segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

ESTUDO DAS 42 JORNADAS NO DESERTO


Continuação da 19ª Estação – Queelata (parte 05)

Por: Luiz Fontes

CAPÍTULO 95

TEXTO: Números 16:8-11

Temos considerado até aqui alguns pontos fundamentais acerca dos assuntos que envolvem essa 19ª estação – Queelata. Já estudamos que este nome em hebraico significa “assembleia”. E quando estudamos a etimologia, do hebraico para o grego, chegamos à palavra “eclesia”, de onde advém a palavra “Igreja”. É daí que temos essa realidade estudada nesses dias, uma eclesia em crise, uma assembleia em crise; uma crise espiritual no meio da assembleia do povo de Deus. E aqui no contexto dessa estação, em Números 16, temos visto quando Coré, da tribo de Levi, Data e Abirão, da tribo de Ruben, homens preeminentes, homens que tinham o encargo da obra no serviço do Tabernáculo, chegam até Moisés com suas reivindicações. Vemos, nesse contexto, um espírito de ambição, uma compulsão excessiva pelo poder – o que é muito perigoso na obra de Deus.
Considerando ainda esse capítulo 16 do livro de Números, versículo 10, Moisés diz para aqueles homens:

“(...) procurais o sacerdócio”.

Na verdade, o sacerdócio era algo pertinente à tribo de Levi, mas essencialmente à casa de Arão. Somente da casa de Arão podiam sair os sacerdotes, os levitas, aqueles que se ocupariam com o serviço do Tabernáculo. Esses jamais podiam servir no sacerdócio, mas da casa de Arão sim. Aqueles homens não estavam compreendendo nada.
Nós precisamos ir a fundo nesse assunto, para podermos entender o quanto isso se aplica a nossa vida cristã hoje, à edificação da Igreja. Quantas crises e confusões têm ocorrido no meio do povo de Deus por falta de se atentar para os princípios espirituais. Ambição é uma coisa muito séria. É como a morte, nunca se farta. Ambição é a miséria enfeitada, é o veneno secreto, é a praga oculta executora de engano. Ambição é a mãe da hipocrisia, é a progenitora da inveja. O primeiro dos defeitos, a ambição, ofende a santidade, cega os corações, transforma medicamentos em doenças e remédios em males. Ainda quero dizer que a ambição nada mais é do que a avareza sobre as pernas de pau. Precisamos ser cuidadosos quanto a isso.
A ambição é o que vamos ver no coração de Coré, Datã e Abirão. Vejam que as palavras que Moisés fala aqui para Coré,

“(...) procurais o sacerdócio”,

revelam a natureza do problema. Sabemos que a intenção perfeita de Deus era que todo o Seu povo fosse um sacerdócio; Ele queria uma nação de sacerdotes. Olhem para Êxodo 19:6, quando Ele diz:

“Vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa”.

São essas palavras que o Senhor diz para o Seu povo. Mas em Êxodo 32 temos aquele episódio do bezerro de ouro, onde toda a nação de Israel cometeu um grave pecado. Quando Moisés demorou no monte Sinai, Arão fez um bezerro de ouro e o povo o adorou – com exceção da tribo de Levi. A tribo de Levi foi separada para ministrar diante de Deus – é aqui que Deus institui essas classes, tanto de levitas, quanto de sacerdotes. Então a tribo de Levi foi separada para ministrar diante de Deus e ser responsável por esses assuntos referentes ao Tabernáculo. Mas um detalhe é que só poderia haver sacerdotes da casa de Arão, e o sumo sacerdote, Coré, e seus aliados ambicionavam essa posição. A ambição deles ali era simplesmente por essa posição. Vejam as palavras de Moisés para eles em Números 16:9-10:

“9 Acaso, é para vós outros coisa de somenos que o Deus de Israel vos separou da congregação de Israel, para vos fazer chegar a si, a fim de cumprirdes o serviço do tabernáculo do SENHOR e estardes perante a congregação para ministrar-lhe; 10 e te fez chegar, Corá, e todos os teus irmãos, os filhos de Levi, contigo? Ainda também procurais o sacerdócio?”

O irmão Richard Baxter, um teórico puritano do passado, servo de Deus, expressou esse tipo de comportamento, esse tipo de ambição, da seguinte forma:

“Vigiai para que, movidos pela pretensa diligência ao vosso chamado, não vos torneis carnais e excessivamente cuidadosos de vossas ambições do sucesso mundano”.

Essas são as palavras de um irmão piedoso, e é com grande apreensão que eu abordo esse assunto. Não há como discorrer sobre ambição no ministério sem dar a impressão de estar julgando os outros. E quando falo isso, meus amados, coloco essa carapuça na minha própria cabeça, porque, afinal, quem sou eu para conhecer os pensamentos e intenções que moram no coração das outras pessoas. As motivações internas que nos dirigem formam uma confusa teia em que entram tanto a sinceridade, quanto a preocupação egoísta; a nobreza de caráter, como também o narcisismo. E todos nós podemos incorrer nesses erros. Estamos, portanto, em uma luta de foice no escuro, onde a qualquer momento podemos ser alvejados por pensamentos perigosos, motivações perigosas. Por mais que tenha o disfarce da simploriedade, todos nós estamos vivendo um momento crítico das nossas vidas com relação ao ministério e à obra, porque passamos por muitas experiências e precisamos ser vigilantes, diligentes, cuidadosos, para que não venhamos incorrer nos mesmos erros de Coré, Datã e Abirão.
Vejam que Arão não estava no sacerdócio porque quisera, foi Deus que instituiu o Sacerdócio Araônico. Esse assunto é sério. Lembram em 2Cr 26:17-21, quando o rei Uzias ofereceu sacrifícios sacerdotais? O sacerdote Azarias e oitenta sacerdotes vieram até o rei Uzias por causa desse ato. Eles vieram resistir ao rei Uzias por oferecer sacrifício. Acender o incenso não é uma prática dos reis, e sim dos sacerdotes. Vemos, então, que Azarias repreende Uzias dizendo que não competia a ele queimar incenso ao Senhor, mas aos sacerdotes, filhos de Arão, por terem sido consagrados para esse ministério. Então ele diz:

“Você transgrediu o santuário do Senhor”.

O rei não estava honrando a Deus com seu ato. E sabemos da consequência: Uzias foi ferido de lepra e morreu leproso.
Podemos ainda retornar a Levítico 10:1-2, onde vemos os filhos de Arão, Nadabi e Abiu, levarem fogo estranho ante a face do Senhor. E o que lhes ocorreu? Saiu fogo de diante do Senhor e os consumiu e eles morreram ali, perante o Senhor.
Amados, servir na obra de Deus é algo muito sério. Em Hebreus 5:4, diz:

“Ninguém, pois, toma esta honra para si mesmo, senão quando chamado por Deus, como aconteceu com Arão”.

Podemos nos dar conta da seriedade de tudo isso? Vejam quanto esse assunto é delicado: não podemos ir além de onde Deus nos colocou.
Voltando para Números 16, no versículo 11, Moisés, falando a eles, diz:

“Pelo que tu e todo o teu grupo juntos estais contra o Senhor”.

Observem esta palavra: “juntos”. Na versão brasileira de João Ferreira de Almeida esse texto está assim:

“Portanto tu e toda a tua companhia sois os que vos sublevastes contra Jeová”.

A palavra “sublevastes” significa “rebelião em massa, ou mesmo individual”. Eles não sabiam, mas era contra Deus que estavam se rebelando. Vejam a atitude hostil daqueles homens quando Moisés mandou chamá-los; vejam a que ponto eles chegaram. Em Números 16:12 o texto diz:

“Mandou Moisés chamar Datã e Abirão, filhos de Eliabe, porém eles disseram: ‘não subiremos’”.

Olhem ainda o versículo 13:

“Será que não basta você ter nos tirado de uma terra boa e rica a fim de nos fazer morrer neste deserto? E, além disso, ainda quer mandar em nós?”.

Amados, toda a revolta deles consistia no fato de Deus ter feito com que voltassem. Se estudarmos essas jornadas como temos feito até aqui, perceberemos, na 15ª estação, que eles desobedeceram ao Senhor quando não quiseram entrar na terra de Canaã. Quando os espias foram enviados e voltaram, dez deles retornaram com uma mensagem completamente negativa. O povo insistiu em não ir, e por causa dessa atitude Deus rejeitou aquela geração. Então nós sabemos que agora, em Queelata, a primeira estação da volta, eles vão peregrinar trinta e oito anos. É assim que temos que ler a história, é assim temos que entender. Agora, revoltados por causa disso, eles estão voltando ali pelo golfo de Ácaba. Eles não iriam mais entrar na terra de Canaã, não entendiam o caráter justo de Deus, não aceitaram a disciplina de Deus. Por isso, a maneira de expressarem a revolta era tocando na autoridade de Deus, na vida daqueles a quem Deus havia delegado autoridade. Não podiam tocar diretamente na autoridade de Deus, mas tocaram na autoridade delegada de Deus. Nós precisamos entender alguns exemplos da disciplina de Deus, porque que Deus nos disciplina.
Meus amados, as correções ministradas por Deus são nossas instruções; as correções de Deus, seus açoites, são nossas lições; suas chicotadas são os nossos mestres. Precisamos entender. Deus não nos levaria a passar pela disciplina de maneira tão forte se não fosse para eliminar as imundícies e as manchas que tendem a permanecer dentro de nós. Quando Deus ama, Ele trata conosco. Mas Ele nos aflige em amor, e sempre que o faz, cedo ou tarde o propósito DEle é nos ensinar lições que serão proveitosas por toda a eternidade. Houve um irmão chamado François Fileno. Ele disse assim:

“Deus nunca fere, a não ser por amor. E nunca tira nada, a não ser para dar”.

Quando Deus trata com a nossa vida, quando Ele vem com um propósito, até mesmo quando às vezes vem destruir o nosso conforto, Ele o faz com o único objetivo: destruir as corrupções que residem em nosso coração. Quando Ele nos leva às privações, e muitas vezes permite que passemos por elas, Ele tem o objetivo de fazer morrer a devassidão que se encontra dentro de nós. Então Ele faz isso, muitas vezes nos leva a muitas situações com o propósito de destruir o orgulho que tende a nos dominar. Alguém disse uma certa feita que o cálice mais amargo com Cristo é melhor do que o cálice mais doce sem Ele. A disciplina divina separa de nós aquilo que nos separa de Deus. E o maior castigo de Deus é Ele não nos disciplinar, permitir que venhamos seguir os nossos próprios caminhos. Será que todos nós podemos entender por que Deus faz coisas com as quais aparentemente não concordamos, mas que precisamos confiar? Isso é inevitável, nós precisamos confiar em suas mãos, nessas mãos furadas. Mesmo que o vento não esteja a favor, mesmo que tudo esteja contrário a nós, precisamos confiar nessas mãos que nos disciplinam, porque Ele deseja nos fazer participantes da Sua santidade.
Por não entenderem o propósito da disciplina, aqueles homens perderam a objetividade, deixaram-se levar por sentimentos malignos. Vejam o quanto isso é perigoso! Vejam o que eles disseram:

“Não basta você ter nos tirado de uma terra boa e rica, a fim de nos fazer morrer nesse deserto?”.

Essa “terra boa e rica” era o Egito. O Egito agora era uma terra boa e rica. Eles disseram que Moisés e Arão é que os havia tirado do Egito. Quanta cegueira! Será que podemos notar isso? Meus irmãos, olho para isso e vejo como nós também somos assim. Nós não compreendemos a profundidade do nosso pecado, de onde foi que Deus nos tirou; não damos conta da grandeza da redenção. Será que podemos listar as bênçãos divinas desde quando eles saíram do Egito? Será que você pode ver isso? Será que olhando da perspectiva da Palavra de Deus não ficamos um tanto quanto assombrados pela cegueira daquele povo?
Vocês se lembram de Êxodo 12:29, quando Deus livrou todos os primogênitos da casa de Israel da morte, quando o anjo passou à meia noite, matou todos os primogênitos do Egito e todos os primogênitos dos filhos de Israel foram guardados? Em Êxodo 13:21 Deus dá a eles a nuvem e a coluna de fogo. O Senhor ia diante deles numa coluna de nuvem para guiá-los pelo caminho, e durante a noite numa coluna de fogo para alumiá-los, a fim de que eles caminhassem de dia e de noite. Imaginem que milagre. Será que perderam a noção disso tudo? Lá em Êxodo 14:16 nós temos a passagem do Mar Vermelho. Eles estavam encurralados ali, havia os montes dos lados, o exército de Faraó atrás, o mar na frente, e Deus abriu o Mar Vermelho. Quando Moisés tocou com o seu cajado nas águas, aqueles dois paredões se formaram para que o povo de Israel passasse. Em Êxodo 15:25, quando eles atravessaram o Mar Vermelho, chegaram em Mara. Ali encontraram águas amargas. A Bíblia diz que Moisés colocou um lenho na água e assim ela se tornou potável, água doce para beberem e saciarem a sede. Em Números 16, quando estavam com desejo de comer carne, Deus dá para eles as codornizes, como também o Maná. Tudo isso Deus fez para alimentá-los. Imaginem como eles esqueceram tão depressa das provisões e dos cuidados de Deus. Isso é lamentável, mas muitas vezes nós também podemos ser assim; muitas vezes nós temos sido assim para com Deus. Como não temos dado valor ao que Deus é para nós. Que Deus nos ajude a entender tudo isso, e que Ele nos guarde de termos um coração que ambicione coisas, que ambicione posições, ambicione as coisas do mundo, seja lá o que for.
Amados irmãos e irmãs, que o Espírito Santo venha constranger o nosso coração a desejar uma única coisa: Cristo Jesus. Que Ele seja o foco da nossa vida, que Ele seja o alvo da nossa vida, porque eu sei que somente isso poderá nos guardar, somente isso poderá nos proteger, poderá guardar o nosso coração. Coré, Datã e Abirão estavam vivendo uma realidade da qual eles não tinham noção das consequências. Que Deus fale ao seu coração sobre tudo isso; que Ele ministre uma palavra de vida sobre este assunto para abençoar você, para lhe guardar, para que o seu coração esteja sempre focado, guardado para Cristo Jesus.

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