segunda-feira, 27 de junho de 2011

AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 110

Taate – 23ª Estação (parte 1)

Por. Luiz Fontes

TEXTOS: Números 33:26; Números 1:47-54; 2 Coríntios 5:14-15; 1 Coríntios 6:19-20

Vamos ler alguns versículos que estão em Números 1:47-54. Nessa passagem Deus está realizando o censo, lá no Monte Sinai, a 12ª estação. Sabemos que depois Ele realiza outro censo em Moabe. Nesse primeiro censo, no Monte Sinai, Deus contabiliza todo o povo, exceto a tribo de Levi.

Consideremos todos esses versículos de Números, especialmente o versículo 47, quando o Senhor diz:

47 Mas os levitas, segundo a tribo de seus pais, não foram contados entre eles.”

Vejam que Deus havia separado a tribo de Levi dentre todo o povo, porque eles eram consagrados para Deus, foram consagrados à obra de Deus.

Prosseguindo, a partir do versículo 48, diz:

48 porquanto o SENHOR falara a Moisés, dizendo: 49 Somente não contarás a tribo de Levi, nem levantarás o censo deles entre os filhos de Israel; 50 mas incumbe tu os levitas de cuidarem do tabernáculo do Testemunho, e de todos os seus utensílios, e de tudo o que lhe pertence; eles levarão o tabernáculo e todos os seus utensílios; eles ministrarão no tabernáculo e acampar-se-ão ao redor dele. 51 Quando o tabernáculo partir, os levitas o desarmarão; e, quando assentar no arraial, os levitas o armarão; o estranho que se aproximar morrerá.”

Quero examinar com você esse assunto maravilhoso acerca da consagração da tribo de Levi. Precisamos examinar esse assunto à luz do Novo Testamento, pois descobrimos que os filhos de Deus são constrangidos, pelo amor, a viverem para Aquele que morreu por eles lá na Cruz do Calvário. Em 2 Coríntios 5:15 Paulo diz:

15 E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.”

No versículo 14 ele também diz que:

“(...) o amor de Cristo nos constrange (...).”

Essa palavra “constrange” significa ser envolvido apertadamente, ou seja, ser cercado de tal forma que a pessoa não pode mais escapar. Isso significa não ter uma outra alternativa, a não ser o Senhor mesmo. Quando uma pessoa é movida pelo amor, ela experimenta essa sensação. O amor prende a pessoa de tal forma que não lhe deixa outra alternativa, a não ser o próprio amor. O amor, portanto, é a base da consagração. E é isso que estamos vendo no Novo Testamento. Ninguém pode consagrar-se, a não ser que sinta o amor do Senhor em sua própria vida. É preciso ver, sentir, contemplar esse amor, antes que alguém possa realmente consagrar sua vida a Deus. É inútil falar de consagração quando não há uma visão daquilo que realmente significa o amor de Deus derramado em Cristo Jesus por nós lá na Cruz do Calvário. Mas depois que podemos ver o amor, podemos sentir o que verdadeiramente é o amor de Deus em nossas vidas, a consagração é uma consequência inevitável.

Entretanto, a consagração baseia-se no direito ou prerrogativa divina. Consideremos isso – a consagração baseia-se na prerrogativa divina. Essa é a verdade que encontramos em 1 Coríntios 6:19-20:

19 Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? 20 Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo.”

Para os cristãos de hoje, essa ideia de ser comprado por preço talvez não seja claramente compreendida. Mas, para os irmãos em Corinto, quando Paulo escreveu essa maravilhosa carta, no tempo do Império Romano, era algo perfeitamente claro. Naquele tempo eles tinham os mercados humanos. Da mesma forma que alguém podia ir ao mercado comprar frango ou um pato, era possível comprar seres humanos no mercado de homens. A única diferença estava em que os preços dos alimentos e dos animais eram mais ou menos estabelecidos. Mas, no mercado humano, o preço de cada alma era fixado através de lances em um leilão. Quem fizesse o lance mais alto comprava o homem, e aquele que comprasse aquele escravo, aquela pessoa que estava sendo vendida, tinha absoluto poder sobre ele. Paulo usa essa metáfora para nos mostrar o que o nosso Senhor Jesus fez por nós, como Ele deu Sua vida como resgate para nos comprar de volta para Deus. O Senhor pagou um preço, e esse preço é a Sua própria vida. Você tem que entender que diante de Deus o valor da sua vida é o valor da própria vida de Cristo. Você vale para Deus o tanto quanto vale o Cristo Jesus, o Filho Amado de Deus.

Então, devido a essa obra redentora que Cristo efetuou para nos comprar, precisamos entender que temos que desistir dos nossos direitos. Nós temos que perder a soberania que temos sobre nós mesmos. Não pertencemos mais a nós mesmos, pertencemos ao Senhor Jesus e devemos glorificar a Deus em nossa própria vida. Fomos comprados, a saber, pelo sangue de Cristo Jesus vertido lá na Cruz do Calvário. E desde que somos comprados pelo sangue de Cristo, nos tornamos, por direito, Seus filhos. Possuímos em nós uma prerrogativa divina.

Por um lado, isto é, por causa do amor, escolhemos servi-Lo. Por outro lado, por direito, não somos de nós mesmos, devemos segui-Lo. Não temos outra alternativa. De acordo com o direito de redenção, somos dEle; e de acordo com o amor que a redenção gera em nós, devemos viver para Ele. Uma base para a consagração é o direito legal; e a outra base é o amor em resposta. A consagração está assim: baseada no amor que sobrepuja o sentimento humano, como, também, no direito de conformidade com a lei. Por essas duas razões nós pertencemos a Ele. Por essas duas razões, nada nos resta, a não ser entender que toda a nossa vida pertence a Ele.

Precisamos saber que o fato de sermos constrangidos pelo amor não significa ainda a consagração; e nem ter a visão do direito do Senhor corresponde à verdadeira consagração. Depois de termos sido constrangidos pelo amor, e visto a prerrogativa do Senhor, é preciso fazer algo. Precisamos entender isso, pois esse passo a mais coloca a pessoa na posição de consagração. À medida que compreendemos que fomos constrangidos pelo amor de Cristo Jesus, e sabemos que fomos comprados pelo sangue da Cruz, nós temos que compreender que realmente algo ocorre em nós. Significa que Ele nos separa de tudo, de tudo aquilo que outrora fazia parte da nossa vida natural. Ele nos separa para que possamos viver totalmente para Ele. Essa é a consagração descrita no Velho Testamento. E esta é a verdadeira experiência que temos hoje à luz do novo Testamento: é a aceitação de um serviço santo, um ofício de servir ao Senhor, de viver uma vida que corresponde ao serviço. Consagração é mais do que amor, é mais do que compra, é a ação que segue o amor e a compra. Dessa forma, aquele que se consagra, está separado de tudo neste mundo, de todos os seus antigos senhores, de tudo aquilo que ocupava o seu coração. De agora em diante, ele não fará nada, exceto o que o Seu Senhor requer, reivindica, manda, ordena. Ele se restringe a fazer somente as coisas dAquele único Senhor. Este é o real significado da consagração.

Ainda quero ler novamente com você esse texto de 2 Coríntios 5:14-15:

14 Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. 15 E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.”

Você pode ver o quanto isso é tremendo? Aqui nós encontramos o fundamento da consagração. Quando olhamos para o Livro de Êxodo, capítulos 28 e 29, que tratam das vestes sacerdotais e da consagração dos sacerdotes, capítulos que já estudamos aqui, e quando lemos também Levítico 8:18-28, vemos que todos esses textos tratam da consagração dos sacerdotes. Nós temos visto os textos onde o Senhor tem tratado de forma extraordinária acerca da exclusividade do Senhor em relação à tribo de Levi. Isso é muito importante, porque quando lemos todas essas passagens, somos imediatamente tocados pelo fato de que a consagração é algo extremamente especial. A nação inteira de Israel foi escolhida por Deus, mas nem todos nessa nação tornaram-se sacerdotes. Nem toda a nação se tornou consagrada, nem todos da tribo de Levi puderam experimentar o sacerdócio. Alguns exerceram o ministério levítico, mas não o ministério sacerdotal. Então, a nação inteira de Israel foi escolhida por Deus, mas nem toda a nação foi consagrada. Nem todas as tribos de Israel puderam participar da consagração, mas a tribo de Levi foi escolhida. E nem toda a tribo de Levi foi consagrada, apenas uma família, a família de Arão. Isso indica que a consagração não é um assunto para o mundo, mas para o povo escolhido, isto é, para aqueles que pertencem exclusivamente a uma família, à família de Deus. Esse assunto de consagração não é um assunto que você pode aplicar de uma maneira natural às coisas do mundo, ao próprio mundo, mas é algo para o povo escolhido de Deus.

Efésios 2:19 diz:

“(...) já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus.”

Graças a Deus, hoje pertencemos a esta família, pois todos os que cremos no Senhor Jesus pertencemos a essa família espiritual. Apocalipse 1:5-6 diz que o Senhor, com Seu amor, verteu Seu sangue lá na Cruz do Calvário e nos constituiu reis e sacerdotes. E hoje podemos ver que todos os remidos são sacerdotes, escolhidos por Deus para serem sacerdotes. Anteriormente, somente aqueles da casa de Arão foram consagrados. Mas, como temos visto ao longo dos estudos passados, até a casa de Arão falhou. Assim como a tribo de Levi falhou, a casa de Arão falhou. Podemos ver isso estudando o Livro de Jeremias, capítulos 1, 5, 26. Nesse Livro de Jeremias podemos ver como o sacerdócio estava envolvido pelo pecado, maculado pelo pecado. Mas, graças a Deus, hoje, realmente pertencemos a esta família, pois Ele nos escolheu para sermos sacerdotes.

Uma coisa está clara: os homens não escolhem a si mesmos para se consagrarem a Deus; é Deus que os escolhe para que sejam consagrados. Deus pode separar para Si mesmo aqueles os quais Ele designa para o Seu trabalho, para a Sua obra. É Deus que nos favorece, permitindo-nos ter a participação em Seu trabalho exclusivo, em servi-Lo em Sua obra. É Deus que nos dá a beleza, a glória. Vejam que os sacerdotes no Velho Testamento vestiam duas peças de roupa: uma para glória e a outra para ornamento, para a beleza. E nessa consagração divina, onde Ele investe sua própria vida, em Cristo Jesus, em nós, significa que Ele nos veste com a glória e com a beleza do Seu próprio Filho. Meus amados irmãos, que venhamos entender que a consagração significa que somos escolhidos para a honra e para a glória de Deus, para honrar a Deus e para glorificar a Deus com a nossa própria vida, porque a consagração é Deus nos dispensando glória, é Deus nos dispensando a beleza de Cristo. A consagração exige o maior dos sacrifícios. Contudo, ela está cheia de sentido de glória. E não apenas da consciência do sacrifício, mas também da beleza e da própria vida de Cristo dispensada a nós. Existe uma entrega que é o nosso próprio sacrifico, o nosso próprio doar. Mas temos que compreender que existe algo espiritual que, de uma forma sublime, está envolvido nesta grande entrega: a glória, a beleza de Cristo. Quando podemos examinar isso, ficamos impressionados com toda essa beleza, com toda essa majestade dessa maravilhosa entrega a Deus. Por isso o Senhor exige isso de nós.

Que venhamos nos entregar, que venhamos nos consagrar ao Senhor. Mas que a nossa resposta não seja simplesmente uma resposta ao amor, porque isso é inevitável. Quando entendemos esse amor, inevitavelmente nos entregamos. Mas não somente essa questão do nosso amor a Ele. A nossa entrega é uma resposta natural ao Seu amor por nós. Mas consagração vai além de tudo isso. Sabemos que existe a prerrogativa divina, e não temos como fugir dela. E ainda precisamos ir mais além. Não basta ter essa visão deste amor, compreender a prerrogativa divina, existe algo que vai muito mais além. Sendo constrangidos pelo amor e sabendo que fomos comprados pelo sangue de Cristo, nós precisamos aceitar a vontade de Deus na nossa vida – aceitar o plano de Deus. Aqui sim, envolve, de fato, a consagração: o amor de Deus, a prerrogativa divina em ter nos comprado mediante o sangue de Cristo, onde Ele se reivindica em nós, e a nossa entrega à vontade de Deus, ao serviço de Deus – para que venhamos viver para agradar a Deus em Sua vontade, compreender isso claramente. Isso é ministério, isso é serviço.

É isso que Deus deseja falar a nós. Que a Sua palavra venha ser magnificada em sua vida. Que Deus lhe abençoe mais uma vez através da Sua palavra ministrada nessa oportunidade.

domingo, 19 de junho de 2011

AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 109


Por: Ir. Luiz Fontes

Maquelote – 22ª Estação (parte 3)

TEXTOS: Números 18:8-19; Números 18:20; 1 Coríntios 15:20; 1 Coríntios 9:9-14

Vamos prosseguir estudando essa 22ª estação, Maquelote. Temos aprendido aqui alguns princípios espirituais acerca dos direitos do ministério sacerdotal. Estudando esses versículos de Números 18:8-19, temos uma ampla visão dos direitos dos sacerdotes. Que o Espírito Santo nos ajude a ver o real significado de todas essas ofertas dentro do nosso contexto espiritual hoje, o que o Novo Testamento nos revela sobre isso.

A tribo de Levi, isto é, Arão e seus filhos, não tinham direito à terra. Em Números 18:20 o Senhor diz para Arão:

20 Disse também o SENHOR a Arão: Na sua terra, herança nenhuma terás e, no meio deles, nenhuma porção terás. Eu sou a tua porção e a tua herança no meio dos filhos de Israel.”

Essa era a Palavra de Deus para com Arão e todos os seus filhos. Então, veja que a porção de Arão era o Senhor. O salário de Arão e tudo aquilo que ele recebesse era o Senhor. Estudando os versículos de Números 18:8-19, você vai ver que Números 18:20 resume tudo aquilo que o Senhor diz nesses versículos. Embora para alguns toda essa leitura pareça um tanto quanto confusa, ela não é, pois devemos ler o Velho Testamento tendo a luz do Novo Testamento. Primeiro precisamos considerar que todos esses sacrifícios, todas essas ofertas, falam dos distintos aspectos da obra e da Pessoa de Cristo Jesus. Esses sacrifícios apontam para aquilo que Cristo cumpriu lá na cruz do Calvário. Todas essas ofertas falam dEle – da natureza da Sua obra e da Sua Pessoa. E quando lemos e temos essa visão, tudo fica muito claro para nós.

O que o Espírito Santo quer nos mostrar é o verdadeiro significado da obra de Deus. O Senhor aqui está falando especialmente para aqueles que têm o encargo da obra e do ministério. Muitos compreenderam mal o verdadeiro sentido da obra de Deus. Para muitas pessoas a obra de Deus é apenas uma questão de profissão, de vocação humana. Isso não deve ser assim para nós. A obra de Deus é uma questão de ministério. Nós temos que olhar para a obra de Deus como algo que procede do coração de Deus. Este ministério, este serviço, é algo que procede da vontade de Deus, é algo proveniente de Deus. Não parte de quem quer, não parte daqueles que almejam ser, pois é inerente, pertence a Deus e está de acordo com a vontade de Deus. Servir na obra é um santo, um nobre privilégio. Mas não é para todos, somente para aqueles que Deus escolheu. E aqueles que Deus escolheu devem ter como foco o próprio Deus, devem estar buscando agradar a vontade de Deus.

Então, quando vemos todas essas ofertas, compreendemos que existe algo que está intimamente relacionado à obra e à Pessoa de Cristo. Vejam que em Números 18:8 o Senhor diz para Arão:

8 Disse mais o SENHOR a Arão: Eis que eu te dei o que foi separado das minhas ofertas, com todas as coisas consagradas dos filhos de Israel; dei-as por direito perpétuo como porção a ti e a teus filhos.”

Arão e seus filhos tinham parte em tudo aquilo que era levado como oferta para o Tabernáculo, era seu suprimento, seu sustento. O Senhor diz que havia dado como direito perpétuo, como porção a ele e seus filhos. Mas quando lemos o versículo 20, o Senhor diz para Arão que Ele é quem era a sua porção. Aquelas ofertas apontavam para Deus. Arão não recebia aquelas ofertas do povo, mas de Deus. Tratava-se de um relacionamento com Deus. Precisamos ver que toda a nossa vida quanto ao serviço aos santos deve ser um relacionamento com Deus. Do mesmo modo, nosso suprimento deve ser o relacionamento com Deus. Ninguém pode almejar o ministério e achar que ele é a sua aposentadoria, a profissão que lhe trará independência financeira. Se você olha para a obra de Deus com esses olhos, você está trazendo maldição para si. Nós temos que ser cuidadosos quanto a isso, não podemos permitir que o nosso coração, nossa carne, possa agir de forma leviana quanto às coisas do Senhor. Nós temos que confiar no suprimento de Deus. E é isso que Ele está dizendo aqui para Arão e seus filhos e também para nós.

Nesses textos vamos encontrar as ofertas de manjares, as ofertas pelo pecado, as ofertas pela culpa, o melhor do azeite, as primícias, todas as coisas consagradas que eram levadas para o Tabernáculo como oferta. A Bíblia diz que todas essas coisas eram santíssimas. O versículo 19 diz que todas as ofertas sagradas que os filhos de Israel oferecessem ao Senhor o Senhor dava para Arão e seus filhos por direito perpétuo, por aliança perpétua. Tudo isso é extremamente significativo. Vemos aqui o Senhor revelar os direitos sacerdotais com relação às ofertas, ao suprimento do ministério – o suprimento que o Senhor preparou para o sacerdócio araônico e seus filhos. Esse direito adquirido era proveniente da responsabilidade que o sacerdote tinha pelo encargo recebido por Deus. Não era uma profissão, pois o sacerdote não estava recebendo do povo para satisfazer o povo. Deus queria que ele visse naquelas ofertas a mão de Deus, o cuidado de Deus, o suprimento de Deus. O sacerdote estava lidando com Deus e não estava ali simplesmente para satisfazer aqueles que pagavam o seu salário. Todo o serviço na obra é espiritual. Aquilo que fazemos está intimamente relacionado com o caráter de Deus.

Precisamos agora entender que essas passagens, Números 18:8-19, nos levam para o sentido cristológico. Precisamos ver Cristo aqui. Se não aplicarmos esses textos no sentido cristológico, eles perdem todo o sentido para nós. Olhem para todas essas ofertas: vemos aqui aspectos de Cristo. Temos que saber que Cristo é o verdadeiro Sumo Sacerdote. O sacerdote araônico era apenas uma figura do sacerdócio de Cristo e todas essas ofertas falam dos distintos aspectos da Sua obra e da Sua bendita Pessoa. “Comer as ofertas” nos fala de Cristo, nosso Sumo Sacerdote, tendo em nós Seu desfrute, tendo em nós Seu prazer. Mas também fala de nós tendo Ele como nosso prazer. Isso é intimidade, comunhão. Quando os sacerdotes comiam aquelas ofertas, quando participamos da oferta juntamente com seus filhos, isso falava de intimidade, de comunhão, de dependência de Deus. Tudo isso fala de desfrute. Nós precisamos entender que toda a vida cristã é vivida em fé. Nós não podemos viver a vida cristã guiados pela nossa própria carne, guiados pela nossa natureza humana – de modo algum. Temos, então, que olhar para tudo isso e entender essas verdades.

Outro aspecto que vemos nesses textos é que o sumo sacerdote poderia comer de todas as ofertas com a sua família, mas as ofertas queimadas eles não poderiam comer. Qual a razão disso? É que algumas ofertas, os holocaustos, eram totalmente queimadas. E o que isso significa? Significa a satisfação de Deus. Essas ofertas eram aquilo que Deus estava reivindicando para a satisfação da Sua justiça, da Sua santidade e da Sua glória. Essa é a parte de Deus. Aquela fumaça subindo significa a parte inerente, pertencente a Deus – a Sua justiça, a Sua glória e a Sua santidade. Mas a outra parte, era para o suprimento, era a provisão daqueles que tinham a responsabilidade e o serviço na obra.

Nós temos que olhar para isso em relação ao nosso Senhor Jesus. Quando o Senhor Jesus morreu lá na cruz do Calvário, Ele ficou seis horas pendurado na cruz. As três primeiras horas estavam relacionadas à vida dEle e o Pai. Temos ali a Sua vida como uma oferta de louvor e adoração ao Pai. Ele foi uma oferta de louvor, uma oferta de adoração ao Pai. Mas nas últimas três horas, Ele ofereceu a Si mesmo como oferta pelo pecado. Vemos aqui a Sua vida sendo oferecida ao Pai. Nessa primeira fase, quando Ele ofereceu a Si como louvor e adoração ao Pai, Ele estava exaltando a glória do Pai, a santidade do Pai, a justiça do Pai. Mas, nas três últimas horas, a Sua própria morte reivindicava sobre Ele toda a justiça de Deus contra o nosso pecado. Ali Ele estava oferecendo uma oferta pelo pecado. Ali, agora, Ele estava oferecendo a Si mesmo como oferta por todos nós, por todos os nossos pecados. Olhamos, então, para tudo isso aqui em Números 18 e vemos uma figura de Cristo Jesus.

No versículo 12 há o melhor do azeite, as primícias, que fazem referência à obra do Espírito Santo e à ressurreição de Cristo. 1 Coríntios 15:20 diz:

20 Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem.”

Vemos que há sempre o enfoque em Cristo Jesus, em Sua obra e em Sua Pessoa.

Meus irmãos, o sangue de Cristo Jesus oferecido lá na cruz do Calvário é o sacrifício. Ele ofereceu a Sua vida na morte, não fez nada por si mesmo. Tudo o que Ele fez, o fez em completa entrega ao Pai como sacrifício. Um sacrifício é uma renúncia, é colocar algo no altar para Deus. E foi isso que Cristo fez. Mesmo sendo Deus, Ele renunciou todas as suas insígnias de glória para que, no processo da encarnação, pudesse se tornar um homem como nós, vivendo uma vida tão limitada quanto a nossa. Ele foi até a cruz e morreu. NEle não havia nenhum pecado, mas Ele se fez pecado por nós, assumindo nossos pecados diante de Deus, e ofereceu a Sua vida como sacrifício diante do Pai. É tudo isso que esses versículos de Números 18:8-19 nos revelam. Esse é o sentido cristológico. Sempre que fizermos a leitura desses textos no Antigo Testamento, teremos que buscar o sentido cristológico. Depois, o sentido eclesiológico.

Quando consideramos a questão do sentido eclesiológico em Números 18:8-19, temos que ler também 1 Coríntios 9:9-14. Assim, compreenderemos que, por causa daquilo que Cristo fez, nós hoje somos ministros dessa nova aliança. Nós somos aqueles que foram chamados para pregar o Evangelho da glória de Cristo, para sustentar o testemunho da vitória da cruz. E fazer isso de uma forma plena, integral. Essa é a verdade eclesiológica que aprendemos nesses textos de Números 18. E quando lemos 1 Coríntios 9:9-14, também vemos isso:

9 Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi, quando pisa o trigo. Acaso, é com bois que Deus se preocupa? (...)”

Paulo está fazendo uma pergunta, e é lógico que a resposta é não. Nós sabemos que não.

“(...) 10 Ou é, seguramente, por nós que ele o diz? Certo que é por nós que está escrito; pois o que lavra cumpre fazê-lo com esperança; o que pisa o trigo faça-o na esperança de receber a parte que lhe é devida. 11 Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais? 12 Se outros participam desse direito sobre vós, não o temos nós em maior medida? Entretanto (...)”

Consideremos bem essa expressão “entretanto”, pois ela significa algo muito especial. Creio que o Senhor deseja falar a nós de uma maneira muito clara. E nós temos que ler esses textos de uma forma que não venhamos ser enganados pela nossa própria mente – que sempre tende a torcer a Palavra de Deus. Quando Paulo diz “entretanto”, nesse versículo 12, temos a palavra grega “alla”. Essa palavra estabelece uma objeção, uma restrição. Embora ela introduza uma transição para o assunto principal, seu sentido aqui é o de estabelecer uma objeção. Em nossa gramática portuguesa temos aqui uma conjunção adversativa. Vejamos, então:

“Entretanto, não usamos desse direito (...)”

Qual “direito”? “Embora semeamos coisas espirituais, será muito recolhermos de vós coisas materiais”, isto é, “nós não temos o direito de recolher sobre vocês os bens materiais”. E o texto continua:

“(...) antes, suportamos tudo, para não criarmos qualquer obstáculo ao evangelho de Cristo. 13 Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados do próprio templo se alimentam? (...)”

É o que estamos vendo aqui em Números 18:8-19.

“(...) E quem serve ao altar do altar tira o seu sustento? 14 Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho.”

Isto é, aqueles que vivem integralmente do Evangelho têm o direito sim de viverem do Evangelho, mas não o direito de criar qualquer obstáculo ao Evangelho de Cristo, buscando usurpar os bens materiais, tornar os irmãos uma propriedade particular ou querer sempre obter lucro da obra de Deus. Temos que permitir que o próprio Deus possa, Ele mesmo, suprir nossas necessidades conforme Sua vontade, Seu querer, mesmo que Ele use Sua obra, mesmo que Ele esteja usando Sua Igreja. Mas nós não temos o direito de usurpar. Não é direito daqueles que pregam o Evangelho e vivem do Evangelho querer usurpar, recolher os bens materiais com o propósito de levar qualquer vantagem dos irmãos. Esta é uma advertência que a Palavra de Deus traz a nós. E creio que essa solene advertência tem como propósito nos conduzir a uma vida cristã equilibrada.

Que o Senhor possa nos ajudar a compreender melhor o sentido da nossa responsabilidade, do serviço e da obra dEle. Que sejamos cuidadosos quanto à questão de provisão, de suprimento, de salário, dessas coisas. Creio que todos nós precisamos procurar ajuda na Palavra de Deus para podermos viver uma vida que não venha provocar nenhum escândalo ao Evangelho. Mas que possamos viver com sobriedade diante das pessoas e, sobretudo, diante de Deus, para que não venhamos dar nenhum motivo, nenhuma ocasião para que o inimigo tenha qualquer liberdade de expor o Evangelho de Deus ao ridículo por causa do nosso testemunho. Nós temos um papel sério diante de Deus e diante das pessoas e devemos viver com a consciência sempre limpa. Sejamos pessoas irrepreensíveis no tocante a esse assunto. Embora tenhamos nossos direitos, não podemos usar desses direitos para usurpar aquilo que não é o nosso direito – levar vantagem em qualquer situação. Em todo momento, vivamos do modo digno do Evangelho de Cristo. Vivamos uma vida equilibrada conforme a Palavra de Deus, para Deus sempre tenha caminho, para que Ele se mova em nossa vida, e o Seu Evangelho, a Sua palavra, seja sempre expressa por nós de forma que nosso caráter não venha ofuscar o brilho da Palavra de Deus.

Que Deus, de uma forma maravilhosa e poderosa, venha falar ao seu coração e lhe abençoar através da Sua Palavra.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

ESTUDO DA EPÍTSOLA DE PAULO AOS EFÉSIOS


CAPÍTULO 18

“Conhecendo o Incognoscível”

(Aquilo que não pode ser conhecido)

"Poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus.” (Ef 3:18,19)

Tendo examinado a largura, o comprimento, a profundidade e a altura deste conhecimento do amor de Cristo, devemos voltar-nos agora à consideração da natureza ou caráter do conhecimento. Nossa compreensão disso obviamente terá um sério efeito não somente sobre o nosso desejo disso, mas também sobre o nosso empenho e sobre os nossos esforços para obtê-lo. Muitos jamais o conheceram e nunca o experimentaram por haver-se extraviado em suas idéias quanto ao caráter do conhecimento. O apóstolo emprega três expressões escolhidas deliberadamente com o fim de esclarecer o seu significado aos efésios.

A primeira palavra a que devemos dar atenção é a palavra “compreender” – “(Para) poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos...”. A palavra significa “apanhar mentalmente com firmeza” uma coisa, ou “agarrar-se a algo com a mente”. O termo descreve o processo de captação mental de uma idéia ou de uma verdade. Portanto, uma tradução melhor aqui poderia ser: “Para poderdes aprender com todos os santos...”.

Existem, naturalmente, diferentes tipos de conhecimento, e é bom para nós que sejamos capazes de distinguir entre eles. Estamos focalizando aqui o que se descreve como conhecimento “conceptual”, um conhecimento de conceitos e idéias. Esta outra espécie de conhecimento em que um conceito, uma idéia, é posta diante de nós, e podemos captá-la, agarrá-la, tomar posse dela e fazê-la nossa. A ênfase está no fato de que é um processo mental, é algo feito com a mente. Assim o apóstolo está orando, em primeiro lugar, para que os efésios captem com as suas mentes este amor de Cristo.

Temos a tendência de considerar o amor de maneira sentimental, como se fosse algo puramente emocional. O conceito de amor comum no mundo de hoje é que ele é puramente irracional. Falando, de modo geral, não é amor, mas simplesmente o que se chama paixão, e não há elemento intelectual na paixão! Todavia há sempre um real elemento intelectual no amor, um elemento de entendimento. O amor pode dar razões de si. Esta é a idéia transmitida pelo emprego que o apóstolo faz da palavra “compreender”. Ao mesmo tempo, porém, ele não está dizendo que o amor deve ser apreendido por um puro ato do intelecto, e sim que há um elemento no amor que jamais devemos ignorar. O próprio apóstolo elucida este ponto em sua Epístola aos Filipenses 1:9:

“E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção, para aprovardes as coisas excelentes e serdes sinceros e inculpáveis para o Dia de Cristo,”

Notem que ele está orando para que o amor deles aumente em “conhecimento e percepção”. No Novo Testamento o amor jamais deve ser entendido como algo intuitivo ou instintivo, como algo puramente emocional e irracional. Duas palavras são empregadas no NT para descrever o amor – “eros” e “ágape”. Pois bem, o apóstolo não está se referindo aqui ao que se pode descrever como amor erótico. Isso é simplesmente da carne; é animal e carnal. É o conceito comum de amor que prevalece no mundo hoje. Ficamos livres deste mal quando nos damos conta da veracidade daquilo que o apóstolo está salientando com esta palavra “compreender” ou “aprender”.

Noutras palavras, o amor é algo que pode ser “contemplado”; na verdade podemos dizer que o amor sempre tem em si um elemento contemplativo. Diz o apóstolo que a nossa primeira real reação a este amor é que começamos a captá-lo com as nossas mentes. À medida que aplicarmos as nossas mentes a isto, veremos aumentar o nosso amor a Cristo. Quantas vezes meditamos no amor de Cristo da maneira que vemos no grande hino de Isaac Watts?

“Quando eu perscruto a espantosa cruz

Quantas vezes a perscrutamos? Isso é o que o apóstolo quer dizer da sua epístola. Temos que escalar as alturas para contemplar e contemplar o amor de Cristo. Leva tempo “perscrutar”. Isto envolve uma atividade mental.

A segunda palavra do apóstolo é que devemos “conhecer” o amor de Cristo, “que excede o conhecimento”. De muitas maneiras esta palavra é maior e mais forte que “compreender”. Ela não fala de conhecimento conceptual, e sim de um conhecimento obtido pela experiência pessoal e nela fundada. Agora é conhecimento experimental e vivencial. Esta é a diferença entre “compreender e conhecer”. A palavra “conhecer”, como empregada nas Escrituras, é sempre pessoal e experimental. Ademais, o verbo “conhecer” refere-se ao conhecimento direto e imediato que não resulta da contemplação e meditação. É conhecimento pertencente à esfera da experiência.

Devemos observar cuidadosamente a ordem em que o apóstolo utiliza estas duas palavras. É evidente que o conhecimento conceptual sempre deve vir primeiro. Todavia deve levar a este conhecimento experimental posterior. Agora estamos examinando, não primariamente uma atividade da mente ou do entendimento. Este descreve não tanto uma atividade da nossa parte; descreve mais uma consciência de algo que está acontecendo conosco e que está ocorrendo dentro de nós. Já não estamos vendo externamente o amor de Cristo com extasiada admiração; agora o estamos experimentando; somos inundados e envolvidos por este amor, completamente tomados por ele e por ele arrebatados. “conhecer” descreve a nossa consciência do fato de que Cristo nos ama; de que o nosso Senhor nos está dizendo pessoalmente que nos ama com imensurável amor.

Nenhum de nós seria cristão se Cristo não nos amasse e não Se desse por nós. A mensagem do evangelho pra nós é que:

“Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”

Se eu aceito o ensino de que Cristo levou sobre Si os meus pecados e recebeu o castigo que me cabia, deve ser óbvio para mim que ele o fez porque me amou; é prova do Seu amor. Mas há um sentido em que esta realidade esta fora de mim. Creio no conceito, descanso no conceito. Como isso é diferente de dizer-me Cristo pessoalmente que me ama – de me fazer ciente disto e claramente num sentido íntimo, direto e experimental.

Você pode ficar ciente do amor de outrem por você pelas ações dessa pessoa, porém o que o amor sempre quer é uma declaração pessoal. O amor sempre deseja uma palavra pessoal; não se contenta com manifestações gerais. Aqui o apóstolo está afirmando que ao cristão é possível “conhecer” o amor de Cristo neste sentido imediato, direto, experimental e vivencial. Além e acima do conhecimento conceptual há este conhecimento experimental. É uma possibilidade tão gloriosa que o apóstolo afirma que “dobra os seus joelhos diante de Pai” e “ora incessantemente” para que os efésios tenham esse conhecimento. Não só lhes falta um conhecimento conceptual dele; não o conhecem por experiência, como ele o conheceu; razão porque ele ora no sentido de que venham a conhecê-lo deste modo.

A terceira palavra que o apóstolo emprega em conexão com o amor de Cristo é: “excede o entendimento”. Significa realmente, “ultrapassa o conhecimento”. Portanto, uma boa tradução seria “o superior ou sobreexcelente conhecimento do amor de Cristo”; quer dizer, embora possamos vir a conhecê-lo, só conheceremos algo dele; é um “mar que nunca vaza”, inesgotável e inescrutável. Assim esquecemos o que para traz fica e prosseguimos para frente e para o alto, sempre a fazer novas descobertas.

Tendo considerado as expressões, chegamos ao ponto em que devemos fazer uma pergunta: este conhecimento que estivemos descrevendo é realmente possível para todos os cristãos aqui e agora, nesta vida e neste mundo? O apóstolo afirma que ela está acessível a todos os cristãos, e assim ora para que os membros da igreja de Éfeso, cada um deles, e todos os santos de toda parte, venham a ter este conhecimento do amor de Cristo – o conceptual e o experimental. Isso é possível nesta vida e neste mundo.

Veja o que o apóstolo Pedro em sua primeira Epístola 1:8, escrevendo a numerosos cristãos que ele não conhecia, os quais descreve como “estrangeiros e peregrinos” dispersos, diz se referindo ao Senhor Jesus Cristo:

“a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória

Essa porção das Escrituras deve ser mantida em nossas mentes como pano de fundo para esta oração que estamos considerando.

O nosso Senhor Jesus diz em João 14:21:

“Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada.”

E depois, no capítulo 17, ainda de João, versículo 23, há uma estonteante declaração na oração do senhor Jesus pelos Seus:

“... para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim.”

Não se trata aqui de um conhecimento conceptual do amor de Deus, e sim de um conhecimento imediato, direto do amor de Deus por nós. Como amou Seu Filho, assim nos ama. É preciso que tenhamos esse conhecimento.

Esta experiência não se limita aos apóstolos e a alguns santos proeminentes, mas algumas pessoas humildes e desconhecidas têm-se regozijado neste conhecimento conceptual e experimental do amor de Cristo. Por exemplo. Num hino de George Robinson:

Amado com amor eterno,

Guiado pela graça que o amor conhece...

Num amor que jamais pode cessar,

Eu sou dEle, e Ele é meu.

Para sempre dEle, e somente dEle:

Quem separará meu Senhor de mim?

Ora ninguém poderia escrever tais palavras, se não fossem verdadeiras. Podemos apropriar-nos desta linguagem? Charles Wesley repete frequentemente a mesma coisa com palavras como:

Jesus amante da minha alma,

Permite-me voar para o teu seio.

Ó Cristo, és tudo que eu desejo;

Bem mais que tudo em Ti encontro.

Daniel Steele veio a conhecer o amor de Cristo neste sentido experimental, e aqui está como ele o descreve: quase uma semana, e várias vezes por dia, uma pressão do Seu grande amor sobreveio ao meu coração em tal medida que fez meu cérebro latejar, e todo o meu ser, alma e corpo geme sob a tensão da quase insuportável pletora de alegria. E, contudo, em meio a esta plenitude, há uma fome de mais, e em meio à consumidora chama de amor, está sempre em meus lábios o paradoxal brado: “Queima, queima ó Amor, dentro do meu coração, queima ferozmente noite e dia, até que toda a escória dos amores terrenais esteja extinta e seja eliminada

Eu e você devemos aprender e conhecer, com todos os santos, este amor de Cristo. Isto não é uma fantasia ociosa; é uma gloriosa possibilidade. Devemos orar incessantemente por nós mesmos, fazendo a oração que Paulo fez pelos efésios. Que Cristo pessoalmente possa fazer conhecido o Seu amor pessoal por nós.


Por: D. M. Lloyd Jones

segunda-feira, 13 de junho de 2011

AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 108


Maquelote – 22ª Estação (parte 2)

TEXTOS: Êxodo 18:8-9; Êxodo 19:5-6; Apocalipse 1:4-6; Apocalipse 5:9-10; 1 Pedro 2:4-5 e 9-10

Irmãos, vamos dar continuidade ao maravilhoso assunto que envolve essa 22ª estação – Maquelote. Estamos ainda na introdução, na parte inicial. Como lhes disse no estudo passado, quando você vai estudando os textos correspondentes a essa estação, Êxodo 18:8-19, você vai compreendendo, assim como compreenderam os grandes eruditos do passado, quando, estudando essas passagens, puderam encontrar essas jornadas. Estudando uma passagem após a outra, prosseguindo na direção do Espírito Santo, você vai compreendendo de uma forma maravilhosa o lugar em que cada uma dessas estações se encontra nos textos sagrados.

Na primeira palavra sobre Maquelote, vimos que o Espírito Santo nos dá primeiro o sentido histórico. Quando lemos o Antigo Testamento, vemos, no sentido histórico, que o propósito de Deus, pelo Espírito Santo, é nos lavar ao aspecto cristológico. Temos que encontrar Cristo nas passagens do Antigo Testamento para que venhamos compreender a revelação. E quando você toca o aspecto Cristo nessa revelação, naturalmente a Igreja aparece. Então surge o terceiro aspecto, o eclesiológico. Em Mateus 16:18, Jesus disse para Pedro:

“Pedro, tu és pedra, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja.”

Vejam que o Senhor Jesus disse isso para Pedro porque Pedro havia dito no v 16:

“(...) Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.”

Isso quer dizer que, quando Cristo aparece, naturalmente a Igreja é manifestada. As expressões “Cristo” e “Igreja” formam o fundamento dos dois grandes mistérios da Bíblia: o mistério de Deus e o mistério de Cristo.

Estudando Colossenses encontramos o mistério de Deus: Cristo. E quando estudamos Efésios 3, encontramos o mistério de Cristo: a Igreja. Isso é muito importante. Quando estudamos também a questão do sacerdócio de Arão, vemos, pela Epístola aos Hebreus, que o sacerdócio de Arão é uma figura do sacerdócio de Cristo. Mas o sacerdócio de Arão foi temporário, foi instituído por Deus por causa da rebelião de toda a nação de Israel (Ex 32). Agora, voltando a Êxodo 19:5-6, veremos que o propósito de Deus era ter uma nação de sacerdotes:

5 Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; 6 vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa.”

Este era o propósito de Deus: ter uma nação de sacerdotes. Desde que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, era o propósito de Deus se mover por meio do homem. Quando disse para Adão dominar entre os peixes do mar, as aves dos céus e os répteis da terra (Gn 1:26), Deus estava ali constituindo o homem como expressão do Seu governo na terra. Mas Adão falhou. E depois que se passaram dois mil anos, Deus vem reivindicar Seu governo no homem. E Ele chama a quem? Abraão. Em Gênesis 12:1-3, Deus disse para Abraão:

1 Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; 2 de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! 3 Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.”

A semente de Abraão era uma semente abençoada, por meio da qual Deus iria restaurar o Seu sacerdócio. Mas isso foi possível? Vemos agora que não. Não foi possível por causa do homem. Mas sabemos que para Deus não há impossível. Deus vai alcançar aquilo que Ele propôs em si mesmo. Ainda que Adão tenha falhado, mesmo Israel tendo falhado, os planos de Deus não falharão. Deus alcançará o Seu propósito.

E quando nós adentramos as páginas do Novo Testamento, o que encontramos? Encontramos Deus alcançando o Seu propósito. Em Gênesis 15 Deus faz uma promessa, a promessa do descendente. Nesse capítulo Deus promete algo muito especial para Abraão. Sabemos que o enfoque fundamental desse capítulo não é o descendente; embora o filho seja mencionado, o enfoque do capítulo 15 é a terra. Já no capítulo 17 vemos que o enfoque fundamental é o filho, o descendente. Em Gênesis 15:5 Deus manda que Abraão olhe para os céus e conte as estrelas, pois Ele diz: Assim será a tua descendência. Em Gênesis 22:17 Deus diz para ele que a sua descendência seria como as estrelas dos céus e como a areia na praia do mar. Aqui nós vemos duas coisas: as estrelas dos céus falam da descendência espiritual; e a areia da praia do mar, nos fala da descendência natural. A descendência natural é a nação de Israel e a descendência espiritual é a Igreja.

Tudo isso é extremamente significativo para nós, pois temos aqui algo especial. A descendência natural de Abraão fracassou no seu sacerdócio. Mas na descendência espiritual Deus alcançaria o Seu propósito, pois ela não está fundamentada no sacerdócio de Arão, e sim no sacerdócio de Cristo, no sacerdócio de todos os santos. Esse é um detalhe muito importante. E quando você vai estudando sobre a tribo de Levi, descobre que o sacerdócio de Arão foi temporário, por causa do pecado. Ele foi inserido por causa da idolatria do povo de Israel. Mas estudando a Bíblia, especialmente o Livro de Jeremias, capítulos 1:8, 5:31, 26:7-8, e Lamentações de Jeremias 4:3, vemos que o sacerdócio falhou. A nação de Israel foi levada para o cativeiro porque o sacerdócio falhou. Vemos nesse contexto os sacerdotes e os profetas de mãos dadas levando o povo para o engano, para a idolatria; vemos a complacência do sacerdócio.

Então, no plano natural Israel não conseguiu exercer o seu sacerdócio segundo a vontade de Deus. Mas, agora, no Novo Testamento, temos algo muito especial. Em Apocalipse 1:4-6 diz assim:

4 João, às sete igrejas que se encontram na Ásia, graça e paz a vós outros, da parte daquele que é, que era e que há de vir, da parte dos sete Espíritos que se acham diante do seu trono 5 e da parte de Jesus Cristo, a Fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos e o Soberano dos reis da terra. Àquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, 6 e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!”

Percebam, então, que a base de Deus para fazer com que Sua palavra se cumpra em nossas vidas é o Seu próprio caráter. E é isso que nós temos que considerar, é nisso quer temos que firmar o nosso coração. Esse sacerdócio do Novo Testamento não é um sacerdócio de uma classe apenas, de um grupo de pessoas, como vemos a tribo de Levi no Antigo
Testamento, mas o sacerdócio universal de todos os santos em Cristo. Deus só pode alcançar isso em Seu Filho. Antes da ordem sacerdotal de Arão havia outra ordem: a ordem de Melquisedeque (Gn 14:18), a ordem da qual Cristo procede no Seu sacerdócio. E é aqui que temos que compreender o fundamento do nosso próprio sacerdócio.

Nesses textos que lemos de Apocalipse 1:4-6 as palavras foram dirigidas às sete Igrejas da Ásia, que no aspecto profético relacionam-se conosco. E esse sacerdócio aqui não está relacionado com o sacerdócio araônico, e sim com o sacerdócio de Cristo. O que esses textos nos ensinam é que todos os salvos em Cristo Jesus são sacerdotes de Deus. Precisamos ter consciência do que isso significa em nossa experiência cristã prática.

Observem ainda algo nos versículos 5 e 6 quando dizem:

(...) pelo seu sangue (Isto é, o Senhor Jesus Cristo), nos libertou dos nossos pecados, 6 e nos constituiu (nos consagrou, nos fez) reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai (...).

Em Êxodo 29:1-9 encontramos os detalhes da consagração dos sacerdotes. Vemos nesses textos que todos os sacrifícios relacionados falam dos distintos aspectos da obra da cruz de Cristo Jesus para nos redimir. Tudo o que Ele fez por nós lá na cruz está representado nesses versículos, pelo novilho, o carneiro sem defeitos, os pães asmos, os bolos asmos amassados com azeite, o óleo da unção derramado. Dessa maneira é que o sacerdote era consagrado no Antigo Testamento. E sabemos que todas essas coisas são símbolos que nos levam a uma realidade no Novo Testamento. Quando lemos essa passagem de Apocalipse 1:4-6 vemos como somos feitos, constituídos sacerdotes para Deus. A Palavra diz que o Senhor Jesus nos amou e em Seu sangue nos lavou de nossos pecados e nos fez, nos consagrou – nós fomos consagrados com o sangue de Cristo Jesus. O que o Senhor Jesus realizou por nós na cruz é uma obra tão grande que, para entendê-la, temos que estudá-la com a ajuda do Espírito Santo. Somente assim entenderemos nossa posição como sacerdotes. Desde que uma pessoa crê e recebe o Senhor Jesus como seu Salvador, sua vida é limpa pelo sangue derramado na cruz. Essa pessoa não é uma pessoa inútil, uma pessoa qualquer. Ela está aqui, dentro de um propósito santo e eterno de Deus para exercer um sacerdócio diante de Deus, como também diante das pessoas.

Em Apocalipse 5:9-10 há algo claro para nós:

9 e entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação 10 e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra.”

Então, amados, vejam que no Antigo Testamento os sacerdotes eram somente os da tribo de Levi. Mas, agora, no Novo Testamento, os sacerdotes são de toda tribo, língua, povo e nação. Os sacerdotes não podiam entrar no Lugar Santíssimo sem estarem preparados. Eles tinham que se lavar e com muito temor entravam. Mas nós somos lavados por Cristo Jesus em Seu sangue e podemos entrar na santa presença de Deus. É o que diz Hebreus 19:10, que devemos ter intrepidez para entrar no Lugar Santíssimo.

Agora, vamos ler alguns textos muito importantes. Textos que, pela misericórdia de Deus e com a ajuda do Espírito Santo, vêm confirmar tudo isso que temos visto até aqui. 1 Pedro 2:4-5 e 9-10:

4 Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, 5 também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo.”

9 Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; 10 vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia.”

Temos aqui três aspectos.

· Casa espiritual – Somos uma casa espiritual, isto é, a Igreja. A Igreja, nós, os santos, pedras que vivem, somos uma casa espiritual para Deus;

· Sacerdócio santo – Somos um sacerdócio santo;

· Sacrifícios espirituais – Para oferecermos sacrifícios espirituais.

Por um lado, somos a casa espiritual, a habitação de Deus. E qual é a função da casa? O sacerdócio santo. Então, nossa edificação não é apenas como casa espiritual, mas também como sacerdócio santo. E para quê? Para oferecer sacrifícios espirituais a Deus – esse é o nosso culto, o nosso serviço, a nossa própria vida.

Mas não somente oferecer a Ele, mas oferecer dEle, porque diz o texto:

(...) a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.

Essa palavra virtudes no original é grandeza. Temos aqui algo muito especial a considerar. Nós, como um sacerdócio santo, ministramos a Deus – são sacrifícios espirituais, sobretudo o que fazemos e também o que somos. Mas também proclamamos as grandezas de Deus – então, nós ministramos de Deus. Ministramos a Deus e de Deus. Isso é muito importante.

O sacerdócio de Cristo é um sacerdócio extremamente elevado, muito mais elevado do que o sacerdócio de Arão. E os princípios que regiam o sacerdote de Arão eram os princípios da Lei. Agora, o Senhor Jesus tem o Seu sacerdócio da ordem de Melquisedeque. Então, por causa desse sacerdócio é que todos nós fomos inseridos no Seu corpo e na Sua vida. E nós estamos aqui justamente para compreender essa verdade. Não podemos falhar, não podemos menosprezar nossa vida cristã. Temos que entender que o papel do governo e da liderança cristã não é o de fazer o nosso papel, de nos minimizar. Precisamos compreender isso com muita clareza, pois esse é o desejo de Deus. Muitas pessoas estão perdidas com relação a esse assunto. Nós fomos chamados para uma responsabilidade muito grande, e não podemos falhar quanto a ela.

A Igreja não pode se equivocar com relação ao seu serviço, isto é, em relação aos sacrifícios espirituais. Esses sacrifícios espirituais são baseados na obra de Cristo, em tudo o que Ele realizou e consumou lá na cruz do Calvário. Aquilo que ministramos tem que estar de acordo com o caráter da obra da cruz – isso está relacionado ao nosso serviço, ao louvor, à adoração, ao culto em si. Tudo isso tem que estar de acordo com o caráter da obra e da Pessoa do Senhor Jesus. Esses são os sacrifícios espirituais. Temos, então, que ser claros no que se refere à nossa vocação. O cristão não deve fazer coisas sem saber por que faz. Se você não sabe por que vive a vida cristã, então você está sofrendo de ignorância espiritual. Não temos o direito de ser ignorantes, não podemos permitir o direito de ser ignorantes quanto aos assuntos espirituais. A vida cristã é algo que age de dentro para fora, e nunca de fora para dentro. Ela procede de dentro de nós, porque a vida eterna já começou dentro de nós. A vida cristã é algo que se apossa de nós, que nos cativa, nos governa, nos domina. Quando nos convertemos houve o despojamento do velho homem e o revestimento do novo. Não se trata de uma conformidade mecânica, mas sim que ponhamos em prática uma mudança inteligente e coerente com o Evangelho de Cristo Jesus – algo que já ocorreu e que já existe dentro de nós. Nós somos nova criatura e o espírito da nossa mente é que precisa ser tocado profundamente nessa mudança. O cristão não deve fazer coisas sem saber por que faz. Não deve fazer cegamente somente porque alguém disse para ele fazer. Ele precisa agir com discernimento ouvindo sempre a voz de Deus no seu interior, porque aquilo que fazemos tem um grande significado espiritual. Você tem que saber isso, saber que faz parte de um sacerdócio eterno e santo. Essa vocação é a vocação de todos os santos e temos que andar de modo digno dela. Temos um padrão de vida que tem que tocar as pessoas.

Que Deus fale ao seu coração e venha, de uma forma poderosa, revelar-se mais a você e lhe abençoar. Peço ao Senhor que ele venha abrir a sua mente e mostrar a importância de tudo isso que vimos na sua vida cristã prática, dia após dia. Entenda que a sua vida tem um conteúdo poderoso e extraordinário, e você não tem o direito de minimizá-lo. Você tem que maximizar, expandir, expressar aquilo que de Cristo está sendo formado, gerado, aquilo que de Cristo tem sido depositado na sua vida.

Que Deus lhe abençoe ricamente. Que Ele fale ao seu coração.