quinta-feira, 15 de abril de 2010

Estudo do livro de Efésios - Reunião de quinta feira dia 15/04/2010

CAPÍTULO 2

O HOMEM EM PECADO

"E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência, entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também." - Efésios 2:1-3

Com estas palavras o apóstolo está interessado em mostrar aos cristãos efésios, e a todos outros cristãos a quem ele estava escrevendo, e portanto a nós, a grandeza e a glória da salvação cristã. Estes efésios já tinham crido no evangelho. Paulo já tinha dado graças a Deus pela fé que eles tinham no Senhor Jesus e pelo seu amor para com todos os santos. Eles tinham sido selados com o Espírito Santo e tinham em si o penhor da herança. E, contudo, o apóstolo ora para que os olhos do entendimento deles sejam iluminados. Eles estão apenas no começo, são simples crianças. Ele quer que eles captem algo da amplitude, da grandeza e da majestade desta maravilhosa salvação. E, sujeitos como ainda estão à tentação, e vivendo num mundo contraditório e cercados de paganismo e de oposição em diversas formas, o apóstolo está particularmente desejoso de que eles tenham claro entendimento da grandeza do poder de Deus para com os que crêem. E seguramente essa é uma coisa que necessitamos saber e da qual devemos estar certos na vida cristã. Nada é mais vital do que termos claro conhecimento acerca do poder de Deus que se manifesta nesta salvação cristã.
O apóstolo escreve com o fim de ajudá-los nesse aspecto. Ele não somente ora por eles, mas também os instrui. E as duas coisas devem andar sempre juntas. Ele ora para que os olhos do seu entendimento sejam iluminados pelo Espírito Santo. Isso é absolutamente vital. Sem o entendimento que só o Espírito Santo pode nos dar, palavras como as que vamos considerar, obviamente serão completamente sem sentido para nós. Além disso, provavelmente as odiaremos e as acharemos pessimistas e mórbidas. Diz o homem, por natureza, que o que ele quer é algo que o alegre, não uma terrível análise da natureza humana como esta, que é tão deprimente. Noutras palavras, sem que tenhamos mente espiritual, não podemos ter esperança de entendê-las. Por isso o apóstolo coloca isso em primeiro lugar. Primeiro vem a sua oração. Depois, havendo orado, ele coloca diante dos efésios o conhecimento e a instrução.
Como podemos ter uma verdadeira concepção da grandeza do poder de Deus na salvação? Este é um tema que se repete constantemen¬te nas cartas do apóstolo Paulo. Vejam a magnífica declaração em Romanos 1:16, "não me envergonho do evangelho de Cristo". Por quê? Porque "é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê". O poder! Como medi-lo? O apóstolo nos dá as medidas precisas aqui.


A profundidade do pecado

A primeira medida é a profundidade do pecado da qual fomos levantados. Noutras palavras, afim de medir a grandeza deste poder, primeiro você tem que ir ao fundo, e depois tem que subir. O homem jamais começa ao nível do chão, por assim dizer. Não começamos neutros, não começamos numa espécie de estado indeterminado, nem bom nem mau. Não, nós começamos nas profundezas de um poço. Primeiro somos levantados e retirados de lá; e depois somos elevados diretamente para os próprios céus. Assim, o apóstolo começa onde nós devernos começar. A salvação chega a nós onde estamos; não onde gostaríamos de estar, nem como gostaríamos de pensar em nós idealis¬ticamente. O evangelho de Jesus Cristo é totalmente realista, e ele começa conosco exatam ente onde estamos, e esse lugar é o fundo de um poço de corrupção.
O argumento do apóstolo é que nunca teremos uma adequada convepção da grandeza desta salvação, a menos que compreendamos alguma coisa do que éramos antes de sermos tomados por esse grande poder, a menos que compreendamos o que seríamos ainda, se Deus não interferisse nas nossas vidas e não nos tivesse resgatado. Noutras palavras, temos que compreender: a profundidade do pecado, o que o pecado significa realmente e o que ele fez com a raça humana. Temos que começar corn isto porque é um fato – não porque é uma teoria, e sim, porque é um fato. A Bíblia é um livro de fatos; é um livro que se interessa por nós como somos; é histórico. Devemos começar com fatos, gostemos ou não. Se quisermos ser honestos em nosso raciocínio, teremos que encarar os fatos, e aqui está o primeiro deles.
Permitam-me mostrar-lhes como é absolutamente vital que comecemos aqui. Nenhum homem jamais terá uma verdadeira concepção do ensino bíblico sobre a redenção, se não tiver claro entendimento da doutrina bíblica do pecado. E aí está porque tanta gente hoje é tão frouxa e vaga em suas ideias de redenção. A ideia comum é que o nosso Senhor é uma espécie de amigo a quem podemos recorrer quando estamos em dificuldades, como se isso fosse tudo. Ele é isso – graças a Deus porque é! Mas isso não é a redenção em sua inteireza, nem em sua essência. Vocês não poderão começar a medir a redenção, enquanto não compre¬enderem algo do que a Bíblia nos ensina acerca do homem em pecado e de todo o efeito do pecado sobre o homem. Ou deixem-me expressá-lo de outro modo. Vocês não terão a mínima possibilidade de entender a doutrina da encarnação, se não entenderem esta doutrina do pecado. Diz-nos a Bíblia que o homem estava em tais condições que era necessária a vinda da Segunda Pessoa da Trindade santa e bendita dos céus à terra. Ele teve que descer, assumir a natureza humana e nascer como um bebê. Isso era absolutamente essencial antes de se poder redimir o homem. Por quê? Por causa do pecado, da natureza do pecado. Portanto, vocês vêem, vocês não poderão entender a encarnação, se não tiverem claro entendimento sobre o pecado. De igual modo, vejam a cruz no Calvário. Que é ela? Que significa? Que nos diz? Que está acontecendo ali? Torno a dizer que vocês não terão a mínima possibilidade de entender a morte de nosso Senhor e o que Ele fez na cruz, se não entenderem claramente esta doutrina do pecado. O caráter comple¬tamente vago das ideias de muitos sobre a morte de nosso Senhor deve¬-se inteiramente a isto. Não gostam da doutrina da substituição; não gostam da doutrina do sofrimento penal. Isso porque nunca entendem o problema. Porque não começam com o homem em pecado. Estas são as grandes doutrinas cardinais da fé cristã, e não podem ser entendidas, a não ser à luz da terrível condição do homem em pecado.
Deixem-me, porém, ser ainda mais prático. Talvez alguém diga: ah, bem, você fala acerca das suas doutrinas. Não estou interessado em doutrinas, não sou um dos seus teólogos, sou um frio homem do mundo, homem de negócio, e quero saber algo sobre a vida e como viver. Muito bem, enfrentemos esse caso. Estou asseverando que vocês não poderão entender a vida como esta é neste mundo neste momento, se não entenderem esta doutrina do pecado. Vou além, a minha opinião é que, sem isto, vocês não poderão entender a totalidade da história humana, com todas as suas guerras, seus conflitos, suas conquistas, suas calami¬dades, e tudo o que ela registra. Afirmo que não há explicação adequada, salvo na doutrina bíblica do pecado. Só se pode entender verdadeira¬mente a história do mundo à luz desta grande doutrina do homem, do homem decaído e em pecado. Leiam os seus livros sobre a filosofia da história, e verão que eles andam às tontas. Não sabem interpretar os fatos, não conseguem dar uma explicação adequada; todas as suas ideias são completamente falsificadas pela história. Isto porque eles nunca se apercebem de que o ponto de partida é a condição pecaminosa do homem decaído.
São essas, pois, algumas das razões pelas quais devemos considerar esta matéria. Há, em última análise, somente duas explicações propostas quanto a por que o homem é como é e por que o mundo é como é hoje, e por que ele sempre foi o que foi. Há o ensino bíblico; e há todos os outros ensinos não bíblicos. Contrariamente ao ensino bíblico há o ensino popular atual, segundo o qual o homem é o que é, e as coisas são o que são porque o homem não teve tempo suficiente ainda para avançar até a perfeição. Outrora ele era um animal, é o que nos dizem, e isso há não muito tempo. Milhões de anos não são nada, e há apenas alguns milhões de anos o homem era um animal. Habitava nas florestas, trepava nas árvores, e assim por diante. Não se pode esperar que de repente se torne perfeito, dizem eles. Ele está se desfazendo desses vestígios e relíquias animalescos, porém, ainda não o fez completamente. Ele o está fazendo progressivamente, é certo, mas é preciso dar-lhe tempo. Nou¬tras palavras, o problema da humanidade é simplesmente problema de tempo. Tais pensadores não têm muito conforto para dar aos que estamos vivos agora, porque eles dizem que em muitos bilhões de anos por vir, provavelmente o homem conseguirá chegar à perfeição. É tudo uma questão de tempo, uma questão de conhecimento, uma questão de crescimento e instrução, e assim por diante. Agora, ou vocês crêem nisso, ou nalguma variante disso, ou então crêem no que a Bíblia diz acerca do homem. Aqui nos é dito exatamente em que consiste o conceito bíblico.
As diferenças entre o conceito bíblico e todos aqueles outros conceitos são os seguintes: este conceito bíblico é realista. Todos aqueles outros conceitos não encaram os fatos, suprimem certo número de fatos. São muito agradáveis e favoráveis; querem fazer-nos pensar bem de nós e do homem, pelo que dizem: dêem uma oportunidade ao homem; ele nunca teve uma chance completa ou uma oportunidade certa, mas dêem tempo a ele, etc. Por outro lado, a Bíblia, com realismo total, vem a nós e nos afirma que o homem é tolo, que o homem trouxe calamidade para si mesmo, que é porque o homem é, como Paulo se expressa aqui, "um filho da desobediência", que ele é o que é e o seu mundo é o que é. Ela assevera que não há escusa para o homem, que ele tem de admiti-lo, que ele tem que encará-lo, e que não há esperança para ele enquanto não o fizer. Isso se chama arrependimento. Ela é realista. E se não houvesse outra razão para crer na Bíblia, e para crer que a Bíblia é a Palavra de Deus, esta seria suficiente para mim; ela me diz o que eu sei que é a completa verdade acerca de mim mesmo. E não sei doutra coisa que o faça. Os seus romances não o fazem – eles dizem o que me agrada e não me levam a pensar com muito rigor sobre mim mesmo. Eles tentam levantar o meu moral, tratam-me psicologicamente; no entanto, o que eles dizem não é verdade. Unicamente o conceito bíblico é realista.
Não somente isso, é também radical, desce às profundezas. Não enfrenta apenas certos aspectos do problema do homem em geral e do indivíduo; enfrenta todos eles. Embora penoso, o processo toma o seu bisturi, por assim dizer, e se põe a dissecar até o câncer ficar exposto. É radical. E é por isso que, às vezes, é extremamente difícil não nos impacientarmos com o que o mundo está sempre tão pronto a acreditar. O mundo, com as suas ideias e filosofias, está apenas medicando sintomas, administrando os seus barbitúricos num sentido espiritual, e os seus anódinos, as suas aspirinas, etc.; e porque a nossa dor é aliviada por algum tempo, achamos que estamos bem, mas o estado de saúde nunca foi diagnosticado, nunca foi posto às claras; não é enfrentado. O mundo não gosta de nada que seja desagradável; tem medo disso, e assim não o enfrenta. Nunca é radical. Todavia, como veremos, a Bíblia é muito radical.
Depois, a última coisa que eu gostaria de dizer em geral a respeito disso é que este conceito bíblico é, ao mesmo tempo, mais pessimista e otimista que todos os outros conceitos. O homem sempre foi atrás de alguma utopia, sempre tem feito isso, através dos séculos. Mas nunca chega lá, Portanto, tudo isso é final e completamente pessimista. Só existe um conceito verdadeiramente otimista da vida, e é aquele que nos diz que, apesar de estar o homem nas profundezas do pecado, o poder de Deus pode vir, pode segurá-lo e pode elevá-lo às alturas, e que isto foi feito em Jesus Cristo, o nosso Senhor.
Tivemos uma visão geral desta situação. Mas partamos agora para os detalhes, para o ensino específico. Nestes três versículos o apóstolo faz um sumário de modo o mais admirável, e talvez o mais perfeito da Bíblia toda – um sumário da doutrina bíblica, do conceito escriturístico sobre o homem em pecado. Ele diz quatro coisas a respeito disso:

• Em primeiro lugar, ele descreve o estado do homem em pecado.
• Em segundo lugar, ele nos dá uma explicação deste estado e nos explica por que o homem se acha neste estado.
• Em terceiro lugar, ele nos diz a que esse estado e condição leva na prática.
• E em quarto lugar, ele nos diz como Deus vê o homem nesse estado.

Seria essa a minha análise destes três versículos. Em resumo: as condições; por que o homem está nestas condições; quais os resultados práticos por estar ele nessas condições; e o que Deus pensa disso. Tudo isso está neste três versículos.

O estado do homem em pecado

Comecemos a nossa consideração destas questões partindo do estado do homem em pecado. Qual é ele? Eis a resposta:

"E vos vivifivou, estando vós mortos".

Agora, os tradutores acrescentaram aqui uma palavra que não está no original. O original diz: "Estando vós mortos". Pode-se notar nalgumas versões (e.g., ARC) que a palavra "vivificou" vem impressa em itálicos, o que significa que os tradutores a acrescentaram (e fizeram bem) para nos ajudar a fazer uma leitura mais f1uente. Mas Paulo estava impregnado do seu assunto, e diz: "E estando vós mortos" – não "em" ofensas e pecados, porém, mortos "em razão" deles ou "por causa" deles, que é uma tradução ainda melhor. A palavra vital, todavia, é a palavra "mortos". "Estando vós mortos" ("Vós estáveis mortos", VA), declara Paulo. Que é que ele quer dizer? Bem, é óbvio que ele está falando de uma condição de morte espiritual, nao de morte fatual, física, pois ele prossegue e diz imediatamente: "em que noutro tempo andastes" e em que "todos nós também antes andávamos". Noutras palavras, o ensino do apóstolo é que a vida para o não cristão é uma morte viva. Ele está morto espiritualmente. Vou repetindo as expressões porque são vitais. Vocês notam como é forte o termo. Não existe nenhum termo mais forte que "morte". Como é categórico! Depois de se dizer que um homem está morto não há mais o que dizer. Não é "quase morto"; ele está morto de fato; não é que ele esteja "desesperadamente mal", está "morto". Não há vida nenhuma ali. Pois bem, a palavra é do apóstolo, não minha, palavra utilizada em toda parte nas Escrituras; e é a palavra utilizada acerca do homem que se acha num estado de pecado, antes do poder de Deus para a salvação no evangelho vir a ele e lhe fazer algo. Ele está morto!
Que significa isso? Suponho que a melhor maneira de definir a morte é dizer que é exatamente o oposto e a antítese da vida. Então, que é a Vida? Bem, na Bíblia a Vida é sempre descrita e definida em termos da nossa relação com Deus. Vejam as palavras do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo em João 17:3:

"E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste".

Isso é Vida! Que é a morte? O oposto disso. Deus é o Autor da vida – "Aquele que tem, ele só, a vida e a imortalidade". Ele é a fonte da vida, o mantenedor da vida. Deus é Vida e dá vida, e fora de Deus não há vida. Portanto, podemos definir a vida como segue:
• A vida é conhecer a Deus, estar em relação com Deus, ter prazer em Deus, corresponder-se com Deus, ser semelhante a Deus, compartir a vida de Deus e ser abençoado por Deus.

Segundo a Bíblia, a vida é isso. Portanto, ao definirmos a morte, devemos defini-la como o oposto daquilo tudo. E quando o fizermos, veremos de um relance que o que Paulo diz sobre o não cristão não é nada menos que a pura verdade. Ele está morto, é o que Paulo diz: "Estando vós mortos" ("Vós estáveis mortos", VA); e os não cristãos ainda estão mortos. Que é que ele quer dizer? Ele quer dizer que eles são ignorantes de Deus; não conhecem a Deus. Mais adiante, neste capítulo, o apóstolo expressa isso claramente. Aqui ele diz que aquelas pessoas, antes da sua conversão, estavam exatamente nessa condição. No versículo 12 diz ele que "naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança, e sem Deus...". "Vós estáveis sem Deus"; não O conheciam. Estavam separados da vida de Deus, sem comunhão com Deus. Ah, vocês podem ter falado sobre Deus, mas Deus era uma espécie de termo filosófico para vocês, era algum Ser imaginário nalgum lugar qualquer, apenas Alguém sobre quem conversar. Vocês não O conheciam, não se correspondiam com Ele; vocês estavam fora da Sua vida.
Você conhece a Deus? Não pergunto: você fala sobre Deus? Pergunto, sim: Deus é real para você? Você O conhece? "A vida eterna é esta: que te conheçam ... ". Você pode dizer, "Meu Deus"?
Obviamente, a segunda verdade acerca desta condição é que esse homem é também ignorante das coisas espirituais e da vida espiri¬tual. O apóstolo fala disso ao escrever aos romanos, no capítulo 8, dizendo:

"Os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito".

Interpretando, significa que os que são segundo a carne não são cristãos, interessam-se pelas coisas que condizem com a carne, não se interessam pelas coisas do Espírito. E isto, naturalmente, é puro e duro fato. O incrédulo nada sabe destas coisas, e não quer saber delas. Não se interessa por elas e as acha terrivelmente tediosas. O não cristão acha a Bíblia muito enfadonha, e as exposições sobre a Bíblia muito enfado¬nhas. Ele não acha enfadonhos os filmes, os jornais, os romances; mas essas coisas ele acha enfadonhas. Não gosta das conversas sobre a alma, sobre a vida, sobre a morte, sobre o céu, sobre Deus e sobre o Senhor Jesus Cristo. Não pode evitá-lo, porém simplesmente não vê nada nestas coisas, e não se interessa por elas. O seu interesse está nos homens e em sua aparencia, e no que eles têm falado e dito; o mundo e os seus interesses exercem tremenda atração sobre ele. A situação é perfeitamente simples: estas outras voisas sao espirituais, são de Deus, e aquele tipo de homem não vê. nada nelas. Por quê? Porque ele está "morto": não tem nenhuma vida espiritual. A lei das afinidades é certa. Os semelhantes se atraem, "pássaros de penas iguais voam juntos" – gente do mesmo tipo anda junto. Nasce a criança, e ela quer leite; a sua natureza o requer, mas um objeto inanimado não. Essa é a segunda verdade acerca do homem em pecado.
No entanto, ele não somente não gosta destas coisas, vamos adiante e expressemos o ponto como as Escrituras o expressam; ele até as odeia. Literalmente as odeia, não somente porque lhe são enfadonhas, porém, também porque, de algum modo, ele sente que o fato de não gostar delas o condena. E ele não gosta de sentir isso. Naturalmente ele se dispõe a ter alguma espécie de religião, mas contanto que a possa controlar, controlar o que se diz, e coisas como essas. Ah, sim, tem que haver um limite de tempo nas coisas de Deus; não, contudo, nas coisas do mundo. Esse é o ódio que ele tem de Deus. "A inclinação da carne", afirma Paulo, "é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser" (Romanos 8:7).
Devemos ir mais longe. Obviamente, este tipo de pessoa é diferente de Deus e não participa da vida de Deus. Noutras palavras, para usar um termo bíblico, esse tipo de vida é corrupto. É corrupção. Deus é santo, e todos os que são semelhantes a Deus também são santos. "Sede santos", diz Ele, "porque eu sou santo". Mas as pessoas desse tipo estão mortas, estão fora da Sua vida, são corruptas. São essencialmente más. Deleitam-se nas coisas más, lambem os beiços por elas porque a sua natureza é má. Não há justiça nessas pessoas, não há verdade nelas. Acreditam em mentiras, e elas mesmas são mentirosas, "odiosos, odiando-nos uns aos outros", diz a Biblia (Tito 3:3). Esse é o homem em pecado – morto, fora da vida de Deus.
O que as segue, é claro, é que esse tipo de vida não é abençoado por Deus e, portanto, é infeliz. A vida do homem em pecado é infeliz. Se você contestar isso, só há uma coisa para dizer-lhe e é que você não é cristão. Se você não concorda que a vida ímpia, que a vida do mundo, é infeliz, e que a única vida feliz é a vida cristã, você está simplesmente proclamando que não é cristão. Desejar este tipo de vida, esse tipo de existência, é simplesmente proclamar que você não tem natureza espiritual. A verdade acerca dessa vida é que ela é miserável, infeliz. Olhem por baixo da superfície, e a verão clamar a vocês. O modo de ser do mundo, com todas as suas mudanças, suas constantes mudanças, é uma proclamação de que aqueles que o seguem são profundamente infelizes. É por isso que eles vivem mudando. Cansam-se de tudo, estão sempre em busca de algo novo. Estão sempre em busca de emoções, e correm atrás delas. Por quê? Porque lhes é intolerável passar algumas horas a sós consigo mesmos. Acham a sua própria companhia tão miserável que passam a vida fugindo de si mesmos. Essa é a extensão da miséria de uma vida de pecado: não há recursos nem reservas, porque eles estão fora da vida de Deus. Esse é o homem em pecado. Ele está morto.
Na verdade o apóstolo resume tudo perfeitamente numa declaração do capítulo seis da Epístola aos Romanos, versículo onze; diz ele:

"... considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus...".

Antes vocês não estavam vivos para Deus; agora, como cristãos, estão. Vocês se dão conta que o homem em pecado está morto neste sentido? Dão-se conta de que é o que vocês eram por natureza? Vocês não vêem que é assim que se avalia a salvação? É o que nós todos éramos, declara Paulo. E os que estão em pecado ainda estão naquela situação. Vocês não têm compaixão dos incrédulos? Vocês oram alguma vez por eles? Vocês estão fazendo tudo o que podem para levar-lhes este evangelho, seja neste país ou noutro? Essa é a condição deles. Pobres infelizes! Mortos! Fora da vida de Deus!


Governados por este mundo

Apresso-me a uma segunda questão. A segunda verdade que Paulo nos diz sobre essas pessoas é que elas são governadas por este mundo:

"Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo".

Que declaração! "O curso deste mundo"! A palavra que de fato ele usou foi era, "a era deste mundo". Que é que ele quer dizer com isso? Penso que ele quer dizer que essa espécie de vida é vida sob o controle, a perspectiva e a mentalidade do presente mundo – o "presente século mau", como lhe chamam as Escrituras (Gálatas 1:4). Ora, a dificuldade quanto ao homem em pecado é que ele é levado, é controlado, é absolutamente governado por esse tipo de vida e por esse tipo de perspectiva. Isso é uma coisa que a Bíblia ensina do começo ao fim. De acordo com a Bíblia, o mundo está sempre contra Deus.
Que é "o mundo", no sentido bíblico? É a perspectiva, a menta¬lidade e a organização da vida – à parte de Deus. É o que se quer dizer com a expressão "o mundo", não se trata do universo físico, das montanhas, dos rios, etc. O mundo é uma mentalidade, uma perspectiva, um conceito de vida sem Deus. Deus é excluído; é o próprio homem concebendo e organizando a vida, e controlando a vida. Essa mentali¬dade é que é descrita como "o mundo", Paulo o expressou uma vez por todas neste mesmo capítulo que estamos considerando. Vejam de novo o versículo 12: "Portanto", diz ele, "lembrai-vos de... que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo". Estar sem Deus é "estar no mundo". E estar no mundo é ser governado pela perspectiva e pela mentalidade do mundo. O apóstolo diz a mesma coisa em Romanos 12:2:

"E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso enten¬dimento ...".

Como cristão, diz o apóstolo, não se amolde a este mundo, com a sua mentalidade e a sua perspectiva; você está noutra esfera. 'Transforme-se", "renove a sua mente" para condizer com aquele novo mundo. Ou vejamo que o apóstolo João diz, muito explicitamente:

"Não ameis o mundo, nem o que no mundo há..., a concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e a soberba da vida" (l João 2:15-17).

O mundo é isso. Não amem o mundo, diz com efeito João, vocês não lhe pertencem, ele é completamente oposto a Deus. Não amem o mundo!
Aqui a afirmação do apóstolo é que o não cristão é simplesmente governado e controlado pelo mundo, sua mente, sua perspectiva, sua mentalidade. Não conheço nada que seja mais triste quanto ao homem em pecado do que justamente isso. Vocês vêem isso tudo em seus jornais. Acaso não é triste ver a maneira com que certas pessoas são uuciramente governadas pelo que outras pessoas pensam, dizem e fazem? Elas lamentam por nós, cristãos. Dizem elas: "Imaginem, eles se prenderema esse Livro, aqueles cristãos estreitos e infelizes!" Assim fala o homem do mundo de mente aberta, assim chamado, Como é astuto o diabo em persuadir as pessoas disso! Pois a pequena vida delas é inteiramente governada pela organização do mundo. Elas pensam como o mundo. Tomam as suas opiniões pré-fabricadas do seu jornal favorito. Até a sua aparência é controlada pelo mundo e suas modas, que sempre mudarn. Todas elas se conformam, isso tem que ser feito; não se atrevem a desobedecer: têm medo das consequências. Isso é tirania, é controle absoluto – roupa, estilo de penteado, tudo controlado absolutamente. A mente do mundo! Não há tempo para desenvolver a questão sobre a sutil, quase daibólica influência muitas vezes demonstrada em suas modas sensuais. Esta era é dominada pelo sexo. Isso transparece em toda parte – fotografias, quadros e cartazes que o sugerem. Muitíssimas vidas estão sendo controladas e governadas por isso, todas as suas opiniões, sua linguagem, o modo como gastam o seu dínheiro, o que desejam, aonde vão, onde passam as suas férias; é tudo controlado, governado completamente. Certamente isso tudo nunca foi mais evidente que no mundo atual. Quando as pessoas falam tão levianamente sobre a sua emancipação, dão uma clara prova do fato de que elas sao governadas, dominadas e controladas por este mundo, pela mente do mundo, pela era da propaganda, pela era da publicidade, pela opinião das massas, pelo indivíduo massificado sem saber. Nao é trágico? Mas o homem em pecado é isso. Está espiritualmente morto porque é controlado pela mente do mundo.
Não somente isso, mas o apóstolo vai adiante para dizer-nos que, por sua vez, isso é controlado por um princípio mau que há na vida. Ouçamo-lo colocá-lo desta forma:

"Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência".

A palavra "espírito" aqui significa princípio; há um princípio mau que, diz ele, está operando neste mundo. E essa palavra "operar" é forte. Há nela, uma energia, uma força, um poder. Não há nada mais patetico do que pensar numa vida de pecado como uma vida passiva ou negativa. O fato é que existe este poderoso princípio do mal em ação neste mundo, e é somente o homem que crê na Bíblia e teve a sua mente e seu entendimento iluminados pelo Espírito Santo que pode ver isso. Vocês imagi¬nam que tudo o que vêem na vida hoje simplesmente sucede de qualquer maneira, de alguma forma? Vocês não conseguem ver quão organizado é, quão uniforme, quão astuto, quão parecido em todas as suas partes? Há um princípio do mal em operação. Numa era obscura como esta, damos graças a Deus por toda e qualquer condicação de melhoramento. Refiro-me ao fato de que houve certos filósofos que foram suficiente¬mente sinceros para dizer-nos que a última guerra mundial os convenceu disso. Pensem num homem como o finado Dr. Joad. Ele era um ateu, um incrédulo, antes da guerra. Depois passou a crer na realidade de Deus, e nos diz por quê. Disse ele que a segunda guerra mundial o convenceu de que em todo caso, a Bíblia estava certa nisto, que há um prmcipio do mal em ação. Disse ele que não podia explicar a guerra de nenhum outro modo; ele pôde ver que não se tratava de acidente ou de algo negativo, porém que havia um poder demoníaco em ação, o "espírito que agora opera nos filhos da desobediência". Cabe-nos como povo cristão, reconhecer que essa pobre gente que está sem Deus no mundo está sendo dominada e controlada por esse princípio mau.
Mas ainda precisamos dar mais um passo para trás. Diz o apóstolo que esse princípio mau é governado pelo diabo e por todos os seus poderes: "Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar". Que declaração! Entretanto, certamente, dirá alguma pessoa sofisticada, você não está querendo dizer que ainda acredita no diabo! A resposta é simples: acredito no diabo porque tenho que acreditar. Tenho que acreditar, não apenas porque ele está aí – isso basta para mim – mas eu acredito porque não posso explicar a vida sem ele. E é porque o diabo é ignorado que o mundo é como é. O diabo é tão astuto que ele domina o homem e, ao mesmo tempo, o persuade de que ele não está sendo dominado. O homem até pensa que está se emancipando ao dar as costas à Bíblia. O diabo é também chamado "o deus deste mundo". O Senhor Jesus Cristo chamou-o "o príncipe deste mundo". Referência é feita a ele como "Belzebu, príncipe dos demónios". E é ele que está dominando tudo. Ele odeia Deus. Ele era um anjo que fora criado perfeito por Deus, um anjo refulgente. Levantou-se contra Deus porque queria ser Deus; e oodeia a Deus, e o seu único objetivo é estragar a criação de Deus e arruinar o mundo de Deus. Por isso veio ao mundo e enganou Eva e Adão, e daí em diante é o que vem fazendo. Ele domina a vida do homem. Todos nós estamos, por natureza, sob o domínio de satanás. Ele tem as suas forças, os seus poderes; ele é "o príncipe". Do quê? "Das potestades do ar." Vocês notam como Paulo se expressou sobre isso no capítulo seis desta Epístola, versículo doze: "Não temos que lutar contra a carne e o sangue". Se vocês pensam que o problema com que se defrontam os estadistas hoje é apenas lidar com outros homens semelhantes a eles, vocês são tragicamente ignorantes politicamente, para não dizer espiritualmente. Se vocês pensam que é apenas questão de personalidades, um homem ou outro, como Hitler ou Stalin, vocês ainda não começaram a entender o ponto. "Não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas sim, contra os principados, contra as potestades, contra os princrpes das trevas deste século" – isto é, as potestades do ar, trevas – "contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais."
Diz-nos a Bíblia que existem estes poderes invisíveis, e o diabo é "o príncipe das potestades do ar". Pode-se interpretar a palavra "ar" destas duas maneiras: pode-se dizer príncipe das potestades das trevas, ou príncipe das potestades invisíveis. Não são poderes terrestres, pertecem a outra esfera, são etéreos, por assim dizer, são espirituais. Não têm corpos, mas têm existência real. E a tragédia do homem é que, porque não pode ver os espíritos do mal, não acredita neles. Como não pode ver o Espírito Santo, não crê no Espínto Santo. Como não pode ver a Deus não crê em Deus. Não se dá conta de que está numa esfera espiritual. Isso é porque ele está morto. É por isso que ele está sem entendimento espiritual. "O príncipe das potestades!" Ah, o poder do mal. O não cristão é absolutamente dominado e controlado por esses poderes, e está morto às mãos deles.
Nós também, que somos cristãos, ainda somos confrontados por eles. É isso que o apóstolo diz no capítulo seis desta Epístola. Como cristãos, temos que lutar contra este poder: "Cristão, não procure repouso ainda; fora com os sonhos de comodidade!" E me parece que muitos cristãos estão sonhando com comodidade, e estão pensando e sonhando com um tipo de salvação em que não há conflito e luta. Neste mundo, nunca! Há estes poderes do mal, as potestades do ar, com toda a sua sutileza e malignidade, com toda a sua esperteza e as transformações do seu chefe "em anjo de luz" para poder derrubar-nos. É isso que nos está confrontando. O admirável é algum de nós simplesmente permanecer nesta vida cristã. Somos confrontados por aquele que não hesitou em chegar ao FIlho de Deus e tentá-lO e dizer-Lhe com absoluta confiança: "Se tu és o Filho de Deus". Foi ele que repetidamente derrotou os patriarcas e os santos do Velho Testamento. Cada um deles caiu uma e outra vez diante dele. E ele se opõe a nós com todo o seu poder, força e energia, com todos os batalhões que ele comanda, com o princípio mau que ele introduziu em toda perspectiva e mentalidade do mundo. Está organizado em forma visível, porém ele próprio é invisível; e está em toda parte.
Como resistimos ainda? Há somente uma resposta. É graças à "sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos". O Deus que nos salva é o Deus que nos guarda, e sem Ele não resistiríamos um segundo. Portanto, a glória só tem que ser inteiramente de Deus. "E (Ele) vos vivificou, estando vós mortos." Tomara que os nossos olhos sejam abertos e enxerguemos o problema e avaliemos a sua profundi¬dade; e então saberemos que este Poder que nos sustenta nunca nos deixará nem nos abandonará!

Fonte: Exposição sobre Efésios - D.M. Lloyd Jones

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