segunda-feira, 30 de agosto de 2010

As 42 Jornadas no Deserto

15ª Estação – Ritma – Parte 01
Texto: Êxodo 33.18


Números, capítulo 33 e o versículo 18, diz assim:

“partiram de Hazerote e acamparam-se em Ritma”

Vamos estudar hoje a 15ª estação da peregrinação do povo de Israel pelo deserto.
A descrição detalhada desta estação se encontra tanto no livro de Números como também no livro de Deuteronômio.
É interessante notarmos que esta é a única das 42 estações que é repetida na Bíblia, isto é, tanto em Números como em Deuteronômio. É muito importante compararmos estas duas leituras, porque iremos notar alguns detalhes diferentes de uma leitura para a outra. E estas diferenças não têm como objetivo contrastar, e sim, complementar.
A parte desta estação que se encontra no livro de Números vai desde o capítulo 12 e o versículo 16 até o capítulo 14 e o versículo 39. E volta a ser contada em Deuteronômio capítulo 1, desde o versículo 19 até o versículo 40.
Vamos primeiro ler Números, capítulo 12 versículo 16. Depois, na medida em que formos prosseguindo, estudando, iremos ler juntos os demais textos que compõem esta estação.
Em Números capítulo 12 versículos 16 e o capítulo 13 versículos de 1 a 3, diz assim:

“Porém, depois, o povo partiu de Hazerote e acampou-se no deserto de Parã. Disse o SENHOR a Moisés: Envia homens que espiem a terra de Canaã, que eu hei de dar aos filhos de Israel; de cada tribo de seus pais enviareis um homem, sendo cada qual príncipe entre eles. Enviou-os Moisés do deserto de Parã, segundo o mandado do SENHOR; todos aqueles homens eram cabeças dos filhos de Israel.”

Aqui nós temos aquele episodio onde o Senhor ordena a Moisés que envie 12 espias. Isso é muito significativo. Porque agora nós vamos estudar o significado dos nomes destes espias. Porque o significado destes nomes fornece para nós uma visão clara de toda a situação espiritual que envolve esse episódio. Precisamos entender porque o Espírito Santo quis nos dar os nomes desses espias, porque foi ele quem os escolheu. Quando investigamos os nomes destes 12 espias no original hebraico, atentando para a raiz de cada palavra segundo o original hebraico, entenderemos pela sabedoria do Espírito Santo a razão espiritual que envolve essa situação. Alguns destes nomes foram estudados por alguns estudiosos e há certos significados que eles dão, mas que precisam ser investigados mais profundamente, conhecer a raiz de cada palavra. Porque nestes nomes seguramente Deus quer nos dar algumas lições. Porque quando estudamos estes nomes vemos o que é que nos impede de exercer a fé. Aqui nós vamos compreender a questão da incredulidade. Estas coisas são tão sérias! Porque muitas vezes nós não temos avançado na vida cristã? Então, nós vamos estudar cada um destes nomes. Se estudarmos Números, capítulo 13 e os versículos 4 a 15 teremos uma visão muito clara e exata desses nomes. Mas é necessário estudá-los. Não somente pegar alguns livros que mostram mais superficialmente seu significado, mas tentar ir até a raiz, e assim descobrir o significado destes nomes.
Vejamos:

• Da tribo Rubén, o espia era Samua – o seu significado é fama.
• Da tribo de Simeão, Safate – o seu significado é crítica.
• Da tribo de Judá, Calebe – o seu significado é impetuoso.
• Da tribo de Issacar, Jigeal – o seu significado é vingança.
• Da tribo de Efraim, Josué (Oséias) – o seu significado é salvação.
• Da tribo de Benjamim, Palti – o seu significado é renuncia.
• Da tribo de Zebulom, Gadiel - o seu significado é fortuna.
• Da tribo de Manassés, Gadi - o seu significado é Fortunado.
• Da tribo de Dã, Amiel - o seu significado é povo forte.
• Da tribo de Aser, Setur - o seu significado é escondido.
• Da tribo de Naftali, Nabi - o seu significado é covardia.
• Da tribo de Gade, Geuel - o seu significado é orgulho.

Do versículo 17 a 25 do capítulo 13 de Números, a Bíblia diz assim:

“Enviou-os, pois, Moisés a espiar a terra de Canaã; e disse-lhes: Subi ao Neguebe e penetrai nas montanhas. Vede a terra, que tal é, e o povo que nela habita, se é forte ou fraco, se poucos ou muitos. E qual é a terra em que habita, se boa ou má; e que tais são as cidades em que habita, se em arraiais, se em fortalezas. Também qual é a terra, se fértil ou estéril, se nela há matas ou não. Tende ânimo e trazei do fruto da terra. Eram aqueles dias os dias das primícias das uvas. Assim, subiram e espiaram a terra desde o deserto de Zim até Reobe, à entrada de Hamate. E subiram pelo Neguebe e vieram até Hebrom; estavam ali Aimã, Sesai e Talmai, filhos de Anaque (Hebrom foi edificada sete anos antes de Zoã, no Egito). Depois, vieram até ao vale de Escol e dali cortaram um ramo de vide com um cacho de uvas, o qual trouxeram dois homens numa vara, como também romãs e figos. Esse lugar se chamou o vale de Escol, por causa do cacho que ali cortaram os filhos de Israel. Ao cabo de quarenta dias, voltaram de espiar a terra”

Temos que saber que eles estiveram em Ritma; a princípio quarenta dias. Agora irmãos e irmãs, Hebron antigamente significava Quiriate-Arba. Quando Calebe a conquistou seu nome mudou para Hebron que significa comunhão. Outro detalhe, no versículo 23, diz que depois vieram até ao vale de Escol e dali cortaram um ramo de vide. Esse “Escol” quer dizer “cacho”. Precisamos entender que essa terra representa Cristo. Aqui está o enfoque: “a nossa vida em Cristo”. Uvas representam a vida de Cristo e o gozo da Salvação. Romãs representam aspectos de Cristo em relação à fertilidade; é uma fruta que tem muitas sementes. Figos representam o desfrute de Cristo, porque as uvas são o desfrute de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo e os figos falam do desfrute de Cristo em nós, aquilo que ele encontra em nós.
Versículos 26 e 27, de Números 13, diz assim:

“caminharam e vieram a Moisés, e a Arão, e a toda a congregação dos filhos de Israel no deserto de Parã, a Cades; deram-lhes conta, a eles e a toda a congregação, e mostraram-lhes o fruto da terra. Relataram a Moisés e disseram: Fomos à terra a que nos enviaste; e, verdadeiramente, mana leite e mel; este é o fruto dela.”

Eles constataram a fidelidade e a verdade da Palavra de Deus. Mas amados irmãos e irmãs, é importante prosseguirmos lendo, porque à medida que formos lendo iremos ver justamente isso. Eles constataram que Deus é fiel, que a Palavra de Deus é verdadeira, mas eles não permaneceram Nela! Não é isso que escreve o escritor da Epístola aos Hebreus no capítulo 3, versículos 9 e 10?

“onde os vossos pais me tentaram, pondo-me à prova, e viram as minhas obras por quarenta anos. Por isso, me indignei contra essa geração e disse: Estes sempre erram no coração; eles também não conheceram os meus caminhos.”

Provaram as obras de Deus por 40 anos, experimentaram que Deus é fiel, que aquilo que Ele promete é verdadeiro. Quando eles olharam para a terra viram que era realmente boa conforme a Palavra do Senhor. Será que podemos imaginar isso? Enquanto Deus é fiel, eles eram infiéis, eles eram incrédulos.
Olhe o versículo 28 de Números, capítulo 13:

“O povo, porém, que habita nessa terra é poderoso, e as cidades, mui grandes e fortificadas; também vimos ali os filhos de Anaque.”

Veja que na tônica das palavras deles há um ar de insegurança, de incredulidade, de medo. Vamos lembrar o nome de dez desses espias, com exceção de Josué e Calebe. São estes, os nomes dos espias: fama, crítica, vingança, renuncia, fortuna, afortunado, covardia, escondido, povo forte, orgulho. Cada um destes espias carregava em si a tônica dessas palavras que eram adjetivos que descreviam a própria vida deles. Vamos ler que nós vamos entender isso. Porque este episódio revela-nos o quanto este povo não conhecia a Deus, o quanto estavam distante de Deus.
Os versículos 31 a 33 de Números, capítulo 13, dizem assim:

“Porém os homens que com ele tinham subido disseram: Não poderemos subir contra aquele povo (Quem são estes homens? Estes que nós acabamos de ver: a fama, a crítica, a vingança, a renuncia, a fortuna, o afortunado, o povo forte, o escondido, a covardia, o orgulho), porque é mais forte do que nós. E, diante dos filhos de Israel, infamaram a terra que haviam espiado (eles começaram a falar mal da terra), dizendo: A terra pelo meio da qual passamos a espiar é terra que devora os seus moradores; e todo o povo que vimos nela são homens de grande estatura. Também vimos ali gigantes (os filhos de Anaque são descendentes de gigantes), e éramos, aos nossos próprios olhos, como gafanhotos e assim também o éramos aos seus olhos.”

Veja que o povo foi tomado por um complexo de inferioridade e mediocridade. Isto é sentir-se inferior ao maligno. Sentir que Deus não poderia cumprir neles a Sua vontade. Eles sentiram que não podiam avançar nos caminhos de Deus. Um espírito de incredulidade e pessimismo envolveu toda a congregação. Observe que em Apocalipse capítulo 21, versículo 8, diz:

“Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos... a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte”.

Isso é muito sério. Quando nós lemos os versículos de 1 a 4 do capítulo 14 de Números, dizem assim:

“Levantou-se, pois, toda a congregação e gritou em voz alta; e o povo chorou aquela noite. Todos os filhos de Israel murmuraram contra Moisés e contra Arão; e toda a congregação lhes disse: Tomara tivéssemos morrido na terra do Egito ou mesmo neste deserto! E por que nos traz o SENHOR a esta terra, para cairmos à espada e para que nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa? Não nos seria melhor voltarmos para o Egito? E diziam uns aos outros: Levantemos um capitão e voltemos para o Egito.”

Irmãos como isto é sério! É tão grave! Nós precisamos nos dar conta disso. Da gravidade, da seriedade, da incredulidade, da falta de fé, do medo, da covardia que muitos têm tido em relação à vida cristã. Será que nós, que estudamos a Palavra de Deus, podemos nos lembrar de cada uma destas estações onde este povo tem desprezado, menosprezado Deus, Seus caminhos, Sua vontade? Onde este povo buscava viver uma vida com Deus unicamente utilitária. Deus só servia para eles se estivesse de acordo com o desejo do coração deles. Este povo não conhecia Deus, não conhecia os caminhos misteriosos de Deus. Este é um povo movido pela infidelidade, pela incredulidade. Um povo obstinado que nunca aprendia as verdades de Deus pelos Seus caminhos misteriosos.
Isto tem que falar alto aos nossos corações, porque nós também somos assim. Somos tendenciosos à obstinação, a viver um evangelho medíocre, a viver uma vida relacional com Deus, mas tendo sempre como foco nossos desejos, nossa vontade. Sempre estamos prontos a desconfiar de Deus. Não somos perseverantes quanto à verdade de Deus, quanto ao caráter da Sua Palavra. Nós não temos vivido corretamente, adequadamente como Deus quer. Porque queremos viver um Evangelho para nós. Não queremos viver o Evangelho para a glória de Deus. Isso é muito evidente na vida de muitos cristãos hoje. Onde a vida cristã tem se tornado para eles uma obsessão. Onde eles não procuram viver uma realidade vívida com a Palavra de Deus, através do poder do Espírito Santo. Este é um retrato fiel da condição espiritual dos nossos dias, onde se nota a covardia de muitos cristãos, que não têm coragem de sustentar o Testemunho de Cristo Jesus, o Testemunho de Deus.
Quando nós estudamos a estação de Quibrote-Hataavá, vimos que Deus ordenou a marcha e introduziu as duas trombetas de prata. As duas trombetas prefiguravam o Evangelho da Redenção, da Cruz, a Palavra de Deus; a Palavra que é viva e eficaz, mais cortante que espada de dois gumes. Esta Palavra que Deus tem dado a nós é uma Palavra Viva. Por que eram duas trombetas de prata? Porque falava da redenção, e a redenção fala da morte, da ressurreição e da ascensão do nosso Senhor Jesus Cristo. Então, essas duas trombetas eram para a santa convocação. À mediada que a Nuvem se movia, aquelas trombetas tocavam. O mover da Nuvem e as duas trombetas tinham que estar em sintonia. Assim também nós carecemos de estar em sintonia com o mover de Deus e com a Palavra de Deus. Não podemos ficar buscando movimentos, entretenimentos. Quantas “ondas” têm surgido neste tempo para poder envolver o povo de Deus? Quantos de nós temos vivido a vida cristã assim: correndo de um lado para o outro, buscando aqui, ali e acolá, e não encontramos nada? Temos vivido uma euforia superficial e emocional. Não temos vivido uma vida cristã profunda, de experiência profunda, de realidade espiritual. Isto é mediocridade, isto é incredulidade, isto é apostasia. Deus não se agrada disso. O Senhor está nos chamando para viver uma vida profunda Nele, não uma vida de covardia onde nós sentimos medo do inimigo. Precisamos crer que Satanás existe; que seu império de trevas existe; que os demônios existem. Nós cremos em tudo isso. Mas cremos que há um Deus Soberano, e esse Deus não é um Deus religioso, é um Deus relacional. Ele se colocou na condição de Pai e nos adotou como filhos. Mediante o sangue da Cruz, Ele fez uma aliança conosco e nós somos filhos por adoção. Mas este fato de sermos filhos por adoção tem um testemunho de uma vontade eterna, porque Ele desejou na eternidade passada ter uma grande família constituída de muitos filhos, os quais somos nós, os salvos em Cristos Jesus. E nós precisamos ver isso! Deus é soberano e poderoso. Ele tem Seus caminhos. Ele tem nos envolvido em muitas situações onde nosso coração é exposto. Esse coração que é desesperadamente corrupto, como escreveu Jeremias no capítulo 17 e versículo 9. Mas devemos entender uma coisa: este coração é suscetível ao fracasso, à queda, mas não tire os olhos Dele. O escritor da Epístola aos Hebreus no capítulo 2, versículo 2, diz assim:

“olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus...”.

Que os nossos olhos estejam colocados Nele! Que nós estejamos focados Nele! Que nós não venhamos tirar os olhos Dele! Porque quando tiramos os olhos Dele, somos consumidos pela dúvida, pela incredulidade, pela covardia, pela fraqueza, pelo medo.
Nós necessitamos ser ajudados pelo Espírito Santo a viver uma vida correta, a viver uma vida adequada, a viver uma vida segundo o padrão do Evangelho de Cristo!
Irmãos e irmãs, esta é a Palavra do Senhor!
Creio que Deus prosseguirá nos falando sobre isso. E que nós sejamos ajudados pelo Espírito Santo. Que estas experiências sirvam de lição para nós, para que o Senhor venha nos corrigir. Que nós venhamos ser aprumados pelo Senhor a andar adequadamente a vida cristã.
Que Deus nos abençoe!

Por: Ir. Luiz Fontes

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

ESTUDO DO LIVRO DE EFÉSIOS


CAPÍTULO 18

"ELE É A NOSSA PAZ"


"Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, e pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades." - Efésios 2:14-16


INTRODUÇÃO

Temos aqui mais uma daquelas grandes declarações, majestosas e amplamente abrangentes, que com tanta regularidade e constância vemos conforme avançamos neste capítulo. Faz parte do parágrafo que começa no versículo onze e vai até o capítulo três. E também é importante, ao chegarmos a este novo passo dado pelo apóstolo, que tenhamos o argumento geral em nossas mentes. Vocês nunca poderão ver realmente as partes do argumento do apóstolo se não tiverem ao mesmo tempo o todo em mente. Não há sentido, não há verdadeira subsistência de uma parte fora do todo. Refresquemos, pois, nossa memória.
O apóstolo está demonstrando "a sobreexcelente grandeza do poder de Deus sobre nós, os que cremos". É isso que ele quer que estes efésios saibam. Ele ora no sentido de que os olhos do seu entendimento sejam abertos para que possam conhecer e captar esta verdade. Não se trata de um conhecimento humano comum; não é algo que se enquadre na mesma categoria da história ou da filosofia ou coisa semelhante; é um tipo e espécie especial de conhecimento. E só pode ser captado e apreendido quando somos iluminados pelo Espírito Santo. Por isso o apóstolo começa com essa oração. Para alguém cuja mente não esteja iluminada pelo Espírito Santo, todo este argumento é completamente irrelevante. E essa é a situação do mundo e a atitude de todos os não cristãos. Eles dizem que querem algo prático, algo relevante. Isso por causa da sua cegueira, pois, se tivessem olhos para ver, veriam que somente isto é relevante. Mas o apóstolo orou para que os crentes efésios pudessem conhecer, em particular, "a sobreexcelente grandeza do poder de Deus sobre nós, os que cremos". E ele o demonstra, vocês recordam, de duas maneiras principais. Primeiro ele mostra que eles estavam mortos em ofensas e pecados; e nada pode ressuscitar os mortos, senão o poder do Criador. Somente Deus pode ressuscitar os mortos – e Ele ressuscitou estas pessoas da morte espiritual, com Cristo, para uma novidade de vida; elas até estão assentadas com Ele nos lugares celestiais.
No entanto, havia um segundo fato, a divisão do mundo antigo entre judeus e gentios. Antes de pessoas como estes efésios, que eram gentios, pagãos, poderem tornar-se membros da Igreja, de um modo ou de outro Deus tinha que tratar dessa divisão radical. E o assunto do qual o apóstolo está tratando nestes versículos, começando com o versículo onze, é como Deus fez isso. A declaração geral é que noutro tempo eles eram gentios na carne, estavam "sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo; mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto". Essa é a declaração, essa é a proposição, esse é o fato espantoso.
O apóstolo sentiu, porém, que não bastava apenas ficar nisso. É algo tão maravilhoso, tão estupendo, que ele teve que dividi-lo, fragmentá¬-lo, em suas partes componentes, a fim de que eles vissem de maneira mais pormenorizada como essa realidade estonteante veio a existir.


CRISTO É A NOSSA PAZ

Ele começa esta exposição detalhada no versículo 14 com a extraordinária afirmação: "Ele (Cristo) é a nossa paz". "Porque Ele é a nossa paz" – o "porque" fazendo ligação com o que vem antes. Ele está desenvolvendo um argumento, está continuando o tema. "Porque ele é a nossa paz" – Aquele por cujo sangue fomos trazidos para perto é a nossa paz. Pois bem, essa é uma das coisas mais gloriosas ditas acerca do Senhor Jesus Cristo em qualquer lugar. De todos os termos e títulos aplicados a Ele, nenhum é mais maravilhoso do que este. Ele é a nossa paz. Esta concepção é utilizada com frequência, no Velho Testamento e no Novo, com relação a toda esta questão da salvação. Não há expressão mais bela do que a que se vê na Epístola aos Hebreus, capítulo treze, versículo vinte: "Ora o Deus de paz, que pelo sangue do concerto eterno tornou a trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo, grande pastor de ovelhas, vos aperfeiçoe em toda a boa obra, para fazerdes a sua vontade, operando em vós o que perante ele é agradável em Cristo Jesus". Aí está! Deus é "o Deus de paz". Esse é um modo muito bom de pensar na salvação; somos salvos, somos cristãos, simplesmente porque Deus é "Deus de paz". Realmente é tudo resultado disso.


Deus é Deus de paz, e produz e faz a paz, em Seu Filho Jesus Cristo e por intermédio dEle

Mas a mensagem da Bíblia é que Deus é Deus de paz, e produz e faz a paz, em Seu Filho unigênito, o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, e por intermédio dEle. O resultado é que vocês veem que o Senhor é descrito nesses termos em todo o Velho Testamento, na profecia. Vocês veem, por exemplo, um homem como Jacó, no fim da sua vida longa e cheia de mudanças, abençoando os seus filhos e as várias tribos que iriam desenvolver-se daqueles filhos; e quando ele chega a Judá, diz: "O cetro não se arredará de Judá, até que venha Siló". Que é Siló? Siló é paz, o Autor da paz, o Príncipe da paz. A Jacó foi dado ver isso. Não o entendeu plenamente, porém a estes homens, inspirados pelo Espírito Santo, fora dado certo entendimento do grande propósito de Deus, e Jacó tinha visto que era de Judá que Siló viria. Siló! "Ele é a nossa paz." DELE se diz ainda que não somente é "o Rei de Justiça", mas é também "o Príncipe da Paz". São títulos atribuídos a Ele. Permitam-me lembrar-lhes também que quando, finalmente, na pleni¬tude dos tempos, o Filho de Deus nasceu, pastores que vigiavam os seus rebanhos durante a noite ouviram um grandioso hino entoado por anjos. Sua mensagem era: "Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens". E por toda parte é assim. "Ele é a nossa paz."
Esta é a essência mesma da salvação. O apóstolo se expressa desse modo a fim de nos mostrar mais ainda quão admirável e espantosa é a nossa salvação. Devo lembrar-lhes de novo que esse é o grande tema, a espécie de "leit motif"* que segue paralelamente o grande, o grandioso "motif" central propriamente dito. O apóstolo queria que estes efésios se dessem conta da natureza gloriosa da sua salvação. Isto ele expõe de diversas maneiras nos versículo 1 a 13, e aqui, no versículo 14, dá mais um passo.


É o pecado que causa a morte

Como vimos, nos versículos 1 a 10 o apóstolo nos mostra que é o pecado que causa a morte. Somente quando compre¬endemos verdadeiramente a natureza do pecado é que compreendemos verdadeiramente a natureza da salvação. É por isso que não há nada que seja tão antibíblico e tão tolo como dizer: só quero o positivo. Não se preocupe com o negativo, não fale muito sobre o pecado; queremos saber do amor de Deus e do positivo. Contudo você jamais o saberá, se não compreender o negativo. O apóstolo salienta esta verdade constan¬temente. Para medir o amor de Deus você primeiro tem que descer antes de subir. Você não parte do nível em que está e daí sobe; temos que ser tirados de um calabouço, de um poço horrível; e se você não tiver ideia da medida dessa profundidade, só medirá a metade do amor de Deus. Nos dez primeiros versículos o apóstolo nos mostra que Deus tem que vencer o pecado, pois este leva à morte espiritual.


O pecado sempre leva à separação

Feito isso, ele prossegue e nos mostra, nos versículos 11 e 13, como o pecado sempre leva à separação – separação entre os Judeus e os gentios, "chamados incircuncisão pelos que na carne se chamam circuncisão feita pela mão dos homens". Separação! Separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa! O pecado separa o homem do homem, como também de Deus.


O pecado põe os homens em inimizade

Mas neste versículo catorze o apóstolo nos mostra que o pecado não se detém na ação de separar os homens, vai além; o pecado põe os homens em inimizade; e não somente em inimizade uns com os outros, porém também com Deus. Isso é o cúmulo do pecado, o aspecto deveras horrível do pecado; é onde se vê a extrema fealdade do pecado. O pecado não somente separa os homens de Deus e uns dos outros, produz um estado de inimizade contra Deus e de uns contra os outros. Por isso o grande problema atual é o problema da paz. Essa é a razão das conferências que se realizam. Essa é a grande preocupação de todo o mundo – não haveria um jeito de banir a guerra, de reconciliar os homens, de estabelecer uma paz durável, segura e permanente? Como poderão os homens ser reconciliados? Sabemos destas divisões, destes conflitos, no mundo inteiro, nas nações, em grupos dentro das nações, como também entre nação e nação. O mundo todo parece estar num estado de luta e inimizade. Por quê? É aí que vocês veem a relevância das Escrituras. E é neste ponto que se vê como é difícil às vezes ser paciente, como cristão. E, contudo, temos que ser pacientes. Vemos o mundo e os seus homens, os seus grandes homens, assim chamados, visivelmente perdendo tempo tentando o impossível. Às vezes é difícil ser paciente. Mais difícil ainda quando a gente vê homens, mesmo na Igreja Cristã, entendendo e interpretando de forma completamente errada as Escrituras e, por assim dizer, levantando-se diante do mundo e dizendo: vocês só têm que fazer o que lhe dizemos, e a paz que procuram e esperam logo será uma realidade. Isso é trágico; não passa de pura incapacidade de entender declarações como a que estamos considerando.


A causa radical de toda a inimizade é o orgulho do homem

O pecado é a causa do problema; põe o homem em inimizade contra Deus, e põe o homem em inimizade contra o homem. A explicação é muito simples. O pecado é essencialmente orgulho, ego. Evidentemente devemos voltar ao livro de Gênesis. Os que pensam que podem eliminar os primeiros capítulos de Gênesis e continuar tendo um evangelho cristão, estão apenas exibindo a sua ignorância. Ali vocês têm a explicação fundamental daquilo que prevalece hoje. A causa radical de toda a inimizade é o orgulho do homem; o homem interessado em si mesmo, o homem querendo impor-se como um ser autônomo, até mesmo face a Deus, e pronto a dar ouvidos às perguntas: "É assim que Deus disse?" Quem é Deus para dizer-lhe o que você pode ou não pode fazer? Homem, disse satanás, você não percebe como você é grande, como é poderoso. Deus o está mantendo como escravo, e o está usando como servo. Por que você não se levanta sobre os seus próprios pés, por que não faz afirmação do seu ser, por que não se firma em sua dignidade e não exige os seus direitos? Não se rebaixe, levante-se! E ele se levantou. Não quero ser paradoxal, mas foi porque o homem se levantou que ele caiu. Pôs-se numa posição que nunca fora planejada para ele; tentou ficar numa posição que não podia manter; e isso levou à Queda e a todas as suas terríveis consequências. Tudo devido ao orgulho, ao interesse próprio, à preocupação consigo mesmo. O homem quer bancar deus. Julga-se autônomo, julga que tem direitos; fala dos seus direitos e das suas exigências. Isso é simples manifestação de interesse próprio, de auto gratificação, de amor próprio e de louvor próprio. Ele está sempre se voltando para si mesmo e girando em torno de si. Ele é o centro. Sim, mas, desafortunadamente, todos os homens estão fazendo a mesma coisa. Aí é que entra o problema. Se somente eu existisse, não haveria problema, porém todos os outros "eu" são exatamente como eu. O resultado é que o mundo está povoado de deuses, todos afirmando o seu ser pessoal, exigindo os mesmos direitos e alegando as mesmas coisas. E os choques são inevitáveis. É uma guerra de falsos deuses. E todos se juntam na inimizade contra Deus; não significa, no entanto, que todos estejam de acordo entre si. Não! Acaso vocês não veem como este é o modelo de todos os problemas do mundo atual? Temos aí os operários se unindo contra os patrões; e os patrões contra os operários. Mas, isso significaria que eles estão muito felizes, em harmonia uns com os outros e todos se ajudando mutuamente e se sacrificando uns pelos outros? Naturalmente que não! Eles se dividem – operário contra operário, patrão contra patrão, com rivalidade, competição, ciúme e inveja. O problema existe em toda parte. A humanidade se une em inimizade contra Deus, todavia está cheia de lutas sanguinárias – o homem contra o homem, bem como o homem contra Deus.


A suprema tragédia é que o mundo não vê

Essa é a única explicação adequada acerca do mundo como ele é hoje. E a suprema tragédia é que o mundo não vê isso; nem começou a vê-lo. E isso porque ele parte da suposição de que, seja qual for a explicação, não tem relação com Deus. Somos espertos demais para crer em Deus; começamos excluindo Deus. Não pode ser assim. Seja o que for, não é religioso. Não tem a mínima ligação com Deus e com Cristo. Agora somos adultos, não somos mais crianças, de modo que não se trata disso, isso nem deve ser levado em conta. Por isso tentamos encontrar alguma outra explicação e cura. Mas o fracasso terrível é evidente por todos os lados. E, necessariamente, continuará assim, enquanto o homem não enxergar a explicação verdadeira. Ele não vê que é devido estar em más relações com Deus que ele está em más relações com os seus semelhantes.
O Senhor Jesus Cristo fala disso com muita clareza e uma vez por todas. Alguém aproximou-se dEle um dia e disse: "Mestre, qual é o grande mandamento na lei?" E esta foi a Sua resposta: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Mateus 22:36-39). Pois bem, o importante aí é observar a ordem: primeiro, a relação com Deus; segundo, a relação do homem com o seu semelhante, homem ou mulher. Toda a tragédia do mundo moderno deve-se ao fato de que o primeiro é inteiramente descartado, e os homens pensam que podem começar do segundo. Contudo você não pode fazê-lo, porque deve amar o seu próximo como a si mesmo, deve amar o seu próximo como você se ama a si mesmo. Portanto, o problema é: como devo amar a mim mesmo? E, segundo a Bíblia, eu nunca amarei a mim mesmo da maneira certa enquanto eu não me vir a mim mesmo como estou na minha relação com Deus. Portanto, não tenho a mínima possibilidade de cumprir o segundo mandamento, a não ser que já esteja esclarecido quanto ao primeiro. É impossível. E o homem hoje, não reconhecendo a Deus, não começando com Deus, e não se submetendo a Deus, está tentando reconciliar-se com o seu semelhante. E, naturalmente, não está tendo sucesso, e nunca terá. Ele está violando a lei da sua própria natureza. Ele foi feito por Deus, foi feito para Deus; e ele não se verá verdadeiramente a si próprio, e não verá verdadeiramente nenhuma outra pessoa, enquanto não se veja e não veja os outros à luz da lei de Deus, face a face com Deus.


SOMENTE CRISTO É A NOSSA PAZ

É isso que está por trás da declaração aqui: "Ele é a nossa paz". Somente Cristo é a nossa paz. Sem Ele não há paz. O mundo pode continuar a desenvolver-se intelectualmente e em todos os outros aspectos, pode aumentar o seu conhecimento da ciência, da sociologia, da psicologia e de tudo mais, pode multiplicar as suas instituições, pode instruir-nos neste e naquele aspectos, porém isso não levará a nada, porque o problema nunca poderá ser solucionado, exceto em nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, e por meio dEle. É quase incrível que seja necessário dizer isso. Mas é. A história prova isso cabalmente. O século vinte deveria ter sido o melhor e o mais grandioso século que o mundo já conheceu, conforme e entendimento humano. Vejam-no, porém. É um dos piores, um dos mais aterradores. Isso é muito deprimente, dirá alguém, não devo estar tão deprimido assim. A resposta é que não é questão de depressão, é questão de encarar os fatos. Se você está realmente preocupado com o problema do homem e do mundo, como está com o seu próprio problema, terá que enfrentá-lo radical¬mente. E aí estão os fatos. Se você tentar partir do segundo mandamento, isso levará ao desastre, porque o homem não é meramente intelecto, não é meramente um ser social. Segundo as Escrituras, há um princípio mau atuando nele; ele está infeccionado pelo pecado, espiritualmente está mal de saúde. E antes de começar a instruí-lo, você terá de curá-lo. Ele precisa de nova vida. O apóstolo o diz em termos de uma declaração geral que, é claro, é totalmente consoante com o cristianismo – "Ele (e somente Ele) é a nossa paz".


Ele (Cristo), pessoalmente, é a nossa paz

Ora, isso significa várias coisas. Primeiramente e acima de tudo, significa que Ele, pessoalmente, é a nossa paz. O que quero dizer com isso é que o Senhor Jesus Cristo não somente faz a paz – Ele faz a paz, como espero demonstrar-lhes – mas Ele mesmo é a paz. Ele é a nossa paz. O que é simplesmente outra maneira de dizer que nós temos que estar em Cristo, antes de podermos gozar as bênçãos de Deus como o Deus da paz. Somente quando estivermos relacionados com Cristo, somente quando estivermos incorporados em Cristo, ou, para usar uma expressão bíblica, enxertados em Cristo, somente quando formos membros de Cristo e partes do Seu corpo, participando da vida de Cristo e haurindo da vida de Cristo – somente quando tudo isso for real em nós é que realmente gozaremos as bênçãos da paz. Mais uma vez, quando compreendermos isso, veremos a indescritível superficialidade de muita coisa que se diz nos dias atuais. Não quero que me entendam mal, nem quero faltar com o respeito para com os chamados pacifistas, todavia o real problema com aquele ensino é a sua falta de entendimento teológico, e a sua incapacidade de compreender o problema do pecado. E isso não se aplica somente ao caso deles, mas também a toda conversa leviana dos homens e mulheres que dizem que o problema é muito simples, que tudo que é preciso fazer é convidar o povo para reunir-se e falar-lhe agradavelmente, terminando tudo com um aperto de mãos, e tudo estará bem. Houve estadistas que acreditavam sincera e genuina¬mente que se tão-somente pudessem reunir-se com Hitler ao redor de uma mesa e conversar com ele, toda a coisa seria resolvida. "A paz em nosso tempo", diziam eles, "nós nos reunimos com eles, fizemos um acordo de cavalheiros." No entanto, não demorou muito, e eles desco¬briram que o homem cujas mãos eles tinham apertado não era um cavalheiro. E esse continua sendo o problema. Quão superficial, quão patético, pensarem ainda os homens que mediante frases feitas podem resolver os problemas do pecado do homem. Não, "Ele é a nossa paz"; Ele, o eterno Filho de Deus, que teve que nascer como uma criança em Belém. É isso que foi essencial para solucionar este problema. E, todavia, eles dizem que simplesmente sendo bom, agradável e amistoso, e falando através de uma mesa, podem acertar tudo. Se fosse tão simples assim, a encarnação jamais precisaria ter ocorrido, a morte na cruz nunca teria acontecido; mas, antes de poder haver paz, estas coisas tiveram que acontecer. Ele mesmo, a Pessoa bendita, é a nossa paz. E é somente quando entendemos algo desta mística doutrina do cristão como mem¬bro do corpo de Cristo é que verdadeiramente participamos dessa paz e a usufruímos.


Ele também faz a paz

Entretanto Ele também faz a paz, diz o apóstolo. Este é um ponto sobre o qual devemos ter claro entendimento. Como Cristo faz a paz? Devemos interpretar isso escrituristicamente, não sentimentalmente. Notem os termos: "Ele é a nossa paz"; e depois, Ele fez a paz – "fazendo a paz". Que é que significa isso? A interpretação superficial, senti¬mental dos textos a que me referi, parece entender que o processo é o seguinte: o Senhor Jesus Cristo nos ensina a fazer a paz. Dizem tais intérpretes: "Você lê as Escrituras e depois, no espírito das Escrituras, e daquilo que você entendeu das Escrituras, procure o seu inimigo, ponha em prática o ensino, e você o ganhará". O argumento, ao nível internacional, é que, se uma só nação simplesmente se desarmasse completamente, o efeito que causaria sobre todas as outras nações seria tão estonteante que nunca mais quereriam outra guerra.
Uma vez ouvi um homem falar numa reunião, creio que uns trinta e cinco minutos, e que nesse espaço de tempo nos conduziu, assim pensou ele, através de toda a Epístola dos Efésios sem nenhuma dificuldade! Disse-nos que a sua mensagem era deleitavelmente sim¬ples. Era um pacifista muito conhecido e que tinha sofrido bastante pelo seu pacifismo; homem honesto, homem sincero, um bom homem. O que ele entendia do nosso texto (Efésios 2:14-16) era que ele simplesmente consistia numa questão de aplicar o ensino de Cristo e o espírito cristão. O clímax do seu discurso foi uma história que ele nos contou e que, para ele, provava inteiramente o ponto. Disse ele que fazia parte do corpo diretivo de uma escola para meninas, escola pública, e ele nos contou que vários colegas de direção sentiam-se mal com o fato de haver punições e recompensas na escola. As crianças que procediam mal eram punidas de várias maneiras, e ele e outros achavam que esse não era o método de Cristo, não era o método cristão. Não devia haver nenhuma punição, nenhuma disciplina nesse sentido; em vez disso, as crianças deveriam ser convidadas a agir como adultos, deveriam revestir-se de dignidade, e deveria ser-lhes dito que no futuro seriam tratadas como adultos, e que os inspetores e inspetoras de alunos confiariam nelas. Assim, disse ele, após muitos anos, eles persuadiram os seus colegas da junta diretora e o corpo docente a concordarem nisso, e naquela escola em especial todas as formas de punição foram abolidas. Disse ele: alguns dos nossos amigos, naturalmente, tinham profetizado que isso levaria ao desastre, mas vocês sabem, continuou ele, no mesmo ano em que fizemos isso, o número de admissões em Oxford e Cambridge foi mais alto do que nunca antes. É isso que acontece, disse ele, quando se põe em prática o amor de Cristo. Aí está! Tão simples! Simplesmente aplicar o ensino. Faça isso individualmente, faça-o em comunidades, em grupos e em classes; faça-o entre países, e nunca mais haverá problema algum!
Que perversão das Escrituras! Seria realmente necessário que o Filho de Deus deixasse as cortes celestiais se a resposta fosse essa? A morte de cruz seria necessária, se a solução fosse apenas uma questão de aplicar algum ensino? Não é o que nos é dito aqui. Ele, Cristo, fez a paz. Não é que Ele me manda fazer algo – Ele faz isso, é certo, mas eu só posso fazer o que Ele me diz porque Ele fez algo primeiro. Ele fez a paz. Ele é a nossa paz. Ele é o Príncipe da paz. É o Deus de paz que faz a paz. Não é primariamente os homens aplicarem certo ensino, é algo fundamental feito por Deus em Cristo que produz uma situação intei¬ramente nova. É por isso que não me canso de dizer que o dever da Igreja Cristã não consiste meramente em dar conselho aos estadistas e a outros, e em dizer-lhes como solucionar os seus problemas; pois não poderá haver paz entre os homens enquanto os homens não se tornarem cristãos. É impossível. Por isso o evangelho é necessário, por isso Cristo veio. Não se pode aplicar a não cristãos um ensino destinado aos cristãos. Fazê-lo é uma rematada heresia. Estas Epístolas não foram escritas para o mundo, foram escritas para os cristãos. Temos que nascer de novo, temos que ser criados de novo, antes de ser possível que isso se aplique a nós. Cristo faz a paz. Essa é a proposição fundamental. Ele é a nossa paz, Ele fez a paz; é algo que Ele traz à existência.


Como Cristo traz à existência a paz

O apóstolo nos diz nestes versículos como Cristo traz à existência a paz. Para que haja paz verdadeira, duas coisas são indispensáveis. É preciso que os homens sejam reconciliados com Deus, e que sejam reconciliados uns com os outros. O apóstolo dá atenção a ambos os problemas. Ele parte da reconciliação dos homens uns com os outros. Ele procede assim, entendo eu, porque o que predominava em sua mente naquela hora era o seguinte: ele estava olhando para a Igreja Cristã e nela via judeus e gentios. Assim ele inicia com o fato concreto da Igreja. Ali, juntos, louvando a Deus, estão homens que antes eram inimigos mordazes. Que foi que os juntou? Paulo começa com essa questão e dela trata nos versículos 14 e 15. Depois, no versículo 16, ele mostra como ambos juntos foram trazidos a Deus e como foi abolida a inimizade entre eles e Deus.


Como Cristo reconcilia os homens uns com os outros?

Como, então, Cristo reconcilia os homens uns com os outros? Como Ele aproxima uns aos outros em amor? Como Ele destrói a inimizade que há entre os homens? Primeiro Paulo o coloca negativa¬mente. Diz ele que Cristo derrubou "a parede de separação que estava no meio", entre nós. Neste ponto permitam-me indicar que a Versão Autorizada, e na verdade a Versão Revista (inglesas), não são tão boas como deviam ser. Sem dúvida, a Versão Revista Padrão é melhor. Eis a tradução da Versão Autorizada e (com ligeira variação apenas) da Versão Revista: "Ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um e derrubou a parede de separação que estava no meio, entre nós, tendo abolido em sua carne a inimizade, até (essa palavra é acrescentada, não está no original, e vem impressa em itálicos), até a lei dos mandamentos". Não está muito bom, e é melhor entendê-lo assim: "Derrubou a parede divisória de hostilidade (ou de inimizade) abolindo a lei dos mandamen¬tos" (tradução semelhante à de Almeida). Ele derrubou a parede de separação (de inimizade) que estava no meio. Como? – abolindo a lei dos mandamentos nas ordenanças. Essa é a melhor maneira de ver isso. Então, que significa? Que é que uniu o judeu e o gentio na Igreja Cristã? A resposta é que o Senhor Jesus Cristo desfez a inimizade. Havia no meio uma espécie de parede de separação entre eles. Havia uma parede divisória entre eles, no meio. O apóstolo está usando aqui, como figura, algo que era característico do templo. No templo vimos que o Pátio dos Gentios era o mais distante. Os gentios não tinham permissão para entrar no Pátio do Povo, dos judeus. Havia uma parede que os separava, uma parede de separação, no meio. De fato, aquele velho templo estava cheio de divisões. Havia, além do Pátio dos Sacerdotes, o Lugar Santo, e depois o "santo dos santos", o Lugar Santíssimo, no qual ninguém tinha a permissão de entrar, exceto o sumo sacerdote, uma vez por ano. Era um lugar cheio de divisões. Mas em Cristo, diz o apóstolo Paulo, as divisões foram arrasadas, foram derrubadas, foram postas abaixo, e o caminho para o Lugar Santíssimo está livre. Contudo aqui ele está particularmente interessado no fato de que a primeira divisão, entre os gentios e os judeus, a inimizade, desapareceu.
Mas por que lhe chama inimizade? Porque, afinal de contas, foi Deus que determinou os detalhes concernentes à construção do templo, foi Deus que deu a lei aos filhos de Israel. E, contudo, Paulo afirma que foi essa lei dos mandamentos contida nas ordenanças que realmente produziu a inimizade. Esse é um ponto muito importante e muito sutil, e é aí que vemos exatamente o que o pecado faz ao homem. Como já vimos, Deus tinha dividido a raça humana em dois grupos. Deus criou para Si um povo especial descendente de Abraão. São os judeus, a comunidade de Israel, o povo de Deus. Os judeus estavam realmente separados de todos os outros povos, e o propósito era que estivessem separados mesmo. Deus lhes deu leis especiais, estas "leis dos manda¬mentos nas ordenanças", como Paulo as descreve. Ele se refere à lei cerimonial, à lei acerca das ofertas queimadas e dos sacrifícios, das ofertas de cereal, e de todas as outras sobre as quais lemos no livro de Levítico e noutros lugares. Deus as determinou. Eram esses os meios pelos quais os filhos de Israel deviam aproximar-se de Deus e ser abençoados por Ele; e, se não os observassem, Deus não Se encontraria com eles, e não os abençoaria. Deus lhes deu a lei. Não deviam comer certos tipos de animais, e assim por diante. Eram, todas elas, leis de Deus, a lei cerimonial, a lei dos mandamentos nas ordenanças, em preceitos. Bem, vocês dirão, se é assim, onde entra a inimizade? Precisamente onde entra o pecado. Deus dividiu o mundo em dois grupos, e deu estes mandamentos. Mas não o fez para criar inimizade; fez isso para que os filhos de Israel dessem testemunho dEle, das Suas santas leis e do caminho da salvação. No entanto, por causa do princípio do pecado, do ego e do egoísmo, eles interpretaram o ato de Deus de tal modo que diziam: nós, e somente nós, somos o povo de Deus, e estes outros são cães, mal chegam a ser seres humanos.


Os judeus tornaram o mandamento de Deus uma parede inter¬mediária de separação; fizeram dele um objeto de ódio e de inimi¬zade

Os judeus tornaram o mandamento de Deus uma parede inter¬mediária de separação; fizeram dele um objeto de ódio e de inimi¬zade. E os gentios olhavam e diziam: quem são esses judeus? Que alegações são essas que eles fazem a seu favor? E assim os odiaram. E o judeu odiava o gentio. Mas não era essa a intenção de Deus. A lei fazia parte da revelação de Deus, fazia parte do plano de salvação feito por Deus. Entretanto o homem em pecado transforma os próprios dons de Deus em causas de inimizade. É assim que as paredes intermediárias entram. Não se trata de um ponto puramente acadêmico. O mundo atual está cheio dessas divisões. Vejam os dons que Deus dá aos homens. Todos eles são manifestações da Sua generosidade e bondade. Ele dá o dom da inteligência e do entendimento, dá perspicácia a certos homens, e eles prosperam e têm sucesso. Ele derrama chuvas de dons destas várias formas. Mas, pergunto, todos os homens se ajoelham e agradecem a Deus os dons da Sua graça aos homens? Será que atribuem com humildade a glória e a honra a Ele e lhe dão graças, sendo que é Ele quem dá "toda a boa dádiva e todo o dom perfeito"? Sabemos muito bem que não o fazem. Eles estão fazendo o que o judeu e o gentio fizeram. O homem dotado de inteligência diz: naturalmente, eu tenho cérebro, tenho entendimento. Vejam aquele outro sujeito, ele não sabe nada. E assim o despreza. E o outro homem olha para ele e diz: quem é ele? Quem ele pensa que é? Inimizade! E tudo por causa dos dons de Deus. Dá-se o mesmo com todos os dons que Deus dá. São dons de Deus, são maravilhosos, e se nós todos compreendêssemos isso e fôssemos humildes, todos nós os desfrutaríamos juntos. O homem sem talento diria: que maravilha esse homem! Que coisa esplêndida Deus tê-lo dotado de tal capacidade! Todavia não é assim; estas coisas levam à inveja e à rivalidade, à inimizade, ao ódio, à malícia, à crueldade, ao escárnio e a tudo o que só serve para envenenar a vida.


Ele (Cristo) aboliu a lei dos mandamentos contida nas ordenanças

Não haverá paz enquanto isso tudo não for derrubado. Cristo, diz o apóstolo aqui, derrubou tudo isso, nesta questão de religião, e o fez uma vez por todas, pois "Ele aboliu a lei dos mandamentos contida nas ordenanças". Foi como Ele fez. O que significa que agora o método de Deus não é mais o de ofertas queimadas, sacrifícios e coisas que só eram peculiares e especiais para o judeu. É mediante Cristo, e somente mediante Cristo. Assim, aquilo que tinha levado à inimizade, à inveja e à rivalidade, foi eliminado por Cristo. A causa da inimizade foi removida. E quando os homens veem isso em Cristo, a inimizade desaparece. O judeu que realmente entende a doutrina de Cristo, não se separa mais em termos da lei cerimonial. Ele diz: isso terminou em Cristo; portanto, agora estou na mesma posição do gentio. E o gentio também vê que não existe mais essa peculiar distinção entre ele e o judeu, e que o caminho é em Cristo, tanto para ele como para o judeu. Assim eles vêm juntos a Deus da mesma maneira, em nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo e por intermédio dEle.
Vocês veem o ponto ao qual chegamos agora. Cristo derrubou a parede de separação que estava no meio, a inimizade. E aqui está como Ele o fez: "O fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê" (Romanos 10:4). Já não há necessidade do cerimonial e do ritual do judeu; isso foi extinto. Cristo é o cumprimento disso tudo. Aquelas coisas eram apenas tipos que apontavam para Ele. Os homens nunca devem deter-se nelas, elas deveriam levá-los a Ele. Mas Ele pôs um fim nelas. Dessa maneira, em toda esta questão de acesso a Deus, a velha distinção, originariamente feita pelo próprio Deus, foi abolida pelo próprio Deus em Cristo, e agora o caminho está livre, tanto para o gentio como para o judeu, para virem à presença de Deus. Eles poderão vir, não mediante um sacerdócio terreno, humano, não com ofertas e sacrifícios materiais, e sim mediante o único e exclusivo Mediador entre Deus e os homens – o homem Cristo Jesus, que pelo sacrifício da Sua vida e pelo Seu precioso sangue derrubou a parede intermediária de separação. E será somente quando os homens aprenderem essa verdade que serão libertos da inimizade.





* "leit motif": Tema característico que se repete constantemente numa partitura. Em francês no original. Nota do tradutor.

Por: D. M Lloyd Jones

domingo, 22 de agosto de 2010

AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 71


AS 42 JORNADAS NO DESERTO – CAPÍTULO 71

14ª Estação – Hazerote (parte 2)

TEXTOS: Números 33:17; Números 12:1-10; Levítico 13 e 14


Depois que os filhos de Israel partiram de Quibrote-Hataavá, a 13ª estação, o Senhor trouxe a ordem da marcha. Vimos ali como as coisas eram ordenadas por Deus e como eles deveriam caminhar e viver como o povo de Deus na Terra. Em seguida, a partir de Números 12:1, estudando a 14ª estação, Hazerote, vemos Miriã e Arão falar com Moisés acerca da mulher cuxita que ele havia tomado como esposa. Além disso, eles questionam: “Será que o SENHOR tem falado somente por meio de Moisés? Será que não tem falado também por meio de nós?”. Sabemos que essa atitude de Arão e Miriã entristeceu grandemente o coração de Deus.


AUTORIDADE ESPIRITUAL

A questão da autoridade espiritual é um assunto muito sério na vida cristã. De acordo com Romanos 12:4, no corpo de Cristo há muitos membros e cada um com seu lugar e funções particulares, porque Deus fez todos os membros diferentes uns dos outros. Amados, há uma pergunta que devemos considerar: Como todos esses membros, com suas variadas funções, podem ser ajustados e ligados em um só corpo? É necessário compreendermos que toda a autoridade no corpo de Cristo está na Cabeça – e a Cabeça é Cristo. Cristo é o Cabeça da Igreja. O primeiro princípio do viver do corpo de Cristo, isto é, da Igreja como corpo de Cristo, é estar em sujeição à autoridade de Cristo, à autoridade da Cabeça. Isso porque a própria existência do corpo com suas funções e variedades depende da autoridade. Sempre que a autoridade perde seu terreno em nós, o corpo é imediatamente paralisado. Aquela parte do corpo que é desobediente é a parte que experimenta a paralisia. O corpo que não se sujeita ao comando da cabeça é apenas um corpo paralisado.
Meus irmãos, todos nós temos que entender que onde existe a vida, existe também a autoridade. É inconcebível rejeitar a autoridade e ainda continuar vivendo uma vida plena. Todos os que estão cheios de vida são obedientes à autoridade. Tomemos como exemplo o nosso próprio corpo. Olhemos para um dos membros do nosso corpo (para a mão ou o pé – qualquer uma das partes). Como a mão poderá funcionar se não tiver a vida, a autoridade, o comando que vem da cabeça? Todos os membros do nosso corpo só podem receber vida se estiverem intimamente ligados à autoridade, em sujeição ao viver natural que existe no corpo, sem nenhuma interferência. O próprio viver da mão revela que a cabeça é capaz de dirigi-la, de utilizá-la como quer. Assim também é com respeito à vida cristã, com respeito a nós enquanto membros do corpo de Cristo. Portanto, o primeiro princípio para cada membro que vive no corpo de Cristo é obedecer ao Senhor. O Senhor Jesus é o Cabeça. Se você e eu não somos tratados ao ponto de nos tornarmos obedientes, sujeitos a Ele, então o que sabemos do corpo de Cristo é meramente doutrinário por natureza.
Meus irmãos e irmãs, por isso necessitamos tanto do trabalhar da cruz de Cristo em nossa vida; que o Senhor trabalhe Sua vida em nós, através da Palavra, através do Espírito Santo; que Ele persista operando poderosamente em nós, para que venhamos buscar a obediência diariamente, em todo tempo. Não só precisamos buscar a oportunidade que nos faça avançar espiritualmente a fim de nos tornarmos pessoas maduras, adequadas, pessoas que verdadeiramente correspondam ao caráter de Cristo, mas também precisamos buscar diante de Deus a oportunidade de viver uma vida sujeita, uma vida obediente. Precisamos aprender a obediência. Então, temos aqui um primeiro princípio, mas há também outro princípio a ser considerado.
Esse segundo princípio do viver do Corpo de Cristo é que nenhum membro tem qualquer autoridade, pois a autoridade está somente na Cabeça. Seria um grave erro se um membro alegasse possuir autoridade em si mesmo. O membro não possui autoridade direta, ele tem apenas a autoridade que lhe foi delegada pela Cabeça. Essa autoridade não é apenas posicional, mas totalmente decorrente da vida. Ela não vem por meio da nomeação, mas pelo próprio ser. Se um membro não é um olho, o corpo não pode estabelecê-lo como olho. Se não é mão, o corpo não pode fazer dele mão pelo simples fato de nomeá-lo. Um membro tem autoridade de segurar ou de ver, somente porque ele pode segurar ou ver. Ele atua de acordo com essa norma. A mão não pode querer ser o olho e o olho não pode querer ser a mão. Todos os membros foram colocados no corpo dentro de uma disposição divina para aquilo ao qual Deus determinou. Será um erro gravíssimo se na vida da Igreja a autoridade estiver ligada à posição e não à vida. E hoje vemos claramente que a autoridade está relacionada com a posição que a pessoa tem e não com a própria vida. Se uma pessoa é nomeada por causa da sua posição social e não por causa da sua espiritualidade, isso contraria naturalmente a própria realidade cristã. A Palavra de Deus nos mostra que a autoridade está na vida e não na posição ou no histórico de alguém. A autoridade é estabelecida em uma pessoa em decorrência do seu viver e não por meio da nomeação. Essa pessoa em sua vida pessoal e corporativa experimentou o tratamento em questões práticas e aprendeu o que outras pessoas ainda estão por aprender. No corpo de Cristo toda autoridade procede da vida e não da posição que a pessoa ocupa ou tem – seja social, seja onde for, ou como for. Nossa visão de autoridade ainda é uma visão muito equivocada, está muito ligada à própria deformação do mundo e não às questões práticas da Palavra de Deus. Ainda que numa Igreja local haja nomeações pela direção de Deus, ainda assim não devem ser feitas de acordo com a posição social, de acordo com a capacidade intelectual, mas de acordo com a vida, com a vida espiritual. Quando a vida e a nomeação concordam, você deve se submeter. De outro modo, a vida cessará em você e você será deslocado do corpo, significando, com isso, que você não se mantém firmemente ligado à autoridade da Cabeça.
Portanto, meus irmãos e irmãs, na Igreja do Senhor Jesus precisamos aprender a submeter-nos uns aos outros. Se os membros não se submetem mutuamente, a vida mencionada em Romanos 8 não poderá se manifestar. Pelo contrário, os irmãos sentirão com se o ar lhes faltasse. Dificilmente eles conseguirão prosseguir. Porém, aqueles que discernem o Corpo de Cristo, consideram a sua missão a mais jubilosa prática do viver cristão. Para concluir este ponto, vamos ler Filipenses 2:1-3:

1 Se há, pois, alguma exortação em Cristo, alguma consolação de amor, alguma comunhão do Espírito, se há entranhados afetos e misericórdias, 2 completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento. 3 Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo.


A LEPRA – FIGURA DO PECADO

Agora, gostaria que víssemos um outro episódio aqui em Hazerote que, quanto ao caráter da vida Cristã, tem muito a nos ensinar, a nos conduzir. Números 12:9-10 diz assim:

9 E a ira do SENHOR contra eles se acendeu; e retirou-se. 10 A nuvem afastou-se de sobre a tenda; e eis que Miriã achou-se leprosa, branca como neve; e olhou Arão para Miriã, e eis que estava leprosa.

Vejam que episódio triste. Agora vemos Miriã leprosa. Ao lermos Levítico 13 e 14, encontraremos alguns princípios espirituais acerca da questão da lepra. Nesses dois capítulos, vemos que o pecado do homem e a sua purificação são um dos grandes temas da Bíblia. Enquanto no Novo Testamento temos a realidade, no Antigo Testamento o princípio espiritual nos é revelado através dessas figuras. Nenhum capítulo pode revelar tanto o poder e a intensidade do pecado de uma forma figurativa como os capítulos 13 e 14 de Levítico. Então, nesse caso de Miriã, vemos que a lepra é resultado da rebeldia, da desobediência. Miriã ficou leprosa por causa da sua desobediência e por causa da sua rebeldia. A lepra é uma figura do pecado e foi justamente isso que ocorreu na eternidade passada, quando Lúcifer rebelou-se contra a autoridade de Deus.
Quando estudamos essa questão da lepra prefigurando o pecado, encontramos o lado sombrio do pecado. Além disso, vemos que o propósito do Senhor através desse assunto é mostrar-nos a necessidade de constante vigilância em relação à própria natureza pecaminosa que herdamos de Adão e como o pecado não confessado pode afetar a comunhão da Igreja e a nossa comunhão com Cristo. Temos que considerar tudo isso com muita seriedade porque ao estudarmos vemos que o pecado, quando não tratado, se torna contagioso. A Bíblia não esconde de nós o lado terrível e mortal do pecado, dessa terrível doença que já nasce com o homem. Assim como a lepra está na carne, também o pecado está na natureza do homem. Assim como a lepra começa como uma marca insignificante e cresce rapidamente, da mesma forma a ação do pecado é progressivamente terrível e estende-se a todos os aspectos da nossa vida. Assim como a lepra, o pecado também é repugnante e quase incurável (a cura efetuada por Cristo Jesus é o único caminho pelo qual o homem pode alcançar vitória sobre o pecado). Do mesmo modo como a lepra separava as pessoas umas das outras (porque o leproso tinha que ser colocado fora do arraial), assim também o pecado nos separa uns dos outros. Tudo isso é tão sério!
Consideremos esse episódio com Miriã, porque aqui há uma advertência solene de Deus para nós. Segundo o ritual mosaico presente no Pentateuco, dentre todas as funções que eram desempenhadas pelos sacerdotes, nenhuma requeria mais atenção e paciência, ou adesão mais rigorosa às instruções divinas contidas no guia do sacerdote, do que o discernimento da lepra e o seu tratamento conveniente. Duas coisas requeriam solicitude e vigilância por parte do sacerdote: primeiro, a pureza da congregação e, segundo, a graça que não podia admitir a exclusão de qualquer membro, salvo por motivos claramente determinados. A santidade não podia permitir que continuasse dentro da assembléia, dentro da congregação, ou mesmo do arraial, qualquer pessoa que devesse ser excluída. E, por outro lado, a graça não podia permitir que estivesse fora quem deveria estar dentro. Por isso, o sacerdote tinha a mais instante necessidade de ser vigilante, calmo, sensato, paciente, terno e muito experiente para não fazer o julgamento errado. Nenhum caso deveria ser julgado e decidido precipitadamente. Em todas as situações os sacerdotes não deveriam ser guiados por seus sentimentos, pensamentos ou sabedoria. Uma simples negligência, um simples descuido, podia ter graves consequências, porque ninguém deveria se afastar da congregação de Israel se de fato não estivesse leproso.
Então, a lepra prefigura o pecado. Considerando essa doença do ponto de vista físico, nada poderia ser mais asqueroso. E, sendo inteiramente incurável, pode oferecer-nos um quadro tão vivo e aterrador do que significa o pecado – o pecado na natureza humana, o pecado nas nossas circunstâncias, o pecado na vida e na comunhão do corpo de Cristo. Por que a lepra era uma doença terrível e repugnante? Não somente porque o seu fim era a morte, mas porque cada parte do corpo infectado por essa terrível doença ficava morto enquanto o corpo estava vivo. A lepra é uma figura da morte, com o seu poder, consumindo a vida. A descrição da Bíblia é notável. Aparece como uma mancha branca e brilhante – parece não haver motivo para inquietação. Provérbios 14:12 diz:

12 Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte.

Isso é muito claro para nós. Precisamos ser cuidadosos quanto à questão do pecado. A princípio apresenta certo atrativo para aquele que está contaminado, uma mancha branca e brilhante, quando, na realidade, a morte está ali. Vejamos Levítico 13, a lepra pode manifestar-se em qualquer parte do corpo, como também o pecado pode manifestar-se em diferentes aspectos, em diversas situações. A lepra é uma notável imagem do homem em estado degradante diante de Deus. Levítico 13:2 diz:

2 O homem que tiver na sua pele inchação, ou pústula, ou mancha lustrosa, e isto nela se tornar como praga de lepra, será levado a Arão, o sacerdote, ou a um de seus filhos, sacerdotes.

Esse sintoma de enfermidade manifesta um mal interior profundo. E muitos irmãos estão sofrendo com isso. Esta inchação vem de dentro para fora e revela aquilo que está há muito tempo escondido dentro de nós. Vemos aqui uma figura do nosso orgulho interior que nos impede de amar, de perdoar – o orgulho que domina o homem, que está lá dentro. Levítico 13:19 diz assim:

19 e no lugar da úlcera aparecer uma inchação branca ou mancha lustrosa, branca que tira a vermelho, mostrar-se-á ao sacerdote.

Temos aqui uma figura dos deleites temporais do pecado. Hebreus 11:25 diz que Moisés escolheu “antes ser maltratado com o povo de Deus do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado”, dos prazeres do mundo.
Assim também é o pecado, essa mancha, essa inchação lustrosa, brilhante, que aparece. Ela prefigura o pecado, seus deleites, o orgulho, essas coisas escondidas que estão na nossa própria carne. Assim como essas manchas, o pecado oferece seus prazeres, ostentando um aspecto brilhante. Mas é aqui que temos que perceber o seu caráter sedutor e destruidor. Levítico 13:3 diz:

(...) o sacerdote o examinará e o declarará imundo.

O leproso sabe que é imundo porque o sacerdote o declarou. Assim, sabemos que somos pecadores porque a Palavra de Deus declara. O pecado não é um mal superficial que nos ataca, e sim algo terrível que está nos nossos corações.
A Palavra de Deus diz em Jeremias 17:9:

9 Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?

Nosso querido Pai celeste sabe que não estamos dispostos a crer que o nosso coração é desesperadamente corrupto. Temos dificuldade para aceitar que o nosso estado é tão avançado, tão grave e que estamos num estado de degradação cuja doença é incurável. Temos dificuldade para aceitar que o nosso estado é tão terrível, que necessitamos que a Palavra de Deus nos convença. Tiago 1:23-24 diz:

23 Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; 24 pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência.

Assim somos nós. Muitas vezes não nos damos conta da gravidade, da seriedade, de como temos vivido a nossa vida. A experiência com a graça do nosso Senhor Jesus Cristo e o conhecimento do Seu amor por nós é o único caminho que pode nos libertar completamente do poder insidioso e terrível do pecado em nós. Somos incapazes por nós mesmos de amar a Deus; somos incapazes por nós mesmos de vencer o pecado; somos incapazes por nós mesmos de amar os irmãos; somos incapazes por nós mesmos de viver a vida da Igreja adequadamente; somos incapazes por nós mesmos de proclamar o testemunho do Senhor; somos incapazes por nós mesmos de vencer o mundo, a carne e o diabo. Por essas e outras razões fomos levados à Cruz e morremos com o Senhor Jesus. Assim como diz Paulo em Colossenses 3:3, nossa vida está oculta nEle. Somente em Cristo nós poderemos ser libertos desse poder terrível, dessa praga perversa – do pecado.
Que o Senhor nos liberte; que o Senhor nos ajude. Que você possa refletir em tudo isso; que você possa ver claramente o seu estado diante de Deus por causa da Palavra que Ele está falando ao seu coração e, assim, perceber como a lepra era uma doença tão terrível naquele tempo, como também o é hoje. Mas naquele tempo era muito mais. Hoje há cura, naquela época não havia. E, graças a Deus, hoje há cura. O poder do sangue de Cristo Jesus nos liberta do poder do pecado que nos oprime e nos afasta de Deus e da comunhão com os irmãos. Que o Senhor nos ajude; que o Senhor nos guarde; que a Sua Palavra esteja em nós e possa ricamente nos conduzir mais e mais à própria vida de Cristo Jesus. Que Deus lhe abençoe!

Por: Ir. Luiz Fontes

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

PARÁBOLA DO SEMEADOR


"Um semeador saiu a semear...

E os que estão junto do caminho...".

Lucas 8.5 e 12.



Encontramos em nossa caminhada cristã vários tipos de pessoas: Algumas que nasceram de novo e estão correndo com perseverança a carreira que está proposta. Há outras que estão no início desta caminhada, são criancinhas em Cristo. Encontraremos também aquelas que estão aprendendo, mas ainda não chegaram ao pleno conhecimento da verdade. Também há aquelas que não entendem nada do que é dito na Palavra; a sua atividade é apenas religiosa, vive uma vida de hipocrisia. Estes são pecadores que se escondem atrás de uma capa de religião para se justificarem diante de Deus.

Nossa função não é julgar, mesmo porque não somos melhores do que ninguém, mas aprender de Jesus sobre a parábola do semeador (Lembrando que uma parábola não é uma estória, mas uma verdade mostrada por um exemplo): "quando semeava, caiu alguma junto do caminho, e foi pisada, e as aves do céu a comeram; e outra caiu sobre pedra e, nascida, secou-se, pois que não tinha umidade; e outra caiu entre espinhos e crescendo com ela os espinhos, a sufocaram; e outra caiu em boa terra, e, nascida, produziu fruto, a cento por um. Dizendo ele estas coisas, clamava: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça" Lucas 8.5-8.

Esta parábola não fala de salvação ou perdição, mas daqueles que são salvos e necessitam crescer sobre a revelação do reino. No livro de Lucas não há a expressão "palavra do reino", mas Mateus 13, no verso 19 ensina assim: "Ouvindo alguém a palavra do reino, e não a entendendo, vem o maligno, e arrebata o que foi semeado no seu coração; este é o que foi semeado ao pé do caminho". Nesta parábola Jesus ensina aos seus discípulos e não ao povo. Ao povo não é dado compreender porque para o povo é preciso pregar o evangelho da graça e não o evangelho do reino (Mateus 13.11).

A Palavra é a semente de Deus para quem semeia e pão para quem come: "Porque, assim como desce a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir, e brotar, e dar semente ao semeador, e pão ao que come, assim será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei" Isaías 55.10-11.

A que caiu na beira do caminho, são aquelas que o Senhor não achou a terra fofa, mas dura. A beira do caminho é onde a terra é pisoteada pelos seus transeuntes. Esta terra é comparada àqueles onde a Palavra de Deus cai num coração endurecido para ouvir o ensino do Senhor, num coração de incredulidade: "Portanto, como diz o Espírito Santo: Se ouvirdes hoje a sua voz, não endureçais os vossos corações, como na provocação, no dia da tentação no deserto" Hebreus 3.7-8.

Como disse Jesus, ainda que sejam solos duros, a Palavra é colocada nos seus corações, porque tem coração para receber, e também porque a Palavra de Deus é viva e eficaz (Hebreus 4.12). Como já vimos em meditações anteriores, a Palavra de Deus para ser implantada nos nossos corações, não depende da nossa compreensão ou aceitação. A princípio ela nos traz conhecimento, depois fé e aí compreensão. Mas estes endurecem o coração e não crêem. Ouvem, mas não a retém, e então vem o diabo e tira do coração a Palavra: "Eles, porém, não quiseram escutar, e deram-me o ombro rebelde, e ensurdeceram os seus ouvidos, para que não ouvissem. Sim, fizeram os seus corações como pedra de diamante, para que não ouvissem a lei, nem as palavras que o Senhor dos Exércitos enviara pelo seu Espírito..." Zacarias 7.11-12.

Aqui mais uma vez Deus nos prova pela Sua Palavra que não é livre-arbítrio; não passa pela mente humana, nem pela vontade do homem. A Palavra de Deus é implantada no coração do homem, mas como o endurece, vem o diabo e tira a Palavra do coração, para que não lhe resplandeça o evangelho do reino, a salvação com glória eterna: "Portanto, tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna" II Timóteo 2.10.

O Senhor nos ensina que uma vez que o recebemos temos que crescer na graça e em seu conhecimento (II Pedro 3.18). A salvação não é o fim da obra de Deus, mas o seu propósito é nos fazer reinar juntamente com Cristo e para isto nos adverte que temos que guardar até o fim a nossa confiança inicial (Hebreus 3.5). Como o Senhor tirou aquele povo de Egito, e o conduziu pelo deserto para introduzi-los na terra, o Senhor tem nos falado sobre um reino, um descanso sabático para o povo de Deus que ainda está por vir, e que devemos, por isso, correr com perseverança a carreira proposta: "Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus. Porque aquele que entrou no seu repouso, ele próprio repousou de suas obras, como Deus das suas. Procuremos, pois, entrar naquele repouso, para que ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência" Hebreus 4.9-11.

Jesus nesta parábola nos ensina sobre a nossa caminhada cristã, e os percalços que vamos encontrar no caminho. A primeira delas é quando ele nos ensina sobre o reino. A salvação é pela graça, mas a entrada no reino requer esforço e diligência: "Esforcemo-nos, pois, por entrar naquele descanso, a fim de que ninguém caia, segundo o mesmo exemplo de desobediência" . A graça se manifestou salvadora a todos os homens (Tito 2.11), é para todo aquele que confessar a Jesus como Senhor e crer no seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos (Romanos 10.9). Mas no reino nem todos os filhos de Deus irão entrar, nem todos irão reinar com Cristo, somente os vencedores: "Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no meu trono; assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono" Apocalipse 3.21.

Por isso quando o Senhor nos ensina sobre o reino, ainda que não compreendamos muito bem, temos que recebê-lo por fé. Saber é o primeiro passo do Senhor para nós, depois mediante a Sua Palavra temos que crer, e depois então vamos entender: "Vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor, e meu servo, a quem escolhi; para que o saibais, e me creiais, e entendais que eu sou o mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá" Isaías 43.10. Este é o primeiro passo quando ouvimos a palavra do reino. Mas aí vem a segunda parte.





"E os que estão sobre pedra...".

Lucas 8.5 e 13.



Acima Jesus nos ensina sobre aqueles que a Palavra cai à beira do caminho, isto é, a Palavra é colocada em seus corações, mas porque eles endurecem o coração quando ouvem a palavra do reino, e não crêem, logo vem o diabo e tira do coração a Palavra. É interessante que quando ouvem até consentem com a verdade, mas depois que o diabo tira a palavra do coração é como se nunca a tivessem ouvido.

Como podemos notar em todos eles a Palavra é a mesma, os solos é que são diferentes. Nesse, a Palavra caiu sobre pedra: "E os que estão sobre pedra, estes são os que, ouvindo a palavra, a recebem com alegria, mas, como não têm raiz, apenas crêem por algum tempo, e no tempo da tentação se desviam" Lucas 8.13. Ou como diz em Mateus, vindo a angústia e a perseguição, logo se escandalizam (Mateus 13.21).

Como disse Jesus, estes são os que ouvem a Palavra, e a recebem com alegria. A sua fé é temporária, mas quando vem a provação, se escandalizam. A vida cristã não é uma vida de aparências, mas de fé em fé, e de fé e perseverança: "E o irmão entregará à morte o irmão, e o pai ao filho; e levantar-se-ão os filhos contra os pais, e os farão morrer. E sereis odiados por todos por amor do meu nome; mas quem perseverar até ao fim, esse será salvo" Mateus 13.12-13. As que caíram sobre pedra, são aqueles que receberam a fé que vem pelo ouvir da Palavra de Deus (Romanos 10.17), mas não suportam as provações, as tentações, as perseguições por amor do Senhor. São os filhos de Deus que não querem passar sofrimentos pela causa de Cristo. E por não passarem as provações, não crescem, não chegam à perfeição: "Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações; sabendo que a prova da vossa fé opera a paciência. Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma" Tiago 1.2-4.

O Senhor não concorda em Sua Palavra com o evangelho da prosperidade, e muito menos com o evangelho triunfalista. O Senhor não promete para os seus filhos neste mundo uma vida pacata e tranquila. O que vemos muito claramente são perseguições, injúrias, necessidades e até mortes. Quando recebemos a palavra do reino, e a retemos com alegria, e passamos a caminhar com os olhos fitos em Jesus, aí começam as angústias, as provações e perseguições. É neste momento que mostramos a nossa perseverança ou não nesta palavra. Mas também é neste momento que as forças do inferno se levantam para nos impedir de caminhar, de fazer mais firme a nossa vocação e eleição (II Pedro 1.10-11).

Como nos ensina Deus em Sua Palavra, não há mais volta para aqueles em que a semente cai sobre pedra. Como Esaú, eles até podem chorar querendo a benção, mas não encontram lugar de arrependimento; estes não podem ser renovados para o arrependimento: "E ninguém seja devasso, ou profano, como Esaú, que por uma refeição vendeu o seu direito de primogenitura. Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que com lágrimas o buscou" Hebreus 12.16-17.

Esse não é o caso daqueles que caem em pecado, se desviam e depois vem para a sua denominada `igreja´ buscando reconciliação. Nesse caso as denominações recebem de volta, mas Deus nunca o recebeu. Ele somente se desvia do convívio com a igreja em que freqüentava, porque o homem nasce em pecado, e é desviado de Deus desde a madre: "Alienam-se os ímpios desde a madre; andam errados desde que nasceram, falando mentiras" Salmos 58.3; se não houver um nascimento do Espírito, será como uma porca que foi lavada pelo batismo e volta para o lamaçal. Volta suja, tornam a lavá-la e volta a sujar-se novamente: "Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro. Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado; deste modo sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: O cão voltou ao seu próprio vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama" II Pedro 2.20-22.

Para os que caíram entre pedras não há mais volta, somente a tristeza de ficar fora do reino. Para o que se desviou da chamada `igreja´ em que freqüenta, pode haver um verdadeiro arrependimento para com Deus, mas para os que a semente caíu sobre pedra não. Como as virgens insensatas, quando o noivo vier, eles ficarão fora do reino, a lamentar com choros e ranger de dentes: "Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, e Isaque, e Jacó, e todos os profetas no reino de Deus, e vós lançados fora." Lucas 13.28.

Temos que compreender muito claramente que nesta parábola o Senhor Jesus não fala de salvação ou perdição. Os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento. Aquilo que Deus nos deu por graça em Cristo jamais será tirado de nós. A redenção que o Senhor nos deu é eterna, mas o que o Senhor nos ensina nesta parábola é sobre o que acontece conosco na nossa caminhada cristã. Desde quando recebemos a palavra do reino, até a nossa entrada no reino em si. Como iremos nos portar diante das agruras desta vida, do nosso viver neste mundo como filhos de Deus. Não sendo somente ouvidos esquecidos, da palavra que é poderosa para salvar as nossas almas, mas executores da obra (Tiago 1.19-25). Edificando a nossa casa sobre uma rocha (Mateus 7.24).

A salvação não é um fim, mas o início de uma caminhada cristã que nos levará à entrada num reino, e de lá, depois de mil anos, ao novo céu e nova terra. É verdade que depois de mil anos todos os filhos de Deus, tanto os que reinaram com Jesus e os que ficaram fora do reino irão novamente se reunir com o Senhor para a entrada no novo céu e nova terra, mas como diz Paulo em I Coríntios 3, dos versos 12 a 15, sofrerão um prejuízo de mil anos. Mil anos para Deus é como um dia, mas para aqueles que não atentarem para a Sua Palavra, se escandalizarem e não perseverarem até o fim, será uma eternidade: "E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo".

Portanto, a exortação de Deus para todos os que têm ouvido a Sua Palavra é: "Portanto, convém-nos atentar com mais diligência para as coisas que já temos ouvido, para que em tempo algum nos desviemos delas. Porque, se a palavra falada pelos anjos permaneceu firme, e toda a transgressão e desobediência recebeu a justa retribuição, Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação, a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram;... Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo. Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado; porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim" Hebreus 2.1-3, 3.12-14.





"A parte que caiu entre os espinhos...".

Lucas 8.5 e 14.



Vimos anteriormente Jesus nos ensinando sobre aqueles em que a Palavra caiu na beira do caminho e entre pedras. Esses são os que ouvem e não a retém, e os que caíram sobre pedras são os que recebem com alegria, mas é de pouca duração; logo se escandalizam por causa das provações, angústias e perseguições que sofrem por causa da Palavra. Experimentam várias coisas de Deus, a salvação foi real para eles, mas no tempo da angústia e das perseguições preferem não sofrer pelo Senhor. Buscam o seu próprio proveito e se conformam a este mundo, procurando viver anônimos, ou no mínimo, como aqueles que não provocam nenhuma contrariedade.

Na continuação da parábola do semeador Jesus nos ensina sobre aqueles em que a Palavra caiu entre espinhos: "E a que caiu entre espinhos, esses são os que ouviram e, indo por diante, são sufocados com os cuidados e riquezas e deleites da vida, e não dão fruto com perfeição" Lucas 8.14. Há outra versão que diz que os frutos não chegam a amadurecer. Eles dão frutos, vai o seu caminho, mas o fruto fica verde e se perde. Eu creio que este é o estágio mais perigoso para um filho de Deus, quando ele se depara com os prazeres desta vida.

Deus planta a boa semente, na esperança de colher bons frutos: "Ou não o diz certamente por nós? Certamente que por nós está escrito; porque o que lavra deve lavrar com esperança e o que debulha deve debulhar com esperança de participar do fruto" I Coríntios 9.10, mas como disse Jesus, ela é sufocada com os cuidados, riquezas e deleites da vida. A pessoa crê com o coração, permanece na Sua Palavra, e vai o seu caminho como um cristão, mas o cuidado e o prazer pelas coisas do mundo sufocam a Palavra e não deixa que esse cristão dê um fruto perfeito, um fruto que chegue a amadurecer: "Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre" I João 2.15-17.

Muitos dão como desculpas nos seus muitos afazeres e cuidados com as coisas dessa vida, que tem de cuidar com diligência daquilo que Deus lhes deu, como uma mordomia, mas não é isso. Os cuidados dessa vida não podem sufocar a Palavra que é viva em nós. Essas coisas não podem ser impedimentos para a vida cristã, e sim de edificação. Quando nos são dadas como mordomia, não sufocam a Palavra, mas dá muito fruto. Jesus aqui nos ensina que a que caiu entre espinhos, que são esses cuidados e deleites da vida, eles sufocam a Palavra. Esses cristãos não dão fruto com perfeição.

A vida cristã é para alegria mútua, tanto de Deus que semeia a boa Palavra, como daquele que dá bom fruto: "E, dizendo-o a Jotão, foi e pôs-se no cume do monte de Gerizim, e levantou a sua voz, e clamou e disse-lhes: Ouvi-me, cidadãos de Siquém, e Deus vos ouvirá a vós; foram uma vez as árvores a ungir para si um rei, e disseram à oliveira: Reina tu sobre nós. Porém a oliveira lhes disse: Deixaria eu a minha gordura, que Deus e os homens em mim prezam, e iria pairar sobre as árvores? Então disseram as árvores à figueira: Vem tu, e reina sobre nós. Porém a figueira lhes disse: Deixaria eu a minha doçura, o meu bom fruto, e iria pairar sobre as árvores? Então disseram as árvores à videira: Vem tu, e reina sobre nós. Porém a videira lhes disse: Deixaria eu o meu mosto, que alegra a Deus e aos homens, e iria pairar sobre as árvores? Então todas as árvores disseram ao espinheiro: Vem tu, e reina sobre nós. E disse o espinheiro às árvores: Se, na verdade, me ungis por rei sobre vós, vinde, e confiai-vos debaixo da minha sombra; mas, se não, saia fogo do espinheiro que consuma os cedros do Líbano" Juízes 9.7-15.

A vida cristã é comparada a uma plantação do Senhor, que dá muito fruto, para que Ele seja glorificado (Isaías 61.3 e Salmos 1.3). Jesus nos ensina que o Pai é o viticultor, Jesus a videira e nós os ramos. Ele cuida para que a sua videira dê muito fruto. Fomos escolhidos por Jesus para dar muito fruto, e não podemos deixar que o mundo, os seus cuidados e os seus deleites nos desviem do propósito de Deus: "Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto. Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda" João 15.1-2 e 16.

Para os cristãos, a amizade do mundo é inimizade contra Deus (Tiago 4.4), mas não podemos esquecer que a sedução das riquezas e os deleites da vida também não o deixam dar fruto com perfeição. Fomos criados para a Sua Glória: "A todos os que são chamados pelo meu nome e os que criei para a minha glória, os formei, e também os fiz" Isaías 43.7, e para publicar o seu louvor e não para envolvermos e nos deleitarmos com as coisas dessa vida: "Esse povo que formei para mim, para que publicasse o meu louvor" Isaías 43.21.

Alias, há uma coisa apenas que Deus considera galardão nesta vida, é comer do bem do nosso trabalho e gozar com a mulher da nossa mocidade, porque o restante é vão: "Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias da tua vida vã, os quais Deus te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vaidade; porque esta é a tua porção nesta vida, e no teu trabalho, que tu fizeste debaixo do sol" Eclesiastes 9.9.

Amar a Deus de todo o nosso coração, de todo a nossa alma e de todo o nosso pensamento é o primeiro e grande mandamento. Amar o próximo como a si mesmo é o segundo e semelhante a este (Mateus 22.37-39). Amar não é buscar o nosso próprio interesse, mas o do outro. Amar a Deus é viver para Ele, buscar o seu interesse e não o nosso; publicar o seu louvor, glorificá-Lo, e dar fruto com perfeição: "Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais de outro, daquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que demos fruto para Deus" Romanos 7.4.

Creio que em todas essas fazes que um cristão passa, como já dissemos, esta é a mais perigosa porque pode parecer como se fosse uma benção de Deus. Como se a prosperidade, os prazeres da vida fossem uma benção de Deus, e é desde que não sufoque a Palavra, desde que não torne a vida cristã infrutífera, estéril ou vã na graça de Deus: "Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus, que está comigo" I Coríntios 15.10.

Mas se formos a fundo nestas três fases que acontecem na vida de um cristão, vamos constatar que Satanás está por trás de todas elas. A primeira Jesus se refere a ele como arrebatando a palavra do coração daqueles que ouviram, mas entre as pedras e os espinhos com certeza ele está por trás, criando impedimentos para os filhos de Deus, e até entre aqueles que a semente caiu em boa terra. Ele não pode retirar aquilo que Deus deu a um filho, a salvação e o penhor do Espírito, mas ele tenta de todas as formas impedir que um filho de Deus cresça, que dê muito fruto. Ele é o inimigo das nossas almas, e já que ele não consegue tirar a salvação, vai impedir de todas as formas que um filho de Deus reine, porque esse é a sua inveja desde o princípio. Ele nunca aceitou que Deus desse ao homem reinar nesta terra, e de todas as formas vem tentando impedir desde o jardim do Éden.

E não somente isto, mas como ele hoje é o príncipe deste mundo, se agarra com unhas e dentes impedindo que o reino do Senhor seja estabelecido neste mundo e que os filhos de Deus reinem com Ele. Ele não poderá impedir completamente isto, mas para ele, ficará satisfeito em impedir que muitos reinem e se glorie em Cristo. Mas há um jeito precioso de vencê-lo, não nos conformarmos a este mundo, pois o mundo jaz no maligno, e vencê-lo pelo sangue do Cordeiro e pela Palavra do seu testemunho (Apocalipse 12.11). Portanto, estejamos apercebidos, tomando toda a armadura de Deus e resistindo; remindo o tempo porque os dias são maus. Amém.





"E a que caiu em boa terra...".

Lucas 8.5 e 15.



Como vimos anteriormente, Jesus nos ensinando os três tipos de solos em que a Palavra de Deus caiu. No primeiro a Palavra foi colocada no coração, mas vem o diabo e a arrebata para que não creiam. No segundo, a Palavra caiu entre pedras. Esses recebem a Palavra com alegria, mas são de pouca duração, não perseveram na vida cristã. O terceiro caiu entre espinhos. Esses são os que se envolvem com os cuidados, deleites e prazeres dessa vida e não dão fruto com perfeição.

Os seus frutos não chegam a amadurecer, ficam ociosos e infrutíferos no conhecimento de Cristo: "E vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência, e à ciência a temperança, e à temperança a paciência, e à paciência a piedade, e à piedade o amor fraternal, e ao amor fraternal a caridade. Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, não vos deixarão ociosos nem estéreis no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois aquele em quem não há estas coisas é cego, nada vendo ao longe" II Pedro 1.5-9. Só enxergam o que está perto; só atentam para as coisas temporais, as coisas que são visíveis: "Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas" II Coríntios 4.18.

Jesus agora nos fala por último, de um solo fértil, de uma boa terra que recebe a Palavra e dá fruto com perseverança: "E a que caiu em boa terra, esses são os que, ouvindo a palavra, a conservam num coração honesto e bom, e dão fruto com perseverança" Lucas 8.15. Esses são os cristãos que recebem a Palavra com um coração puro; um coração honesto e bom. Esses são aqueles que guardam a Palavra de Deus em seus corações para não pecar contra Ele: "Filho meu, guarda as minhas palavras, e esconde dentro de ti os meus mandamentos. Guarda os meus mandamentos e vive; e a minha lei, como a menina dos teus olhos. Ata-os aos teus dedos, escreve-os na tábua do teu coração" Provérbios 7.1-3.

Esse é a vida que Deus escolheu e nos deu para vivermos diante dEle, a vida de Seu Filho. Essa não é a vida de um cristão especial, ou excepcional, mas de um cristão normal, mas muito raros nesses dias. Toda a suficiência para ela está em Cristo que é a nossa vida. Deus já nos deu tudo o que diz respeito à vida e a piedade, pelo pleno conhecimento, daquele que nos deu a sua plena graça, que nos chamou por sua própria glória e virtude (II Pedro 1.3). O único impedimento para vivermos esta vida vitoriosa não está em Deus, mas em nós mesmos, quando não recebemos a palavra em nós implantada e não cremos, ou nos deixamos nos envolver com as coisas desta vida. Da mesma forma que Deus pregou a Israel sobre uma terra que emanava leite e mel, o Senhor tem hoje nos falado das abundantes riquezas da sua graça para conosco em Cristo Jesus, onde estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento.

Somente quando tiramos os olhos de Jesus é que ficamos confundidos. Naquilo que olhamos, que contemplamos é o que refletimos. Quando olhamos para as circunstâncias, para as angústias, perseguições, ou mesmo para as seduções das riquezas e deleites desta vida, refletimos no rosto como um espelho a glória daquilo que contemplamos. Se olharmos para estas coisas, vamos refletir no nosso viver estas coisas, mas se olhamos firmemente para o Senhor, vamos refletir como um espelho a glória do Senhor. E nesta glória somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor (II Coríntios 3.18).

O mundo hoje vive em alta velocidade, exalta a precocidade. O amadurecimento é feito em estufa, cada um busca o que é propriamente seu e não o que é de Cristo (Filipenses 2.21); mas isto não se conforma com o Reino de Deus: "Portanto assim diz o Senhor Deus: Eis que eu assentei em Sião uma pedra, uma pedra já provada, pedra preciosa de esquina, que está bem firme e fundada; aquele que crer não se apresse" Isaías 28.16. "Mas, amados, não ignoreis uma coisa, que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia" II Pedro 3.8.

No Reino de Deus, tudo tem o seu tempo próprio, e esse tempo é determinado por Deus: "Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou" Eclesiastes 3.1-2. Para tudo há um tempo e um propósito. O Senhor poderia nos dar a salvação e imediatamente nos retirar deste mundo, mas Ele não faz isto. Ele usa este mundo, e até mesmo permite as investidas de Satanás, como uma escola, como um exercício da fé para nós, mas não para sermos vencidos, antes, sermos vencedores. Para estarmos com o Senhor Jesus em seu reino temos que ser preparados para ele, obtermos o caráter de Cristo e do seu reino de justiça. Nesta escola, na escola neste mundo vamos passar por um ensino didático, depois prático, e em cada ensino as provas virão a cada tempo para estarmos aprovados diante de Deus.

No livro de Marcos, capítulo 4, dos versos 4 a 29, podemos notar detalhes preciosos quando Jesus conta a parábola do semeador. Nos versos 16 e 17, ele ensina que a que caiu entre pedras, são aqueles que são apressados, são temporãos, fora do tempo de Deus: "E da mesma forma os que recebem a semente sobre pedregais; os quais, ouvindo a palavra, logo com prazer a recebem; mas não têm raiz em si mesmos, antes são temporãos; depois, sobrevindo tribulação ou perseguição, por causa da palavra, logo se escandalizam". Logo em seguida, no mesmo capítulo 4 de Marcos, nos versos 26 a 29, Ele nos ensina ao que se assemelha o Reino de Deus, às fases normais de plantio e crescimento: "E dizia: O reino de Deus é assim como se um homem lançasse semente à terra. E dormisse, e se levantasse de noite ou de dia, e a semente brotasse e crescesse, não sabendo ele como. Porque a terra por si mesma frutifica, primeiro a erva, depois a espiga, por último o grão cheio na espiga. E, quando já o fruto se mostra, mete-se-lhe logo a foice, porque está chegada a ceifa".

A Palavra que cai num coração honesto e bom, no coração de um cristão normal, que permanece em Cristo e na Sua Palavra (João 15.4-7), ele dá fruto com perseverança. O fruto não é nosso, mas de Cristo, do Espírito: "Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança" Gálatas 5.22; mas para isso, é necessário que cresçamos em tudo, naquele que é a cabeça Cristo, com um aumento concedido por Deus, e não no tempo desse mundo: "Ninguém vos domine a seu bel-prazer com pretexto de humildade e culto dos anjos, envolvendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão, e não ligado à cabeça, da qual todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo em aumento de Deus" Colossenses 2.18-19.

Como disse Jesus, é necessário primeiro nascer de novo: "Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus" João 3.3, depois crescer na graça e no conhecimento dEle: "Antes crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo" II Pedro 3.18; se encher do Espírito: "E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito" Efésios 5.18; depois perseverar nEle, e o fruto se tornará uma conseqüência natural: "Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira, vós as varas; quem permanece em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer" João 15.4-5.

Todo o trabalho é de Deus, de Seu Filho Jesus, e do Espírito Santo. Eles têm lançado a sua semente, regado e trabalhado, para que se regozijem no tempo da colheita: "E o que ceifa recebe galardão, e ajunta fruto para a vida eterna; para que, assim o que semeia como o que ceifa, ambos se regozijem" João 4.36. Toda vara nEle que não dá fruto será cortada e lançada no fogo (João 15.6). Todo o empenho do Senhor com os seus filhos é que dê o seu fruto a seu tempo: "Porque a terra que embebe a chuva, que muitas vezes cai sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a bênção de Deus; mas a que produz espinhos e abrolhos, é reprovada, e perto está da maldição; o seu fim é ser queimada. Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores, e coisas que acompanham a salvação, ainda que assim falamos. Porque Deus não é injusto para se esquecer da vossa obra, e do trabalho do amor que para com o seu nome mostrastes, enquanto servistes aos santos; e ainda servis. Mas desejamos que cada um de vós mostre o mesmo cuidado até ao fim, para completa certeza da esperança; para que vos não façais negligentes, mas sejais imitadores dos que pela fé e paciência herdam as promessas" Hebreus 6.7-12.

Mas mesmo dando fruto com perseverança Jesus nos diz por esta semente que caiu em boa terra, que a produção dos frutos podem ser em porcentagens diferentes. Em Lucas diz apenas que produz cento por um, mas em Marcos, no capítulo 4, no verso 20 diz: "E os que recebem a semente em boa terra são os que ouvem a palavra e a recebem, e dão fruto, um a trinta, outro a sessenta, outro a cem, por um". Este um é Cristo, é a divina semente que permanece em nós (I João 3.9), e nEle podemos frutificar 100%, 60% ou 30%. Lucas fala 100, e em Marcos também termina por 100, porque o propósito do Senhor é que vivamos 100% em Cristo. Que 100% da nossa vida seja dando fruto para Deus em Cristo (Romanos 7.4).

Por isso temos que estar apercebidos, vigiando, porque nem tudo o que reluz neste mundo é ouro, é do alto. Se algo que parece ser bom se tornar instrumento de impedimento para o crescimento na vida cristã é uma tentação e não benção. Vemos que a mesma artimanha que Satanás usou com Jesus, usa com os filhos de Deus. Na tentação de Jesus no deserto, ele primeiro tenta fazer da Palavra de Deus algo apenas para o sustento da sua necessidade e prazer cotidiano. Com Pedro, ele tenta Jesus a ter compaixão de si mesmo, tentando levar Jesus a se escandalizar do caminho da cruz que Deus o Pai tinha determinado para Ele (Mateus 16.21-22). Depois, retornando novamente à tentação no deserto, tenta Jesus com as riquezas e glórias deste mundo (Mateus 4.3-11). Estas são as mesmas três coisas que Jesus disse na parábola do semeador: a semente que caiu à beira do caminho, entre as pedras e entre os espinhos.

Da mesma maneira que Ele foi tentado nós também somos, e da mesma maneira que Ele sofreu e perseverou, nós temos também que sofrer e perseverar. Claro! Não em nós mesmos, não na força do nosso braço e suficiência, mas naquele que já é vencedor e que em tudo nos conduz em triunfo: Cristo nossa vida. E se sofrermos e perseverarmos Jesus nos dá a promessa de reinarmos com Ele, caso contrário Ele nos negará: "Se sofrermos, também com ele reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará; se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo". II Timóteo 2.12-13. Ele é justo, porque estaremos negando aquele que em nós é tudo em todos. Amém.


Por: Ir. Edward Burke Junior