domingo, 22 de agosto de 2010

AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 71


AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 71

14ª Estação – Hazerote (parte 2)

TEXTOS: Números 33:17; Números 12:1-10; Levítico 13 e 14


Depois que os filhos de Israel partiram de Quibrote-Hataavá, a 13ª estação, o Senhor trouxe a ordem da marcha. Vimos ali como as coisas eram ordenadas por Deus e como eles deveriam caminhar e viver como o povo de Deus na Terra. Em seguida, a partir de Números 12:1, estudando a 14ª estação, Hazerote, vemos Miriã e Arão falar com Moisés acerca da mulher cuxita que ele havia tomado como esposa. Além disso, eles questionam: “Será que o SENHOR tem falado somente por meio de Moisés? Será que não tem falado também por meio de nós?”. Sabemos que essa atitude de Arão e Miriã entristeceu grandemente o coração de Deus.


AUTORIDADE ESPIRITUAL

A questão da autoridade espiritual é um assunto muito sério na vida cristã. De acordo com Romanos 12:4, no corpo de Cristo há muitos membros e cada um com seu lugar e funções particulares, porque Deus fez todos os membros diferentes uns dos outros. Amados, há uma pergunta que devemos considerar: Como todos esses membros, com suas variadas funções, podem ser ajustados e ligados em um só corpo? É necessário compreendermos que toda a autoridade no corpo de Cristo está na Cabeça – e a Cabeça é Cristo. Cristo é o Cabeça da Igreja. O primeiro princípio do viver do corpo de Cristo, isto é, da Igreja como corpo de Cristo, é estar em sujeição à autoridade de Cristo, à autoridade da Cabeça. Isso porque a própria existência do corpo com suas funções e variedades depende da autoridade. Sempre que a autoridade perde seu terreno em nós, o corpo é imediatamente paralisado. Aquela parte do corpo que é desobediente é a parte que experimenta a paralisia. O corpo que não se sujeita ao comando da cabeça é apenas um corpo paralisado.
Meus irmãos, todos nós temos que entender que onde existe a vida, existe também a autoridade. É inconcebível rejeitar a autoridade e ainda continuar vivendo uma vida plena. Todos os que estão cheios de vida são obedientes à autoridade. Tomemos como exemplo o nosso próprio corpo. Olhemos para um dos membros do nosso corpo (para a mão ou o pé – qualquer uma das partes). Como a mão poderá funcionar se não tiver a vida, a autoridade, o comando que vem da cabeça? Todos os membros do nosso corpo só podem receber vida se estiverem intimamente ligados à autoridade, em sujeição ao viver natural que existe no corpo, sem nenhuma interferência. O próprio viver da mão revela que a cabeça é capaz de dirigi-la, de utilizá-la como quer. Assim também é com respeito à vida cristã, com respeito a nós enquanto membros do corpo de Cristo. Portanto, o primeiro princípio para cada membro que vive no corpo de Cristo é obedecer ao Senhor. O Senhor Jesus é o Cabeça. Se você e eu não somos tratados ao ponto de nos tornarmos obedientes, sujeitos a Ele, então o que sabemos do corpo de Cristo é meramente doutrinário por natureza.
Meus irmãos e irmãs, por isso necessitamos tanto do trabalhar da cruz de Cristo em nossa vida; que o Senhor trabalhe Sua vida em nós, através da Palavra, através do Espírito Santo; que Ele persista operando poderosamente em nós, para que venhamos buscar a obediência diariamente, em todo tempo. Não só precisamos buscar a oportunidade que nos faça avançar espiritualmente a fim de nos tornarmos pessoas maduras, adequadas, pessoas que verdadeiramente correspondam ao caráter de Cristo, mas também precisamos buscar diante de Deus a oportunidade de viver uma vida sujeita, uma vida obediente. Precisamos aprender a obediência. Então, temos aqui um primeiro princípio, mas há também outro princípio a ser considerado.
Esse segundo princípio do viver do Corpo de Cristo é que nenhum membro tem qualquer autoridade, pois a autoridade está somente na Cabeça. Seria um grave erro se um membro alegasse possuir autoridade em si mesmo. O membro não possui autoridade direta, ele tem apenas a autoridade que lhe foi delegada pela Cabeça. Essa autoridade não é apenas posicional, mas totalmente decorrente da vida. Ela não vem por meio da nomeação, mas pelo próprio ser. Se um membro não é um olho, o corpo não pode estabelecê-lo como olho. Se não é mão, o corpo não pode fazer dele mão pelo simples fato de nomeá-lo. Um membro tem autoridade de segurar ou de ver, somente porque ele pode segurar ou ver. Ele atua de acordo com essa norma. A mão não pode querer ser o olho e o olho não pode querer ser a mão. Todos os membros foram colocados no corpo dentro de uma disposição divina para aquilo ao qual Deus determinou. Será um erro gravíssimo se na vida da Igreja a autoridade estiver ligada à posição e não à vida. E hoje vemos claramente que a autoridade está relacionada com a posição que a pessoa tem e não com a própria vida. Se uma pessoa é nomeada por causa da sua posição social e não por causa da sua espiritualidade, isso contraria naturalmente a própria realidade cristã. A Palavra de Deus nos mostra que a autoridade está na vida e não na posição ou no histórico de alguém. A autoridade é estabelecida em uma pessoa em decorrência do seu viver e não por meio da nomeação. Essa pessoa em sua vida pessoal e corporativa experimentou o tratamento em questões práticas e aprendeu o que outras pessoas ainda estão por aprender. No corpo de Cristo toda autoridade procede da vida e não da posição que a pessoa ocupa ou tem – seja social, seja onde for, ou como for. Nossa visão de autoridade ainda é uma visão muito equivocada, está muito ligada à própria deformação do mundo e não às questões práticas da Palavra de Deus. Ainda que numa Igreja local haja nomeações pela direção de Deus, ainda assim não devem ser feitas de acordo com a posição social, de acordo com a capacidade intelectual, mas de acordo com a vida, com a vida espiritual. Quando a vida e a nomeação concordam, você deve se submeter. De outro modo, a vida cessará em você e você será deslocado do corpo, significando, com isso, que você não se mantém firmemente ligado à autoridade da Cabeça.
Portanto, meus irmãos e irmãs, na Igreja do Senhor Jesus precisamos aprender a submeter-nos uns aos outros. Se os membros não se submetem mutuamente, a vida mencionada em Romanos 8 não poderá se manifestar. Pelo contrário, os irmãos sentirão com se o ar lhes faltasse. Dificilmente eles conseguirão prosseguir. Porém, aqueles que discernem o Corpo de Cristo, consideram a sua missão a mais jubilosa prática do viver cristão. Para concluir este ponto, vamos ler Filipenses 2:1-3:

1 Se há, pois, alguma exortação em Cristo, alguma consolação de amor, alguma comunhão do Espírito, se há entranhados afetos e misericórdias, 2 completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento. 3 Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo.


A LEPRA – FIGURA DO PECADO

Agora, gostaria que víssemos um outro episódio aqui em Hazerote que, quanto ao caráter da vida Cristã, tem muito a nos ensinar, a nos conduzir. Números 12:9-10 diz assim:

9 E a ira do SENHOR contra eles se acendeu; e retirou-se. 10 A nuvem afastou-se de sobre a tenda; e eis que Miriã achou-se leprosa, branca como neve; e olhou Arão para Miriã, e eis que estava leprosa.

Vejam que episódio triste. Agora vemos Miriã leprosa. Ao lermos Levítico 13 e 14, encontraremos alguns princípios espirituais acerca da questão da lepra. Nesses dois capítulos, vemos que o pecado do homem e a sua purificação são um dos grandes temas da Bíblia. Enquanto no Novo Testamento temos a realidade, no Antigo Testamento o princípio espiritual nos é revelado através dessas figuras. Nenhum capítulo pode revelar tanto o poder e a intensidade do pecado de uma forma figurativa como os capítulos 13 e 14 de Levítico. Então, nesse caso de Miriã, vemos que a lepra é resultado da rebeldia, da desobediência. Miriã ficou leprosa por causa da sua desobediência e por causa da sua rebeldia. A lepra é uma figura do pecado e foi justamente isso que ocorreu na eternidade passada, quando Lúcifer rebelou-se contra a autoridade de Deus.
Quando estudamos essa questão da lepra prefigurando o pecado, encontramos o lado sombrio do pecado. Além disso, vemos que o propósito do Senhor através desse assunto é mostrar-nos a necessidade de constante vigilância em relação à própria natureza pecaminosa que herdamos de Adão e como o pecado não confessado pode afetar a comunhão da Igreja e a nossa comunhão com Cristo. Temos que considerar tudo isso com muita seriedade porque ao estudarmos vemos que o pecado, quando não tratado, se torna contagioso. A Bíblia não esconde de nós o lado terrível e mortal do pecado, dessa terrível doença que já nasce com o homem. Assim como a lepra está na carne, também o pecado está na natureza do homem. Assim como a lepra começa como uma marca insignificante e cresce rapidamente, da mesma forma a ação do pecado é progressivamente terrível e estende-se a todos os aspectos da nossa vida. Assim como a lepra, o pecado também é repugnante e quase incurável (a cura efetuada por Cristo Jesus é o único caminho pelo qual o homem pode alcançar vitória sobre o pecado). Do mesmo modo como a lepra separava as pessoas umas das outras (porque o leproso tinha que ser colocado fora do arraial), assim também o pecado nos separa uns dos outros. Tudo isso é tão sério!
Consideremos esse episódio com Miriã, porque aqui há uma advertência solene de Deus para nós. Segundo o ritual mosaico presente no Pentateuco, dentre todas as funções que eram desempenhadas pelos sacerdotes, nenhuma requeria mais atenção e paciência, ou adesão mais rigorosa às instruções divinas contidas no guia do sacerdote, do que o discernimento da lepra e o seu tratamento conveniente. Duas coisas requeriam solicitude e vigilância por parte do sacerdote: primeiro, a pureza da congregação e, segundo, a graça que não podia admitir a exclusão de qualquer membro, salvo por motivos claramente determinados. A santidade não podia permitir que continuasse dentro da assembléia, dentro da congregação, ou mesmo do arraial, qualquer pessoa que devesse ser excluída. E, por outro lado, a graça não podia permitir que estivesse fora quem deveria estar dentro. Por isso, o sacerdote tinha a mais instante necessidade de ser vigilante, calmo, sensato, paciente, terno e muito experiente para não fazer o julgamento errado. Nenhum caso deveria ser julgado e decidido precipitadamente. Em todas as situações os sacerdotes não deveriam ser guiados por seus sentimentos, pensamentos ou sabedoria. Uma simples negligência, um simples descuido, podia ter graves consequências, porque ninguém deveria se afastar da congregação de Israel se de fato não estivesse leproso.
Então, a lepra prefigura o pecado. Considerando essa doença do ponto de vista físico, nada poderia ser mais asqueroso. E, sendo inteiramente incurável, pode oferecer-nos um quadro tão vivo e aterrador do que significa o pecado – o pecado na natureza humana, o pecado nas nossas circunstâncias, o pecado na vida e na comunhão do corpo de Cristo. Por que a lepra era uma doença terrível e repugnante? Não somente porque o seu fim era a morte, mas porque cada parte do corpo infectado por essa terrível doença ficava morto enquanto o corpo estava vivo. A lepra é uma figura da morte, com o seu poder, consumindo a vida. A descrição da Bíblia é notável. Aparece como uma mancha branca e brilhante – parece não haver motivo para inquietação. Provérbios 14:12 diz:

12 Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte.

Isso é muito claro para nós. Precisamos ser cuidadosos quanto à questão do pecado. A princípio apresenta certo atrativo para aquele que está contaminado, uma mancha branca e brilhante, quando, na realidade, a morte está ali. Vejamos Levítico 13, a lepra pode manifestar-se em qualquer parte do corpo, como também o pecado pode manifestar-se em diferentes aspectos, em diversas situações. A lepra é uma notável imagem do homem em estado degradante diante de Deus. Levítico 13:2 diz:

2 O homem que tiver na sua pele inchação, ou pústula, ou mancha lustrosa, e isto nela se tornar como praga de lepra, será levado a Arão, o sacerdote, ou a um de seus filhos, sacerdotes.

Esse sintoma de enfermidade manifesta um mal interior profundo. E muitos irmãos estão sofrendo com isso. Esta inchação vem de dentro para fora e revela aquilo que está há muito tempo escondido dentro de nós. Vemos aqui uma figura do nosso orgulho interior que nos impede de amar, de perdoar – o orgulho que domina o homem, que está lá dentro. Levítico 13:19 diz assim:

19 e no lugar da úlcera aparecer uma inchação branca ou mancha lustrosa, branca que tira a vermelho, mostrar-se-á ao sacerdote.

Temos aqui uma figura dos deleites temporais do pecado. Hebreus 11:25 diz que Moisés escolheu “antes ser maltratado com o povo de Deus do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado”, dos prazeres do mundo.
Assim também é o pecado, essa mancha, essa inchação lustrosa, brilhante, que aparece. Ela prefigura o pecado, seus deleites, o orgulho, essas coisas escondidas que estão na nossa própria carne. Assim como essas manchas, o pecado oferece seus prazeres, ostentando um aspecto brilhante. Mas é aqui que temos que perceber o seu caráter sedutor e destruidor. Levítico 13:3 diz:

(...) o sacerdote o examinará e o declarará imundo.

O leproso sabe que é imundo porque o sacerdote o declarou. Assim, sabemos que somos pecadores porque a Palavra de Deus declara. O pecado não é um mal superficial que nos ataca, e sim algo terrível que está nos nossos corações.
A Palavra de Deus diz em Jeremias 17:9:

9 Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?

Nosso querido Pai celeste sabe que não estamos dispostos a crer que o nosso coração é desesperadamente corrupto. Temos dificuldade para aceitar que o nosso estado é tão avançado, tão grave e que estamos num estado de degradação cuja doença é incurável. Temos dificuldade para aceitar que o nosso estado é tão terrível, que necessitamos que a Palavra de Deus nos convença. Tiago 1:23-24 diz:

23 Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; 24 pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência.

Assim somos nós. Muitas vezes não nos damos conta da gravidade, da seriedade, de como temos vivido a nossa vida. A experiência com a graça do nosso Senhor Jesus Cristo e o conhecimento do Seu amor por nós é o único caminho que pode nos libertar completamente do poder insidioso e terrível do pecado em nós. Somos incapazes por nós mesmos de amar a Deus; somos incapazes por nós mesmos de vencer o pecado; somos incapazes por nós mesmos de amar os irmãos; somos incapazes por nós mesmos de viver a vida da Igreja adequadamente; somos incapazes por nós mesmos de proclamar o testemunho do Senhor; somos incapazes por nós mesmos de vencer o mundo, a carne e o diabo. Por essas e outras razões fomos levados à Cruz e morremos com o Senhor Jesus. Assim como diz Paulo em Colossenses 3:3, nossa vida está oculta nEle. Somente em Cristo nós poderemos ser libertos desse poder terrível, dessa praga perversa – do pecado.
Que o Senhor nos liberte; que o Senhor nos ajude. Que você possa refletir em tudo isso; que você possa ver claramente o seu estado diante de Deus por causa da Palavra que Ele está falando ao seu coração e, assim, perceber como a lepra era uma doença tão terrível naquele tempo, como também o é hoje. Mas naquele tempo era muito mais. Hoje há cura, naquela época não havia. E, graças a Deus, hoje há cura. O poder do sangue de Cristo Jesus nos liberta do poder do pecado que nos oprime e nos afasta de Deus e da comunhão com os irmãos. Que o Senhor nos ajude; que o Senhor nos guarde; que a Sua Palavra esteja em nós e possa ricamente nos conduzir mais e mais à própria vida de Cristo Jesus. Que Deus lhe abençoe!

Por: Ir. Luiz Fontes

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