Por: Luiz Fontes
17ª Estação – Libna (parte 4)
Textos: Nm 33:20; Nm 14:30 e 15:2; Ef 2:1-5
Estamos estudando a 17ª jornada da peregrinação do povo de Israel pelo deserto. O texto correspondente a essa estação – Libna – é Nm 33:20. Sabemos que eles passaram por Libna assim que saíram de Rimom-Perez.
Já aprendemos que Libna significa “brancura”, “aquilo que é branco”. Outra coisa que aprendemos também é que em sua passagem por Ritma, ficou evidenciado a incredulidade, a falta de fé, a falta de confiança daquele povo para com Deus. Em Rimom-Perez pudemos ver sua presunção, sua autoconfiança – como, além de incrédulos, eles eram pessoas cheias de si mesmas. E vimos que Deus tratou com eles, mas, de uma forma tão graciosa, também se revelou àquele povo. Deus revelou-se para aquela nação como o Deus cheio de graça e de misericórdia. Embora Ele discipline o pecador (porque Ele não compactua com o pecado; Ele trata conosco), Deus, de forma tão maravilhosa, revelou os meios para que o homem pudesse ser purificado do seu pecado, da sua iniquidade (Nm 15).
Em Nm 15:2 Deus diz para os filhos de Israel:
“Quando entrardes nas terras das vossas habitações, que Eu vos hei de dar”.
Esse texto é muito sugestivo, porque no versículo 30 de Nm 14 Deus diz assim:
“Não entrareis na terra”.
Por um lado, o Senhor diz: “Não entrareis”; por outro, Ele diz: “Entrareis”. No aspecto espiritual, isso é muito interessante! Significa que com a incredulidade eles jamais poderiam entrar. Enquanto ficassem confiando em si mesmos, eles jamais poderiam entrar. Há O meio de o homem entrar. E quando estudamos a palavra de Deus vemos isso de forma tão magnífica! Descobriremos a provisão de Deus em Cristo. O capítulo 15 do livro de Números revela para nós a provisão de Deus em Cristo.
Meu irmão e minha irmã, se você abre a sua Bíblia em Efésios 2, você vê que nos versículos de 1 a 3 Paulo diz:
“1 Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, 2 nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; 3 entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais.”
Você vê que Paulo diz que “nós éramos por natureza como filhos da ira, como os demais”. Ele vai dizendo todas essas coisas concernentes ao que vimos em Ritma e também em Rimom-Perez – a questão da nossa vida de incredulidade, da vida sem Deus, da vida cheia de autoconfiança, soberba, orgulho e pecado. Só que, quando inicia o versículo 4 de Efésios 2, ele insere uma frase muito rica: “Mas Deus”. Essa frase é formada por uma conjunção adversativa que, após uma negativa, estabelece a verdade sobre determinado assunto. Essa frase revela para nós aquilo que em si, de si e por si é o Evangelho. Essa conjunção adversativa, mas, é usada nesse contexto para indicar um contraste e também uma conexão.
Vejamos o que Paulo diz em At 13:26-30:
“26 Irmãos, descendência de Abraão e vós outros os que temeis a Deus, a nós nos foi enviada a palavra desta salvação. 27 Pois os que habitavam em Jerusalém e as suas autoridades, não conhecendo Jesus nem os ensinos dos profetas que se lêem todos os sábados, quando o condenaram, cumpriram as profecias; 28 e, embora não achassem nenhuma causa de morte, pediram a Pilatos que ele fosse morto. 29 Depois de cumprirem tudo o que a respeito dele estava escrito, tirando-o do madeiro, puseram-no em um túmulo. 30 Mas Deus o ressuscitou dentre os mortos”.
Aqui em Antioquia Paulo está dando testemunho acerca daquilo que os judeus fizeram contra a pessoa do Senhor Jesus. Esses são os versículos 26 a 29. Agora olhem o versículo 30:
“30 Mas Deus o ressuscitou dentre os mortos”.
Mais uma vez nós vemos essa frase, que é uma chave que abre para nós a revelação daquilo que é o Evangelho de Cristo. Assim também vemos em Efésios 2:4:
“4 Mas Deus, sendo rico em misericórdia (...)”
No versículo 5 ele diz:
“5 e estando nós mortos em nossos delitos (...)”
O que é isso? É Ritma, é Rimom-Perez. São as duas estações anteriores: incredulidade, presunção, orgulho, cegueira. Tudo isso caracteriza uma vida morta.
“5 e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, —pela graça sois salvos”.
Consideremos então essa frase – “Mas Deus”. Ela revela para nós o único caminho pelo qual o homem pode, de fato, ser salvo. Em meio àquelas trevas do pecado, em meio às trevas da presunção, do orgulho, da incredulidade, Deus estava oferecendo para aquele povo o meio de salvação. E a salvação é “Mas Deus”. A salvação não começa em nós. A salvação não começa com a nossa decisão. Ela começa com a determinação de Deus em salvar o homem. E assim, o apóstolo diz:
“4 Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou,
5 e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, —pela graça sois salvos”.
Podemos notar três palavras nesses versículos 4 e 5 de Ef 2: misericórdia, amor e graça.
A misericórdia está relacionada a nossa condição presente, isto é, o estado de decadência em que o homem se encontra, sem Deus. É justamente isso que encontramos nessas duas jornadas – Ritma e Rimom-Perez. Um estado de completa ignorância e de incredulidade.
Quando chegamos a esta outra palavra – ao amor de Deus –, somos conduzidos pelo Seu Espírito a mergulhar naquilo que é mais profundo em Deus, naquilo que jamais poderemos compreender por nós mesmos. O amor de Deus é algo infinito, incalculável, e o homem jamais chegará à compreensão total desse amor divino. Paulo toca justamente isso. E esse amor, que é a expressão mais profunda do Ser de Deus, foi derramado por nós lá na Cruz do Calvário. Paulo vem nos mostrar, nos revelar, essa grandeza, porque se trata de algo impressionante. Eu e você temos que ver tudo isso, ver que Deus nos Salvou por causa do Seu amor, do Seu amor por nós – esse amor que Ele exerceu por nós.
Percebemos então que o apóstolo vai empilhando: misericórdia, amor, e depois, graça! Paulo não se contém em dizer apenas uma verdade. Ele vai empilhando verdade sobre verdade, para nos conduzir a essa visão majestosa do supremo propósito de Deus. E nesse sentido ele insere mais um termo – graça. Esse termo sugere que Deus, de Si e por Si, faz algo para o homem. Ele faz aquilo que é impossível ao homem fazer de si mesmo e para si mesmo. Graça é uma palavra muito importante, talvez uma das mais difíceis de se estudar na Bíblia Sagrada, devido a sua profundidade. Mas, aqui nessa Epístola aos Efésios, o Espírito Santo vem nos mostrar a graça de Deus de uma forma tão gloriosa, revelando Deus fazendo algo para o homem. Isso significa que Deus, por meio do Seu Espírito, em Cristo Jesus, está Se manifestando, Se dispensando, Se doando ao homem. Ele está vindo, no estado mais decadente do homem, para poder alcançá-lo, resgatá-lo, livrá-lo da condenação do inferno.
Mais uma vez, notamos esta frase: “Mas Deus”. Com essas duas palavras, chegamos à introdução da mensagem cristã, à mensagem peculiar e específica que a fé cristã tem para nos oferecer. Num sentido, essas palavras contêm em si e por si a totalidade daquilo que é o Evangelho de Cristo. Vejam que essa palavra “mas” introduz um ponto de transição entre o estado decaído e desesperador em que o homem vivia, sem Deus, e a esperança e consolação no Evangelho.
Em seguida, vemos estas três palavras: misericórdia, amor e graça. A misericórdia manifesta-se por causa da pobreza da nossa condição; a graça fala da glória radiante da posição que temos em Cristo. O sentimento que Deus tem para conosco quando somo pecadores é misericórdia. E a obra que Ele realiza para nos tornar Seus filhos é graça. A misericórdia vem do amor e resulta em graça. Trata-se de um detalhe muito importante que temos que ver, juntando Nm 15 com Ef 2:1-5. Fazendo isso, teremos um deslumbre glorioso acerca desses assuntos. Subitamente, o Espírito Santo usa Moisés para escrever esse capítulo 15 de Números, em uma situação de profundas trevas, na qual Deus resgata o homem, mostrando o caminho da redenção. Vemos aqui que não há méritos ou bondade residentes em nós que levem Deus a nos perdoar. Temos que considerar isso hoje, pois somos perdoados porque Deus, na Sua livre graça, enviou Seu único e amado Filho a este mundo de pecado, de horror e vergonha, enviou-O à Cruz, para morrer por nós.
Is 53:6 diz que o Senhor fez cair sobre o Seu Filho a iniquidade de todos nós. Isso significa que Deus fez cair sobre Seu Filho a Sua ira – a ira contra os nossos pecados, a ira contra o pecado. A ira de Deus é uma doutrina que está em toda a Bíblia. Trata-se de um fato e ninguém poderá contestá-la. Todos nós estamos envolvidos nessa doutrina, e dela depende nosso destino eterno. Nunca entenderemos o amor de Deus enquanto não compreendermos a doutrina da ira de Deus. E você, meu irmão, minha irmã, precisa entender que a ira de Deus é nada mais nada menos do que Sua manifestação, Sua indignação santa, baseada em Sua justiça.
Quando lemos Gn 3:24, vemos que Deus lançou o homem fora do jardim do Éden e colocou ali querubins, com uma espada inflamada, que andavam ao redor para guardar o caminho da árvore da vida. Essa espada inflamada significa a espada da justiça de Deus. É a espada da ira, da punição; é Deus punindo o homem por causa do seu pecado. Podemos ver aqui a ira de Deus contra o pecado, contra a rebelião do homem. No Novo Testamento, do começo ao fim, essa doutrina está claramente exposta. O primeiro pregador acerca do Evangelho do reino foi João Batista e sua mensagem estava baseada na doutrina da ira de Deus. Vemos isso em Mt 3:7, quando diz:
“Vendo ele, porém, que muitos fariseus e saduceus vinham ao batismo, disse-lhes: Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura?”
Vejam que é sobre a ira de Deus que João Batista prega. Essa também foi a mensagem do Senhor Jesus. Sua mensagem foi baseada na justiça de Deus, em Sua santa indignação contra o pecado. Em Jo 3:36 Ele diz:
“Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.”
O apóstolo Paulo enfatiza a mesma verdade. De modo claro, em Rm 1:18, ele diz:
“A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça.”
Em Ef 5:6 ele disse:
“Ninguém vos engane com palavras vãs; porque, por essas coisas, vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.”
A ira de Deus indica que há dentro dEle uma intolerância santa contra a idolatria, a imoralidade, a incredulidade, a injustiça, a perversão do homem, contra o mal. Se pudermos olhar isso na palavra de Deus, veremos que essa é a verdade, não temos como mudá-la. Deus não é complacente com o pecado. Quando ocorre a ira de Deus é porque algo em Seu ser, essencial, moral, é provocado pelo pecado. E aquilo que está dentro dEle deve sair. Aquelas exigências de Sua própria natureza e caráter devem ser preenchidas mediante a ação apropriada de Sua parte.
Quando estudamos a palavra ira, no hebraico, vemos que uma das palavras usadas para ira é Ka’ac. Ela é empregada especialmente pelo profeta Ezequiel, em Ez 16:26:
“Também te prostituíste com os filhos do Egito, teus vizinhos de grandes membros, e multiplicaste a tua prostituição, para me provocares à ira.”
Essa palavra, ira, é Ka’ac. Significa ser completo, terminado, realizado. Sempre em seu contexto ela indica que algo foi terminado; algo que chegou ao fim.
Eu e você precisamos saber que quando Deus se ira, Ele tem que derramar a Sua ira. E ela só cessa, quando for cumprida. E isso Deus realizou em Cristo Jesus. Deus realizou na pessoa do Senhor Jesus toda essa indignação contra os nossos pecados. Ele derramou sobre Seu próprio Filho, a quem Ele tanto ama, a quem Ele ama eternamente. Então, ao estudarmos tudo isso, compreendemos o que de fato aconteceu ali em Rimom-Perez e o que está acontecendo em Libna: Deus revelando o caminho da redenção. Isso nos fala profundamente!
Em Romanos nos deparamos com dois aspectos da nossa salvação: o perdão dos nossos pecados e a libertação do poder do pecado. Precisamos entender a diferença entre pecado e pecados.
Pecado refere-se ao poder dentro de nós que nos motiva a cometer atos pecaminosos. Sabemos que há, dentro de nós, algo que nos motiva, nos obriga a ter certas inclinações espontâneas que desagradam a Deus, que ferem o caráter santo e justo de Deus. E essas ações nos induzem para o caminho da concupiscência. Rm 7:8,16,17:
“8 Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, despertou em mim toda sorte de concupiscência; porque, sem lei, está morto o pecado.”
“16 Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. 17 Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim.”
Temos então o pecado como uma lei que controla nossos membros. Ainda em Rm 7:23, o apóstolo diz:
“23 mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros.”
Existe algo dentro de nós, algo que nos obriga, nos induz ao pecado. Algo que nos leva a pecar. Esse é o pecado, como um hábito, a disposição interior, dentro de nós.
Já os pecados, referem-se aos atos pecaminosos individuais, específicos, que cometemos exteriormente. Está relacionado com nossas ações e são cometidos um após o outro.
Então, na Bíblia, os pecados estão relacionados com a nossa conduta, enquanto o pecado está relacionado com a nossa natureza. Por essa razão, Deus derramou Sua ira contra os nossos pecados e contra nosso pecado, em Seu Filho. O sangue vertido do Seu Filho, na morte, para satisfazer as exigências de Deus, realiza em nós uma obra profunda. É por isso que necessitamos tanto do sangue de Cristo, como também da Cruz de Cristo. O sangue trata com aquilo que fizemos e a Cruz trata com aquilo que somos. O sangue nos purifica da corrupção dos pecados e a Cruz atinge a raiz da nossa capacidade de pecar. É por causa do sangue de Cristo que fomos justificados diante de Deus. Rm 3:23:
“23 pois todos pecaram e carecem da glória de Deus”.
Em Rm 5:8-9 Paulo diz:
“8 Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. 9 Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.”
Quando olhamos para a natureza da Queda do homem, vemos que o pecado entra na forma de desobediência para criar, em primeiro lugar, a separação entre Deus e o homem. E ainda o pecado traz ao homem um sentimento de culpa, pois oferece a satanás a possibilidade de nos acusar diante de Deus. E aqui é que nós vemos essa grande obra de salvação que Deus realizou em Cristo ao nosso favor. E essa obra trata com três áreas da nossa vida: o pecado, a culpa e a acusação de satanás. E, pelo sangue de Cristo, Deus tratou com o pecado, com a culpa e com essas acusações de satanás contra nós diante de Deus.
Segundo a Bíblia, a palavra de Deus, o sangue é para expiação. Por isso ele se relaciona com nossa posição diante de Deus. Se desejamos entender o poder do sangue de Cristo, precisamos compreender o que ele significou para Deus. O sangue é, pois, primariamente, para Deus. No Livro de Êxodo 12:13, tem uma frase linda, que diz:
“quando Eu vir o sangue”.
Isso foi dito por Deus quando Ele mandou o povo de Israel sacrificar o cordeiro e colocar o sangue nos umbrais da porta. Aquele sangue nos umbrais, na parte de fora, era para Deus ver. E é isto que Deus vê em nós: a obra de Cristo Jesus. Por isso, estamos perdoados; por isso Deus realizou essa obra de graça, de amor e de misericórdia por nós. Que você possa compreender isso, possa entender essa majestosa, sublime, obra que Deus está fazendo em sua vida – obra que Ele fez e que está fazendo ainda. Estamos agora no processo de conformação. Deus realizou uma obra completa, plena, e essa obra nos vivifica, nos justifica, nos santifica e irá nos glorificar.
Que Deus lhe abençoe com esta rica, santa e poderosa palavra.
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