Continuação do estudo sobre o casamento.
Efésios
5:25-33
Estivemos
traçando nosso curso através desta grande afirmação, primariamente destinada à
edificação dos maridos, mas que, como vimos, tem uma gloriosa mensagem para
todo o povo cristão. Isto porque, ao dirigir sua mensagem ao marido, o apóstolo
o faz empregando a comparação com o relacionamento que existe entre Cristo e a
Igreja. Essa é a analogia que o marido sempre deverá ter em mente.
Há,
porém, mais uma coisa que nos cabe fazer antes da aplicação do ensino aos deveres particulares dos maridos para com as suas esposas. Há implícita
naquilo que o apóstolo vem dizendo, mais uma coisa que será de grande
importância quando chegarmos à aplicação prática, mas que é de inestimável
valor para cada um de nós, cristãos, quando nos damos conta da nossa relação
com o Senhor Jesus Cristo, e de que, juntos, somos a esposa de Cristo.
Deixem-me explicar isto.
Dado
tudo que estivemos considerando, segue-se necessariamente que o marido concede
certas coisas a Sua esposa; e agora vamos ver o que o Senhor Jesus Cristo, como
Esposo da Igreja, lhe concede. Ao fazê-lo, compreenderemos melhor o glorioso
privilégio de sermos cristãos e membros da Igreja cristã. Demoro-me nesta
verdade porque é minha crescente e profunda convicção que o maior problema, a
maior dificuldade hoje é que cristãos como nós não se dão conta do privilégio e
da dignidade de serem membros da Igreja cristã e do corpo de Cristo. Bem sei, e
concordo, que está certo preocupar-nos com as condições do mundo. Não poderemos
ser cristãos, se não tivermos essa preocupação; todavia não consigo entender
como se pode ser complacente quanto às condições da Igreja. Para mim a coisa
mais triste e mais séria dos dias atuais é a omissão do povo cristão de
considerar o que o Novo Testamento diz acerca de nós mesmos, e o que significa
ser membro do corpo de Cristo. Num mundo que dá tanta importância a honras,
glórias e posições, não é espantoso darmos tão pouca atenção ao fato de sermos
membros da Igreja? Muitos parecem entender isso como sendo eles que conferem à
Igreja alguma dignidade, em vez de perceberem que esse é o supremo e o mais
glorioso privilégio que se pode ter ou conhecer. Outros acham que ser membro da
Igreja é um trabalho e um dever, e ficam mais satisfeitos consigo mesmos se
desempenham alguma função. Ora, isso revela uma completa incapacidade de
entender o que significa realmente sermos membros do Seu corpo, o qual é a
esposa do Senhor Jesus Cristo.
Vejamos,
pois, algumas das coisas que Ele nos concede, coisas que dizem respeito a nós
como povo cristão e membros da Igreja. Se a Igreja tão somente percebesse estas
coisas, deixaria de estar cheia de racionalizações defensivas, deixaria de ser
frouxa e desanimada, e de apresentar o infeliz aspecto que apresenta; transbordaria
de genuíno gozo, alegria e glória.
Que
é que Cristo nos concede? Primeiramente, Sua vida. Já estudamos essa verdade,
mas preciso mencioná-la outra vez, neste contexto. Ele nos dá uma parte da Sua
própria vida - tornamo-nos partícipes da Sua vida. É o que acontece quando alguém se casa, não é?
Ele vivia sua própria vida, porém agora não a vive exclusivamente; sua esposa
se torna participante da sua vida. Como é uma parte dele, ela se torna
participante da sua vida, das suas atividades e de tudo que lhe diz respeito. A
primeira coisa que um homem casado tem que aprender é que, quando se vê
confrontado por situações diversas, agora lhe compete fazer algo novo. Antes, o
principal problema para ele era: como isto me afeta,
qual a minha reação a isto? Entretanto, agora ele não pára aí. Agora ele tem
que pensar em como isto afeta sua esposa. Já não leva uma vida isolada,
digamos, por sua própria conta; sempre terá que considerar outra pessoa, que é
partícipe da sua vida. Certas coisas podem ser-lhe aceitáveis,
mas agora há alguém mais que ele tem de levar em consideração.
Eu
poderia desenvolver isto; poderia falar baseado em muita experiência pastoral
sobre problemas e dificuldades de que já tive de tratar porque os maridos se
esquecem justamente deste ponto. Permitam-me dar-lhes uma ilustração disso.
Uso-a porque é uma experiência que muitas vezes tive de enfrentar, e a respeito
da qual muitas vezes fui mal compreendido. Mas, correndo esse risco, conto-a de
novo, com o fim de ilustrar este ponto. Um homem me procura e
me diz que se sente chamado para servir nalgum campo missionário
estrangeiro. Bem, isso é excelente. No entanto, então eu tenho que lhe fazer
uma pergunta - e sempre a faço, se o homem é casado: que diz sua esposa sobre
isso? Algumas vezes tenho de lidar com homens que não parecem preocupados com
isso, e parecem considerar a matéria como se fosse de decisão puramente
pessoal. Todavia não é! O homem não tem direito de isolar-se sobre uma questão
como essa, deixando de lado a sua esposa. Uma vez que ambos são uma carne, ele
tem de considerar as opiniões da sua esposa. Já estivemos tratando dos deveres das esposas para com os seus maridos. Há muito que dizer sobre esse
outro lado também; mas o ponto que estou firmando é que é um cristão bem pobre
aquele que diz: “Se me sinto chamado para uma obra particular, não importa o que a minha
esposa diga”. Claro que importa! Isso mostra uma compreensão
completamente falsa deste ensino.
Vejamos,
no entanto, outro aspecto do assunto, e tratemos de aperceber-nos de que somos
partícipes da vida do Senhor Jesus Cristo. É um pensamento tremendo, mas temos
direito de dizer que estamos sempre em Sua mente; que em toda a Sua perspectiva
temos nossa parte e nosso lugar. Estamos “em
Cristo”, somos participantes da Sua vida. Escrevendo aos colossenses, o
apóstolo utiliza esta extraordinária frase no capítulo 3, verso 4: “Quando Cristo, que é a nossa vida, se
manifestar”. Ele é “a nossa vida”,
o que é outra maneira de dizer que somos participantes da Sua vida. Ora, não há
nada que supere isso! De fato, já estivemos examinando isso quando estávamos estudando a afirmação de que somos membros do Seu corpo, da Sua carne
e dos Seus ossos. Agora o estamos examinando de um ângulo ligeiramente
diferente; não tanto do ângulo da união mística, e sim da consciência pessoal
do Senhor de que Ele está dando Sua vida, partilhando-a, e de que nós somos
incluídos nela e nos tornamos parte integrante da Sua vida.
Prossigamos,
porém, para mostrar isto em suas várias manifestações. Uma é que Ele nos
outorga Seu nome. Tomamos sobre nós o Seu nome porque Ele mesmo no-lo dá. Somos chamados “cristãos”,
e essa é a maior verdade concernente a nós. Não somos mais o que éramos;
mudamos de nome. Quando a mulher se casa, muda de nome. Quão importante é isso,
para ajudar-nos a entender o ensino do grande apóstolo neste capítulo cinco
desta Epístola aos Efésios! Quanta coisa ele tem para dizer também acerca
deste insensato movimento moderno chamado “feminismo”!
Quando uma mulher se casa, renuncia ao seu nome e toma o nome do seu marido.
Isso é bíblico, e também é o costume do mundo inteiro. Isso nos ensina sobre a
relação entre marido e mulher. Não é o marido que muda de nome, mas a esposa.
Há uma notável ilustração disto, de tempos recentes. Refiro-me a ela porque
espero que ajude a fixar estas verdades em nossas mentes. A nação toda sabe o
que aconteceu no caso da princesa Margaret, como o nome do marido dela é
apresentado sempre que ela é mencionada; e isso está certo. Não proceder assim
é antibíblico. O nome do marido é que é tomado, não o da mulher. Não importa
quem sejam os cônjuges, esta é a posição escriturística.
Contudo,
examinemos isso tudo do nosso ponto de vista, como membros da Igreja cristã.
Cristo colocou Seu nome em nós. Não se pode fazer maior cumprimento do que
esse. Essa é a mais clara expressão deste relacionamento matrimonial. O Novo
Testamento nos apresenta isto de muitas maneiras. “Já não há judeu nem gentio, bárbaro nem cita, escravo nem livre” (Gl 3:28 e Cl 3:11). Costumava haver. Aqueles eram os nomes que tínhamos
antes. Não mais, porém! Agora somos cristãos, temos um novo nome. Ou tomemos o
modo pelo qual este mesmo apóstolo o expressa em sua Segunda Epístola aos
Coríntios, capítulo 5: “Daqui por diante
a ninguém conhecemos segundo a carne”. “Eu
costumava conhecer as pessoas segundo a carne”, é o que ele diz; “como judeu, eu costumava dizer: “Quem é esse homem? É judeu? Se não é, não
passa de um cão”. “Entretanto”,
diz ele, “não penso mais segundo essas
categorias; agora utilizo novos termos. O que desejo saber é: “Este homem é
cristão?” Não me interessa qual era o seu nome antigo; este é o
nome em que estou interessado agora - “cristão!”
Leva ele o nome de Cristo sobre si? Assim nos damos conta de que o Senhor Jesus
Cristo nos dá o Seu nome. A realidade disto é tal, diz ainda o apóstolo,
escrevendo aos gálatas, que chega a este ponto: “vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim”. Essa é a idéia. Em
certo sentido, Paulo está submerso, desaparecido, todavia ele continua, e
diz: “a vida que agora vivo na carne,
vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a
si mesmo por mim” (2:20). Que esplêndida exposição é essa, desta
relação matrimonial! Há um sentido em que toda a vida do cristão está no Esposo
e, no entanto, ele não se perdeu inteiramente, ele ainda está lá - “a vida que agora vivo na carne”.
Aí
está o grande mistério do relacionamento matrimonial! Mas devemos apegar-nos a
este grande fato - que levamos sobre nós o nome do Senhor Jesus Cristo. O que
importa, e deve importar, para cada um de nós é que mudamos de nome. Aqui, no
terreno da Igreja, os outros nomes absolutamente não importam. Não importa o
nome que a pessoa tenha, qual a sua posição ou o seu ofício, qual a sua
capacidade, e tudo mais. A única coisa que importa a seu respeito agora, é que
ela tem sobre si o nome de Cristo. Somos todos um aí, estamos todos juntos em
Cristo. Ele nos tomou para Si - a Igreja é a esposa de Cristo. Eis o que
praticamente Ele nos diz: “Esqueça esse
velho nome, tome sobre si este Meu nome; você Me pertence”. Encontramos isto no Livro de Apocalipse, capítulo 3, verso 12: “A quem vencer, eu o farei coluna no templo
do meu Deus e dele nunca sairá; e escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e o
nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, do meu Deus, e
também o meu nome”. É isso!
Teu novo nome escreve em meu coração,
Teu novo e melhor nome de amor.
Está
é a coisa espantosa que acontece com todos os que de fato são cristãos, com
todos os membros deste corpo, que é a esposa de Cristo. Foi-lhes dado pelo
Príncipe da glória e, maravilha das maravilhas é o Seu nome! Não há honra ou
glória maior do que esta. Você desaparece num novo nome, e é o nome mais
elevado de todos. Lemos que vem o dia em que “ao nome de Jesus” se dobrará “todo
o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra” - e esse é
o nome que nos é dado, a nós que fomos constituídos em esposa de Cristo.
Então
vemos que disso decorre o fato de que somos participantes da Sua dignidade, da Sua grandiosa e gloriosa posição. O apóstolo já dissera algo
equivalente no capítulo 2, onde nos dissera a admirável verdade de que Deus “nos ressuscitou juntamente com ele (com
Cristo) e nos fez assentar nos lugares
celestiais, em Cristo Jesus”. Essa verdade agora nos abrange. Se somos
cristãos, estamos “em Cristo”, o que
significa que estamos assentados com Ele “nos
lugares celestiais”. Onde quer que o esposo esteja, ali está a esposa
também, e a reputação, a dignidade e a posição que pertencem a ele, pertencem a
ela. Não tem a menor importância quem ela era; no momento em que ela se torna
sua esposa, participa de todas as coisas com ele. E ai daquele que não lhe
conceda a posição e a dignidade a que faz jus! Não há maior insulto ao esposo
do que recusar a honrar a sua esposa. Esta verdade, diz o Novo Testamento, vale
para o cristão. Isto nos é dito repetidamente. Uma declaração disso ocorre no
capítulo 17 do Evangelho de João, verso 22, onde o Senhor Jesus diz: “E eu dei-lhes a glória que a mim me deste”. A glória que o Pai Lhe dera, diz Ele, Ele deu
a Seu povo. É uma coisa que invariavelmente sucede no casamento: a esposa,
sendo uma parte do marido e tendo sobre si o nome do marido, compartilha toda a
posição dele. “Dei -lhes a glória que a mim me deste”.
Tomemos,
porém, outra colocação do assunto. O Senhor Jesus Cristo disse a respeito de Si
mesmo: “Eu sou a luz do mundo” (Jo
8:12). É Sua reivindicação, e não existe reivindicação superior a essa. Sem
mim, o mundo fica em trevas, diz Ele. Sou a luz que o mundo pode receber
sempre, sendo que tudo mais não passa de tentativas feitas pelos homens para
descobrirem alguma luz; e invariavelmente fracassam. Fora de Cristo não há luz.
Mas, observem o que Ele diz a nosso respeito: “Vós sois a luz do mundo” (Mt 5:14). Noutras palavras, uma vez que
Ele é o que é, e dada a nossa relação com Ele, igualmente viemos a ser a luz do
mundo. É-nos muito difícil compreender isso, não é? Somos apenas um pequeno
grupo nesta nossa terra pagã, e só a metade
destes freqüentando a casa de Deus. Daí, ficamos cheios de desculpas, e nos
sentimos um tanto envergonhados de nós mesmos. Contudo, a verdade acerca de
nós é esta: somos a luz do mundo! Foi o Senhor Jesus Cristo que o disse. Este
mundo mau e trevoso não conhece nenhuma luz, não tem nenhuma luz, exceto a luz que eu e
vocês estamos disseminando.
No
entanto, pensemos na questão quanto ao aspecto da nossa dignidade, da nossa
glória - o que Ele é, Ele faz que sejamos. Isso é inevitável por causa da nossa
relação. Há muitas outras exposições magníficas disto. Ouçam, de novo, o Senhor
dizer, no Livro de Apocalipse, à igreja de Laodicéia, a respeito de toda gente:
“Ao que vencer lhe concederei que se
assente comigo no meu trono; assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono”
(3:21). Posto que a Igreja é a esposa de Cristo, ela vai sentar-se com Ele no
Seu trono. “Ela é plebéia”, dirão
vocês. Sim, mas não importa; ela se casou com o Príncipe, e compartilha o trono
com Ele. Essa é a dignidade, esse é o privilégio que Ele nos confere!
Em seguida, atentem para isto: o apóstolo Paulo, procurando ensinar
aos membros da igreja de Corinto algo desta grandeza e
desta glória, faz a seguinte colocação, no capítulo 6 da primeira epístola,
verso 2: “Não sabeis vós que os santos hão julgar o mundo?”
E mais adiante: “Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos?”
Isto se refere a mim e a vocês. Vejam esses tristes membros da igreja de Corinto. “Que há com vocês?”,
pergunta o apóstolo. “Por que estão
brigando uns com os outros? Por que vocês se orgulham deste ou daquele homem, e
ficam levando uns aos outros às barras do tribunal por suas contendas? Não
percebem que todos vocês, como cristãos, estão em tal relação com Cristo, que
irão julgar o mundo, que irão julgar os anjos?” Eis aí a dignidade que nos
pertence.
Permitam-me
expressá-lo deste modo: pensem no cristão em relação aos anjos. Já se deram
conta de que nos está determinado um destino que nos colocará acima dos anjos?
Os anjos são seres maravilhosos, “magníficos
em poder” (Sl 103:20); mas estamos destinados a uma posição que será
superior à dos anjos! O autor da Epístola aos Hebreus faz esta
colocação: “Porque não foi aos anjos que
sujeitou o mundo futuro, de que falamos. Mas em certo lugar testificou alguém,
dizendo: que é o homem, para que dele
te lembres? ou o filho do homem, para que o visites? Tu o fizestes um pouco
menor do que os anjos, de glória e de honra o coroaste, e o constituíste sobre as obras de tuas mãos; todas as coisas lhe sujeitaste debaixo dos pés” (Hb 2:5-8). “Mas”, diz alguém, “não vejo todas as coisas sujeitas ao homem;
de que é que você está falando?” “Oh
não”, diz o autor daquela epístola, "... ainda não vemos que todas as coisas lhe estejam sujeitas; vemos, porém,
coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que
os anjos, por causa da paixão da morte” (verso 9). Estas palavras
significam que eu e vocês vamos ocupar aquela posição. Aos olhos de Deus já a
ocupamos; não vemos isto, no entanto, já é coisa certa quanto a nós. Estamos
acima dos anjos porque somos a esposa de Cristo; e como Ele está acima deles
nos lugares celestiais, temos essa dignidade, essa grandeza e essa posição
agora mesmo.
Isso
nos leva ao ponto subseqüente, ou seja, que participamos não somente da Sua
vida, mas também dos Seus privilégios. No momento em que uma mulher desposa um homem, passa a participar dos privilégios dele. Sejam estes quais
forem, ela se toma participante deles. O apóstolo está dizendo aqui que isto se
aplica à Igreja. Participamos do que? Participamos do amor do Pai. Há um
versículo que, de muitas maneiras, é para mim o verso mais espantoso da Bíblia.
É o verso 23 do capítulo 17 do Evangelho de João. Diz o Senhor: “para que o mundo conheça que tu me enviastes a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim”. É uma afirmação
que significa que Deus o Pai nos ama, na qualidade de povo cristão, como ama a
Seu próprio Filho. O que significa que, devido à nossa relação com o Filho,
estamos nessa relação com Deus. Pensem num homem, sem filhas, cujo filho homem
se casou. Ele agora diz à esposa do seu filho: “Você é minha filha. Nunca antes tive uma filha, mas agora você é minha
filha”. E a considera como tal. Ela e seu filho são um; portanto, ele
estende a ela o seu amor paterno - “para
que o mundo conheça que os tens amado, como me amas”. O privilégio é esse. Opera deste modo - dá-nos acesso ao Pai. Um
pai está sempre pronto a receber a esposa do seu filho. Antes ela não tinha
acesso a ele; não havia nenhum relacionamento entre ela e o pai; mas no momento
em que o filho se casa, ela passa a ter direito de acesso à presença do pai.
Como o Pai está pronto a receber seu filho e a dar-lhe privilégios que não
concederia aos seus servidores favoritos e mais dignos de confiança, assim
agora ele os concede à nora, porque é esposa do seu filho. Povo cristão,
será que tiramos proveito destes altos privilégios? Será que nos apercebemos de
que temos direito de entrada e acesso à presença do Pai? Apesar de ser Ele o
Governador do universo, se vocês tiverem alguma necessidade, lembrem-se de que
têm direito de chegar à Sua presença. Por amor a Seu Filho, Ele não os
rejeitará. Esposa de Cristo, Ele sempre lhe dará ouvidos, Ele sempre terá tempo
para você. Não há maior privilégio do que este. Ele nos ama como ama a Seu
Filho, e nos dá este direito de entrada e acesso à Sua santa presença.
Mais
ainda, estou simplesmente dando títulos para que reflitam e meditem. Devemos
dedicar muito do nosso tempo a estes pontos, pensando neles. Quando vocês se
ajoelharem para orar, não comecem a falar imediatamente; parem e pensem. Pensem
mesmo antes de dobrar os joelhos. Procurem dar-se conta do que estão fazendo;
lembrem-se do que são, e porque são o que são; tragam à memória aquilo que lhes
diz respeito, e os direitos e privilégios que lhes são dados. Depois, passem a
considerar as possessões que o Senhor nos dá. Somos participantes das Suas
possessões. O apóstolo Paulo, numa extraordinária exposição escrita à igreja
de Corinto, diz, como se fosse, o seguinte: “Com
que vocês se preocupam? Por que se dividem e têm ciúme e inveja uns dos outros?
Que é que há com vocês? Todas as coisas são suas. Tudo! Não importa o que seja,
tudo e todos são seus. Por que? Porque vocês são de Cristo, e Cristo é de Deus.”
Estudem isso com esmero, no final do capítulo 3.
Torno
a inquirir: não estou certo quando digo que a verdadeira tragédia hoje está na
falha evidenciada pela Igreja de não compreender a verdade sobre si mesma? “Tudo é vosso” - tudo! Em certo sentido,
o cosmo é nosso, porque pertencemos a Cristo. O apóstolo Paulo ficava
emocionado com este conhecimento; e a prova do nosso cristianismo, a prova da
nossa espiritualidade, é se nos comovemos e vibramos com estas coisas. Pode ser
que estejamos passando por períodos difíceis, que estejamos sendo perseguidos,
que estejamos sendo desprezados, que estejam rindo de nós porque somos
cristãos. Sabem o que devemos dizer a nós mesmos? Devemos dizer: “se nós somos filhos, somos logo herdeiros
também, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo” (Rm 8:17). Pouco
importa o que o mundo pense ou diga - “tudo
é vosso”; os cristãos são “co-herdeiros
de Cristo”.
Mas
eu gosto particularmente da maneira como isto é expresso pelo autor da Epístola
aos Hebreus, no capítulo 2, verso 5. Já o citei, mas volto a fazê-lo: “Porque não foi aos anjos que sujeitou o
mundo futuro, de que falamos”. É uma pena que a Versão Autorizada e a
Versão de Almeida façam a tradução dessa maneira negativa. O sentido é: ele não
sujeitou o mundo futuro, do qual falamos, aos anjos, mas a nós. Qual é este “mundo futuro” de que ele fala? É este
velho mundo em que eu e vocês vivemos atualmente. Sim! No entanto, não como ele
é agora. É o mesmo mundo de hoje, mas como será quando Cristo voltar e destruir
todos os Seus inimigos, todo o mal, e todo vestígio e todos os restos do mal;
quando ocorrer o grande incêndio, a grande purificação, a regeneração, quando
surgirem “novos céus e nova terra, em que
habita a justiça” (2 Pe 3:13; Mt 19:28). Esse é o “mundo futuro” do qual ele está falando. E esta é uma parte vital da
mensagem cristã essencial. Este mundo, no qual estamos neste momento, é apenas
um mundo passageiro; este não é o mundo real, o mundo duradouro. O que vemos é
o mundo resultante do que o homem fez dele. Vemos o caos que o homem produziu.
Naturalmente, o mundo mesmo está muito interessado no visível e no atual; e
todo mundo fica se perguntando que será que a última conferência vai realizar -
haverá desarmamento, será abolida a guerra, tudo será perfeito por todo o tempo
restante? Mas tudo em vão. Este mundo é mau, e o mal e o pecado continuarão a
manifestar-se, enquanto não chegar o dia do juízo determinado por Deus.
Todavia, há um “mundo futuro”; é a
Nova Jerusalém que descerá do céu, este velho mundo restaurado com toda a sua
glória, este velho mundo como Deus o fez no princípio, mas ainda mais glorioso.
Isso acontecerá na segunda vinda de Cristo. Ele mesmo o habitará, e Sua esposa
com Ele. Esse é “o mundo futuro, de que
falamos”. Quem irá viver nesse mundo, quem herdará esse mundo? Bem, diz a
epístola que não serão os anjos. “Porque
não foi aos anjos que sujeitou o mundo futuro, de que falamos”, e sim a
nós. Somos nós os herdeiros desta glória vindoura. Amados irmãos, vocês
refletiram nisso alguma vez? Lembraram-se disso alguma vez? Pode ser que estejam
tendo tempos difíceis, lutando com o mundo, a carne e o diabo; podem estar
enfrentando dificuldades e obstáculos. Dêem as costas para isso! Não olhem só
para isso! “Não atentando nós nas coisas
que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as
que se não vêem são eternas” (2 Co 4:18). Levantem a cabeça; vocês
compartilham a herança de Cristo, as Suas possessões! Vocês O desposaram - ou
melhor, Ele os desposou - e coloca todas estas coisas em suas mãos. Vocês são
participantes das possessões de Cristo.
Permitam-me salientar de novo que somos partícipes dos interesses de
Cristo, dos Seus planos e dos Seus propósitos. “Cooperadores de Deus” (1 Co 3:9). Não pense em sua igreja local, ou
nalguma outra igreja, apenas em termos de si próprio e daquilo que você faz. A
mesma coisa se aplica à sua denominação ou movimento. Eleve-se a um nível
superior e considere os interesses do Senhor. Torno a citar, “Vós sois a luz do mundo”. O Senhor tem
um propósito com respeito a este mundo, e eu e você estamos envolvidos nesse
propósito e somos participantes dele. O marido conta tudo à sua esposa. Ela
conhece todos os seus segredos, todos os seus desejos, toda ambição, toda
esperança, todos os projetos que penetram sua mente. Ela e ele são um. Ele lhe
diz coisas que não diria a ninguém mais; ela participa de tudo, nada fica para
trás, nada se lhe oculta. Essa é a relação de marido e mulher. É igualmente
a relação entre Cristo e a Igreja; somos Seus parceiros neste serviço de salvar
homens. Vocês sabem desse interesse? Sentem-no, pensam nisso, dão valor ao
privilégio de serem participantes do segredo? Sentem alguma porção do fardo, e
O estão ajudando? O cristão é para isso, a esposa é para isso - uma ajuda
satisfatória - e a Igreja é a esposa de Cristo. Quantas vezes vocês oram pelo
bom êxito da pregação do evangelho? Até que ponto vocês estão interessados na
mensagem evangelística da Igreja? Vocês pensam nisto, sentem-se parte disto,
oram por isto? A esposa digna do título não precisa ser exortada a
interessar-se pelas ocupações do marido; ela considera seu maior privilégio
ajudar seu marido; interessa-se vitalmente por tudo que ele faz e pelo seu
sucesso em tudo. A Igreja é a esposa de Cristo; Ele partilha tudo conosco.
Tratemos de nos conscientizar destas coisas e de elevar-nos à dignidade e ao
privilégio que lhes são próprios.
Mas,
deixem-me mencionar uma coisa que, para mim, é um dos seus mais fascinantes e
encantadores aspectos. O Senhor não partilha conosco somente as Suas
possessões, os Seus interesses, os Seus planos e os Seus propósitos; também
partilha conosco os Seus servos. Você pode ter sido uma Cinderela (Gata Borralheira); a Igreja toda era uma Cinderela, em seus trapos, com sua dura vida de
escrava, fazendo todos os trabalhos caseiros em lugar de suas irmãs. Mas
Cinderela casou-se com o príncipe; e o que sucede? Em vez de mourejar como escrava daquela maneira, agora ela tem os seus servos. Que
servos? Os dele! Uma vez que ela se tornou esposa deste príncipe, todos os
servos dele são servos dela e lhe prestam serviço como prestam serviço a ele.
Vocês já se deram conta de que esta verdade se aplica a nós? Voltemos mais uma
vez à Epístola aos Hebreus, capítulo primeiro. O escritor compara e contrasta
o Senhor Jesus Cristo com os anjos e eis como se expressa: “a qual dos anjos disse jamais: assenta-te à
minha destra até que ponha a teus inimigos por escabelo de teus pés?” E a seguir: “Não são
porventura todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor
daqueles que hão de herdar a salvação?” (versos 13 e 14).
O
sentido é que, devido sermos cristãos, os anjos de Deus nos servem: aí está
como a epístola descreve um anjo. Este é um “espírito ministrador”, enviado para nos servir e para ministrar a
nosso favor, que somos herdeiros do “mundo
futuro” do qual ela está falando. Receio que negligenciamos o ministério
dos anjos; não pensamos suficientemente nisso. Entretanto, quer estejamos
cientes quer não, há anjos que cuidam de nós; eles estão ao redor de nós. Não
os vemos, mas isso não importa. As coisas mais importantes nós não vemos; só
enxergamos as coisa visíveis. Contudo, estamos cercados de anjos; são
designados para tomar conta de nós e para ministrar a
nosso favor - anjos da guarda. Não tenho a pretensão de entender isso tudo;
nada sei além daquilo que a Bíblia me diz - no entanto isto eu sei: os servos do
Senhor, os anjos, são meus servos. Eles estão ao redor de todos nós, cuidando
de nós e manipulando as coisas por nós de um modo que não podemos compreender.
E sei mais, que quando morrermos, eles nos levarão para o lugar que nos está
destinado. Foi o próprio Senhor Jesus Cristo que ensinou essa verdade na
parábola do rico e Lázaro, em Lucas capítulo 16. É-nos dito que o rico morreu e
foi sepultado. Mas o que aconteceu com Lázaro? Ele “foi levado pelos anjos para o seio de Abraão”. Porventura, damo-nos conta de que os anjos de Deus ministram a nosso favor porque somos a
esposa do Filho? Desde sua origem eles têm ministrado para Ele e nEle têm
esperado; e devido à nossa nova relação, agora são nossos servos, ministrando
para nós. Queira Deus dar-nos a graça de perceber que estamos rodeados de tais
ministérios e ministrações, e de tais ministros! Nada pode fazer-nos dano
definitivamente; aí estão eles, enviados pelo Senhor para velar por nós.
Lembrem-se,
porém, de que também somos participantes dos Seus problemas, dificuldades
e sofrimentos. Ele disse: “Se a mim me perseguiram, também
vos perseguirão a vós” (Jo 15:20). Também falou de ódio. Partilha mos
algo dos Seus problemas? Estamos cientes disto? “Meus filhinhos”, diz Paulo aos gálatas, “por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado
em vós” (4:19). Ele sentia alguma coisa dessas dores. Todavia, de modo
ainda mais notável ele diz, em Colossenses 1:24: “Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o
resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja”. O apóstolo
Paulo estava tão consciente desta relação com o Senhor Jesus Cristo, que dizia
que estava cumprindo em seu corpo o que restava dos sofrimentos de Cristo. A
esposa digna deste título sofre sempre o que o seu marido sofre; sofre em seu
coração quando o vê sofrer; ela o partilha com ele, suporta-o com ele.
Assim o apóstolo Paulo completou em seu próprio corpo algo do que restava dos
sofrimentos de Cristo à medida que Este leva a efeito o Seu propósito no mundo,
a agonia do Filho de Deus, que continuará até chegar o “dia da coroação”. A Igreja é a esposa de Cristo. Será que nós, como
partes e porções do corpo, temos alguma experiência desta agonia, deste
sofrimento, dos sofrimentos da Cabeça?
Finalmente,
participaremos de toda a glória das Suas prospectivas. Torno a referir-me ao “mundo futuro”. “Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos
manifestareis com ele em glória” (Cl 3:4). “Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa
e irrepreensível” - quando Ele vier em sua glória. Se todos nós tivermos
morrido, viremos com Ele; se estivermos vivos, seremos transformados e arrebatados
para encontrar-nos com Ele nos ares. Estaremos na glória eterna com o Filho de
Deus (1 Co 15:51-52 e 1 Ts 4:17). Esta é Sua oração especial ao Pai: “Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu
estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste”.
“Eu dei-lhes a glória que a mim me deste.”
Participaremos dela com Ele por toda a eternidade. Haverá alguma coisa
comparável a isto, a sermos membros do corpo de Cristo, a sermos como partes da
Igreja, a esposa de Cristo?
Que
vergonha, por nossa fraqueza, nosso desalento, nossas queixas, nossa letargia,
nossa quase-inveja do mundo e da sua vida pretensamente maravilhosa, da sua
pretensa alegria e do seu pretenso gozo. É um mundo agonizante; é um mundo mau;
está sob condenação; vai desaparecer. O mundo já “está passando”. Mas eu e você temos esta glória vindoura que
podemos divisar, a glória que compartiremos com o Senhor Jesus Cristo naquele
grande dia. A glória daquele “mundo
futuro” é indescritível; e nele viveremos e reinaremos com o Senhor.
Havendo
tomado a Igreja como Sua esposa, Ele lhe outorga isso tudo. Suas prospectivas
são nossas, Sua glória é nossa, tudo é nosso. “Os mansos herdarão a terra” (Sl 37:11; Mt 5:5). Reinaremos com Ele
sobre o universo todo; julgaremos os anjos. Eu e vocês! Assim é o cristão!
Assim é a Igreja cristã, na qualidade de esposa de Cristo!