terça-feira, 29 de setembro de 2015

Experimentando as Profundezas de Jesus Cristo Através da Oração - Capítulo 23




Madame Guyon

Capítulo 23: Aos Obreiros Cristãos
Ao chegarmos perto do fim deste pequeno livro, gos­taria de dirigir-me, numa palavra de exortação, aos obreiros cristãos que estão encarregados de novos convertidos.
Consideremos a presente situação. Ao nosso derredor, muitos cristãos estão procurando converter os perdidos a Jesus Cristo. Qual a melhor maneira de fazê-lo? E, uma vez que se tenham convertido, qual a melhor maneira de ajudá-los para que alcancem plena perfeição em Cristo?
O modo de alcançar os perdidos é pelo coração. Se um novo convertido for introduzido à verdadeira oração e à verda­deira experiência interior com Cristo, tão logo seja convertido, você verá um incontável número de convertidos tornando-se verdadeiros discípulos.
Por outro lado, pode-se ver que a maneira usada para tra­tar com eles, isto é, lidando com os assuntos externos de suas vidas, traz pouco fruto. Sobrecarregando os novos convertidos com incontáveis regras e toda sorte de padrões, não os aju­damos a crescerem em Cristo. Eis aqui o que deve ser feito: o novo cristão deve ser conduzido a Deus! Como? Aprendendo a voltar-se interiormente para Jesus Cristo e dando ao Senhor todo seu coração.
Se você é um dos encarregados de novos convertidos, guie-os a um real conhecimento interior de Cristo Jesus. Oh, que diferença haveria nas vidas desses novos cristãos! Considere os resultados! Veríamos o simples agricultor, gastando os seus dias na bênção da presença de Deus, enquanto ara seu campo. O pastor, enquanto vigia seus rebanhos, teria o mesmo despren­dido amor pelo Senhor que marcou os cristãos primitivos. O operário, enquanto a trabalhar com seu homem exterior, seria removido com fortalecimento em seu homem interior.
Veríamos cada uma dessas pessoas a retirar de sua vida cada tipo de pecado; todos se tornariam homens e mulheres espirituais, com seus corações postos no conhecimento e na experiência de Jesus Cristo.
Para o novo convertido – de fato, para todos nós – o co­ração é de todo importante, se quisermos avançar em Cristo. Uma vez que o coração seja conquistado por Deus, tudo o mais se acertará, oportunamente. Esta é a razão pela qual Ele requer o coração sobre tudo o mais.
Querido leitor, é ganhando seu coração, e não por outro meio qualquer, que seus pecados podem ser abandonados. Se o coração puder ser ganho, Jesus Cristo reinará em paz, e toda a Igreja será renovada.
De fato, estamos discutindo a própria coisa que fez com que a Igreja Primitiva perdesse sua vida e sua beleza. Foi a perda de uma relação profunda, interior, espiritual, com Cristo. Contrariamente, a Igreja poderia ser restaurada logo se essa relação interior fosse recuperada!
Isso não é tudo! Exatamente agora, líderes cristãos estão muito preocupados, com medo de que o povo do Senhor venha a cair em algum erro doutrinário. Oh, mas quando os cristãos creem em Jesus Cristo e se aproximam Dele, não há o menor perigo de que tal coisa venha a acontecer!
Você pode estar certo de que se um cristão afastar-se do Senhor, pode discutir doutrina e envolver-se em argumentos durante o dia todo, mas nada disso o ajudará! Discussões sem fim apenas trazem mais confusão. O que cada crente necessita é de alguém que o dirija para a simples fé em Cristo Jesus e a voltar-se intimamente para Ele. Se qualquer crente assim o fizer, logo será levado à comunhão com Deus.
Que tremendo dano os novos cristãos – de fato, a maio­ria dos cristãos – sofrem por causa da perda de uma relação espiritual, interior, com Jesus Cristo.
Vocês que estão em autoridade sobre crentes novos, um dia darão contas a Deus por aqueles que lhes foram confiados pelo Senhor. Terão que dar contas do fato de não terem descoberto para vocês mesmos este tesouro oculto – esta relação interior com Cristo – e também serão avaliados por não terem dado esse tesouro àqueles que estão sob seu encargo. Naquele dia, vocês não serão desculpados, por dizerem que este caminhar com o Senhor é muito perigoso, ou que as pessoas simples, sem instrução, são incapazes de entender as coisas espirituais. A Escritura simplesmente não valida tais excusas.
E a respeito de perigos deste andar, há algum? Que perigo pode haver no único verdadeiro caminho: em Cristo Jesus? Que perigo há em dar-se completamente ao Senhor Jesus e em fixar toda sua atenção continuamente Nele? Pode advir qualquer ameaça pelo fato de você colocar toda sua confiança em Sua graça e em amá-Lo puramente com todo o amor e paixão de que seu coração for capaz de derramar?
Quanto aos simples e não instruídos, não é verdade que sejam incapazes desta relação interior com Cristo. O contrário é que é verdadeiro. São estes, de fato, os mais dispostos a isso. O Senhor ama os que andam de modo simples (Pv 12.22). Sua humildade, sua natural confiança em Deus, e sua obediência, tornam mais fácil o voltarem-se para dentro e seguirem o Es­pírito do Senhor. Para isso, estão mais qualificados do que a maioria! Veja: esses crentes simples não estão acostumados a análises, não têm o hábito de discutir pontos de debate de todas as coisas, estão prontos a abandonar suas próprias opiniões.
Sim, falta-lhes uma parcela considerável de instrução e de treino religioso; portanto, estão mais livres e prontos a seguirem a direção do Espírito. Outras pessoas – mais dotadas, melhor educadas e treinadas em teologia – são frequentemente limi­tadas e mesmo cegas por sua riqueza espiritual! Tais pessoas seguidamente oferecem grande resistência à unção interior e à liderança do Espírito do Senhor. O salmista nos diz:
"A revelação das tuas palavras esclarece, e dá entendimento aos simples" (Sl 119.130).
Mais ainda, temos recebido a segurança de que o Senhor ama dar-Se àqueles que Dele necessitam:
"O Senhor vela pelos simples; achava-me prostrado e ele me sal­vou" (Sl 116.6).
Se você é alguém que tem novos crentes sob seu cuidado, seja cuidadoso para não impedir estas "crianças" de irem a Jesus Cristo. Lembre-se de que Ele disse aos Seus primeiros discípulos: "Deixai os pequeninos, não os embaraceis de vir a mim, porque deles é o reino dos céus" (Mt 19.14). (Foi dos discípulos a tentativa de impedir as crianças de irem a Jesus Cristo, a qual provocou esta afirmação Sua.)
Tem sido o hábito do homem, através dos tempos, curar pessoas, aplicando algum remédio ao corpo exterior, quando, de fato, o mal está profundamente enraizado. Por que tantos convertidos permanecem basicamente os mesmos, a despeito de tanto esforço? É porque os que estão sobre eles lidam apenas com assuntos exteriores de suas vidas. Há um caminho melhor: vá direto ao seu coração!
Estabelecendo regras e tentando mudar o comportamento exterior, não produziremos uma obra que permaneça na vida de um cristão.
Qual a resposta, então? Dê ao novo convertido a chave de seu espírito, para entrar nas partes mais profundas de seu ser! Dê-lhe este segredo primeiro, e você descobrirá que sua vida exterior será mudada natural e facilmente.
A realização de tudo isso é muito fácil. Como? Simples­mente ensine os crentes a procurarem Deus dentro de seu próprio coração. Mostre aos novos crentes que eles podem fixar sua mente em Cristo Jesus e que podem se voltar para Ele, sempre que se distraírem ou se dispersarem. Mais ainda, mostre-lhes que tudo deveriam fazer e suportar com simplici­dade, para agradar a Deus. Que diferença isso fará! O novo convertido será levado a Jesus Cristo; descobrirá que o Senhor Jesus é a fonte de toda a graça, e verá que Nele está tudo que é necessário à vida e à piedade.
A você, despenseiro das almas dos homens, exorto-o a guiar os jovens em Cristo desta maneira. Por quê? Porque esta maneira é Jesus Cristo. Não eu, mas é o próprio Cristo quem insiste com você, pelo Seu sangue que foi derramado por esses crentes.
"Falai ao coração de Jerusalém" (Is 40.2).
Pregadores de Sua Palavra! Despenseiros de Sua graça! Ministros de Sua Vida! Vocês precisam estabelecer o Seu reino. A fim de o fazerem, tornem-No o Soberano sobre o coração.
Enfatizarei novamente: o coração é a chave. Somente o coração se pode opor à Sua soberania. Mas, por outro lado, ganhando-se o coração, a soberania do Senhor na vida do crente é confessada e altamente honrada.
''Ao Senhor dos Exércitos, a ele santificai; seja ele o vosso temor; seja ele o vosso assombro" (Is 8.13).
Ensine esta simples experiência, esta oração do coração. Não ensine métodos; não ensine algum meio soberbo, elevado, de orar. Ensine a oração do Espírito de Deus, não a da invenção humana.
Tomem nota! Vocês que ensinam os crentes a orar em formas elaboradas e repetições sem sentido! Vocês realmente criam o maior problema que os novos cristãos têm. Os filhos têm sido afastados pelos melhores pais. O crente novo tem se tornado demasiado consciente de seu estilo de oração, preo­cupado demais em como orar. Mais ainda, tem aprendido uma linguagem muito refinada e demasiado elevada.
O caminho simples para Deus tem sido escondido. Você é um novo cristão? Vá, então, pobre criança, ao seu amoroso Pai. Fale-Lhe honestamente em suas próprias palavras. Não importa quão rudes e simples elas sejam, não o serão para Ele!
Poderá parecer que suas palavras são obscuras e confusas. Poderá acontecer que, às vezes, você esteja tão cheio de amor e tão atemorizado na Sua presença, que você não saiba como falar. Está tudo certo! Seu Pai fica muito mais feliz com estas palavras, palavras que Ele vê que se derramam do coração cheio de amor, do que poderia ficar por palavras de efeito elaborado que são secas e sem vida.
As emoções simples, não disfarçadas, de amor, expressam infinitamente mais para Ele do que as palavras de qualquer linguagem.
Por alguma razão, os homens tentam amar a Deus por formas e regras. Você pode perceber que foi por essas mesmas formas e regras que você tem perdido tanto daquele amor.
Como é necessário ensinar a arte de amar! A linguagem do amor é estranha e artificial ao homem que não ama. Oh, mas é perfeitamente natural a quem ama. E como O amará você?
É assombroso e delicioso perceber que os mais simples dos cristãos são os que mais frequentemente e mais rapidamente progridem em uma relação interior com Jesus Cristo! Por quê? Porque o Espírito de Deus simplesmente não precisa de nossas decorações!
Os mais simples podem conhecê-Lo e do modo mais profundo, sem qualquer ajuda de rituais, fórmulas ou instruções teológicas! Quando isso Lhe agrada, Ele transforma operários em profetas! Não, Ele não retira o homem do templo interior da oração. Ao contrário! Ele abre largamente as portas para que todos entrem nele!
"Quem é simples, volte-se para aqui. Aos faltos de senso diz: Vinde, comei do meu pão, e bebei do vinho que misturei" (Pv 9.4-5).
O Senhor Jesus agradeceu ao Pai por ter ocultado "estas coisas aos sábios e entendidos" e as ter revelado "aos peque­ninos" (Mt 11.25).

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