Taate – 23ª Estação (parte 1)
Por. Luiz Fontes
TEXTOS: Números 33:26; Números 1:47-54; 2 Coríntios 5:14-15; 1 Coríntios 6:19-20
Vamos ler alguns versículos que estão em Números 1:47-54. Nessa passagem Deus está realizando o censo, lá no Monte Sinai, a 12ª estação. Sabemos que depois Ele realiza outro censo em Moabe. Nesse primeiro censo, no Monte Sinai, Deus contabiliza todo o povo, exceto a tribo de Levi.
Consideremos todos esses versículos de Números, especialmente o versículo 47, quando o Senhor diz:
“47 Mas os levitas, segundo a tribo de seus pais, não foram contados entre eles.”
Vejam que Deus havia separado a tribo de Levi dentre todo o povo, porque eles eram consagrados para Deus, foram consagrados à obra de Deus.
Prosseguindo, a partir do versículo 48, diz:
“48 porquanto o SENHOR falara a Moisés, dizendo: 49 Somente não contarás a tribo de Levi, nem levantarás o censo deles entre os filhos de Israel; 50 mas incumbe tu os levitas de cuidarem do tabernáculo do Testemunho, e de todos os seus utensílios, e de tudo o que lhe pertence; eles levarão o tabernáculo e todos os seus utensílios; eles ministrarão no tabernáculo e acampar-se-ão ao redor dele. 51 Quando o tabernáculo partir, os levitas o desarmarão; e, quando assentar no arraial, os levitas o armarão; o estranho que se aproximar morrerá.”
Quero examinar com você esse assunto maravilhoso acerca da consagração da tribo de Levi. Precisamos examinar esse assunto à luz do Novo Testamento, pois descobrimos que os filhos de Deus são constrangidos, pelo amor, a viverem para Aquele que morreu por eles lá na Cruz do Calvário. Em 2 Coríntios 5:15 Paulo diz:
“15 E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.”
No versículo 14 ele também diz que:
“(...) o amor de Cristo nos constrange (...).”
Essa palavra “constrange” significa ser envolvido apertadamente, ou seja, ser cercado de tal forma que a pessoa não pode mais escapar. Isso significa não ter uma outra alternativa, a não ser o Senhor mesmo. Quando uma pessoa é movida pelo amor, ela experimenta essa sensação. O amor prende a pessoa de tal forma que não lhe deixa outra alternativa, a não ser o próprio amor. O amor, portanto, é a base da consagração. E é isso que estamos vendo no Novo Testamento. Ninguém pode consagrar-se, a não ser que sinta o amor do Senhor em sua própria vida. É preciso ver, sentir, contemplar esse amor, antes que alguém possa realmente consagrar sua vida a Deus. É inútil falar de consagração quando não há uma visão daquilo que realmente significa o amor de Deus derramado em Cristo Jesus por nós lá na Cruz do Calvário. Mas depois que podemos ver o amor, podemos sentir o que verdadeiramente é o amor de Deus em nossas vidas, a consagração é uma consequência inevitável.
Entretanto, a consagração baseia-se no direito ou prerrogativa divina. Consideremos isso – a consagração baseia-se na prerrogativa divina. Essa é a verdade que encontramos em 1 Coríntios 6:19-20:
“19 Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? 20 Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo.”
Para os cristãos de hoje, essa ideia de ser comprado por preço talvez não seja claramente compreendida. Mas, para os irmãos em Corinto, quando Paulo escreveu essa maravilhosa carta, no tempo do Império Romano, era algo perfeitamente claro. Naquele tempo eles tinham os mercados humanos. Da mesma forma que alguém podia ir ao mercado comprar frango ou um pato, era possível comprar seres humanos no mercado de homens. A única diferença estava em que os preços dos alimentos e dos animais eram mais ou menos estabelecidos. Mas, no mercado humano, o preço de cada alma era fixado através de lances em um leilão. Quem fizesse o lance mais alto comprava o homem, e aquele que comprasse aquele escravo, aquela pessoa que estava sendo vendida, tinha absoluto poder sobre ele. Paulo usa essa metáfora para nos mostrar o que o nosso Senhor Jesus fez por nós, como Ele deu Sua vida como resgate para nos comprar de volta para Deus. O Senhor pagou um preço, e esse preço é a Sua própria vida. Você tem que entender que diante de Deus o valor da sua vida é o valor da própria vida de Cristo. Você vale para Deus o tanto quanto vale o Cristo Jesus, o Filho Amado de Deus.
Então, devido a essa obra redentora que Cristo efetuou para nos comprar, precisamos entender que temos que desistir dos nossos direitos. Nós temos que perder a soberania que temos sobre nós mesmos. Não pertencemos mais a nós mesmos, pertencemos ao Senhor Jesus e devemos glorificar a Deus em nossa própria vida. Fomos comprados, a saber, pelo sangue de Cristo Jesus vertido lá na Cruz do Calvário. E desde que somos comprados pelo sangue de Cristo, nos tornamos, por direito, Seus filhos. Possuímos em nós uma prerrogativa divina.
Por um lado, isto é, por causa do amor, escolhemos servi-Lo. Por outro lado, por direito, não somos de nós mesmos, devemos segui-Lo. Não temos outra alternativa. De acordo com o direito de redenção, somos dEle; e de acordo com o amor que a redenção gera em nós, devemos viver para Ele. Uma base para a consagração é o direito legal; e a outra base é o amor em resposta. A consagração está assim: baseada no amor que sobrepuja o sentimento humano, como, também, no direito de conformidade com a lei. Por essas duas razões nós pertencemos a Ele. Por essas duas razões, nada nos resta, a não ser entender que toda a nossa vida pertence a Ele.
Precisamos saber que o fato de sermos constrangidos pelo amor não significa ainda a consagração; e nem ter a visão do direito do Senhor corresponde à verdadeira consagração. Depois de termos sido constrangidos pelo amor, e visto a prerrogativa do Senhor, é preciso fazer algo. Precisamos entender isso, pois esse passo a mais coloca a pessoa na posição de consagração. À medida que compreendemos que fomos constrangidos pelo amor de Cristo Jesus, e sabemos que fomos comprados pelo sangue da Cruz, nós temos que compreender que realmente algo ocorre em nós. Significa que Ele nos separa de tudo, de tudo aquilo que outrora fazia parte da nossa vida natural. Ele nos separa para que possamos viver totalmente para Ele. Essa é a consagração descrita no Velho Testamento. E esta é a verdadeira experiência que temos hoje à luz do novo Testamento: é a aceitação de um serviço santo, um ofício de servir ao Senhor, de viver uma vida que corresponde ao serviço. Consagração é mais do que amor, é mais do que compra, é a ação que segue o amor e a compra. Dessa forma, aquele que se consagra, está separado de tudo neste mundo, de todos os seus antigos senhores, de tudo aquilo que ocupava o seu coração. De agora em diante, ele não fará nada, exceto o que o Seu Senhor requer, reivindica, manda, ordena. Ele se restringe a fazer somente as coisas dAquele único Senhor. Este é o real significado da consagração.
Ainda quero ler novamente com você esse texto de 2 Coríntios 5:14-15:
“14 Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. 15 E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.”
Você pode ver o quanto isso é tremendo? Aqui nós encontramos o fundamento da consagração. Quando olhamos para o Livro de Êxodo, capítulos 28 e 29, que tratam das vestes sacerdotais e da consagração dos sacerdotes, capítulos que já estudamos aqui, e quando lemos também Levítico 8:18-28, vemos que todos esses textos tratam da consagração dos sacerdotes. Nós temos visto os textos onde o Senhor tem tratado de forma extraordinária acerca da exclusividade do Senhor em relação à tribo de Levi. Isso é muito importante, porque quando lemos todas essas passagens, somos imediatamente tocados pelo fato de que a consagração é algo extremamente especial. A nação inteira de Israel foi escolhida por Deus, mas nem todos nessa nação tornaram-se sacerdotes. Nem toda a nação se tornou consagrada, nem todos da tribo de Levi puderam experimentar o sacerdócio. Alguns exerceram o ministério levítico, mas não o ministério sacerdotal. Então, a nação inteira de Israel foi escolhida por Deus, mas nem toda a nação foi consagrada. Nem todas as tribos de Israel puderam participar da consagração, mas a tribo de Levi foi escolhida. E nem toda a tribo de Levi foi consagrada, apenas uma família, a família de Arão. Isso indica que a consagração não é um assunto para o mundo, mas para o povo escolhido, isto é, para aqueles que pertencem exclusivamente a uma família, à família de Deus. Esse assunto de consagração não é um assunto que você pode aplicar de uma maneira natural às coisas do mundo, ao próprio mundo, mas é algo para o povo escolhido de Deus.
Efésios 2:19 diz:
“(...) já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus.”
Graças a Deus, hoje pertencemos a esta família, pois todos os que cremos no Senhor Jesus pertencemos a essa família espiritual. Apocalipse 1:5-6 diz que o Senhor, com Seu amor, verteu Seu sangue lá na Cruz do Calvário e nos constituiu reis e sacerdotes. E hoje podemos ver que todos os remidos são sacerdotes, escolhidos por Deus para serem sacerdotes. Anteriormente, somente aqueles da casa de Arão foram consagrados. Mas, como temos visto ao longo dos estudos passados, até a casa de Arão falhou. Assim como a tribo de Levi falhou, a casa de Arão falhou. Podemos ver isso estudando o Livro de Jeremias, capítulos 1, 5, 26. Nesse Livro de Jeremias podemos ver como o sacerdócio estava envolvido pelo pecado, maculado pelo pecado. Mas, graças a Deus, hoje, realmente pertencemos a esta família, pois Ele nos escolheu para sermos sacerdotes.
Uma coisa está clara: os homens não escolhem a si mesmos para se consagrarem a Deus; é Deus que os escolhe para que sejam consagrados. Deus pode separar para Si mesmo aqueles os quais Ele designa para o Seu trabalho, para a Sua obra. É Deus que nos favorece, permitindo-nos ter a participação em Seu trabalho exclusivo, em servi-Lo em Sua obra. É Deus que nos dá a beleza, a glória. Vejam que os sacerdotes no Velho Testamento vestiam duas peças de roupa: uma para glória e a outra para ornamento, para a beleza. E nessa consagração divina, onde Ele investe sua própria vida, em Cristo Jesus, em nós, significa que Ele nos veste com a glória e com a beleza do Seu próprio Filho. Meus amados irmãos, que venhamos entender que a consagração significa que somos escolhidos para a honra e para a glória de Deus, para honrar a Deus e para glorificar a Deus com a nossa própria vida, porque a consagração é Deus nos dispensando glória, é Deus nos dispensando a beleza de Cristo. A consagração exige o maior dos sacrifícios. Contudo, ela está cheia de sentido de glória. E não apenas da consciência do sacrifício, mas também da beleza e da própria vida de Cristo dispensada a nós. Existe uma entrega que é o nosso próprio sacrifico, o nosso próprio doar. Mas temos que compreender que existe algo espiritual que, de uma forma sublime, está envolvido nesta grande entrega: a glória, a beleza de Cristo. Quando podemos examinar isso, ficamos impressionados com toda essa beleza, com toda essa majestade dessa maravilhosa entrega a Deus. Por isso o Senhor exige isso de nós.
Que venhamos nos entregar, que venhamos nos consagrar ao Senhor. Mas que a nossa resposta não seja simplesmente uma resposta ao amor, porque isso é inevitável. Quando entendemos esse amor, inevitavelmente nos entregamos. Mas não somente essa questão do nosso amor a Ele. A nossa entrega é uma resposta natural ao Seu amor por nós. Mas consagração vai além de tudo isso. Sabemos que existe a prerrogativa divina, e não temos como fugir dela. E ainda precisamos ir mais além. Não basta ter essa visão deste amor, compreender a prerrogativa divina, existe algo que vai muito mais além. Sendo constrangidos pelo amor e sabendo que fomos comprados pelo sangue de Cristo, nós precisamos aceitar a vontade de Deus na nossa vida – aceitar o plano de Deus. Aqui sim, envolve, de fato, a consagração: o amor de Deus, a prerrogativa divina em ter nos comprado mediante o sangue de Cristo, onde Ele se reivindica em nós, e a nossa entrega à vontade de Deus, ao serviço de Deus – para que venhamos viver para agradar a Deus em Sua vontade, compreender isso claramente. Isso é ministério, isso é serviço.
É isso que Deus deseja falar a nós. Que a Sua palavra venha ser magnificada em sua vida. Que Deus lhe abençoe mais uma vez através da Sua palavra ministrada nessa oportunidade.