence a Deus e está de acordo com a vontade de Deus. Servir na obra é um santo, um nobre privilégio. Mas não é para todos, somente para aqueles que Deus escolheu. E aqueles que Deus escolheu devem ter como foco o próprio Deus, devem estar buscando agradar a vontade de Deus.

Então, quando vemos todas essas ofertas, compreendemos que existe algo que está intimamente relacionado à obra e à Pessoa de Cristo. Vejam que em Números 18:8 o Senhor diz para Arão:

8 Disse mais o SENHOR a Arão: Eis que eu te dei o que foi separado das minhas ofertas, com todas as coisas consagradas dos filhos de Israel; dei-as por direito perpétuo como porção a ti e a teus filhos.”

Arão e seus filhos tinham parte em tudo aquilo que era levado como oferta para o Tabernáculo, era seu suprimento, seu sustento. O Senhor diz que havia dado como direito perpétuo, como porção a ele e seus filhos. Mas quando lemos o versículo 20, o Senhor diz para Arão que Ele é quem era a sua porção. Aquelas ofertas apontavam para Deus. Arão não recebia aquelas ofertas do povo, mas de Deus. Tratava-se de um relacionamento com Deus. Precisamos ver que toda a nossa vida quanto ao serviço aos santos deve ser um relacionamento com Deus. Do mesmo modo, nosso suprimento deve ser o relacionamento com Deus. Ninguém pode almejar o ministério e achar que ele é a sua aposentadoria, a profissão que lhe trará independência financeira. Se você olha para a obra de Deus com esses olhos, você está trazendo maldição para si. Nós temos que ser cuidadosos quanto a isso, não podemos permitir que o nosso coração, nossa carne, possa agir de forma leviana quanto às coisas do Senhor. Nós temos que confiar no suprimento de Deus. E é isso que Ele está dizendo aqui para Arão e seus filhos e também para nós.

Nesses textos vamos encontrar as ofertas de manjares, as ofertas pelo pecado, as ofertas pela culpa, o melhor do azeite, as primícias, todas as coisas consagradas que eram levadas para o Tabernáculo como oferta. A Bíblia diz que todas essas coisas eram santíssimas. O versículo 19 diz que todas as ofertas sagradas que os filhos de Israel oferecessem ao Senhor o Senhor dava para Arão e seus filhos por direito perpétuo, por aliança perpétua. Tudo isso é extremamente significativo. Vemos aqui o Senhor revelar os direitos sacerdotais com relação às ofertas, ao suprimento do ministério – o suprimento que o Senhor preparou para o sacerdócio araônico e seus filhos. Esse direito adquirido era proveniente da responsabilidade que o sacerdote tinha pelo encargo recebido por Deus. Não era uma profissão, pois o sacerdote não estava recebendo do povo para satisfazer o povo. Deus queria que ele visse naquelas ofertas a mão de Deus, o cuidado de Deus, o suprimento de Deus. O sacerdote estava lidando com Deus e não estava ali simplesmente para satisfazer aqueles que pagavam o seu salário. Todo o serviço na obra é espiritual. Aquilo que fazemos está intimamente relacionado com o caráter de Deus.

Precisamos agora entender que essas passagens, Números 18:8-19, nos levam para o sentido cristológico. Precisamos ver Cristo aqui. Se não aplicarmos esses textos no sentido cristológico, eles perdem todo o sentido para nós. Olhem para todas essas ofertas: vemos aqui aspectos de Cristo. Temos que saber que Cristo é o verdadeiro Sumo Sacerdote. O sacerdote araônico era apenas uma figura do sacerdócio de Cristo e todas essas ofertas falam dos distintos aspectos da Sua obra e da Sua bendita Pessoa. “Comer as ofertas” nos fala de Cristo, nosso Sumo Sacerdote, tendo em nós Seu desfrute, tendo em nós Seu prazer. Mas também fala de nós tendo Ele como nosso prazer. Isso é intimidade, comunhão. Quando os sacerdotes comiam aquelas ofertas, quando participamos da oferta juntamente com seus filhos, isso falava de intimidade, de comunhão, de dependência de Deus. Tudo isso fala de desfrute. Nós precisamos entender que toda a vida cristã é vivida em fé. Nós não podemos viver a vida cristã guiados pela nossa própria carne, guiados pela nossa natureza humana – de modo algum. Temos, então, que olhar para tudo isso e entender essas verdades.

Outro aspecto que vemos nesses textos é que o sumo sacerdote poderia comer de todas as ofertas com a sua família, mas as ofertas queimadas eles não poderiam comer. Qual a razão disso? É que algumas ofertas, os holocaustos, eram totalmente queimadas. E o que isso significa? Significa a satisfação de Deus. Essas ofertas eram aquilo que Deus estava reivindicando para a satisfação da Sua justiça, da Sua santidade e da Sua glória. Essa é a parte de Deus. Aquela fumaça subindo significa a parte inerente, pertencente a Deus – a Sua justiça, a Sua glória e a Sua santidade. Mas a outra parte, era para o suprimento, era a provisão daqueles que tinham a responsabilidade e o serviço na obra.

Nós temos que olhar para isso em relação ao nosso Senhor Jesus. Quando o Senhor Jesus morreu lá na cruz do Calvário, Ele ficou seis horas pendurado na cruz. As três primeiras horas estavam relacionadas à vida dEle e o Pai. Temos ali a Sua vida como uma oferta de louvor e adoração ao Pai. Ele foi uma oferta de louvor, uma oferta de adoração ao Pai. Mas nas últimas três horas, Ele ofereceu a Si mesmo como oferta pelo pecado. Vemos aqui a Sua vida sendo oferecida ao Pai. Nessa primeira fase, quando Ele ofereceu a Si como louvor e adoração ao Pai, Ele estava exaltando a glória do Pai, a santidade do Pai, a justiça do Pai. Mas, nas três últimas horas, a Sua própria morte reivindicava sobre Ele toda a justiça de Deus contra o nosso pecado. Ali Ele estava oferecendo uma oferta pelo pecado. Ali, agora, Ele estava oferecendo a Si mesmo como oferta por todos nós, por todos os nossos pecados. Olhamos, então, para tudo isso aqui em Números 18 e vemos uma figura de Cristo Jesus.

No versículo 12 há o melhor do azeite, as primícias, que fazem referência à obra do Espírito Santo e à ressurreição de Cristo. 1 Coríntios 15:20 diz:

20 Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem.”

Vemos que há sempre o enfoque em Cristo Jesus, em Sua obra e em Sua Pessoa.

Meus irmãos, o sangue de Cristo Jesus oferecido lá na cruz do Calvário é o sacrifício. Ele ofereceu a Sua vida na morte, não fez nada por si mesmo. Tudo o que Ele fez, o fez em completa entrega ao Pai como sacrifício. Um sacrifício é uma renúncia, é colocar algo no altar para Deus. E foi isso que Cristo fez. Mesmo sendo Deus, Ele renunciou todas as suas insígnias de glória para que, no processo da encarnação, pudesse se tornar um homem como nós, vivendo uma vida tão limitada quanto a nossa. Ele foi até a cruz e morreu. NEle não havia nenhum pecado, mas Ele se fez pecado por nós, assumindo nossos pecados diante de Deus, e ofereceu a Sua vida como sacrifício diante do Pai. É tudo isso que esses versículos de Números 18:8-19 nos revelam. Esse é o sentido cristológico. Sempre que fizermos a leitura desses textos no Antigo Testamento, teremos que buscar o sentido cristológico. Depois, o sentido eclesiológico.

Quando consideramos a questão do sentido eclesiológico em Números 18:8-19, temos que ler também 1 Coríntios 9:9-14. Assim, compreenderemos que, por causa daquilo que Cristo fez, nós hoje somos ministros dessa nova aliança. Nós somos aqueles que foram chamados para pregar o Evangelho da glória de Cristo, para sustentar o testemunho da vitória da cruz. E fazer isso de uma forma plena, integral. Essa é a verdade eclesiológica que aprendemos nesses textos de Números 18. E quando lemos 1 Coríntios 9:9-14, também vemos isso:

9 Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi, quando pisa o trigo. Acaso, é com bois que Deus se preocupa? (...)”

Paulo está fazendo uma pergunta, e é lógico que a resposta é não. Nós sabemos que não.

“(...) 10 Ou é, seguramente, por nós que ele o diz? Certo que é por nós que está escrito; pois o que lavra cumpre fazê-lo com esperança; o que pisa o trigo faça-o na esperança de receber a parte que lhe é devida. 11 Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais? 12 Se outros participam desse direito sobre vós, não o temos nós em maior medida? Entretanto (...)”

Consideremos bem essa expressão “entretanto”, pois ela significa algo muito especial. Creio que o Senhor deseja falar a nós de uma maneira muito clara. E nós temos que ler esses textos de uma forma que não venhamos ser enganados pela nossa própria mente – que sempre tende a torcer a Palavra de Deus. Quando Paulo diz “entretanto”, nesse versículo 12, temos a palavra grega “alla”. Essa palavra estabelece uma objeção, uma restrição. Embora ela introduza uma transição para o assunto principal, seu sentido aqui é o de estabelecer uma objeção. Em nossa gramática portuguesa temos aqui uma conjunção adversativa. Vejamos, então:

“Entretanto, não usamos desse direito (...)”

Qual “direito”? “Embora semeamos coisas espirituais, será muito recolhermos de vós coisas materiais”, isto é, “nós não temos o direito de recolher sobre vocês os bens materiais”. E o texto continua:

“(...) antes, suportamos tudo, para não criarmos qualquer obstáculo ao evangelho de Cristo. 13 Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados do próprio templo se alimentam? (...)”

É o que estamos vendo aqui em Números 18:8-19.

“(...) E quem serve ao altar do altar tira o seu sustento? 14 Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho.”

Isto é, aqueles que vivem integralmente do Evangelho têm o direito sim de viverem do Evangelho, mas não o direito de criar qualquer obstáculo ao Evangelho de Cristo, buscando usurpar os bens materiais, tornar os irmãos uma propriedade particular ou querer sempre obter lucro da obra de Deus. Temos que permitir que o próprio Deus possa, Ele mesmo, suprir nossas necessidades conforme Sua vontade, Seu querer, mesmo que Ele use Sua obra, mesmo que Ele esteja usando Sua Igreja. Mas nós não temos o direito de usurpar. Não é direito daqueles que pregam o Evangelho e vivem do Evangelho querer usurpar, recolher os bens materiais com o propósito de levar qualquer vantagem dos irmãos. Esta é uma advertência que a Palavra de Deus traz a nós. E creio que essa solene advertência tem como propósito nos conduzir a uma vida cristã equilibrada.

Que o Senhor possa nos ajudar a compreender melhor o sentido da nossa responsabilidade, do serviço e da obra dEle. Que sejamos cuidadosos quanto à questão de provisão, de suprimento, de salário, dessas coisas. Creio que todos nós precisamos procurar ajuda na Palavra de Deus para podermos viver uma vida que não venha provocar nenhum escândalo ao Evangelho. Mas que possamos viver com sobriedade diante das pessoas e, sobretudo, diante de Deus, para que não venhamos dar nenhum motivo, nenhuma ocasião para que o inimigo tenha qualquer liberdade de expor o Evangelho de Deus ao ridículo por causa do nosso testemunho. Nós temos um papel sério diante de Deus e diante das pessoas e devemos viver com a consciência sempre limpa. Sejamos pessoas irrepreensíveis no tocante a esse assunto. Embora tenhamos nossos direitos, não podemos usar desses direitos para usurpar aquilo que não é o nosso direito – levar vantagem em qualquer situação. Em todo momento, vivamos do modo digno do Evangelho de Cristo. Vivamos uma vida equilibrada conforme a Palavra de Deus, para Deus sempre tenha caminho, para que Ele se mova em nossa vida, e o Seu Evangelho, a Sua palavra, seja sempre expressa por nós de forma que nosso caráter não venha ofuscar o brilho da Palavra de Deus.

Que Deus, de uma forma maravilhosa e poderosa, venha falar ao seu coração e lhe abençoar através da Sua Palavra.

Nenhum comentário: