sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O VERDADEIRO AMOR




Efésios 5:25-33

Até aqui estivemos examinando o que o apóstolo diz às esposas; agora chegamos ao que ele tem para dizer aos maridos. Isto se vê na notável declaração que ele faz desde o verso 25 até o fim do capítulo. É notável em dois aspectos importantes: naquilo que ele nos fala dos deveres dos maridos e, mais notável ainda, no que nos fala da relação do Senhor Jesus Cristo com a Igreja cristã. Aqui, nesta parte essencialmente prática desta epístola, repentinamente ele nos lança a mais sublime e maravilhosa declaração, jamais feita por ele em parte alguma, acerca da natureza da Igreja cristã e da sua relação com o Senhor Jesus Cristo. Vocês podem observar que, ao tratar desta questão de esposos, e de como estes devem portar-se com suas esposas, ele trata também desse outro assunto, e de ambos trata desta maneira maravilhosa.
As duas coisas, vocês verão, estão entrelaçadas; assim, nosso primeiro trabalho será chegar a algum tipo de divisão de matéria. Ele passa de um assunto para o outro, e depois volta ao primeiro. Muitas vezes é esse o seu método; nem sempre faz uma exposição completa de um lado e o aplica; ele dá uma parte sua exposição, aplica-a, e depois outra parte, e a aplica. Sugiro esta classificação: nos versículos 25,26 e 27 ele nos diz o que Cristo fez pela Igreja, e por que o fez. Depois, nos versos 28 e 29, dá nos uma dedução preliminar disso quanto ao dever de um marido para com a sua esposa, especialmente em termos da união que subsiste entre Cristo e a Igreja, e o marido e a esposa. Depois, numa parte do verso 29 e nos versos 30 e 32 desenvolve a sublime doutrina da união mística entre Cristo e a Igreja. E então, nos versos 31 e 33, tira s deduções práticas finais.
Parece-me ser essa a análise dos versos que estamos estudando. No entanto, para podermos captar o seu ensino mais claramente, sugiro que focalizemos desta maneira: primeiro, iniciamos com a sua injunção geral: “Vós maridos, amais vossa mulheres”. É o que ele deseja acentuar acima de tudo. Noutras palavras, a idéia determinante com respeito ao marido deve ser o amor. Vocês se lembram de que a idéia determinante com respeito às esposas era a sujeição - “Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos”. Sujeição da parte mulher, amor da parte do marido! Devemos ver isso com clareza. Naturalmente não significa que é só o marido que deve amar. Alguém poderia observar: “Paulo não diz uma palavra aqui sobre as mulheres amarem seus maridos”. Dizer isso é entender de maneira completamente equivocada o objetivo do apóstolo. Ele não nos está dando aqui um tratado exaustivo sobre o matrimônio. Em sua idéia da sujeição da esposa o amor está implícito. Devemos entender o que o apóstolo está interessado em fazer. Realmente, o seu interesse se concentra num único ponto básico, a saber, harmonia, paz e unidade como se mostram na relação conjugal e no lar. Sendo esse o seu tema dominante, ele apanha nos dois lados o elemento que precisa ser ressaltado acima de todos os demais. O que se requer que a mulher mantenha sob sua atenta vigilância, na manutenção da harmonia, é o elemento da submissão; ao passo que o esposo deve velar pelo elemento de amor. Assim, Paulo toma a principal característica, a principal contribuição que cada um dos parceiros deve fazer neste magnífico relacionamento que pode demonstrar a glória da vida cristã com tanta clareza. Portanto, a mensagem dirigida aos maridos é: “Amai vossas mulheres”.
Isto é sumamente importante, particularmente em conexão com o ensino anterior. Ele salvaguarda o ensino anterior, e é importante que o vejamos desse modo. Ele esteve salientando que o marido “é a cabeça da mulher, como também Cristo é a Cabeça da igreja”. Vimos que o marido está na posição de liderança, que ele é o senhor da esposa. Esse é o ensino do Velho e do Novo Testamentos, e o apóstolo esteve dando ênfase a isto. Mas imediatamente acrescenta: “Vós, maridos, amai vossas mulheres”, como que dizendo ao marido: “Você é a cabeça, é o líder, é, por assim dizer, o senhor neste relacionamento; todavia, uma vez que ama sua esposa, a liderança nunca se tornará uma tirania e, embora seja “senhor”, nunca será um tirano”. Essa é a conexão que há entre os dois preceitos.
Isto se encontra muito geralmente no ensino do Novo Testamento. Deixem-me dar um exemplo. De muitas maneiras, o melhor comentário sobre esta matéria é o que se encontra na Segunda Epístola de Paulo a Timóteo, capítulo lº, verso 7, onde ele diz: “Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação” (disciplina). Temos aí a mesma coisa outra vez. “Deus não nos deu o espírito de temor.” Bem, o que é que Ele deu? “O espírito de fortaleza” (ou “de poder”); mas, para que ninguém pense que isso é algo tirânico, ele acrescenta, “e de amor”. É o poder do amor. Não é um poder nu e cru, não é o poder de um ditador, ou de alguém um tanto tirano, não se está pensando aí num homem que se arroga certos direitos, pisa nos sentimentos da esposa e noutras coisas, e se assenta no lar como um ditador. Num estudo anterior me referi ao que talvez seja o maior defeito da perspectiva vitoriana da vida, e mesmo do seu cristianismo; e era justamente isso. Tendiam a acentuar um lado em detrimento do outro. E muitos dos nossos problemas hoje se devem a uma reação, a uma violenta e exagerada reação contra a falsa ênfase daquele período particular.
Portanto, devemos manter sempre este equilíbrio. Precisamos lembrar-nos de que o poder deve ser temperado pelo amor; deve ser controlado pelo amor, é o poder do amor. Nenhum marido tem direito de dizer que é a cabeça da esposa, se não ama a sua esposa. Se não for assim, ele não estará cumprindo a injunção bíblica. Estas coisas andam juntas. Noutras palavras, é uma manifes­tação do Espírito, e o Espírito Santo não outorga somente poder, mas outorga amor e também disciplina. Assim, quando o marido exerce o seu privilégio de cabeça da esposa e de chefe da família, ele o faz deste modo. Ele deve ser sempre dominado pelo amor e pela disciplina. Deve disciplinar-se a si próprio. Pode haver a tendência de agir como ditador, mas ele não deve fazê-lo - “fortaleza (“poder”), amor, moderação” (disciplina). Tudo isso está implícito, na passagem em foco, nesta grande palavra, “amor”.
Assim, o governo do marido terá que ser um governo de amor; é uma liderança de amor. Não é a idéia de um ditador; não um caso de (falou, está falado). Não, é o poder do amor, é a disciplina do Espírito, resguardando este poder, esta autoridade e esta dignidade que são outorgados ao marido. Essa é, evidentemente, a idéia fundamental e determi­nante em toda esta questão - “Maridos, amai vossas mulheres”.
Agora, no entanto, podemos começar a considerar em geral o caráter ou a natureza desse amor. Isto de novo é muito necessário nos tempos atuais. Há duas coisas que sobressaem com grande evidência no mundo de hoje - o abuso da idéia de poder, e o abuso maior ainda da idéia de amor. O mundo nunca falou tanto de amor como fala hoje em dia. Entretanto, será que já existiu uma época em que houve menos amor? Estes termos grandiosos se rebaixaram tão completamente que muitos não têm idéia do significado da palavra “amor”.
Maridos, amai vossas mulheres.” Que é este amor? Afortunadamente para nós, o apóstolo no-lo diz; e o faz de dois modos. “Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja.” Há duas definições aí. A primeira está na própria palavra “amor”. A própria palavra que o apóstolo empregou aqui para “amor” é sumamente eloqüente em seu ensino e em significado. Na língua grega, como era falada nos dias do apóstolo Paulo, ha três palavras que podem ser traduzidas pela palavra “amor”. É muito importante que possamos discernir claramente as diferenças que há entre elas; porque grande parte do frouxo modo de pensar hoje nesta esfera é devida à incapacidade de avaliar isto. Uma das três - e esta não ocorre no Novo Testamento – é a palavra “eros”, que descreve um amor inteiramente ligado à carne. O adjetivo “erótico”, comumente empregado hoje, lembra-nos do conteúdo da palavra. Certamente é uma espécie de amor. Todavia é um amor ligado à carne, é desejo, é algo carnal; e a característica desse tipo de amor é que ele é egoísta. Ora, não é necessariamente errado por ser egoísta, mas essa espécie de amor é essencialmente egoísta; nasce, como digo, do desejo. Ele deseja algo, e nisto coloca o seu maior interesse. Esse é o seu nível. É, por assim dizer, a parte animal do homem. E é isso que geralmente passa por “amor” no mundo atual. O mundo se gloria em seus “maravilhosos” romances, e nos conta como eles são magníficos. Nada se diz, notem isto, acerca do fato de que o homem foi infiel à sua esposa, e vice-versa, e que filhos pequenos vão sofrer. Outro “maravilhoso romance” entrou na vida do homem e da mulher amante. Não se menciona que ambos têm sobre si a culpa do rompimento dos seus votos e de profanarem a santidade; o que se publica é este maravilhoso “jogo do amor”, este maravilhoso romance! Vê-se esse tipo de coisa nos jornais todos os dias. Isso não passa de desejo erótico, egoístico, carnal,. Mas quero fazê-los lembrar-se de que “eros” é certamente considerado pelo mundo atual como sendo amor.
Quanto às duas palavras geralmente traduzidas por “amor” no Novo Testamento, uma delas na verdade significa “gostar de”. Entra como raiz em palavras como “filantrópico” e “Filadélfia”. A ilustração clássica do seu empre­go acha-se no último capítulo do Evangelho de João, no incidente que narra como Pedro e os outros foram pescar de noite e, voltando-se, de repente viram o Senhor Jesus na praia. Ali Ele preparou um desjejum para eles, e começou a falar-lhes. Lemos o seguinte: “... disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes? E ele respondeu: sim, Senhor; tu sabes que te amo. Disse-lhe: apascenta os meus cordeiros”. Pois bem, o ponto interessante aí e que quando Pedro diz, “Tu sabes que te amo”, emprega a expressão: “Tu sabes que gosto de ti”. O Senhor, empregando a terceira palavra, que não estudamos ainda, pergunta-lhe se ele de fato O ama, mas Pedro responde: “Tu sabes que gosto de ti”. Tornou a dizer-lhe segunda vez: “Simão, filho de Jonas, amas-me? Disse-lhe: sim, Senhor; tu sabes que gosto de ti” - “Disse-lhe: apascenta as minhas ovelhas”. Então chegamos ao verso 17: Disse-lhe terceira vez: “Simão, filho de Jonas, amas-me?” Aqui o Senhor Jesus faz uma coisa muito interessante, não emprega a mesma palavra que empregara; agora utilizava a palavra empregada por Pedro. Disse-lhe terceira vez: “Simão, filho de Jonas, realmente gostas de mim?” Baixou o nível da Sua idéia. “Realmente gostas de mim?” “Simão entristeceu-se por lhe ter dito pela terceira vez: amas-me? e disse-lhe: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo”. Pedro entristeceu-se porque o Senhor parecia duvidar de que gostava dEle; assim, tendo em vista o seu recente fracasso, só podia confiar-se ao conhecimento do Senhor e dizer-lhe: “Tu sabes que eu te amo”. Mas tenhamos em mente que a palavra traduzida por “amar” pode significar “gostar de”.
A outra palavra do Novo Testamento eleva-se a muito maior altura. É a palavra sempre empregada na Bíblia para expressar o amor de Deus por nós. “Deus amou o mundo de tal maneira” - “agapao”. Ora, esta é a palavra empregada no texto que estamos considerando. “Maridos, amai vossas mulheres” neste sentido, amar como Deus ama. Não existe nada mais elevado que isto. Ou, expressemo-lo doutra maneira. Tomemos a lista que descreve o fruto do Espírito, em Gálatas 5:22. O apóstolo está fazendo um contraste entre as obras da carne e o fruto do Espírito, e diz: “O fruto do Espírito é caridade” (ou “amor”), não uma sensação erótica, nem meramente gostar de, mas o amor que se assemelha ao amor de Deus - amor, gozo, paz, etc. Esse é o amor, diz o apóstolo, que os maridos devem ter e mostrar para com as suas mulheres. Vocês vêem como tudo isso se articula tão perfeitamente com o verso 18: “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito”. Se estivermos cheios do Espírito, estaremos cheios do fruto do Espírito, e o fruto do Espírito é “amor”.
O apóstolo está se dirigindo a pessoas cheias do Espírito, pois somente estas podem mostrar este amor. É ocioso dizer isto ao não cristão. Ele é incapaz disso; não pode amar com esta classe de amor. Mas diz o apóstolo que os cristãos devem manifestar esta espécie de amor porque estão cheios do Espírito. Portanto, uma das maneiras pelas quais demonstro que estou cheio do Espírito, não é tanto que eu experimente êxtases e manifeste certos fenômenos; é a maneira como me porto com minha esposa quando estou em casa, é este amor que é “o fruto do Espírito”.
A própria palavra que o apóstolo escolhe induz-nos imediatamente à precisa idéia que almeja transmitir. Permitam-me, pois, expressá-la nestes termos: coloquemos em foco toda esta questão de casamento e de relação conjugal. Não estou dizendo que o apóstolo ensina que aquele primeiro elemento pertencente à carne não deve entrar nisso. Esse entendimento é erro completo. Há gente que ensina isso. O ensino católico romano concernente ao celibato baseia-se, em última análise, nesse falso conceito. Tenho visto que há muitos cristãos com dificuldades sobre a questão. Parecem pensar que o cristão deixou de ser humano, deixou de ser natural; e consideram o sexo mal. Ora, isso não somente não é ensino cristão; é um engano, um erro. Esse elemento de “eros” deve entrar, está incluído. O homem é homem. Deus o fez assim. Deus nos deu os dons que temos, o sexo inclusive. Nada há de errado no elemento erótico propriamente dito; de fato vou além, e digo que ele deve estar presente. Refiro-me a isto porque com freqüência me pedem que trate destas coisas. Conheço cristãos que com muita sinceridade, em vista deste errôneo conceito sobre o sexo e daquilo que é natural, chegaram mais ou menos conclusão de que qualquer cristão pode desposar qualquer mulher cristã. Dizem que a única coisa que importa e conta agora é que são cristãos. Omitem completamente o elemento natural. Mas a Bíblia não age assim. Embora cristãos, está certo sentir-nos mais atraídos por uma pessoa do que por outra. O natural entra em conta, e não devemos excluí-lo. Jamais devemos assumir posição de que qualquer de nós pode casar-se com qualquer outro. Poderiam viver juntos, mas isso seria excluir o elemento natural.
Tenho-me esforçado bastante para mostrar que o ensino cristão não elimina o natural, o modo como fomos criados. E Deus nos criou de molde a cada um sinta mais atração por uma pessoa do que por outra; e isso é mútuo, está certo; não o ponhamos de lado. Isso está sendo suposto aqui. O apóstolo pressupondo que este homem e esta mulher estão casados porque se sentiram mutuamente atraídos, porque, se preferirem, para usar a frase comum, “se apaixonaram”. Os cristãos devem portar-se desse modo, como toda gente, não é algo mecânico. O cristão não diz: “Agora que sou cristão, vou dar uma olhada por aí e resolver com quem me casarei”, com a cabeça fria, por assim dizer. Não é esse o ensino bíblico. Isto pode parecer excêntrico e divertido para alguns, mas há muitos cristãos que agem baseados exatamente nesse princípio. Falo com base na minha experiência pastoral. São pessoas sinceras, porém, considerando o sexo um mal, tomam esta posição falsa. Não obstante, não devemos excluir o natural. O apóstolo está pressupondo que este homem e esta mulher sentiram esta atração mútua, e que, com base nisso, contraíram núpcias.
Mais que isso, o apóstolo pressupõe que ambos gostam um do outro. O que quero dizer é que eles gostam da companhia um do outro. Deixem-me acentuar que isso também faz parte do casamento cristão. Há certas afinidades naturais, e as ignoramos, para nosso risco. De novo, muitas vezes vejo isto. Duas pessoas imaginavam que, porque são cristãs, nada mais importa, e se casam firmadas nisso. Contudo, na vida conjugal é muito importante que as duas pessoas gostem uma da outra. Se não, se se casarem apenas com base no fator físico, logo se acabará. Esse casamento não tem nada que o faça perdurar; mas, por outro lado, um dos fatores da permanência é que ambos gostem um do outro. Há certos imponderáveis no estado matrimonial. É bom que os cônjuges tenham as mesma afinidades, os mesmos interesses, sintam-se atraídos pelas mesmas coisas. Não importa quanto se amem, se houver diferenças fundamentais neste sentido, isto levará a problemas. O problema da vida conjugal e da vida em harmonia será muito maior. É importante, digo eu, que este segundo elemento, a expressão que Pedro insistiu em usar, “gosto de ti”, desempenhe o seu papel.
O apóstolo está pressupondo ambas as considerações. É provável que alguns cristãos tivessem contraído núpcias enquanto eram pagãos, e que o seu casamento incluísse tanto “eros” como “phileo”. Muito bem, afirma Paulo, aí é que entra o cristianismo. Agora, uma vez que vocês se tomaram cristãos, entra o elemento adicional; e este eleva os outros dois, santifica-os, dá-lhes glória, dá- lhes esplendor. Essa é a diferença que Cristo produz no casamento. Somente o cristão pode subir a este nível. Podem existir casamentos felizes e bem sucedidos sem isto; ainda existem, graças a Deus. Há casamentos felizes ao nível humano e natural, e se baseiam nos fatores expressos nas duas primeiras palavras de que tratei. Se se tomar o primeiro elemento, mais este gostar um do outro, e um certo temperamento, pode-se produzir casamentos muito felizes e bem sucedidos. Mas nunca chegarão a este nível superior. Todavia, é a este ponto que o apóstolo quer que nos elevemos. Acima de tudo o que é possível ao homem natural, entra em ação este amor verdadeiro, este amor que é de Deus, o amor definido em 1 Coríntios capítulo 13.
É claro que, ao escolher a palavra, o apóstolo nos diz muita coisa. É, portanto, dever de todo marido que ouve ou lê esta exortação, examinar-se à luz desta palavra. Estão presentes em você os três elementos? Acaso tudo é coroado e glorificado por este “amor” que só pode ser atribuído ao próprio Deus?
No entanto, para não ficarmos em dificuldade em relação a isto, o apóstolo passa a dar-nos mais uma ilustração, no segundo ponto que ele defende. Diz ele: “Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também” - “como também Cristo amou a igreja”. Aqui, de novo, ele mostra quão desejoso está de ajudar-nos. A simples menção do nome de Cristo o leva imediatamente a desenvolver a proposição. Ele não pode limitar-se a dizer pura e simplesmente, “Como também Cristo amou a igreja”, ele tem que prosseguir e dizer, “e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo, igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível”. Ele diz tudo isso para ajudar o marido a amar sua esposa como deve.
Então, por que ele desenvolve a matéria deste modo? Creio que há três razões principais: a primeira é que ele quer que cada um de nós conheça o grande amor de Jesus por nós. Ele quer que compreendamos a verdade acerca de Cristo, de nós mesmos e de nossa relação com Ele. Por que é que ele se preocupa com tudo isso? Transparece este seu argumento: é somente quando compreendemos a verdade sobre a relação de Cristo com a Igreja, que podemos realmente agir como os maridos cristãos devem agir. Para que isto fique claro, ele termina dizendo: “Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja”. Mas por que ele está falando a respeito de Cristo e da Igreja? Por que nos levou a esse mistério? A fim de que os maridos saibam amar suas esposas. E é aqui que as pessoas levianas e superficiais, que zombam da doutrina, põem à mostra a sua insensatez e a sua ignorância. “Ah”, dizem elas, “aquela gente está interessada só em doutrina; nós somos pessoas práticas.” Entretanto você não pode ser prático sem doutrina; você não pode amar de verdade a sua esposa, se não compreende alguma coisa desta doutrina acerca deste grande mistério. “Ah”, dizem outras, “é muito difícil, não conseguirei seguí-la.” Todavia, se você quiser viver como cristão, terá que seguí-la, terá que aplicar sua mente a isso, terá que pensar, estudar, que entender, que agarrar-se a isso. Essa verdade aqui está para você, e se você lhe der as costas, estará rejeitando uma coisa que Deus lhe dá, e você estará sendo um terrível pecador. Rejeitar a doutrina é um pecado terrível. Jamais coloque a prática contra a doutrina, porque você não poderá ter a prática sem ela. Daí o apóstolo dar-se ao trabalho de elaborar esta magnífica doutrina acerca da relação de Cristo com a Igreja, não somente para expô-la, por importante que seja, mas para que eu e você, em nossos lares, possamos amar nossas esposas como devemos - “como também Cristo amou a igreja”.
Assim, agora podemos examinar o problema da seguinte maneira: o princípio que deve determinar a nossa prática é que o relacionamento entre marido e mulher é, na essência e por natureza, a mesma relação que existe entre Cristo e a Igreja. Então, como abordá-la? Devemos começar estudando a relação entre Cristo e a Igreja e, depois, somente depois, poderemos examinar a questão do relacionamento entre o marido e a esposa. Isso é o que o apóstolo está fazendo. “Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amo a igreja.” Dito isto, ele nos fala exatamente como Cristo amou a Igreja. Então ele diz: vão e procedam de igual modo; essa é a primeira regra. Essa é a primei grande doutrina.
Começamos, pois, considerando a relação de Cristo com a Igreja. Eis aqui algo que interessa a todos; não somente aos maridos, mas a todas as pessoas. 0 que nos é dito a respeito da relação de Cristo com a Igreja é verdade quanto cada um de nós. Cristo é o esposo da Igreja, Cristo é o esposo de cada crente individual. Vocês perguntarão: onde você vê este ensino? Vejo-o, por exemplo, na Epístola aos Romanos, capítulo 7, verso 4: “Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais doutro (AV: “para que desposeis outro”), daquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que demos fruto para Deus”. Cristo é o esposo da Igreja, a Igreja é a esposa de Cristo. Cada um de nós pode, nesse sentido, ver no Senhor Jesus Cristo o nosso esposo, e, da mesma forma, coletivamente, como membros da Igreja cristã.
Que nos diz o apóstolo sobre isto? A primeira coisa que ele fala é sobre a atitude do Senhor Jesus Cristo para com a Igreja, sobre como Ele a vê. Aí há instrução para os maridos. Qual é a sua atitude? Como você vê a sua esposa? Precisamente aqui o apóstolo nos diz algumas coisas maravilhosas. Amados irmãos, porventura dão-se conta de que estas coisas são verdadeiras quanto a vocês, na qualidade de membros da Igreja cristã? Observem as características da atitude do Senhor Jesus para com a Sua esposa, a Igreja. Ele a ama: “como também Cristo amou a igreja”. Que expressão eloqüente! Ele a amou apesar de sua indignidade, Ele a amou apesar das deficiências que a caracterizam. Observem o que Ele fez por ela. Ela precisa ser lavada, purificada. Ele viu os seus andrajos, a sua vileza; mas amou-a. Esse é o ponto culminante da doutrina da salvação. Ele nos amou, não por alguma coisa que visse em nós; amou-nos a despeito do que havia em nós, “sendo nós ainda pecadores”. Ele amou ímpios, amou-nos quando ainda éramos “inimigos” (Rm 5:8,10). Em toda a nossa indignidade e vileza, Ele nos amou. Amou a Igreja, não porque fosse gloriosa e bela - não; mas para poder tomá-la tal. Dêem atenção à doutrina, e vejam o que ela tem para dizer aos maridos. O marido se depara com deficiências e dificuldades, coisas que ele acha que pode criticar em sua esposa, mas deve amá-la “como Cristo amou a igreja”. Essa é a espécie de amor que ele deve demonstrar. Isso basta quanto ao primeiro princípio.
O segundo princípio é o seguinte: “e a si mesmo se entregou por ela”. Não somente estava pronto a sacrificar-Se por ela. Sacrificou-se de fato por ela. Tal é o amor de Cristo pela Igreja! Ele só poderia salvá-la dando a Sua vida por ela; e a deu. Essa é a característica do Seu amor.
A seguir, atentem para o Seu grande interesse por ela e por seu bem-estar. Ele olha por ela. Preocupa-Se com ela. Ele vê as possibilidades dela, por assim dizer. Deseja que ela seja perfeita. Por isso Paulo prossegue: “Para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível”. Vocês vêem como Ele Se interessa por ela, como a ama, como Se orgulha dela. São essas as características do amor de Cristo pela Igreja - este grande desejo de que ela seja perfeita. E Ele não ficará satisfeito enquanto ela não for perfeita. Ele quer poder apresentá-la a Si mesmo “igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante”. Quer que ela seja perfeita, além de toda crítica. Quer que o mundo inteiro a admire. Por isso lemos no capítulo 3 desta epístola, no versículo 10, que Cristo fez isso tudo “para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus”. É o orgulho do esposo por Sua esposa; Ele Se orgulha da sua beleza, da sua aparência, de tudo que lhe diz respeito; quer mostrá-la à família, a todas as Suas criaturas. Essa é a espécie de relacionamento que existe entre o Senhor Jesus Cristo e Sua Igreja. Primeiro estou extraindo o princípio dos pormenores, porque estes nos ajudam a entender esta relação maravilhosa e mútua. E, assim, a figura é do Senhor Jesus alegrando-Se na relação, feliz nela, triunfante nela, gloriando-Se nela. Não há nada que Ele não faça por Sua esposa, a Igreja.
Essa é a primeira grande matéria que emerge na abordagem apostólica deste vasto e elevado assunto. Temos de começar com esta figura de Cristo e a Igreja. Vocês vêem como Ele a considera, e o que Ele fez por ela por considerá-la desse modo, o que Ele tem em vista para ela - Seu objetivo final. E em razão disso há este extraordinário conceito da relação mística, da união mística, a idéia de que eles são uma só carne, e de que ela é o Seu corpo. “Vós, maridos amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja”.
Aí está, pois, o nosso primeiro grande princípio - Cristo ama a Igreja. O relacionamento entre Cristo e a Igreja é aquela que deve existir entre marido e mulher. Assim, comecem com isso. Examinem a grande doutrina da Igreja. Venham todos vocês, casados e não casados. Essa verdade diz respeito a todos nós, porque estamos na Igreja. Que maravilha, perceber que estamos nessa relação com Cristo! É assim que Ele os vê, essa é a Sua atitude para com vocês. Este é o princípio: este amor, este amor divino é absolutamente superior ao erótico e ao filantrópico - o mais alto que o mundo pode conhecer. A grande característica deste amor divino - e é nisto que ele é essencialmente diferente dos outros - é que é mais governado pelo desejo de dar do que de ter. “Deus amou o mundo de tal maneira”. Como? “Que deu”. Não há nada de errado com outros tipos de amor - já o tenho dito - porém, mesmo quando os temos em melhor expressão, eles são sempre autocentralizados, estão sempre pensando em si mesmos. Mas a característica do amor cristão é que não pensa em si mesmo. Cristo entregou-Se; morreu pela Igreja - “até à morte”. O sacrifício caracteriza este amor. Este amor é um amor que dá; não está sempre considerando o que vai ter, mas o que pode dar em benefício do outro. “Vós, maridos amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja.”
Tendo, assim, examinado em geral a atitude de Cristo para com a Igreja, podemos agora começar a mostrar como essa atitude se manifesta na prática. Depois veremos o Seu objetivo final e, por último, a relação e união mística. Demos graças a Deus porque, ao considerarmos o casamento, que é tão comum e, aparentemente, vulgar, descobrimos, se somos cristãos, que temos considerá-lo de tal maneira que nos leva ao próprio centro da verdade cristã, ao cerne da teologia e da doutrina, aos mistérios de Deus em Cristo, como se vê na Igreja e através dela. Queira Deus abençoar-nos nessa consideração!












Nenhum comentário: